Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
net/publication/324174448
CITATIONS READS
0 638
3 authors:
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
All content following this page was uploaded by Thiago Reis on 03 April 2018.
Resumo
O amendoim é uma das oleaginosas mais importantes no mundo e sua cadeia produtiva no
Brasil passou por diversas modificações ao longo dos anos. Em de 2014 o Brasil foi o 18°
maior produtor mundial, concentrando 93% de sua produção em São Paulo. Com o objetivo
de descrever o panorama da cultura do amendoim no Brasil, o presente artigo buscou por
meio de pesquisa bibliográfica e levantamento em base de dados oficias, contextualizar o
histórico da cultura no país, verificar a evolução da produção nacional, das exportações e
importações do amendoim in natura, e apresentar a posição atual do Brasil diante dos maiores
produtores de amendoim do mundo. O resultado demonstrou que o país passou de país
exportador na década de 1960 para país importador nas próximas décadas. Em 2014 o país
ocupava a 18ª posição em produção mundial. Para recuperar esta posição, o país tem investido
em boas práticas e controle de produção, e monitoramento laboratorial dos produtos
industrializados.
Palavras-chave: Sistema agroindustrial, amendoim, produção, produtividade.
Abstract
Groundnut is one of the most important oilseeds in the world. Its production chain in Brazil
has undergone several modifications over the years. In 2014 Brazil was the 18th largest
producer in the world, concentrating 93% of its production in São Paulo State. This paper
aimed at describing the overview of groundnut in Brazil. We contextualize the history of
culture in the country, verify the evolution of national production, exports and imports and
present the current position of Brazil amongst the largest peanut producers in the world. In
order to reach the objective, the present article has used bibliographical research and survey
in official databases. The result indicated that the country changed from the exporting
country in the 1960s to importer in the following decades. In 2014 the country occupied the
18th position in terms of production. To recover this position, the country has invested in
good practices and production control, and laboratory monitoring of industrialized products.
Key words: Agroindustrial system, groundnut, production, productivity.
O amendoim (Arachis hipogaea L.) é uma leguminosa que tem sua origem na América
do Sul. Por ser uma cultura de ciclo curto, ter ampla adaptabilidade (à temperatura, condições
hídricas e solos) e ser cultivada em várias regiões tropicais do mundo, demonstra grande
importância econômica e se destaca no cenário agrícola mundial (BARROZO, 2009).
Scarpin, Mundo Neto e Malagolli (2013) reiteram que o amendoim é um alimento rico
em calorias, óleos, proteínas e vitaminas. Seu sabor agradável é muito apreciado em todo o
mundo, influenciando a economia de diversos países e integrando diversas cadeias de
produção.
Martins e Vicente (2010) destacam que na década de 1960 o Brasil ocupava a posição
de grande produtor mundial, destacando-se no suprimento do mercado interno de óleo de
amendoim e na exportação do farelo. A década de 1970 apresenta um contínuo declínio da
produção de amendoim, marcado especialmente pela baixa rentabilidade da cultura, fatores
tecnológicos e a introdução da soja que dominou a produção dos subprodutos proteicos.
O principal problema relacionado à qualidade do amendoim é o risco de contaminação
por aflatoxina na sua produção. Aflatoxina é a denominação dada a um grupo de substâncias
muito semelhantes, tóxicas para o homem e para os animais, produzidos, principalmente, por
dois fungos, denominados Aspergillus flavus e Aspergillus parasiticus, que se desenvolvem
em muitos produtos agrícolas e em alimentos quando as condições de umidade do produto,
umidade relativa do ar e temperatura ambiente são favoráveis. Sua maior incidência se dá
quando o amendoim é batido, ensacado e armazenado com umidade elevada ou em situações
em que ocorre o reumedecimento do produto depois de seco, causado pela chuva, por
exemplo (SCALCO, MACHADO e QUEIROZ, 2008).
Martins e Perez (2006) afirmam que na década de 1980, a inexistência de normas de
controle de aflatoxinas para o farelo reduziu a competitividade desse subproduto no exterior.
Na década de 1990 o Brasil passa de exportador de produtos de amendoim para importador de
grãos de amendoim de boa qualidade.
João e Lourenzani (2011) afirmam que a partir da década de 1990 os principais
agentes envolvidos na cadeia produtiva do amendoim perceberam que eram necessárias
mudanças urgentes, a fim de que a cadeia recuperasse a competitividade perdida.
Dados disponibilizados pela Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau,
Amendoim, Balas e Derivados (ABICAB, 2017a) informam que em 2013 o Brasil exportou
4,9 milhões de toneladas, frente a uma importação de apenas 0,3 milhões de toneladas para o
mesmo ano. Isto proporcionou um saldo positivo na balança comercial de 5%, em relação ao
ano de 2012. Com relação atuação no mercado desta Associação, em 2012 o amendoim
compreendia 12%, contra 35% de balas e confeitos, e 54% de chocolate.
João e Lourenzani (2011) ressaltam que o consumo do amendoim no Brasil é sazonal,
com seu pico nos meses de junho e julho, época em que são realizadas as tradicionais festas
juninas e julinas.
Considera-se que a cultura do amendoim tenha relevância para o agronegócio
brasileiro, sendo evidenciada sob dois aspectos: a) econômica, com base na receita gerada
para as regiões produtoras e processadoras, principalmente no Estado de São Paulo, que
concentra grande parte da produção, processamento e distribuição do produto no Brasil, bem
como seu impacto para as exportações; e b) importância social, a partir dos empregos diretos
e indiretos gerados em todos os elos da sua cadeia produtiva (Lourenzani e Lourenzani,
2009).
A cultura do amendoim vem crescendo cada vez mais no Brasil, representando
aproximadamente 1% da produção mundial. Entretanto, mesmo pequena em nível mundial,
2. Metodologia
3. Resultados e discussões
São Paulo é o estado que mais se destaca na produção de amendoim no Brasil, desde
os anos 1960, que de acordo com João e Lourenzani (2011), se concentra mais
especificamente na região da Alta Paulista (Tupã e Marília) e Alta Mogiana (Ribeirão Preto e
Jaboticabal).
A produção paulista, mais especificamente, é realizada em duas safras: a safra das
águas (outubro a março), que representa 76% da área total plantada e 80% da produção e a
safra da seca ou safrinha (fevereiro a julho), correspondendo em torno de 24% da área
plantada e 20% da produção, onde se destacam duas regiões na produção de amendoim: Alta
Mogiana e Alta Paulista (MARTINS, 2006).
O Gráfico 4 ilustra a participação percentual de cada um dos estados listados na
legenda em relação ao tempo da produção brasileira de amendoim, entre os anos de 1977 a
2016.
Por meio do Gráfico 4 se pode perceber que o Estado de São Paulo domina com ampla
vantagem a produção de amendoim no Brasil. O Estado do Paraná, que entre o final da década
de 1970 e meados da década de 1980 era o segundo maior produtor de forma isolada se viu
em declínio nos anos posteriores, tornando-se um Estado produtor sem a mesma relevância do
passado. A partir de 2005 percebem-se movimentos pontuais em vários estados, ou seja,
pequenas oscilações, sem grande destaque. As novas áreas plantadas são registradas nos
estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás. Nos anos seguintes, essas
movimentações pontuais não são mantidas ou mudam de intensidade e, de certa forma,
refletem tentativas pouco exitosas de estabelecimento da cultura em novas regiões. Apesar de
algumas novidades, as regiões produtoras estabelecidas há muitas décadas continuam
dominando a produção brasileira e o Estado de São Paulo mantém sua liderança (MARTINS,
2013), que de acordo com a CONAB (2017) está em 93% da produção total do país.
Produção em
País mil t
China 16550,213
Índia 6557,000
Nigéria 3413,100
Estados Unidos 2353,540
Sudão 1767,000
Tanzânia 1635,335
Argentina 1165,924
Myanmar 865,900
Chade 791,088
Senegal 669,329
Indonésia 638,896
Camarões 614,000
Mali 509,363
Vietnã 453,332
Gana 426,280
República Democrática do Congo 421,568
Níger 403,422
Brasil 402,626
Burkina Faso 335,223
Guiné 297,000
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de FAOSTAT
(2017).
O Gráfico 5 mostra o comportamento dos quatro primeiros colocados na Tabela 1 e
mais o Brasil e a Argentina, em relação à produção entre os anos de 1961 e 2014.
Por meio do gráfico percebe-se que a China nem sempre se manteve soberana na
produção de amendoim. Entre 1961 e 1984, o país responsável pela maior produção do
mundo era a Índia. A partir de 1985, a China passou a disputar a liderança da produção com a
Índia e foram se alternando nessa posição até 1993, quando a China assumiu de vez o posto
de maior produtor mundial de amendoim, com 8496,462 mil toneladas produzidas naquele
ano.
Pode-se destacar também a participação dos países africanos. Dentre os vinte maiores
produtores do mundo, treze são deste continente. Destaque para a Nigéria, que vem em uma
crescente desde meados dos anos 1990 e agora é de maneira estabelecida a terceira maior
nação produtora de amendoim no mundo.
Já os Estados Unidos, em meados dos anos 1970 conseguiu o posto de terceiro maior
produtor do mundo, mas a rigor vem mantendo a quarta posição no ranking desde meados dos
anos 1980.
Parceira de Mercosul do Brasil, a Argentina ocupa atualmente a sétima posição entre
os maiores produtores, ocupando também uma importante posição entre os exportadores,
sendo um forte concorrente do Brasil. De acordo com Martins (2013), os principais
produtores também são os principais exportadores, com exceção da Argentina, que não possui
mercado interno consumidor amplo. Assim, apesar de não ocupar papel de destaque na
produção mundial, a Argentina possui importante participação nas exportações.
O Brasil, em comparação aos sete principais produtores não apresenta grande
representatividade, porém é importante ressaltar que com as já citadas melhorias no segmento,
vem melhorando seu desempenho ao longo dos anos. Cabe destacar que no início dos anos
1970 o Brasil apresentava uma produção mais representativa, chegando a ficar perto dos
números dos Estados Unidos (em 1970 o Brasil produziu 928,073 mil toneladas enquanto que
os americanos produziram 1353,114 mil toneladas). Porém, com o declínio das exportações,
falta de condições higiênico sanitárias para continuar com a representatividade conseguida
nos anos 1960 e 1970, o Brasil se vê produzindo 482,849 mil toneladas em 1980, ou seja, em
apenas dez anos houve uma queda de aproximadamente 48% na produção do grão.
A queda se acentuou ainda mais entre os anos de 1980 e 1990, onde houve uma
redução de aproximadamente 71% na produção, de 482,849 mil toneladas em 1980 para
apenas 138,325 mil toneladas em 1990. Porém, já no início da década de 2000 observa-se
uma recuperação lenta da produção, culminando com a produção de 402,626 mil toneladas no
ano de 2014.
4. Considerações finais
Considera-se que mesmo sofrendo muitas oscilações ao longo das décadas, a cultura
do amendoim vem, desde o ano de 2009 apresentando crescimento, graças às melhorias ao
Referências
BERTRAND, J-P.; CADIER, C.; GASQUÈS, J.G. O crédito: fator essencial à expansão da
soja em Mato Grosso. Caderno de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.22, n.1, p.109-123,
jan/abr, 2005.
COELHO, C.N. 70 anos de política agrícola no Brasil. Revista de Política Agrícola, ano X,
n.3, jul/set, 2001.
MARTINS, R.; VICENTE, J.R. Demandas por inovação no amendoim paulista. Informações
Econômicas, São Paulo, v.40, n.5, mai., 2010.
SILVA, A.C. da; CAVALCANTE, A.C.P.; CAVALCANTE, A.G.; NETO, M.A.D. Bactérias
fixadoras de nitrogênio e substratos orgânicos no crescimento e índices clorofiláticos de
amendoim. Revista Agropecuária Técnica, v.37, n.1, p.1-8, 2016.
SILVA, R.A. da.; YAMAMOTO, I.T.; FERREIRA, L.O.; MARQUES, L.R.M. Detecção e
quantificação de aflatoxinas em amostras de grãos de amendoim e derivados comercializados
na região de Marília- SP, 2002-2009. Alim. Nutr.Braz. J. Food Nutr., Araraquara-SP, v.24,
n.1, p.61-64, jan/mar., 2013.