Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
O crescimento do
TRANSTORNO
OPOSITIVO
DESAFIADOR
A prevalência do TOD em diagnóstico
isolado atualmente é de aproximadamente
6% a 16%; a incidência como comorbidade
secundária no TDAH é de 50%, e no autismo
esse percentual é de 29%
Por Emanoele Freitas
www.portalespacodosaber.com.br
IMAGENS: SHUTTERSTOCK
psique ciência&vida 57
SÍNDROME
T
ranstorno opositivo de- A prevalência do TOD em diag- Pesquisas recentes
safiador (TOD) é um nóstico isolado hoje é de aproxi-
transtorno do neurode- madamente 6% a 16%; a incidência demonstraram
senvolvimento de diag- como comorbidade secundária no que os níveis
nóstico independente, TDAH é de 50%, e no autismo esse
mas é frequentemente estudado em percentual é de 29%. de andrógenos
conjunto com o transtorno do déficit de O quadro é de maior incidência adrenais dos
atenção com hiperatividade (TDAH) nos meninos, para a primeira e segunda
ou com o transtorno de conduta (TC). infância, e de incidência igualitária em pacientes com
Novos estudos indicam que o TOD meninas e meninos na adolescência. TOD são mais
consiste em múltiplas dimensões, e es- Hoje, os números de casos vêm
sas diferentes dimensões podem estar subindo, mas sugere-se que tais dados altos que os dos
associadas a transtornos externalizantes sejam mais relevantes porque os testes escritos como
e internalizantes, posteriormente. específicos, bem como o conhecimento
A característica principal do TOD dos profissionais, estão favorecendo o controle ou até
é estar incluído nos transtornos dis- reconhecimento dos sintomas princi- mesmo de crianças
ruptivos, cujos sintomas principais pais, que em sua grande maioria podem
são a criança apresentar um padrão de ser detectados de forma eficaz por meio com outros
comportamento negativo, desafiador, de protocolos específicos. diagnósticos,
desobediente e hostil, todos com inten-
sidade, frequência e duração acima do Correlatos incluindo o TDAH
esperado para sua idade, e, em alguns Hormônios e neurotransmisso-
casos, o descontrole emocional pode le- res – Uma das linhas atuais de maior que possam correlacionar fatores espe-
var à agressividade e a alguns episódios investigação são os estudos com base cíficos para a etiologia do TOD.
de violência verbal e física. nos hormônios e neurotransmissores, Pesquisas recentes demonstraram
que os níveis de andrógenos adrenais
dos pacientes com TOD são mais al-
tos que os dos escritos como controle
ou até mesmo de crianças com outros
diagnósticos, incluindo o TDAH. Ou-
tra alteração encontrada é na frequência
cardíaca, que pode chegar a ser muito
alta após provocação e frustração, mes-
mo comparada à de outras crianças na
mesma situação.
Genéticos – Recentemente, estu-
dos levaram a associarem genes espe-
cíficos para o TOD aos sintomas desa-
fiadores de oposição. Trata-se dos genes
receptores para andrógeno DAT, DRD2
e D-beta-H.
A criança com TOD Uma série de marcadores neurobio-
apresenta um padrão lógicos, da condutância da pele, reativi-
de comportamento
desafiador,
dade do cortisol basal reduzida, anor-
desobediente e hostil, malidades no córtex pré-frontal e na
com intensidade amígdala são fatores que continuamen-
e frequência acima te estão sendo estudados e reavaliados
do esperado para se chegar a um aspecto específico
que explique melhor o TOD.
Cognitivos, emocionais e ambien-
tais – Fatores temperamentais relaciona-
www.portalespacodosaber.com.br
para saber mais
DETECTANDO SINTOMAS
A primeira etapa é a observação e anotação dos sinto-
mas em três etapas: frequência, duração e intensidade
dos comportamentos disruptivos. A criança não apresenta
de uma faixa normativa para o nível de desenvolvimento,
o gênero e a cultura do indivíduo.
B – A perturbação no comportamento está associada a
tais sintomas somente em casa, vai apresentar em todos sofrimento para o indivíduo ou para os outros em seu
os locais que frequenta e, dependendo do fator causador, contexto social imediato (p. ex., família, grupo de pares,
poderá apresentar maior intensidade ou não. colegas de trabalho) ou causa impactos negativos no fun-
Outro meio de detecção é através do quadro de diagnós- cionamento social, educacional, profissional ou outras áre-
tico clínico do DSM-V, que nos orienta com os critérios as importantes da vida do indivíduo
para diagnóstico. Código 313.81 (F91.3) C – Os comportamentos não ocorrem exclusivamente
durante o curso de um transtorno psicótico, por uso de
A – Um padrão de humor raivoso/irritável, de comporta-
substância, depressivo ou bipolar. Além disso, os critérios
mento questionador/desafiante ou índole vingativa com
para transtorno disruptivo da desregulação do humor não
duração de pelo menos seis meses, como evidenciado por
são preenchidos.
pelo menos quatro sintomas de qualquer das categorias
seguintes exibido na interação com pelo menos um indiví- ESPECIFICAR A GRAVIDADE ATUAL:
duo que não seja irmão. Leve: Os sintomas limitam-se a apenas um ambiente (p. ex., em
casa, na escola, no trabalho com os colegas).
HUMOR RAIVOSO/IRRITÁVEL
Moderada: Alguns sintomas estão presentes em pelo menos dois
– Com frequência perde a calma. ambientes.
– Com frequência é sensível ou facilmente incomodado. Grave: Alguns sintomas estão presentes em três ou mais am-
bientes.
– Com frequência é raivoso e ressentido.
COMPORTAMENTO QUESTIONADOR/ DESAFIANTE
Fonte: Manual
4 – Frequentemente questiona figuras de autoridade ou, Diagnóstico e
no caso de crianças e adolescentes, adultos. Estatístico de
5 – Frequentemente desafia acintosamente ou se recusa a Transtornos
Mentais – DSM-5.
obedecer as regras ou pedidos de figuras de autoridade. 5ª. ed. Porto Alegre:
6 – Frequentemente incomoda deliberadamente outras Artmed, 2014.
pessoas.
7 – Frequentemente culpa outros por seus erros ou mau
comportamento.
ÍNDOLE VINGATIVA
8 – Foi malvado ou vingativo pelo menos duas vezes nos
últimos seis meses.
NOTA: A persistência e a frequência desses comporta-
mentos devem ser utilizadas para fazer a distinção entre
um comportamento dentro dos limites normais e um com-
portamento sintomático. No caso de crianças com 5 anos
ou mais, o comportamento deve ocorrer pelo menos uma
vez por semana durante no mínimo seis meses, exceto se
explicitado de outro modo (critério A8). Embora tais cri-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E FREEPIK
sintomas somente
gue realmente compreender que tais de medicação para controlar os sinto-
em casa esforços são para sua mudança e re- mas pertinentes ao TDA-H e minimizar
dução dos sintomas. O TOD não tem os efeitos coligados dos transtornos.
se verificaram a redução da irritabili- uma cura específica, mas uma redução O que mais ouvimos, quando se
dade e o controle da frustração. significativa dos sintomas, chegando inicia um atendimento terapêutico, e
Ainda não há estudos que com- à possibilidade de autorregulação por isso é em quase 90% dos casos, é que
provem efetivamente a eficácia real de parte da criança/jovem. somente a criança necessita de aten-
nenhum dos fármacos, mas, sim, uma Quando a criança apresenta o TOD dimento, pois os pais visam apenas
redução dos sintomas, levando em como uma comorbidade concomitante corrigir o que está visível. Entretanto,
consideração cada caso. Analisando- ao TDAH se faz necessária a introdução se esquecem que todos são afetados
-se os efeitos adversos, alterando-se as pelo transtorno. Muitos casais não
dosagens e monitorando-se o processo compreendem que suas ações e atos
pode-se chegar ao fármaco mais propí- interferem de forma crucial no desen-
cio à criança. volvimento e eficácia do tratamento.
Infelizmente, os sintomas do TOD, A criança/jovem, em todos os mo-
em sua grande maioria, não são reduzi- mentos, sente o que de fato aconte-
dos somente com a terapia e o treina- ce na família e se ele(a) é realmente
mento parental. Em 2,7% a 40% de ocor- compreendido(a) ou não.
rência do caso é necessário o tratamento O treinamento parental é a base
farmacológico conjunto para que se al- Sintomas para compreender o que realmen-
cancem os resultados esperados. Aspectos sintomatológicos psiquiá- te acontece com a pessoa com TOD,
tricos. Como diferenciar os sintomas como eles se sentem, reagem e inter-
Em conjunto nas comorbidades: Sintomas – hos- pretam o seu entorno. O treinamento
O transtorno opositivo desafiador, tilidade com os pais (TDAH - e TOD consiste em preparar os pais e respon-
quando isolado, é tratado com terapia +); destrutividade (TDAH - e TOD sáveis para intervir de forma eficaz,
+); distração/desatenção (TDAH + e
psicológica específica para modelação com controle da situação. O primeiro
TOD -); dificuldade escolar (TDAH ++
de comportamento. É a cognitiva- passo é reconhecer os sintomas do
e TOD - ou +); sentimento de culpa
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E FREEPIK
-comportamental. Outro aspecto é o (TDAH + e TOD -); comportamento TOD, saber quando é uma birra (por-
treinamento parental em conjunto, antissocial na família (TDAH - e TOD que toda criança faz birra) e quando é
para que todos os procedimentos que - ou +). uma crise, saber essa diferença facilita
são utilizados nas terapias sejam refor- muito o segundo passo, que é saber
çados em casa. Assim, a criança conse- qual a atitude a ser tomada.