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Os cargos são obrigatórios?

E outros mitos da administração escolar


que chateia ver repetir
Quando se anda há mais de 22 anos por escolas (e há 26 obrigado à reflexão sobre legislação educativa e a aplicá-la)
colecionam-se histórias engraçadas sobre a forma como as escolas, sempre cheias de palavrório bonito sobre
Democracia, olham a Lei e os direitos.

Algumas, bem absurdas, são resultantes de dificuldades em aceder aos textos (tentem arranjar um ECD completo
com as suas dezenas de alterações, e percebem). Outras são muito cretinas, mas aparecem em locais que, afinal, se
dizem espaços de educação para a cidadania democrática, mas que, na sua prática quotidiana não tiram
consequências do é que vivermos num Estado de Direito, subordinado à Constituição e à Lei e baseado em princípios
de respeito pelas liberdades cidadãs.

Outras, são simplesmente fruto de repetição acrítica de mitos administrativos. Alguém ouviu dizer a alguém, que
também ouviu, mas nunca realmente leu, que era para ser assim e, porque dá jeito a alguém, é assim que se faz e
ninguém vai verificar. A tolice permanece consolidada pelo suposto costume (que não faz lei, ao contrário do que se
julga).

“Saber de leis” ou usar o Direito…?


Noutros países, Direito e Educação relacionam-se com mais harmonia. Os dirigentes escolares estudam realmente
Direito e não “sabem de leis”: isto é, não leem um rol de normas concretas mutáveis, mas estudam regras de
interpretação e integração jurídica gerais que lhes dão ferramenta para uso sistemático do Direito.

Aliás, sem maçar muito, convém dizer que, muitas vezes, se faz uma confusão de base entre “leis” e outras coisas
(uma circular não é lei, um despacho normativo, também não, e uma portaria realmente é um regulamento, que se
subordina a uma qualquer Lei e cujo valor normativo encerra, por isso, uma certa limitação, o que faz com que não
tenha tão grande valor isolada). Os regulamentos internos das escolas não valem nada, sem conformidade com as
leis que habilitam à sua feitura e, por isso, é preciso ter cuidado com o que lá se escreve sem olhar à floresta legal
envolvente.

A autonomia proclamada das Escolas agravou o problema. Até já ouvi dizer disparatadamente, até em discussões
sobre coisas importantes, que o Código do Procedimento Administrativo, ou uma qualquer outra Lei, não interessa
nada porque “a escola é soberana”, colocando os estabelecimentos de ensino ao nível de um órgão de soberania
que, diz a Constituição, tem um rol limitado (Presidente, Governo, Assembleia e Tribunais).
Depois, não admira que tantas decisões das escolas e das entidades desconcentradas e centralistas do Ministério da
Educação tenham enterros bastante inglórios nos tribunais, quando alguém se queixa.

Tendo trabalhado noutro Ministério (Administração Interna, 6 anos) tenho consciência aguda de como a dita
Administração educativa tem comparativamente fragilidades profundas no seu funcionamento e no seu
enquadramento, como administração que respeite realmente os cidadãos (os alunos, as famílias e os trabalhadores).

Mitos e música de ouvido


E isto porque se rege por música de ouvido normativa, em muitos casos. Diz-se que é assim, mas não se mostra. A
DGESTE e a DGAE e outras “tutelas” até às vezes chegam a fazer uns pareceres e circulares (muitas vezes nem escritos
por juristas) e a “tutela” falou e …. “prontos!”. Às vezes, nem isso. E dessas práticas surgem mitos. Os 3 mais vezes
repetidos e perigosos nas escolas são talvez os seguintes.

1. O Código de Procedimento Administrativo não se aplica às escolas ou a certos casos concretos (muitos se
rirão que ainda haja gente a pensar assim, mas ainda há dias ouvi um sermão de um vetusto defensor da
“ausência de lei” escolar, por conta de eu invocar essa lei para salientar que pode haver impedimentos,
escusas e suspeições no exercício de cargos nas escolas). Uma lei essencial para a defesa dos direitos
dos administrados é assim despejada, por indesejável, de muitas escolas.
2. Os órgãos têm de fazer regimentos a prever todos os aspetos do seu funcionamento (há escolas que têm
regimentos para todos os seus órgãos, alguns com dezenas de páginas; há dias vi uma com 29 regimentos
publicados no site, que até incluem normas contrárias ao CPA e que, na generalidade, se repetem uns
aos outros);
3. Os cargos são de aceitação obrigatória por docentes;
O mito 1 é só ignorância (o legislador não precisava, mas até incluiu no Regime de Autonomia – hoje DL 137/2012 –
um artigo só para estipular isso, o artigo 68º). O 2 é pura perda de tempo inútil (até por causa da resposta ao mito 1,
já que o CPA inclui uma série de normas sobre funcionamento de órgãos coletivos que evitariam tais trabalheiras). O
3 é mais grave porque significa uma desconsideração total pelo facto de Portugal ser um Estado em que vigoram
direitos fundamentais de exercício individual.

Cargos obrigatórios?
Desde que me conheço por professor que ouço dizer isso: os cargos são de aceitação obrigatória. Antecipando uma
conclusão, posso dizer que, depois de alguma pesquisa, me parece (e, também não sendo jurista, espero prova em
contrário e correção fundamentada) que não. Pelo menos, não todas as funções que, por vezes, se juntam sob a capa
da designação única de cargo. Porque esse é o primeiro problema.
Por exemplo, diretor de turma não é um cargo porque é uma função inerente à própria função docente. Recusar
exercer a função de diretor de turma seria o mesmo que recusar corrigir testes ou até dar aulas a uma certa
turma. Seria a negação da própria função porque é parte da função (e há normas específicas a dizer isto). Aliás, é-se
diretor de turma fruto de uma simples distribuição de serviço. Recusar ser DT seria um ato de indisciplina laboral, a
não ser que o motivo fossem impedimentos, escusas ou suspeições. Por exemplo, podia recusar-me a ser diretor de
turma que incluísse a minha sobrinha (mas essa recusa é óbvia e resultaria apenas de nem dever ser designado).

Mas o mesmo não se pode dizer de outros cargos em que a palavra “cargo” se usa em sentido mais próprio: os
diferentes coordenadores. Pode-se simplificar, explicando que toda gente, que aceita ser contratado ou foi admitido
à função docente, deve contar ser diretor de turma, como conta ter de dar aulas. Mas, não se pode dizer que alguém
tenha de iniciar a carreira docente a prever, como obrigação inerente à função de docente, a de coordenar outros
docentes num órgão de administração.

Um docente tem capacidade profissional para ser diretor de turma, só por efeito da sua formação inicial, mas o
exercício de cargos de outro tipo até pode exigir formação complementar específica e não se pode presumir, contra
a liberdade individual, que todos queiram ou até possam exercê-los.E ter formação específica não obriga
necessariamente a fazer o que não se quer.

Um médico militar, em princípio, não se alista para saltar de para quedas e, por isso, não pode ser obrigado a saltar….
a não ser que aprenda e… queira (e mesmo a condição militar implica limites ao que pode ser obrigado a fazer). E a
escola não é a tropa….já começa a haver por lá “coronéis” mas não ainda não chegamos à militarização brasileira.Aliás,
a ideia de obrigar ao exercício, em cargos com componentes de coordenação, é particularmente estúpida pelo que
representa de desvalorização da motivação na geração de desempenhos de qualidade. Ainda que fosse obrigatório,
é má ideia obrigar…

Como podiam os cargos ser obrigatórios….


Para que um docente tenha a obrigação de aceitar um certo “cargo” (desses, em sentido mais preciso) teria de haver
2 condições normativas: existir uma norma legal (em sentido estrito) expressa a prever essa obrigação (qualquer coisa
do tipo: é obrigatório aos docentes exercer todos os cargos para que sejam eleitos ou nomeados) e, ainda que exista
essa, (e para que a norma inicial sirva para algo) existir outra norma a prever um qualquer castigo a quem não cumprir
esse dever.

Por isso, primeiro passo, ir verificar os deveres dos professores. Os deveres dos professores estão no Estatuto da
Carreira Docente e devem ser complementados pelos deveres de qualquer trabalhador em funções públicas listados
no respetivo “código” (a LTFP). No ECD encontram-se deveres gerais, para com os alunos, para com a escola e outros
docentes, para com os pais e outros docentes (estão no artigo 10º e 10º A, B e C com múltiplas alíneas). Por lá aparece
muito dever de reflexão, cooperação, participação, colaboração, etc. mas nenhuma norma impositiva a dizer “deve
exercer e não pode recusar os cargos para que for eleito ou nomeado.” Indo à legislação mais geral, que abrange
todos os trabalhadores em funções públicas (Lei Geral de trabalho em funções públicas – LTFP, de que o ECD é uma
especificação, dado que os docentes são trabalhadores em funções públicas com carreira especial) o quadro é
semelhante.

Os deveres gerais do trabalhador estão previstos no artigo 73º da LTFP que, no seu número 2, prevê uma listagem
de deveres gerais dos trabalhadores (que define depois) e que são a) O dever de prossecução do interesse público;
b) O dever de isenção; c) O dever de imparcialidade; d) O dever de informação; e) O dever de zelo; f) O dever de
obediência; g) O dever de lealdade; h) O dever de correção; i) O dever de assiduidade; j) O dever de pontualidade.

Sem alongar, parece que só o dever de zelo ou o dever de obediência poderiam encerrar direta, ou indiretamente, a
tal obrigação de aceitar e exercer cargos. Mas a sua interpretação correta e adequada (lendo as definições e a
doutrina interpretativa) leva a concluir que deles não se pode deduzir que os docentes possam ser obrigados a
exercer todo e qualquer cargo para que sejam eleitos ou nomeados.

E onde está a leizinha?


Assim, parece resultar que o tal mitológico e consuetudinário dever de os docentes aceitarem todos os cargos para
que sejam eleitos ou nomeados não resulta de lei, que se tenha topado nesta pesquisa, que se assume sumária. E
esta conclusão resulta da leitura simples das normas mais acessíveis e sem sequer entrar pelos domínios das doutrinas
jurídicas sobre direitos fundamentais e sobre os limites à limitação de direitos dos trabalhadores do Estado. Que
trabalham para o Estado, mas não tem a sua liberdade possuída por ele. Até para os presos há limites para o que se
pode obrigar a fazer!

Em termos simples, seria correto que, num Estado de Direito, alguém exercesse a sua liberdade de escolher profissão
e escolhesse ser professor e fosse obrigado a nunca exercer ou reduzir o exercício do essencial da profissão (contactar
com alunos), por via de uma suposta obrigação, que não poderia recusar, (cuja norma impositiva, para mais, não se
encontra) de exercer cargos que o afastam da profissão que escolheu e cuja autonomia técnica o empregador público
até tem o dever de respeitar?

E, digo isto, com todo o respeito por opiniões contrárias, mas só das que se arrisquem ao que me estou a arriscar
ao escrever isto (o contraditório, isto é, ser desmentido com provas) e que indiquem a norma em que se baseiem
para afirmar o contrário.

Recentemente disseram-me que na DGESTE haverá quem pense que, por exemplo, os docentes com formação em
administração escolar ou educacional são obrigados a aceitar exercer o cargo de coordenador de departamento (ou
subcoordenador que, para o efeito, é a mesma coisa).
Caso que abrange esses e todos os propostos pelo diretor, se não houver suficientes, depois de eleitos num processo,
em que até chegam a ser propostos a eleição contra vontade, por força de uma lei absurda.

E isto, ainda que o curso seja anterior à lei que (abusivamente) obriga a propô-los, o curso não tenha sido pago pelo
Estado e não queiram, no âmbito da sua liberdade, fazê-lo (isto é, contra a escolha que fazem, no âmbito legítimo da
sua liberdade de escolha da profissão).

Tenho, cá para mim, que isso até viola o artigo 72º da LTFP relativo a garantias do trabalhador (em funções
públicas) que diz, no nº 1, que “É proibido ao empregador público: a) Opor-se, por qualquer forma, a que o
trabalhador exerça os seus direitos, bem como aplicar-lhe sanções disciplinares ou tratá-lo desfavoravelmente por
causa desse exercício;”

Gostava que alguém, dos que acham que existe obrigação de exercer cargos a que se não candidatam (uma violência
contra o regime de liberdade e democracia que consta dever existir nas escolas e no país), me explicasse como
fundamenta tal ideia e, já agora, como acha que consegue obrigar quem se recusar?

Em que norma basearia o processo disciplinar? Ou seria que ía coagir ou, quem sabe, torturar? A ideia do prejuízo na
carreira ou avaliação também é falsa (e, já agora, qual carreira? onde está escrito o prejuízo?).

Por isso, tendo a sorte de não ser eleito graças ao meu mau feitio que não cria muitos votantes ansiosos em eleger,
nunca precisei de invocar realmente estas reflexões, mas deixo-as para uso e eventual desenvolvimento por quem
nelas possa fazer proveito.

Além disso, se posso ser obrigado a exercer um cargo por ter feito um curso (tirado antes da lei criar a
tal “obrigação”), ou porque alguém votasse em mim sem eu me candidatar, porque é que a lei diz que coordenadores
de estabelecimento, adjuntos e membros de comissão administrativa provisória devem preferencialmente ter o tal
curso e nunca ninguém se lembrou deste rapaz estudado (para mais que estudou mesmo, sem creditações ou
equivalências).

Curiosamente, esses cargos até dão algumas vantagens remuneratórias…e não só longas reuniões cheias de
vacuidades..

Enfim, coisas engraçadas das escolas. Talvez por isso, os mitos sejam alimentados por quem se aproveita da
ignorância e apatia dos outros.
10 coisas que ninguém te conta antes de assumir a coordenação

Três coordenadoras pedagógicas compartilham as surpresas após


assumir a rotina da coordenação

oice Maria Lamb conhecia bem as atribuições que competiam ao cargo e como era a
rotina de trabalho quando iniciou sua trajetória como coordenadora pedagógica em
2012. “Apesar disso, achava que algumas situações seriam muito mais fáceis de lidar na
prática”, conta Joice, que trabalha na EMEF Profª Adolfina J. M. Dienfenthäler, em Novo
Hamburgo (RS). Uma boa parte dos gestores escolares, porém, não conhece a fundo as
demandas e processos do cargo. Sirlene Solimões, da EM Dr. Sergio Alfredo Pessoa
Figueiredo, em Manaus (AM), tinha conhecimento apenas do que vivenciava como
professora. “Não imaginava todo o trabalho que era atribuído à coordenação. Tinha uma
visão ilusória de que não era tanta coisa assim”. Para superar os obstáculos trazidos pelas
novas demandas, as formações e trocas de experiência com coordenadores de outras
escolas foram essenciais.
Para quem está chegando agora ao cargo, o volume e a variedade de tarefas podem
causar até um certo desespero. O principal é ter em mente que “ninguém sabe tudo”,
como diz a própria Joice, e que os problemas da escola não têm como ser resolvidos num
estalar de dedos. “Nenhum coordenador vai solucionar todos os problemas da escola nas
primeiras semanas. É preciso segurar a ansiedade e mergulhar no diagnóstico da
instituição para entender as necessidades dos professores e alunos”, aconselha Marta
Silva Nascimento Teixeira, da EMEB Francisco Batistini Paquito, em São Bernardo do
Campo (SP). Para ajudar quem está pensando em assumir ou acabou de chegar ao cargo,
ouvimos os conselhos de Joice, Sirlene e Marta – que contam a seguir quais foram as
maiores surpresas que tiveram como novatas na coordenação.

1. Todos os conflitos e problemas vão parar na sala do coordenador


As atribuições prescritas pela legislação focam na rotina pedagógica, na atuação junto ao
professor, na melhoria da qualidade do ensino. “Entrei achando que minha função se limitaria
ao pedagógico”, confessa Marta. De repente, lá estavam alunos com problemas de
comportamento, brigas entre as crianças, rusgas entre a equipe. “Tudo acaba parando na sala
do coordenador. Fiquei impressionada”. Marta conseguiu transformar a situação ao investir em
trabalhos preventivos de clima escolar: conselho mirim, assembleias, mediação de conflitos
entre pares foram algumas das ações. “Se não tiver um trabalho preventivo, não funciona”.
LEIA MAIS A verdadeira função do coordenador pedagógico

2. A rotina é tão intensa, que se você não tiver em mente as atribuições do cargo,
acaba acumulando trabalho dos outros
Garantir a realização do horário de trabalho pedagógico coletivo, observar práticas
pedagógicas, conhecer e acompanhar os resultados de aprendizagem da escola. Que lindo
seria se tudo acontecesse como o planejado e o coordenador pudesse focar apenas no que
lhe compete! “Quando a gente chega na escola, o grande susto é que você se torna uma
espécie de ‘bombril’, com mil e uma utilidades”, desabafa Marta. “Sempre haverá muito
trabalho para se fazer na escola e se você não se cuidar, acaba assumindo tarefas que não
são da função. Eu entro na escola e sou sugada”, diz Joice. É a impressora que quebra,
aquele horário de entrada que exige sua presença, o professor que falta e sobra para você
assumir a aula. Só que nada disso está ligado ao que realmente é (ou deveria ser) o foco
do coordenador. “No começo, eu me sentia só apagando incêndios. Os objetivos estavam
sendo atropelados pelos problemas imediatos. Com o tempo, fui aprendendo a me
organizar e lidar com imprevistos para que não dominassem a minha rotina”, conta
Marta.
LEIA MAIS Coordenador, você não sabe de nada!
3. Mesmo sendo muito próxima dos professores, a relação com os colegas de
trabalho passa a ser bem diferente
Como a formação continuada dos professores é uma das principais responsabilidades do
coordenador, ele costuma ser uma figura próxima dos docentes. No entanto, uma coisa é
ser par, outra é ser o “parceiro experiente”. A mudança de papel impacta essa relação de
proximidade. “Mudou o jeito que as pessoas falavam comigo e o que eu exigia delas”,
conta Joice. A sensação é maior quando você assume o cargo na mesma escola em que era
docente. “Tem um pouco de conflito em relação ao seu papel agora”, diz Marta. “Você não
é mais a colega. É uma nova relação que você tem de construir”. Para ela, essa mudança é
mais fácil quando se está alocado em uma instituição diferente, já que as duas partes têm
uma clareza maior de qual é a relação desde o início.
LEIA MAIS 10 dúvidas sobre o relacionamento entre coordenador pedagógico e
professor
4. Não basta trabalhar a formação continuada dos professores, é preciso fortalecer
a formação inicial

Observar o professor em ação na sala de aula e acompanhar os resultados de


aprendizagem para coletar dados e planejar os encontros de formação continuada dos
professores. O momento dedicado ao horário de trabalho pedagógico coletivo (HTPC)
tem a intenção de aprimorar a prática pedagógica e, consequentemente, a aprendizagem
dos alunos. No entanto, os coordenadores se veem suprindo deficiências dos cursos de
Pedagogia e licenciaturas. “Muitos professores chegam sem noções básicas, defasagens
que se espera que eles aprendam na formação inicial”, desabafa Marta. Para piorar, em
escolas com grande rotatividade, o trabalho de formação parece sempre voltar à estaca
zero. “Todo ano você está com um grupo novo, iniciando formação. É duro”.
LEIA MAIS Os caminhos para a formação de professores
5. O relógio (ou o tempo) é seu maior inimigo
Para quem acompanha do lado de fora, a impressão é de que durante o período de aulas,
há tempo de sobra para o coordenador fazer as coisas. A verdade é que – ainda que
indiretamente – você tem é mais salas para cuidar. “Eu tenho 24 turmas para
acompanhar, mais de 700 alunos. Sou a única coordenadora, não tenho parceira, então a
demanda é muito grande”, afirma Marta. Enquanto isso, a lista de atividades corre solta
pelo dia: estudos e planejamentos, encontros de formação, reuniões, mapeamento de
dados, atendimento aos professores, conversas com os pais, pedidos vindos da direção.
Ao tentar encaixar o número de demandas na carga horária, pode acabar “sobrando”
coisa. “É difícil, mas com o tempo aprendi que manter uma rotina é essencial. Você
precisa ser bem organizada, tentar ao máximo não assumir atribuições que não são do
cargo e ter tranquilidade para saber que não vai dar conta de fazer tudo ao mesmo
tempo. É preciso elencar prioridades”, explica a coordenadora paulista.
LEIA MAIS Rotina, uma ferramenta para organizar o trabalho pedagógico
6. Alguém aí falou em relação complexa e profunda? As conversas com os pais
serão muito mais complicadas do que você pode imaginar

“Tudo que vem dos pais é uma surpresa”, define Sirlene. As coordenadoras garantem: a
relação com a família é bem diferente daquela que se tinha sendo professora. Marta, por
exemplo, trabalhou por mais de uma década na mesma comunidade, já estava
acostumada com os pais e responsáveis, mas viu o universo de famílias se multiplicar.
Com essa multiplicação, surgiram cobranças cada vez mais distantes da aprendizagem – a
questão, geralmente, que mais atrai os responsáveis para conversas com os pais. “Não
esperava ter que lidar com problemas de agressão dentro das famílias, pais incapazes de
manter um diálogo, pessoas que não aceitam o que você diz e partem para agressões
verbais”, conta Marta. Ela diz que no início foi bem difícil lidar com essa dinâmica, já que
como professora sempre havia tido boas relações com os pais. Os responsáveis tendem a
trazer discussões de fora para dentro da escola, mas há também o movimento inverso, de
intervenção no que acontece dentro dos muros. Quando a escola de Sirlene adotou o
regime de tempo integral, os pais começaram a aparecer em peso na hora do almoço.
“Eles foram resistentes à alimentação fornecida pela secretaria. Então, quando iniciamos
o modelo, muitos preferiam trazer a comida de casa do que comer a da escola. Isso durou
algum tempo. Eu nunca imaginei que poderia se tornar uma questão”.
LEIA MAIS Como lidar com as reclamações feitas pelos pais dos alunos
7. Briga de crianças? Resolver conflitos entre os adultos, às vezes, é mais difícil

Embora os alunos indisciplinados devam ser encaminhados ao coordenador somente


para questões pedagógicas – e não qualquer briga entre colegas – é comum eles
terminem na sala do coordenador quando surge um entrevero em sala de aula. Das
mordidas ao amiguinho na creche às agressões físicas das crianças maiores, ninguém
poderia imaginar que os adultos são os que dão mais trabalho. “A gente pensa que as
coisas se resolvem melhor quando as crianças crescem, mas é ilusão, temos que mediar
tudo”, fala Joice. “Da criança, você espera tudo. Dos adultos, você acha que sabe o que
pode vir. Mas quando você olha bem, tem menos conflitos entre alunos do que
funcionários”.
LEIA MAIS Quando o aluno percebe que há um clima ruim entre os professores
8. Você achava que bastava uma boa ideia para que os professores abraçassem a
causa. Nem sempre é bem assim…

Você acaba de assumir a coordenação e apresenta várias propostas inovadoras e ações


diferenciadas, com a melhor das intenções. Diante de ideias tão empolgantes, que levam
em conta não só as necessidades da escola e docentes, mas também métodos
interessantes, é claro que a equipe vai se unir e fazer acontecer, certo? Não. “Eu achava
que seria assim, que teríamos as ideias e os professores topariam tudo”, revela Joice. Foi
exatamente o que fez quando chegou à coordenação: trouxe um projeto que considerava
maravilhoso para trabalhar a leitura. Não saiu do papel. “Pareceu capricho meu querendo
emplacar. Dei um passo para trás e levantei as estatísticas da escola”. Assim, a
coordenadora mostrou que se tratava de um problema real da escola, que tinha alunos do
6º ano com dificuldade de leitura e escrita. “Eu mostrei o problema específico da escola e
não algo genérico de leitura. É preciso compreender isso, antes de sair dando ideias”.
LEIA MAIS Como lidar com funcionários resistentes a mudanças
9. Dinheiro não é com você, o seu negócio é desenvolver poder de negociação

Ok, o poder de negociação pode não envolver dinheiro, mas essa articulação com a equipe
pode ser tão intensa e desgastante quanto ter de assinar pagamentos. Até porque
qualquer tópico pode virar tema de polêmica, desacordo ou insatisfação. A distribuição
da grade horária, a disponibilidade para participar de eventos e atividades propostas
pela escola fora do horário, o desenvolvimento de novos projetos e metodologias, o uso
dos espaços coletivos… “Há resistência para negociar pontos que envolvem a
participação da equipe. Então, você tem que saber entrar em acordo, alinhar informações,
destacar a importância e fazê-los levar em conta não apenas suas posições individuais”,
comenta Sirlene. “Se você não esclarece e aponta a importância, acaba sendo visto
apenas como um fiscalizador que está ali para cobrar”, desabafa.
LEIA MAIS Diálogo entre professores e gestores é essencial para evitar mal-entendidos
10. Quando o expediente acaba, você tenta desligar da escola, mas não consegue - e
os professores colaboram para isso

Antes de assumir o posto (ou olhando de longe, lá da sala de aula), já deve ter passado
pela sua cabeça que seria ótimo ficar concentrado em sua salinha, sem a presença de
alunos, com todos os professores em ação com suas turmas, sem interrupções – de
pessoas e demandas não previstas. Só que na vida real, a rotina do coordenador
pedagógico é uma “maratona” diária contra o tempo. “Eu não imaginava que o
coordenador tinha todo o trabalho que lhe cabe”, admite Sirlene. Que, é bom frisar, não se
resume ao expediente escolar. “Você vai para casa no fim do dia, sai de férias, mas
continua ligado na escola. Você nunca desliga”, diz ela. “E acontece também de não te
deixarem desligar”. Um fator que colaborou muito para intensificar essa relação foi a
tecnologia. “Sempre estou recebendo WhatsApp de professor fora do horário e até de
final de semana pedindo sugestões de atividades ou ajuda com alguma outra coisa”. E
você vai dizer não?

A verdadeira função do
coordenador pedagógico
Quando o coordenador consegue fazer com que a escola
compreenda tanto o sucesso quanto o fracasso como
coletivos, ele cumpre sua função

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