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INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO

MARILDA SANTANA DA SILVA

CEARÁ COLONIAL, MEMÓRIA E O


INSTITUTO HISTÓRICO

SILVA, Marilda Santana da


CEARÁ COLONIAL, MEMÓRIA
E O INSTITUTO HISTÓRICO
R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 173 (456):129-152, jul./set. 2012

Rio de Janeiro
jul./set. 2012
Ceará colonial, memória e o Instituto Histórico

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Ceará colonial, memória e o Instituto Histórico


Colonial Ceará, memory and the Historical Institute
Marilda Santana da Silva1

Resumo: Abstract:
O Instituto Histórico, Geográfico e Antropológi- The Historical, Geographical and Anthropolog-
co do Ceará, criado em 1887, teve um papel pio- ical Institute of Ceará, founded in 1887, played
neiro na escrita da história do Ceará no período a pioneering role in the written history of Ceará
colonial. Imerso no pensamento social de fins during colonial times. Immersed in the social
do século XIX e início do século XX, os mem- thoughts of the late nineteenth and early twenti-
bros e sócios efetivos do Instituto Histórico do eth centuries, members and effective associates
Ceará compactuavam-se com os alicerces teóri- of the Historical Institute of Ceará allied them-
cos e metodológicos da historiografia produzida selves with the theoretical and methodological
pelo IHGB, na sua primeira fase, que primava foundations of the historiography produced by
por escrever a História colonial, ressaltando e the IHGB in its first phase; they excelled in writ-
enaltecendo a atuação dos “grandes homens” e ing about the colonial history highlighting and
sobre os principais fatos e datas sobre a coloni- glorifying the actions of “great men”, and the
zação do território. Este artigo visa estabelecer main facts and dates involving the colonization
uma relação da escrita da história colonial do of the territory. The purpose of this article is to
Ceará realizada por membros do Instituto His- establish the relationship between the written
tórico em três períodos distintos, com o intuito history of colonial Ceará undertaken by mem-
de perseguir rastros de uma dada memória. Isto bers of the Historical Institute in three different
é, a escrita histórica na fase pioneira da Primeira periods, with the purpose of following the tracks
República, passando pelas décadas de 40 e 50 of a given memory. That is, historical writings
do século XX, e, posteriormente, com as inova- during the pioneer phase of the First Republic,
ções metodológicas ocorridas em fins da década through the 1940s and 1950s of the twentieth
de 70 e os anos 80 do século passado. century and, later, with the methodological in-
novations that occurred in the late 1970s and
80s of the last century.
Palavras-chave: Instituto Histórico; Ceará co- Keywords: Historical Institute; Colonial Ceará;
lonial; história; memória. history; memory.

O Instituto Histórico e a Escrita Pioneira sobre o Ceará Colonial


O Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, criado
em 1887, teve como sócio fundador e presidente o doutor em Medicina
Guilherme Chambly Studart. Nascido em Fortaleza no ano de 1856, filho
primogênito do primeiro 1º vice-cônsul Britânico do Ceará, John William
Studart e de uma cearense Leonísia de Castro Studart, Guilherme Studart
estudou os primeiros anos, em Fortaleza, sua terra natal e formou-se em
Medicina, na Bahia, aos 21 anos. Guilherme Studart foi um arquivista
1 – Doutora em História pela Universidade Estadual de Campinas – Professora Adjunta
do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História Social da
Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: marota1500@yahoo.com.br.

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laborioso e sistemático, adotando um método histórico muito peculiar,


desenvolvido numa época em que a pesquisa histórica era realizada por
médicos, profissionais liberais e autodidatas. Studart redigiu incansavel-
mente cerca de 150 trabalhos sobre História e Geografia voltados para o
Ceará. “Em 1890, o Papa Leão XIII deu-lhe o título de barão”2.

Influenciado pelas ideias francesas e alemãs fundamentadas em


Comte, Taine, Buckle e Agassiz, e pelo pensamento social particulares de
entidades que congregavam a elite intelectual do país, como por exem-
plo, o IHGB, criado em 1838, a pesquisa histórica empreendida no Ceará
por Guilherme Studart primou-se pela busca incansável do método da
verificação documental. Adotou uma sistemática de viéis positivista com
certo “fetiche” pela fonte e/ou documento o que levou a ser um ávido
colecionador de documentos políticos, administrativos, cartográficos, fo-
tográficos e geográficos do Ceará colonial3.

O instinto de investigador e o hábito de colecionar levaram Studart


a procurar documentos sobre o Ceará colonial em arquivos públicos e
particulares, em cartórios e bibliotecas, no Brasil e no exterior. A his-
toriadora Valdelice Girão, sócia efetiva do Instituto Histórico do Ceará,
declarou que Guilherme Studart, entre fins do século XIX e primeiras dé-
cadas do século XX, “foi um pesquisador incansável e coletou numerosa
documentação do Brasil colônia na Torre do Tombo em Lisboa, remexeu
arquivos na Espanha, e na Biblioteca de Santa Genoveva em Paris”4.

Sabe-se que a “operação histórica”, isto é, as escolhas metodológicas


e influências teóricas são realizadas a partir do lugar social, político e cul-
tural em que o autor está circunscrito. Nesta perspectiva, barão de Studart
conseguiu fazer do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do
2 – As referências biográficas de Guilherme Studart foram consultadas no texto de Lúcio
Alcântara “A História do Ceará nas Páginas do Barão”, contidas no prefácio da obra de
Guilherme Studart. Notas para a História do Ceará. Brasília: Edições do Senado Federal,
2004, pp. 11-14.
3 – Lúcio Alcântara “A História do Ceará nas Páginas do Barão”. Prefácio da Obra de
Guilherme Studart, Notas para a História do Ceará (1856-1938), op. cit., p.12.
4 – Cf. GIRÃO, Valdelice Carneiro. “Barão de Studart: o colecionador”. In: Arquivos do
Barão de Studart. Fortaleza: Instituto do Ceará/ Ministério da Cultura, 2010, p. 29.

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Ceará o lócus do trabalho pioneiro de pesquisa sobre o Ceará colonial.


Com o seu exemplo e dedicação conseguiu, por quase 40 anos, reunir ao
seu redor inúmeros pesquisadores e estudiosos ansiosos pela valorização
da memória e da “reconstrução” do passado histórico cearense.

Vários documentos transcritos e adquiridos pelo barão, ao longo de


sua vida adulta, são parte de um dos mais valiosos arquivos particulares
do Ceará. Muitos desses documentos foram publicados integralmente em
suas obras escritas, outros nas revistas do Instituto Histórico do Ceará e
da Academia Cearense de Letras. Após a sua morte, em 25 de setembro
de 1938, seu arquivo particular e sua biblioteca foram doados, por fami-
liares, para o Instituto do Ceará5.

Guilherme Studart manteve durante a vida adulta uma interrupta


troca de correspondências com reconhecidos intelectuais contemporâne-
os a ele como, por exemplo, Capistrano de Abreu, Affonso de Taunay,
Carlos Teschauer, Rocha Pombo, Alfredo de Carvalho, Tristão de Alencar
Araripe, Orville Derby e John Casper Branner (geólogos americanos),
dentre vários outros renomados historiadores, cartógrafos, geógrafos e
engenheiros6.

É vasto o legado arquivístico, geográfico, geológico, antropológico e


histórico deixado por Studart. Autor de Notas Para a História do Ceará,
publicada em 1892, contendo cópias de mais de 2.000 documentos so-
bre o Ceará colonial, especialmente da segunda metade do século XVIII,
Datas e Fatos para a História do Ceará, publicado em 1896, Dicioná-
rio Biobibliográfico Cearense, publicado em três volumes, 1910, 1913
5 – Recentemente, mais precisamente no ano de 2010, o acervo documental e a corres-
pondência do barão de Studart, que compreende mais de 12.000 mil documentos foram
digitalizados e estão disponibilizados no formato de CD para ser adquirido no Instituto
Histórico do Ceará. Este trabalho de grande vulto foi realizado pelo Instituto Histórico do
Ceará com o patrocínio do Ministério da Cultura e do Grupo M. Dias Branco, que patro-
cinou a criação do Museu Barão de Studart e o resgate do Acervo Histórico de Studart.
Cf. José Augusto de Bezerra. Coordenador-geral da obra Arquivos do Barão de Studart.
Instituto do Ceará/ Ministério da Cultura. Fortaleza, 2010, p. 7.
6 – Cf. COSTA, Maria Clélia Lustosa. “A Geografia nos Arquivos do Barão”. In: Ar-
quivos do Barão de Studart. Fortaleza: Instituto do Ceará/Ministério da Cultura, 2010, p.
75.

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e 1915, Climatologia, Epidemias e Endemias no Ceará, publicado em


1909, Geografia do Ceará, publicado em 1924, entre várias outras obras.
“Foi assíduo correspondente e interlocutor do seu conterrâneo Capistrano
de Abreu, radicado no Rio de Janeiro, sendo reconhecido por Capistrano
como um dos maiores colecionadores e pesquisadores de documentos dos
mais antigos sobre a colonização do Ceará7”.

O barão de Studart colaborou com a imprensa cearense em vários


periódicos e fundou a Academia Cearense de Letras, o Centro Literário, o
Centro Médico Cearense, a Sociedade São Vicente de Paulo e o Instituto
Pasteur8. Segundo a geógrafa Maria Clélia Lustosa Costa,

(...) no ano de 1893 Studart foi eleito sócio ordinário da Sociedade de


Geografia de Lisboa, sócio correspondente da Sociedade de Geografia
do Rio de Janeiro (1886), em 1908, foi eleito membro titular do Clube
de Geografia de Genebra, em 1902, tornou-se sócio honorário do Ins-
tituto Histórico e Geográfico de São Paulo, em 1912, sócio honorário
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1915, contribuiu
no II Congresso Científico Americano em Washignton, e em 1922, no
XX Congresso de Americanistas (...)9.

Studart, além de ter fundado e dirigido por vários anos o Instituto


Histórico do Ceará, também foi responsável pela edição da Revista do
Instituto Histórico, que alcançou renome nacional. O historiador José Ho-
nório Rodrigues, na década de cinquenta do século XX já anunciava que
“a Revista do Instituto Histórico do Ceará, é, então, depois da Revista
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileira, o mais rico depositório

7 – Cf. GIRÃO, Valdelice, op. cit, p. 31. João Capistrano de Abreu nasceu no Ceará em
1853 e foi reconhecido como um dos maiores historiadores brasileiros. Fez os estudos
primários e secundários em Fortaleza e no Recife, mudando-se para o Rio de Janeiro em
1875. Na sede da capital brasileira trabalhou como caixeiro na Livraria Garnier, colabo-
rou com o periódico Gazeta de Notícias e foi nomeado oficial da Biblioteca Nacional em
1879. Capistrano de Abreu morreu no Rio de Janeiro em 1927.
8 – Cf. AZEVEDO NIREZ. M. A. “A Herança do Barão”. In: Arquivos do Barão de
Studart. Instituto do Ceará. Fortaleza/ Ministério da Cultura, 2010, p. 23.
9 – COSTA, Maria Clélia Lustosa. op. cit., p. 94.

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histórico e geográfico brasileiro, particularmente precioso para a história


antiga e moderna do Ceará10”.

Vê-se, portanto, após os relatos descritos anteriormente por histo-


riadores, geógrafos, antropólogos, cientistas sociais e políticos cearenses
que Guilherme Studart foi um dos mais ativos intelectuais do Ceará no
alvorecer do século XX. A sua biografia além de ser muita rica, devido ao
fato do mesmo ter atuado em vários campos dos saberes e de formas dis-
tintas, sua obra é um legado valioso. Studart foi integrado às múltiplas re-
des de sociabilidade, sendo escritor de obras diversas dirigidas a públicos
distintos. Estas suas particularidades são muito relevantes. Especialmente
porque no período histórico em que viveu as fronteiras entre a história, a
geografia, as outras ciências naturais e o campo político eram muito fluí-
das, conferindo ao barão de Studart o reconhecimento pelos seus próprios
pares contemporâneos, como um intelectual bem-sucedido.

Guilherme Studart fez parte de uma geração de intelectuais cearenses


atuantes entre os fins do século XIX e as primeiras décadas do século XX,
construtores de uma memória edificante sobre a colonização do território
cearense e sobre os seus colonizadores. Atento às concepções históricas
do seu tempo, preocupava-se com a integridade e autenticidade das fontes
históricas e tratou de transcrever fidedignamente inúmeros manuscritos
históricos sobre o Ceará colonial.

Imerso no pensamento social de fins do século XIX esquiva-se em


emitir conceitos, interpretações e juízo próprios no trato com as fontes.
Compactuava-se com os alicerces teóricos e metodológicos da historio-
grafia produzida pelos membros do Instituto Histórico do Ceará, na sua
primeira fase, que primava por escrever a História colonial do Ceará, res-
saltando e enaltecendo a atuação dos “grandes homens,” os principais
fatos e datas sobre a colonização do território11.

10 – Ver José Honório Rodrigues. “A Historiografia Cearense na Revista do Instituto do


Ceará”. In: Índice Anotado da Revista do Instituto do Ceará. Imprensa Universitária do
Ceará, 1959, p. 29.
11 – Ver, por exemplo, as seguintes obras pioneiras escritas por membros do Instituto
Histórico do Ceará: STUDART, Guilherme. Datas e Factos para a História do Ceará.

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Com esta concepção epistemológica da história, Studart publica em


fins do século XIX, mais especificamente em 1896, sua segunda obra
histórica de grande envergadura “Datas e Factos para a História do Cea-
rá”. Esta obra é um exemplo do preciosismo do barão. Imbuído na tarefa
árdua de pesquisar, catalogar e organizar documentos dos mais remotos
tempos da colonização do território do Ceará, Studart deixou para a futura
geração de historiadores cearenses, especialmente àqueles voltados para
o período colonial, esta volumosa obra de História factual. O primeiro
manuscrito publicado data do início do século XVII, mais especificamen-
te do ano de 1603. O documento relata a conquista da Serra da Ibiapaba
pelo açoriano Pero Coelho de Souza, homem nobre, morador na Parayba
do Estado do Brasil, que pediu licença para o governador-geral Diogo
Botelho para efetuar tal empreitada.

No embalo desta concepção historiográfica Antônio Bezerra publica


no ano de 1906, pela Typografia Minerva, a obra “O Ceará e os Cearen-
ses”. Eis aqui a sua visão do “ser cearense”.

O que estuda atentamente o homem cearense em relação ao seu terri-


tório, a sua educação, sua inteligência, sua coragem, vida aventurosa,
tendência para as letras, meios de que se serve para se impor onde
quer que se ache, selvageria das suas paixões, actos de abnegação e de
grandeza de alma na realização de nobres commetimentos, inexcedí-
vel resignação ante os rigores de seu clima e estragos das secas, entra-
nhando amor a terra do berço, da qual jamais se esquece, conclui que
é elle uma excepção no pais, isto é, que tem características diferentes
entre os demais filhos do norte e do sul da União (...). Victor Tissot
disse que a Hungria era uma exceção na Europa, e nós pensamos se
pode dizer a respeito do Ceará. A inexorabilidade das secas longe que
seja um mal, traz, no entanto, para o cearense a sua distinção, a sua su-
perioridade, a sua glória, pois que, não tendo que confiar nos recursos
Tomo I: “Ceará Colônia”. Fac-símile da 1ª ed. de 1896. Fortaleza: Fundação Waldemar
Alcântara, 2001; BEZERRA, Antônio. O Ceará e os Cearenses. Fac-símile da 1ª ed. de
1906. Coleção Biblioteca Básica Cearense. Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara,
2001. Do mesmo autor Algumas Origens do Ceará. Fortaleza: Tipografia Minerva, 1918.
Ver também algumas similitudes deste viés historiográfico: ARARIPE, Tristão de Alen-
car. Historia da Província do Ceará: desde os tempos primitivos até 1850. Tipografia
Minerva, 1958. A primeira edição desta obra data do ano de 1867.

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da natureza, vai procurar melhores condições de vida por toda a parte


do universo. (...)12.

Assim, a escrita histórica do Instituto do Ceará, especialmente aque-


la produzida pelo barão de Studart e seus contemporâneos, buscava um
passado glorioso e ontológico, acreditando poder trazê-lo à tona em sua
totalidade. A interpretação e o tempo histórico compartilhados por ele
e outros membros do Instituto ao analisar as fontes acabavam por con-
siderá-las além de verossímeis, intocáveis, como se pudesse analisar a
realidade do objeto de maneira integral.

A historiografia referente ao período colonial produzida no âmbito


do Instituto estava cerceada por um projeto ideológico peculiar, sobre-
tudo na forma de compreender a escrita da História e era realizada com
uma interface entre o campo intelectual, da História, da Geografia, da
Medicina e da Política. Isto pode ser visto pela própria posição ocupada
pelo médico, intelectual e historiador Guilherme Chambly Studart, não
apenas como criador do Instituto Histórico, mas como o responsável por
grande parte da escrita da historiografia cearense colonial nas três primei-
ras décadas do século XX.

Este viés histórico não era uma particularidade da escrita histórica


realizada apenas pelos membros do Instituto Histórico do Ceará. Seguia
as linhas mestras da historiografia produzida no âmbito do Instituto His-
tórico Geográfico Brasileiro, criado em 1838, que, segundo Manoel Luiz
Salgado Guimarães, tinha o objetivo de “recolher, preservar, pesquisar e
divulgar a História Nacional, recém-saída de situação colonial, e na busca
de construir o passado, escreveu a História como digna de Cânones 13”.

12 – Antônio Bezerra. O Ceará e os Cearenses. 2ª Ed. Fortaleza: Fundação Waldemar


Alcântara: Biblioteca Básica Cearense. 2001. Edição Fac-símile de 1906, pp. 1-2.
13 – Cf. GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. “Reinventando a Tradição: sobre anti-
quariado e escrita da História.” In: RIOS, Kênia Sousa; FURTADO FILHO, João Erna-
ni. (Orgs.) Em Tempo: História, Memória, Educação. Fortaleza: Imprensa Universitária,
2008. p, 58.

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E afinal qual seria o campo de atuação do historiador neste período


histórico? Ângela de Castro Gomes esclarece que, “o perfil do historiador
estava em aberto, sendo objeto de debates e disputas, tanto no que dizia
respeito ao tipo de produção cultural que caracterizaria seu métier (em
sua diversidade e hierarquia) quanto ao tipo de atividades profissionais e
sociais que conviria a ele desenvolver para ser reconhecido como tal”14.

Seguindo esta perspectiva teórica vê-se que Guilherme Studart ocu-


pava com primazia à produção intelectual e historiográfica cearense no
alvorecer do século XX. Ele e os seus colegas de ofício, membros e escri-
tores do Instituto Histórico do Ceará, foram responsáveis por criar uma
memória histórica que privilegiava a escrita dos eventos políticos e a im-
plantação do sistema administrativo lusitano na capitania, dando ênfase
aos mais remotos tempos da colonização do território.

Na pesquisa arquivística efetuada em Lisboa, por exemplo, Studart


transcreveu um ofício emitido pela Coroa portuguesa, datado de 4 de ja-
neiro de 1621 sobre o ordenado a ser pago para o cargo do primeiro capi-
tão-mor da capitania do Ceará, Martim Soares Moreno. Este documento
foi considerado por um atual membro do Instituto Histórico do Ceará
como “um dos marcos inicial da presença portuguesa no território cea-
rense·”. Sendo assim, o mesmo merece ser brevemente transcrito. Segue
a transcrição de um fragmento da fonte:
(...) em carta de 23 de Septembro do anno passado de 620, que veio
da consulta deste Conselho que lhe fez sobre o ordenado que Martim
Soares Moreno pede se lhe nomeie com a Capitania de Seara de que
Vossa Mags de e tem provido e porque convinha desta matteria se pe-
disse informação a Gaspar de Souza que foi Governador do Brasil e
que a desse se visse de novo neste Conselho e se tornasse a consulta a
Masg.de a que parecesse tendo consideração as mais mercês que fez ao
dito a Martim Soares quando foi dispensado. Cópia Informação que
se tomou a dispor de Souza Dias que foi o primeiro que deu princípio
a fortaleza de Seara por ser de muita importância ter aquele porto e

14 – Cf. GOMES, Ângela de Castro. A República, a História e o IHGB. Parte I. “O IHGB,


a história e os historiadores da Primeira República”. Belo Horizonte: ARGVMENTVM,
2009, p. 26.

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gentio seguro para a conquista do Maranhão a qual Capitania he de


pouco proveito athe para a fazenda de V. Magesde por ser criada ainda
de novo e nao aver ainda tempo para ser cultivada e que deita nella
o mar alguas vezes Âmbar que o gentio colhe de que o Capitam tem
algum proveito comprandolho posto que não he quantidade de consi-
deração e nessa conformidade lhe poderá V.Magsde mandar signalar
de ordenado quantia de trezentos athe quatrocentos c dos que convem
declarar por quanto há de hir em folha e que elle a principiou com cem
mil RS. de ordenado athe vinde o prover (...)15.

Neste manuscrito sobre o ordenado de Martim Soares Moreno ao


ocupar cargo de capitão-mor do Ceará ficou notório que a preocupação
maior da Coroa portuguesa, ainda nas primeiras décadas do século XVII,
era assegurar o processo da conquista do Maranhão. O Ceará oferecia aos
olhos da metrópole apenas um “bom porto” e “gentio seguro”. A con-
quista do Maranhão só se efetivou entre os anos de 1615 e 1616. Martim
Soares Moreno, após a conquista de São Luís, no ano de 1615, atendeu
ao objetivo estratégico da metrópole portuguesa de tomar posse do litoral
Leste-Oeste da América portuguesa e afugentar desta parte do litoral os
invasores neerlandeses e franceses.

A nomeação de Martim Soares Moreno para capitão-mor da forta-


leza do Ceará por um período de dez anos foi promulgada no ano de
161916 e ocorreu no mesmo ano da criação do Estado do Grão-Pará e do
Maranhão, atendendo assim aos interesses iniciais da Coroa portuguesa
de colonizar a Costa Leste-Oeste da América portuguesa.

Luis Felipe Alencastro destacou que a colonização da Costa


Leste-Oeste da colônia portuguesa na América foi sendo efetivada se-

15 – Carta Patente de Nomeação de Martim Soares Moreno em atenção aos seus Servi-
ços. Cf. Gizafran Jucá. Barão de Studart. Documentos para a História de Martim Soares
Moreno. Revista do Instituto do Ceará. Fortaleza, Tomo XIX, 1905, pp. 81-82. O docu-
mento em referência no texto é apenas um dos inúmeros documentos selecionados por
Gisafran Nazareno para ilustrar o seu texto sobre os Arquivos do Barão, op. cit., p. 37. Os
documentos selecionados como ilustração no texto deste historiador contemplam desde a
primeira metade do XII até a segunda metade do século XIX.
16 – STUDART, Barão de. “Documentos para a História de Martim Soares Moreno”. In:
Revista do Instituto do Ceará. Tomo XIX. Fortaleza, 1905, pp. 81-82.

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guindo o sistema dos ventos, das correntes marítimas, bem como me-
diante o desenvolvimento do comércio no Atlântico Sul, ao longo dos
séculos XVI e XVII. Segundo esta perspectiva, especialmente no que diz
respeito ao desenvolvimento do comércio açucareiro e escravocrata nos
séculos XVI e XVII, o Estado do Grão-Pará e do Maranhão, – que faziam
parte as capitanias anexas do Ceará, Piauí, Maranhão, Pará e a Amazônia
propriamente dita, isto é a Costa Leste-Oeste –, acabaram permanecendo
dissociados deste comércio, que estava em franco desenvolvimento no
Atlântico Sul17.

Uma das maiores dificuldades enfrentadas por Martim Soares Mo-


reno no seu governo para administrar o território do Ceará foi a própria
dependência administrativa e política do Estado do Maranhão. Isto pode
ser corroborado ao analisar um ofício enviado por Martim Soares Moreno
à Coroa portuguesa, datado de 9 de julho de 1659, que o mesmo alegava
ter tido dificuldades para administrar o Ceará, prestando obediência ao
Maranhão, devido ao fato da difícil navegação marítima entre a costa do
Ceará e a costa do Maranhão18.

Alencastro descreve com pormenores as correntes marítimas que


dificultavam a navegação da Costa Leste-Oeste da América portuguesa,
dando destaque à corrente marítima chamada de corrente das Guianas, a
mais rápida do litoral brasileiro, atingindo velocidade de 2,5 nós (igual
a 4.630 metros por hora, 111 quilômetros por dia), no costão que vai do
cabo de São Roque (Rio Grande do Norte) ao cabo Orange (Amapá).
Deslocava-se do leste para o oeste e o regime dos ventos sopravam do
Nordeste para o Sudoeste, com a regularidade dos ventos alísios. Segun-
do Luis Felipe Alencastro, “até o advento dos barcos a vapor, nos mea-
dos do século XIX, só as sumacas – barcaças pequenas de dois mastros
- conseguiam sair da Bahia, de Pernambuco, ou mais do sul, e bordejar
na torna-viagem do Pará e do Maranhão. Ainda assim, tudo dependia da
17 – ALENCASTRO, Luis Felipe. O Trato dos Viventes. Formação do Brasil no Atlântico
Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, pp. 20.
18 – Este documento faz parte de inúmeras outras fontes selecionadas por Gisafran Naza-
reno Jucá que ilustram o seu texto intitulado Os Arquivos do Barão do Studar, op. cit., p.
41.

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sorte19”. Estas dificuldades de navegação pelo mar na Costa Leste-Oeste


fizeram com que a Coroa portuguesa incentivasse a busca de uma rota ter-
restre que ligasse o Maranhão ao Ceará e ao resto do Brasil, esta foi umas
das questões que levaram a dividir a colonização da colônia nos Estados
do Maranhão e do Grão-Pará e do Brasil.

Mesmo com a nomeação de Martim Soares Moreno como


capitão-mor do território do Ceará e as dificuldades de navegação relata-
das em várias correspondências enviadas insistentemente por ele, e pos-
teriormente por outros capitães-mores do Ceará, para Coroa portuguesa,
a capitania do Ceará permaneceu por longos anos, isto é, de 1621 e 1656,
subalterna ao Estado do Maranhão e Grão-Pará. Quando a Coroa portu-
guesa resolveu atender aos clamores e pedidos das autoridades estabele-
cidas na capitania do Ceará, a mesma passou a ser subalterna à capitania
de Pernambuco (1656), só conquistando sua emancipação política e au-
tonomia administrativa em fins do século XVIII, mais precisamente em
1799.

Assim, aos olhos da Coroa portuguesa, seguindo a lógica mercantil


da colonização da América vemos a reduzida importância econômica do
território do Ceará ao longo do século XVII, que repercutiu na própria
exploração do território e no estabelecimento dos primeiros alicerces po-
líticos e administrativos na capitania. A Capitania do Siará, como então
era intitulada no século XVII, limitava-se à presença de poucos portugue-
ses, que se somavam aos indígenas aldeados. Os marcos geográficos da
capitania não passavam de apenas de um fortim erguido por Martim So-
ares Moreno na barra do rio Ceará. Neste local havia anteriormente uma
frágil fortificação de madeira, o reduto de São Tiago, erguido na época
de Pero Coelho de Souza. A capitania acabou ficando isolada do Estado
do Maranhão, devido às dificuldades de comunicação com o Estado, cuja
navegação para o Ceará só podia ser efetuada uma vez por ano nas mon-
ções de janeiro.

19 – Cf. ALENCASTRO, Luis Felipe. O Trato dos Viventes. Formação do Brasil no


Atlântico Sul, op. cit., p, 58.

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O Segundo Período da Escrita Sobre o Ceará Colonial: domínio


holandês, história e o Instituto Histórico
A produção historiográfica sobre o período holandês no Ceará, os
estudos históricos e antropológicos sobre os aborígenes empreendidos
por membros do Instituto Histórico do Ceará, e mesmo pesquisas sobre
o Ceará da “época do Couro”, tão bem documentadas por Capistrano de
Abreu, não se restringem apenas às contribuições históricas do fundador
do Instituto Histórico do Ceará, Guilherme Studart e seus contemporâne-
os, membros do Instituto. Após o período áureo de da catalogação histó-
rica empreendida pelo barão de Studart em vários arquivos e bibliotecas
no Brasil e no exterior, o seu próprio filho Carlos Studart, no período de
1928 e 1942, realizou estudos sistemáticos sobre o Ceará nos séculos
XVII e XVIII.

Na primeira metade do século XVII, a Capitania do Siará acabou


sendo invadida e tomada duas vezes pelos holandeses, ou melhor, dizer,
pelos neerlandeses20. A primeira ocupação neerlandesa ocorreu entre os
anos de 1637 e 1644 e a Companhia das Índias Ocidentais Neerlandesa
foi à empresa semiestatal, estabelecida em 1621, detentora do monopó-
lio da conquista, colonização e comércio no Atlântico pelas Províncias
Unidas.

Segundo o cearense André Frota de Oliveira, em 1602, os neerlande-


ses organizaram a Ostindische Compagnie (OIC), Companhia das Índias
Orientais, e o âmbito de atuação da mesma era o Extremo Oriente. Como
foi bem-sucedida esta companhia, os batavos criaram outra similar em
1621. Esta companhia foi criada, após ter expirado o prazo das tréguas da
guerra de 12 anos, impostas por Filipe III às Províncias Unidas Neerlan-
desas em 1609. Esta trégua, segundo o autor, retardou o ataque holandês
no Brasil, sob o auspício da União Ibérica21.
20 – Com relação a uma historiografia mais atualizada e acadêmica sobre relações estabe-
lecidas entre os indígenas e a ocupação holandesa no Ceará ver o trabalho de Guilherme
Saraiva Martins, “Entre o Forte e a Aldeia: Estratégias de Contato, Negociação e Conflito
entre Europeus e Indígenas no Ceará Holandês (1630-1654)”. Dissertação de Mestrado.
Programa de Pós-Graduação em História, UFC, 2010.
21 – Ver OLIVEIRA, André Frota de. A Fortificação Holandesa no Camocim. Fortaleza:

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Ceará colonial, memória e o Instituto Histórico

No primeiro período de ocupação dos neerlandeses no Ceará, Ge-


deon Morris22 de Jonge foi o Commandeur responsável pelas forças ho-
landesas no território, que atuou explorando a mão de obra indígena, es-
pecialmente com o intuito de conquistar o Maranhão, e posteriormente
na luta contra os moradores luso-brasileiros. Esta primeira ocupação dos
holandeses no Ceará deu-se no apogeu do império colonial “flamengo”
no Brasil.

Em 1637, Maurício de Nassau chegou ao Recife e assumiu o mais


alto cargo como Gowerneur-Capiteyn-ende Admirael-Generael na capi-
tania. Segundo a historiadora alemã Rita Krommen, Maurício de Nassau
levou para o Recife cientistas e artistas, como por exemplo, os pintores
Elias Herckmans e Albert Eckhout, que retrataram os aborígenes indivi-
dualmente ou em grupo e recolheram valiosas informações sobre os mes-
mos. Krommen considera que Nassau foi perspicaz em perceber que “a
simpatia dos aborígenes era decisiva para a estabilidade de sua colônia”,
e empenhou-se para obter a amizade dos mesmos”23.

O historiador pernambucano José Antônio Gonsalves de Mello, na


obra clássica Tempo dos Flamengos, publicada na primeira metade do
século XX, mais especificamente em 1947, já dizia que:

(....) durante todo o período da dominação holandesa no Brasil, uma


das preocupações mais constantes do seu governo foi a de atrair e con-
servar para si a amizade dos brasilianos – assim chamados dos tupis e
dos tapuias Nassau reconheceu a importância de seus aliados e não se
descuidou de procurar a sua amizade (...). Nassau aqui não faz senão
repetir a opinião dos seus predecessores e reiterar o ponto de vista do

Expressão Gráfica e Editora Ltda, 1995, p. 19.


22 – Gedeon Morris de Jonge em 1628 acabou sendo prisioneiro dos portugueses no Ma-
ranhão. Ficou oito anos preso e acabou recolhendo muitas informações sobre diversas
capitanias do Norte da América portuguesa. Após ser solto, retornou para os Países Baixos
e fez uma exposição detalhada sobre o Nordeste aos diretores da Companhia das Índias
Ocidentais em Middelburg e defendeu o pressuposto de que a ocupação do Ceará era mui-
to importante para a conquista do Maranhão. Cf. Rita Krommen. Mathias Beck E A Cia
das Índias Ocidentais. Fortaleza, Ed. UFC, 1997, pp. 43-52.
23 – KROMMEN, Rita. Mathias Beck e a Cia das Índias Ocidentais. Fortaleza: Ed. UFC,
1997, p. 43.

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Marilda Santana da Silva

Conselho do século XIX. Se afinal de contas, nem sempre a política


de aproximação com os índios foi estável, disto não se deve ocupar
o governo holandês, mas os seus prepostos, os commandeurs, os en-
carregados das aldeias, os exploradores que contratavam o serviço
dos índios; enfim, segundo palavras de Gedeon Morris de Jonge, pela
“diabólica cobiça da inconstante riqueza” foram os índios brutaliza-
dos, conservados e mesmo vendidos com escravos. Não obstante tudo
isto, o que nos mostram os documentos é que a política da Companhia
foi a de sempre manter a qualquer custo a amizade dos índios (...)24.

O segundo período de ocupação neerlandesa no Ceará ocorreu entre


os anos de 1649 e 1654 e teve o comando de Matias Beck, que durante
os três primeiros meses da colonização do território escreveu um diário.
Algumas considerações analíticas sobre a invasão holandesa no território
do Ceará, realizadas por membros do Instituto Histórico do Ceará, espe-
cialmente por alguns estudos datados, em fins década de 1970 e início da
década de 1980, polemizaram quanto a inúmeros aspectos sobre este perí-
odo histórico. A segunda ocupação holandesa no Ceará foi a mais relatada
pela historiografia regional. Neste período, a principal fonte utilizada por
esta produção historiográfica foi o Diário de Matias Beck, escrito em
1649, no primeiro ano da segunda ocupação holandesa no Ceará. Alguns
historiadores membros do Instituto do Ceará consideraram Matias Beck
como o fundador da cidade de Fortaleza, após a construção do forte de
Schoonemborch.

Raimundo Girão, membro do Instituto Histórico do Ceará, defendia


o pressuposto de que os holandeses se estabeleceram no Ceará à procura
do sal, o qual poderia obter em boas condições nas salinas no território e
que serviria para abastecer todo o Brasil holandês. Os holandeses busca-
vam o sal em uma das ilhas de Cabo Verde. Eles também procuravam um
caminho para o Maranhão, uma vez que os engenhos de açúcar estavam
na mira dos mesmos. Matias Beck, no comando da segunda ocupação

24 – Cf. MELLO, José Antônio Gonsalves de. Tempo dos Flamengos. Influência da ocu-
pação holandesa na vida e na cultura do norte do Brasil. Prefácio de Gilberto Freyre. 1ª
Ed. 1947. Prefácio de Gilberto Freyre. Rio de Janeiro: Topbooks, 5ª Ed., 2007, pp. 210-
211.

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Ceará colonial, memória e o Instituto Histórico

holandesa no Ceará, entre os anos de 1649 e 1654, a mando das forças da


WIC (Companhia das Índias Ocidentais), estimulado pelas vantagens que
resultariam a conquistar do Ceará com a tomada da fortaleza da Mina,
resolveu aventurar-se na conquista.

Carlos Studart retomou aspectos controversos sobre a influência dos


holandeses no Ceará e argumentou que não houve uma participação efe-
tiva dos mesmos na formação étnica cearense. Redigiu um ensaio sobre
o perfil de Martim Soares Moreno e sua atuação na expulsão do invasor
batavo, escreveu uma síntese sobre a ocupação do Ceará pelos luso-brasi-
leiros, com uma descrição das principais tribos e sua localização, relatou,
com pormenores, aspectos geográficos do povoamento do Ceará e inves-
tigou a atuação da Missão Jesuítica na Serra da Ibiapaba. Inaugurou, as-
sim, uma nova fase da historiografia cearense sobre o período colonial25.

Carlos Studart seguiu os passos do seu pai, catalogando uma nume-


rosa documentação em arquivos e bibliotecas, na Europa e no Brasil, e
apresentou uma fonte para cada afirmação e “síntese histórica” que re-
digiu. Resguardando a integridade dos fatos com uma pretensa postura
de neutralidade científica, o discípulo de Ranke buscou redimir qualquer
dúvida acerca do objeto de sua pesquisa e também da escrita, evitando
uma reflexão mais analítica ao narrar os acontecimentos históricos.

Na busca por valorizar o passado histórico colonial cearense, Carlos


Studart seguiu os alicerces pragmáticos do positivismo. Seu objeto de
pesquisa recuou até a pré-história e ao universo indígena, buscando sem-
pre valorizar o passado cearense para edificar o presente. Tratou de forma
orgânica os fatos históricos e estabeleceu uma relação de causa, efeito
e integração objetiva dos fatos históricos. Este foi o método histórico e
crítico adotado pelo historiador.

O que mais nos chamou a atenção em relação à produção historio-


gráfica cearense, especialmente no que diz respeito aos dois períodos de
25 – Sobre a produção historiográfica de Carlos Studart ver João Alfredo Montenegro.
Historiografia do Instituto do Ceará. 2ª Parte: “Ascensão e Queda da Produção Historio-
gráfica do Instituto do Ceará”. Fortaleza: Editora da UFC, 2003, pp. 65 - 80.

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ocupação holandesa, quer aquela produzida pelos membros do Instituto


Histórico do Ceará, ou na mais atual e acadêmica, que dá visibilidade aos
índios como sujeitos históricos e partícipes essenciais na efetivação do
projeto colonizador dos neerlandeses no território cearense é que as duas
historiografias não são totalmente excludentes. Afinal, há a concordância
que a capitania do Ceará foi ocupada, tanto por causa do sal quanto pela
procura de um caminho terrestre para o Maranhão, como também serviu
para o aliciamento dos índios não hostis como mão de obra para efetivar
estas duas empreitadas, e ao mesmo tempo, para servir como protetores
dos holandeses na ocupação do território. Seguindo estes dois vieses in-
terpretativos, é fato que as duas ocupações dos neerlandeses no Ceará só
efetivaram-se devido ao descaso dos portugueses com a ocupação e colo-
nização do território do Ceará na primeira metade do século XVII.

Os holandeses, tampouco, colonizaram de fato o território do Ce-


ará, como também não implantaram qualquer sistema político, social e
administrativo. As duas invasões e ocupação do território só ocorreram
no litoral e/ou nas margens dos poucos rios perenes, como na foz do rio
Jaguaribe. Pode-se, assim, fazer alusão a célebre frase do Frei Vicente de
Salvador e fazer um trocadilho com a mesma e dizer que, os “holandeses
fizeram uma colonização de caranguejo no Ceará”, pois apenas arranha-
ram a costa da capitania26.

26 – Frei Vicente de Salvador nasceu na Bahia seiscentista. “Estudou no Colégio dos


Jesuítas da Bahia, cursou Direito em Coimbra (Portugal) e doutorou-se em Teologia na
Universidade de Coimbra. Em 1587, voltou ao Brasil onde exerceu os cargos de cônego,
vigário-geral e governador do Bispado da Bahia. Foi considerado um dos primeiros his-
toriadores brasileiro e escreveu as obras Crônicas da Custódia do Brasil (1618), cujos
originais foram perdidos, e História do Brasil (1627), encontrada nos códices da Biblio-
teca Nacional no Rio de Janeiro (1881) por Capistrano de Abreu, que a publicou em uma
primeira versão, em 1888, e numa versão definitiva em 1919”. Sobre a biografia e biblio-
grafia de Frei Vicente do Salvador ver a “orelha” e o prefácio da obra intitulada História
do Brazil (1500-1627). 1ª ed. (ano 2007), 1ª reimpr. Curitiba: Juriá, 2009.

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Ceará colonial, memória e o Instituto Histórico

O Terceiro Período da Escrita Histórica sobre o Ceará Colonial:


academia e memória
No Ceará, como já foi visto anteriormente, os estudos históricos so-
bre o período colonial iniciaram-se em 1887 com a criação do Instituto
Histórico, Geográfico e Antropológico, sendo este o lócus privilegiado do
trabalho de pesquisa no Estado. A escrita histórica voltava-se para cons-
truções de narrativas rigorosamente vinculadas às fontes, sendo pratica-
mente um espelhamento das mesmas, predominando a escrita da história
de forma descritiva e factual.

Sabemos, entretanto, que a produção historiográfica e intelectual


sobre o período colonial produzida no Ceará pelos membros do Institu-
to Histórico, no período da Primeira República ou República Velha, tem
quem ser historicizada. Ou seja, não é um projeto isolado. Os “homens
das letras” cearenses, construtores de inúmeras obras factuais tinham pro-
jetos políticos a serem almejados, procuravam ideologicamente explorar
a sua região e os regionalismos, atrelando-os ao conceito e/ou a ideia
de Nação. Na construção dos projetos regionais havia um sentimento
maior de pertencimento social e cultural, explorou-se o particular, mas
sempre buscando conectá-los ao universo cultural brasileiro para assim
legitimá-los.

No momento em que tais escritos foram publicados, traziam em seu


cerne uma noção de propagadores da ideia de civilidade como um pro-
cesso e uma ideia de modernidade. Afinal, não foi à segunda metade do
século XIX, “o grande século do progresso científico e técnico, da melho-
ria do conforto, do bem-estar, da segurança, do liberalismo, da instrução
e da democracia”, como bem ressaltou Jacques Le Goff27. Esta noção
de modernidade foi rapidamente assimilada pelos membros do Instituto
Histórico do Ceará.

A escrita de ensaios e trabalhos monográficos regionais realizados


por alguns membros do Instituto Histórico do Ceará nas primeiras dé-
27 – Cf. LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução de Bernardo Leitão et al. 5ª
ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2003, p. 257.

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cadas do século XX movia-se, portanto, em campos intelectuais e inter-


disciplinares fluídos, não sendo este um sinal de atraso. Pelo contrário,
seguia o mesmo mote da escrita da história regional em outros estados
brasileiros e àquelas desenvolvidas no interior do IHGB. Para uma me-
lhor compreensão de nossa reflexão vejamos aqui as considerações de
Ângela de Castro Gomes sobre “intelectuais, ação política e Primeira Re-
pública”
(...) A existência de um protagonismo dos intelectuais brasileiros nas
primeiras décadas do século XX, elegendo o tema da identidade nacio-
nal como objeto a ser construído (desvendado e proposto), é cada vez
mais evidente com a multiplicação de estudos sobre a Primeira Repú-
blica. Tais intelectuais, durante o período, assumem, de modo quase
obsessivo, o desafio de modernizar uma sociedade saída da escravidão
e do regime monárquico, considerado responsável, em grande parte
pelo “atraso” em que o país se encontrava(...). No Brasil de fim do
século XIX e das primeiras décadas do século XX, não é consistente
(empírica e teoricamente) assumir uma clara separação entre o campo
intelectual e político, embora seja possível reconhecer uma relativa e
crescente autonomia na dinâmica de cada um (...)28.

É necessário ressaltar, entretanto, que após as primeiras décadas do


século XX, e posteriormente, as contribuições de Carlos Studart, o inte-
resse pela pesquisa sobre o período colonial desenvolvida no âmbito do
Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará perde força, só
retornando a ser objeto de investigação em fins da década de 1970 e início
dos anos de 1980. Neste período, os historiadores Raimundo Girão e ou-
tros professores universitários, membros do Instituto Histórico do Ceará,
como por exemplo, os professores Geraldo Nobre e Valdelice Carneiro
Girão, elegem novamente como foco de pesquisa o Ceará colonial, sobre-
tudo o século XVIII. Os objetos de estudos voltam para a colonização do
Ceará nos Setecentos: a economia, as oficinas de charque ou charqueadas,
as fazendas e os currais, a produção algodoeira e à ocupação dos espaços
coloniais com a criação das vilas.

28 – Cf. GOMES, Ângela de Castro. “História, Ciência e Historiadores na Primeira Re-


pública”. In: Ciência, Civilização e República nos Trópicos. Alda Heizer & Antônio Au-
gusto Passos Videira (Orgs.). Rio de Janeiro: Mauad X Faperj, 2010, pp. 12-13.

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Ceará colonial, memória e o Instituto Histórico

Raimundo Girão redige a monografia intitulada História Econômica


do Ceará e utiliza-se do acervo arquivístico organizado pelo barão de
Studart como documentação básica desta empreitada, além dos artigos
publicados nas Revistas do Instituto Histórico do Ceará, leis provinciais
e boletins especializados. A sua outra obra-prima de síntese histórica de
“longa duração” denominada “Evolução Histórica Cearense”, foi publi-
cada, em 1986, pela ETENE e pelo Banco do Nordeste do Brasil, quando
Raimundo Girão ocupava o cargo de secretário de Cultura do Estado do
Ceará, ganhando grande repercussão no Estado29.

As temáticas da obra de Raimundo Girão, livre-docente da Faculda-


de de Ciências Econômicas do Ceará, estendem-se do período colonial
até a Segunda República. As suas abordagens sobre o período colonial
são muito versáteis e tratam dos seguintes temas: relatos sobre as origens
históricas do Ceará (a terra, o habitante e etimologia), a presença portu-
guesa no território com os relatos de Soares Moreno, a posse da terra, o
período holandês, o retorno do domínio luso na capitania, a atuação dos
capitães-mores, o difícil desenvolvimento econômico da capitania, o pro-
cesso de criação das vilas, as bases econômicas (as charqueadas, o plantio
do algodão e “outras economias”), as irregularidades climáticas como pe-
ríodos das grandes secas, as calamidades públicas e o êxodo rural, a atua-
ção da Igreja católica no território e os caminhos da catequese, a atuação
da justiça e a autonomia administrativa e econômica do Pernambuco.

A professora Valdelice Girão realizou a tarefa árdua de criar uma


conexão entre saberes dermarcadamente distintos por formação nos idos
fim da década de 1979 e início da década de 1980 do século XX, ou seja,
aqueles produzidos no interior do Instituto Histórico e “os saberes” pro-
duzidos nos “muros das universidades”30.

29 – Ver MONTENEGRO, João Alfredo. Historiografia do Instituto do Ceará, op. cit., p.


120.
30 – Em 1977, Valdelice Girão tornou-se professora da Universidade Federal do Ceará
(UFC). Fez o curso de especialização em Pernambuco em 1977 e a seguir, em 1983,
defendeu o Mestrado em História do Brasil na Universidade Federal do Pernambuco
(UFPE). Em 4 de novembro de 1988 tornou-se membro do Instituto Histórico, Antropoló-
gico e Geográfico do Ceará. Ocupou a vaga de Raimundo Girão, após o seu falecimento.

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Valdelice Girão inovou na década de oitenta do século passado, em


termos teóricos e metodológicos os estudos sobre o período colonial no
Ceará com a produção da dissertação de mestrado de caráter regional na
área de história econômica. A pesquisa versou sobre a relevância das ofi-
cinas de charque ou charqueadas, fábricas de beneficiar carne, fabricação
de carne-seca na vila do Aracati (a mais próspera economicamente no
Ceará setecentista)31. A pesquisadora contrariou a tese central de estudos
anteriores de alguns membros do Instituto Histórico do Ceará, tais como,
Renato Braga, Raimundo Girão e Thomaz Pompeu de Sousa Bras, que
defendiam o pressuposto de que as charqueadas acabaram por causa da
seca de 1777.

Após pesquisar documentos sobre o Ceará no Arquivo Público de


Pernambuco, a historiadora encontrou documentos que apontavam re-
messas de charques para o Pernambuco após este período, e constatou,
inclusive, que “a produção do charque melhorou e poderia ter continuado
se não fosse a valorização da produção do algodão como um produto de
exportação para outros lugares do Brasil, enquanto o charque interessava
apenas a Pernambuco e a Bahia”32.

As declarações da pesquisadora sobre a produção de carne-seca no


Ceará colonial remetem para a relação, por vezes, conflituosas entre a
História e Memória. Sabemos que o arquivo, depósitos de vestígios, não

Como professora universitária no curso de História da UFC Valdelice Girão incentivou


os seus alunos a estudar sobre o Ceará colonial, a pesquisar no Instituto do Ceará, no Ar-
quivo Público, na Biblioteca Pública e no Museu do Ceará. Com respeito à produção do
conhecimento sobre o Ceará colonial, além da dissertação de mestrado sobre a produção
do charque na vila de Aracati colonial, Valdelice Girão redigiu um ensaio sobre a “De-
pendência da Capitania do Ceará ao Governo de Pernambuco (1656-1799)” e elaborou
um artigo sobre o processo de ocupação e produção do espaço cearense intitulado “Da
Conquista e Implantação dos Primeiros Núcleos Urbanos na Capitania do Siará Grande”.
Sobre a biografia e bibliografia da historiadora Valdelice Carneiro Girão, ver: Museu do
Ceará e Outras Memórias. Entrevista com Valdelice Girão. Fortaleza: Museu do Ceará/
Secretaria do Estado do Ceará, 2006, pp. 19-22.
31 – Ver GIRÃO, Valdelice Carneiro. As oficinas ou charqueadas no Ceará. Fortaleza:
Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (SECULT), 1995.
32 – Cf. Valdelice Carneiro Girão. Museu do Ceará e Outras Memórias. Entrevista com
Valdelice Girão, op. cit., p. 72.

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Ceará colonial, memória e o Instituto Histórico

reproduz por si mesmo representações do passado. Cabe ao pesquisador


transformar os vestígios em fontes na produção do conhecimento histó-
rico. As experiências vividas por Valdelice Girão como professora uni-
versitária acabaram tornando um estímulo para o estabelecimento de um
diálogo mais dinâmico e problemático entre a pesquisa acadêmica e a
produção historiográfica dos membros do Instituto Histórico do Ceará.

Voltando aos alinhamentos da problemática inicial abordada neste


texto, foram inúmeros os focos das questões abordadas com o intuito de
estabelecer uma interlocução entre história, memória e a produção histo-
riográfica sobre o Ceará colonial, realizada por alguns membros do Insti-
tuto Histórico, Arqueológico e Geográfico do Ceará, criado em 1887. Vi-
mos a filiação ideológica de alguns autores que primavam pela escrita da
história de forma totalitária, factual e com integração objetiva dos eventos
históricos, privilegiando a história política. Buscou-se, também, analisar
as contribuições historiográficas das décadas de 1970 e 1980 do século
XX, em que havia o intuito de aliar às contribuições historiográficas do
Instituto Histórico do Ceará com as inovações metodológicas surgidas
no interior da academia. As análises tornaram-se imperativas, pois ao es-
tudarmos esta historiografia “com o olhar do presente” não deixamos de
constatar que a história política e econômica do Ceará colonial ainda tem
um inevitável apego pelas fontes publicadas nas revistas do Instituto His-
tórico do Ceará, ou àquelas catalogadas pelo barão de Studart, seguindo
os vestígios de uma memória.

É lógico que deixa para trás uma concepção de História como “mes-
tra da vida” com fins utilitários e pragmáticos. Atualmente, não tem mais
o apego pela escrita de sínteses históricas que invocam o passado mais
remoto da colonização da capitania do Ceará e, sobretudo, a escrita da
história não procura mais resgatar um passado colonial glorioso para o
Ceará e os cearenses.

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Texto apresentado em novembro/2011. Aprovado para publicação


em janeiro/2012.

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