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Data de Publicação 2018
Resumo A presente investigação pretende estudar a evolução do núcleo urbano
de Setúbal, entre o século XIV e XXI, particularmente a área outrora
delimitada por muralhas. Pretendemos estudar a possível relação entre
a memória, a consolidação urbana e a identidade, articulando o estudo
em três momentos fundamentais: a construção das fortificações, a
implantação da indústria e a cidade do século XX e XXI. Na leitura da
cidade, procuramos ter um olhar crítico sobre o desenvolvimento da
malha urbana e da f...
The following investigation intends to study the evolution of the urban
nucleus of Setúbal, between the forteenth and twenty-first century,
specifically the area that was before delimited by the walls. We intend
to establish the relationship between memory and urban consolidation,
articulating the study of the three fundamental moments for the
constitution of its identity: the construction of fortifications, the industry
implantation and the city of the twentieth century to the present. While r...
Palavras Chave Planeamento urbano - História - Portugal - Setúbal, Fortificações
- Portugal - Setúbal, Frentes marítimas - Portugal - Setúbal,
Industrialização - Portugal - Setúbal
Tipo masterThesis
Revisão de Pares Não
Coleções [ULL-FAA] Dissertações
http://repositorio.ulusiada.pt
UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA
FACULDADE DE ARQUITECTURA E ARTES
Mestrado Integrado em Arquitectura
Realizado por:
Inês Pinto da Cruz
Orientado por:
Prof. Doutor Arqt. Bernardo d'Orey Manoel
Constituição do Júri:
Lisboa
2018
U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A
Lisboa
Dezembro 2018
Inês Pinto da Cruz
Lisboa
Dezembro 2018
Ficha Técnica
Autora Inês Pinto da Cruz
Orientador Prof. Doutor Arqt. Bernardo de Orey Manoel
Título Setúbal: Memória e Identidade Urbana
Local Lisboa
Ano 2018
Setúbal : Memória e Identidade Urbana / Inês Pinto da Cruz ; orientado por Bernardo de Orey
Manoel. - Lisboa : [s.n.], 2018. - Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, Faculdade de
Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa.
LCSH
1. Planeamento urbano - Portugal - Setúbal - História
2. Fortificações - Portugal - Setúbal
3. Frentes marítimas - Portugal - Setúbal
4. Industrialização - Portugal - Setúbal
5. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses
6. Teses - Portugal - Lisboa
LCC
1. NA9226.S48 C78 2018
Aos meus pais.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, por me incentivarem a seguir o meu sonho. Por me ensinarem a não
desistir, apesar dos desafios e adversidades que a vida coloca no caminho. Pelo vosso
amor no final de cada dia. Aos meus irmãos, Rui e Gonçalo, por todo o vosso apoio e
carinho.
Aos meus avós, por partilharem comigo as memórias da cidade de outros tempos. As
vossas histórias foram essenciais para o desenvolvimento do estudo. Aos meus
padrinhos, Rosário e Fernando, pelo interesse e ajuda na procura de elementos sobre
a nossa cidade. O vosso apoio foi fundamental.
Ao meu maior amigo, Filipe. Por me incentivares a ser melhor. Agradeço por me
direcionares para o tema da cidade onde cresci, a cidade da minha família. Por todo o
apoio incondicional, muito obrigada.
The following investigation intends to study the evolution of the urban nucleus of Setúbal,
between the forteenth and twenty-first century, specifically the area that was before
delimited by the walls. We intend to establish the relationship between memory and
urban consolidation, articulating the study of the three fundamental moments for the
constitution of its identity: the construction of fortifications, the industry implantation and
the city of the twentieth century to the present.
While reading the city, we try to have a critical look at the development of the urban
network and the riverfront, highlighting its influence in the layout of the neighborhoods.
Simultaneously we study the consequences of the rapid growth caused by the industry.
We identify the fragments and architectural elements that survived the urban
transformations. We read the memoryas an integral part of the identity of this place -
Setúbal.
Ilustração 1 - Espaço urbano medieval. [Adaptado a partir de:] Tomé, 2014, p.69)
.......................................................................................................................... 34
Ilustração 14 - “Doca Delpeut que, após as obras de aterro, deu origem à actual
Rua Ocidental do Mercado. Reconhece-se no canto superior esquerdo, um trecho
do baluarte do livramento, 1928.” ([Adaptado a partir de:] Lopes et al., 2006, p.63)
.......................................................................................................................... 49
Ilustração 29 – Planta de uma casa, 1935. ([Adaptado a partir de:] LOPES, J. M.;
PEREIRA, A. M., 2012, p.81) ............................................................................. 62
Ilustração 37 - Setúbal, 1860. ([Adaptado a partir de:] Tomé, 2014, p.294) ...... 75
Ilustração 59 - Evolução urbana, século XIV a XXI. (Ilustração nossa, 2018) ... 89
Ilustração 87 – Casa do Corpo Santo, século XIX. ([Adapatado a partir de:] DGPC,
2016) ............................................................................................................... 103
Ilustração 89 – Hospital João Palmeiro, 2014. ([Adaptado a partir de:] Google Inc,
2018) ............................................................................................................... 103
Ilustração 90 – Ruína do hospital João Palmeiro. (Ilustração Nossa, 2018) ... 103
Ilustração 95 - Palácio Feu Guião, 1996. ([Adaptado a partir de:] DGPC, 2016)
........................................................................................................................ 105
Ilustração 97 - “Troço de Aqueduto” ([Adaptado a partir de:] DGPC, 2016) ... 105
Ilustração 103 – Igreja de Jesus, 1940. ([Adaptado a partir de:] LOPES, Madureira
[et al.], p.23, 1992) ........................................................................................... 107
Ilustração 104 – Igreja de Jesus, 2013. ([Adaptado a partir de:] SIPA, 2016) . 107
Ilustração 109 - Forte de São Filipe, 1949. ([Adaptado a partir de:] DGPC, 2016)
........................................................................................................................ 109
Ilustração 110 – Forte de São Filipe. (Ilustração Nossa, 2018) ....................... 109
Ilustração 111 – Casas adoçadas ao Forte de São Filipe. ([Adaptado a partir de:]
DGPC, 2016) ................................................................................................... 109
Ilustração 112 – Interior do Forte de São Filipe. (Ilustração Nossa, 2018) ...... 109
Ilustração 113 – Edifício Balnear na antiga Rua da Praia. ([Adaptado a partir de:]
PINHO, 2010). ................................................................................................. 110
Ilustração 114 – Avenida Luísa Todi. ([Adaptado a partir de:] Herrmann, 2018)
........................................................................................................................ 110
Ilustração 116 – Interior do Fórum Municipal Luísa Todi. ([Adaptado a partir de:]
FÓRUM MUNICIPAL LUÍSA TODI, 2018)........................................................ 110
Ilustração 117 - “O elegante café La Violette – Casa das Águas (com a fachada
em azulejos), na Avenida Luísa Todi, entretanto demolido para dar Lugar à actual
Caixa Geral de Depósitos, 1939.” ([Adaptado a partir de:] LOPES, Madureira [et
al.], 2006, p.57,) ............................................................................................... 110
Ilustração 118 - Caixa Geral de Depósitos. (Ilustração Nossa, 2018) ............. 110
Ilustração 119 - Descobertas Arqueológicas. ([Adaptado a partir de:] LOPES,
Madureira [et al.], p.45, 2006 ; SOARES, Joaquina ; SILVA, Carlos Tavares da,
pp. 17 – 18, 2018 ; GOOGLE INC., 2018)........................................................ 115
Ilustração 121 – A imagem urbana de Setúbal. (Ilustração Nossa, 2018) ....... 123
LISTA DE TABELAS
IM – Interesse Municipal
MN – Monumento Nacional
1. Introdução .......................................................................................................... 31
1. INTRODUÇÃO
Este estudo, foca-se no intervalo de tempo entre o século XIV e XXI, apesar de existirem
vestígios antecedentes de ocupação humana no território. A forma urbana, advém da
sobreposição de diferentes malhas, da fragmentação do tecido urbano e da subtração
e adição de elementos arquitetónicos.
Devemos reflectir, sobre o modo de intervir no núcleo urbano, para se evitarem erros do
passado. A leitura crítica da cidade, levanta-nos questões sobre a sua imagem. Como
é que surgiu a forma da cidade? De que modo se deu a expansão urbana? Quais foram
os elementos arquitectónicos sacrificados? Como está estruturada morfologicamente a
cidade?
Pretendemos abordar estes assuntos no decorrer do estudo, dado que a reflecção sobre
o traçado urbano do passado permite regenerar a cidade e projectar o futuro.
2. TEMPO E EVOLUÇÃO
Na área de Setúbal, a muralha medieval impôs uma organização urbana num tecido em
constante evolução. Tratava-se de uma estrutura defensiva estrategicamente
construída no século XIV, que delimitava o espaço urbano, tirando partido da topografia
do território e estabelecendo uma proximidade ao rio Sado. A relação do traçado com a
topografia é evidente, o declive do terreno envolvente proporcionava uma defesa natural
que complementava a defesa da muralha, servia de protecção contra a pirataria e as
inundações do rio face ao tecido urbano.
A fronteira criada pela muralha medieval veio condicionar o acesso ao espaço urbano,
contudo foi fundamental para a organização da vila. É importante referir que “Esta
construção, para além de símbolo de independência, de liberdade, de riqueza e de uma
estrutura social bastante diversificada, tinha uma importância enorme para a defesa do
aglomerado urbano” (Quintas, 1998, p.61)
Ilustração 1 - Espaço urbano medieval. [Adaptado a partir de:] Tomé, 2014, p.69)
Na planta (Ilustração 1), podemos constactar que a muralha tem uma forma irregular,
aproximada à de um rectângulo, implantada no sentido nascente-poente, paralela ao
rio. Construída com a pedra local, a brecha da arrábida, argamassas bastardas e as
fachadas rebocadas. A espessura da estrutura variava consoante a altura, a base media
cerca de 2.50m a 2.60m e quando atingia 1.72m de espessura já tinha uma altura de
4.55m, como podemos verificar em alguns edifícios existentes que incorporam parte da
muralha.3 (Tomé, 2014, p.54)
3 Segundo estudos concluiu-se: “Ocupando o perímetro amuralhado uma área de cerca de 12 hectares,
tem-se hoje possibilidade, graças a um curioso e inesperado documento de 1493, de conhecer as
dimensões mais ou menos precisas da cerca.” (Braga, 1998, p.37)
A ocupação urbana dentro do perímetro da muralha era inferior à restante área não
edificada. Conforme a vila se foi desenvolvendo os espaços vazios foram
desaparecendo, dando lugar a novas construções. O espaço urbano era constituído por
núcleos habitacionais, separados conforme a sua etnia. Estes funcionavam sob dois
polos, a igreja de Santa Maria e a igreja de S. Julião4.
A actividade económica da cidade sempre esteve ligada ao sal e à pesca, conforme foi
crescendo o mesmo se verifica no núcleo urbano. Nos séculos XV e XVI com a
ocupação total do interior da muralha, a vila começou a expandir-se para o exterior.
4Juntamente com a igreja de Santa Maria, foram as duas únicas freguesias até ao século XVI. Datadas da
segunda metade do século XIII. Danificadas por vários terremotos que originaram a sua reconstrução.
Foram fortemente modificadas durante os séculos XVI e XVIII.
5 Refiro-me ao centro urbano e às unidades de comércio.
6Na estrutura urbana medieval os espaços que actualmente consideramos públicos, ruas, adros de igrejas,
praças, largos e rios, por direito da reconquista pertenciam ao rei.
Ilustração 3 - Evolução do espaço urbano medieval. ([Adaptado a partir de:] Braga, 1998, p.39)
“O feitio da cidade deriva das suas condições físicas, que definem a localização dos
principais centros de desenvolvimento e de habitação. Tendo em conta as características
do aglomerado populacional e do seu porto, é fácil entender a formação de pequenos
núcleos, primitivamente separados, mas que se uniram com o desenrolar dos tempos.”
(Quintas, 1998, p.61)
7O bairro do Troino foi-se consolidando no exterior do núcleo medieval, junto à primitiva igreja da N. Sra.
da Anunciada.
8O bairro de Palhais formou-se junto à Erminda de São Sebastião, que provavelmente surgiu nesta zona
devido ao elevado número de fieis que existia neste arrabalde.
9Maria Quintas. Licenciada em História, Mestre em História Cultural e Política, e Doutora em História
Moderna e Contêmporânea. Desenvolveu e publicou vários trabalhos de investigação sobre Setúbal.
10D. João II (Lisboa 1455 – Alvor 1495). Grande defensor da exploração. A totalidade das descobertas
portuguesas durante o seu reinado permanecem desconhecidas, pois os arquivos do período foram
destruídos no Terramoto de 1755.
11 Actualmente este centro urbano designa-se Praça do Bocage.
12José Miguel Silva, Arquitecto. Mestre em reabilitação da arquitectura e núcleos urbanos pela Faculdade
de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Doutorando em Urbanismo com o tema de dissertação
“Forma urbana, evolução vs. Conservação. Relação entre o edificado monumental e o tecido urbano.”
Maria, as ruas surgem numa malha ortogonal, onde existe a predominância de uma
direcção em relação ao restante bairro medieval.
É difícil saber com exactidão como é que a população se abastecia com água. Calcula-
se que era através de poços e nascentes que circundavam a muralha. No entanto, sabe-
se que por volta de 1487 passou a ser conduzida pelo aqueduto13 dos Arcos,
representado na Ilustração 3 a traço interrompido vermelho. Conduzia a água desde
Alferrara até ao Chafariz do Sapal, permitindo o abastecimento local.
Existia uma diversidade de religiões, culturas e grupos sociais, que apesar de separados
por núcleos habitacionais, nem sempre coexistiam harmoniosamente. Contudo, foi um
factor importante na diversidade cultural e na dinâmica social. Existem vestígios dessa
ocupação representados na Ilustração 3. Representado a azul, a mouraria14, localizava-
se afastada das vias de circulação, e a judiaria15, representada a amarelo, em áreas de
maior facilidade de circulação que favorecessem a actividade comercial.
“Para além destes, detectam-se ainda, como núcleos habitacionais dentro do perímetro
amuralhado, a judiaria e a mouraria. A primeira era delimitada a sul pelo largo do Santo
Espírito e um documento de 1488 explica que os Judeus, ao saírem da judiaria, deveriam
utilizar a Rua do Espirito Santo, que desembocava no citado largo.
Quanto à mouraria, situava-se na parte sudoeste da muralha, denunciando o postigo da
moura encantada e beco da moura encantada a presença islâmica na Setúbal medieval.”
(Braga, 1998, p.47 e 48)
13 Construido no reinado de D. João II. Actualmente conservam-se dois troços principais, num percurso que
inicialmente se estendia por vários quilómetros. Foi a primeira obra que permitiu o abastecimento de água
em rede.
14 Bairro confinado aos Mouros.
15 Bairro onde habitavam Judeus
A fortificação abaluartada16 foi construída entre 1642 e 1696, sob supervisão dos
engenheiros militares Jean Gilot17 e Ciersman18, pois era necessário adaptar as
estruturas medievais à exigência de artilharia da época. O novo elemento de defesa,
baluarte, caracterizava-se por ter uma forma pentagonal mais avançada em relação ao
restante “corpo” da muralha, permitindo que nestes ângulos houvesse um maior campo
de visão da envolvente e de ataque. De acordo com o departamento dos bens culturais:
“O baluarte não constitui apenas a linha de contorno da muralha, mas também todo o
seu interior. Pela cartografia apresentada, constata-se que, à excepção do Baluarte de
Santo António, que provavelmente incorporou alguma construção já existente, nenhum
dos outros baluartes possuía construção, estando desobstruídos para eventuais
manobras militares.” (Direcção Geral do Património Cultural, 2016, p.17)
Na periferia da fortificação foram edificados dois fortes e um hornaveque, visto que era
necessário reforçar a defesa da vila. O forte de São Filipe, desenhado em 1583 pelo
Capitão Fratino19, caracteriza-se pela planta de forma irregular, “estrela de seis pontas,
com seis baluartes, e em acentuado declive sobre o mar, sendo protegida pelo lado
Norte por uma segunda linha amuralhada.” (Direcção Geral do Património Cultural,
2018)
O forte Velho20, projectado pelo arquitecto militar Luís Serrão Pimentel21, localiza-se a
noroeste no núcleo urbano. A planta tem uma forma pentagonal, com baluartes nos
vértices e estava cercada por um fosso. “A sua localização topográfica elevada,
sobranceira ao espaço urbano, permite entender a sua localização estratégica no
sistema defensivo de Setúbal.” (Direcção Geral do Património Cultural,2016, p.21)
19Giovan Giacomo Palearo Fratino (1520 - 1586), engenheiro militar. “Ao longo de sua carreira trabalhou
em inúmeras fortificações em todo o território espanhol, que à época incluía Portugal, partes da atual Itália
e presídios no norte de África” (Fortalezas, 2014)
20 Também conhecido por Forte de São Luís Gonzaga.
21 Luís Serrão Pimentel (1613 – 1679), militar Português. Participou nas construções de diversas
fortificações em Portugal. Autor do livro: Methodo Lusitanico de Desenhar as fortificaçoens das Praças
Regulares e Irregulares.
22 DGPC, Direcção Geral do Património Cultural.
23 Hornaveque, “obra avançada em fortificação” (Porto Editora, 2018)
Lendo criticamente a Ilustração 5 é possível concluir que houve uma alteração da frente
ribeirinha. O processo de adição do espaço urbano começa com a criação de um aterro,
representado a amarelo, que permitiu o avanço dos baluartes sobre o rio Sado. Devido
ao terramoto de 1755, parte das muralhas que se encontravam sobre esta zona ficaram
destruídas e não voltaram a ser edificadas, o aqueduto e grande parte dos edifícios
religiosos e de habitação ficaram danificados.
Como consta no artigo de Maria Tomé: “A continuação da consolidação da, então vila,
foi interrompida pelo terramoto de 1755 que a deixou muito devastada e danificada, nas
suas igrejas, palácios e habitações. (…) A expressão arquitectónica dos seus
arruamentos é, na generalidade, a que resulta das consequências destas catástrofes,
no entanto muito do seu património religioso, militar e político-administrativo persistiu a
estas vicissitudes da história e ainda permanecem.” (Tomé, 2013, p.6)
A nova linha de muralhas criou um limite que consolidou a malha urbana existente,
alterando a relação de proximidade entre o espaço urbano e a envolvente rural.
Surgiram novos bairros periféricos, assim como novas comunicações24 urbanas que
alteraram a lógica do espaço urbano medieval.
Na planta esquemática (Ilustração 5), podemos constactar que o bairro do Troino segue
uma métrica ortogonal. Os quarteirões têm uma forma rectangular, alongada e estreita,
derivada das dimensões dos edifícios que os constituem, orientados no mesmo sentido,
com o alçado principal menor que o comprimento do edifício. O bairro de Palhais
contrariamente ao do Troino, não se encontrava consolidado, as construções emergiam
consoante as necessidades.
24Refiro-me às novas pontes e ruas que surgiram, algumas na continuidade das que já existiam no núcleo
urbano medieval.
Ilustração 6 – Viagem de Cosme de Médicis por Espanã y Portugal 1668-1669. (MAGALOTTI, 1933, p.55)
25Segundo estudos: “Setúbal, dotada de elevada sismicidade, foi sujeita a três intensos abalos sísmicos,
em 1531, 1755 e 1858, responsáveis pela destruição de extensas áreas urbanas.” (Soares, 2000, p.106)
O aterro sobre o rio Sado marcou o início das transformações urbanas. O extenso areal
que caracterizou a frente ribeirinha, foi substituído em 1848 pelo início da construção da
actual artéria principal da cidade, a avenida Luísa Todi27. Os seus limites situavam-se
entre o Baluarte da Nossa Senhora da Conceição e o Baluarte de São Brás. Como
podemos constatar na Ilustração 8, a avenida funciona como um eixo que articula duas
realidades temporais distintas, a norte o núcleo urbano histórico, a sul a nova frente
ribeirinha. Como Carlos Dias Coelho esclarece:
Ilustração 8 Eixos principais do traçado urbano. ([Adaptado a partir de:)] J. Dinis, 1928)
“A conjugação entre a rua principal e a praça constitui uma lógica de organização que
pode ser entendida morfologicamente como a expressão mais elementar do traçado da
génese linear. A sua conceptualização baseia-se na existência de um eixo de
A rua da praia29, actual avenida Luísa Todi, limitava a cidade a sul. Um extenso areal
que salientava o perfil natural da cidade. “Até meados do século XIX, a cidade de
Setúbal apresentava uma estrutura urbana muito influenciada pela linha da costa e pela
sua relação com o mar, apresentando-se as ruas de maior significado orientadas no
sentido leste-oeste e as ruas transversais curtas e de menor importância”. (Faria, 1981,
p.103)
A avenida Luísa Todi, caracteriza-se pelo seu traçado racional, organização espacial,
escala e pela proximidade ao rio. Um espaço público que se constitui como referência
para os principais equipamentos da cidade. Ao longo da sua extensão surgiram diversos
equipamentos de carácter lúdico, cultural e de serviços que salientaram a importância
deste espaço urbano na dinâmica da cidade. Contudo a construção da avenida, quebrou
o contacto directo que existia entre o edificado e o rio Sado. A rua da Conceição, faz a
ligação entre o centro urbano e a estação de caminho de ferro. Um eixo que separa o
núcleo urbano histórico, das novas construções a norte.
29Segundo Inês Gato: “Do ponto de vista funcional, a Rua da Praia era, na generalidade, o território onde
se desenvolviam as actividades ligadas ao rio, e que aos poucos foi dando lugar às actividades ligadas ao
entretenimento da burguesia da época.” (2014, p.14)
O novo traçado urbano adicionou elementos racionais ao tecido orgânico existente. “Os
processos de adição caracterizam os períodos de expansão e desenvolvimento da
cidade, quando o núcleo existente já não consegue responder em termos espaciais às
funções urbanas.” (Coelho, 2014, p.24)
A primeira doca a ser construída foi a Doca Delpeut, situada junto à foz da Ribeira do
livramento. Durante um longo período, foi o único local que o porto tinha para abrigar as
pequenas embarcações. Como podemos constactar nas fotografias, Ilustração 13 e 14,
a reduzida dimensão da doca não permitia que atracassem grandes embarcações.
Segundo Carlos Dias Coelho:
“A estrutura do aterro decorre de uma relação directa com a geometria e batimetria dos
fundos da baía do rio Sado. A muralha que delimita a superfície aterrada acompanha o
limiar de transição para o canal mais fundo do rio, garantindo assim a viabilidade técnica
do aterro mas também a possibilidade de navegação e acostagem de navios com maior
calado.” (2014, p.99)
Ilustração 9 – “Ribeira do Livramento, junto à capela da Ordem Ilustração 10 – “Trecho do ribeiro do Livramento, década de 1930.”
terceira de S.Francisco […]” ([Adaptado a partir de:] Lopes et al., ([Adaptado a partir de:] Lopes et al, 2006, p. 60)
1992, p.25)
Ilustração 11 - “Cobertura da Ribeira do Livramento na zona do Ilustração 12 – “Pormenor da cobertura do ribeiro do Livramento
Bonfim, 1936. De notar, as ainda visíveis Cruzes que junto à Quinta das Palmeiras, vulgo Quinta dos Padres, 1936.”
integravam a Via Sacra […]” ([Adaptado a partir de:] Lopes et ([Adaptado a partir de:] Lopes et al, 2006, p.61)
al., 1992, p.96)
Ilustração 13 - Fotografia da Doca Delpeut, DIM.: 11.5x8.5, Ilustração 14 - “Doca Delpeut que, após as obras de aterro, deu
suporte a preto e branco. ([Adaptado a partir de:] Museu Virtual origem à actual Rua Ocidental do Mercado. Reconhece-se no canto
do Porto de Setúbal, 2017) superior esquerdo, um trecho do baluarte do livramento, 1928.”
([Adaptado a partir de:] Lopes et al., 2006, p.63)
Infra-estruturas
A linha férrea sugere uma aproximação ao rio como meio para o transporte de
mercadorias. Devido à sua localização, surgiram problemas de deslocação entre o
porto e o comboio, especialmente para o transporte de peixe que tinha de ser carregado
em carroças, como consta no artigo de J. Fernando de Sousa da Gazeta dos caminhos
de ferro32:
32A Gazeta dos caminhos de ferro foi publicada durante mais de 80 anos. Tratava-se de uma publicação
técnica, que continha artigos sobre a relação dos caminhos de ferro com outros transportes, tarifas, viagens,
informações sobre correios e telégrafos, anúncios de marcas, entre outros temas. Mais tarde há um esforço
de a tornar mais diversificada.
33 Teatro Rainha D. Amélia, “O teatro era bem iluminado, a Bico Auer, ou seja, a gás, tendo a sala 222
lugares na plateia, oito frisas, 17 camarotes de primeira ordem, outros dez de segunda ordem, dois balcões
e galeria de fundo. (…) Após a implantação da República, o Teatro D. Amélia perdeu o nome régio e em
janeiro de 1911, concluída a instalação do Centro Republicano, passou a denominar-se Teatro Avenida. O
edifício atravessou um período de degradação das instalações, recebendo, em 1915, a Academia Sinfónica
de Setúbal, que rebatizou a sala de “Luísa Todi”. (Luísa Todi Fórum Municipal, 2017)
34O Passeio do Lago, posteriormente foi denominado de Parque das Escolas e actualmente de Largo
José Afonso. Segundo Inês Gato, “(…) na década de 70 de oitocentos se manda construir o Passeio do
Situado a Este da cidade, o Passeio do Lago, surgiu por volta de 1870. A sua escala é
proporcional à dimensão da avenida Luísa Todi. Constituído por arborização, bancos e
seis percursos que se dirigiam para um lago central. Era um local de entretenimento
para a burguesia e de trabalho para os pescadores, visto que se situava junto ao rio.
Analisando a Ilustração 19, é possível contemplar o jardim e um troço da segunda
muralha.
Por último, o jardim General Luís Domingues (Ilustração 21). “Este jardim, como já
afirmámos anteriormente, é resultante da desapropriação da antiga praça de São Bento
como local de comércio e posterior interesse na criação de um espaço vocacionado
para o recreio e lazer. (…) Não se sabe a data exata da construção deste jardim, mas
com base em antigos registos fotográficos do local, estima-se que seja nas últimas
décadas do século XIX.” (Rita, 2015, p.45). Inicialmente era um terreiro, com algumas
árvores e bancos. Com a evolução urbana e a construção da linha férrea o traçado do
jardim foi alterado. Como se pode observar nas fotografias em baixo, o jardim passou a
ter percursos entre os canteiros e mobiliário.
Lago, um dos três jardins onde se passeavam os forasteiros que vinham a banhos, e alguns setubalenses.”
(2014, p.14)
Ilustração 16 – “Teatro Luísa Todi (inaugurado em 1897 com a Ilustração 17 – “Grande Salão Recreio do Povo na Avenida Luísa
denominação de teatro Rainha D. Amélia) na Avenida Luísa Todi, Todi, com quadros publicitários dos filmes em exibição, 1953”
1945.” ([Adaptado a partir de:] Lopes et al., 2006, p.51) ([Adaptado a partir de:] Lopes et al, 2006, p.53)
Ilustração 18 – Mercado do Livramento, 1920. ([Adaptado a partir Ilustração 19 - “Vista parcial da cidade de Setúbal, reconhecendo-
de:] Quintas, 1998, p.130) se o Parque das Escolas (actual Largo José Afonso) e os panos da
segunda linha de muralhas (séc. XVII), 1941” ([Adaptado a partir de:]
Lopes et al., 2006, p.78)
Ilustração 20 - Jardim General Luís Domingues e ao fundo o Ilustração 21 - Jardim General Luís Domingues. ([ Adaptado a partir
jardim do Quebedo. ([ Adaptado a partir de:] Rita, 2015, p. 45) de:] Rita, 2015, p.45)
Indústria Conserveira
35 “Um após outro, os extensos laranjais que haviam dado fama à cidade cedem à especulação e à
necessidade de construir, num ritmo que não se compadece com quaisquer planificações que esse
crescimento exigiria.” (Silva, 1990, p.21)
36Existe uma incerteza sobre o ano em que surgiu a primeira fábrica de conservas em Setúbal. No entanto
segundo estudos de José Lopes e Alberto Pereira, “Foi assim que a indústria de conservas de peixe
começou em Setúbal, em 1855. […] a prova mais cabal destes pioneiros pode ser confirmada no arquivo
do historiador Almeida Carvalho, confiado ao Arquivo Distrital de Setúbal (ADS). Num seu manuscrito o
historiador, que foi contemporâneo dos acontecimentos, escreveu: <<A fábrica de géneros alimentícios que
consistiam em diferentes qualidades de peixe e principalmente sardinhas em conserva de azeite e dentro
de caixas de lata hermeticamente fechadas, foi estabelecida em Setúbal em 1855 por Feliciano António da
Rocha apoiado em Manuel José Neto […]>>.” (LOPES, J. M; PEREIRA, A. M., 2015, pp. 82-84)
37 “Para os industriais franceses o sítio de Setúbal oferecia todas as condições para a transferência dos
seus capitais, não só pela abundância em sardinha na costa próxima de Setúbal […] Acresce ainda a
proximidade de Setúbal com a capital e as suas boas comunicações com o interior facilitadas pela
instalação, em 1861 do caminho de ferro.” (Faria, 1981, p.46)
Designação Local
Analisando a Tabela 3 , verificamos que o número de fábricas entre 1910 e 1914, teve
um crescimento constante. Com a entrada de Portugal na Primeira Guerra Mundial,
houve um aumento considerável e em 1920, é atingido o número máximo de 130
fábricas a laborar. Contudo, a partir dessa data, surge um período de declínio e crise na
indústria.
Anos 1897 1900 1910 1912 1913 1914 1916 1917 1920 1928 1934 1949
Nº de
26 26 40 42 44 46 55 85 130 63 68 42
Fábricas
Em 1915, de acordo com José Madueira e Alberto Pereira, surgiram objecções para a
abertura de mais fábricas de conservas na cidade, visto que existiam falta de condições
estruturais, de segurança e higiene nos edifícios. Foram criadas normas para as futuras
edificações. Actualmente estas regras são consideradas elementares para a abertura
de qualquer estabelecimento. As regras impostas consistiam:
1. Uma porta larga para as carroças poderem entrar na fábrica para o descarregamento
do peixe;
5. Existir um átrio, entre a sala de trabalho dos soldadores e o exterior da fábrica, para
que o pessoal se adaptasse lentamente ao ar frio da rua;
É importante referir que na década de 50; quando a rede electrica38 foi instalada nos
edifícios industriais, era utilizado um sistema de sirene39 para alertar os trabalhadores
que tinham de ir para as fábricas. “[…] começaram a ser consideradas um incómodo
urbano. O jornal O Setubalense, em Dezembro de 1971, publicou um artigo no qual
criticava as sirenes das fábricas como ultrapassadas […] Até pedia, ao abrigo da lei,
que fossem tomadas medidas oficiais […]”. (LOPES, J. M; PEREIRA, A. M., 2015, p.
157)
A expansão urbana, está relacionada com a localização das fábricas, visto que os
bairros tendencialmente desenvolviam-se perto das mesmas. Novas centralidades
surgiam afastadas do centro histórico. “O crescimento espacial da cidade foi
naturalmente condicionado pelos interesses dos industriais de conservas de peixes que
impunham a sua lei, ocupando a cidade de maneira quase anárquica e sem visíveis
preocupações estéticas e urbanísticas.” (Faria, 2009, p.86)
Nos anexos, encontra-se uma lista detalhada com informação sobre as fábricas de
conservas em Setúbal, baseadas no estudo de José Lopes e Alberto Pereira.
Os Bairros
Ilustração 22 - Localização dos bairros operários e burgueses. ([Adaptado a partir de:] J. Diniz, 1928)
40 Refiro-me à classe operária. De acordo com Paulo Guimarães, “A ocupação dos novos bairros não foi
arbitrária quanto à relação com a população imigrante e com a actividade predominante. As gentes do
Bairro Santos Nicolau e a do bairro mais antigo das Fontainhas eram conhecidas por ovarinas, em
referência à origem aveirense e do litoral centro. (…) O habitante do Tróino, por seu turno, aparece ligado
à imigração algarvia, atraída com a expansão conserveira. Eram duas «classes» que formaram duas
associações de classe distintas, pois viveram diferentes problemas.” (1994, p.8)
afastado do núcleo urbano histórico, ocupando uma área que se encontrava limitada por
quintas e terrenos, o que permitiu a expansão da sua área.
“A partir da Grande Guerra e até aos anos 30 surgiram novos bairros na periferia, alguns
sem continuidade imediata com o espaço físico da cidade. […] Bairros como o Trindade,
Monarquina, Ferreira, Lopes, Melo, Santos Nicolau, Viso e Vale de Grou (Quatro
Caminhos) desenvolveram-se em grande parte nesses anos de conflito […]”.(Guimarães,
1994, p.532)
Como podemos verificar na planta esquemática, o traçado dos bairros não segue
nenhum método de ordenação, à excepção do bairro Salgado. Os quarteirões surgem
41De acordo com Alberto Pereira e José Lopes, a Câmara Municipal de Setúbal elaborou um inquérito para
averiguar as precárias condições de habitação nos bairros de barracas, “Os bairros de barracas foram
sendo ampliados e em 1947 a CMS resolveu elaborar um inquérito exaustivo à situação […] O resultado foi
o apuramento da existência de 23 bairros que possuíam 1321 barracas e albergavam 5049 pessoas. O
bairro com mais população era o Bairro da Monarquina com 255 barracas e 949 habitantes e o bairro menos
povoado ficava na zona do Bairro Rendeiro com apenas duas barracas e sete habitantes.” (2012, p.46)
42Os Bairros, Barreto, Dias, Lopes, Rendeiro, Rosalina, Santos Nicolau e Vale de Grou têm o apelido do
proprietário do terreno que os loteou.
43 Segundo Carlos Faria, “Em Setúbal só raramente existiram grandes fortunas. O ditado setubalense
<<Quem não pesca, já pescou; quem não rema já remou>> sugere que a maioria das pessoas com algum
dinheiro tinha pertencido ao operariado com actividade ligada ao mar.” (1981, p.104)
44 Bairro Salgado, “[…] construído após a guerra de 1914-1918 como resultado do desenvolvimento da
indústria conserveira durante esta conflagração mundial, pode considera-se o primeiro crescimento para
norte.” (Faria, 1981, p.104)
Nos novos bairros periféricos, as ruas não estavam pavimentadas, não existia
iluminação, rede de águas ou esgotos. Na Ilustração 26 podemos constactar que as
obras de colocação de rede de esgotos foram feitas dez anos depois da realização do
plano de saneamento, em que já existiam os bairros periféricos da cidade. Nestes
bairros, predominou a construção de casas abarracadas ou barracas de madeiras, visto
que a população tinha poucos rendimentos e havia um elevado número de pessoas à
procura de habitação.
Ilustração 23 – “Casas abarracadas no Bairro da Monarquina, 1951” ([Adaptado a partir de:] LOPES, J. M; PEREIRA, A. M., 2012,
p.46)
Ilustração 24 – “Bairro do Casal das Figueiras, primeira metade Ilustração 25 – “Rua João Vaz, no Bairro da Conceição, 1950”
da década de 1950. Uma das habitações existentes nos ([Adaptado a partir de:] Lopes, 1992, p.90)
chamados <<bairros da folha46>>.” ([Adaptado a partir de:] Lopes,
2006, p.77)
Ilustração 26 – “Colocação de esgoto na Rua D. Pedro Ilustração 27 – “Obras de repavimentação na Rua Dr. Paula
Fernandes Sardinha, 1938.” ([Adaptado a partir de:] LOPES, J. M; Borba (vista do lado poente e nascente), 1959.” ([Adaptado a
PEREIRA, A. M., 2012, p.58) partir de:] Lopes, 2006, p.37)
46O nome Bairros da folha, surge devido ao material que era utilizado no revestimento dos tectos e
paredes das barracas. A folha, consistia numa chapa de aço coberta por estanho, que impedia o material
de enferrujar. Era utilizada nas fábricas de conserva, para a confecção das latas.
A Habitação
Ilustração 28 – “Distribuição espacial tipo <<casa térrea>> Ilustração 29 – Planta de uma casa, 1935. ([Adaptado a partir de:]
dos novos bairros em Setúbal, 1910-1920” ([Adaptado a partir LOPES, J. M.; PEREIRA, A. M., 2012, p.81)
de:] Guimarães, 1994, p.574)
47“A planta de base era quadrangular, mas o seu espaço interior era dividido desigualmente. A maior parte
das plantas não referiam a função dos espaços interiores (ao contrário do que sucedia nos casos de
requerentes que construíam a sua própria habitação), mas isso não é impeditivo da percepção da sua
funcionalidade.” (Guimarães, 1944, p.545)
48Segundo estudos, “Setúbal apenas teve uma rede de esgotos domésticos em condições já nos anos 50.
Até esta data a maioria das casas de Setúbal não tinham esgotos. Os setubalenses recolhiam os seus
dejectos na chamada tijela da casa que depois era colocada à porta da rua. O pessoal da CMS, em carroças
ou em camionetas, percorria a cidade e recolhia os dejectos que depois eram depositados nas citadas
montureiras. […] Com a construção das primeiras casas do bairro Santos Nicolau os moradores
rapidamente reclamaram contra o mau cheiro que devido aos ventos de Norte invadiam o Bairro. O protesto
“As novas disposições impunham regras claras na relação entre o espaço público e
privado, estabelecendo um ratio entre a altura das fachadas e a largura da via pública,
por forma a salvaguardar a iluminação da casa, e sistemas de esgoto das águas pluviais
e dos dejectos. Estas normas <<higiénicas>> constituíram o instrumento jurídico de base
que orientou o ordenamento dos novos espaços até à elaboração do primeiro plano de
urbanização de Setúbal, em 1944.” (Guimarães, 1994, p.538)
foi atendido pela CMS que em Abril de 1921 deliberou transferir as montureiras municipais para uma zona
mais afastada da área urbana chamada Vale das Cerejeiras.” (LOPES, J. M; PEREIRA, A. M., 2012, p.58)
49 CMS, Camâra Municipal de Setúbal.
50 De acordo com José Lopes e Alberto Pereira, “Mais tarde a maioria dos moradores, à revelia da CMS,
transformaram a janela da cozinha numa porta de acesso à instalação sanitária que entretanto foi ampliada
em comprimento. Foi assim possível colocar uma banheira ficando uma sala de banho com entrada
directamente pela cozinha evitando assim a passagem pelo quintal o que certamente seria muito
desagradável no inverno.” (2012, p.81)
Paredes Exteriores:
Madeira Alvenaria Alvenaria
Material.……………...
--- 0.30 – 0.60 m >0.50m
Espessura……………
Paredes Interiores:
Material……………… Madeira Tabiques, Alvenaria Alvenaria
Tubos de queda/
Não tem ou exterior Exterior/ Interior Exterior/ Interior
Águas pluviais
Dim. aberturas:
0.90 x 1.60m 0.90 x 1.50 m ou 1.00 x 1.60 m
Janelas……………….
1.00 x 1.60 m
0.90 x 2.40m 0.9/ 1.00 x 2.4/ 2.6 m 1.00 x 2.60/3.00 m
Porta………………….
Parcial em cantaria
Cantaria, tijolo
Guarnição --- (só fachada), tijolo
burro
burro
Vidro, ferro,
Outros materiais: Vidro Vidro, madeira
cantarias
A habitação popular, é um elemento de destaque no meio urbano. Visto que não existia
um plano de ordenamento, nem a preocupação com a ocupação do solo, os bairros
populares foram geradores da forma da cidade.
51 É importante referir que os melhores edifícios ficavam virados para a via pública, enquanto que as
contruções precárias eram construídas nos pátios. “Como norma, as casas melhores ficavam expostas para
a via pública […] No interior encontravam-se os piores alojamentos: barracas com duas divisões (uma a
servir de cozinha), sem qualquer espécie de isolamento do solo e da cobertura, que abergavam famílias
com 6 e 7 filhos.” (Guimarães, 1994, p.547)
No século XX, o modo de pensar a cidade implicava adaptar o espaço urbano às novas
necessidades e usos, se relevante, suprimir a relação entre os edifícios e os elementos
históricos. O impacto da industrialização, também contribuiu para a transformação do
tecido urbano52. “O tecido como realidade temporal condensa todo um processo
evolutivo, toda uma história, que se traduz num resultado muito particular a cada
momento e que explica a riqueza formal das nossas cidades.” (Coelho [et al.], 2015,
p.14).
52 “<<Tecido urbano>> faz hoje parte dos conceitos utilizados em Urbanismo, sendo particularmente
recorrente na análise da cidade existente. A utilização desta expressão por Muratori, Panerai e outros
autores, conferiu-lhe um estatuto que obrigou à sua integração nos próprios dicionários de urbanismo.
Pierre Merlin (1988) considera-a uma <<expressão metafórica, assimilando as células construídas e os
vazios de um meio urbano à trauma dos fios de um têxtil>> e que <<o tecido urbano é a expressão física
da forma urbana. É constituído pelo conjunto de elementos físicos que a constituem – o sítio, a rede viária,
a divisão cadastral, a relação entre os espaços construídos e livres, a dimensão, a forma e o estilo das
construções – e pelas relações estabelecidas entre estes elementos (…)>>.” (Coelho [et al.], 2015, p.14)
53 Elevação de Setúbal à categoria de distrito, em 1926.
54 “[…] a reestruturação tecnológica das estruturas portuárias (com particular enfoque para a
contentorização) forçadas pelas transformações nos transportes marítimos (especialização e aumento do
calado dos navios) que exigem novas condições operacionais dos portos. Em consequência, estes são
forçados à deslocalização para águas mais profundas e espaços periféricos mais amplos e menos
congestionados, potenciada pelo desenvolvimento das redes de transporte terrestres.” (Pereira, 2007, p.16)
De acordo com a Junta Autónoma das Obras do porto de Setúbal, “As obras realizadas
consistiram essencialmente na regularização da margem direita do estuário do Sado,
junto à cidade de Setúbal e numa extensão de cerca de 4 quilómetros, indispensável
não só à conquista de terrenos marginais como ao bom funcionamento das correntes
do rio.” (PORTO DE SETÚBAL., 1949, p.4).
Algumas versões do Plano do Porto prevêem mesmo a demolição dos antigos baluartes
para extensão desobstruída da malha regular e reticulada. O resultado actual, contudo,
traduz os diversos obstáculos à concretização dessa ideia, reconhecendo-se, contudo,
a capacidade ordenadora daquele traçado na organização de vários edifícios construídos
ao longo do século. (Coelho [et al.], 2015, p.106)
57Devido ao prolongamento do aterro, como podemos constactar na Ilustração 34, o edifício existente do
Clube Naval, ficou demasiado longe da Doca de Recreio.
58 Esta contribuição encobria os salários baixos, no entanto, superiores aos da fábrica de conservas.
59 Sector primário – Agricultura, pecuária, exploração florestal, caça, pesca, indústria extractiva.
60Sector secundário – Indústrias: Metalomecânica, alimentar, produtos minerais não mecânicos, papel,
química, construção e obras públicas, electricidade, saneamento e água.
61 Sector terciário – Comércio, bancos, seguros, imobiliário, transportes, comunicações, hotelaria,
profissões liberais.
62 Não incluímos na Tabela 5 a fábrica da SECIL e da SAPEC, por terem sido mencionadas no texto.
Ilustração 32 - Planta do porto de Setúbal, A. Cid Perestrello, 1933. (Museu Virtual do Porto de Setúbal, 2018)
Ilustração 33 – "Panorâmica do porto de Setúbal, década de 1940” ([Adaptado a partir de:] LOPES, J. M.; PEREIRA, A. M., 2012,
p.95)
Ilustração 34 – Vista parcial das docas. Ao centro, edifício do Ilustração 35 - Fábrica da Secil. ([Adaptado a partir de:] SECIL,
Clube Naval Setubalense. ([Adaptado a partir de:] LOPES, J. M.; 2016)
PEREIRA, A. M., 2012, p.63)
Planeamento Urbano
63 De acordo com Carlos Faria, o planeamento ao ser realizado por um arquitecto exterior à Camâra,
inevitavelmente transpunha influências de sectores privados. “Elaborados por um arquitecto externo aos
Serviços Municipais, os planos/documentos de urbanização reflectem os defeitos típicos de estudos
produzidos por técnicos isolados, sem apoio de contribuições interdisciplinares e sob pressões e influências,
levadas a cabo por interesses privados.” (Faria, 1981, p.141)
64“A figura de <<Plano Geral de Urbanização>> foi criada pelo Decreto-Lei nº24.802, de 21 de Dezembro
de 1934, o qual fixava a obrigatoriedade das Câmaras Municipais elaborarem Planos Gerais de
Urbanização.” (Tomé [et al.], 2016, p.137)
65.O tema da Dissertação para o Doutoramento no ramo da Geografia e Planeamento Regional foi,
“Setúbal, a cidade e o território. O papel Regional e os efeitos da metropolização”.
66 Salientamos os laranjais, devido à sua importância na paisagem da cidade, como na economia.
Por outro lado, a valorização do património urbano esteve ausente nas propostas de
demolição de áreas urbanas, com maior ou menor antiguidade, elaboradas – e algumas
concretizadas – em nome da ‘ideia então dominante de progresso [que] implicava, não
propriamente a edificação do novo, mas sobretudo a eliminação do que era considerado
antigo, rapidamente identificado como velho e, por isso, fatalmente inimigo daquele
progresso (COELHO [et al.], 2014, p.175)
Os dois planos urbanos posteriores, de 1955 e 1962, “[…] não passaram de uma simples
revisão do P.G.U.S67 (1944) e não saíram, praticamente, do âmbito municipal.” (Faria,
1981, p.141) O plano de 1955, coincide com o período de crise económica originada
pelo encerramento de algumas fábricas, contrariamente ao plano de 1962, que
contextualiza-se com a exploração das novas indústrias.
O quarto plano, o PDCS68 de 1971, é o único que expõe a crise habitacional na cidade,
agravada pela instalação das novas indústrias. Contudo, nem este plano propõe
soluções para o problema da habitação. Os documentos de planeamento e gestão
urbana anteriormente referidos, demonstraram-se ineficientes para o desenvolvimento
sustentável. De acordo com Carlos Faria, na elaboração dos planos de ordenação, não
foi tido em consideração ou não foi profundamento estudado, certas questões
fundamentais para a eficiência do projecto. “[…] questões referentes, entre outras à
análise sociodemográfica, ao estudo económico da indústria existente, à quantificação
e às soluções para as carências quanto à habitação e aos equipamentos sociais”. (1981,
p.141)
Inicialmente não existia o devido controlo sobre a localização dos edifícios industrias.
No entanto,com os efeitos de degradação do espaço urbano, as indústrias foram
posteriormente deslocadas e o porto prolongado, para a periferia da cidade. Para uma
área indústrial, denominada Mitrena69.
70 “O golpe militar de 25 de abril de 1974 iniciou um período histórico único, marcado por experiências sem
precedentes no domínio dos movimentos sociais e da participação dos cidadãos. Nesse dia foi derrubada
pelos militares, organizados no Movimento das Forças Armadas (MFA), a mais longa ditadura da Europa,
que durou quase meio século (1926—1974), pondo fim à guerra contra os movimentos de libertação das
colónias africanas de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, que durava desde os inícios da década de
1960. A Revolução foi seguida de um período instável, com sucessivos governos provisórios (seis, no total),
durante o qual foram tomando forma conceções de democracia, baseadas na participação popular. Os
trabalhadores da indústria, da agricultura e dos serviços, os movimentos de moradores de bairros urbanos,
os estudantes, os intelectuais e os militares levaram a cabo experiências de mobilização de massas, de
constituição de organizações populares e de diversas formas de democracia participativa.” (Serralves,
2015)
71 C.A, Comissão Administrativa.
Ilustração 38 – Planta Geral de Urbanização da cidade de Setúbal, 1944. ([Adaptado a partir de:] Faria, 1981, p.140)
Os Bairros
Durante o Estado Novo73, grande parte da população vivia com condições mínimas de
habitabiliedade. Em casas degradadas e obsoletas. Após a Revolução de Abril,
houveram mudanças significativas no sector da habitação, que tinham o intuito de
melhorar a qualidade da arquitectura e do urbanismo.
O bairro do Casal das Figueiras, numerado com o 1 na Ilustração 39, foi projectado
pelo arquitecto Gonçalo Byrne77 durante o processo SAAL. Estava destinado à
76O Fundo de Fomento da Habitação, “[…] tinha como principal objetivo a promoção directa de habitação
social para arrendamento a estratos sociais desfavorecidos. Após o 25 de abril de 1974 e com as grandes
mudanças registadas no panorama nacional, o FFH sofreu várias vicissitudes e acolheu a execução de
programas e medidas políticas muito diversificadas, com resultados muito positivos nos casos dos
empréstimos às câmaras, cooperativas de habitação e PRID.” (Instituto da Habitação e da Reabilitação
Urbana, 2018)
77 Gonçalo Byrne, doutorado em Arquitectura pela Universidade Técnica de Lisboa. Os seus projectos
abrangem diversas escalas, planeamento urbano, desenho de espaços públicos, edifícios e reabilitação. O
seu trabalho tem sido bastante divulgado e reconhecido, tendo recebido vários prémios, entre eles o
A.I.C.A/S.E.C., a Medalha de Ouro da Academia de Arquitectura de França e, recentemente, o Piranesi /
Prix de Rome, edição de 2014. Têm uma carreira como docente em múltiplas universidades do mundo.
O bairro era constituído por construções precárias, feitas de madeira, de forte afirmação
cromática, à semelhança dos barcos que a população utilizava na sua rotina laboral. O
rigor na construção revelava, segundo byrne, a “capacidade artesanal dos pescadore”,
que organizavam as suas casas com base num pátio. Aí secavam as redes, estendiam
os aparelhos ou cozinhavam – era o “pátio de assar”. No interior existia também um
espaço com nome próprio, a “casa de fora”. Trata-se de um espaço de recepção, que
contrasta com os restantes espaços mais informais. Esta “casa de fora” seria introduzida
no projecto como elemento gerador. (Carvalho, 2016, p. 198)
Ilustração 40 - Planta do bairro Casal das Figueiras. ([Adaptado a partir de:] Bandeirinha, 2007, p.359)
Ilustração 41 - O bairro Casal das Figueiras durante a Ilustração 42 – Casal das Figueiras (Ilustração Nossa, 2018)
Construção. ([Adaptado a partir de:] Byrne, 2018)
Ilustração 43 – Composição do alçado, Casal das Figueiras. Ilustração 44 – Escadas públicas, Casal das Figueiras.
(Ilustração Nossa, 2018) (Ilustração Nossa, 2018)
O bairro dos Pinheirinhos (Ilustração 49), projectado pela arquitecta Helena Krieger83 no
início das operações SAAL, é constituido por cento e setenta fogos. Contráriamente à
composição social dos bairros abordados anteriormente, o bairro dos Pinheirinhos era
composto por uma população diversificada. Operários das indústrias, funcionários das
empresas de construção civil, mulheres-a-dias e comunidade cigana. (Bandeirinha,
2007, p.362)
O bairro Terroa de Baixo (Ilustração 51), projectado pelo arquitecto Rui Pimentel,
localiza-se a este da cidade, próximo ao bairro da Bela Vista. Visto que o bairro era
constituído por barracas, os novos edifícios foram construídos na periferia com o intuito
de destruir as habitações precárias, assim que os moradores estivessem alojados.
(Bandeeirinha, 2007, p.363)
Ilustração 45 – Bairro do Forte Velho. (Ilustração Nossa, 2018) Ilustração 46 – Bairro do Forte Velho. (Ilustração Nossa, 2018)
Ilustração 47 – Bairro da Liberdade. (Ilustração Nossa, 2018) Ilustração 48 – Bairro da Liberdade. (Ilustração Nossa, 2018)
Ilustração 49 – Bairro dos Pinheirinhos. (Ilustração Nossa, 2018) Ilustração 50 – Bairro dos Pinheirinhos. (Ilustração Nossa, 2018)
Ilustração 51 - Terroa de Baixo. (Ilustração Nossa, 2018) Ilustração 52 - Terroa de Baixo. (Ilustração Nossa, 2018)
O bairro da Bela Vista, contrariamente aos bairros abordados anteriormente, fez parte
do Plano Integrado84 de Setúbal, anterior ao 25 de Abril, elaborado pelo Fundo de
Fomento da Habitação85. O bairro está divido em três unidades urbanas, (numeradas
na planta esquemática com o 6, 7 e 8), por terem sido construidos em diferentes
períodos. A cada conjunto foi atribuído uma cor, o amarelo, azul e rosa.
O bairro amarelo (bairro da Bela Vista), projectado pelo arquitecto José Charters
Monteiro86, foi construído na década de setenta. O projecto é constituido por um
conjunto de quarteirões rectangulares, caracterizados pelo amplo patio central. O
acesso às habitações é feito através de galerias de passagem exterior, que comunicam
com as caixas de escadas localizadas nos extremos dos edificios (Ilustração 55). De
acordo com a CMS, o bairro é constituido por quarenta e cinco edifícios, um total de 840
fogos desenvolvidos em tipologias T1 (apenas um caso), T2 e T3. Actualmente, as
modificações feitas pelos moradores alteraram a ideia de confraternização proposta
pelo arquitecto nos locais de passagem:
O bairro azul (Forte da Bela Vista), construído entre 1984 e 1989, é constituído por doze
blocos habitacionais, Ilustração 56. Dois dos lotes, estão interrompidos de modo a
formar um pátio. Segundo a CMS, o bairro é composto por um total de 167 fogos.
Por último, o bairro Cor-de-Rosa (Alameda das Palmeiras), foi edificado em duas fases.
Na primeira, referente à década de noventa, foram construídos duzentos e dezasseis
fogos. Maria Mendes, refere que a segunda fase de construção iniciou em 2001 e fez
parte do Programa Especial de Realojamento, em que foram edificados mais trinta e
seis fogos de habitação (Ilustração 57).
84Plano Integrado (PI), “Este plano tinha na sua génese a tentativa de responder às carências
habitacionais do concelho de Setúbal nas décadas de 1960 e 1970.” (CIAUD, 2012, p.70)
85“Em 1982 é extinto o FFH e é nomeada uma Comissão liquidatária que permanece em funções até 1987,
data em que é criado o Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado (IGAPHE). O
bairro da Bela Vista esteve sob a administração do IGAPHE até 1994, altura em que passou para a
administração da Câmara Municipal de Setúbal.” (MENDES, 2012, p.70)
86José Charters Monteiro (1944), arquitecto português. Integrou o plano do Fundo de Fomento da
Habitação. Director da revista Arquitectura e Vida, entre 2000 e 2003.
Ilustração 54 – Bairro Amarelo, Bela Vista. (Ilustração Nossa, Ilustração 55 – Escadas, Bairro Amarelo (Ilustração Nossa,
2018) 2018)
Ilustração 56 – Bairro Azul, Bela Vista. (Ilustração Nossa, 2018) Ilustração 57 – Bairro Rosa, Bela Vista. (Ilustração Nossa, 2018)
Após a analise concisa aos vários bairros construídos durante o Plano Integrado e a
operação SAAL, concluiu-se no geral, que existiram semelhanças nos pedidos
colocados pelos futuros moradores de cada respectivo bairro. “[…] foram exigidas casas
unifamiliares, com um ou dois pisos no máximo, acabamentos de materiais tradicionais
e quintais ou pátios – zonas privadas ao ar livre. Em todos também foi bastante estimada
a existência de equipamentos colectivos e locais para convívio dos moradores –
normalmente o chamado “barracão”. (Lima, 2011, p.101)
87 Segundo Maria Lima, “[…] a quantidade de fogos realizados nos bairros do Forte Velho, Pinheirinhos,
Liberdade e Terroa de Baixo, juntos, não ultrapassa o número final dos fogos construídos no Casal das
Figueiras – 312 – tal foi a dimensão deste projecto SAAL.” (2012, p.101)
3. TERRITÓRIO E CIDADE
Aceitar que o objecto urbano, a cidade física, como um todo tem a capacidade de ser
interpretado e compreendido, implica que não se perca de vista que a reflexão sobre a
forma da cidade nasce da sua experiência e portanto de um universo que se presta à
comparação. Assim, a interpretação da cidade como realidade material deve
compreender duas abordagens: a análise da sua forma num momento determinado e a
sua justificação a partir dos acontecimentos que lhe deram origem. (Coelho [et al.], 2015,
p.24)
É evidente que o crescimento urbano sobre o rio, alterou drasticamente o perfil natural
da cidade e consequentemente, a relação directa que existia entre a população e o
estuário. Inicialmente, pela construção da estrutura artificial defensiva, posteriormente,
transformado pela construção da avenida Luísa todi e da doca Deulpeut, e por último,
pela construção das docas de Recreio, dos Pescadores e do Comércio. O documentário
da RTP Arquivos, sobre a cidade de Setúbal, retrata este impacto:
[…] o entendimento da riqueza do tecido urbano resulta da configuração dos seus vários
componentes que, apesar da particularidade de cada um por si, contribuem para que um
tecido tenha homogeneidade formal da qual resulta a compreensão da sua identidade.
A capacidade de entendimento de um tecido requer não o seu conhecimento concreto,
mas o reconhecimento dos elementos que o compõem e, nessa medida, a sua identidade
resulta da relação articulada dos elementos entre si, de tal modo que a sua contribuição
para a composição de um tecido lhe confira características distintas de outros. A
identidade não depende apenas da constância formal de cada um dos elementos mas
também da sua relação, podendo dois tecidos distintos e com identidade partilhar
elementos semelhantes. (Coelho [et al.], 2015, p.21)
Setúbal, é composta por uma variedade de tecidos urbanos, que revelam os processos
de formação da cidade. Em alguns casos verifica-se a articulação entre as diferentes
malhas, noutros não existe homogeneidade nos elementos construídos, salientando as
fronteiras entre os vários lugares.
88 No sub-capítulo “Memória e Identidade”, fazemos uma leitura urbana das estruturas que permaneceram
intactas na cidade.
A estrutura urbana dos bairros industriais91, foi condicionada pela indústria. A morfologia
dos bairros, caracteriza-se por moradias de um e dois pisos de altura, verificando-se a
compactação da organização dos conjuntos habitacionais. Contrariamente à baixa, que
está numa situação topográfica mais baixa, a maioria dos bairros industriais, encontram-
se em zonas planálticas. Os limites naturais do território evidenciam a transição entre
os vários espaços com características morfológicas distintas. (Coelho [et al.], 2015,
p.38)
89“as cidades são entidades únicas, não há duas iguais no mundo, (…). As cidades constituem entidades
únicas porque raras vezes estão implantadas em sítios rigorosamente iguais.” (Ribeiro, apud Coelho, 2015,
p.55)
90 Verificar a ilustração “Localização dos bairros operários e burgueses”, do sub-capítulo .“Área Ribeirinha
e Industria”.
91 Tema desenvolvido no sub-capítulo, “Área Ribeirinha e Industria”.
cais, Ilustração 64, o postigo das fontainhas, Ilustração 66 e a porta da ribeira, Ilustração
67, são entradas integradas em edifícios que interligam os espaços públicos do centro
histórico e da avenida Luísa Todi. A porta do Sol (Ilustração 65) e a Porta de São
Sebastião (Ilustração 63), são limites urbanos a Este do centro histórico. O SIPA, faz
uma breve descrição das portas e postigos que referimos, “A Porta do Sol é em arco
quebrado; Porta de São Sebastião em arco de asa de cesto, rusticado, com aduelas em
ressalto e pedra de fecho; os postigos do Cais e o de João Galo, ou das Fontainhas, em
arco abatido” (Sistema de Informação para o Património Arquitectónico, 2016)
A Ilustração 61, permite-nos verificar que não existe uma leitura clara da muralha. Os
locais onde os troços medievais permaneceram, situam-se em zonas dispersas da
cidade, a nascente e a poente. A Casa do Corpo Santo/ Museu do Barroco95, situado
junto à igreja de Santa Maria, é um exemplar que incorpora parte da muralha medieval
na fachada nascente do edifício, com uma espessura que atinge os 2,50 m. É o único
excerto existente com alvenaria aparente (Ilustração 62).
O maior troço que subsiste, localiza-se a nascente do núcleo medieval (numerado com
um 2 na Ilustração 61). Este elemento tem uma presença pontual, marcada pela porta
de S. Sebastião. Contudo, a sua existência passa despercebida, devido aos edifícios
contíguos ao limite da muralha. Na Ilustração 61, os edifícios numerados de 9 a 11, são
exemplos de intervenções, tentativas de integrar a muralha com a estrutura do edificado.
Podemos verificar que a Ilustração 69 e a Ilustração 71 são referentes a
estabelecimentos comerciais e a Ilustração 70 a um edifício devoluto.
As torres de defesa, que eram parte integrante da muralha medieval foram destruídas,
contudo, existe um exemplar integrado no edifício da Polícia de Segurança Pública,
(numerado na Ilustração 61, com um 8). Situa-se na intersecção da Av. 22 de Dezembro
com a Av. Luísa Todi.
95 Posteriormente iremos analisar o contexto em que surge a Casa do Corpo Santo/ Museu do Barroco.
Ilustração 61 – Troços existentes da muralha medieval. ([Adaptado a partir de:] GOOGLE INC., 2018)
Ilustração 62 – Muralha na Rua de Santa Clara. (Ilustração Nossa, 2018) Ilustração 63 – Porta de São
Sebastião.(Ilustração Nossa, 2018)
Ilustração 64 – Postigo do Cais. (Ilustração Nossa, 2018) Ilustração 65 – Porta do Sol. (Ilustração
Nossa, 2018)
Ilustração 66 – Postigo das Fontainhas. (Ilustração Nossa, 2018) Ilustração 67 – Porta da Ribeira. 96
(Ilustração Nossa, 2018)
Ilustração 68 – Troço da muralha97 na Av. 22 de Dezembro. Ilustração 69 – Troço da muralha incorporado em fachada de
(Ilustração Nossa, 2018) edifício, Praça Almirante Reis. (Ilustração Nossa, 2018)
Ilustração 70 - Troço da muralha incorporado em fachada de Ilustração 71 – Arte urbana em troço da muralha, Av. 5 de
edifício, Av. 5 de Outubro. (Ilustração Nossa, 2018) Outubro. (Ilustração Nossa, 2018)
Setúbal, sendo uma cidade milenária, como na generalidade acontece com um objecto
ou um conjunto, nestas circunstâncias, é uma cidade com muitas marcas do tempo, mas
também muito marcada pelo tempo, pois muito da sua existência foi apagada, quer por
catástrofes naturais, quer pelos acidentes sociopolíticos da história, quer pela gestão da
própria cidade na adaptação às novas realidades tecnológicas e sociais, mas a sua
identidade cultural presente na memória cognitiva da população mais dificilmente será
apagada.(TOMÉ, 2014, p.215)
Segundo a DGPC99, supõem-se que na área do Cais Velho100 parte do baluarte esteja
soterrado. Seguidamente apresentamos uma cronologia sucinta referente às várias
intervenções feitas ao baluarte.
98O Centro de Estudos Arqueológicos e o Museu de Arqueologia e Etnografia do distrito de Setúbal, foram
responsáveis pelos trabalhos arqueológicos desenvolvidos antes da construção da Escola Superior.
99 DGPC, Direcção Geral do Património Cultural.
100 Área que circunda o baluarte da N. Sra. da Conceição.
As muralhas ainda estão visíveis. No início do século XX, foi construída no local uma
fábrica de conservas de peixe, que funcionou até cerca de 1975, tendo sido demolida.
Esta fábrica, aproveitou as paredes do baluarte para erguer sobre este as paredes da
fábrica. Nos anos 80 foram construídos armazéns, que se mantém até hoje ao local.
(PORTAL DO ARQUEÓLOGO, 2018)
O baluarte da Nossa Senhora. da Saúde, Ilustração 79, situa-se junto à Avenida General
Daniel de Sousa, uma das entradas para a avenida Luísa Todi. O troço da muralha
destaca-se da envolvente pela sua escala, contudo, o plano de alvenaria de que é
constituído não é visível, visto que a estrutura padeceu de uma intervenção. Na área
definida pela muralha foram construídos edifícios de relevância, nomeadamente, a
igreja da Nossa Sra. da Saúde e o Palácio Botelho Moniz103.
Ilustração 73 - Troços existentes da fortificação abaluartada. ([Adaptado a partir de:] GOOGLE INC., 2018)
Ilustração 74 – Baluarte da Nossa Sra. da Conceição. (Ilustração Ilustração 75 – Entrada Principal do baluarte da Nossa Sra. da
Nossa, 2018) Conceição. (Ilustração Nossa, 2018)
Ilustração 76 – Ruína do baluarte da Nossa Sra. do Livramento. Ilustração 77 – Detalha do Baluarte da Nossa Sra do Livramento.
(Ilustração Nossa, 2018) (Ilustração Nossa, 2018)
Ilustração 78 - Baluarte de Santo Amaro. (Ilustração Nossa, Ilustração 79 - Baluarte da N. Sra. da Saúde. (Ilustração Nossa,
2018) 2018)
Ilustração 80 - Hornaveque de Jesus. (Ilustração Nossa, 2018) Ilustração 81 – Hornaveque de Jesus. (Ilustração Nossa, 2018)
Ilustração 82 – Baluarte de Santo António. (Ilustração Nossa, Ilustração 83 - Baluarte de São João. (Ilustração Nossa, 2018)
2018)
Ilustração 84 – Baluarte de São Domingos. (Ilustração Nossa, Ilustração 85 – Ruína do Forte Velho. (Ilustração Nossa, 2018)
2018)
O forte Velho, situa-se a noroeste do núcleo urbano, numa posição topográfica elevada,
próxima do baluarte de Santo Amaro. A implantação da estrutura neste local demonstra
a sua importância no sistema defensivo, visto que reforçava a defesa da fortificação
nesta zona vulnerável. Na vista aérea da cidade é possível reconhecer a edificação
apesar de estar cingida por vegetação. A Ilustração 85 retrata o avançado estado de
degradação da estrutura. Um paradigma de esquecimento do património edificado.
Na generalidade, não existe informação nos locais de interesse histórico que permita
reconhecer o património medieval e seiscentista da cidade. As edificações
anteriormente referidas, necessitam de intervenções para que não se perca o
testemunho do passado, a memória da cidade.
A Casa do Corpo Santo foi edificada no século XVIII105, junto a um troço da muralha
medieval (Ilustração 88). Era a antiga Casa da Confraria dos Marinheiros e Pescadores
de Setúbal. Em 2012 o edifício foi alvo de obras pelo programa Reset – Regeneração
Urbana do Centro Histórico de Setúbal, de modo a melhorar as condições de
preservação do património edificado. Actualmente, classificado como Monumento de
Interesse Público, acolhe o museu do Barroco. No exterior do edifício, existe uma placa
com o seguinte resumo do edificado:
O Hospital João Palmeiro, edifício do Século XV, situa-se junto à Igreja de Santa Maria
da Graça. “Trata-se do mais antigo edifício de Setúbal e foi o primeiro de natureza
assistencial desta cidade.” (Portal do Arqueólogo, 2018) Como se verifica na Ilustração
90, actualmente encontra-se devoluto. Sem o mínimo de conservação. Tal como
acontece com outros edifícios de relevância, grande parte da população desconhece a
antiga função e história deste edifício. Segundo as palavras de José Hermano Saraiva,
105De acordo com o documentário da autoria de José Hermano Saraiva, já existem registos da confraria
datados do século XIV.
106 Fitomórfico, “que tem forma de vegetal, fitomorfo” (PORTO EDITORA, 2018)
Ilustração 87 – Casa do Corpo Santo, século XIX. ([Adapatado a Ilustração 88 - Casa do Corpo Santo. (Ilustração Nossa, 2018)
partir de:] DGPC, 2016)
Ilustração 89 – Hospital João Palmeiro, 2014. ([Adaptado a partir Ilustração 90 – Ruína do hospital João Palmeiro. (Ilustração
de:] Google Inc, 2018) Nossa, 2018)
Ao longo dos séculos, o edificado possibilitou uma diversidade de usos, “que foram
conduzindo à desvirtuação do seu propósito original, e à sua degradação material.”
(PORTUGAL. Direcção Geral do Património Cultural, 2018) Projectado como templo, foi
utilizado após o terramoto de 1755 pela edilidade108, posteriormente, usurpado devido
às invasões francesas, tendo a igreja sido destruída. Mais tarde, apropriado para
instalações militares, e entre 1998 e 2005 uma prisão. Actualmente, devoluto.
Existem edifícios históricos dispersos pela cidade, dos quais a maioria da população
desconhece a sua existência, mas que devem ser mencionados. Nomeadamente, o
Convento Manuelino de São João (Ilustração 94), que se encontra negligenciado e o
Palacete da família Feu Guião109 (Ilustração 96), que está prestes a ser reabilitado.
EDITORA, 2018)
109 Edifício Setecentista, classificado como IM.
110 IIP, Imóvel de Interesse Público.
Ilustração 91 – Convento de Brancanes (Postal). ([Adaptado a Ilustração 92 – Convento de Brancanes. (Ilustração Nossa,
partir de:] PORTUGAL. Portugal em Postais Antigos, 2018) 2018)
Ilustração 93 – Convento de São João, 1996. ([Adaptado a Ilustração 94 – Convento de São João. (Ilustração Nossa, 2018)
partir de:] DGPC, 2016)
Ilustração 95 - Palácio Feu Guião, 1996. ([Adaptado a partir Ilustração 96 – Reabilitação do Palácio Feu Guião. (Ilustração
de:] DGPC, 2016) Nossa, 2018)
Ilustração 97 - “Troço de Aqueduto” ([Adaptado a partir de:] Ilustração 98 – Aqueduto dos Arcos. (Ilustração Nossa. 2018)
DGPC, 2016)
Ilustração 99 – Convento de Jesus, 1946. ([Adaptado a partir Ilustração 100 – Convento de Jesus. (Ilustração Nossa, 2018)
de:] LOPES, Madureira [et al.], p.26, 2006)
Ilustração 101 – Claustro do Convento de Jesus, 1930. Ilustração 102 – Claustro do Convento de Jesus. ([Adaptado a
([Adaptado a partir de:] LOPES, Madureira [et al.], p.87, 1992) partir de:] RITO, 2015)
Ilustração 103 – Igreja de Jesus, 1940. ([Adaptado a partir de:] Ilustração 104 – Igreja de Jesus, 2013. ([Adaptado a partir de:]
LOPES, Madureira [et al.], p.23, 1992) SIPA, 2016)
O edifício dos Paços do concelho, classificado como IM115, situa-se junto do largo do
Bocage. Segundo o Município de Setúbal, o edifício foi alvo de várias reabilitações,
devido a estragos causados por fenómenos naturais116. No século XVI funcionavam
organismos de administração, como o Paço do Trigo, a Cadeia e os Açougues.
Posteriormente, no século XIX, o edifício foi ampliado de modo a permitir o
funcionamento da Câmara Municipal, Tribunal e Repartição da fazenda. Em 1910, o
edifício ficou destruído devido a um incêndio, Ilustração 105. O projecto de reabilitação
foi feito pelo arquitecto Raul Lino117. Actualmente, funcionam os serviços de
Administração Geral e Finanças. (MUNICIPIO PARTICIPADO, 2018)
Ilustração 105 – Paços do Concelho, depois do incêndio de Ilustração 106 – Paços do Concelho. (Ilustração Nossa, 2018)
1910. ([Adaptado a partir de:] LOPES, Madureira [et al.] ,p.16,
1992)
Ilustração 107 – Antigo banco de Portugal, visto da porta da Ilustração 108 - Galeria Municipal. (Ilustração Nossa, 2018)
Ribeira velha. ([Adaptado a partir de:] Roteiro de Setúbal,
2014)
Ilustração 109 - Forte de São Filipe, 1949. ([Adaptado a partir Ilustração 110 – Forte de São Filipe. (Ilustração Nossa, 2018)
de:] DGPC, 2016)
Ilustração 111 – Casas adoçadas ao Forte de São Filipe. Ilustração 112 – Interior do Forte de São Filipe. (Ilustração Nossa,
([Adaptado a partir de:] DGPC, 2016) 2018)
Ilustração 113 – Edifício Balnear na antiga Rua da Praia. Ilustração 114 – Avenida Luísa Todi. ([Adaptado a partir de:]
([Adaptado a partir de:] PINHO, 2010). Herrmann, 2018)
Ilustração 115 – Aspecto do interior do Teatro Luísa Todi, Ilustração 116 – Interior do Fórum Municipal Luísa Todi.
demolido em 1956. ([Adaptado a partir de:] LOPES, Madureira ([Adaptado a partir de:] FÓRUM MUNICIPAL LUÍSA TODI, 2018)
[et al.], 2006, p.51,)
Ilustração 117 - “O elegante café La Violette – Casa das Águas Ilustração 118 - Caixa Geral de Depósitos. (Ilustração Nossa,
(com a fachada em azulejos), na Avenida Luísa Todi, entretanto 2018)
demolido para dar Lugar à actual Caixa Geral de Depósitos,
1939.” ([Adaptado a partir de:] LOPES, Madureira [et al.], 2006,
p.57,)
Existe uma fracção do edificado que se mantém incógnito para a população e sem a
devida preservação, nomeadamente parte da estrutura da muralha e da fortificação,
assim como edifícios singulares como o hospital João Palmeiro. Contudo, confirmámos
que o património arquitectónico classificado foi alvo de programas de reabilitação. No
exterior dos edifícios adicionaram placas informativas com a finalidade de elucidar a
população da valorização histórica do edificado.
Concluímos que existe uma crescente inquietação por parte das entidades camarárias
com o futuro do edificado da cidade. Surgem novas imposições que controlam o modo
de intervir no centro histórico de modo a preservar as características do lugar, do
edificado e do património arqueológico.
121O edifício de apoio balnear, estava localizado na Rua da Praia (actual Avenida Luísa Todi). “Naquela
época a ida à praia era bem diferente do que é hoje, exigindo edifícios com programas arquitectónicos
específicos. Era imprescindível a existência de uma tipologia que contemplasse espaços individuais para
que os banhistas pudessem trocar de roupa, sem que houvesse qualquer vislumbre do corpo por parte de
olhares alheios”. (PINHO, 2010)
122Ventura Terra (1866 – 1919), estudou arquitectura na Academia Portuense de Belas-Artes. Projectou
edifícios de habitação, palacetes, pavilhões e equipamentos urbanos, entre outros. Ganhou quatro vezes o
prémio Valmor de Arquitectura.
123 Anteriormente referido no sub-capítulo, Área Ribeirinha e Indústria.
124 Uma das portas da cerca medieval fazia parte da estrutura do edifício.
Abordar a cidade na sua dimensão construída requer que esta seja considerada um
objecto imperfeito. Esta noção deve remeter para as duas facetas da expressão:
imperfeita porque mal feita; e imperfeita porque inacabada.
Françoise Choay125 menciona na citação que as cidades são intemporais, que reflectem
a complexidade cultural e as ideologias de várias épocas. No caso de Setúbal, o espaço
urbano sofreu transformações constantes, que influenciaram o modo de viver a cidade.
Deparamo-nos cada vez mais com a necessidade de, ao intervir no edificado, manter
os testemunhos do passado, a sua memória.
Joaquina Soares, refere que estas escavações arqueológicas tiveram impacto no hábito
social da população. “A arqueologia desceu à rua, inspirou conversas de café,
espetáculos de teatro, artigos de jornais. De alguma forma, a arqueologia urbana,
nomeadamente através da recuperação da memória urbana romana, criou um espaço
de antítese do conflito social, ou seja, um fórum de cidadania.” (Soares, 2000, p.109)
Contudo, as ruínas descobertas na Praça do Bocage, foram novamente cobertas.
Grande parte da população desconhece a existência dos achados arqueológicos no
local.
Ilustração 119 - Descobertas Arqueológicas. ([Adaptado a partir de:] LOPES, Madureira [et al.], p.45, 2006 ; SOARES, Joaquina ;
SILVA, Carlos Tavares da, pp. 17 – 18, 2018 ; GOOGLE INC., 2018)
São escassos os locais na cidade, que possibilitam visitar vestígios130 do antigo núcleo
urbano romano. Não existe a articulação entre as descobertas no subsolo e o edificado
contemporâneo, à excepção das ruínas encontradas no posto de Turismo da ERTRL131,
localizado na Travessa Frei Gaspar. Como se pode constactar na Ilustração 119, o
pavimento em vidro permite que os visitantes possam relacionar-se com as ruínas
romanas, deslocando-se sobre as mesmas.
129O “Manual de boas práticas de intervenção no património histórico do Concelho de Setúbal” é uma
publicação que elucida e impõe regras de intervenção no edificado do centro histórico.
130Os artefactos encontrados são expostos no Museu de Arqueologia e Etnografia do distrito de Setúbal,
localizado junto à Avenida Luísa Todi.
131 ERTRL, Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa.
Reabilitação
As ampliações de edifícios antigos são, muitas vezes, quase inevitáveis, pois, para que
não se tornarem obsoletos, é necessário dotá-los de melhores condições de
habitabilidade e salubridade. Contudo, estas intervenções carecem de um cuidado
extremo quando são feitas em edifícios situados nos centros históricos, pois podem pôr
em causa a integridade estética, histórica e cultural do conjunto edificado. (SETÚBAL.
Câmara Municipal. Gabinete dos Centros Históricos, 2018, p.70)
132Na Casa da Baía estão a funcionar serviços ligados ao turismo, nomeadamente o Gabinete de Turismo
da Câmara Municipal de Setúbal, o Posto de Informação Turística, Confrarias de Queijo de Azeitão e do
Moscatel de Setúbal e a Associação da Baía de Setúbal. O edifício classificado como Património Municipal
é do século XVIII. (CASA DA BAÍA ,2018)
133“ O Museu do Trabalho Michel Giacometti está instalado no edifício da ex-fábrica Perienes, constituído
por cinco andares e integrado num antigo bairro de pescadores, salineiros e operárias conserveiras. O
museu dedica-se dominantemente ao património industrial e ofícios urbanos ligados ao comércio, serviços
e às antigas fábricas de conserva e litografias sediadas no concelho de Setúbal, possuindo ainda uma
coleção de alfaias agrícolas (Michel Giacometti) e de ofícios tradicionais.” (DGPC, 2018)
Ilustração 120 – Edifícios Classificados nos limites da ARU. (ARU, 2015 ; TRIPADVISOR, 2018 ; SETÚBAL. Câmara Municipal, 2018)
135 “A Câmara Municipal de Setúbal recebeu no dia 20, em Lisboa, o Prémio Nacional “Mobilidade em
Bicicleta” atribuído pela Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, pelo trabalho
desenvolvido na promoção do uso deste meio de transporte.” (SETÚBAL, 2018)
Os limites, são constituídos por quebras físicas ou visuais entre dois espaços distintos.
Podem ser considerados barreiras que dividem e segregam espaços ou como
elementos que os interligam, pela particularidade de marcarem uma direcção. No caso
de Setúbal, os limites urbanos são marcados a Sul pelo rio Sado e a Nascente pela
Serra da Arrábida. São elementos que não permitem a permeabilidade urbana. Contudo,
serviram de orientação para a expansão urbana para norte e poente.
Os bairros, são uma área homogénea da cidade, em que o edificado tem características
semelhantes em relação ao restante espaço urbano. Na planta separamos os bairros
do núcleo histórico, devido à funcionalidade e características distintas. Os bairros, são
locais maioritariamente habitacionais. Por terem sido construídos posteriormente ao
centro histórico, relevam tipologias arquitectónicas distintas e escalas maiores. O núcleo
histórico, maioritariamente comercial, é caracterizado por uma construção densa. As
ruas são estreitas, e as tipologias arquitectónicas semelhantes.
“Cada individuo tem uma imagem própria e única que, de certa forma, raramente ou
mesmo nunca é divulgada, mas que, contudo, se aproxima da imagem pública e que,
em meios ambientes diferentes, se torna mais ou menos determinante, mais ou menos
aceite. Esta análise limita-se aos efeitos dos elementos físicos perceptiveis. Há também
outros factores influenciadores da imagem, tais como o significado social de uma área,
a sua função, a sua história ou, até, o seu nome.” (LYNCH, 2008, p.51)
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O primeiro momento, é marcado pelo limite imposto pela muralha medieval no território,
que condicionou o desenvolvimento do núcleo urbano e determinou a sua organização
espacial. A área delimitada pela fortificação, tornou-se rapidamente insuficiente dado o
crescimento urbano. No entanto, a expansão da vila para o exterior, provocou a perda
de funções para a qual tinha sido projectada. A muralha foi fragmentada de modo a
permitir a criação de novos eixos urbanos, que facilitassem a circulação entre o interior
e o exterior do núcleo medieval.
Este estudo, permite-nos concluir que a desordenada evolução urbana, provocou uma
destruição irreversível de parte da herança histórica. Sacrificou importantes
testemunhos da memória urbana, que poderiam caracterizar a sua identidade.
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136 Fonte: Lopes, José M.; Pereira, Alberto M. S., 2015, Pp. 296 -314
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
LISTA DE ANEXOS
Rua Guilherme
Abel Maria Alegria Gomes 1926 1935 Bandani; Dandy; Babino
Fernandes
Abel Maria Sadina Praia do Seixal 1926 1935 Bandani; Dandy; Babino
A.Gallè
(activa em ___ ___ ___ ___ ___
1903)
Doca antiga
Agostinho,
___ (Futura Doca 1891 1897 ___
Chagas & C.ª
Delpeut)
143
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Alluia, Farol
Vitoriosa ___ 1917 1919 ___
& C.ª
Mártire da
Álvaro, Rosa.
cidade de Praia da Ribeira 1919 ___ ___
Lda
Setúbal
Alves
Correia, Lda
___ Vila Maria ___ ___ ___
(activa em
1918)
Alves,
Rua Oriental Do Alves e Fragoso; Lili; Madelaine;
Fragoso & Aurora 1894 1911
Mercado Palmira.
C.ª
Alves,
Rua Oriental Do Alves e Fragoso; Lili; Madelaine;
Mendanha & Aurora 1912 1967
Mercado Palmira.
C.ª, Lda
144
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Andorinha,
Glória Estrada do
Fernandes & 1918 1920 ___
Compensadora Viso
C.ª,Lda
Rua
Ange Aleno ___ Rodrigues de 1917 1926 ___
Freitas
Bocage; C. Industrielle;
Cristophe Colomb; Cristóvão
António Doca Delpeut
___ 1896 1909 Colombo; Fleur de Nantes; Lé
Ascenção & C.ª e Fontainhas
Kerbéc; Les Superles;
W.Gruis.
António Carlos Santa Rita Bairro Melo 1926 1931 Dundee; La Sadine
Ribeiro
António Carmo
Provisório (ativa ___ ___ ___ ___ ___
em 1916)
Rua Camilo
Castelo
António Fradique, Branco, 4 e
Alice 1927 1932 Calipolense; L´Irreprochable
Lda Rua
Rodrigues de
Freitas
António Henrique Rosária Rua General 1918 1939 Beauté; Eglantina Costa;
Costa (sucessor Gomes Freire Rosária.
de Costa, Rosa &
C.ª)
145
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
António Viana
___ ___ ___ ___ ___
(activa em 1915)
Rua Camilo
A Progressiva,
___ Castelo 1919 1920 ___
Lda
Branco
Araújo & Bastos, Lutadora Estrada da 1932 1949 Bayard; Fabíola; Gattuso;
Lda Graça, 250 Hors d´Oeuvre; Maitrê
d´Hotel; Savoy; 85
Estrada da
Artur, Marques, Graça (à
Maria Luísa 1918 1919 ___
Seabra & C.ª Lda Pedra
Furada)
Augusto Mário Portugália Rua António 1924 1937 Bussaco; Luso; Nela;
dos Santos José Batista Portugália.
146
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Beirão; Monteiro & Estremadura Rua António José 1918 1918 ___
C.ª (em Comandita) Batista
Espada; Iris; Le
Benzinho, Lda
Aliança Praia do Seixal, 97 ___ ___ Soir; Madalena;
(activa em 1932)
Monica; Nicole.
Bernardo dos
Flôr de Setúbal VilaMaria 1931 1934 ___
Santos
Vale de D. Inês (à
Berthilia, Lda Berthilia 1927 1939 ___
estrada da Graça)
Branco e Jacinto
Etelvina Estrada da Graça ___ ___ ___
(activa em 1902)
Branco, Miguel e
Viúva Branco Fontainhas 1905 1909 ___
Rocha
Bruno, Artur,
Liberta Vila Maria 1910 1912 ___
Raimundo & C.ª
147
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
148
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Carlos, Cruz e Fonte Nova Rua Alberto Costa 1917 ___ ___
Português & C.ª
Carlos Schmidt & S. José Vale de D. Inês (à 1932 1935 Fleur d´Amour; Le
C.ª, Lda Estrada da Graça) Gourmond; Maître
d´Hotel; Savoy Brand.
Carlos & Veiga, S. José
Estrada da Graça 1927 ___ ___
Lda
Carvalho & C.ª ___ Travessa das Lobas 1888 1906 ___
Carvalho, Nunes Sol Nascente Vila Maria 1924 1938 Bon Manger; Graciose;
& Silva, Lda. Janeca; Sol Nascente.
Casimiro Martins Santa Rita Bairro Melo e ___ ___ Acácia; Alleluia; Ran-
(activa em 1930) Estrada da Rasca Tan-Plan.
Castelo Branco & Castelo Branco Estrada da Graça, 1913 1929 ___
C.ª ( em 172
Comandita)
149
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Coelho, Pinto & Latine Praia da ___ ___ Afternoon; Labutes; Latine.
C.ª (activo em Saboaria
1912)
Conservas ___ Rua Almeida 1924 1978 Albatros; António Alonso; Hijos;
António Alonso, Garrett, 54 Ardora; Arose; La Corrida; Lion;
Lda. d´Argent; Palácio de Oriente;
Palais d´Orient; Pero Pereiro;
Ripal.
150
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
151
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Costa, Rosa & Rosária Rua General 1918 1939 Beauté; Eglantina Costa;
C.ª, Sucr. Gomes Freire Rosária.
Daniel & De ___ Rua da Saúde 1918 1927 Arlesia; Begum; Gilie; Gilbert;
Raymond, Lda. Les Nereides; Mordal; Pactol;
Pussy; Raimond Fréres;
Sardines de Alliés
152
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Dias; Costa & C.ª A Social Azinhaga dos 1919 1925 ___
Trabalhadores
Domingos José Estrela do Estrada da 1889 1936 Edgar; Etoile du Nord; Francisco
da Costa Norte Graça Costa; Hilda; La Chanteuse; Lopo
Brand.
Durão & Correia Unida
Rua General 1921 1922 ___
Gomes Freire
Empresa ___ Estrada da 1927 1968 For You; Odeon; Optima; Pacific;
Exportadora Graça, 232 Ripaille; Santa Clara; Saora;
Lusitana, Lda Seabelle; Tivoli; Tropa.
153
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
154
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Ferreira, Santos & Central Parque das 1911 1927 Gloire de Peary; Le Mundril.
C.ª Escolas
155
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Feu Hermanos, Lda. ___ Rua da 1933 1971 Blanche Fleur; Breton; La
Saúde, 82 Rose; Manzana, Meteoro;
Monastere; Oca; Palito;
Palo; Presidente; Queen
Mane; Roses de Bretagne;
Trio; 63.
Figueiras & C.ª, Lda. Lucta Estrada da 1910 1938 Alpha; Ceres; Hena; Lisboa.
graça
Forreta, Dias & C.ª Harmonia Rua José 1918 1928 ___
Carlos da
Maia
Fragata Santos & C.ª ___
Sitio das 1906 1912 ___
Barrocas (às
Fontaínhas)
Fragoso, Forte & C.ª Aurora Rua Ocidental 1886 1912 ___
do Mercado
156
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Francisco Alves & Estrela do Rua Camilo 1906 1973 Ainda Melhor; Best Cook; Bom
Filhos, Lda Sul Castelo Cozinheiro; Camélias de
Branco, 23 Portugal; Encore Mieux; Estrela
do sul; Fancy; La Chance; La
Force; Marca Corona; Maristela;
Pêcheures; Pescatore; Roi des
Pêcheurs.
Francisco António Esperança Rua dos 1932 1934 Baisers du portugal; Cadeau;
Tenório Trabalhadores Désirable.
do Mar
157
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Gaspar & C.ª, Lda. Pérola Rua Camilo 1918 1929 ___
Castelo Branco
Gaspar, Praia & ___
Largo das Areia 1917 ___ ___
Amorim
Gomes, Campos & Sagres Estrada da Rasca, 1919 1937 Angela; Gomes;
C.ª 20 Campos; Sagres.
158
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Imprex Edouard ___ Avenida Luísa ___ ___ Caporal; Imprex; Le Petit; Le
Menjuzan Todi Ski; Le Vieux Pêcheur
159
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
J. Herlitz, Filhos & C.ª ___ Ladeira de São 1897 1908 ___
Sebastião
João da Cruz Gargalo Leão Travessa da 1919 1971 Dahlia; Eunice; Manolita;
Fábrica Aurora, 1 Perle de L´Ocean;
Princesita; Restaurant.
João Maques Câncio & Câncio Rua Oriental do 1887 1929 Jean Nantes; Les
C.ª Mercado, 6 Hortenses; Mione.
160
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
José Antunes Fragoso ___ Rua do Barão do Rio ___ 1942 ___
Zêzere
José de Sousa & C.ª ___ Alto da Brasileira 1914 1924 ___
José Inácio Tainha ___ Praia do Seixal (num 1917 1918 ___
barco)
José Maria Vagueiro ___ Rua Garcia Peres, ___ 1942 Navy; Vagueiro.
15
José Martins do Carmo Areia Rua Camilo Castelo 1906 1913 ___
Mello Amarela Branco, 7
161
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
J. Silva & Ledo, Lda Sport Parque das 1916 1945 Berry; Bocage;Luize
Escolas Koefelec; Silledo;
Victória Futbol-Club.
Júdice Fialho & C.ª ___ ___ ___ ___ Desirée; Falstaff;
(activa em 1946) Galleon; J. A. J. F. ;
Marie Elisabeth;
Sardinha Vestida.
Lage, Ferreira & C.ª, Esperança Rua dos 1935 1938 Cadeau; Cidade;
Lda Trabalhadores do Condestável; Lage;
Mar Nunal; Nuno.
Laderset & C.ª, Lda. ___ Estrada da Graça 1916 1916 ___
Latina, Coelhos, Lda ___
Fontainhas e Rua ___ 1942 Arrabide; Branc´Annes;
dos Trabalhadores Latina; Les Eclaireurs;
do Mar,18 Les Joyeuses; Lumíere.
Leal, Silva & C.ª Pátria Rua Rodrigues de 1919 1925 ___
Freitas
Leon Delpeut & C.ª ___ Doca Delpeut 1897 1912 ___
Lima; Assis & C.ª, Lda. ___ Vale de D. Inês (à 1919 1926 ___
Estrada da Graça)
Lima, Pinto & C.ª, Lda Bertília Estrada da Graça 1920 1933 ___
(à Pedra Furada)
Lopes, Alves & C.ª ___ Bairro Alves da 1916 ___ ___
Silva
162
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Lopes da Cruz & Oceano Rua Guilherme 1933 1971 A. B. C.; Conservadores;
C.ª, Lda. Gomes Fernandes Corbeille; Corbelha; De
E Rua Oriental do Tomaz; Dominga; Douro;
Mercado,22 Edith; Galgo; Ganso; Gávea;
Heliades; L. C.; Luar; Luzas;
Marão; Músico; Neiva;
Oceanides; Orquídeas;
Poker; Sesta; Siesta; Tic
Tac; Veiga; Vitamar.
Lopes, Silva & C.ª Rio Sado Alto da Brasileira 1916 1921 ___
Lopez Valeras, Bela Vista Rua Camilo 1919 1966 Artes; Bela Vista; Maruxa;
Lda. Castelo Branco, 3 Pearls; Pepiño; Pérolas;
Queen; Selection; Traineira;
Valência; Valeras.
Luças & C.ª, Lda. Arrábida Rua Mártires da 1957 1970 Aleluia; Gibraltar; Lucas;
Pátria Mauricia; Mimo; Pax; Paz.
Lúcio Gomes ___
___ 1924 1931 ___
Correia
Luís Branco, Lda. A Avenida Luísa 1913 1978 Bela Capri; Bull-Dog; Cést
Tentadora Todi, 131 ça Qu’est Chic!; Désiré;
Flore Amie; Laika; La
Tentatrice; Ramona.
163
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Manteigas & C.ª 1º de Maio Avenida Todi, 404 1915 1932 ___
Manuel dos Santos A Peixeira Vale de D. Inês (à 1927 1965 Excelente; Fidelité; Peixeira.
Forreta Estrada da Graça)
Mariano; Lopes & União Fontainhas e Rua 1905 1971 Arrabide; Branc´Annes; La
C.ª, Lda. dos Trabalhadores Latine; Les Eclaireurs; Les
do Mar, 18 Six Amies; Les Joyeuses;
Lumiére; Marilopes.
Mariano, Martins & 15 de Rua Ocidental do 1910 1921 D´Enée; Jeanne d´Arc:
C.ª Outubro Mercado Jetulia; Les Savoureuses.
164
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Maques, Neves & 1º de Rua Camilo Castelo 1921 1984 Aero; Croix d´Or; Cruz
C.ª, Lda. Março Branco, 65 d´Ouro; Continent;
Lealdade; Levant; Loyante;
Loyauté; Mariolinde;
Marques Neves; Mathilde;
Matilde; Miss Univers;
Neca; Pere; Regil; So Mar;
Soo; Sporting; St. Croix;
Water Lillies; Yor.
165
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Martins & Correia, Pompeia Avenida Luísa Todi, 1932 1932 La Assurance;La Marcor;
Lda. 143 Pompeia.
Martins, Tainha & ___ Bairro Alves da Silva 1916 ___ ___
Praia
Matos & Martins, Troiana Rua Camilo Castelo 1918 1920 ___
Lda. Branco
Mello & Rego Sol Rua Camilo Castelo 1919 1919 ___
Branco
Mendanha & C.ª ___ Avenida Todi (ao 1906 1911 ___
Mercado)
Monteiro & Envia, Universal Bairro Alves da Silva 1920 1926 ___
Lda
166
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Moraes, Costa & Martins ___ Sítio dos Pinheirinhos 1913 1914 ___
Moraes & Filhos ___ Estrada da Graça, 232 1921 1930 ___
Morais, Perdigão & C.ª ___ Sítio dos Pinheirinhos 1914 1915 ___
Morel António Silva e Peixinho Sítio dos Pinheirinhos ___ ___ ___
Peixinho & C.ª (activa em
1919)
M. Stechaner, Lda. Bela Vista Estrada das Areias e 1913 1915 ___
Avenida Todi, 272
Neves, Ribeiro & C.ª Pensativa Rua Guilherme Gomes 1916 1918 ___
Fernandes
Nunes, Costa; Vale & C.ª Capricho Ladeira de São 1896 1897 ___
Sebastião
Oliveira & C.ª, Lda. Bem Vinda Rua das Alcaçarias, 5 1918 1924 ___
Oliveira, Dias & C.ª Areia Rua Camilo Castelo 1911 ___ ___
Amarela Branco, 7
Palmeiro, Rodrigues & C.ª Âncora Rua Guilherme Gomes 1918 1919 ___
Fernandes
Paneira, Rodrigues & C.ª Âncora Avenida Todi (à 1918 1921 ___
saboaria)
Paulo, Avelino & Paulo, C.ª Arrábida Estrada da Rasca 1918 1919 ___
167
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Pedro, Callé & C.ª Futuro Praia da Saboaria 1909 1912 ___
Pereira & C.ª, Lda. Santa Rita Rua José Carlos 1917 1924 ___
da Maia
P. Monteiro & C.ª, ___ Rua da Cordoaria, 1906 1953 Adalbert; Bayard; Dolphin;
Lda. 17 Ilka; Matelot; Mont-Joie;
Night and Day; PM; Triton
Prompto, Branco & Tentadora Avenida Todi, 139 1915 1924 ___
C.ª
168
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Ramirez & Filhos, ___ Rua da Saúde, 88 1931 1965 Balito; Cocagne; Fredo;
Lda. Gabriel Brand; Les
Sublimes; Lovely; Non
Plus Ultra; Racol; Ramira;
Ramirez, Renommé.
Ramos, Reynaud & ___ Rua Guilherme 1892 1942 Laurinda; Ramos;
C.ª, Lda. Gomes Reynaud; Robinson
Fernandes Crusoé.
René Beziers & C.ª ___ Estrada da Rasca 1901 1919 ___
Ribeiro & Nunes, Outão Rua Camilo 1918 1935 Salácia; Torre do Outão
Lda, Sucr. Castelo Branco
Ricardo Boto & C.ª Era Nova Rua da Saúde 1916 1928 ___
Rodrigues & C.ª, Mira Mar Estrada da Graça 1924 1931 ___
Lda.
Romão, Pêra & C.ª Aliança Rua Oriental do 1919 1928 ___
Algarve Lago
Ruas Gomes & C.ª Estremadura Rua António José 1918 1920 ___
Batista
169
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
170
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Sebastião José ___ Avenida Luísa ___ 1942 Alegria; Deux Amis; La
Machado Júnior Todi, 394 Cigogne; La Pêcheur; Les
Aieuls.
171
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
172
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Sociedade Era Nova Era Nova Praia do Seixal 1916 1916 ___
Société Anonyme des Saupiquet Estrada da 1904 1987 August Gillett; Bernot;
Établissements Arsène Rasca, 21 e Cesar; Lamote & C.ª;
Saupiquet Doca Delpeut Saint-Louis; Saupiquet;
Vinet & C.ª; Zakouska.
Soromenhos & Victor, A Colonial Rua da Saúde, 1929 1952 A Colonial; Contesse;
Lda. 82 Duchesse; Edelweiss;
Fisherboy; Le
Croissants; Marquise.
Soromenhos & Victor, Eva Rua da Saúde, 1929 1952 A Colonial; Contesse;
Lda. 83 Duchesse; Edelweisse;
Fisherboy; Le
Croissants; Marquise.
173
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Tenório & Madeira, Progresso Rua Oriental do 1923 1966 Batalha; Sintra; Jockey;
Lda. Mercado, 4 Notre Dame de Paris.
União Industrial, Lda. ___ ___ ___ ___ Beka; Greatness; Jolavio;
Lisdoro; Lisette; Lucky
Stricky; Pancada da
Felicidade; Roas Angélica;
Roses d’Algarve; Roses de
Setúbal; Unilda; Witness.
Vasco da Gama, Lda. Vasco da Estrada da 1954 1995 Cabral; Cabralinas; Dolly;
Gama Graça, 208 Lusíadas; Triunfantes;
Vasco da Gama.
174
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
Viegas, Dias & Luctadora Estrada da 1914 1942 Bayard; Fabíola; Hors
C.ª, Lda. Graça (às d’Oeuvre; L´Apin;
Fontainhas)
Viegas & Lopes, Victória Rua Camilo 1931 1992 Adonis; Agerona; Cardoso;
Lda. Castelo Canzonetta; El Dragón;
Branco, 10 Giannina; Il Pinguino; Mara;
Miss Atlantic; Orlando; Regina;
Sciatore; Surprise; Vénus;
Viegas & Lopes.
175
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana.
176
Inês Pinto da Cruz
Setúbal : Memória e Identidade Urbana