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Autores

Celso Amâncio, Ermínia Silva. Litian Moraes e Richard Riguetti.

Consell"to EdítorÍol
Celso Amâncio, Ermínia Silva, Lilian Moraes e Richard Riguetti.

Direçõo de Arte
Cristhianne Mandalozzo Vassão.

Foto da copo
Marcus Gullo

Revisao
Erica Resende

Produçoo
Lilian Moraes, Richard Riguetti e Simone Dutra.

ReolÍzoçoo
Grupo Ofl-Sina

Potrocínio
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro / Secretaria Municipal de Cultura.

Dados internacionais de Catalogação na Publicação (ClP)

5586 Silva, Erminia


Palhaços excêntricos rnusicais / Êrminia Silva e Celso Amãncio
de Melo Fitho. Rio de Janeiro: Grupo Off-Sin a,2074.

lnclui Bibliografia.
iSBN

1. Palhaço.2. Arte e música.3. lnstrumentos rnusicals. l. Melçr


Filho. Celso Anrârrcio de.

ann.7ô1 1"
1"Á PaIhaço Excêntrico: debate histórico

Í-iil pesquisas que não so "delÍnnitarn" o que deve ser palhaço,


como o fazem tambem para alguns
rjos inúmer0s rnodos del se procluzír este personagem,
dentro ou fora da [inguagem circense, sendo quase
o rnÊsmo clur;tnte {ongo período historico. o caso cÍestes
muitos modos de atuação nos espetáculos dos
artistas que construíranr seus pathaços era o denominado
"palhaço excêntrico,,.
í:r:teneJendo, corrlo clissernos, que todo "conceito
tem uma história',, sem se propor a esgotar
tocjas as fontes de pesquisas de ambos os autores,
[evantaremos apenas alguns exemplos nos quais
nos propomos r-iar visibilidade ele atgumas formas como
historicamente a denominação de excêntrÍco e
palhaço excentrico foí abordada.
o conceíto <Je excêntrico, ern si, dá margem à uma infinidacle de possibiticíades
que vão desde
tle nr:n"iinaçoe:; na ;:rea rJa saucle (esta pessoa
é excêntrica no sentido de portador de transtorno
menta[) até
;r 1"rrmtativ;l de denolninar pathaço excêntrico
"apenas" aquele que toca instrumentos ,,não usuais,,em
seus
espetácu[os' É'o pesclulsarnros em dicionários disponíveis
na internet, excêntrico no sentido de,,fora do
cornurn" ;tpresenta os sinônimos: bizarro, esdrúxulo,
esquisito, esquÍsitório, estapafúrdico, estapafúrdio,
s'çtranrhoiíco, estranrbotico, estranho, estúrdio,
excepciona[, exótico, extravagante, heteroctito, incomum,
írregm ía r, ni ira bola nte, sin gu la r, su rpreen
d ente.
Mas' há outras forinas de trtitizá-tos para uma pessoa
por ser: caprichoso, novo, louco, diferente,
Iunátíctl, rnaní;]co, grotesco, ridícuto, extraordinário,
incríve[, insotÍto, tipo, rato, delirante, desnaturat,
esquipático, funambutcsco, gozaclo, originat, sistemático,
sofisticado, votuntarioso, baldoso, barroco,
psícodetir:o.
i\ão e difícit supor que a produção historíca dos mithares
de artistas que construíram seus palhaços
(e nos úttimos 210 anos as palhaças)
inclua todos esses sinônimos desde bizarroa surpreendente,
desde
r;ipríchosÔ a psicocielico' A[érm de todo conceito
ter uma história, ele ou a produção dete é rizomática.
{'onstruin novos percLirsos, desenhar novos tenritoríos
a cada ponto de encontro que os homens e
muIheres
eirct-'nse's operüvam e operarn como resisiências
e atteridades, com os quais a linguagem diatogou
de
rnoejo polissên,ico e procluzitl rliferentes configurrações
nesse campo de saber e prática, inctusive vethas/
novas, cJístintas e inúmeras definições.
I sírn' palhaço é tudo isso e rnuito mais que não cabe aquí, por isso que
às vezes tentar entender
l.ltri-l "coi'leeito Único" para eIe, írern
como co[ocar um adjetivo como se resolvesse
tudo, torna-se muito
cornplicado' Mas afina[, como será que "excêntrico"
foitratado em nossas fontes da pesquisa? Desta forma
trl')(lsrnÔ' pois ern cada fonte, ern cada
autor, todos os sinônimos estavam presentes, por
exemplo, Alice
Viveiros de Castro,t:

CI pathaço é a figura côrnica por excelência" E[e é a maís


entouquecida expressão c1a
comicidade: tragicamente cômico. Tudo que e alucinante,
é
viotento, excêntrico e absurdo
e proprio do pathaço' Ele não tem nenhum compromisso
com quatquer aparência de
realidade. O pathaço é comicidade pura.
o palhaço não e {im personagem exclusivo do circo. Foi picadeiro
no que e[e atingiu a
plenitude e finalmente assumiu o papet de protagonista. Mas o nome pathaço surgiu
muito antes do chamado circo moderno. Aliás, seria melhor dizer "os notncs". Urna
das grandes dificuldades que a maioria dos autores encontra ao estudar a origem dos
palhaços está na profusão de nomes que essa figura assume em cada momento e [ug;:r.
Clown, grotesco, truão, bobo, excêntrico, tony, augusto, jograt, são apenas alguns dos
nomes mais comuns que usamos para nos referir a essa figura louca, capazde prorrocar'
gargathadas ao primeiro othar.

Ao discutir sobre o que seria o palhaço no primeiro parágrafo acima, Castro co[oca n clcbatq:
em termos das dificutdades em ter uma única definição, mas ao mesmo tempo, no segr-iinte c conceit*
excêntrico surge como mais uma das características misturaclas que cssa figura se aprese!'ltou e sc
apresenta. Assim, temos que ele teria inúmeros nomes em seu processo l-listcirico, rizomático. Mas, no
segundo já aparece como um entre as diversas denominações.
Continuando, quando Castro descreve a formação de duplas de pathaço, infonma que nc "corneço,
quem mandava era o branco - autorítário e crue[-, exibindo-se no picacleiro corn seL]s trajes majestosos,
repletos de bordados de paetês e [antejoulas." Já o parceiro da dupta "o pobrre augusto, que tarnbem pocie
ser cha mado de tony ou excêntrico, sofria na mão do ctown", mas, aos poucos este segu nd o teria assurl ic1<;
o picadeiro jogando "para [onge o velho branco... Hoje estaríamos vivendo o reinado absoluto do augusi.o,
depois da queda irremediávetdo ctown branco."s
Nesta proposta da autora, uma das muitas denominações dadas ao pathaço (que tanrbenr foi
ou é ainda) clown, seria de duas opções semelhantes "tony ou excêntrico". No decorrer cJe seu trabalho,
especifica mais essa opção, quando, por exemplo, [ista diversos pathaços brasiteii'os e suas espcr-ifici<1acles"
Para Juan Cardona, que chegou ao BrasiI na segunda metade do secu[o Xl)(, casadc) com a artista iili
Cardona (ambos os tios de Oscarito), A[ice6 o descreve como "um excêntrico, urn augusto exagerado, rnas
quando queria nrontava números de clown c[ássico."
Aqui excêntrico [igado a "augusto exagerado", igua[ à descrição qire faz do sobr"inho cJe Juiirr,
Oscarito que "era mais um excêntrico, o pathaço sem rnedidas, que abusava das carctas, tinha urn jeito
desajeitado de ser, um gír'o de corpo de quem ia, rnas não foi, malícia ingênua - tudo isso elc lrerciou
de seus antepassados, honrando os 400 anos de humor que trazia nas veias". Nesse senticJo, a autorir
concorda com a fala de Grande Ote[o, seu parceiro em 34 fitmes, que clectarou: "Eu acho que eu era ufil
ator mais completo" Oscarito era mais um excêntrico, ao passo que eu procurava vatorizar o diá[o61c e ;:
interpretação, en1 busca de um tom adequado. Pode ser que eu esteja enganado, rnas r:[e era mai:; uilr
excêntrico e eu um comediante""T
É interessante aqui a questâo colocada por atguns pesquisadores, e ffiesmo alguns artistas conl
relação à diferença entre "ser um ator mais compteto" e o outro ser "um excêr-ltrico", cornp[etltentanrJ<;
que ele valorizava o diá[ogo e a interpretação, sempre em busca de um "tom adequado", enquanto o outrcr
era "mais excêntrico". Será então que "ser excêntrico" não significava ou significa ser iim bom ;-rtor? Scrir
que pelo fato de que Oscarito era um ator completo, que ele tinha sucesso conlo excôntricr:, pois tanrberlr
tinha que sabervalorizar o diátogo, a interpretação, ter um tonr adequado? Será que aqui uma <Jifcrr:rrça
entre a hierarqr-ria de ser ator e ser pa[haço? Mas, com certeza "ser excêntrico" no sentirjo do eN;:gero, sern
medidas, abusando das caretas, desajeitado, malícia ingênua para uma parte "oficia[" do teatro não e ser
bom ator, não tem capacidade de valorizar o diátogo, e como dizianr os circenses nas propatr,;andars do
século XIX: etc., etc. e etc.
Marío {:ernando Botognesís ao analisar as raízes etimotógicas
do termo clown afirma:

clown ti urna palavra ingtesa, cuja origem remonta ao século XVl, derivad
a de cloyne,
cloine, ckswrte' 5ua matriz etimotógica reporta a colonus e clod,cujo
sentido aproximado
seriir hornem rústico, do campo. Clod, ou ctown, tinha também o
sentid o cle lout,homem
desa.ieitado, gl"osseiro, e de boor,camponês, rústico. Na pantomima
inglesa o termo clown
clesign;lva o cômico principate tínhas as funções de um serviça[.
No uníverso circense o
ctown e o artista cômico que participa de cenas curtas e explora
uma característica de
excêntnica totice em suas ações.

t-ste rnesrt-rc autor, quando discute as divergências dos pesquisadores,


em particutar dos
histcni;ldcrels circenses, soLlre as "origens" Co chamado "augusto', (sendo
o outro chamado de branco),
Ü f;tz rnericionando a questâo cl'ecorno este personagem é descrito como uma forma diferenciadora
para
disx-itlgLliÍ- de seu g:arceiro, sencJo que a excentricídade
no vestir, na forma de atuar seriam algumas das
c;n ractelrístícas:

As versões de sua origem, portanto, apontanr o Augusto


associado a uma estupidez
espontânea, vestido de forma excêntrica, Iivre e sem a formatidade
dos clowns anteriores.
lintretanto, antes de se dedicar à investigação das origens
e, consequentemente, de dar
a ellas unr Iugar cJe destaque, como se criação clo tipo
fosse resultado exctusivo de um
incidente dr:ve-se perguntar pelas razões que fizeram
o Augusto se firmar.e

Effi seu pnoleto de pesquisa, celso Amâncio de Meto Fitho (2013


- um dos autores deste texto),
t;rmtrérn anai[ísa a ciificutdade de precisão quando das
inúmeras definições sobre o que seria pathaço
exr-entrico' Para ele, ess;; defirlição, assím como parte
da terminologiaclownesco,nãoatcança exatidão,
havendo certa rjivergência quanto ao seu uso. Há, entretanto,
em alguns autores pesquisados por Meto
Fílho' particutarrnente aqueles que apontam as "origens"
destes personagens ou conceito no século XlX,
{jue pa!'Êce haver un'la "convergêncía que tatvez seja
capitaI para o entendimento desse tipo seja o fato
rje est;:nem nrais associaclos aos music ho!!s, ou seja,
ao espaÇo teatraI do que ao picadeiro,,. 10 um dos
pesquisaciores foi Robent Beauvais
", Çue segund0 ete o excôntrico teria surgiclô ,,justamente da adaptação
dc c/ourn tradiciona[à r:strutuna de palco, urna 'nova
arte de rír,que contamino u a raízdo cinema nascente
por rneic de artistas que nrigraram dos teatros
cle variedades aos cinemas, como charles
chaplin, Buster
il(eaton e, rnais recentemente, -lacques Tati".
o excêntrico seria, grosso modo, o,,e[o,,entre os clowns
e
Ê5s35 p€!'§onagons cinematográficas que
o senso comum reconhece como palhaços.
illá certo "consenso" ou "senso comunl"
no rneio dos circenses e de pesquisadores sobre
a retação
cntre pathraçr: e rnúsic;l (cantacJa, dançada e, principalrnente,
tocada), que, em gerat, é denominado pathaço
cxcêntrico' Mas, como verernos, tambem há uma
diversídade ou um leque de anátises que associam
fornratos cie corno o palhaço usa a música, princípalmente
instrumenta[, é que teria como característica
a excentricidade' castro 12, ao mencionar Piolin formando
dupta com Alcebíades pereira (no circo do
segundo) descreve:

Alcebíades, o clown, tocava pistom e piolin,


o excêntrico, tocava bandotim. Ate que uma
purlga mordia a perna de Fiotin que, desesperado, interrompia
o dueto para procurar
a pulga, apesar dos protestos de Alcebíades. O concerto reconreçava e n6vamerrtt-. a
putga atacava outra parte do corpo de Piotin que, desesperaclo, interrornpia o rJueto
para procurar a pulga, apesar dos protestos de Atcebíades. 0 concerto rcco!'neÇa\/a c
novamente a pulga atacava outra parte do corpo de Piotín, que parava cle tocal procurav;-t
a putga e deixava Atcebíades furioso.

Tristan Rémy dedica um capítulo aos clowns musicais, domadorc,s, humorísticos e poiíticos, danc!<r
especiaI atenção aos primeiros e chegando a afirmar que "um clown menos engraçacio se salva se for unr
pouco músico".

Apesar de abordar o clown músico com certa difererrciação, Rémy tanrbórn cornprec:ncler
a arte musicaI como própría das ferramentas do trabalho clownesca, afirrn;:nrJo quc oS
clowns são frequentemente instrumentistas hábeis e ressalta qire, indepeneienternr.:rrfr.'
do surgimento de grupos de clowns que se denominavar.n "rnusieais", ilãü podonros
[imitar essa denominação exctusivamente a estes, já que atguns utitlzar-rr a música corilo
ferramenta cômica ocasionatmente, desenvolvendo números rnusicais ao lacio rJc scus
outros números. Para tanto, o autorcita exemptos corno os Cairoli; o clovtrt-t Antonet, qLx(l
tocava violino; Dario Meschi, que era acordionista; os Frate[[irri que possuíam a[gum;:s
entradas musicais; Rico Briatore, que tocava violão e cantava;e Grcck em esgrr:cia[, rnulx.i-
instrumentista que desenvotveu a partir da música as grandes [inhas dr-. se us nurnero: i3

Rémy1o, segundo Melo Filho, também associa os excêntricos aos pa[co-s dos music /:a11s, analisanrJo a:;
ferramentas cômicas destes nos excêntricos solitários. De acordo com esse autoç es excôntricos ílossrienl ê5
mesmas fontes de riso que os clowns, tendo inclusive deixado os traços de sua originalidadc ern nLlrneros;ls
entradas clownescos. Seriam oriundos diretamente do augusto tradíciona[, tendo herdado o usc de acessririos
da tradição inglesa e tambem dostromps americanos.O tramp, que em inglôs significa vagabrrndo, á rrmr
tipo particutar de cômico circense surgido nos Estados Unidos, urma figura de íacc enegrecida c de vr::;Í.r,:s
mattrapithas resuttado da Guerra de Secessão Americana, que deixou vítimas esfai'rapadas v;,tg,anrJo trielas
estradas do país. Segundo Bolognesils, "é um tipo de palhaço que passou a ocupar o espr.:táculo juntarncntc
com o augusto e o clawn branco, mas permanecendo à margem do picadeil-o taI qLraI sui] origr:rn".

De acordo com o entendimento da poética do excêntrico por Rerny, este e psicoiogicarnre nte
o oposto do augusto, não sendo nunca um imbecit, mas r-lma especie de ;:ugusl.o esperto
e ardiloso que ternnina sempre por cima da situação. 5u;l arte estaria em criar r:trstáculos
em grande quantidade para ter o mérito do triunfo de u;"na só vez, atuando de maneua
catculada e precisa. Sua obra seria então constituÍda de uma sr:rna cle dificirlclades
vencidas ao mínimo custo, na quaI nada e descclsturado e percíido, senr íyri]rgur"r p;:]r;,]
improvisações. Para Rémy, o imprevisíve[ ó o pesadelo dos excêntricos.r('

Como se pode observar, pesquisadores europeus e brasileiros, em algunr momento cic sri;r:; pesqiiisa.,,
fazem associaçõesentreo conceito de excêntrico [igado aos palhaçosquetocam instrumentos üa sua cjivcrsiclade.
Mas, há também um caminho traçado por vários autores (que serão nonreados) e fontes pesquisarlas, pilra
especificar o palhaço excêntrico musicaI somente aquele que tocava "instrurnentos inusitado:;".
1.2 Drantaturgia do Falhaço Excêntrico - artes circenses/música/teatro/dança
- tudo isso?

cclrnn ohservan'los, não varnos atrás cias "origens" da excentricidade cômica,


entretanto, foi
importanLt: a real[ização de ur"na cartograíia, não exaustiva, mas suficiente para
assinalarmos várias
{'crrnas trtitízadas e denominaejas do pathaço excêntrico. E a retação
da questão da música e palhaço e
t;ilvez n que n:;:is temilü venl sendo construÍda, até agora, relacionando
pa[haço excêntrico como pathaço
rnusir:a[.
A eartüÍ,lr;]fia raa[izada pelos autores deste texto, em suas pesquisas e pubticaçÕes,
ven.r
clenlonstn;lndo o quarito o et'ltretaçamento, a transversalidade,
as misturas das diversas Iinguagens
artístir:as semp'"e fizeram parte das produções historicas de todas
elas, seja do teatro, música, clança e
r:{;;ç ar{es circense:s"- nas sua-§ mais cliversas formas
de produção, atuação e estética.
Üs artistas q ue circu Iaranr pelas ruas, praças e feiras, antes q
ue se constru íssem os primeiros teatros
e se org;lnizãssem en1 companhias circenses tinham na versatilidacle
uma das princípais características
Cir::tta expressão' [rarn artistas qLle, sem se preocupar com
delimitações de seu ofício, podiam ser a um
:;ó ternpo: acrobatas, atore.s, <1ançarino-s e músicos.
Música e circo, assim como teatro e circo, sempre se
ântrelar;ar;*rn í'tilr; criaçÕes de cjiversos tipos de profissionais que
contribuíram para a construção clo que
hr:!e perce'berÍlÔs con]o a arte cje atores cômicos e pathaços.
Muito antes da palavra: pathaço serde uso
corrente, diversos tipos de artÍstas valianr-se de tecnicas
e Iinguagens artísticas variadas em suas criações
e seus rn0dcls rJe produlção. Podemos citar exemplos que
abarcam diferentes épocas e períodos historicos,
cÜmo os rnímos greco-romanos, os sattimbancos, bufões
e artistas de feira durante a Idade Média, os
;rtÜres da chamada cammeclia rlell'orte, entre os séculos
XVI e XVll, dentre muitos outros que circutaram
[tr:r diversos espâÇos <ie encenação e que as fontes não conseguem abarcar.
os pathaços e os tÍpos
r:ornicos que os prececleram são oriundos cíe contextos
nos quais o entenclimento clo que significava ser
urn artíst;l consistia dorninar unra muttipticiclade de
técnicas e recursos. Esses artistas eram profissionais
versáteis e detesrtores das Iinguagens artísticas de sua
época. A compreensão da poetica de artistas corno
frstes imptica Llrrl o[!rar distinto cla noção eje artista
enquanto atguém dedicado a uma única técnica e
srlp;*nadar^nente dlscrimínarjo como músico, ator,
dançaríno ou acrobata. o ofício de pathaço e de artista
ci rcense ca ra cteriza-se por su a rn u [tip I icid
a de.

MLtltipticidade não sornente de técnicas, mas também


de tendências e artístas de universos muito
eliversificaclos, pois a partir aproximadarnente de 1780,
uma grande variedade de profissíonais passou a
fazer parte da nova organízação espetacutan que
eram os circos, artistas que

se apresentavam nas i'uas, praÇas e teatro de feíras,


mas também havia artistas dos
teatros fechados itatianos, etisabetanos, arenas, hipódromos,
ciganos, prestidigitadores,
lronequeiros, dançaninos, cantores, músicos, artistas
herdeiros da commeclÍa dell,arte,
acrobatas (solo e aéreo), cômicos em gera[ que
- se apresentavam em seus entreatos,
com o objetivo de imprimir ritmo às apresentações
e dar um entretenimento diferente
ao público.17
Portanto, sem que houvesse delimitações de seus ofícios, a atuação rJos palhaços reprc:;entou, c
ainda representa, uma síntese de diversas [inguagens que circularam pelas ruas e fciras, sendo aharcalda:;
pelo circo e tambem pelo teatro.
A[ém disso, havia ainda a necessidade de execução de trabalhos muito diversos ao fazer artístico,
como os cuidados com o materiaI de trabatho, a confecção dos figurinos, os encargos c.le transportc, a

montagem e a desmontagem dos patcos, dos cenários, ou das tendas, atem da versatitidade []ara encarnar
diferentes funções e papeis de acordo com as necessidades do grupo com o quaI se trabathava, fosse
este uma trupe de sattimbancos, uma famÍtia de bufões ou uma companhia circense. O circo moderno
manteve esse modo de trabalho compartithado, no qualseus agentes precisan-l atuar em clivers;:s funçoc:
para viabilizar o espetácuto, sendo geratmente os mesmos artistas que executam os núrneros acrobáticos,
as apresentaçôes cômicas e teatrais, assim como os trabathos tócnicos de produção.
AoincluirmosospaIhaçoscomoherdeirosepropagadoresdeste ntadusoperoncli,torna-sct:videnx.e
que a música, em suasvariadas possibitidades, e parte intrínseca de sua poética cênica" Adernais, outros
fatores pertinentes à historia da arte circense tambérn contribuem para acentuar essa caracterísl-ica" Uiri
desses fatores d iz respeito ao contexto inicia Id as entrad as e reprises de palhaços, qua ndo erarn constru ícJas

como parodias de números circenses, desde os números equestres às apresentaçÕes rnusicais. P;ira quc
as parodias pudessem acontecerera importante que o palhaço tivesse ao menos urna noção rnediaria .:
respeito do que debochava, isso quando não era necessário unr domínio ainda n'i;:is amplo, já que no ato
de parodiar muitas vezes está implicado a representação da fatha e slra superação ,tor mt-'ío Ce sittr;:çrit'i
ainda mais adversas -que a propria habitidade impõe em suas condições usuais.
ã..3 Qnxcrm são os excêntricos para autores estrangeiros?

Alp'rr*s pathaços excêntricos nrusicais tornaram-se


marcantes na memoria circense europeia, como
pnr exer*plo, cs rrrnãos príce, os chesterfitds
e Grock.
Üs irn"rãcs '.lohn e \r/iltiam PrÍce, en'l meados
do século XrX, reuniam o tripto talento de serem
erluilílrristas' s;;lItadores c rnÚtsicos, mas sendo
"primeiramente e sobretudo acrobatas
músicos,,. Dentre
r}s núrnercs rnr:sícaís desses artistas
estão os violons souteurs (viotinos saltadores),,,dLros
acrobátícos
intr:rcaladas rlor saltos rnoriais e contorcionismos,
entremeados de árias executadas ao viotino
poslçÔes n'lais ínacreciitáveis"' A dedlcação nas
à música também fÍgurava nas vestimentas
qLiÊ erârfl decoradas de signos
dos lrmãos price,
cla escrita musÍcat, como notas, ferrnatas,
claves diversas, entre outras
figu ras.18
os chesterfielc{s'e lnterpretavam músicos
desaieitados, em unra atuação virtuose que
;t comícida.ie em gestr-rs ínsignificantes trabathava
e desaieitaclos, em atitudes esquisitas e
em automatismos que
s;li;lm totaIrner-lte do contro[e"
o artísta suíço Adrien \llettach (1880-1959), que interpretava
o pathaço Grock,,,um excêntríco
rnusicaI i'{e gênío"2" tarrihérn transitou
tanto entre patcos quanto picadeiros, tornando-se
.:xcôntriec;s rnusicaís Iendários no corneço um cjos
elo sécuto XX. Grock era acrobata,
excelente mímico e sabia
exp{orar a cornícieJade das pa{avra's,
aliando estas hahilidades ao universo
musica[. ,,A comedia musicaI
tr:í a fomte príncípaí rJe ín-spiração de
Grock. violino, piano, saxofone, concertina,
tais são os fios de seu
borrjada r:iownesco',, (Jm clos várÍos instrumentos
que dorninava tratava-se de um viotino
í{r'l{:: carreíl;lva eff un"r estoio minúscuto
enorme, executando nesse violino insótito
melodias tão complexas quanto
ern un-l tvíolino convenciona[' Dentre
os filnres que esse artista reatizou, o
fiime Grock(1931)2r, pode ser
far:ílnrentr: ;l_ssistido na internet.
Üutnos I'lomes quer Pierre Levy cita em
sua obra, já da segunda metade do sécuto
XX são: ,,pipo
'lu*i*q Grigorescu, Eotvous, os Francesco, os siporo e os
Rastel[i,,.23
t-'lm outro tipo côrnicÜ que tarnbém
trabathava acentuadamente com a tinguagem
cts charnadt:s bluckfaces ou mirtstrels musícaI era
(menestréis), cuias apresentações,
os minstrel sllows,eram os
cntretemínrentos m;rís p«:putares nos
Estados unidos entre 1840 e 18g024,
uma popularidade que emigrou
para a Iuro6la' oncje o nrr:cie[o
americano de blackface se tornou preponderante
a similares europeus.
Üs blr"tckfaces americanos eram tipos
cômico-musícaís que satirizavam
aÍ'rorjesr:endentes' apropriando-se a fala e os costumes de
de seLrs asÍlectos culturais. Na maior parte
r:r;lm interpretados por hon"lens brancos das vezes, os blockfoces
com o rosto pintado por cortiça queimada,
manteiga r-le ceica' Nos prirneinos anos graNa preta ou
possuíam tábios exageraclamente
pintados de vermelho e nos anos
tardíos eratn brancos ou seríi pintura.
o púbtico branco cla epoca iniciatnâo
aceitava negros nesses papeis
§erí., qi-lc) ultílizassern a rnraquiagent
preta, porénr, a partir cla decada
de 1860, aproximadamente, e possíve[
r:rlr:ontrar ia iror"riens ncgros ínterpretanrJo
esses papéis com a cor de sua pele.
possíveI perceber que a popLrlaric]acíe Em fontes do período é
do fenôrneno está retacionada a
tensoes entre interesses contrários
c íavonávelis ao reg,ime e-scravoc!'ata, já
que parte da comicidade desses
espetáculos era criada por meio
cíel e-stereótípos racistas elas p.putaçoes
afro<jescendentes americanas. Mas
outra parte do fascínio que
esses artistas exerciam estava vincutada à música, pois suas apresentações tinharn corno base urn grupo
de músicos, todos com caracterização, geralmente tocando banjos, tanrborlns, ôssos25 e r;rbecas.
NaEuropadofinatdoséculoXlX,haviatantaprocuraporexcêntricosmusicaisquemuitos hlack{rsrcs
de origem americana eram contratados para temporadas em teatros e circos. Assim, esses artistas taritbánl
contribuÍram e influenciaram os números musicais cômicos de pathaços, trazencJo instrunrentos tÍplit-os
dos minsfre ! shows, como o banjo, o tarnborim, a gaita de boca, os ossos, e teriam tambem enriquecido a
construção de instrumentos cômicos com objetos de uso cotirjiano. A despeito de unna grarrcJe ocorrôrrr:i;r
deste tipo cômico nos Estados Unidos, personagens de face pintada de preto podem serveriÍ'ir:ados enl
outros momentos e locais, havendo incidência já nos teatros cle nroralidades rneciievais (,r na Cammcdia
deil'arte italiana.

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