SOCIOLOGIA
Módulo 16
Bourdieu e a teoria dos capitais
Aptidão ou esforço?
Pense em pessoas que são as melhores naquilo que fazem.
Pense em Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Pense nos tenistas
Andy Murray e Novak Djokovic e na tenista Serena Williams.
Pense em grandes nomes da ciência, das artes, da música etc.
O sucesso é alcançado por essas pessoas porque se esforçaram mais
do que as outras ou porque nasceram com uma aptidão especial para
determinada atividade? É difícil responder a essa questão. Muitos
reconhecerão que sem esforço não conseguimos nos destacar em
nada. Outros sustentarão que, apesar do esforço ser essencial, parece
que algumas pessoas se esforçam menos para atingir resultados
excelentes por já terem nascido com um “brilho” a mais.
A polêmica é interessante e gera muitos debates quando conver-
samos a respeito dos motivos que levam alguém a se destacar em
uma determinada área. Mas será que esforço e aptidão são os únicos
elementos que devemos colocar na balança? Será que existe um
terceiro fator capaz de responder pelo sucesso de algumas pessoas
1. Aspectos biográficos
Muitos consideram Bourdieu o autor mais importante da
Sociologia contemporânea. Seu legado para essa área é enorme e
se compara aos clássicos Marx, Weber e Durkheim.
Nascido em uma família de camponeses, em 1930, no interior
da França, tornou-se professor de uma das maiores universidades
francesas, o Collège de France, situado em Paris. Na década de 1950,
Bourdieu prestou serviço militar obrigatório na Argélia, onde teve
a oportunidade de trabalhar como professor em uma universidade
local, o que lhe permitiu desenvolver estudos acerca de sociedades
tribais da região. Esses estudos foram fundamentais para que
Bourdieu compreendesse melhor o funcionamento das sociedades
e desenvolvesse uma teoria própria para explicar como funciona a
sociedade contemporânea e suas lógicas, dinâmicas e reproduções.
Seus últimos trabalhos e palestras foram dedicados a uma reflexão
sobre a própria Sociologia e sua capacidade de produzir um discurso
científico sobre o mundo social. Faleceu em 23 de janeiro de 2002.
2. Campo social
Uma das maiores contribuições de Bourdieu e um dos conceitos
mais fundamentais de sua teoria é o de “campo social”. A noção de
“campo” está presente em praticamente todos os livros escritos por
ele e, ao compreender melhor esse conceito, será possível entender
com mais propriedade a mensagem que ele quer passar. Um campo
social é um espaço de posições sociais. Os agentes sociais ocupam
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1ª Série
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Expectativas de aprendizagem:
– Aprender os aspectos gerais da sociologia de Bourdieu;
C5 – compreender o conceito de campo e entender a teoria dos
capitais.
em determinadas áreas? Neste módulo, estudaremos um pensador
que apostou no peso de fatores sociais para explicar a posição de
destaque que algumas pessoas obtêm em determinadas áreas da
vida social: Pierre Bourdieu.
posições específicas em cada campo, e essas posições orientam as
relações que as pessoas estabelecerão umas com as outras.
Pode-se pensar que a escola constitui um campo social. Como
todo campo, os indivíduos que nela estão inseridos ocupam posições
específicas: alunos, professores, coordenadores, disciplinários,
zeladores, diretores, vendedores da cantina etc. As relações que os
indivíduos estabelecem uns com os outros no interior desse campo
(a escola) são definidas pelas posições que cada um ocupa. Por
exemplo, a relação entre aluno e professor é definida pela posição
diferenciada entre os dois. Se um aluno atende a um comando
feito por um professor durante a aula é porque, ali, este ocupa
uma posição na hierarquia diferente do aluno. Eventualmente,
esse mesmo professor pode ser um estudante em outro campo
(uma universidade, por exemplo) e, lá, sua posição não será a de
professor, mas de aluno. Da mesma forma, a relação que o professor
estabelece com o diretor é marcada pela posição específica que cada
um ocupa no campo da escola. Se, por acaso, esses dois indivíduos
estiverem em um campo social distinto, as relações entre eles serão
diferentes. Suponha-se que um determinado professor jogue futebol
todas as quintas-feiras à noite com o diretor da escola. Será que
nesse futebol a relação entre os dois será hierarquizada da mesma
forma que acontece na escola? Óbvio que não. Por que não? Porque
enquanto em um “campo” (a escola) esses dois indivíduos ocupam
posições hierarquicamente diferenciadas, no futebol casualmente
jogado às quintas-feiras essa hierarquia inexiste, já que ambos
ocupam a mesma posição.
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1ª Série Módulo 16

uma empresa, os funcionários se verão envolvidos em uma disputa

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É importante destacar que o espaço social não é físico, mas
abstrato e simbólico. Pessoas muito próximas geograficamente
podem estar completamente distantes umas das outras em termos
sociais. Imagine-se, por exemplo, um dono de uma grande empresa
que pega elevador com uma pessoa que limpa o chão do prédio onde
a empresa está situada. Embora a distância física seja quase nula,
já que estão no mesmo elevador, a distância social é enorme. Por
mais que pessoas que ocupam posições muito diferentes estejam
em contato, as barreiras sociais não foram anuladas ou deixaram
de existir.
Por outro lado, ainda que o espaço social não seja físico, é claro
que é possível que seja associado à posição geográfica. Em uma
cidade, por exemplo, onde áreas nobres são muito distantes geogra-
por cargos com melhores salários. Caso seja o meio artístico, os
indivíduos estarão disputando status e reconhecimento. Se o campo
social for o religioso, cada igreja ou agremiação competirá para
conseguir um maior número de fiéis, e assim por diante. Essas
disputas levam alguns indivíduos a ocuparem posições elevadas
no campo social e outros a ocuparem posições inferiores. Os que
estão em posição elevada procuram manter-se nela, e os que estão
em posição inferior buscam ascender no campo social.
Vejam-se alguns exemplos. Suponha-se que um rapaz queira se
tornar um artista que pinta quadros. No interior do campo artístico,
existem artistas já bastante consagrados e outros que não são
conhecidos. Para ser bem-sucedido nesse campo, não basta que ele
seja bem pago pelos quadros que fez; é necessário que possua status
dentro do campo, ou seja, é preciso que outros artistas reconheçam
que o trabalho dele é bom. Enquanto ele ainda for desconhecido,
a opinião dele, os quadros que ele fizer, as críticas dele ao trabalho
de outros artistas não terão a menor relevância. Isso ocorre porque
ele ainda ocupa uma posição muito inferior no campo. À medida
que for conseguindo alcançar posições mais elevadas, as opiniões
dele serão levadas em conta, pessoas o convidarão para expor seu
trabalho em galerias famosas, jovens que estão começando a carreira
poderão requisitar os conselhos dele e assim por diante. A partir
do lugar que esse rapaz ocupa no campo artístico, as pessoas terão
com ele um tipo específico de relação que variará caso ele ocupe
uma posição de destaque ou uma posição marginal.

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ficamente de zonas vulneráveis socialmente, pode-se verificar uma
diferença social ligada a uma diferença física. É comum, também,
verificar que determinadas áreas da cidade são frequentadas por
pessoas que compartilham o mesmo perfil social, de forma que uma
região geográfica agrupa pessoas de apenas um estrato do campo
social. Todavia, apesar desses exemplos, é preciso ter em mente que
os campos sociais nos quais os indivíduos estão inseridos são de
natureza simbólica, e não física.
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Outro exemplo de campo pode ser o da ciência. Existem

cientistas que são respeitados pelos pares, que possuem altíssimos
cargos em grandes universidades e que têm os seus artigos e livros
publicados pelas melhores editoras. Por outro lado, existem aqueles
que não o são. Um cientista de grande respaldo no interior do seu
campo alcançará visibilidade em tudo o que fizer. Se um jornal
precisar de uma opinião de um especialista, vai procurá-lo. Se
uma universidade precisar de um grande pensador para dar uma
Outra característica importante dos campos sociais é que eles
palestra inaugural no ano letivo, ele será convidado. Até mesmo
são espaços de luta e conflito. Em cada campo social, vantagens
os estudantes que fizerem parte do laboratório de pesquisa desse
e recompensas são disputadas de acordo com os valores que
cientista serão bem reconhecidos pelo campo, porque estão
importam para cada um dos campos. Se o campo social for uma
trabalhando com uma pessoa de grande prestígio. Em um exemplo
sala de aula, os estudantes estarão em busca de boas notas. Se for
como esse, as relações sociais dentro do campo – entre cientistas e
Bourdieu e a teoria dos capitais
estudantes, entre os próprios cientistas, entre cientistas e reitores da
universidade – serão de alguma maneira determinadas pela posição
de cada um nesse campo. Assim, as pessoas geralmente se envolvem
em uma competição tendo como objetivo atingir as posições mais
elevadas no interior de cada campo.
Conclui-se que, para Bourdieu, o campo social é uma espécie
de estrutura na qual os indivíduos estão inseridos em posições
diferentes. Essas posições dizem muito sobre o comportamento
de cada pessoa, de forma que estudar campos sociais implica em
compreender melhor as atitudes delas em uma sociedade. Mas
como explicar as posições ocupadas por essas pessoas em cada
campo social? Bourdieu ajuda a entender como essas posições são
definidas e como ocorrem os conflitos envolvendo a disputa pelos
bens sociais, em grande medida, por meio de sua teoria dos capitais.
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3. A teoria dos capitais
Para Bourdieu, as pessoas não se equivalem no mundo social.
A depender da maneira como elas foram socializadas, cada uma
teve a oportunidade de receber determinadas características e
atributos capazes de oferecer vantagens nas disputas pelos bens
sociais. O acúmulo dessas vantagens e de recursos que podem ser
utilizados nas competições existentes nos diversos campos sociais
é chamado de capital.
Na economia, entende-se que capital é uma quantidade de
dinheiro que pode ser investida ou acumulada para gerar rendi-
mentos no futuro. Um pessoa pode ter, por exemplo, um capital
de 10 mil reais que deseja investir em ações de uma empresa para
receber dividendos. Ou ela pode acumular 10 mil reais em uma
poupança para utilizar posteriormente em algum bem ou serviço.
É possível, ainda, comprar equipamentos com os 10 mil e montar
um negócio próprio.
Na sociologia de Bourdieu, é de fundamental importância
reconhecer que, no mundo social, o que se acumula e se investe
não é apenas dinheiro. Existem diversas outras formas de capital
não financeiro que compõem a vida em sociedade. Dependendo da
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Módulo 16 1ª Série
quantidade e da qualidade dos capitais de que se dispõe, é possível
situar-se em posições mais elevadas de um determinado campo ou
em posições de menos destaque.
De acordo com o senso comum, é corriqueiro que se atribua o
sucesso e o insucesso de alguém a partir de noções como aptidão,
competência ou habilidade individual. Em uma faculdade, por
exemplo, pode-se explicar o fato de um estudante conseguir as
melhores notas, concluir o curso superior antes do prazo previsto
e realizar todas as tarefas com excelência dizendo que ele é mais
inteligente, mais habilidoso, mais esforçado e mais competente que
os seus colegas. A outro estudante que sistematicamente tire notas
baixas, que não entregue todos os trabalhos e atrase em um ano
sua formação pode-se chamar de preguiçoso, menos competente
e dotado de dificuldades cognitivas. O primeiro estudante ocupa
um lugar de destaque no campo; o segundo, um lugar de menor
importância. O primeiro tem mais status; o segundo não é estimado
por seus colegas e professores como um bom estudante e, por isso,
não tem o mesmo reconhecimento.
Essa maneira de explicar a diferença entre os dois estudantes é
muito limitada, de acordo com Bourdieu, pois não consegue explicar
de modo adequado as diferentes posições que as pessoas ocupam
em um campo e, por isso, é incapaz de esclarecer satisfatoriamente
o sucesso e o insucesso dos diferentes indivíduos que competem por
determinado bem social. Para o autor, existem dois tipos de capital
importantíssimos que não costumam ser levados em conta: o capital
cultural e o capital social. A seguir será explicado cada um deles.
Deve estar bem claro que nem todos os “bens” sociais são
facilmente mensuráveis. Uma quantidade de dinheiro, um carro,
uma casa em uma área confortável, desfrutar de bons restaurantes,
ir ao cinema, frequentar uma escola de qualidade são exemplos de
bens sociais. Mas existem os chamados “bens simbólicos”, como o
prestígio, o status e o reconhecimento por parte de outras pessoas.
Uma pessoa pode não ter dinheiro ou bens materiais, mas ser
detentora de enorme prestígio dentro de sua comunidade. Esses bens
simbólicos também são disputados nos mais diversos campos sociais.
4. Capital cultural
O capital cultural é um tipo de competência culturalmente
específica que serve como recurso utilizado pelo indivíduo em um
determinado cenário social. Ele existe em três estados:
• Estado corporificado: são as disposições culturais que cada
pessoa leva consigo, ou seja, os conhecimentos acumulados,
a forma de falar, a maneira de pensar etc.
• Estado objetificado: são os bens culturais de que se dispõe,
como livros, quadros e outras obras de arte, roupas finas,
artefatos raros etc.
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1ª Série Módulo 16
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• Estado institucionalizado: são as qualificações (educacionais,
por exemplo) que servem como credencial aceitas no âmbito
de determinado campo social.
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Considerando o exemplo acima apresentado, é possível compre-
ender melhor como opera o capital cultural. Para Bourdieu, a Socio-
logia deve explicar a posição social dos indivíduos em determinado
campo. Assim, pode-se encarar a questão do sucesso e do insucesso
em um curso superior como um problema sociológico passível de
ser explicado. No exemplo, um estudante possuía prestígio e boas
notas e o outro, não. É possível que essa diferença decorra do fato de
que um recebeu mais capital cultural do que o outro. Um estudante
que é filho de pais com curso superior, que nasceu em uma casa
repleta de livros e obras de arte e que teve contato com pessoas
que utilizavam a norma culta da língua de seu país provavelmente
terá mais facilidade em absorver certos conteúdos ensinados na
faculdade e na escola. Esse estudante crescerá observando os pais
debaterem assuntos complexos de ciência, economia, política; terá
contato com os amigos dos pais – pessoas também com alto nível
de escolaridade – e verificará como eles constroem argumentos
elaborados em um debate, como articulam a fala de forma persu-
asiva e como prestam atenção em cada detalhe da fala do outro.
Aprender isso tudo ao longo de um processo de vida faz com que
sejam incorporados atributos que certamente serão úteis em um
campo social como a faculdade.
O outro estudante poderia ser filho de pais camponeses (ou
outro tipo de trabalhadores braçais) com quase nenhuma formação
escolar. Pode-se imaginar que esse segundo estudante mal teve
contato com livros, viveu muito mais na presença de outras crianças,
já que os pais passavam a maior parte do dia fora de casa, imitaram
o jeito de falar de pessoas que não dispunham da norma culta.
Ao compararmos os dois estudantes, qual terá mais chances de
ser bem sucedido em uma faculdade? Bourdieu utilizou métodos
estatísticos para demonstrar que pessoas com maior capital cultural
em seus três estados tendem a obter mais sucesso e prestígio em
determinado campo social. Desse modo, não se deve explicar
apressadamente a diferença de desempenho entre dois estudantes
dizendo que um é mais esforçado ou mais inteligente do que o outro.
Os conteúdos transmitidos no ambiente acadêmico são mais bem
assimilados por pessoas que foram socializadas em determinado
tipo de ambiente, recebendo desde a mais tenra idade o capital
cultural dos pais.
5. Capital social
O segundo tipo de capital analisado por Bourdieu é o capital
social, que pode ser entendido como uma rede durável de relações
sociais. Os agentes podem se beneficiar do pertencimento a uma
determinada rede de solidariedade, ainda que a mobilização de
tal recurso não seja consciente. Uma pessoa pode ter facilidades
em obter sucesso em determinado campo social a depender dos
contatos que ela tiver.
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Bourdieu e a teoria dos capitais
Imagine-se um estudante de Direito cujo tio é dono de um
grande escritório de advocacia. Assim, é bem possível que esse
estudante consiga um bom estágio no qual aprenderá aspectos
fundamentais de sua profissão. Depois de se formar na faculdade,
esse estudante poderá ser contratado e ter um emprego estável ou
utilizar sua experiência para, inclusive, obter um emprego melhor.
A Sociologia comprova que redes de relações sociais ricas e férteis
auxiliam as pessoas a conseguirem empregos e bens simbólicos
como status e prestígio.
Bourdieu, com sua teoria dos capitais, ajuda a entender as
posições que as pessoas ocupam na sociedade e de que forma
essas posições se reproduzem de uma geração para a outra. Pessoas
que acumulam determinados tipos de capitais ao longo de sua vida
poderão obter vantagens na competição social por determinados
bens, sejam eles materiais ou simbólicos.
Bourdieu se dedicou profundamente à análise do sistema
de ensino francês. Ele entendia que o conceito de capital
cultural era essencial para dar conta da desigualdade de desem-
penho escolar entre crianças advindas de contextos sociais
muito diferentes. As escolas privilegiavam sistematicamente
aqueles que já adquiriram capital cultural em sua família. Por
isso, as crianças que pertenciam à classe média tendiam a se
destacar no mercado escolar, ou campo escolar, por causa
da distribuição diferente do capital cultural que receberam
a mais quando comparadas às crianças oriundas da classe
operária. Crianças da classe média se encaixam na cultura das
escolas com facilidade exatamente pela quantidade de capital
cultural que recebem de suas famílias. O sistema educacional
é percebido como aberto e baseado no talento das crianças.
Porém, o sucesso ou fracasso escolar, para o teórico francês,
pouco teria a ver com as aptidões naturais de cada criança,
estando completamente atrelado às diferentes formas por meio
das quais elas são socializadas.
01 São exemplos de capitais utilizados nas análises de Bourdieu:
(A) capital financeiro e capital humano.
(B) capital social e capital cultural.
(C) capital comunicativo e capital empreendedor.
(D) capital humano e capital marginal.
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Módulo 16 1ª Série
02 (UFFS) É um conceito administrativo que pressupõe que o
investimento efetuado em uma operação não seja apenas em equi-
pamento, tecnologia e capital de giro, mas também nos funcionários,
possibilitando a melhoria da qualidade de vida dos mesmos em
todos os sentidos, principalmente na melhoria da qualificação.
Assinale a alternativa que identifica o conceito expresso acima:
(A) Capital cultural.
(B) Capital humano.
(C) Capital flutuante.
(D) Seguro-desemprego.
(E) Automação industrial.
03 Cite os três estados em que o capital cultural se manifesta
e dê exemplos.
04 Explique o que é capital social.
05 Explique o significado de “campo” no pensamento de Bourdieu.
01 (IFMT) Bourdieu e Passeron, na obra A reprodução (2001),
apresentam uma teoria que desmistifica a concepção de neutra-
lidade da escola e do sistema escolar diante da estrutura social.
A análise desses autores contrapõe-se à concepção vigente que
considerava que a universalização do acesso à escola pública e
gratuita garantiria aos indivíduos igualdade de oportunidade e que
a escola poderia ser considerada um meio de mobilidade social.
Os autores afirmam que a escola é reprodutora das desigualdades
sociais e apontam os elementos que demonstram essa reprodução.
Sobre as hipóteses desses autores, marque V para as afirmativas
verdadeiras e F para as falsas:
( ) O capital cultural diferenciado dos estudantes que ingressam
no sistema escolar não contribui para seu êxito; o que define o
sucesso são seus dons ou aptidões naturais.
( ) Existem mecanismos de eliminação dos estudantes em todos os
níveis de ensino, resultantes das diferenças de capitais culturais
dos alunos quando ingressam na escola.
( ) Os exames orais para detectar êxito dos estudantes na obtenção
de conhecimento não se restringem ao conhecimento obtido
nas diferentes disciplinas; exigem conhecimentos que fazem
parte da herança cultural de estudantes das classes sociais média
e alta.
( ) O capital cultural e a experiência educacional dos pais dos
estudantes da classe média contribuem para o êxito escolar,
enquanto o capital cultural dos pais dos estudantes trabalha-
dores e suas experiências escolares contribuem para o insucesso
escolar de uma grande parcela desses estudantes.
Assinale a sequência correta:
(A) F – V – V – V. (C) V – F – V – F.
(B) F – F – F – V. (D) F – F – V – V.
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1ª Série Módulo 16

02 A respeito do capital social, podemos afirmar que: Dão base à sua teoria:

(A) consiste na quantidade de dinheiro acumulado que possuímos
para gastar em nossas relações sociais.
(B) são recursos mobilizados pelos atores sociais para que
obtenham vantagens em um determinado campo a partir dos
contatos e bons relacionamentos que estabeleceu.
(C) é raro nas sociedades modernas, já que as relações impessoais
de mercado não dependem de relações sociais.
(D) trata-se de um capital que pouco ajuda pessoas a conseguirem
emprego e outros benefícios, porque são difíceis de se serem
mobilizados.
03 (UFPR) Bourdieu (A economia das trocas simbólicas. São Paulo:
Perspectiva, 1976) introduz em sua teoria da reprodução o conceito
de capital cultural. Esse conceito é inspirado na teoria sociológica
clássica. Sobre capital cultural, é correto afirmar:
(A) O conceito de capital cultural é resultante de uma síntese feita
por Bourdieu da sociologia de Marx e de Durkheim.
(B) O conceito de capital cultural é construído a partir da ética
protestante e o espírito do capitalismo de Weber.
(C) O conceito de capital cultural é construído a partir do conceito
de capital econômico de Marx.
(D) O conceito de capital cultural é construído a partir do conceito
de divisão do trabalho social de Durkheim.
(E) O conceito de capital cultural é construído da leitura de Capi-
talismo e sociedade rural na Alemanha, de Weber.
04 (IFMT) O conhecimento praxiológico de Pierre Bourdieu
tem como objeto de conhecimento o sistema de relações objetivas
e as práticas sociais dos indivíduos. Esse autor buscou superar
a dicotomia que havia nas teorias sociais, que privilegiavam nas
suas análises o indivíduo ou a estrutura social. Em suas pesquisas,
investigou como as estruturas sociais encontram-se interiorizadas
nos sujeitos sociais, constituindo um conjunto de disposições que
orientam e reproduzem as práticas sociais. Sobre noções e conceitos
que sustentam sua teoria, considere:
(A) I, II e III, apenas.
(B) II e IV, apenas.
(C) II, III e IV, apenas.
(D) I e III, apenas.
05 A respeito da teoria dos capitais de Pierre Bourdieu, podemos
afirmar que:
(A) demonstra como na vida social acumulamos recursos não
apenas econômicos que são utilizados para obter vantagens
em dado campo social.
(B) pretendeu refutar a teoria de Karl Marx, que realizou uma crítica
à economia política de sua época.
(C) se aliou a toda uma tradição de pensamento liberal que despon-
tava na Europa na década de 1970.
(D) rompeu com toda a tradição do pensamento sociológico
anterior para desenvolver um conceito totalmente novo.
01 O conceito de capital cultural aplicado a áreas como a educação
serviu para romper com o conceito de capital humano. Explique o
que essa afirmação significa.
02 A Sociologia é uma ciência que busca compreender a ação
dos indivíduos. Bourdieu contribuiu com a disciplina ao elaborar
o conceito de campo social, que tem como objetivo obter um
entendimento maior do comportamento das pessoas. De que
forma esse conceito te ajuda a entender melhor a realidade social
que te cerca?

I. capital humano;
II. campo;
III. habitus;
IV. capital cultural.

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Módulo 17 1ª Série

Questões de gênero no debate sociológico

Homens são de Marte e mulheres são de Vênus?

Essa pergunta pode soar engraçada, mas a dinâmica complexa
das relações entre homens e mulheres, a dificuldade no estabeleci-
mento e na manutenção de relacionamentos amorosos, as diferenças
de comportamento e gostos nos dois polos de um casal levam a
profundas reflexões.

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De tal maneira, observa-se que, na década de 1990, um best-seller
chamado Homens são de Marte, mulheres são de Vênus se tornou um
ícone nas tentativas de demonstrar as diferenças radicais e intrínsecas
que separam homens e mulheres. Estas são carentes e necessitam
discutir a relação o tempo todo. Aqueles são emocionalmente
distantes, bagunceiros e folgados. Estereótipos do comportamento
esperado de homens e mulheres; assim, não só dentro de um relacio-
namento amoroso, mas no desempenho de seus papéis sociais não
faltam premissas: mulheres não sabem dirigir, homens não prestam,
mulheres falam demais, homens não choram etc.
Mas será que essas diferenças tão acentuadas entre os sexos
opostos se devem a fatores de ordem biológica ou psicológica, ou será
que essas diferenças são transmitidas pela criação que cada um dos
grupos recebe? Neste módulo, tentaremos compreender mais profun- Expectativas de aprendizagem:
– Compreender o conceito de habitus;
damente a relevância do processo de socialização na construção de
certas identidades (homens × mulheres, por exemplo) e o modo como
C5 – entender o funcionamento da violência simbólica;
– compreender a atuação da dominação masculina nas sociedades
esse processo influi na reprodução de desigualdades e dominações. contemporâneas.

1. Introdução
Neste módulo, será abordado um tema de relevância sociológica
à luz da teoria de Pierre Bourdieu. A sociologia reflete bastante
sobre as desigualdades existentes entre homens e mulheres, por
exemplo, no mercado de trabalho de sociedades como a brasi-
leira. A discussão das diferentes formas de socialização do sexo
masculino e do sexo feminino é bastante atual na Sociologia e será
estudada consideravelmente ao longo da formação acadêmica. O
presente módulo, no entanto, será restringido a uma abordagem
baseada no pensamento de Pierre Bourdieu. Isso possibilitará um
aprofundamento na abordagem das teorias do sociólogo francês e
na percepção de como sua sociologia possui implicações práticas
em questões que ainda são muito relevantes nos dias de hoje. Antes
disso, é preciso fazer um panorama sobre alguns aspectos funda-
mentais da teoria de Bourdieu que ainda não foram mencionados.
2. Teoria da ação
Bourdieu é um cientista. E como um cientista, ele procura romper
com o pensamento de senso comum. Em suas palavras, existe um
saber espontâneo a respeito da sociedade expressado por aqueles que
fazem parte dela. Por se fazer parte da sociedade, ocorre a tendência
de achar que se sabe o que se passa ao redor e, inclusive, de oferecer
explicações sobre o funcionamento do mundo e da ação das pessoas
que nele habitam. Para Bourdieu, os agentes sociais, ou seja, todos que
fazem parte da sociedade, possuem uma visão deturpada da realidade
que os cerca. Frequentemente, desenvolve-se uma espécie de saber
imediato a partir de reflexões sobre a vida social. Parte do trabalho da
Sociologia envolve realizar uma ruptura com as ilusões dessa sociologia
espontânea e desvendar o que está por trás das atitudes dos indivíduos.
Uma das ilusões dessa sociologia espontânea realizada pelo
senso comum é a tendência de naturalizar a ação humana. Ou
seja, a tendência de considerar os comportamentos e atitudes
exteriorizadas como o resultado de uma natureza qualquer em vez
de considerá-los frutos de uma construção propriamente social.
Bourdieu enfatiza que muitas manifestações humanas atribuídas
a uma suposta natureza nada mais são do que o resultado de um
comportamento adquirido ao longo de um processo específico de
incorporação de disposições, ou seja, ao longo de um processo de
socialização. As opiniões comuns, no entanto, fazem com que aquilo
que é uma construção social passe a ser interpretado como natural
e biológico. Os processos sociais passam a ser mascarados, uma vez
que não são identificadas as suas reais causas. Para a Sociologia,
ao contrário, muito daquilo que é feito possui um caráter social e
historicamente construído. E, para demonstrar esse fato, Bourdieu
identifica uma série de comportamentos que as pessoas em sua
ilusão de senso comum atribuem à natureza humana e demonstra
o quanto há de social por trás deles.
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1ª Série Módulo 17
3. O conceito de habitus
Assim como o conceito de campo social, o conceito de habitus
é essencial para a sociologia de Bourdieu. Pode-se entendê-lo
como um conjunto de disposições que levam o sujeito a agir de
uma determinada maneira. Essas disposições são socialmente
construídas e incorporadas nos indivíduos por meio dos processos
de aprendizagem dos valores e normas sociais.
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Todas as pessoas possuem um habitus específico. Todas se
comportam influenciadas pela sociedade. No entanto, no viver
cotidiano não há plena consciência de como as ações decorrem desse
habitus. Nesse momento, então, é possível verificar com clareza a
visão de Bourdieu com relação aos atores sociais e sua sociologia
espontânea, em que estes desenvolvem impressões equivocadas
sobre si mesmos e sobre o mundo à sua volta. O autor vai defender
que as ações não decorrem de estratégias conscientemente elabo-
radas ao se realizar uma determinada escolha. O indivíduo não
possui consciência clara dos aspectos sociais que circundam as suas
práticas. Em outras palavras, não se tem uma percepção adequada
do quanto o comportamento decorre do habitus incorporado por
meio do processo de construção social.
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Uma pessoa inserida em um campo social qualquer – como a
corte francesa do século XVII ou a faculdade de Direito de Harvard
– consegue atender às expectativas e lidar com as regras específicas
de cada local. Em cada campo existe uma maneira específica de
falar, de se comportar, de agir, de pensar; além disso, há valores que
devem ser buscados e atitudes que devem ser evitadas. A resposta
a todas essas expectativas muitas vezes é feita de forma irrefletida.
Passa a ser quase natural para alguém inserido em seu campo agir
da maneira que age. No entanto, essa ação não decorre daquilo
que é “natural” e biológico, mas é consequência de um processo
de construção social que torna “natural” uma série de compor-
tamentos adquiridos ao longo de uma determinada trajetória de
vida. Esses processos são imperceptíveis para os atores sociais.
Dessa maneira, falar em habitus é falar das disposições práticas
que são atualizadas em cada momento de interação social. Essas
disposições práticas foram incorporadas por meio de um percurso
social no qual é possível aprender a se comportar naturalmente, ou
seja, sem a necessidade de ficar pensando o tempo todo naquilo
que está sendo feito.
Como um exemplo para ilustrar o conceito de habitus, tem-se
o filme Se eu fosse você, que mostra um casal que troca os papéis.
Em uma determinada manhã, Cláudio (interpretado por Tony
Ramos) acorda no corpo de Helena (interpretada por Glória
Pires), sua esposa. A partir desse momento começa a confusão.
Helena – tendo que viver a vida de seu cônjuge – não sabe como
falar, como andar, como agir, como se alimentar, como utilizar o
banheiro igual a seu marido. Da mesma forma, Cláudio, no corpo
da sua mulher, fica absolutamente perdido ao ter que realizar
tarefas que não fazem parte de sua rotina. A explicação do senso
comum seria dizer que isso ocorre porque homens e mulheres são
naturalmente diferentes e, por isso, os comportamentos de uns e
outros são distintos. Bourdieu, ao contrário, explicaria a confusão
vivida pelos personagens por outros fatores.
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Assim, pelo fato de Cláudio ter vivido em um determinado
campo social no qual se esperava comportamentos específicos para
os homens, aprendeu a viver de acordo com essas expectativas. Seus
comportamentos lhe são tão naturais que ele não precisa parar e
pensar em tudo o que faz. Helena, ao entrar na sua vida, precisa
o tempo todo pensar no que vai fazer, pois não possui o senso
Questões de gênero no debate sociológico
prático para lidar com as mesmas situações com as quais seu marido
lida todos os dias. O mesmo acontece para o outro caso. Helena
incorporou certas atitudes ao longo de sua trajetória social que
são de difícil transmissão para pessoas que não tiveram o mesmo
percurso. O que leva o indivíduo a saber agir da forma correta é o
seu habitus. Pode-se dizer, nos termos de Bourdieu, que Cláudio
possuía um habitus masculino, Helena, um habitus feminino e
quando eles trocam de papel, um não sabe agir de acordo com o
habitus do outro.
Habitus é, portanto, ao mesmo tempo, uma forma de pensar e
agir no mundo. Ademais, os habitus são compostos pelos diversos
esquemas e categorias utilizados para pensar e entender a realidade
que contextualiza o indivíduo, e pelo conjunto das disposições
adquiridas para agir ao longo de um processo de socialização.
O caminho social percorrido define ações e participa da vida do
sujeito sem que seja percebido. Faz com que ações sejam realizadas
sem a necessidade de se pensar e se refletir de maneira consciente
sobre cada uma. Sendo assim, parte dos comportamentos ocorre
sem que haja uma reflexão aprofundada e um ato deliberativo
e racional de cunho individual. Esse fato pode ser percebido no
estudo de Bourdieu a respeito da construção do habitus feminino
e masculino em sociedade.
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SOCIOLOGIA 189
Módulo 17 1ª Série
4. Da dominação masculina
Bourdieu escreveu, em 1998, uma de suas obras mais ricas,
chamada A dominação masculina. Nesse trabalho são demonstrados
os mecanismos sociais por meio dos quais a dominação masculina
se torna aceita e defendida por todos: homens e mulheres. Entre as
distinções biológicas óbvias entre o masculino e o feminino existe
uma construção simbólica que vai além da questão natural. Ser
masculino e ser feminino não corresponde aos aspectos biológicos.
Isso se evidencia na verificação de como os papéis esperados para
homens e para mulheres se modificam de sociedade para sociedade
e de contexto histórico para contexto histórico. Ao longo dos
séculos, ser homem e ser mulher implicava corresponder a uma
série de comportamentos que já não são mais esperados nos dias
atuais. Existe um trabalho social responsável pela identidade e pelo
habitus masculino e feminino, de forma que é necessário perceber
como essa construção simbólica ocorre em cada contexto.
Os processos de construção da masculinidade e da feminilidade
começam antes mesmo do nascimento, quando escolhe-se as cores
das roupas do bebê, a decoração do quarto, o nome e criam-se
expectativas específicas sobre aquele indivíduo. As crianças crescem
e se desenvolvem de forma a incorporar os discursos formulados a
respeito do que é ser homem e do que é ser mulher. Na sociedade,
de acordo com Bourdieu, esses discursos exaltam a dominação
masculina colocando as mulheres em segundo plano.
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 190 SOCIOLOGIA
1ª Série Módulo 17
A estruturação simbólica envolvendo os processos de socia-
lização varia de lugar para lugar. A construção do habitus das
mulheres e dos homens ocorre por meio de processos de inculcação
dos comportamentos esperados que, então, passam a compor os
repertórios de ação sem que se tome consciência clara do que está
acontecendo. O desenvolvimento enquanto homens e mulheres
ocorre sem que se tenha a percepção do trabalho social envolvido.
Incorporam-se as identidades simbólicas de forma sutil, duradoura
e constante. Desse modo, é comum atribuir ao biológico aquilo que é
decorrência do social. O que é simbólico passa a ser entendido como
natural. Existe todo um trabalho histórico de se negar a história, ou
seja, um processo social específico responsável por esconder essa
conjuntura social ao atribuir a diferença de comportamento única
e exclusivamente a fatores decorrentes da biologia.
5. Violência simbólica
Cotidiamente aceita-se de forma implícita certa superioridade
masculina que se manifesta nos comportamentos e atitudes tanto
de homens quanto de mulheres. Bourdieu denomina violência
simbólica esse processo responsável por incutir nos próprios
dominados as categorias e as perspectivas dos dominadores. O
processo de dominação simbólica ocorre de tal forma que as
disposições incorporadas pelos indivíduos se adequam à estrutura
de dominação existente na sociedade. Existem condições sociais
de reprodução dessa violência simbólica, que é responsável por
inferiorizar as mulheres no interior da sociedade, e que são corro-
boradas, inclusive, por elas.
Mais uma vez, tem-se a ideia de Bourdieu segundo a qual
os atores sociais não se dão conta de tudo o que se passa em seu
entorno. A violência simbólica tem como base de apoio o desconhe-
cimento dos indivíduos com relação aos princípios que a sustentam.
Ela só pode ocorrer com a cumplicidade e conhecimento daqueles
que são dominados. Para que isso seja possível, é necessário um
trabalho sutil de coerção exercido de tal forma na psicologia e
nos valores das pessoas que elas passam a aceitar os processos de
violência aos quais estão sendo submetidas.
Para o autor, a violência simbólica só ocorre porque está atrelada a
um habitus que incorpora uma série de disposições para ação ao longo
de uma trajetória de vida específica. Essa incorporação tem como
resultado a produção social de indivíduos que agem e se comportam
de uma determinada maneira sem que seja necessário pensar e refletir
sobre suas práticas. A dominação ocorre de maneira natural, pois os
indivíduos foram construídos socialmente para aceitá-la.
A sociologia de Bourdieu passa a ter um valor enorme ao ser
capaz de denunciar as categorias e os valores utilizados para pensar
o mundo. Ao revelar os processos sociais por trás dos comporta-
mentos entendidos como naturais, ela abre a possibilidade para
se pensar de forma crítica a construção dos habitus, expondo as
formas de dominação baseadas na violência simbólica e aguçando
a percepção para a reprodução desse quadro na sociedade tanto de
dominadores quanto de dominados.
Exemplos de saberes práticos
O conceito de habitus corresponde a um saber de tipo
prático. Conseguimos nos comportar sem ficar o tempo todo
pensando naquilo que estamos fazendo. Dirigir um carro é
um bom exemplo. Quando acabamos de obter a carteira de
motorista, tudo o que fazemos precisa ser pensado: “ligar o
carro”, “apertar a embreagem”, “engatar a primeira marcha”,
“soltar devagar o freio”, “soltar devagar o pé da embreagem e
acelerar”, “apertar a embreagem novamente e engatar a segunda
marcha”, após o carro atingir certa velocidade, “engatar a
terceira marcha” e assim por diante. Depois que você já dirige a
algum tempo, tudo é feito de maneira automática. Não é preciso
ficar pensando em cada ação que se realiza. Simplesmente faz o
que precisa ser feito sem ficar racionalizando muito a respeito
daquilo que fez.
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Outro exemplo para ilustrar o senso prático ocorre em um
esporte. Pense em uma partida de futebol. Existem jogadores
absolutamente geniais que fazem lances que impressionam a
todos. No entanto, quanto tempo será que o jogador pensou
para fazer o que fez? Um passe que quebra todas as linhas de
marcação, um drible desconcertante, um domínio de bola em
direção a um lugar vazio do campo são decisões tomadas em
frações de segundos. Muitas vezes, o jogador responsável por
tal façanha não consegue colocar em palavras a genialidade
tática de suas ações. Ele apenas as realiza em decorrência do
senso prático que o leva a agir daquela forma.
É dessa maneira que funciona o habitus. Incorporamos
uma série de comportamentos e os reproduzimos sem nos
darmos conta de que eles não são naturais, mas fruto de um
processo de socialização. Dirigir um carro e jogar futebol
são ações que foram aprendidas e não decorrem de aspectos
biológicos dos indivíduos, mas, por terem sido repetidas
várias vezes, são incorporadas em nós de tal forma que tudo
parece muito simples.
Questões de gênero no debate sociológico
Naturalização da dominação
“No coração da dominação masculina pulsa sua natu-
ralização e a inversão da relação entre causa e efeito que a
acompanha. Se as diferenças entre homens e mulheres fossem
inerentes às diversas espécies, então, nós poderíamos afirmar
que a divisão sexual do trabalho reflete as diferenças nas
habilidades e talentos naturais. Poderíamos afirmar, ainda, que
as mulheres são naturalmente emotivas e que os homens são
naturalmente racionais. Mas o que se presume ser ali a causa
– as diferenças entre homens e mulheres – é, na realidade, o
efeito da ação de forças históricas de socialização”.
BURAWOY, Michael. O marxismo encontra Bourdieu, 2010, p. 138.
01 Bourdieu desenvolve sua teoria da ação por meio de dois
conceitos fundamentais. Quais são eles?
(A) Dialética e materialismo.
(B) Habitus e campo.
(C) Fator social e consciência coletiva.
(D) Estrutura e agência.
02 Explique alguns dos elementos da teoria da ação de Pierre
Bourdieu discutidos no presente módulo.
03 Bourdieu, ao fazer Sociologia, opõe-se a outras formas de se
pensar a sociedade, como:
(A) a sociologia relacional.
(B) a sociologia espontânea.
(C) a sociologia reflexiva.
(D) a sociologia objetiva.
04 Qual o significado do conceito de habitus?
05 Explique o que Bourdieu entende por dominação masculina.
01 A respeito do conceito de campo social e habitus na teoria de
Pierre Bourdieu, assinale a alternativa correta:
(A) São conceitos diretamente vinculados à tradição marxista da
qual Bourdieu era filiado.
(B) Ambos os conceitos são fundamentais para a teoria da ação de
Bourdieu.
(C) Por meio do conceito de campo, Bourdieu destaca as estruturas
que constrangem os indivíduos a sempre agirem da mesma
maneira.
(D) O conceito de habitus mobilizado por Bourdieu intenta
ressaltar a liberdade absoluta que os indivíduos possuem ao se
comportarem socialmente.
SOCIOLOGIA 191
Módulo 17 1ª Série
02
Pierre Bourdieu é o sociólogo mais representativo e influente
do nosso tempo – influente tanto no âmbito das ciências sociais
como no das humanidades; tanto no interior da acadêmica como
para além dela.
BURAWOY, Michael. O marxismo encontra Bourdieu, p. 12.
A respeito do relato acima, assinale a alternativa correta:
(A) Bourdieu contribuiu com a sociologia ao trazer a ideia de que
ela é só mais um discurso válido para falar da sociedade. Senso
comum e ciência se equivaleriam de acordo com esse pensador.
(B) Bourdieu foi um militante social que sempre viveu à margem
das grandes faculdades, por conta disso suas teorias tiveram
grande impacto apenas nos movimentos sociais.
(C) a importância do trabalho de Bourdieu é tão grande que muitas
pessoas que estão fora das discussões propriamente acadêmicas
foram influenciadas por esse autor.
(D) Bourdieu não fazia uma distinção entre a atividade do filósofo
e do sociólogo e, por isso, seu pensamento atingiu um nível de
profundidade incomparável.
03 Existe na tradição do pensamento social uma teoria chamada
teoria da ação racional. Ela pressupõe a existência de indivíduos
que vivem suas vidas realizando cálculos dos custos e dos benefícios
decorrentes de suas atitudes. A partir daquilo que você estudou
neste módulo, como Bourdieu se relacionaria com esse tipo de
pensamento?
(A) Bourdieu corrobora com os princípios da teoria da escolha
racional com o seu conceito de habitus, que aponta para a
motivação por trás das ações dos indivíduos.
(B) Bourdieu rejeita os fundamentos da teoria da escolha racional
por se tratar de um pensamento econômico e, por isso, nada
pode dizer sobre a sociedade.
(C) A teoria de Bourdieu se harmoniza com a teoria da escolha
racional porque no campo social os indivíduos medem custos
e benefícios de suas ações e procuram melhores oportunidades.
(D) Na teoria de Bourdieu, os agentes sociais nem sempre são
capazes de racionalizar a respeito daquilo que fazem e o porquê
fazem; sendo assim, a teoria da escolha racional, de acordo com
o pensador francês, é limitada.
04 Durkheim uma vez afirmou que “os homens não esperam o
advento da ciência social para formularem ideias a respeito do
direito, da moral, da família, do Estado, da própria sociedade”.
Essa passagem se relaciona de alguma maneira com a teoria de
Pierre Bourdieu?
(A) Sim, porque vemos nela a noção de que os seres humanos
realizam uma certa “sociologia espontânea” antes mesmo de
estudarem a disciplina Sociologia.
(B) Não, porque para Bourdieu os indivíduos não são capazes de
explicar as razões daquilo que fazem e, por isso, não formulam
ideias a respeito de suas próprias vidas.
(C) Sim, porque Bourdieu advoga a fundamental importância do
senso comum para a construção do saber científico, assim como
Durkheim fazia.
(D) Não, porque para Bourdieu a sociedade não pode ser explicada
pelo senso comum como pretendia Durkheim.
 192 SOCIOLOGIA
1ª Série Módulo 17

05 Muitos pensadores vão sustentar que as ciências sociais

possuem uma separação entre opinião e saber científico mais
confusa e duvidosa do que acontece em outras ciências. A respeito
do assunto, Pierre Bourdieu: 01 O sociólogo Pierre Bourdieu enfatiza bastante a vigilância
epistemológica por meio da qual é necessário separar a opinião
(A) sustenta que não deve existir distinção entre saber científico e comum do discurso científico. A partir do que foi aprendido neste
saber do senso comum. ano, você acredita que a sociologia é, de fato, diferente das opiniões
(B) afirma que o poder da sociologia está no fato dela ser uma sobre a sociedade que vemos no dia a dia? Justifique sua resposta.
disciplina muito diferente das ciências naturais e exatas.
(C) argumenta que, embora a distinção entre opinião e ciência seja 02 Apresente um exemplo que demonstre a diferença entre a cons-
mais difícil, é fundamental criticar a sociologia espontânea para trução do habitus masculino e a construção do habitus feminino.
que se faça ciência verdadeira.
(D) entende que o saber sociológico só tem a ganhar com a incorpo-
ração de outros saberes, como aqueles que decorrem do senso
comum das pessoas.

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 SOCIOLOGIA 193
Módulo 18 1ª Série

Pensadores marxistas no século XXI

Você sobreviveria a um apocalipse zumbi?

Certamente você e seus amigos já se fizeram essa pergunta. Se
uma epidemia transformasse as pessoas em zumbis e destruísse
as bases da vida como a conhecemos, as instituições, os sistemas
políticos, econômicos, as leis, a família, como você se sairia?
Provavelmente, todas as formas de organização social e econômica
existentes precisariam, diante de um apocalipse zumbi, ser reinven-
tadas. É possível que a tentativa de reestabelecer o sistema anterior

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encontraria obstáculos instransponíveis na nova realidade zumbi.
A destruição completa do sistema é algo tão distante para
nós que, muitas vezes, só aparece como cenário de filmes e
séries de ficção científica pós-apocalíptica. Entretanto, por mais
hollywoodiano que pareça, há pensadores hoje, arautos do caos, Expectativas de aprendizagem:
– Compreender os elementos do pensamento de marxistas da
que afirmam que o capitalismo está fadado ao colapso total e irre-
versível. As ideias e teorias desses autores são o que analisaremos
C5 atualidade;
– discutir os aspectos da teoria marxiana aplicados às sociedades
neste módulo. atuais.

1. Introdução livros que procuram sintetizar o pensamento de Marx e introduzir

Neste ano, como forma de introduzir a Sociologia para
muitos estudantes que tinham pouco ou nenhum contato com a
disciplina, um dos seus objetivos principais consiste em analisar as
transformações que marcam o mundo moderno. Os clássicos dessa
disciplina desenvolveram ferramentas para analisar um mundo
em pleno processo de mudança que se intensificou em meados do
século XIX. Com o passar do tempo, as mudanças não pararam.
Por isso, nos módulos anteriores, os estudiosos mais recentes que
continuaram procurando interpretar o mundo com novas catego-
rias mais adaptadas às novas realidades foram apresentados. No
entanto, existem alguns pensadores que sustentam que os clássicos
continuam oferecendo as melhores chaves interpretativas para
entender o mundo atual.
Um exemplo são alguns pensadores de tradição marxista
que, mesmo atualmente, insistem que “Marx nunca esteve tão
certo” e que a forma como ele entendia a natureza do sistema
capitalista continua sendo válida – com um ou outro ajuste – para
estudantes iniciantes ao pensamento complexo desse autor. Seus
cursos estão disponíveis em sites e redes sociais e seus livros, tradu-
zidos para diversas línguas, inclusive para o português. As opiniões
de Harvey são normalmente bem avaliadas, mas quando ele revela
que o que foi dito veio diretamente de Marx, muitos questionam.
Sendo assim, o geógrafo entende que é necessário que as pessoas
conheçam melhor o pensamento de Marx antes de julgar de forma
precipitada aquilo que ouviram falar dele.
Slavoj Zizek é um importante teórico social esloveno. Mundial-
mente famoso, seu status de figura popular faz com que seja tanto
amado quanto odiado. Ele é pesquisador sênior do Instituto de
Sociologia da mais importante universidade da Eslovênia e professor
colaborador de universidades dos Estados Unidos, entre as quais
Princeton e Michigan. Escreveu dezenas de livros, que têm sido
sistematicamente traduzidos e difundidos por todo o mundo, sobre
assuntos diversos: crítica social, crítica cultural, psicanálise, filosofia
política, filosofia clássica e marxismo.
©alexsl/iStock

a compreensão do nosso mundo. Como exemplo dessa linha de

pensamento, temos David Harvey e Slavoj Zizek, que ganharam
bastante notoriedade no mundo acadêmico (e mesmo fora dele) nos
últimos anos, inclusive, estando presentes em provas de concursos
e vestibulares.
David Harvey é um geógrafo britânico formado em Cambridge
que ganhou prêmios importantes em decorrência de suas contribui-
ções para a Geografia. Embora suas contribuições para a geografia
urbana sejam de crucial importância, destacam-se seus projetos
mais atuais. Após décadas se dedicando ao estudo e ensino de Karl
Marx, em especial do livro O capital, David Harvey tem lançado
 194 SOCIOLOGIA
1ª Série Módulo 18
É importante ressaltar que, por se tratar de um material didático
de Sociologia, é imprescindível debater as ideias de importantes
nomes da teoria social, principalmente aqueles que atualizam as
discussões dos grandes clássicos da disciplina. O debate que se
seguirá não terá um teor normativo, que vise convencer o aluno do
projeto político que os autores defendem. A Sociologia enquanto
disciplina científica não tem esse tipo de pretensão. Mas, com senso
crítico e disposição para um debate saudável, é preciso conhecer as
teorias sociais nos termos colocados pelos seus próprios autores,
para só depois realizar juízos de valor a respeito de sua pertinência
ou não nos dias atuais.
2. Propensão do capitalismo a crises
Parece estranho alguns autores insistirem no pensamento de
Marx. As sociedades socialistas entraram em colapso no fim do
século XX, atrocidades de regimes comunistas foram reveladas, o
mundo de hoje parece ter um capitalismo muito diferente daquele
dos tempos de Marx. Uma grande parte das previsões desse autor
se mostraram equivocadas e a teoria social parece ter evoluído de
tal forma que desenvolveu conceitos mais amplos e complexos do
que os de Marx. Por que insistir nele então?
Uma resposta possível, oferecida por alguns autores dessa
tradição, é dizer que o sistema capitalista possui uma propensão
para crises, como Marx dizia. A última delas, a chamada crise do
subprime de 2008, que atingiu o mundo de forma semelhante, em
alguns aspectos, à crise de 1929, exemplificaria esse argumento. Para
esses autores, as crises bancárias, as crises do sistema financeiro, a
falta de emprego, a pobreza, a desigualdade e as crises ambientais
não são eventos contingenciais que poderiam ser evitáveis ou
contornáveis. Assim como Marx, esses autores defendem que o
capitalismo possui crises estruturais.
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Um bom exemplo para entender o que é uma crise estrutural
é o de um prédio. Um prédio pode ser muito bem construído e
arquitetado, mas eventualmente pode apresentar alguns pequenos
problemas. Um vazamento em algum cano que gerou uma infil-
tração, uma goteira decorrente de uma chuva muito forte, um curto-
-circuito no sistema elétrico, ou mesmo algumas rachaduras. Diante
de um desses problemas, pode-se pesquisar a causa específica e
buscar soluções pontuais que não só o corrijam, mas façam com
que ele nunca mais volte a ocorrer. Imagine-se agora um prédio com
problemas estruturais, supondo que desde sua base e fundamento foi
construído de forma equivocada. Todos os problemas que surgirão,
como vazamentos, curtos-circuitos, rachaduras, serão consequência
de uma estrutura deficiente. Diante disso, não existe reforma que
corrija definitivamente os contratempos. Pode ser que ao trocar um
cano, o problema de infiltração se resolva por algum tempo, mas se
for estrutural, em alguns meses a infiltração poderá voltar pior. Da
mesma maneira, uma rachadura pode ser disfarçada com alguma
reforma pontual, mas, ao longo do tempo, caso os fundamentos do
prédio não estejam bem alicerçados, ela reaparecerá e poderá até
mesmo fazer o edifício desabar.
É exatamente isso que resume de forma muito genérica o
pensamento dos autores que serão analisados. Marx argumentava
que o sistema capitalista estava prestes a entrar em colapso. Para ele,
o sistema causaria sua própria destruição à medida que avançasse.
Entretanto, mais de um século se passou e o capitalismo se manteve.
As previsões pessimistas de Marx não se tornaram realidade. Na
opinião de Harvey e Zizek, contudo, Marx não errou. As crises
do capitalismo podem ser vistas em quase todas as décadas do
século XX e, na tentativa de solucioná-las, o problema pareceu
se agravar mais nos anos seguintes. Assim como um prédio com
problemas estruturais não consegue se manter apesar dos reparos,
um sistema econômico com crises estruturais não conseguirá se
manter funcionando. Por mais que Marx tenha se equivocado ao
dizer quando e de que forma o colapso total viria, seu diagnóstico
geral de que o capitalismo possui crises, que ele mesmo é incapaz
de solucionar, definitivamente é mais do que atual e relevante para
a compreensão do que acontece na sociedade.
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3. Críticas às possibilidades
de reformas
Muitos pensadores das mais diversas tradições reconheceram que
no atual estágio das sociedades modernas, as incertezas, as misérias,
os conflitos, as desigualdades e as crises ambientais parecem proliferar
com mais intensidade. Muitos desses estudiosos sustentaram que
esse tipo de capitalismo predatório e ganancioso que busca lucro a
Pensadores marxistas no século XXI
despeito da qualidade de vida das pessoas e do meio ambiente é um
dos principais responsáveis. O sistema, para manter o seu elevado
nível de lucratividade, precisa vender cada vez mais. Para isso, as
pessoas precisam consumir na mesma proporção, o que gera mais
descarte e afeta ainda mais o meio ambiente. Para obter maior lucro, é
preciso oferecer serviços e produtos mais baratos e, para tanto, paga-se
menos aos trabalhadores de algumas regiões do mundo que estão em
situação de tanta miséria que acabam se submetendo a condições
deploráveis de trabalho. Diante de todos esses problemas, o que fazer?
Uma resposta cada mais frequente afirma que é necessário
desenvolver formas de capitalismo mais humanitárias e mais
conscientes em termos ambientais. Muitos fóruns são realizados
mundialmente com a intenção de conscientizar as pessoas de que é
necessário reparar alguns elementos do sistema. Responsabilidade
social, capitalismo ético e consumo consciente são palavras-chave
nesse tipo de discurso. A forma exploratória que estrutura o sistema
precisa ser alterada em prol de relações sustentáveis de produção.
Outra possibilidade apresentada por aqueles que pretendem
apaziguar os custos sociais e humanos do crescimento econômico
desenfreado é apostar em um maior controle democrático do
sistema capitalista. O Estado teria como um dos seus objetivos
controlar a esfera de liberdade do capitalismo exploratório, solu-
cionando em algum nível os conflitos existentes na sociedade como
um todo. Essa possibilidade também seria ineficaz, porque sempre
iria estabelecer certa tensão entre princípios liberais e democráticos
e as desigualdades e fragmentações do corpo social.
David Harvey e Slavoj Zizek, entre outros autores, insistem de
maneira contundente que as pretensas soluções são insuficientes.
Elas apenas circulam as crises do sistema sem que se chegue ao
cerne do problema. Este, como eles insistem, é estrutural. Sem
que se organize a estrutura, tudo o que for proposto não passará
de paliativos sem resultados representativos. Existem barreiras ao
desenvolvimento do sistema que são inerentes à sua constituição,
de modo que não é possível acabar com as crises sem que haja uma
mudança estrutural.
4. A questão ambiental
Para os críticos já estudados, o capitalismo encontra barreiras
em sua própria natureza. Obter um crescimento composto sempre
é impossível. E se não tiver um crescimento exponencial a cada
ano, o sistema não poderá se manter. Uma das impossibilidades
de crescimento sem fim é o próprio meio ambiente. Por quantas
gerações o planeta conseguirá manter o padrão de produção e
consumo atual? Essa é uma pergunta difícil de responder, por
isso a resposta varia bastante. No entanto, nessa questão discutida
extensamente nos mais diversos círculos da sociedade está, na visão
desses autores, um elemento central na teoria de Marx: o sistema
capitalismo não será capaz de se reproduzir por tempo indefinido.
Espera-se que um dia novas tecnologias e conhecimentos façam
com que seja possível manter o padrão de produção e consumo,
SOCIOLOGIA 195
Módulo 18 1ª Série
sem que necessariamente seja pago o custo ambiental disso. Na
opinião de Zizek, Harvey e outros, isso é uma utopia que busca
amenizar o problema sem ter que lidar com ele de maneira direta.
Outra ilusão é responsabilizar os indivíduos, como se fosse possível
solucionar os problemas ambientais, por meio da coleta coletiva do
lixo, com um consumo mais consciente, com a economia de água,
andando mais a pé ou de bicicleta. Na opinião dos teóricos, esse
tipo de expectativa só mascara o problema. As grandes indústrias,
na busca pelo lucro, produzem cada vez mais e dependem do alto
consumo. Nesse processo, os danos ambientais extrapolam o limite
da conscientização da população. Sendo assim, buscar reparos e
reformas apenas ameniza um pouco a crise ambiental, mas ela
será inevitável.
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5. O conceito de classe social
Tanto David Harvey quanto Slavoj Zizek sustentam que Karl
Marx precisa ser lido e estudado porque suas ideias são importantes
para compreender o mundo. Com isso, os conceitos de Marx ainda
podem ajudar nessa tarefa, apesar de parecerem obsoletos em um
primeiro momento. É o que acontece com o conceito de classe.
Lembrando dos módulos nos quais estudou-se o Manifesto do
Partido Comunista, verificou-se que existe uma luta entre prole-
tários e burgueses da seguinte natureza: os burgueses, donos dos
meios de produção, exploram o trabalho dos proletários que, por
não possuírem aquilo que é necessário para sobreviver e produzir,
são obrigados a vender sua força de trabalho. Essa oposição entre
classes iria se intensificar cada vez mais a ponto do mundo ficar de
fato polarizado entre elas.
O capitalismo atual não se encontra dividido entre essas duas
classes de maneira tão clara. Será que o conceito de classe consegue
ajudar a entender realidades mais complexas existentes na atual
configuração do sistema? O que dizer de um professor que trabalha
em uma escola, mas que perto de onde mora iniciou um projeto
de cursinho pré-vestibular do qual é dono, e como dono contrata
outros para trabalharem em seu empreendimento? Além disso,
esse mesmo professor faz investimentos na bolsa de valores com o
objetivo de aumentar seu capital financeiro e acumular riquezas.
 196 SOCIOLOGIA
1ª Série Módulo 18
Esse professor é proletário por vender sua força de trabalho para
o dono da escola na qual trabalha? É burguês por ser dono de um
cursinho pré-vestibular que depende do trabalho de outras pessoas?
E o que dizer de suas movimentações na bolsa de valores?
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Esse caso, que se espalha nos dias de hoje, parece apontar
para um mundo sem classe. A classe média parece ter atenuado
a oposição entre burgueses e proletários. Além disso, há várias
pessoas que trabalham em suas próprias casas, vendem serviços
pela internet, desenvolvem aplicativos para celular e ganham
bastante dinheiro com isso, mas não sentem necessidade de abrir
uma empresa formal. Desse modo, o capitalismo hoje apresenta
múltiplas facetas.
Apesar desse fato, o conceito de classe ainda é crucial na pers-
pectiva que está em debate. No entanto, é necessário entender a sua
real aplicabilidade. Classe não é um rótulo que descreve tudo o que
uma pessoa é ou faz. Classe, nessa tradição do pensamento social,
designa muito mais as posições pontuais e os papéis que cada pessoa
representa em um determinada relação social. No pensamento
marxista, diz respeito a relações sociais que são estabelecidas de
forma desigual porque as pessoas ocupam posições diferenciadas
nos processos produtivos. Com isso, se uma pessoa estabelece um
determinado papel em uma relação produtiva e um papel diferente
em outra, sua classe poderá se alterar.
Outra crítica ao conceito de classe que se tornou muito frequente
consiste em sustentar que nos dias atuais verifica-se a emergência
de diversas formas de exploração, desigualdades e dominação de
tipo não econômico. Mulheres são oprimidas de maneira cruel em
certas regiões, preconceito racial e étnico proliferam em algumas
sociedades, intolerância e fundamentalismo religioso demonstram
sua brutalidade em muitos locais. Ao que tudo indica, nenhum
desses problemas tem relação com as classes sociais. Uma crítica
da economia política não parece atingir mais seu potencial emanci-
patório já que muitos problemas atuais parecem não ter mais a ver
diretamente com questões econômicas. No entanto, essa atualização
do pensamento marxista insiste que apenas a transformação das
relações sociais de produção poderá, de maneira efetiva, solucionar
os conflitos que parecem pertencer a outras esferas da sociedade.
Por trás de muitos conflitos e desigualdades decorrentes de into-
lerâncias e preconceitos, estão questões já indicadas por Marx em
seus trabalhos. Levar em conta as condições de vida material que
perpassam os problemas sociais ajuda a entender o que de fato está
em jogo em cada um deles: a luta entre as classes sociais.
O potencial analítico do conceito de classe depende, portanto,
de um entendimento mais profundo da forma como esse conceito
aparece no próprio trabalho de Marx. Com o entendimento
alcançado, resta a tarefa de adaptar o conceito de classes às novas
realidades da sociedade contemporânea, já que esta é bastante
diferente dos tempos nos quais Marx escreveu seus livros.
©scyther5/iStock
6. O que fazer?
Diante desse cenário de crises que se acumulam, esses autores
entendem que mais do que nunca deve-se questionar o futuro
do próprio capitalismo e pensar em alternativas estruturais. Um
capitalismo democrático, ético e humano seria impossível já que faz
parte integrante desse sistema a exploração do homem pelo homem
tal como Marx falou no século XIX. Se não há essa exploração
de maneira tão clara é porque a geografia do capital faz com que
nem todos sintam os seus efeitos negativos na mesma intensidade.
Tanto as dificuldades ambientais, quanto as desigualdades de classe
jamais serão corrigidas de maneira plena sem que se busque uma
transformação completa.
É por isso que os teóricos estudados insistem que devem ser
levantados questionamentos a respeito da plausibilidade e legitimi-
dade de todo o sistema, bem como a possibilidade de pensar em
alternativas. Nesse sentido, existe hoje desses autores, a necessidade
de se repensar o comunismo como uma solução possível, sem que
ele descambe nos efeitos desastrosos e devastadores percebidos no
século XX. Para os autores discutidos neste módulo, os regimes
políticos inspirados pelas ideias de Marx foram experiências
catastróficas. Como estudado, parte dessas ideias são bastante
impopulares para muitas pessoas. No entanto, as soluções do
problema são menos importantes para o debate social – que varia
no que tange a saber qual é e onde está exatamente o problema – do
que os diagnósticos realizados a respeito do tempo e do sistema tal
como ele se apresenta. Examinando esses diagnósticos, percebe-se
em David Harvey e Slavoj Zizek contribuições importantes para a
teoria social atual.
Pensadores marxistas no século XXI
“A consequência dessa limitação de nosso conhecimento
não é que devemos parar de exagerar a ameaça ambiental. Ao
contrário, devemos ter ainda mais cuidado com ela, já que a
situação é profundamente imprevisível. As recentes incertezas
sobre o aquecimento global não mostram que a situação não
seja grave, mas que ela é ainda mais caótica do que pensávamos
e fatores sociais e naturais estão inextricavelmente ligados. O
dilema em relação à ameaça de uma catástrofe ambiental é: ou
levamos a sério e tomamos providências que, se a catástrofe
não acontecer, parecerão ridículas, ou não fazemos nada e
perdemos tudo se ela acontecer. A pior alternativa é escolher
o caminho do meio e tomar providências limitadas; nesse
caso, falharemos, aconteça o que acontecer. Não há caminho
do meio em relação a uma catástrofe ambiental e, nesse tipo
de situação, falar em prevenção, precaução e controle de risco
tende a perder o sentido (...)”
ZIZEK, Slavoj. Vivendo no fim dos tempos. São Paulo: Boitempo, 2012. p. 314-315 .
01 Dentre os problemas do atual sistema, podemos destacar:
(A) Crises ambientais e desigualdades sociais.
(B) Produção de tecnologia e altos lucros.
(C) Economia solidária e desenvolvimento sustentável.
(D) Crescimento exponencial e pluralidade cultural.
02 Dentre as crises do sistema capitalista atual, podemos destacar:
(A) Revolução Industrial.
(B) Corrida Espacial.
(C) Crise dos subprimes em 2008.
(D) Genocídio armênio.
03 Explique o argumento segundo o qual o capitalismo é um
sistema propenso a crises.
04 De que forma, para os teóricos analisados neste módulo, o
conceito de classe pode auxiliar na compreensão da realidade atual?
05 De que forma a questão ambiental aparece nas discussões a
respeito da atualidade do trabalho de Karl Marx?
01 (ENEM)
Quanto ao “choque de civilizações”, é bom lembrar a carta de
uma menina americana de sete anos cujo pai era piloto na Guerra
do Afeganistão: ela escreveu que – embora amasse muito seu pai –
estava pronta a deixá-lo morrer, a sacrificá-lo por seu país. Quando
o presidente Bush citou suas palavras, elas foram entendidas como
manifestação “normal” de patriotismo americano; vamos conduzir
uma experiência mental simples e imaginar uma menina árabe
SOCIOLOGIA 197
Módulo 18 1ª Série
maometana pateticamente lendo para as câmeras as mesmas
palavras a respeito do pai que lutava pelo Talibã – não é necessário
pensar muito sobre qual teria sido a nossa reação.
ZIZEK. S. Bem-vindo ao deserto do real. São Paulo: Bom Tempo, 2003.
A situação imaginária proposta pelo autor explicita o desafio
cultural do(a):
(A) prática da diplomacia.
(B) exercício da alteridade.
(C) expansão da democracia.
(D) universalização do progresso.
(E) conquista da autodeterminação.
02 (ENEM)
O jovem espanhol Daniel se sente perdido. Seu diploma de dese-
nhista industrial e seu alto conhecimento de inglês devem ajudá-lo
a tomar um rumo. Mas a taxa de desemprego, que supera 52% entre
os que têm menos de 25 anos, o desnorteia. Ele está convencido de
que seu futuro profissional não está na Espanha, como o de, pelo
menos, 120 mil conterrâneos que emigraram nos últimos dois anos.
O irmão dele, que é engenheiro agrônomo, conseguiu emprego no
Chile. Atualmente, Daniel participa de uma “oficina de procura de
emprego” em países como Brasil, Alemanha e China. A oficina é
oferecida por uma universidade espanhola.
GUILAYN, P. “Na Espanha, universidade ensina a emigrar”. O Globo, 17 fev. 2013 (adaptado).
A situação ilustra uma crise econômica que implica:
(A) valorização do trabalho fabril.
(B) expansão dos recursos tecnológicos.
(C) exportação de mão de obra qualificada.
(D) diversificação dos mercados produtivos.
(E) intensificação dos intercâmbios estudantis.
03 (ENEM)
Até o fim de 2007, quase 2 milhões de pessoas perderam suas
casas e outros 4 milhões corriam o risco de ser despejadas. Os
valores das casas despencaram em quase todos os EUA e muitas
famílias acabaram devendo mais por suas casas do que o próprio
valor do imóvel. Isso desencadeou uma espiral de execuções
hipotecárias que diminuiu ainda mais os valores das casas. Em
Cleveland, foi como se um “Katrina financeiro” atingisse a cidade.
Casas abandonadas, com tábuas em janelas e portas, dominaram a
paisagem nos bairros pobres, principalmente negros. Na Califórnia,
também se enfileiraram casas abandonadas.
HARVEY, D. O enigma do capital. São Paulo: Boitempo, 2011.
Inicialmente restrita, a crise descrita no texto atingiu proporções
globais, devido ao(à):
(A) superprodução de bens de consumo.
(B) colapso industrial de países asiáticos.
(C) interdependência do sistema econômico.
(D) isolamento político dos países desenvolvidos.
(E) austeridade fiscal dos países em desenvolvimento.
 198 SOCIOLOGIA
1ª Série Módulo 18

04 (UFRRJ) A inevitável devastação ambiental decorrente do
processo de desenvolvimento industrial é um “quadro” que começa
a se modificar a partir da defesa pública de um novo conceito: o
desenvolvimento sustentável.
O uso dessa expressão tem a finalidade de:
(A) sustentar a inevitável necessidade do desenvolvimento.
(B) garantir que o desenvolvimento contemporâneo não se sustenta.
(C) sustentar o meio ambiente em detrimento do desenvolvimento.
(D) propor a conciliação do desenvolvimento com o meio ambiente.
(E) divulgar a insustentável situação do meio ambiente.
05 (UEL)
Se cada uma das seis bilhões de pessoas da Terra tivesse
computador, celular e carro, consumisse a mesma quantidade de
água, de cereais e de energia que os americanos, seria preciso quatro
planetas para dar conta do recado.
Isto É, n. 1719, 11 set. 2002. p. 75.
(A) O padrão de consumo norte-americano é sustentável pelo
fato de os Estados Unidos possuírem recursos próprios em
quantidade suficiente para atender sua demanda.
(B) As bases do padrão de consumo norte-americano são a susten-
tabilidade, o conservacionismo e o preservacionismo ambiental.
(C) Para atingir uma economia sustentável, o padrão de consumo
norte-americano deve ser disseminado entre os diferentes povos.
(D) O padrão de consumo norte-americano evidencia uma relação
socioambiental predatória e insustentável.
(E) O acesso a bens de consumo nos países subdesenvolvidos pode
alcançar o atual padrão norte-americano sem prejuízo ao meio
ambiente.
01 Procure uma noticia a respeito de algum desastre ambiental
recente e discuta em que medida ele pode ser interpretado à luz
do elementos discutidos neste módulo.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a apropriação de 02 Pesquise o que é o Fórum Social Mundial na internet e em
bens de consumo e recursos no mundo atual, é correto afirmar: outros locais e apresente seus objetivos e propósitos principais.
Depois, discuta a atuação desse fórum a partir das críticas promo-
vidas pelas teorias apresentadas neste módulo.

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 SOCIOLOGIA 199
Módulo 19 1ª Série

Introdução à análise sociológica do Brasil

O Brasil é o país do futebol?

Sabe-se que foram os ingleses que inventaram o futebol tal
como ele é jogado nos dias de hoje. Ainda assim, o país conhecido
como o país do futebol é o Brasil. Pelo menos era assim alguns anos
atrás. E agora? Após o 7 × 1 na Copa de 2014, as eliminações em
competições sul-americanas e a ausência de jogadores brasileiros
entre os vencedores do título Bola de Ouro, a posição do Brasil
como o país do futebol está comprometida?
Seja qual for a resposta para essa questão polêmica, é interes-
sante perceber como as pessoas consideram que determinados

©EduLeite/iStock
elementos fazem parte da identidade de um país. O Brasil é o país
do futebol, mas também do carnaval, do café, da malandragem
etc. Embora muitas pessoas não sejam malandras, não gostem de
Expectativas de aprendizagem:
carnaval, não gostem de futebol nem tomem mais café que em outras
– Discutir a complexidade de se buscar uma identidade do país;
partes do mundo, associamos esses elementos ao Brasil. Será que
C5 – entender o contexto de surgimento da sociologia no Brasil;
isso faz sentido? Será que é tão simples desvendar a identidade do – saber quais foram os principais temas da origem da sociologia
Brasil a partir desses elementos? brasileira.

1. Introdução realizar uma reflexão que buscasse enquadrar as ações individuais

Este módulo será uma espécie de introdução para os módulos
que lhe seguirão. Neste momento do ano haverá uma dedicação
à sociologia do Brasil. Muitos autores – historiadores, filósofos,
jornalistas, cronistas, cientistas sociais das mais diversas especi-
ficidades, políticos – buscaram produzir uma reflexão sobre as
características históricas e sociais do país. Alguns deles, embora
não sejam necessariamente sociólogos de formação, auxiliaram
bastante na constituição de um pensamento sociológico sobre o
Brasil. Destacam-se alguns nomes fundamentais para a constituição
de uma interpretação da realidade social sem os quais não existiria
uma sociologia brasileira com as características encontradas nos
dias de hoje.
É imprescindível para se pensar sociologicamente um país
realizar conexões com a sua história. Dessa forma, hora ou outra, ao
longo dos módulos que se seguirão, serão vistas discussões de cunho
historiográfico. Isso é normal, uma vez que ambas são disciplinas
irmãs e que o conhecimento do social se dá de forma interdis-
ciplinar. No entanto, existem especificidades no conhecimento
produzido pelas duas disciplinas que precisarão ser destacadas. A
própria História passa a incorporar em seus estudos os conceitos
e categorias advindos das ciências sociais para se pensar o Brasil.
Ao contrário de uma História que basicamente apresentava um
cronologia dos principais acontecimentos do país, procurou-se
em molduras econômicas, sociais, políticas que caracterizam uma
dada realidade.
2. A questão da identidade
brasileira
O que significa dizer ser brasileiro? Quem são, o que foram e
o que querem ser? Qual é a característica do país que o singulariza
perante outras nações? Qual é a identidade do Brasil, o seu rosto,
o seu retrato? Essas são algumas das perguntas que compõem a
reflexão sociológica a respeito do Brasil. Mas será que existe uma
única resposta para essas questões? Claro que não. A resposta vai
depender bastante do sujeito específico que vai respondê-la. A
avaliação sobre o que o Brasil é, foi e os prognósticos para o futuro
dependerão também do presente histórico no qual essas avaliações
foram feitas. Durante o período colonial, o Brasil era retratado
de uma maneira, no início do período republicano, de outra, nos
dias atuais, de uma terceira forma distinta. Existem, portanto,
várias maneiras diferentes de representar o país. Mas será possível
elaborar um discurso a respeito da sociedade que seja objetivo,
científico e livre das paixões que possam inclinar opiniões? Diante
de tantos retratos criados sobre o Brasil, como saber qual é o que
realmente vale?
 200 SOCIOLOGIA
1ª Série Módulo 19

©gustavofrazao/iStock

Para responder a essas questões, idealiza-se a seguinte
situação: imagine-se que daqui a 20 anos um historiador reúna
todas as pessoas que estudaram na mesma sala que um indivíduo
durante o Ensino Médio. O historiador ficou curioso em saber as
características da escola onde elas estudaram: os pontos positivos,
os pontos negativos, a infraestrutura, a qualidade dos professores e
do ensino, o nível do material didático. Basicamente, o historiador
©karalon/iStock
É a mesma coisa quando se fala de uma sociedade como o Brasil.
Não se trata de buscar um único discurso verdadeiro, mas entender
a relevância de diversas representações que foram feitas a respeito
do país para criar um quadro complexo do que é sua identidade.
Existirão versões do Brasil de origem rural, camponesa, marxista,
burguesa, urbana, paulista, militar, imigrante etc. Será conhecido
melhor o Brasil ao coletar-se um conjunto o mais vasto possível
dessas interpretações. Ao analisar as diferentes interpretações que
cada um dos mais importantes pensadores sociais desenvolveu
sobre o Brasil, será possível compreender melhor as características
da sociedade.

©OttoKrause/iStock
está em busca da identidade da escola. Ele quer saber o que a
singulariza diante de várias outras escolas existentes na sua cidade.
Para isso, ele fará perguntas para o indivíduo e para os seus colegas.
É possível pressupor que a avaliação dos colegas poderá ser bem
diferente uma das outras. Alguns estudantes poderão ter achado o
ensino muito fácil, outros muito difícil. Aqueles que socializaram
melhor poderão ter formulado uma boa impressão a respeito do
acolhimento da escola, aqueles que não conseguiram produzir
vínculos sociais duradouros terão ficado com a impressão de que a
escola era fragmentada e desunida. Alguns vão produzir avaliações
positivas a respeito de um determinado professor e outros, negativas
a respeito do mesmo professor. Ainda, se o historiador quiser
ampliar o escopo de sua pesquisa, poderá fazer entrevista com
ex-professores, ex-coordenadores, ex-diretores e mesmo com os pais
dos alunos. O quadro será ainda mais complexo e a variedade das
respostas, maior. Os pontos positivos ressaltados pelos professores
poderão ser vistos como negativos pelos alunos. Aquilo que os
diretores avaliavam positivamente, os coordenadores poderão ter
3. A geração de 1930
entendido como um defeito. Um pai poderá relatar que foi mal Um dos períodos mais fundamentais para o desenvolvimento
atendido por algum funcionário em determinada circunstância, da sociologia brasileira é comumente chamado de geração de 1930.
o que o levará a produzir um relato muito crítico a respeito da Composta principalmente por três autores clássicos – Gilberto
escola. O que fazer diante dessa multiplicidade de impressões? Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior, essa
Ora, uma solução possível é o historiador coletar o máximo que geração apresentou noções de suma importância para o pensamento
puder de relatos para compor uma figura com diversas faces que social brasileiro. Antes desses autores, uma parcela significativa da
corresponderá àquilo que a escola foi um dia. Quanto mais faces, intelectualidade brasileira procurava interpretar o país a partir de
mais relatos, mais impressões, o historiador compreenderá melhor um determinismo geográfico e biológico. Influenciados pela ciência
a identidade da escola.
Introdução à análise sociológica do Brasil SOCIOLOGIA 201
Módulo 19 1ª Série

europeia da época, alguns pensadores entendiam que o Brasil era a partir da década de 1930, por meio de fatores como determinismo
essencialmente uma sociedade atrasada e pouco desenvolvida em biológico e raciais, mas pelas características históricas, culturais e
decorrência de sua localização nos trópicos e por causa de sua sociais do Brasil.
composição racial. A miscigenação e a multirracialidade seriam

©filipefrazao/iStock
responsáveis por indivíduos inferiores e que, portanto, não estariam
aptos a desenvolver uma civilização. O Brasil estaria condenado ao
estado de selvageria e barbárie.
Embora alguns nomes do pensamento social brasileiro já
viessem questionando esse tipo de ideia, na década de 1930 ocorreu
uma ruptura total com essa espécie de representação da sociedade.
Cada um dos três autores, por exemplo, foram fundamentais para
repensar o Brasil por outros modos de interpretação. Em vez de
entender o brasileiro como um povo exótico e inferior às raças
europeias, esses pensadores enfatizaram aspectos históricos e
sociais. Ou seja, a chave para compreender o país deveria ser encon-
trada na sua formação histórica específica e no desenvolvimento de 4. Principais temas da sociologia
uma sociedade a partir de uma cultura particular. O Brasil não é brasileira
uma sociedade determinada a ser de uma forma predeterminada,
porque seu desenvolvimento decorre de fatores culturais, e não No Brasil, a sociologia desenvolveu uma tradição que buscava
biológicos. Sendo assim, é possível transformar e mudar o país oferecer respostas para questões relevantes da realidade. Na busca
rumo a um projeto de modernização. daquilo que há de singular e particular na experiência brasileira, o
conhecimento do social avançou, impactando inclusive as ciências
sociais de outros lugares do mundo. Sendo assim, alguns temas
©Bim/iStock

foram enfatizados em prol de outros, e alguns começaram a fazer

parte das discussões sociológicas de forma mais sistemática apenas
nas últimas décadas do século XX, como é o caso das questões de
gênero e movimentos sociais. A seguir, serão apresentadas algumas
discussões centrais para o pensamento social brasileiro no período
de sua consolidação.
• Formação do povo brasileiro: com o intuito de buscar uma
identidade do Brasil, muitos autores investigaram a compo-
sição do povo brasileiro. Entende-se que o Brasil teve uma
formação geral composta por índios nativos, negros africanos
e europeus portugueses. Cada um desses três grupos gerais
não é homogêneo, como é destacado por alguns estudos mais
aprofundados sobre a temática. Gilberto Freyre, Sérgio Buarque
É importante ressaltar que a ideia segundo a qual o Brasil é um de Holanda e Darcy Ribeiro (todos serão analisados nos
módulos que seguirão) abordaram esse tema em seus principais
país atrasado que precisa se modernizar prevaleceu em alguns dos
trabalhos.
pensadores dessa geração. Quando se pensa nas categorias “atraso”
e “moderno” é preciso entender bem o que elas querem dizer.
©Claudiad/iStock

Atrasado em relação a quê? Moderno a partir de quais perspectivas?

Muitos intelectuais brasileiros realizaram sua formação em outros
países, como Alemanha, EUA, Inglaterra, França, entre outros. Ao
comparar a realidade desses países com a do Brasil, esses pensadores
constataram que aqui não existia um sistema educacional amplo,
universidades das mais diversas áreas do conhecimento, um
mercado de trabalho aquecido, um parque industrial já consoli-
dado, instituições democráticas maduras etc. Esses fatores seriam
considerados indícios de modernidade, e sua ausência, sinais de
atraso. Fica então o questionamento sobre o porquê de o Brasil
não ter conseguido se desenvolver tal qual grandes potências. As
diversas respostas possíveis para a questão não foram mais buscadas,
 202 SOCIOLOGIA
1ª Série Módulo 19

• Questões raciais: relacionada com o tema anterior, a questão
racial, principalmente a questão do negro na sociedade
brasileira, fez parte de alguns dos principais debates do
pensamento social do país no início do século XX. Mesmo
na segunda metade do século XIX, a questão do negro já era
bastante debatida em um país que estava prestes a, enfim,
abolir a escravidão. No Ocidente, o Brasil foi o último país a
proclamar a abolição. Deste modo, a questão de como os negros
estavam inseridos na sociedade, suas contribuições culturais e
as desigualdades raciais são temas de fundamental importância.
A miscigenação foi também bastante discutida, uma vez que
em outras sociedades, como a estadunidense, existiam abismos
• Instituições políticas: a formação do Estado brasileiro e do
sistema de governo democrático foi fruto de um longo processo
histórico. Durante vários períodos da história, a democracia
foi ameaçada. Diante desse fato, torna-se assunto privilegiado
de estudos sociológicos entender a solidez e a fragilidade das
instituições políticas brasileiras. É necessário estudar a expansão
do voto para mulheres, negros e analfabetos, a formação do
Ministério Público, a maneira por meio da qual os três poderes
são separados no Brasil e em quais momentos um preponderou
sobre o outro, a fortificação de uma burocracia estatal rígida,
entre outros assuntos.

©BrianAJackson/iStock
sociais e um processo de segregação em nível mais intenso do
que no Brasil. O significado social e os impactos culturais da
miscigenação é outro tema de debate sociológico relacionado
à questão racial.

©narvikk/iStock

• Relações entre público e privado: a modernidade instaura

• Entrada do Brasil na modernidade: o Brasil, ao longo do
século XX, passou de uma sociedade agrária e rural para uma
sociedade com princípios de industrialização e urbanização.
O significado social dessas mudanças é um alvo privilegiado
nos debates sociológicos. Como as instituições sociais, família,
religião, relações políticas, se alteraram diante das transforma-
ções estruturais da sociedade brasileira? Todo esse processo
de mudança é entendido, muitas vezes, como a entrada no
Brasil na modernidade. Mas quais seriam as características
dessa modernidade? Em quais aspectos o Brasil teria de fato
se modernizado e em quais perspectivas ainda são percebidas
estruturas de tipo tradicional? Essas são algumas das perguntas
feitas pela sociologia do Brasil.
uma importante distinção entre a esfera privada das vidas e
esferas públicas. Muitos estudiosos ressaltaram que no Brasil
existiria uma confusão muito maior do que em outros países
a respeito dessas duas dimensões. Seria mais comum, de
acordo com alguns pensadores, pessoas se valerem de cargos
públicos para obter vantagens pessoais. Esse tipo de confusão
geralmente denomina-se patrimonialismo. O Estado brasileiro
foi, por diversas vezes, caracterizado como patrimonialista pela
abundância de casos nos quais não existe uma separação nítida
entre o público e o privado. Desse modo, cumpre ao sociólogo
destacar os processos de formação do Estado e sua relação com
a sociedade.
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• Cidadania: o tema da cidadania diz respeito aos direitos

e deveres que os indivíduos possuem diante do Estado. O
processo de construção da cidadania não foi linear no Brasil.
Se, em alguns períodos, direitos políticos foram conquistados –
multipartidarismo, voto secreto e popular, disputar eleições com
possibilidades reais de vitória –, em outros esses direitos foram
retirados da população. O mesmo acontece com direitos civis
que até hoje, no Brasil, não são desfrutados por certas parcelas
da população em situações de privação. A formação de leis que
garantam o amplo direito à cidadania a todos os brasileiros
ainda está em construção, bem como a efetivação desses direitos
por parte inclusive de minorias que estão situadas à margem
da sociedade.
Introdução à análise sociológica do Brasil
Existem outros temas debatidos pelo pensamento social brasi-
leiro em seus primeiros anos. Mas com o que foi apresentado acima
já é possível adiantar alguns assuntos que serão trabalhados nos
próximos capítulos. Alguns pensadores enfatizaram determinados
temas mais do que outros. Essas diferenças decorrem do objetivo
de cada estudioso ao estudar a sociedade.
©gustavofrazao/iStock
O Brasil é, de fato, um país atrasado?
Dissemos que parte da reflexão inicial a respeito do Brasil
envolvia buscar as causas daquilo que era considerado atraso e os
prognósticos para uma futura modernização. Será que rompemos
com essa noção ou ainda consideramos o Brasil um país atrasado
que precisa se modernizar? Diante de eventos como a Copa do
Mundo de Futebol e das Olimpíadas em 2014 e 2016, respecti-
vamente, a mídia e a opinião popular formulavam constantes
questionamentos a respeito da capacidade do Brasil sediar eventos
dessa magnitude. Eram comuns perguntas como: será que teremos
01 Dentre as principais preocupações da sociologia brasileira no
período de sua formação, podemos destacar:
(A) Composição racial, instituições políticas e sexualidade.
(B) Movimentos sociais, política externa e questões de gênero.
(C) Questões raciais, cidadania e instituições políticas.
(D) Questões de gênero, desigualdade de classe e globalização.
02 A respeito do debate acerca do desenvolvimento da cidadania
no Brasil, podemos afirmar que:
(A) ela se deu tardiamente e não incorporou os negros em seus
direitos mais fundamentais.
(B) se deu de forma plenamente já na instauração da República,
quando todos finalmente puderam tomar decisões políticas.
SOCIOLOGIA 203
Módulo 19 1ª Série
A identidade do Brasil não cabe na obra de um único pensador.
Tom Jobim uma vez teria dito que “o Brasil não é para princi-
piantes”. E como poderia ser? Um país multifacetado, plural, rico
economicamente, porém desigual, não é fácil de ser interpretado
e compreendido. Nesse sentido, quanto mais pensadores forem
trazidos para ajudar nessa tarefa, mais chances haverá de desbravar
esse país com dimensões continentais.
©luoman/iStock
aeroportos com a infraestrutura adequada? Nossos hotéis estarão
preparados? Como lidar com a violência urbana típica das grandes
capitais brasileiras? E o trânsito? E a capacidade dos estádios? Será
que todos esses questionamentos e desconfianças são legítimos?
Será que temos uma impressão equivocada a respeito do Brasil?
Será que outras grandes potências não têm os mesmos problemas?
Todas essas questões fazem parte até hoje das reflexões a respeito
do nosso país. Não existe uma resposta final, mas esperamos, ao
longo das aulas sobre sociologia brasileira, discutir de forma mais
aprofundada esse importante ponto de debate.
(C) os direitos civis tiveram uma trajetória de evolução linear no
Brasil e atingiram seu ápice em 1988.
(D) os direitos políticos se expandiram de forma significativa na
proclamação da República, quando se consolidaram de vez
no país.
03 Explique a contribuição que a geração de 1930 ofereceu para o
pensamento social brasileiro.
04 Escolha dois dos temas principais da sociologia brasileira e
explique quais são as questões em debate.
05 Por que não devemos esperar conseguir construir uma identi-
dade e representação do Brasil que seja absoluta?
 204 SOCIOLOGIA
1ª Série Módulo 19

(A) Difusão da cultura estrangeira.  

01 (UEL) O lema da bandeira do Brasil, “Ordem e Progresso”,
indica a forte influência do positivismo na formação política
do Estado brasileiro. Assinale a alternativa que apresenta ideias
contidas nesse lema:
(A) Crença na resolução dos conflitos sociais por meio do estímulo
à coesão social e à evolução natural da nação.
(B) Ideais de movimentos juvenis, que visam superar os valores das
gerações adultas.
(C) Denúncia dos laços de funcionalidade que unem as instituições
sociais e garantem os privilégios dos ricos.
(D) Ideal de superação da sociedade burguesa por meio da
revolução das classes populares.
(E) Negação da instituição estatal e da harmonia coletiva baseada
na hierarquia social.
(B) Diversificação da identidade étnica.  
(C) Valorização da pluralidade artística.  
(D) Expansão da dependência econômica.    
04 (UEL) Na primeira metade do século XX, o desenvolvimento
social brasileiro foi marcado por intensos debates a respeito do
processo de modernização do país. De acordo com esses debates:
I. O país era apresentado, por algumas correntes de pensamento,
como sendo de vocação agrícola.
II. O desenvolvimento social e econômico do país passaria,
necessariamente, pela modernização do campo.
III. O atraso brasileiro decorria de sua origem feudal, aqui repro-
duzida mediante a relação entre senhor e escravo.
IV. A expansão da economia capitalista no campo seria funda-
mental para eliminar os focos de pobreza e os movimentos
sociais de caráter agrário.

02 (UNICENTRO) No Brasil, o pensamento sociológico se Assinale a alternativa correta:

desenvolveu a partir da década 1930, com a fundação da Universi-
dade de São Paulo e o crescimento da produção científica. Sobre o (A) Somente as afirmativas I e II são corretas.  
desenvolvimento dessa ciência no Brasil, no século XX, é correto (B) Somente as afirmativas I e IV são corretas.  
afirmar: (C) Somente as afirmativas III e IV são corretas.  
(D) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.  
(A) Os sociólogos desse período buscavam descrever o país por (E) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 
meio de estudos naturalistas.  
(B) Os grandes nomes desse período foram Euclides da Cunha, 05 (UNIOESTE)  Desde o surgimento das ciências sociais (Antro-
Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda.   pologia, política e Sociologia) no Brasil, autores como Gilberto
(C) As duas preocupações dos sociólogos eram a aculturação Freyre (Casa-grande & Senzala), Sérgio Buarque de Holanda
indígena e a modernização do sistema político brasileiro.   (Raízes do Brasil), Florestan Fernandes (A organização social dos
(D) A orientação das análises sociológicas estava voltada para as Tupinambá), Darcy Ribeiro (O povo brasileiro), e vários outros,
discussões mundiais ditadas por países como França e Ingla- pensaram e estudaram o Brasil e o ser brasileiro. Os principais
terra.   temas abordados até os anos 1960 nesses estudos foram:
(E) O interesse dos intelectuais desse período estava voltado para o I. Mundo rural brasileiro e transformação do rural para urbano.
conhecimento do Brasil real, do povo, em oposição às análises II. Povos indígenas; população negra.
etnocêntricas anteriores.   III. Movimentos sociais e partidos políticos.
IV. Migração; identidade nacional e religião.
03 (UERJ) V. Participação popular e organizações não governamentais.
Chiclete com banana
Assinale a alternativa que contém todas as alternativas corretas:
Eu só ponho bip-bop
No meu samba (A) I, II e III.
(B) IV e V.
Quando Tio Sam pegar o tamborim
(C) I, II e IV.
Quando ele pegar no pandeiro (D) I, II, III e IV.
E no zabumba (E) III e V.
Quando ele entender
Que o samba não é rumba
Aí eu vou misturar
Miami com Copacabana
01 Foi dito no início deste módulo que as representações feitas
Chicletes eu misturo com banana sobre o Brasil dependem das questões que são relevantes para cada
E o meu samba vai ficar assim (...) presente. Nos dias de hoje, quais são as perguntas sociológicas que
Gordurinha e Almira Castilho. Coleção Folha Raízes da MPB, n. 15
você considera fundamentais para pensar o Brasil? Formule duas
perguntas e justifique por que você as considera fundamentais.
No final da década de 1950, a sociedade brasileira passava por
transformações marcantes em diferentes áreas. A letra da canção 02 Estamos vivendo um momento de muita turbulência em
“Chiclete com banana” enfoca o seguinte elemento da conjuntura diversas áreas de nossa sociedade. De que maneira a Sociologia pode
desse momento: auxiliar a compreender essas questões da nossa realidade social?
 SOCIOLOGIA 205
Módulo 20 1ª Série

Gilberto Freyre

Como alcançar a raça perfeita?

Essa pergunta soa absurda atualmente, quando já foi compro-

©Rawpixel/iStock
vado que, em termos biológicos, nem sequer podemos utilizar o
conceito de raça de maneira precisa para nos referirmos a grupos
humanos. No entanto, durante muito tempo, cientistas da Europa
e de outras partes do mundo tentaram alcançar uma “raça perfeita”,
ou seja, a raça mais “pura” possível. Uma raça livre de mistura seria
dotada de seres humanos mais qualificados, mais inteligentes, mais
desenvolvidos moralmente e mais capacitados fisicamente. Hoje
sabemos que essa ideia responsável por tantas atrocidades nada
mais é do que um mito. Mas quais foram as consequências desse
Existe raça perfeita?
mito na época em que ele possuía o status de ciência?
Neste módulo, estudaremos um dos autores brasileiros que
Expectativas de aprendizagem:
mais enfatizaram o fato de que uma sociedade composta pela
– Aprender os aspectos gerais da obra de Freyre;
miscigenação de modo algum é pior do que sociedades em que não
C5 – compreender o papel da miscigenação na formação da sociedade
há mistura significativa de etnias. Seu nome é Gilberto Freyre, um brasileira;
dos mais influentes pensadores brasileiros. – entender o argumento da democracia racial.

1. Aspectos biográficos
Gilberto Freyre, um dos mais conhecidos e influentes pensadores
do país, nasceu em Recife-PE em 1900, onde faleceu em 1987. Sua
família, descendente dos primeiros colonizadores do Brasil, possuía
seja para corroborarem suas ideias; tornou-se inevitável estabelecer
diálogos com Gilberto Freyre. Sendo assim, é impossível começar
qualquer conversa sobre representação do Brasil sem levar em conta
o livro Casa-grande & Senzala.

©Fred_Pinheiro/iStock
elevado capital cultural, por isso, Freyre teve a oportunidade de
estudar nos Estados Unidos, onde conheceu um dos maiores antro-
pólogos estadunidenses, chamado Franz Boas, que foi fundamental
para a elaboração de seu trabalho. Freyre escreveu diversos livros,
entre os quais, Casa-grande & Senzala, o primeiro e mais conhecido.
“O maior dos livros brasileiros e o mais brasileiro dos ensaios”,
assim Darcy Ribeiro – importante político e antropólogo brasileiro
– definiu o livro escrito por Gilberto Freyre em 1933. Sem dúvida,
é uma das obras fundamentais da história do Brasil. Foi traduzida
para diversas línguas e obteve alcance internacional. Fernand
Braudel, um historiador francês, talvez o maior do século XX, fez
diversos elogios à obra, reconhecendo sua relevância dentro do
cenário intelectual mundial. Esse livro não pode ser considerado, apesar de tudo, um
Em Casa-grande & Senzala, percebe-se uma forma diferente livro de sociologia ou antropologia. Seu caráter é muito mais
de fazer história. Os personagens principais não são grandes ensaístico do que científico. Um ensaio, ao contrário de um texto
políticos, autoridades, reis, príncipes e imperadores, mas pessoas científico, tem como característica ser mais baseado em opiniões,
comuns vivenciando seu cotidiano no cenário colonial brasileiro. impressões pessoais e reflexões, sem que seja necessário justificar
Tendo como um dos seus principais objetivos compreender a empiricamente os pontos defendidos. A contribuição de sua obra é
formação da sociedade brasileira e sua organização, constam no enorme para as diversas áreas do conhecimento e para a formação
livro vastas informações sobre a cultura do Brasil: maneiras de se da cultura brasileira como um todo. No entanto, serão ressaltados
vestir, maneiras de se comportar, alimentação, objetos utilizados os aspectos do trabalho de Freyre que dizem respeito a sua visão
no dia a dia etc. Sua interpretação do país foi fundamental para os sobre a miscigenação e as relações raciais, elementos que constituem
historiadores e sociólogos da geração seguinte, seja para superarem, o cerne de sua representação do Brasil.
 206 SOCIOLOGIA
1ª Série Módulo 20

2. Abordagem culturalista Raymundo Nina Rodrigues (1862-1906), estudioso das culturas

Em decorrência do contexto intelectual do qual é herdeiro,
Gilberto Freyre propôs uma interpretação do país que não reduzisse
suas características a determinismos de ordem biológica e geográ-
fica. Mais importante do que esses componentes para determinar
africanas, interpretava o atraso do país como uma consequência
direta da miscigenação. Ela estaria por trás da criminalidade, da
preguiça, da degeneração, da promiscuidade e de outros males que,
segundo ele, prevaleciam na sociedade.

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uma sociedade, são os elementos culturais e históricos que a
formaram. Essa abordagem advém do antropólogo Franz Boas,
que, no final do século XIX e início do século XX, revolucionou o
pensamento antropológico estadunidense ao sustentar que a raça
não é determinante sobre o meio cultural. Existem raças iguais ou
semelhantes que formam arranjos culturais muito diferentes entre
si e raças diferentes que formam sociedades similares. Da mesma
maneira, em uma mesma região geográfica, podem existir culturas
muito distintas apesar das semelhanças de fatores como flora, fauna,
clima, hidrografia etc.
Influenciado por essas ideias, Freyre procurou perceber
a contribuição cultural que os índios, os brancos e os negros
legaram ao Brasil. Seu livro possui um capítulo para analisar a
cultura indígena, um para analisar o colonizador português e os
dois finais dedicados aos escravos negros. Para ele, todas as raças Gilberto Freyre rejeitava completamente essa visão a respeito
contribuíram de forma significativa para a formação da sociedade da miscigenação. O autor se valia de uma base culturalista, e não
brasileira, não sendo possível ignorar o papel das três na constituição biológica, para interpretar a sociedade. Não haveria uma correspon-
da civilização. Principalmente o negro, que, para Gilberto Freyre, dência entre raça e valores morais e intelectuais tão direta quanto
compõe a alma de todo brasileiro, mesmo aqueles de cor de pele alguns propuseram. Gilberto Freyre realizará, portanto, um elogio
branca e cabelo louro. à miscigenação, entendendo que ela trouxe mais benefícios do que
malefícios para o Brasil.
3. Miscigenação

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Existia, na época, a crença de que a inferioridade do negro e a

superioridade do branco tinham base científica. A ciência do século
XIX – inclusive a social – estava saturada de argumentos que funda-
mentavam uma hierarquização das diferentes raças existentes. O
Brasil foi influenciado por esses argumentos biológicos de tal forma
que seus intelectuais adotaram as teorias europeias e estadunidenses,
percebendo o contraste entre as características do seu país e o
desenvolvimento social, econômico e científico da Europa, e atri-
buíram as dessemelhanças em termos de progresso e modernidade
à existência de uma cultura e de uma raça “inferiores”. A própria
noção de mistura racial era muito mal vista. O médico e intelectual
Embora Freyre destaque a relação abusiva entre negros e
brancos em alguns momentos de sua obra, para ele, o encontro entre
as três raças constituintes do povo brasileiro foi, em certa medida,
fraterno e harmônico, possibilitado pela miscigenação. Social e
sexualmente, houve relações entre conquistadores e conquistados,
dominadores e dominados, responsáveis por mitigar os efeitos
conflituosos do processo. Dessa forma, para o autor, a miscigenação
foi capaz de corrigir parte das distâncias sociais entre as raças e
promover uma democracia entre grupos diferentes.
Gilberto Freyre SOCIOLOGIA 207
Módulo 20 1ª Série

As razões para os portugueses terem sido capazes de promover
essa miscigenação decorre de sua própria constituição como povo.
Em termos étnicos e sociais, os portugueses não eram brancos ou
europeus puros, mas sim uma população já mestiça, por misturar
mouros, judeus, negros e brancos. Até a década de 1930, eram
comuns as interpretações de que a miscigenação havia corrompido
a sociedade brasileira de um jeito irreversível. Para Freyre, pelo
contrário, os portugueses eram o povo ideal para promover a
brancos e negros decorria muito mais de fatores de classe do que
de preconceito de raça e cor. Aqui, os negros puderam contribuir
culturalmente com a formação da sociedade muito mais do que os
negros dos EUA. Lá, existia segregação, conflitos, distância entre as
raças. Ao contrário dos EUA, o Brasil era miscigenado. Ou seja, a
casa-grande e a senzala não se separavam de forma absoluta, existia
contato entre negros e brancos.

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colonização brasileira, por já serem mestiços. Qualquer outro povo
não teria se aberto para a miscigenação da forma que eles fizeram
e, por isso, não conseguiria desenvolver uma sociedade adaptada
à situação brasileira.
O cenário principal no qual se deu o contato entre as raças foi
o da casa-grande. Como ressalta a própria particular “&” do título
do livro de Freyre, a casa-grande não se separa da senzala, mas a
integra de uma forma muito intensa. As duas juntas compõem os
elementos centrais do sistema social brasileiro representado pelo
patriarcalismo, pela monocultura, pelos grandes latifúndios, pelo
catolicismo popular e pela escravidão.
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Em Casa-grande & Senzala, o autor aponta para o fato de que

Uma das teses mais importantes do trabalho de Gilberto Freyre
é a de que a miscigenação não fez mal para o Brasil. Ao contrário
do que se costumava pensar, ela não tornou os brasileiros inferiores,
imorais e doentes, mas sim foi capaz de originar a sociedade que
melhor conciliou raças diferentes ao redor do mundo. Em nenhum
outro lugar teria havido uma relação tão intensa entre conquistadores
escravas negras amamentavam os filhos de seus senhores, contavam-
-lhes histórias, os alimentavam, retiravam-lhes o “primeiro bicho-
-do-pé” e também iniciavam os jovens na vida sexual. Os filhos das
escravas também brincavam com os filhos do senhor, e, por isso,
a presença do negro é central na formação da família brasileira.
Nada disso aconteceu nos Estados Unidos. No Norte, a colo-
nização produziu fronteiras mais concretas e uma segregação com
mecanismos jurídicos que nunca foram desenvolvidos no Brasil.
Também no regime de apartheid experimentado na África no
Sul era necessário manter as crianças brancas e negras separadas
radicalmente. Existiam escolas de branco e de negro, bairros onde
negros não podiam entrar, restaurantes que só serviam pessoas de
determinada cor etc. Por não haver nada disso no Brasil, Gilberto
Freyre afirmava que aqui havia democracia racial.
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e conquistados como a que se deu no Brasil. As possíveis debilidades

presentes na realidade social brasileira decorreriam de fatores de
cunho social e histórico, e não biológico, como eram geralmente
explicadas. Sendo assim, Freyre sustenta que, no Brasil, houve um
processo de democracia entre as raças evidenciado pela miscigenação.
Suas ideias foram bastante originais para a época e mudaram bastante
a forma como o país passou a ser entendido pelos próprios brasileiros
e também por outros países.

4. Democracia racial
Gilberto Freyre caracterizou o Brasil nos termos de uma
democracia racial. Não que isso significasse que entre os brasileiros
não havia preconceito racial, mas que a distância social entre
 208 SOCIOLOGIA
1ª Série Módulo 20
5. Conclusão
Apesar de a importância de Gilberto Freyre para a construção
do pensamento da sociedade brasileira ser imensurável, sua obra
não ficou livre de críticas. Para muitos estudiosos, não seria possível
falar em democracia racial diante das discrepâncias vividas por
negros e brancos no Brasil ainda hoje. A mentalidade conservadora
de Freyre o levou a enxergar um país livre de conflitos, desigualdades
e contradições, ignorando a crueldade e a brutalidade do processo
de colonização, ao qual teceu elogios.
Como afirma o historiador José Carlos Reis, Gilberto Freyre
fechou os olhos para as tensões do passado e representou o Brasil
como um lugar feliz e harmonioso, livre de ódios sociais e raciais,
onde índios e negros teriam de maneira recíproca contribuído com
a formação cultural e do caráter do brasileiro.
Diferentemente de Gilberto Freyre, muitos autores que se
seguiram interpretaram as relações sociais do Brasil sob outras
perspectivas, inclusive opostas à desse primeiro autor aqui estudado.
Apesar disso, seu valor é inestimável pelos debates que sua obra
suscitou a respeito do passado e do presente do Brasil.
Prefácio do livro Casa-grande & senzala:
“Vencedores no sentido militar e técnico sobre as
populações indígenas; dominadores absolutos dos negros
importados da África para o duro trabalho da bagaceira, os
europeus e seus descendentes tiveram entretanto de transigir
com índios e africanos quanto às relações genéticas e sociais. A
escassez de mulheres brancas criou zonas de confraternização
entre vencedores e vencidos, entre senhores e escravos. Sem
deixarem de ser relações – as dos brancos com mulheres de
cor – de ‘superiores’ com ‘inferiores’ e, no maior número de
casos, de senhores desabusados e sádicos com escravas passivas,
adoçaram-se, entretanto, com a necessidade experimentada por
muitos colonos de constituírem família dentro dessas circuns-
tâncias e sobre essa base. A miscigenação que largamente se
praticou aqui corrigiu a distância social que de outro modo se
teria conservado enorme entre a casa-grande e a mata tropical;
entre a casa-grande e senzala. O que a monocultura latifun-
diária e escravocrata realizou no sentido de aristocratização,
extremando a sociedade brasileira em senhores e escravos, com
uma rala e insignificante lambujem de gente livre sanduichada
entre os extremos antagônicos, foi em grande parte contrariado
pelos efeitos sócias da miscigenação. A índia e a negra-mina
a princípio, depois a mulata, a cabrocha, a quadradona, a
oitavona, tornando-se caseiras, concubinas e até esposas
legítimas de senhores brancos, agiram poderosamente no
sentido de democratização social no Brasil”.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da
economia patriarcal. 51. ed. São Paulo: Global, 2006. p. 33.
01 O livro mais conhecido de Gilberto Freyre e um dos mais
relevantes para o pensamento social brasileiro é:
(A) Povo brasileiro.
(B) Casa-grande & Senzala.
(C) Formação do Brasil contemporâneo.
(D) Raízes do Brasil.
02 (UNICENTRO) Autor brasileiro que entendia a construção
do Brasil como a fusão de raças, regiões, culturas e grupos sociais
decorrentes da formação colonial, em que os negros e mestiços
teriam papel fundamental na formação da identidade cultural do
povo. Essa referência identifica:
(A) Gilberto Freyre.  
(B) Caio Prado Júnior.  
(C) Florestan Fernandes.  
(D) Fernando de Azevedo.
(E) Sérgio Buarque de Holanda.  
03 Explique a noção de democracia racial.
04 Como Gilberto Freyre entende o processo de miscigenação
brasileiro?
05 Uma das categorias fundamentais utilizadas por Gilberto Freyre
para pensar o Brasil é:
(A) cordialidade.
(B) patrimonialismo.
(C) luta de classe.
(D) desigualdade social.
(E) miscigenação.
01 (ENEM)
Formou-se na América tropical uma sociedade agrária na
estrutura, escravocrata na técnica de exploração econômica, híbrida
de índio – e mais tarde de negro – na composição. Sociedade que
se desenvolveria defendida menos pela consciência de raça, do que
pelo exclusivismo religioso desdobrado em sistema de profilaxia
social e política. Menos pela ação oficial do que pelo braço e pela
espada do particular. Mas tudo isso subordinado ao espírito político
e de realismo econômico e jurídico que aqui, como em Portugal, foi
desde o primeiro século elemento decisivo de formação nacional;
sendo que entre nós através das grandes famílias proprietárias e
autônomas; senhores de engenho com altar e capelão dentro de
casa e índios de arco e flecha ou negros armados de arcabuzes às
suas ordens.
FREYRE, G. Casa-Grande e Senzala. Rio de Janeiro: José Olympio, 1984.
Gilberto Freyre
De acordo com a abordagem de Gilberto Freyre sobre a formação
da sociedade brasileira, é correto afirmar que:
(A) a colonização na América tropical era obra, sobretudo, da
iniciativa particular.
(B) o caráter da colonização portuguesa no Brasil era exclusiva-
mente mercantil.
(C) a constituição da população brasileira esteve isenta de mesti-
çagem racial e cultural.
(D) a Metrópole ditava as regras e governava as terras brasileiras
com punhos de ferro
(E) os engenhos constituíam um sistema econômico e político, mas
sem implicações sociais.
02 (PAS-UEM)
A miscigenação de raças e de culturas foi um aspecto funda-
mental da nacionalidade brasileira. Gilberto Freyre, em Casa-grande
& senzala, de 1933, valoriza “as características do negro, do índio e
do mestiço”, defendendo “a ideia de que a mistura dessas raças seria
a ‘força’, o ponto positivo, da nossa cultura”.
LORENSETTI, Everaldo. A produção sociológica brasileira. In: LORENSETTI, Everaldo et al.
Sociologia: Ensino Médio. Curitiba: SEED-PR, 2006, p. 53.
Com base nessa informação, assinale o que for correto:
01) Essa concepção de Gilberto Freyre demonstra o seu racismo
na análise da sociedade brasileira.
02) Na visão de Freyre, a mistura de raças dificulta a democracia
racial.
04) Para o autor, a riqueza da nacionalidade brasileira adviria de
uma convivência entre as raças, que possibilitaria a comuni-
cação e a mistura entre as culturas.
08) Para Gilberto Freyre, a raça ariana era superior e devia ser
privilegiada na elaboração de políticas públicas.
16) Segundo o autor, o índio e o negro contribuíram de maneira
fundamental para a riqueza da cultura brasileira.
Soma: ( )
03 (UNIOESTE – adaptada) Observando o parágrafo abaixo e as
afirmações que se seguem, seria correto dizer que:
Em Casa-grande & Senzala, Gilberto Freyre refuta as teses que
atribuem o “atraso” da sociedade brasileira à miscigenação, o que é
por muitos considerado um ponto de vista inovador.
I. Suas concepções podem assim mesmo ser consideradas
conservadoras por enfatizar a harmonia das relações entre as
etnias constitutivas da sociedade brasileiras, sobretudo entre
brancos e negros.
II. Freyre faz, no livro citado acima, um elogio à colonização
portuguesa no Brasil. Decorrem desse fato as críticas que recebe
por parte daqueles que veem justamente no tipo de colonização
que tivemos a origem do atraso nacional.
SOCIOLOGIA 209
Módulo 20 1ª Série
III. Adotando pontos de vistas e procedimentos muito distintos
em relação aos de Freyre, Florestan Fernandes foi um dos
autores que, na busca de explicações para aspectos da sociedade
brasileira, enfatizou muito mais as mudanças sociais do que
equilíbrio.
IV. O principal ponto de convergência entre Freyre e Florestan é
que, com a progressiva industrialização da sociedade brasileira,
os negros não ocupam, necessariamente, um lugar marginal.
(A) Todas as afirmativas estão corretas.
(B) Apenas as afirmativas I e III estão corretas.
(C) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
(D) Apenas as afirmativas I e IV estão corretas.
(E) Apenas a alternativa I está correta.
04 A respeito das relações entre as raças no Brasil, Gilberto Freyre:
(A) enfatiza as desigualdades de oportunidades existentes para
pessoas provenientes de raças diferentes.
(B) discute as maneiras por meio das quais ocorreu a convivência
entre as diferentes raças no Brasil.
(C) ressalta os abismos sociais entre negros e brancos durante o
Período Colonial.
(D) lembra o papel que o Estado terá em integrar o negro de forma
plena na sociedade a partir de políticas públicas.
05 Sobre a importância dada à miscigenação no trabalho de
Gilberto Freyre, pode-se afirmar que:
(A) ela é problemática, estando entre os fatores que conduzem o
Brasil para o atraso.
(B) a mistura de raças causou danos praticamente irreparáveis na
estrutura social brasileira.
(C) ela foi fundamental para diminuir barreiras e promover a
democracia entre as raças.
(D) essa categoria ressalta as profundas desigualdades que se
iniciaram no Período Colonial e existem até hoje.
01 Redija um parágrafo explicando qual é a representação que
Gilberto Freyre faz do Brasil.
02 Explique o que Gilberto Freyre quer dizer quando afirma que
a miscigenação no Brasil corrigiu distâncias sociais.
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1ª Série Módulo 20

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