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REFLEXÕES SOBRE

A TEORIA DA
APRENDIZAGEM
SIGNIFICATIVA
Pedro Fernando Rosa do AMARAL - Cap Int
Ch SCP Div Ens
RESUMO Ensino, elegendo-o como um dos vetores
do Processo de Transformação da Força
Melhorar a eficiência do processo ensi- (PROFORÇA) marcando a passagem da
no-aprendizagem é uma constante, mas Era Industrial para a Era do Conhecimento.
entender como nosso cérebro apropria-se Entender como aprendemos é funda-
do conhecimento é um grande desafio. mental para a melhoria do processo de
David Ausubel trouxe teorias que vieram ensino. E por que alguns conhecimentos,
a agregar para uma melhor compreensão mesmo após muitos anos, ainda estão
da práxis pedagógica, sua contribuição foi acessíveis na nossa memória?
ímpar, com a chamada Teoria da Apren- Assim sendo, faremos algumas refle-
dizagem Significativa, quando o mesmo xões sobre a Teoria da Aprendizagem Sig-
defende a importância de uma prepara- nificativa, do psicólogo americano e pes-
ção prévia para “ancorar” o conhecimento quisador em educação David Paul Ausubel
(subsunçores). (1918-2008) que deixou uma contribuição
extremamente relevante e ainda contem-
Palavras-chave: Ensino; Aprendizagem porânea para o ensino.
Significativa; Ausubel; e Subsunçores. Motivado por uma demanda pessoal,
Ausubel, filho de família judia e pobre, de
imigrantes da Europa Central, cresceu in-
I- INTRODUÇÃO satisfeito com a educação que recebera.
Revoltado contra os castigos e humilha-
A aprendizagem significativa como um ções pelos quais passara na escola, afir-
conceito subjacente a subsunçores, es- mava que a educação era violenta e rea-
quemas de assimilação, internalização cionária, relatando um dos episódios que o
de instrumentos e signos, construtos marcou profundamente nesse período:
pessoais e modelos mentais, significa- “Escandalizou-se com um palavrão que
dos compartilhados e integração cons- eu, patife de seis anos, empreguei cer-
trutiva de pensamentos, sentimentos e to dia. Com sabão de lixívia lavou-me
ações O conhecimento humano é cons- a boca. Submeti-me. Fiquei de pé num
truído; a aprendizagem significativa sub- canto o dia inteiro, para servir de escar-
jaz essa construção. (J.D. Novak) mento a uma classe de cinquenta meni-
A educação é fundamental para a trans- nos assustados (…)”. Para ele, “A escola
formação e melhoria da qualidade de vida é um cárcere para meninos. O crime de
de qualquer sociedade. Assim sendo, o todos é a pouca idade e por isso os car-
Exército Brasileiro sempre prioriozou o cereiros lhes dão castigos.”
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Após sua formação acadêmica, em terri- va. Os organizadores se tornarão mais efi-
tório canadense resolve dedicar-se à edu- cazes se forem apresentados no início das
cação no intuito de buscar as melhorias tarefas de aprendizagem para que suas
necessárias ao verdadeiro aprendizado. To- propriedades possam integrar-se como
talmente contra a aprendizagem puramen- elemento atrativo para o aluno, visando
te mecânica, torna-se um representante do provocar o interesse e desejo de apren-
cognitivismo, e propõe uma aprendizagem der. Sua formulação deve contar com um
que tenha uma “estrutura cognitivista”, de vocabulário bastante familiar ao aluno, de
modo a intensificar a aprendizagem como modo que, sua organização, bem como a
um processo de armazenamento de in- aprendizagem sejam consideradas como
formações que, ao agrupar-se no âmbito material de elevado valor pedagógico.
mental do indivíduo, seja manipulada e uti-
lizada adequadamente no futuro, através II- DESENVOLVIMENTO
da organização e integração dos conteú-
dos aprendidos significativamente. Atualmente quase não se fala mais em
Segundo Ausubel, a aprendizagem sig- estímulo, resposta, reforço positivo, obje-
nificativa no processo de ensino necessita tivos operacionais, instrução programada
fazer algum sentido para o aluno e, nesse e tecnologia educacional. Estes concei-
processo, a informação deverá interagir tos fazem parte do discurso usado em
e ancorar-se nos conceitos relevantes já uma época na qual a influência compor-
existentes na estrutura do aluno. O autor tamentalista na educação estava no auge
entende que a aprendizagem significativa e transparecia explicitamente nas estraté-
se verifica quando o banco de informa- gias de ensino e nos materiais educativos.
ções no plano mental do aluno se revela, Nessa época, o ensino e a aprendizagem
através da aprendizagem por descoberta eram enfocados em termos de estímulos,
e por recepção. O processo utilizado para respostas e reforços, não de significados,
as crianças menores é o de formação de com destaque para a corrente behaviorista
conceito, envolvendo generalizações de de Skinner e Pavlov, que teve um ápice na
interesses específicos para que, na idade Era Industrial com a metodologia da Taxio-
escolar já tenham desenvolvido um con- nomia de Benjamim Bloom, da hierarqui-
junto de conceitos, de modo a favorecer o zação do conhecimento.
desenvolvimento da aprendizagem signifi- Na Era do Conhecimento, na aldeia
cativa. Esses conceitos deverão ser adqui- global, interligada pelas redes sociais, as
ridos através de assimilação, diferenciação palavras de ordem são aprendizagem sig-
progressiva e reconciliação integrativos de nificativa, mudança conceitual e construti-
conceitos. Para tanto, Ausubel sugere para vismo. Um bom ensino deve ser constru-
esse processo, a utilização de organizado- tivista, promover a mudança conceitual e
res prévios para, de fato, ancorar a nova facilitar a aprendizagem significativa. No
aprendizagem, levando o aluno ao desen- entanto, a prática docente ainda parece
volvimento de conceitos subsunçores, de estar presa ao behaviorismo, mas o discur-
modo a facilitar a aprendizagem subse- so contemporâneo é cognitivista/construti-
quente. vista/significativo.
Segundo o autor, os organizadores pré- Aprendizagem significativa segundo Au-
vios são informações e recursos introdu- subel é o processo através do qual uma
tórios, que devem ser apresentados antes nova informação (um novo conhecimento)
dos conteúdos da matriz curricular, uma se relaciona de maneira não arbitrária e
vez que tem a função de servir de ponte substantiva (não literal) à estrutura cogni-
entre o que o aluno já sabe e o que ele tiva do aprendiz. É no curso da aprendiza-
deve saber para que o conteúdo possa ser gem significativa que o significado lógico
realmente aprendido de forma significati- do material de aprendizagem se transfor-

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ma em significado psicológico para o su- gem significativa.
jeito. No entanto, as ideias de Ausubel Segundo Ausubel, a estrutura cognitiva
(1968) foram aproveitadas, mais tarde, por tende a organizar-se hierarquicamente em
Novak (1984) e Gowin (1996). termos de nível de abstração, generalida-
Não arbitrariedade e substantividade de e inclusividade de seus conteúdos. A
são as características básicas da apren- emergência de significados para os mate-
dizagem significativa. Não arbitrariedade riais de aprendizagem tipicamente reflete
quer dizer que o material potencialmente uma relação de subordinação à estrutura
significativo se relaciona de maneira não cognitiva. Conceitos e proposições po-
arbitrária com o conhecimento já existen- tencialmente significativos ficam subordi-
te na estrutura cognitiva do aprendiz. Ou nados ou, na linguagem de Ausubel, são
seja, o relacionamento não é com qualquer “subsumidos” sob idéias mais abstratas,
aspecto, mas sim com tópicos especifica- gerais e inclusivas (os “subsunçores”).
mente relevantes, os quais Ausubel cha- Este tipo de aprendizagem é denominado
ma subsunçores. O conhecimento prévio aprendizagem significativa subordinada. É
serve de matriz ideacional e organizacio- o tipo mais comum. Se o novo material é
nal para a incorporação, compreensão e apenas corroborante ou diretamente deri-
fixação de novos conhecimentos quando vável de algum conceito ou proposição já
estes “se ancoram” em conhecimentos es- existente, com estabilidade e inclusivida-
pecificamente relevantes (subsunçores) de, na estrutura cognitiva, a aprendizagem
preexistentes na estrutura cognitiva. subordinada é dita derivativa. Quando o
Substantividade significa que o que é in- novo material é uma extensão, elaboração,
corporado à estrutura cognitiva é a subs- modificação ou quantificação de conceitos
tância do novo conhecimento, das novas ou proposições previamente aprendidos
ideias, não as palavras precisas usadas significativamente, a aprendizagem subor-
para expressá-las. O mesmo conceito ou a dinada é considerada correlativa.
mesma proposição podem ser expressos Quando o material de aprendizagem não
de diferentes maneiras, através de distin- é potencialmente significativo (não relacio-
tos signos ou grupos de signos, equivalen- nável de maneira substantiva e não arbi-
tes em termos de significados. Assim, uma trária à estrutura cognitiva), não é possível
aprendizagem significativa não pode de- a aprendizagem significativa. De maneira
pender do uso exclusivo de determinados análoga, quando o desequilíbrio cognitivo
signos em particular. gerado pela experiência não assimilável é
A essência do processo da aprendiza- muito grande, não ocorre a acomodação.
gem significativa está, portanto, no rela- Tanto em um caso como no outro, a mente
cionamento não-arbitrário e substantivo de fica como estava; do ponto de vista ausu-
ideias simbolicamente expressas a algum beliano não foram modificados os subsun-
aspecto relevante da estrutura de conheci- çores existentes e do piagetiano não foram
mento do sujeito, isto é, a algum conceito construídos novos esquemas de assimila-
ou proposição que já lhe é significativo e ção. Portanto, interpretar a assimilação, a
adequado para interagir com a nova infor- acomodação e a equilibração piagetianas
mação. É desta interação que emergem, em termos de aprendizagem significativa,
para o aprendiz, os significados dos mate- desde que haja a devida maturação bioló-
riais potencialmente significativos (ou seja, gica do instruendo. Assimilar e acomodar
suficientemente não arbitrários e relacio- podem ser interpretados em termos de dar
náveis de maneira não arbitrária e subs- significados por subordinação ou por supe-
tantiva a sua estrutura cognitiva). É tam- rordenação.
bém nesta interação que o conhecimento A interação social implica um mínimo de
prévio se modifica pela aquisição de novos duas pessoas intercambiando significa-
significados e é crucial para a aprendiza- dos. Implica também um certo grau de re-

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ciprocidade e bidirecionalidade, um envol- te devido à linguagem e à simbolização
vimento ativo, de ambos os participantes. que a maioria das formas complexas de
A aquisição de significados e a interação funcionamento cognitivo se torna possí-
social são inseparáveis (Vygotsky). As pa- vel.”
lavras, por exemplo, são signos linguísti- Pode-se distinguir entre representações
cos. Certos gestos também são signos. E mentais analógicas e proposicionais. As
para internalizar signos, o ser humano tem imagens visuais exemplificam tipicamen-
que captar os significados já compartilha- te as representações analógicas, mas há
dos socialmente. Ou seja, tem que passar outras como as auditivas, as olfativas, as
a compartilhar significados já aceitos no tácteis. As representações proposicionais
contexto social em que se encontra. E é são “tipo-linguagem”, mas trata-se de uma
através da interação social que isso ocor- linguagem que não tem a ver com a lín-
re. É só através dela que a pessoa pode gua que falamos nem com a modalidade
captar significados e confirmar que os que de percepção, é uma linguagem própria da
está captando são aqueles compartilhados mente que poderíamos chamar de “men-
socialmente para os signos em questão. talês”, uma espécie de “linguagem de má-
Para Ausubel, o ser humano tem a gran- quina”.
de capacidade de aprender sem ter que Há psicólogos cognitivos para os quais
descobrir. Exceto em crianças pequenas, a cognição deve ser analisada exclusiva-
aprender por recepção é o mecanismo hu- mente em termos de representações pro-
mano por excelência para aprender. As no- posicionais, ou seja, não há necessidade
vas informações, ou os novos significados, de supor que as imagens são um tipo es-
podem ser dados diretamente, em sua pecial de representação mental. Para eles,
forma final, ao aprendiz. É a existência de os “proposicionalistas”, as imagens podem
uma estrutura cognitiva prévia adequada ser reduzidas a representações proposi-
(subsunçores especificamente relevantes) cionais; seriam também processadas no
que vai permitir a aprendizagem significa- “mentalês”. Mas existem outros, os “ima-
tiva (relacionamento não arbitrário e subs- gistas” que não aceitam esta posição e ar-
tantivo ao conhecimento prévio). Mas a gumentam que as imagens têm identidade
aprendizagem por recepção não é instan- própria, tanto é que podem ser rotadas,
tânea, requer intercâmbio de significados. transladadas e esquadrinhadas mental-
Na ótica vygotskyana, a internalização de mente. Mas há uma terceira via, uma sínte-
significados depende da interação social, se, uma terceira forma de construto repre-
mas, assim como na visão ausubeliana, sentacional, chamada modelos mentais,
eles podem ser apresentados ao aprendiz proposta por Philip Johnson-Laird (1983).
em sua forma final. O indivíduo não tem Para ele, proposições são representações
que descobrir o que significam os signos de significados, totalmente abstraídas, que
ou como são usados os instrumentos. Ele são verbalmente expressáveis. O critério
se apropria (reconstrói internamente) des- de expressabilidade verbal distingue John-
sas construções via interação social. Outro son-Laird de outros psicólogos cognitivos.
argumento em favor da relevância da inte- Imagens são representações bastante es-
ração social para a aprendizagem signifi- pecíficas que retêm muitos dos aspectos
cativa é a importância que Ausubel atribui perceptivos de determinados objetos ou
à linguagem (à língua, rigorosamente fa- eventos, vistos de um ângulo particular,
lando) na aprendizagem significativa: com detalhes de uma certa instância do
“Para todas as finalidades práticas, a objeto ou evento. Modelos mentais são re-
aquisição de conhecimento na matéria presentações analógicas, um tanto quan-
de ensino depende da aprendizagem to abstraídas, de conceitos, objetos ou
verbal e de outras formas de aprendiza- eventos que são espacial e temporalmen-
gem simbólica. De fato, é em grande par- te análogos a impressões sensoriais, mas

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que podem ser vistos de qualquer ângulo significativa (1968, pp. 37 e 38), de certa
(Sternberg, 1996, p. 181). forma leva em consideração o lado afetivo
Para Johnson-Laird, ao invés de uma da questão: a aprendizagem significativa
lógica mental, as pessoas usam modelos requer não só que o material de aprendi-
mentais para raciocinar. Modelos mentais zagem seja potencialmente significativo
são como blocos de construção cognitivos (i.e., relacionável à estrutura cognitiva de
que podem ser combinados e recombina- maneira não arbitrária e não literal), mas
dos conforme necessário. Como quaisquer também que o aprendiz manifeste uma
outros modelos, eles representam o objeto disposição para relacionar o novo material
ou a situação em si; sua estrutura capta a de modo substantivo e não-arbitrário a sua
essência (se parece analogicamente) des- estrutura de conhecimento.
ta situação ou objeto. O aspecto essencial Independente de quão potencialmente
do raciocínio através de modelos mentais significativa é a nova informação (um con-
não está só na construção de modelos ceito ou uma proposição, por exemplo),
adequados para representar distintos esta- se a intenção do sujeito for apenas a de
dos de coisas, mas também na habilidade memorizá-la de maneira arbitrária e literal,
de testar quaisquer conclusões a que se a aprendizagem só poderá ser mecânica.
chegue usando tais modelos. A lógica, se Nessa disposição para aprender pode-se
é que aparece em algum lugar, não está perceber a importância do domínio afetivo
na construção de modelos mentais e sim na aprendizagem significativa já na formu-
na testagem das conclusões pois esta im- lação original de Ausubel. Mas foi Joseph
plica que o sujeito saiba apreciar a impor- D. Novak (1977, 1981) quem deu um toque
tância lógica de falsear uma conclusão, e humanista à aprendizagem significativa.
não apenas buscar evidência positiva que Novak é co-autor da segunda edição da
a apoie (Hampson e Morris, 1996, p. 243). obra “Educational psychology: a cognitive
Contrariamente a modelos conceituais, view” (1978, 1980, 1983) e durante muito
que são representações precisas, consis- tempo trabalhou no refinamento, testagem
tentes e completas de eventos ou objetos e divulgação da teoria da aprendizagem
e que são projetadas como ferramentas significativa, a tal ponto que esta teoria de-
para facilitar acompreensão ou o ensino, veria ser, hoje, a teoria de Ausubel e No-
modelos mentais podem ser deficientes vak. Porém Novak tem o que ele chama de
em vários aspectos, confusos, instáveis, sua teoria de educação (ibid.):
incompletos, mas devem ser funcionais. A aprendizagem significativa subjaz à
Eles evoluem naturalmente. Testando seu integração construtiva entre pensamen-
modelo mental, a pessoa continuamente o to, sentimento e ação que conduz ao en-
modifica a fim de chegar a uma funcionali- grandecimento (“empowerment”) humano.
dade que lhe satisfaça. É claro que os mo- Para Novak, uma teoria de educação deve
delos mentais de uma pessoa são limitados considerar que seres humanos pensam,
por fatores tais como seu conhecimento sentem e agem e deve ajudar a explicar
e sua experiência prévia com estados de com se pode melhorar as maneiras através
coisas similares e pela própria estrutura do das quais as pessoas fazem isso. Qualquer
sistema de processamento humano (Nor- evento educativo é, de acordo com Novak,
man, apud Gentner e Stevens, 1983, p. 7). uma ação para trocar significados (pensar)
Aprendizagem significativa em uma e sentimentos entre aprendiz e professor.
visão humanista: na teoria de Novak a A questão da troca de significados já
aprendizagem significativa foi focalizada apareceu quando se falou em Vygotsky
de um ponto de vista basicamente cogniti- e será retomada mais adiante na teoria
vo. Obviamente, todos sabemos que o ser de ensino de Gowin (1981). Aqui, basta
humano não é só cognição. Ausubel, ao ex- considerar que o objetivo dessa troca é a
plicitar as condições para a aprendizagem aprendizagem significativa de um novo co-

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nhecimento contextualmente aceito. Mas em colaboração com companheiros mais
Novak se refere também a uma troca de capazes. O ensino, portanto, deve aconte-
sentimentos. Um evento educativo, segun- cer na zona de desenvolvimento proximal
do ele, é também acompanhado de uma e, de certa forma, determinar o limite su-
experiência afetiva. A predisposição para perior desta zona. Na interação social que
aprender, colocada por Ausubel como uma deve caracterizar este ensino, o professor
das condições para a aprendizagem sig- é o participante que já internalizou signifi-
nificativa, está, para Novak, intimamente cados socialmente compartilhados para os
relacionada com a experiência afetiva que materiais educativos do currículo e procura
o aprendiz tem no evento educativo. Sua fazer com que o aprendiz também venha
hipótese é que a experiência afetiva é po- a compartilhá-los. O processo de troca de
sitiva e intelectualmente construtiva quan- significados aí implícito está muito claro no
do o aprendiz tem ganhos em compreen- modelo de ensino de Gowin, descrito a se-
são; reciprocidade, a sensação afetiva é guir.
negativa e gera sentimentos de inadequa- Gowin é um autor muito conhecido por
ção quando o aprendiz não sente que está um instrumento heurístico que desenvol-
aprendendo o novo conhecimento. Pre- veu para analisar a estrutura do proces-
disposição para aprender e aprendizagem so de produção do conhecimento ou para
significativa guardam entre si uma relação “desempacotar” conhecimentos documen-
praticamente circular: a aprendizagem sig- tados (por exemplo, em artigos de pesqui-
nificativa requer predisposição para apren- sa), o chamado “Vê de Gowin” ou “Vê epis-
der e, ao mesmo tempo, gera este tipo de temológico” (Novak e Gowin, 1984, 1988,
experiência afetiva. 1996; Moreira, 1993b). Mas sua teoria de
Todas estas teorias são construtivistas educação, apresentada na obra Educating
e a aprendizagem significativa subjaz à (Gowin, 1981), é muito mais do que o Vê.
construção humana. Novak vai além e diz, Desta teoria, há uma parte que poderia ser
em sua teoria de educação, que a apren- chamada de “modelo de ensino de Gowin”
dizagem significativa subjaz também a e que se assemelha muito a uma abor-
integração construtiva de pensamentos, dagem vygostkyana. Ele vê uma relação
sentimentos e ações. Tudo isso leva a con- triádica entre professor, materiais educa-
siderar a aprendizagem significativa como tivos e aprendiz. O ensino-aprendizagem
um conceito subjacente, subentendido, caracteriza-se pelo compartilhar significa-
nas teorias construtivistas, sejam elas cog- dos entre aluno e professor, a respeito de
nitivistas ou humanistas. Seria um concei- conhecimentos veiculados por materiais
to supra-teórico. educativos do currículo. Usando materiais
Para Vygotsky, o único bom ensino é educativos do currículo, aluno e professor
aquele que está à frente do desenvolvi- buscam congruência de significados.
mento cognitivo e o dirige. Analogamente, Em uma situação de ensino, o professor
a única boa aprendizagem é aquela que atua de maneira intencional para mudar
está avançada em relação ao desenvolvi- significados da experiência do aluno, uti-
mento. A interação social que leva à apren- lizando materiais educativos do currículo.
dizagem deve ocorrer dentro daquilo que Se o aluno manifesta uma disposição para
ele chama de zona de desenvolvimento aprender, ele/ela também atua intencional-
proximal, i.e., a distância entre o nível de mente para captar o significado dos mate-
desenvolvimento cognitivo real do indiví- riais educativos. O objetivo é compartilhar
duo, tal como poderia ser medido por sua significados.
capacidade de resolver problemas sozinho O professor apresenta ao aluno os sig-
e seu nível de desenvolvimento potencial, nificados já compartilhados pela comuni-
tal como seria medido por sua capacidade dade a respeito dos materiais educativos
de resolver problemas sob orientação ou do currículo. O aluno, por sua vez, deve

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devolver ao professor os significados que está dizendo é que para facilitar a aprendi-
captou. Se o compartilhar significados não zagem significativa é preciso dar atenção
é alcançado, o professor deve, outra vez, ao conteúdo e à estrutura cognitiva, pro-
apresentar, de outro modo, os significados curando “manipular” os dois. É necessário
aceitos no contexto da matéria de ensino. fazer uma análise conceitual do conteúdo
O aluno, que alguma maneira, deve ex- para identificar conceitos, idéias, procedi-
ternalizar novamente os significados que mentos básicos e concentrar neles o esfor-
captou. ço instrucional.
O professor é responsável por verificar É importante não sobrecarregar o aluno
se os significados que o aluno capta são com informações desnecessárias, dificul-
aqueles compartilhados pela comunidade tando a organização cognitiva. É preciso
de usuários da matéria de ensino. O alu- buscar a melhor maneira de relacionar,
no é responsável por verificar se os sig- explicitamente, os aspectos mais impor-
nificados que captou são aqueles que o tantes do conteúdo da matéria de ensino
professor pretendia que ele captasse, os aos aspectos especificamente relevan-
significados compartilhados no contex- tes de estrutura cognitiva do aprendiz. E
to da matéria de ensino. Se é alcançado organizadores prévios podem ser usados
o compartilhar significados, o aluno está também para “reativar” significados oblite-
pronto para decidir se quer aprender sig- rados (isso é perfeitamente possível se a
nificativamente ou não. O ensino requer aprendizagem foi significativa), para “bus-
reciprocidade de responsabilidades, po- car” na estrutura cognitiva do aluno signi-
rém aprender de maneira significativa é ficados que existem mas que não estão
uma responsabilidade do aluno que não sendo usados a algum tempo no contexto
poder ser compartilhada pelo professor. da matéria de ensino.
Para aprender significativamente, o aluno A diferenciação progressiva é o princí-
tem que manifestar uma disposição para pio segundo o qual as ideias e conceitos
relacionar, de maneira não arbitrária e não mais gerais e inclusivos do conteúdo da
literal (substantiva), à sua estrutura cogni- matéria de ensino devem ser apresenta-
tiva, os significados que capta a respeito dos no início da instrução e, progressiva-
dos materiais educativos, potencialmente mente, diferenciados em termos de deta-
significativos, do currículo. lhe e especificidade. Ausubel propõe este
A manipulação deliberada de atributos princípio programático do conteúdo base-
relevantes da estrutura cognitiva para fins ado em duas hipóteses (1978, p. 190): 1)
pedagógicos é levada a efeito de duas for- é menos difícil para o ser humano captar
mas (Ausubel, 1968, p. 147; Moreira e Ma- aspectos diferenciados de um todo mais
sini, 1982, pp. 41 e 42): inclusivo previamente aprendido do que
1. Substantivamente, com propósitos chegar ao todo a partir de suas partes di-
organizacionais e integrativos, usando os ferenciadas previamente aprendidas; 2) a
conceitos e proposições unificadores do organização do conteúdo de um corpo de
conteúdo da matéria de ensino que têm conhecimento na mente de um indivíduo é
maior poder explanatório, inclusividade, uma estrutura hierárquica na qual as ideias
generalidade e relacionabilidade nesse mais inclusivas estão no topo da estrutura
conteúdo. e, progressivamente, incorporam proposi-
2. Programaticamente, empregando ções, conceitos e fatos menos inclusivos e
princípios programáticos para ordenar se- mais diferenciados.
qüencialmente a matéria de ensino, res- Portanto, uma vez que a estrutura cogni-
peitando sua organização e lógica internas tiva é, por hipótese, organizada hierarqui-
e planejando a realização de atividades camente e a aquisição do conhecimento é
práticas. menos difícil se ocorrer de acordo com a
Em termos substantivos, o que Ausubel diferenciação progressiva, nada mais na-

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tural do que deliberadamente programar gem mecânica, aquela praticamente sem
a apresentação do conteúdo de maneira significado, puramente memorística, que
análoga, a fim de facilitar a aprendizagem serve para as provas e é esquecida, apa-
significativa. Por outro lado, a programa- gada, logo após. Em linguagem coloquial,
ção do conteúdo deve não só proporcionar a aprendizagem mecânica é a conhecida
a diferenciação progressiva, mas também “decoreba”, tão utilizada pelos alunos e tão
explorar, explicitamente, relações entre incentivada na escola. Cabe, no entanto,
conceitos e proposições, chamar atenção destacar que aprendizagem significativa e
para diferenças e similaridades relevantes aprendizagem mecânica não constituem
e reconciliar inconsistências reais ou apa- uma dicotomia: estão ao longo de um mes-
rentes. Isso deve ser feito para se atingir o mo contínuo, existindo uma “zona cinza”
que Ausubel chama de reconciliação inte- entre elas.
grativa.
A reconciliação integrativa é, então, o
princípio programático segundo o qual a III- CONCLUSÃO
instrução deve também explorar relações
entre idéias, apontar similaridades e dife- Concluindo, por fim, a existência de
renças importantes e reconciliar discrepân- um processo integrador e contínuo entre
cias reais ou aparentes. aprendizagem significativa e mecânica,
A diferenciação progressiva e a reconci- que demanda alguns esclarecimentos:
liação integrativa são processos da dinâ- ✔a passagem da aprendizagem mecâni-
mica daestrutura cognitiva, mas aqui estão ca para a aprendizagem significativa não
sendo tratados como princípios programá- é natural, ou automática; é uma ilusão
ticos instrucionais potencialmente facilita- pensar que o aluno pode inicialmente
aprender de forma mecânica, pois ao fi-
dores da aprendizagem significativa.
nal do processo a aprendizagem acaba-
A organização sequencial, como princí- rá sendo significativa; isto pode ocorrer,
pio a ser observado na programação do mas depende da existência de subsun-
conteúdo para fins instrucionais, consiste çores adequados, da predisposição do
em sequenciar os tópicos, ou unidades de aluno para aprender, de materiais poten-
estudo, de maneira tão coerente quanto cialmente significativos e da mediação
possível (observados os princípios da di- do professor; na prática, tais condições
ferenciação progressiva e da reconciliação muitas vezes não são satisfeitas e o que
integrativa) com as relações de dependên- predomina é a aprendizagem mecânica;
cia naturalmente existentes na matéria de ✔a aprendizagem significativa é progres-
ensino. siva, de forma intermediária na “zona
cinza”, via construção de um subsunçor,
O princípio da consolidação, por sua
em um processo de captação, internali-
vez, é aquele segundo o qual insistindo-se zação, diferenciação e reconciliação de
no domínio (ou mestria) do que está sen- significados que não é imediato, neces-
do estudado, antes que novos materiais sitando de tempo para uma construção
sejam introduzidos, assegura-se contínua efetiva até o domínio de um campo con-
prontidão na matéria de ensino e alta pro- ceitual;
babilidade de êxito na aprendizagem se- ✔aprendizagem significativa depende da
qüencialmente organizada. O fato de Au- captação de significados (Gowin, 1981),
subel chamar atenção para a consolidação um processo que envolve uma negocia-
é coerente com sua premissa básica de ção de significados entre discente e do-
que o fator isolado mais importante influen- cente e que pode ser longo. É também
uma ilusão pensar que uma boa explica-
ciando a aprendizagem é o que o aprendiz
ção, uma aula “bem dada” e um aluno
já sabe. “aplicado” são condições suficientes para
No entanto, a aprendizagem que mais uma aprendizagem significativa. O signi-
ocorre na escola é outra: a aprendiza- ficado é a parte mais estável do sentido e

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este depende do domínio progressivo de
situações-problema, situações de apren-
dizagem. No caso da aprendizagem de
conceitos, tendo como premissa as si-
tuações-problema, que dão sentido ao
conceitos e que a conceitualização vai
ocorrendo à medida que o aprendiz vai
dominando situações progressivamente
mais complexas, dentro de uma dialética
entre conceitos e situações.
Para que a aprendizagem significativa Foto: flagrante da instrução de Organi-
ocorra, o pensador da educação (Ausubel) zação e Emprego da Arma (CAS/EASA),
apresenta duas condições primordiais para trabalho em grupo de estudo do terreno
o êxito do processo: na carta topográfica, onde o instruendo já
1) disposição do aluno para aprender; traz uma base para a aprendizagem signi-
2) O material didático desenvolvido, que ficativa, conforme Ausubel: disposição em
deve ser, sobretudo, significativo para o aprender (profissionalismo/entusiasmo) e
aluno. excelente material didático (uso de ferra-
Somente dessa forma é que se dará a mentes de TIC), além dos subsunçores
verdadeira compreensão de conceitos e (ancoragem do aprendizado) oriundos da
proposições, o que implica na posse de formação e da experiência profissional de
significados claros e intransferíveis. Para cada Sgt Alu.
a avaliação consistente da aprendizagem
significativa, o método válido e prático, IV- REFERÊNCIAS:
segundo Ausubel, consiste em buscar so-
luções de problemas diversos através de AUSUBEL, D.P. (1963). The psychology
testes de compreensão, utilizando-se de of meaningful verbal learning. New York,
recursos diferentes daqueles, utilizados Grune and Stratton.
anteriormente no material instrucional. AUSUBEL, D.P.; NOVAK, J.D. and
Para que se possa constatar, de fato, se o HANESIAN, H. (1978). Educational psy-
aluno desenvolveu ou não, às habilidades chology: a cognitive view. 2nd. ed. New
necessárias à aquisição da aprendizagem York, Holt Rinehart and Winston.
significativa. AUSUBEL, D.P.; NOVAK, J.D. e HANE-
A Teoria da Aprendizagem de Ausubel SIAN, H. (1980). Psicologia educacional.
objetiva, portanto, facilitar a aprendizagem Rio de Janeiro, Interamericana. Tradução
do aluno, através da psicologia da aprendi- para português, de Eva Nick et al., da se-
zagem significativa. Diz ele, que: gunda edição de Educational psychology:
“Se eu tivesse que reduzir toda a psico- a cognitive view.
logia educacional a um único princípio, di- EISENCK, M.W. e KEANE, M.T. (1994).
ria isto: o fato isolado mais importante que Psicologia cognitiva: um manual introdutó-
informação na aprendizagem é aquilo que rio. Porto Alegre, RS, Artes Médicas.
o aprendiz já conhece. Descubra o que ele GENTNER and STEVENS, A.L. (Eds.)
sabe e baseie isso nos seus ensinamen- (1983). Mental models. Hillsdale, NJ,
tos”. Lawrence Erlbaun Associates.
A aprendizagem significativa é uma fer- GOWIN, D.B. (1981). Educating. Ithaca,
ramenta essencial ao ensino, para que NY, Cornell University Press.
ocorra a devida apropriação do conheci- GRECA, I.M. e MOREIRA, M.A. (1997a).
mento por parte do instruendo, bem como The kinds of mental representations -- mo-
traz como consequência um novo papel dels, propositions and images -- used by
para o professor e para a função social da college physics students regarding the
escola. concept of field. International Journal of
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