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Literatura Brasileira III – Prof.

Aldo de Lima  

A disciplina
 
O objetivo da disciplina Literatura Brasileira III é estudar o
Realismo/Naturalismo, o Parnasianismo e o Simbolismo.

O programa contém alguns dos pontos principais destas expressões que ajudam
a compreendê-las em seus fundamentos filosóficos, estéticos e, sobretudo, em
suas especificidades literárias.

Se o Realismo/Naturalismo narram uma prosa cujo conteúdo é o ser humano e sua realidade existencial
mais imediata, mais concreta, numa compreensão bastante pessimista de que estamos fadados a um
destino que escapa do nosso controle, o Parnasianismo se afastará desse projeto para inscrever em seus
versos uma poesia pretensamente neutra e formal, tudo num princípio de que a finalidade da arte é a
própria arte; compreensão adotada pelo Simbolismo, mas numa outra leitura que o conduzirá a uma
percepção mística da vida.

Importantes para o amadurecimento do nosso projeto literário, lembro que é no contexto da segunda
metade do século XIX e no contexto da sua cultura literária que surge um gênio da nossa jovem
Literatura: Machado de Assis.

Prof. Aldo de Lima

Ementa
 
Estudo do Realismo/Naturalismo, do Parnasianismo e do Simbolismo: fundamentação histórica, estético-
filosófica. O Brasil dos anos de 1870 a 1900: contexto histórico, político-social.

Versão provisória em PDF do conteúdo da disciplina. O autor é o titular dos direitos autorais desta obra. Reprodução não autorizada. Uso
estritamente pessoal. Para outra utilização, solicitar autorização prévia do titular dos direitos autorais.

 
Literatura Brasileira III – Prof. Aldo de Lima  

Objetivos

• compreender o Realismo/Naturalismo, o Parnasianismo e o Simbolismo em seus fundamentos


históricos, estético-filosóficos;

• compreender a sociedade brasileira da segunda metade do século XIX;

• ler e interpretar textos da produção realista/naturalista, parnasiana e simbolista da Literatura


Brasileira.

Conteúdo programático

• fundamentos históricos, estético-filosóficos do Realismo/Naturalismo, do Parnasianismo e do


Simbolismo;

• o Brasil: desenvolvimento da vida urbana e da classe média na segunda metade do século XIX

• expressões do Realismo/Naturalismo, do Parnasianismo e do Simbolismo no projeto literário


brasileiro:

1. Machado de Assis – a prosa: Memórias póstumas de Brás Cubas

2. Aluísio Azevedo: O cortiço

3. Adolfo Caminha: Bom crioulo

4. Olavo Bilac: Profissão de fé

5. Cruz e Sousa: Antífona

Referências bibliográficas
 
BILAC, Olavo. Poesias. Rio de Janeiro: Tecnoprint, [19..].

BOSI, Alfredo. Céu, inferno; ensaios de crítica literária e ideológica. São Paulo: Ática, 1988.

____. Machado de Assis: o enigma do olhar. 4. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2007.

BRAYNER, Sônia. Labirinto do espaço romanesco: tradição e renovação da literatura brasileira:1880-


1920. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.
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CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 4. ed. São Paulo: Ouro sobre Azul, 2004.

_________. O discurso e a cidade. São Paulo: Duas Cidades, 1993.

CASTELLO, José Aderaldo. Realidade e ilusão em Machado de Assis. São Paulo: Nacional, 1969.

CHADWICK. Charles. O simbolismo. Lisboa: Lysia, 1971.

COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura no Brasil. 9. ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978.

DUARTE, Eduardo de Assis. Machado de Assis afro-descendente – escritos de caramujo [antologia]. 2. ed.
Rio de Janeiro/Belo Horizonte: Pallas/Crisálida, 2007.

FAORO, Raymundo. Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio. 4. ed. São Paulo: Globo, 2001.

FURST, Lilian R., SKRINE, Peter N. O naturalismo. Lisboa: Lysia, 1971.

JORGE, Fernando. Vida e obra de Olavo Bilac. 2. ed. São Paulo: Mundo Musical, 1972.

MAGALHÃES JUNIOR, R. Poesia e vida de Cruz e Sousa. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/INL,
1975.

MERQUIOR, José Guilherme. De Anchieta e Euclides: breve história da literatura brasileira. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1977.

MURICI, Andrade. Panorama do movimento simbolista brasileiro. 2. ed. Brasília: INL, 1973. Vols. I e II.

PACHECO, João. O realismo (1870 – 1900). 4. Ed. São Paulo: Cultrix, 1971.

PEREIRA, Lúcia Miguel. Prosa de ficção: 1870-1920. Belo Horizonte: Itatiaia, 1988.

________. Machado Assis; estudo crítico e biográfico. Belo Horizonte: Itatiaia, 1988.

PLEKHANOV, Georges. A arte e a vida social. 1. Ed. Lisboa: Moraes Editores, 1977.

PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 22. ed. São Paulo: Brasiliense, 1979

SODRÉ, Nelson Werneck. História da literatura brasileira; seus fundamentos econômicos. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1978.

SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. São Paulo: Duas Cidades/
Ed. 34, 2000.

SUSSEKIND, Flora. Tal Brasil, qual romance? Rio de Janeiro: Achiamé, 1984.

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Sumário

1. Fundamentos filosóficos do Realismo/Naturalismo

2. Brasil: desenvolvimento da vida urbana e da classe média na segunda metade do século XIX

3. O Realismo/Naturalismo

4. O culto à arte pela arte

4.1 Parnasianismo

4.2 Simbolismo

1. Fundamentos filosóficos do Realismo/Naturalismo 1

O Realismo/Naturalismo teve como fundamento filosófico o Positivismo, que considera a sociedade


humana regulada por leis naturais, ou por leis que têm todas as características das leis fundamentais,
invariáveis, independentes da vontade e da ação humana, tal como a lei da gravidade ou do movimento
da terra em torno do sol. A pressuposição fundamental do Positivismo é de que essas leis que regulam o
funcionamento da vida social, econômica e política, são do mesmo tipo que as leis naturais e, portanto, o
que reina na sociedade é uma harmonia semelhante à da natureza, uma espécie de harmonia natural.

Desta tese podemos concluir que para o Positivismo, da mesma maneira que as ciências da natureza são
ciências objetivas, neutras, livres de juízo de valor, de ideologias políticas, sociais ou outras, as ciências
sociais devem funcionar exatamente segundo esse modelo de objetividade científica. Isto é, o cientista
social deve estudar a sociedade com o mesmo espírito objetivo, neutro, livre de juízo de valor, livre de
                                                            

1
Este ponto, no que se refere ao Positivismo, é uma soma de lições retiradas de uma conferência de Michael Löwy
sobre este assunto. In: Ideologias e ciência social: elementos para uma análise marxista (São Paulo: Cortez, 1985. p.
35-45).

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quaisquer ideologia ou visões de mundo, exatamente da mesma maneira que o físico, o químico, o
astrônomo, etc. Com efeito, a concepção positivista é aquela que afirma a necessidade e a possibilidade
de uma ciência social completamente desligada de qualquer vínculo com as classes sociais, com as
posições políticas, os valores morais, as ideologias, as utopias, as visões de mundo. Todo esse conjunto
de elementos ideológicos, em seu sentido amplo, deve ser eliminado da ciência social.

O Positivismo geralmente designa esse conjunto de valores ou de opções ideológicas como prejuízos,
preconceitos ou prenoções. A ideia fundamental do método positivista é de que a ciência só pode ser
objetiva e verdadeira na medida em que eliminar totalmente qualquer interferência desses preconceitos
ou prenoções.

Até princípios do século XIX, (pode-se dizer que a ideia de uma ciência da sociedade, elaborada segundo
o modelo científico-natural, aparece particularmente no século XVIII) o Positivismo aparece como uma
visão social do mundo, como uma concepção da ciência social que tem um aspecto utópico-crítico muito
importante quando, por exemplo, Condorcet – talvez o primeiro pensador ( ligado à Enciclopédia) que
se pode distinguir como mentor do Positivismo – formulou de maneira precisa a ideia de que a ciência da
sociedade, nas suas várias formas, deve tomar o caráter de uma matemática social, ser objeto de estudo
matemático, numérico, preciso, rigoroso.

Graças a essa matemática social é que poderá existir uma ciência dos fatos sociais verdadeiramente
objetiva. Até aquele instante, ele considerava que havia existido uma teoria da sociedade submetida aos
preconceitos e aos interesses das classes poderosas. Através deste argumento se percebe o caráter
utópico e, mesmo, revolucionário dessa primeira formulação do Positivismo. Ele é contra o controle do
conhecimento social pelas classes dominantes da época, isto é, pela Igreja, pelo poder feudal, pelo
Estado monárquico, que se arrogavam o controle de todas as formas do conhecimento científico.

Discípulo de Condorcet, Saint-Simon postulou uma ciência da sociedade segundo o modelo biológico.
Para ele, a ciência social tem por modelo a fisiologia, o que o faz chamar a nova ciência da sociedade de
fisiologia social.

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Neste conceito, há uma dimensão crítico-utópica na medida em que Saint-Simon foi um socialista utópico
e, por isso, sua análise, em sua fisiologia social, tem como finalidade demonstrar que, por exemplo,
certas classes sociais, referindo-se à aristocracia e ao clero, são parasitas do organismo social. Neste
caso, a fisiologia social tem uma força crítica de oposição à ordem estabelecida. A ideia de uma ciência
fisiológica da sociedade é também uma ideia que se situa no contexto do combate às doutrinas das
classes dominantes da época.

Com Condorcet e Saint-Simon pode-se dizer que, até os princípios do século XIX, o Positivismo aparece
como uma visão social do mundo, como uma concepção da ciência social que tem um aspecto utópico-
crítico muito importante. A transformação, a mudança de direção, só se dará com Augusto Comte,
discípulo de Saint-Simon.

Para Augusto Comte, o pensamento tem que ser inteiramente positivo, devendo acabar-se com toda a
crítica e negatividade, ou seja, com a dimensão revolucionária contida no pensamento de Condorcet e
Saint-Simon, ainda que, destes, se considerasse continuador. Comte se refere a Condorcet como “esse
meu eminente precursor”, mas considera que o este nunca chegou a descobrir as leis da sociologia
devido a seus “preconceitos revolucionários”.

Com Augusto Comte, o Positivismo sairá de uma fase utópica, crítico-revolucionária para uma fase
reacionária. Isto porque a palavra preconceito muda de função: para o positivismo em sua fase
utópica, o termo preconceito serve a uma função revolucionária e crítica – é sempre o preconceito das
classes dominantes, preconceito clerical, absolutista, obscurantista, fanático, intolerante, dogmático; com
Comte, esse sentido muda, é o preconceito revolucionário de Condorcet, que apoiou a Revolução
Francesa, ou revolucionário socialista de Saint-Simon. Deste modo, a luta contra os preconceitos muda
radicalmente, passa a ser uma luta conservadora. Comte se queixa da disposição revolucionária de Saint-
Simon, com as quais ele está inteiramente em desacordo. Ele explica que seu método positivo deve se
consagrar teórica e praticamente à defesa da ordem real.

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Comte começa, então, a formular uma concepção de ciência natural, que ele vai chamar, inicialmente, de
física social: “a física social é uma ciência que tem por objeto o estudo dos fenômenos sociais,
considerados no mesmo espírito que os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos”. Isto
quer dizer que os fenômenos sociais são submetidos a leis naturais invariáveis; por exemplo, a lei da
distribuição das riquezas e do poder econômico, que determina a “indispensável concentração das
riquezas na mão dos senhores industriais”, é para Augusto Comte um exemplo de lei invariável, natural,
da sociedade, cujo estudo é tarefa da física social e, depois, da sociologia. Ele considera também uma
tarefa importante da sociologia explicar aos proletários essas leis invariáveis, porque são precisamente os
proletários que precisam ser convencidos desse caráter natural da concentração indispensável das
riquezas nas mãos dos chefes industriais. Ele espera que “graças ao Positivismo os proletários
reconhecerão, com a ajuda feminina, as vantagens da submissão e de uma digna irresponsabilidade. Por
essa citação parece também que, para ele, a mulher é submissa e não tem nenhuma responsabilidade, e
que isso é uma lei natural. Elas poderão assim ajudar os proletários a reconhecerem as vantagens desta
situação. Os dois caminham juntos: a submissão da mulher e do proletário, resultando ambos de leis
naturais, invariáveis.

Como se vê, o Positivismo, que se apresenta como ciência livre de juízos de valor, neutra, rigorosamente
científica, o qual, no dizer de Augusto Comte, “não admira nem amaldiçoa os fatos políticos”, acaba
tendo uma função política e ideológica. Isto fica bem patenteado em outra declaração de Comte: “o
Positivismo tende poderosamente, pela sua natureza, a consolidar a ordem pública, pelo desenvolvimento
de uma sábia resignação. Se essa sábia resignação for compartilhada por todos e, particularmente, pelo
proletariado, teremos solidamente consolidado a ordem pública. Esse é o sentido profundamente
conservador do Positivismo a partir de Augusto Comte, quando se observa uma espécie de deslocamento,
de mudança de direção do Positivismo, do campo crítico, utópico, negativo, revolucionário, para o campo
conservador e legitimador da ordem estabelecida.

Se Augusto Comte formulou uma concepção do Positivismo como ideologia conservadora, seu discípulo
Émile Durkheim transformará esta concepção na perspectiva básica da Sociologia, ou da ciência social
universitária, acadêmica ou burguesa. Exemplo deste conservadorismo de Durkheim fica bem
comprovado quando ele escreve: “é tarefa do positivista explicar aos estudantes que os fenômenos
psíquicos e sociais são fatos como os outros, como os fatos naturais, são submetidos a leis que a vontade
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humana não pode perturbar. Como os fatos sociais não dependem da vontade humana, por
consequência, as revoluções, no sentido próprio da palavra, são tão impossíveis quanto os milagres”. Isto
significa que sendo as leis da natureza impossíveis de serem modificadas, a sua transformação, através
de uma revolução, é tão impossível quanto um milagre.

A influência que Durkheim exerceu sobre a pesquisa social resulta, sobretudo, da recomendação de que o
sociólogo na realização de seu trabalho deve fazer calar seus preconceitos e as suas paixões; o cientista
social deve colocar de lado todas as suas prenoções antes de começar a estudar a realidade social. Ou
seja, o que está na base do método durkheimiano é a certidão do mito da neutralidade científica (sobre
a qual já falamos em Teoria da Literatura I, lembra?). Este modelo de objetividade científica, de
neutralidade, estará presente na maioria das inteligências mais criativas das décadas finais do século XIX
até, apesar das lições do materialismo dialético, o século XX (e, suspeitamos, até a contemporaneidade
do século XXI).

Influenciado pelas teses positivistas de Augusto Comte e Émile Durkheim, o final século XIX empreenderá
uma ampla revolução sobre as ideias. Contemporaneamente a estas teses, grandes transformações no
espírito e no pensamento reinterpretarão a vida, suas origens, seus valores religiosos, socioculturais,
ético-morais. A maior destas reinterpretações estabelece um confronto entre religião e ciência; trata-se
da teoria evolucionista de Charles Darwin, segundo a qual o ser humano e o macaco, em virtude de suas
semelhanças biológicas, teriam uma ancestralidade em comum. Intelectualmente, o darwinismo exerceu
grande influência sobre o desenvolvimento das ciências e do pensamento em geral. O liberalismo cresceu
política e economicamente; no final do século XIX o que se tem no mundo das idéias é quase uma
continuação do Iluminismo e do Enciclopedismo do século XVIII e da Revolução; nestes tempos,
acreditou-se
[...] no progresso indefinido e ascensional e no desenvolvimento da civilização mecânica e
industrial; no impulso humanitário, conciliando a educação da massa e o socialismo com o
culto do poder político e da glória militar e nacional. As massas emergiram ao plano
histórico, de posse dos progressos materiais e políticos. A ciência, o espírito de observação
e de rigor forneciam os padrões do pensamento e do estilo de vida desde que se julgava
que todos os fenômenos eram explicáveis em termos de matéria e energia, e eram
governados por leis matemáticas e mecânicas. O vasto processo de “mecanização do
trabalho e do pensamento” (Hayes) refletiu-se tanto na vida material como nas diversas
ciências – físicas, naturais, biológicas, sociais. A biologia, com a teoria determinista, e sua
promessa de melhoria de saúde e raça, conquistou uma voga dominadora. Problemas de
hereditariedade, de embriologia, de estrutura celular, de bacteriologia, seduziram os
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espíritos. O darwinismo, a evolução e a doutrina da seleção natural imprimiram direção às
pesquisas não somente da biologia, mas também da psicologia e das ciências sociais.
Outro dado importante foi a ascensão da psicologia científica com seus métodos de
laboratório, mais um elo da cadeia de união da biologia com a física, para mostrar a base
física do pensamento, da conduta e da afinidade do homem com os animais (Hayes)
(Coutinho, Afrânio. Op. cit. p.181-182).

Estas ideias exercerão sobre a Arte vasta influência. Na Literatura, o Realismo/Naturalismo e o romance
experimental de Émile Zola são legítimos herdeiros de um tempo definido pela autoridade de uma
filosofia positivista, de alguns pressupostos da Sociologia de Durkheim, das lições da Biologia, da
Psicologia e das ciências físico-naturais. Tudo isso sob uma concepção de arte neutra, embora,
paradoxalmente, de viva análise do social e da realidade.

Contemporaneamente ao Realismo/Naturalismo, também o Parnasianismo e o Simbolismo defendiam


para a poesia uma arte neutra e pura: a arte pela arte. Impossível projeto de realizar-se dada a
intrínseca e inalienável relação da Arte com a história sociocultural do ser humano. Uma lição de Roger
Bastide, in: Arte e sociedade, estudada em Teoria da Literatura I, alerta-nos para as relações entre as
produções artísticas e a sociedade: a arte não tem sua finalidade em si mesma, não procura apenas
agradar – se assim o fosse, não reteria a atenção do sociólogo – ela é uma categoria social encarregada
de unificar os desejos dos homens. À esta lição, Bastide acrescenta que [...] o artista só pode criar
quando, de alguma maneira, se encontra possuído do entusiasmo e da fé coletiva. Não há criação
individual sem um prévio preparo social e popular ( 3. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1979. p. 8-13).

No Brasil, a influência do Positivismo estará na política, no pensamento acadêmico-intelectual, sem


ausentar-se das produções artísticas e culturais, sobretudo da cultura literária. A tentativa de um projeto
estético-literário inspirado na isenção e na neutralidade do narrador a exemplo do Realismo/Naturalismo
teve entre nós altos representantes: Aluísio Azevedo e Adolfo Caminha.

Quanto a Machado de Assis, para quem “a realidade é boa, o Realismo é que não presta para nada”, o
tomemos como um narrador atemporal, na sua obsessiva e incessante análise da alma da vida e de suas
(des)humanidades.

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Sobre uma poesia contemporânea do Realismo/Naturalismo, uma expressão de arte pura, neutra, se
revela no Parnasianismo, cuja melhor realização entre nós encontra-se em Alberto de Oliveira, Raimundo
Correia, Vicente de Carvalho e, especialmente, em Olavo Bilac. O Simbolismo, contemporâneo do
Parnasianismo, também propugnava uma arte pura, o gosto pela palavra rara, o culto da forma. Nosso
poeta simbolista de maiores resultados estéticos, autor de uma das mais fulgurantes obras poéticas das
literaturas latinas, na opinião de Merquior, op. cit. p.: 141, é Cruz e Souza.

2. Brasil: desenvolvimento da vida urbana e da


classe média na segunda metade do século XIX
Caio Prado Junior em sua História econômica do Brasil assinala que “a lavoura do café marca na evolução
econômica do Brasil um período bem caracterizado”. Durante três quartos de século, sobre esta lavoura
se concentrou quase toda a riqueza do país, apontado então como o maior produtor mundial, cujo
monopólio está bem patenteado na metáfora o Brasil é o café, pronunciada no Parlamento do Império e
amplamente utilizada por nós e pela comunidade internacional.

Iniciada no Nordeste, a cultura cafeeira, no entanto, não será capaz de enfrentar a longa tradição
canavieira e algodoeira desta região. Será no Rio de Janeiro, logo depois nas regiões contíguas de Minas
Gerais e São Paulo, e finalmente no Espírito Santo (este último com índices já muito menores) que se
localiza realmente a riqueza cafeeira do Brasil. Comercialmente, orientou-se para o Rio de Janeiro, que é
o porto de escoamento do produto, e por isso seu centro financeiro e controlador. Pouco depois da
metade do século XIX, esta área representa o setor mais rico e progressista do país, concentrando a
maior parcela de suas atividades econômicas. É o auge do seu desenvolvimento.

O café deu origem, cronologicamente, à última das três grandes aristocracias do país. Depois dos
senhores de engenho e dos grandes mineradores, os fazendeiros de café se tornam a elite social
brasileira. E em consequência (uma vez que o país já era livre e soberano) na política também. O grande

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papel que São Paulo2 foi conquistando no cenário político do Brasil, até chegar à sua liderança efetiva, se
fez à custa do café; na vanguarda deste movimento de ascensão, e impulsionando-o, marcham os
fazendeiros e seus interesses. Quase todos os maiores fatos econômicos, sociais e políticos do Brasil,
desde meados do século XIX até o terceiro decênio do século XX, se desenrolam em função da lavoura
cafeeira ( Junior Prado, Caio. Cf. ref. bib.).

O registro deste desenvolvimento econômico promovido pelo café é importante porque através dele se
explicam algumas metáforas da nossa vida social impressas no romance brasileiro da segunda metade do
século XIX. Lembremo-nos, como exemplos, dos salões burgueses e aristocráticos onde desfilam os
conselheiros e os barões de Machado de Assis; dos excluídos corticeiros e pensionistas de Aluísio
Azevedo; dos jovens burgueses, alunos do Ateneu; dos proscritos marinheiros de Bom crioulo; do
entusiasmo de uma arte pela arte dos parnasianos e simbolistas. E mais, do ufanismo republicano de
Olavo Bilac quando professava à infância brasileira no seu poema A pátria: "Ama, com fé e orgulho, a
terra em que nasceste!/ Criança! Não verás nenhum país como este!".

3. O Realismo/Naturalismo
 
A verossimilhança é uma das obsessões do Realismo/Naturalismo.

O real, sobretudo, o que expõe as contradições mais miseráveis da natureza humana, do ponto de vista
ético-moral e material, que encara a vida em suas piores situações, será uma espécie de metonímia

                                                            
2
[...] Ainda resultará um importante efeito do deslocamento para oeste das principais lavouras cafeeiras, o que quer
dizer da maior e quase única fonte de riqueza do país naquele momento. Até então o Rio de Janeiro fora o grande
empório do comércio de café; e seu grande progresso não deriva somente de sua qualidade de capital, mas também
daquele fato. Agora a situação já é outra: a orientação geográfica do oeste paulista não é para o Rio de Janeiro, mas
para a capital da província, São Paulo, e através dela, para o porto de Santos. Data de então, e por tal motivo, o
grande surto contemporâneo da cidade de São Paulo e do seu apêndice portuário e brecha para o exterior que é
Santos (Junior Prado, Caio. História econômica do Brasil. 22. ed. São Paulo: Brasiliense, 1979. p.165).
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obsedante destas expressões estéticas típicas da segunda metade do século XIX e que se estenderá até o
início do século XX3.

Apesar de simultâneos e entremeados, eles, no entanto, têm suas diferenças e especificidades nos seus
projetos estéticos através dos quais pretenderam retratar a realidade e as condições humanas.

Sobre o Realismo, digamos que ele realizou uma análise do ser humano no conjunto relações sociais,
assinando-lhe um comportamento escravo da dissimulação, do poder capital, do típico individualismo
burguês, cuja ilusão de um poder inabalável transforma o ser humano num irascível e num descontrolado
em seus ímpetos, assinale-se, racionais. Lembremo-nos que o contexto histórico-econômico do
Realismo/Naturalismo é o mesmo contexto da Revolução Industrial, cujas injustiças e cujos conflitos
sociais provocarão em todos os que acreditaram no ideal revolucionário de 1789 – liberdade, igualdade e
fraternidade – uma imensa desilusão ao verem que estes ideais também não se cumpriam na política de
um novo Estado, que se pretendia moderno e se declarava burguês. Neste sentido,
Realismo/Naturalismo não deixam de ser uma resposta, implacável, ao ser humano de, ele próprio,
frustrar suas utopias de um desenvolvimento social promotor da liberdade, da igualdade e da
fraternidade. Se os românticos, especialmente em França, foram os grandes atores do Romantismo, ao
ponto de um historiador afirmar serem Romantismo e Burguesia sinônimos (cf. nossas aulas de Literatura
Brasileira II), os realistas/naturalistas serão, romanticamente desiludidos, os ácidos críticos dos rumos
tomados pela burguesia vitoriosa do 14 de julho de 1789 e pela Revolução Industrial.

No projeto radical do Naturalismo, a observação acerca do ser humano vai até a apresentação de seus
comportamentos mais irracionais, expondo-nos como bestas compulsivas, descontroladas, impotentes

                                                            
3
Devem-se encarar o Realismo e Naturalismo como movimentos específicos do século XIX. Porquanto, antes de se
concretizarem numa época histórica, eles eram categorias estéticas ou temperamentos artísticos, tendências gerais da
alma humana em diversos tempos, como Classicismo e Romantismo, surgindo o Realismo sempre que se dá a união
do espírito à vida, pela objetiva pintura da realidade. Dessa forma há Realismo na Bíblia e em Homero, na tragédia e
comédia clássicas, em Chaucer, Rabelais e Cervantes, antes de aparecer em Balzac, Stendhal e Dostoievsky. Do
mesmo modo, o Naturalismo existe sempre que se reage contra a espiritualização excessiva, como em certas
expressões do erotismo barroco ou na ficção naturalista do século XIX (COUTINHO, Afrânio. p.:179, 180. Cf. ref. bib.).

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diante das imposições da natureza. Algo insolúvel como se fôssemos tão-somente produto de um meio
que nos destina à fatalidade do que não pode ser revisto e superado pela inteligência humana. Pela razão
humana. Um grave equívoco do Naturalismo foi não ter percebido que “as ações, as inclinações, os
gostos e os hábitos de espírito do homem social não podem ser suficientemente explicados pela fisiologia
ou a patologia, porque são determinados pelas relações sociais. [Os naturalistas] podiam estudar e
representar os seus ‘mastodontes’ e os seus ‘crocodilos’ enquanto indivíduos, mas não como membros de
um grande todo” ( PLEKHANOV, Georges. p.: 36, 37. Cf. ref. bib.).

Você deve está perguntando: para colocar estes novos conteúdos, realistas e naturalistas criaram uma
nova fôrma literária? Não. Tudo será mesmo na forma do romance. Mas um romance que Émile Zola, o
grande escritor naturalista francês, designou experimental e que assim o definiu:
possuir o mecanismo dos fenômenos humanos, mostrar a mola das manifestações
intelectuais e sensuais tais como a fisiologia nos explicará, sob a influência da
hereditariedade e das circunstâncias ambientais, depois mostrar o homem a viver no meio
social que ele próprio criou, que ele modifica todos os dias e em cujo seio experimenta,
por seu turno, uma modificação contínua. Assim, pois, nós nos apoiamos na fisiologia, nós
tomamos o homem isolado das mãos do fisiólogo, para continuar a pesquisa do problema
e resolver cientificamente a questão de saber como se comportam os homens, desde que
se encontrem em sociedade (Zola, Émile. Apud: PACHECO, João. p.:131. Cf. ref. bib.).

Pretenderam-se neutros, mas não foram. Até porque, como já assinalamos em outras aulas, não há
forma de conhecimento neutra. Tudo está pontilhado por nossas ideologias e por nossas utopias; sobre o
mundo, projetamos e lutamos pela vitória e pelo o estabelecimento das nossas crenças, das nossas
visões de mundo. A própria tese de o romance experimental não tirar, ele próprio, nenhuma conclusão do
que observa, sobre o escreve, revela um ponto de vista, uma posição político-ideológica. Jamais,
realistas e naturalistas foram neutros aos temas de seus romances. A revelação de seus narradores, o
discurso minuciosamente descritivo das personagens, dos ambientes, tudo neles, denuncia um narrador
onisciente acerbo, crítico, pessimista; indignado com o que observa e expõe; implacável na sua acurada
descrição de adultérios ( talvez a maior metáfora realista), do ócio burguês, do valor capital sobre a
ética, do desejo carnal – colocado (e vivido) acima de todo princípio moral), do flagelo social da classe
trabalhadora.

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No Brasil, esta literatura foi escrita principalmente pelos naturalistas Aluízio


Azevedo e Adolfo Caminha; por Machado de Assis, que professou: “a realidade
é boa, o Realismo é que não presta para nada. De fato, ele superou o cânon
realista ao dispensar a apresentação do real e da verdade, da vida
metonimicamente ficcionada no romance, no conto e na novela para ir até aos
universos mais longínquos da alma humana, de sua psicologia, de seus conflitos.
Engenho e arte de um fecundo criador, único gênio da Literatura do tempo
realista/naturalista da Língua Portuguesa.

Raro retrato de Machado de Assis sem barba, aos 35 anos de idade (1839/1908)

LEITURA COMPLEMENTAR “A”


A opinião generalizada dos historiadores assinala o ano de 1870 como fixando a passagem de uma fase a outra no
desenvolvimento brasileiro. Realmente, a partir daquele ano ocorrem acontecimentos que assinalam mudanças
significativas em nossa existência de povo. Começam com o encerramento da guerra com o Paraguai, a fundação do
Clube Republicano e do jornal A República, e o lançamento do Manifesto Republicano, fatos do ano citado. Seguem na
seriação cronológica, com a Lei do Ventre Livre, de 1871; a Questão Religiosa, em 1874; a libertação dos
sexagenários, em 1885; a Abolição e a Questão Militar, em 1888; a República, em 1889; a primeira Constituição
republicana, em 1891; o governo de Floriano e a rebelião federalista, em 1892; a campanha de Canudos, em 1897; o
primeiro funding-loan, em 1898. São acontecimentos marcantes, de grande repercussão, afetando a quase todos os
brasileiros, alterando a vida nacional. Mas há outros, de menor repercussão, mas que constituem indícios importantes
das alterações do fim do século: o início da crítica científica encabeçada por Sílvio Romero; [...] o lançamento do
positivismo, com os trabalhos de Miguel Lemos, e do evolucionismo com os de Tobias Barreto, em 1875; a fundação
da Sociedade Positivista, por Benjamin Constant e o aparecimento dos trabalhos materialistas de Guedes Cabral e
Vicente de Sousa, em 1876; a fundação da Academia Brasileira de Letras, em 1896. [...] São fatos que assinalam
mudanças sensíveis no modo de viver e, portanto, no comportamento da população. Destacam, na sua maioria, a
urbanização, o avanço, embora ainda lento, da burguesia brasileira, contrastando com o domínio absoluto até aí
exercido pela classe territorial.

Foi essa a fase em que o naturalismo apareceu. Em termos de influência, de acolhimento generalizado, a questão de
procedência carece de significação. Os acontecimentos artísticos são marcados pelo público e não pelo autor; pela
aceitação e não pela invenção. Assim, o naturalismo começa no penúltimo decênio do século, o da Abolição e da
República, quando a maior parte dos acontecimentos citados havia já ocorrido, e os outros se enfileiravam num
sequência natural daqueles. Do ponto de vista social, a inquietação que se reflete em episódios políticos anuncia o
crescimento acelerado da pequena burguesia, já antiga entre nós, datando da mineração, a rigor, agrupando-se mais
densamente nos núcleos urbanos e influindo na imprensa, nas letras, nas escolas superiores, no parlamento, nas lutas
dos partidos e nas rebeliões armadas. Essa camada social dera o tom, desde a primeira metade do século, às
reivindicações que os movimentos de rebeldia eclodidos em várias das mais distantes províncias puseram em
destaque. Dava, agora, o tom a muitas das formulações políticas e a muitas das colocações artísticas. Constituía a
vanguarda combativa de uma burguesia que dava os primeiros passos, com enorme dificuldade, em um país de
tradição latifundiária e de trabalho escravo, com enormes extensões submetidas ao regime semifeudal que datava de

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séculos também (SODRÉ, Nelson Werneck. O naturalismo no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. p.:
158, 159, 160). Lembro que este contexto histórico é o mesmo do Realismo, do Parnasianismo e Simbolismo.

LEITURA COMPLEMENTAR “B”


Das três funções históricas da arte literária: edificação moral, divertimento, e problematização da vida, a literatura da
era contemporânea – a literatura da civilização industrial – cultiva preferencialmente a última. A hipertrofia da visão
problematizadora é, desde o romantismo, uma característica fundamental das letras; de tal modo as grandes obras
literárias se foram concentrando nesse objetivo, nessa atitude crítica ante a existência, que a edificação e o
divertimento se viram quase excluídos da literatura de alta qualidade. De Goethe para cá, os textos
predominantemente destinados a inculcar ideias morais estabelecidas, ou a distrair o espírito, situam-se à margem
dos valores literários; ou então se confundem, pura e simplesmente, com a subliteratura. No entanto, autores tão
importantes quanto Virgílio e Dante, Gil Vicente e Calderón criaram obras máximas dentro das direções fortemente
edificantes; Boccaccio e Ariosto fizeram literatura de alto nível sem outra pretensão que o entretenimento; e da obra
de Homero – ao mesmo tempo “romance de aventuras” e suma dos mitos que encerravam a educação helênica –
pode-se dizer que está regida por uma fusão perfeita do divertir e do edificar.

Mas o que tornava praticável esse embutimento da distração na edificação? Na resposta a essa pergunta se encontra
justamente a explicação da hegemonia da função problematizadora na literatura da sociedade moderna. É que o
mundo de Homero possuía valores estáveis. Por isso, o próprio divertimento era capaz de atuar como veículo de
formação ética. Em substância, o teatro medieval operou a partir de uma base cultural análoga. As sociedades
tradicionais conheciam, naturalmente, muitas crises ideológicas e sérios conflitos sociais – mas preservavam, de um
ou de outro modo, através das classes e das gerações, uma coesão espiritual que a nossa civilização não mais (ou
ainda não?) experimenta, porque não mais oferece a seus filhos uma orientação global da existência unanimemente
aceita e partilhada.Não havendo valores estáveis, a literatura, no seu papel de interpretação da vida por meio da
palavra, passou a procurá-los: daí ter ela assumido uma visão problematizadora. Para nós, nomes como Goethe ou
Hölderlin, Dostoiévski, Kafka ou Fernando Pessoa representam antes de mais nada grandiosas tentativas de discutir o
sentido da existência; por causa disso é que eles se inscrevem no centro vivo da tradição moderna.

A significação profunda da obra de Machado de Assis (1893-1908) reside em ter introduzido nas letras brasileiras essa
orientação problematizadora. Bem antes de Machado, a nossa literatura já utilizava os modelos da tradição moderna,
na lírica e na narrativa; mas o que caracterizava a nossa produção literária era a atrofia da visão problematizadora, a
quase inexistência, nos nossos textos poéticos, de qualquer impulso filosófico. Nem mesmo os grandes românticos –
para não falar nos naturalistas e parnasianos – constituíram exceção. Com isso, porém, a nossa literatura, por mais
que assimilasse as formas ocidentais, permanecia alheia à inspiração necessária e fatal da arte contemporânea;
permanecia uma literatura de consciência ingênua. A grandeza de Machado foi ter posto os instrumentos de expressão
forjados no primeiro Oitocentos – a língua literária elaborado por Alencar – a serviço do aprofundamento filosófico da
nossa visão poética, em sintonia com a vocação mais íntima de toda a literatura no Ocidente. Foi com Machado de
Assis que a literatura brasileira entrou em diálogo com as vozes decisivas da literatura ocidental.

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em junho de 1839, no morro do Livramento, na quinta da viúva do Brigadeiro
Bento Barroso, ministro e senador do Império. Seu pai, Francisco de Assis, filho de “pardos forros”, isto é, de mulatos
libertos, era um simples dourador e pintor de paredes, dado, porém, a algumas leituras; a mãe, uma lavadeira
açoriana; ambos tinham sido agregados da quinta da viúva Barroso, madrinha e protetora do menino. Joaquim Maria
perdeu bem cedo a mãe; porém a madrasta, Maria Inês, uma preta extremamente carinhosa, continuou a ampará-lo,
inclusive na alfabetização. Mas a morte de Francisco de Assis obrigou Maria Inês a empregar-se como doceira num
colégio de São Cristóvão, e Joaquim Maria ficou encarregado, aos doze anos, de vender doces. Parece, entretanto, que
catava fragmentos das aulas nos instantes de lazer, lia muitos livros emprestados, e iniciava-se no francês com os
padeiros franceses do bairro imperial (MERQUIOR, José Guilherme. Op. cit. p.: 153, 154. Cf . ref. bib.).

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LEITURA COMPLEMENTAR “C”


[...] Poucos anos depois, o estudo de outra comunidade humana daria a Aluísio Azevedo a sua
obra-prima: O Cortiço. Neste livro, apesar da triste figura de João Romão, com a negra
história de sua ascensão social, representar o fio que une tanta gente, não há heróis. Muito
mais do que em Casa de Pensão, sente-se aqui, composta pelo cortiço São Romão, pelo
português que o explora e pela vizinha família burguesa do Miranda, uma sociedade completa,
completa, fechada, formando um todo complexo mas coeso. Todas as existências se
entrelaçam, repercutem umas nas outras.

Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo (1857/1913)

Essa visão panorâmica parece constituir a grande qualidade de Aluísio Azevedo como romancista, esse poder de fixar
as coletividades representa a sua maior contribuição para o nosso romance. Só nos momentos em que vê o indivíduo
em função do meio a que pertence, como parte dele, e não como um caso a estudar isoladamente, é que o escritor se
sente no seu elemento. Por isso é que, falhando nos livros de análise psicológica, revela-se criador naqueles em que,
como O Mulato, Casa de Pensão e, principalmente, O Cortiço, se lança aos grupos sociais. [...] Afinal, neste romance,
Aluísio Azevedo se aproxima da realidade sem repugnância, sem ideias preconcebidas, sem inconscientes movimentos
românticos nem dogmas cientificistas. Aqui ele não toma partido, como fez tão visivelmente no Mulato, não se perde
em explicações desnecessárias, como acontece no O Homem, não determina de antemão o futuro, como na Casa de
Pensão ou no Coruja. E por isso se torna muito mais convincente.

[...] As condições de existência do elemento popular livre, na cidade em crescimento, são o verdadeiro tema do
Cortiço. A estalagem que estuda vai se elevando, seguindo a prosperidade de seu dono, transforma-se na “Avenida
São Romão”. [...] Esse pendor para o espetáculo das massas, raríssimo em nossa literatura, fez com que a
personagem coletiva do cortiço fosse a única que Aluisio Azevedo conseguiu fixar para sempre. Ressoante de cantigas
e rixas, cheirando a comida e a roupa lavada, ele representa alguma coisa a mais do que a soma de vidas humildes
que abriga; é um pedaço do Rio, e um momento de sua evolução que se perpetuam neste livro. O seu autor tem sido
acusado de não haver criado um único tipo, uma só dessas figuras que se incorporam à sociedade civil, tão
representativas são da sua época. E de fato, só recorrendo à coletividade é que atingiu em cheio a vida. O que
equivale a dizer que não chegou nunca ao âmago da alma humana, que ficou na superfície – mas, a esta, exprimiu
inteiramente. A sua fraqueza num ponto vem de sua força no outro, de ter sabido melhor ver do que penetrar
(PEREIRA, Lúcia-Miguel. Op. cit. p.:153, 154, 156, 157. Cf. .ref. bib.).

LEITURA COMPLEMENTAR “D”


A morte, aos trinta anos incompletos, de Adolfo Caminha privou a literatura brasileira de uma das mais sérias
vocações de romancista que já surgiram entre nós. Talvez também as vicissitudes de uma vida atormentada e
sofredora lhe tenham, de algum modo, prejudicado a obra que, em muitas passagens, deixa à mostra o ressentimento
do autor, tem um caráter intencional que perturba a liberdade criadora. Noutras, porém, revela um vigor, uma
originalidade, uma densidade e uma coesão que só possuem os verdadeiros romancistas, os que sabem surpreender
entre as coisas reveladoras relações, os que penetram no mistério dos seres e da vida.

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Adolfo Pereira Caminha (1867/1897)

[...] Não é, entretanto, o Caminha de A Normalista um romancista sem graves


deficiências; além das limitações pela escola a que aderiu quase póstuma e
apaixonadamente, limitações que se traduziram, em seu caso, sobretudo pela
superficialidade da visão, cometeu o grave erro de fazer um livro com o propósito de
amesquinhar o meio que descreve.

[...] Era, todavia, mais alta e forte a sua vocação, que não tardaria a expandir-se em Bom
Crioulo. Neste é que se revela romancista autêntico e livre, este é que nos faz lamentar a
sua morte prematura. Não que o livro seja isento de fraquezas, das quais a principal é
certamente a ausência de poesia. Nessa novela de paixão e morte, passada em grande
parte no mar, raramente se sente um sopro lírico, raramente a ressonância poética alteia
as criaturas rastejantes que nele se movem. E o tema – a inversão sexual entre marinheiros – é tratado de um modo
o que torna extremamente chocante.

[...] Mas esse livro, ousado na concepção e na execução, forte e dramático, humano e verdadeiro, é, a despeito dos
senões apontados, com O Cortiço, o ponto alto do naturalismo. Há, porém, nele uma grandeza, uma terrível grandeza,
a que só por momentos atingiu Aluísio Azevedo. Denso, cerrado, sombrio, o seu ambiente todo parece augurar as
explosões do vício e do crime. Até o mau gosto por vezes desagradável de Caminha como que torna mais convincente
a triste condição dos homens que evoca, oficiais endurecidos pelo hábito do mando, marinheiros desmoralizados por
uma disciplina cruel. Gente rudimentar, gente grosseira – mas gente de verdade, obrigando o leitor a sentir a
fatalidade do destino que a faz tão miserável. O tipo de Amaro, o Bom Crioulo, é dos mais realizados da ficção
brasileira. A pujança física lhe torna mais impressionante a fraqueza moral – a fraqueza do homem no qual só o
animal se desenvolveu. O trabalho no eito, na fazenda onde nascera, ao tempo da escravidão, depois os ofícios de
marinhagem, quando, negro fugido, se engaja na Armada, desenvolveram-lhe a musculatura, já de si rija; as
chicotadas regulamentares de bordo tornaram-se resistente, deram-lhe uja energia de animal brioso. No mais cresceu
livremente, com o seu instintivismo de criatura elementar, sem nunca chegar a ter noção do bem e do mal. Como se
defenderia da atração violenta pelo grumete louro, que o empolgou e transformou? De submisso tornou-se arrogante,
de zeloso, mandrião, de brando, só empregando a sua extraordinária força quando bebia, valentão e rixento.

[...] Note-se que Adolfo Caminha não descreve os gestos dos heróis da tragédia; escamoteia o assassínio, que,
entretanto, se sente nitidamente, refletido nas impressões que causa. Se tivesse sempre, do mesmo modo, sabido
insinuar certas cenas repulsivas, e sobretudo se se houvesse comportado em todo o livro com a mesma isenção que
tem para com Amaro, o Bom Crioulo ainda seria mais incisivo e impressionante. [...] Só no Bom Crioulo, e quem
logrou sair de si, expandiu-se livremente a sua vocação de romancista (PEREIRA, Lucia Miguel. Op. cit. p.: 168, 169,
171, 173, 174, 175, 176. Cf. ref. bib.).

ATENÇÃO

Não deixe as leituras destes romances para o final do semestre porque serão
assuntos de nossas avaliações. Não faça uma leitura apenas para cumprir um
assunto da disciplina. Busque prazer na sua leitura; reflita sobre o conteúdo e as
personagens; sobre a condição humana, naturalmente, presente em todo
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grande texto literário. Indico os livros da Coleção Bom Livro, da Editora Ática.
Seus textos são integrais, acompanhados por notas explicativas, alguns com
ótimos prefácios.

ATIVIDADE 1

Leia e estude para complementar os conteúdos aqui apresentados:

• o capítulo “Realismo, Naturalismo, Parnasianismo” do livro Introdução à


literatura no Brasil, de Afrânio Coutinho. Cf. ref. bib. À leitura e ao estudo deste
capítulo, é obrigatória a redação de um resumo, que será entregue em data a
ser definida.

ATIVIDADE 2

• Leitura de O cortiço, de Aluisio Azevedo.

• Leitura de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

• Leitura de Bom crioulo, de Adolfo Caminha.

4. O culto à arte pela arte


 

4.1 Parnasianismo
 
Contemporâneo ao Realismo/Naturalismo, o Parnasianismo vai apresentar uma poesia de apego à forma
e ao culto da arte pela arte, inspirado no poeta francês Theophile Gautier, um dos ícones da poesia
parnasiana francesa juntamente com Charles Baudelaire, Leconte de Lisle e Théodore de Banville.

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Embora seja uma poesia cujo contexto histórico seja o mesmo do Realismo/Naturalismo, ou seja,
positivista, cientificista e determinista, em sua imagística, ao contrário da prosa realista/naturalista,
sobejam “as metáforas inspiradas nas lendas e na história da Antiguidade Clássica, que vem a simbolizar
o ideal de beleza, em contraposição à Idade Média, que merecera a predileção romântica e era vista
agora como uma época sombria e mórbida. Ao repudiar o medievo, proclamavam a superioridade da vida
sobre a morte, da saúde sobre a doença, da alegria sobre a melancolia, da sensualidade sobre o
sentimentalismo, do objetivo sobre o subjetivo, do conhecimento do mal sobre a inocência, do homem
sobre Deus” (PACHECO, João. p.: 70. Cf. ref. bib.). Às suas lições, João Pacheco acrescenta que:
para os parnasianos o belo e o real se equivalem, devendo a imaginação sujeitar-se à
realidade objetiva, tanto mais perfeita sendo a obra quanto mais dela se aproxime.
Pontificou Bilac: “Procure a Beleza, gêmea da Verdade,/ Arte pura inimiga do artifício,/ É a
força e a graça na simplicidade” (A um poeta ). Nas manifestações da arte colocavam o
universalismo acima do nacionalismo, abstraindo-se aquela de cores locais. Contudo, ao
longo da evolução do Parnasianismo, pode-se divisar uma linha a descrever uma curva
que vem do puro helenismo dos primeiro embates, quando a Grécia e Roma
predominavam em seus motivos, para uma inspiração mais de ordem nacional.4 [...] A
preocupação social, que dera o colorido principal à fase dos precursores, desaparece por
inteiro, quando a escola senhoreia o terreno. Orienta-se então estritamente pelo princípio
da Arte pela Arte, se bem que muitos dos seus adeptos, como homens, tenham
participado dos acontecimentos do tempo. Não se diga que os parnasianos se mostram
inalteravelmente satisfeitos de sua arte e nunca lhe sentiram nenhuma insuficiência ou
estreiteza. Não deve Bilac ter experimentado outra coisa senão a asfixia que lhe impunha
a escola, demasiadamente presa, pela sua concepção, aos ergástulos da lógica, quando o
toma a angústia: “O pensamento ferve, e é um turbilhão de lava:/ A forma, fria e espessa,
é um sepulcro de neve.../ E a palavra pesada abafa a ideia leve,/ Que, perfume e clarão,
refulgia e voava” (Inania Verba). Raimundo Correia, quanto a esse respeito, [nos oferece]
uma manifestação sem rebuços em uma de suas cartas, onde malsina “dessa literatura
que importamos de Paris, diretamente ou com escola em Lisboa, literatura tão falsa,
postiça e alheia de [sic] nossa índole”, de que “eu sou talvez uma das vítimas”. [...] O
poeta, na compreensão parnasiana, era um artista a quem cabia idear, elaborar, realizar e
brunir a obra, com o pleno conhecimento dos processos de execução e a exata consciência
do seu emprego e graduação. Não um vate, como o fora no Romantismo, a receber a
inspiração do desconhecido e a deixar-se guiar por ela ( op. cit. p.: 71,72. Cf. ref. bib.).

                                                            

4
O que fica bem exemplificado em Olavo Bilac. Tanto no cidadão mentor e defensor do serviço militar obrigatório
como no poeta para o público infantil em cuja produção pontilhou os ideais da máxima positivista ordem e progresso.
Leitura obrigatória sobre Bilac poeta e ideólogo é o livro da Professora Marisa Lajolo: Usos e abusos da literatura na
escola: Bilac e a literatura escolar na República Velha. Rio de Janeiro: Globo, 1982.

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O ideal estético parnasiano a respeito do extremo apego à serena forma e do poeta como um artista a
quem cabia idear, elaborar, realizar e brunir a obra, com o pleno conhecimento dos processos de
execução e a exata consciência do seu emprego e graduação, está bem patenteado no poema Profissão
de fé, de Olavo Bilac, a exemplar poética do Parnasianismo brasileiro.

Profissão de fé
Le poète est ciseleur,
Le ciseleur est poète.
Victor Hugo
Não quero o Zeus Capitolino
Hercúleo e belo,
Talhar no mármore divino
Com o camartelo.

Que outro - não eu! - a pedra corte


Para, brutal,
Erguer de Atene o altivo porte
Descomunal.

Mais que esse vulto extraordinário,


Que assombra a vista,
Seduz-me um leve relicário
De fino artista.

Invejo o ourives quando escrevo:


Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara


A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,


Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem,


A ideia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.

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Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina,


Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:

E que o lavor do verso, acaso,


Por tão subtil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.

E horas sem conto passo, mudo,


O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento.

Porque o escrever - tanta perícia,


Tanta requer,
Que oficio tal... nem há notícia
De outro qualquer.

Assim procedo. Minha pena


Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!

Deusa! A onda vil, que se avoluma


De um torvo mar,
Deixa-a crescer; e o lodo e a espuma
Deixa-a rolar!

Blasfemo, em grita surda e horrendo


Ímpeto, o bando
Venha dos bárbaros crescendo,
Vociferando...

Deixa-o: que venha e uivando passe


- Bando feroz!
Não se te mude a cor da face
E o tom da voz!

Olha-os somente, armada e pronta,


Radiante e bela:
E, ao braço o escudo, a raiva afronta
Dessa procela!

Este que à frente vem, e o todo


Possui minaz
De um vândalo ou de um visigodo,

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Cruel e audaz;

Este, que, de entre os mais, o vulto


Ferrenho alteia,
E, em jato, expele o amargo insulto
Que te enlameia:

É em vão que as forças cansa, e à luta


Se atira; é em vão
Que brande no ar a maça bruta
À bruta mão.

Não morrerás, Deusa sublime!


Do trono egrégio
Assistirás intacta ao crime
Do sacrilégio.

E, se morreres por ventura,


Possa eu morrer
Contigo, e a mesma noite escura
Nos envolver!

Ah! ver por terra, profanada,


A ara partida
E a Arte imortal aos pés calcada,
Prostituída!...

Ver derribar do eterno sólio


O Belo, e o som
Ouvir da queda do Acropólio,
Do Partenon!...

Sem sacerdote, a Crença morta


Sentir, e o susto
Ver, e o extermínio, entrando a porta
Do templo augusto!...

Ver esta língua, que cultivo,


Sem ouropéis,
Mirrada ao hálito nocivo
Dos infiéis!...

Não! Morra tudo que me é caro,


Fique eu sozinho!
Que não encontre um só amparo
Em meu caminho!

Que a minha dor nem a um amigo


Inspire dó...
Mas, ah! que eu fique só contigo,
Contigo só!

Vive! que eu viverei servindo

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Teu culto, e, obscuro,
Tuas custódias esculpindo
No ouro mais puro.

Celebrarei o teu oficio


No altar: porém,
Se inda é pequeno o sacrifício,
Morra eu também!

Caia eu também, sem esperança,


Porém tranquilo,
Inda, ao cair, vibrando a lança,
Em prol do Estilo!

Você deve ter confirmado nossas informações sobre a profissão de fé parnasiana no conjunto de toda
esta poética, especialmente em algumas estrofes e em alguns versos a exemplo dos que seguem:
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:

E que o lavor do verso, acaso,


Por tão subtil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.

Por te servir, Deusa serena,


Serena Forma!

Vive! que eu viverei servindo


Teu culto...
No ouro mais puro.

Inda, ao cair, vibrando a lança,


Em prol do Estilo!

LEITURA COMPLEMENTAR “E”

A obra de Bilac é a de um parnasianismo fortemente influenciado pelos modelos franceses, sobretudo por Théophile

Gautier, o poèta impeccable, o parfait magicien, na expressão de Baudelaire, e Leconte de Lisle e seu seguidor, José
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Maria Heredia – devotos do virtuosismo formal, da arte pela arte, da técnica perfeita, da rima rara da ourivesaria

poética. E se tornou poeta quando era mais intensa a reação às facilidades do Romantismo, à simples espontaneidade

sentimental e lírica. Eram os poetas da razão, contra os poetas do coração, erguendo contra o Romantismo a

aparência de perfeição dos versos cinzelados, num crescendo que, segundo a expressão do

crítico francês Gaetan Picon, fazia terminar cada soneto com uma explosão de fogo de

artifício ou com um golpe de gongo, sonoro e vibrante. Contudo, Bilac andou também nas
águas de Baudelaire – ponte entre o Parnasianismo e o Simbolismo – a quem parafraseou, e

na parte final de sua obra, os versos de “Tarde”, já se apresentava mais liberto do rigoroso

espartilho parnasiano. [...] Nos quadros do Parnasianismo brasileiro, nenhum outro poeta

supera Olavo Bilac (R. Magalhães Junior, in: BILAC, Olavo. Poesias. Op.cit. Cf. ref. bib.

Posfácio).

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (1865/1918)

4.2 Simbolismo
 
Também o Simbolismo se caracteriza pelo culto da arte pela arte. De conteúdo espiritual, místico,
expresso numa linguagem densamente metafórica, rigorosa na sonoridade e no ritmo da palavra, a
poesia simbolista surge no mesmo contexto no qual apareceu o Parnasianismo, isto é, o mundo da razão
e do positivismo.

Negação a um mundo positivista, materialista e racional, o Simbolismo é a ênfase em um mundo cuja


certeza é a de que ele se realiza através da beleza ideal (COUTINHO, Afrânio. Op.cit. p.: 217. Cf. ref.
bib.). Daí porque “a poesia foi separada da vida social, confundida com a música, explorando o
inconsciente à custa de símbolos e sugestões, preferindo o mundo invisível ao visível, querendo
compreender a vida pela intuição e pelo irracional, explorando a realidade situada além do real e da
razão, [...] donde atitude religiosa do simbolista, que encontra na prática de seu ofício o estado de
êxtase idêntico ao da contemplação e oração (Id. Ib. p.217).

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[...] “Afirmou Silveira Neto que o nosso simbolismo ‘teve os seus meios de ação propriamente
organizados no Rio de Janeiro e no Paraná, sendo que lá, em Curitiba, tomara-se a influência
diretamente da corrente europeia, produzindo-se com o do Rio um movimento paralelo’. No movimento
brasileiro, e pondo de parte o caráter geral de reação espiritualista, encontramos os mesmo expedientes
do francês – imprecisão de contornos e de vocabulário, um conceito mais musical do que plástico da
forma, os estados crepusculares, etc. – e levado ainda mais longe o gosto das expressões do ritual
mortuário e litúrgico” (BANDEIRA, Manuel . Apresentação da poesia brasileira. Rio de Janeiro: Tecnoprint,
[19- -]. p.: 122, 123,124, 125).

Cruz e Sousa é a figura central da poesia simbolista no Brasil. Leia o poema a seguir: Antífona,
considerado por Andrade Murici, um dos mais importantes pesquisadores do Simbolismo no Brasil, como
a ouverture da poesia simbolista brasileira:

ANTÍFONA
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras

Formas do Amor, constelarmente puras,


De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas...

Indefiníveis músicas supremas,


Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...

Visões, salmos e cânticos serenos,


Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...

Infinitos espíritos dispersos,


Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.

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Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, todas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.

Que o pólen de ouro dos mais finos astros


Fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.

Forças originais, essência, graça


De carnes de mulher, delicadezas...
Todo esse eflúvio que por ondas passa
Do Éter nas róseas e áureas correntezas...

Cristais diluídos de clarões álacres,


Desejos, vibrações, ânsias, alentos
Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Os mais estranhos estremecimentos...

Flores negras do tédio e flores vagas


De amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas
Em sangue, abertas, escorrendo em rios...

Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,


Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Passe, cantando, ante o perfil medonho
E o tropel cabalístico da Morte...

Antífona é o poema que abre o livro Broquéis, publicado em 1893 e que juntamente com Missal lança o
Simbolismo no Brasil. Neste poema, estão diversos elementos do ideal estético simbolista, a exemplo do
que distingue José Guilherme Merquior:
[...] Aí está a musicalidade: assonâncias, aliterações, rima e ritmo envolventes; a
sinestesia das “correspondências” baudelerianas (harmonia da Cor e do Perfume); o
cromatismo carregado de simbolismo; o léxico tão raro quanto o parnasiano (mádidas,
flébeis, volúpicos); o sestro da concretização do substantivo abstrato pelo plural
(dolências, dormências); enfim, as augustas, indefectíveis, iniciais maiúsculas. Lirismo
reticente e encantatório, obediente ao programa de Verlaine; mas colocando toda essa
mágica sugestividade a serviço de uma visão transcendental, bem diversa da simples
confidência elegíaca. Esse poema é também o carro-chefe da “fixação” cruzesousiana no
branco. O poeta negro, que lutou com bravura, no plano consciente, contra a opressão
racial, teria, no plano inconsciente da criação artística, assimilando ao preto a dor e o vício,
investindo a cor branca de todas as virtudes e qualidades do Ideal... Tudo se passa como
se em Cruz e Sousa operasse um curioso mecanismo de ‘censura’ e de – conforme bem
notou Alfredo Bosi – sublimação ( Op. cit. p.: 143. Cf. ref. bib.).

João da Cruz e Sousa (1861/1898)

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LEITURA COMPLEMENTAR “F”


[...] Escrevendo em 1879 sobre a nova geração, declarava Machado de Assis não discernir uma feição assaz
característica e definitiva no movimento poético, embora reconhecesse “uma inclinação nova nos espíritos, um
sentimento diverso do dos primeiros e segundos românticos”. Uma crença comum a todos esses novos: o romantismo
era coisa morta. Como disse Machado de Assis, “esta geração não se quer dar ao trabalho de prolongar o ocaso de
um dia que verdadeiramente acabou”. E o mestre dava-lhes razão: “Eles abriram os olhos ao som de um lirismo
pessoal, que, salvas as exceções, era a mais enervadora música possível, a mais trivial e chocha. A poesia subjetiva
chegara efetivamente aos derradeiros limites de convenção, descera ao brinco pueril, a uma enfiada de coisas piegas e
vulgares”. Seu atilado senso crítico soube, no entanto, distinguir o “cheiro a puro leite romântico” que havia ainda nos
poetas que por volta de 1879 combatiam a grande moribunda.

O termo “parnasiano” não aparecia no ensaio de Machado de Assis: não aparece nem nos prefácios nem nas críticas
senão pelos meados da década de 1880. Falava-se sempre era em “realismo”, “Ideia Nova”. A estética parnasiana
cristalizou-se entre nós depois da publicação das Fanfarras, de Teófilo Dias, livro em que o movimento antirromântico
começa a se definir no espírito e na forma dos parnasianos franceses, já esboçados em alguns sonetos de Carvalho
Júnior, falecido prematuramente em 1879, e nas Canções Românticas (1878), de Alberto de Oliveira. Já se apresenta
sem mescla nos livros posteriores do último – Meridionais (1884), Sonetos e Poemas (1885) – nas Sinfonias (1883) e
Verso e Versões (1887), de Raimundo Correia. Finalmente em 1888 as Poesias de Olavo Bilac assinalam o fastígio da
nova escola.

Como caracterizar a poesia dos nossos parnasianos? Será fácil discerni-la nos poemas escritos em alexandrinos. Mas
nos metros tradicionais na língua portuguesa, e sobretudo nos decassílabos, o que separa um parnasiano de um
romântico aproxima-o dos clássicos. Quanto ao fundo mesmo, a diferença dos parnasianos em relação aos românticos
está na ausência não do sentimentalismo, que sentimentalismo, entendido como afetação do sentimento, também
existiu nos parnasianos, mas de uma certa meiguice dengosa e chorona, bem brasileira aliás, e tão indiscretamente
sensível no lirismo amoroso dos românticos. Esse tom desapareceu completamente nos parnasianos, cedendo lugar a
uma concepção mais realista das relações entre os dois sexos. O lirismo amoroso dos parnasianos foi de resto
condicionado pelas transformações sociais. Com a extinção da escravidão, acabou-se também em breve o tipo da
“sinhá”, que era a musa inspiradora do lirismo romântico, e a moça brasileira foi perdendo rapidamente as
características adquiridas em três séculos e meio de civilização patriarcal. Nas imagens também os parnasianos se
impuseram uma rígida disciplina de sobriedade, de contiguidade. Repugnava-lhes a aproximação de termos muito
distantes, assim como toda expressão de sentido vago, elementos que encontramos na poesia de Luís Delfino e B.
Lopes, os quais, a despeito de sua métrica parnasiana, escandalizavam bastante o gosto um pouco estreito de Alberto
de Oliveira, Raimundo Correia, Olavo Bilac e seus discípulos e epígonos. O hermetismo de um Mallarmé era de todo
impenetrável e inaceitável para eles. Doutrinaram e praticaram os parnasianos o ideal de clareza sintática, de
conformismo às gramáticas portuguesas. A sua métrica, jamais infiel à sinalefa (nunca disseram “a água”, “o ar”,
contando o artigo como sílaba métrica a exemplo de Camões, que desse hiato tirou muitas vezes grandes efeitos) e
praticando quase sistematicamente a sinérese, ganhou em firmeza, perdendo em fluidez. Foi esse processo que deu à
poesia parnasiana aquele caráter escultural. Nesse ponto pode-se dizer que Raimundo Correia e Vicente de Carvalho
foram mais artistas do que Alberto de Oliveira e Bilac. A métrica daqueles, com ser igualmente precisa, é muito mais
rica e sutil, muito mais musical do que a destes. Usaram ambos do hiato interior com fino gosto. Não se deve, porém,
fazer carga aos mestres parnasianos de certos defeitos que apareceram mais tarde nos discípulos e acarretaram o
descrédito da escola, em especial a rima rara. Os nossos subparnasianos quiseram imitar a riqueza de rimas dos
mestres franceses. Mas não havendo entre nós a tradição da rima com consoante de apoio (Goulart de Andrade tentou
introduzi-la já no crepúsculo do parnasianismo), lançaram mão da rima rara. A rima rica francesa não implica o
sacrifício da simplicidade vocabular: ela se pode obter com as palavras de uso comum. A rima rara portuguesa é quase
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sempre um desastre: não há uma poesia sequer de Emílio de Meneses que não esteja irremediavelmente prejudicada
por esse rico ornato de péssimo gosto (BANDEIRA, Manuel. Apresentação da poesia brasileira. Rio de Janeiro:
Tecnoprint, [19- -]. p.: 122, 123, 124, 125).

ATIVIDADE 3

Leia e estude para complementar os conteúdos aqui apresentados:

• “A poesia ‘decadente’ e simbolista”, cap. IV: o segundo oitocentismo (1877-


1902), do livro De Anchieta a Euclides: breve história da literatura brasileira – I,
de José Guilherme Merquior. Cf. ref. bib.

À leitura e ao estudo deste ensaio, é obrigatória a redação de um resumo, que


será entregue em data a ser definida.

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