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Este livro “básico” pretende fornecer uma explicação bíblica clara e convincente à
abordagem interpretativa da Escritura, que resulta no reconhecimento de uma visão
futurista do reino milenar de Cristo na terra, a validade certa das promessas de Deus
para o futuro Israel e a diferença fundamental entre Israel (como um povo e uma nação)
e a igreja do Novo Testamento. O dispensacionalismo, um termo mais amplo do que
“Premilenismo futurista” (veja o quadro na p. 10), vê distintamente um grande contraste
entre o tratamento passado e o futuro de para com Israel nacional e a sua relação com a
igreja.
Muitas pessoas não entendem o termo “dispensacionalismo”. Mas, isto não precisa ser
assim. O dispensacionalismo decorre basicamente de:
Como resultado, os dispensacionalistas ensinam que Israel era o foco principal do plano
redentor de Deus em uma dispensação. A igreja, que consiste de pessoas resgatadas,
incluindo judeus e gentios, é o foco em outra dispensação. Todos os dispensacionalistas
acreditam que pelo menos uma dispensação ainda está no futuro – o reino de mil anos
de Cristo na terra, conhecido como o milênio, em que Israel voltará a assumir um papel
central e, durante o qual, Jesus Cristo reinará na terra a partir de Seu trono em Jerusalém
como Rei dos reis e Senhor dos senhores.
(E. R. Craven, Ed., “The Revelation of John,” in lange’s Commentary on the Holy
Scriptures (1874; repr., Grand Rapids: Zondervan, 1968), 12:98).
É verdade que não se entra num relacionamento redentivo com Deus por se crer em
qualquer sistema profético em particular, mas por colocar a sua fé na pessoa, na obra da
cruz e ressurreição do Senhor Jesus Cristo (Rm 10.9-10. Ef 2.8-10). E mais, um cristão
verdadeiro não amadurece necessariamente na fé cristá abraçando certo esquema
escatológico (2Pe 3.14-18).
Pense nisso por um momento – quem planejou, revelou e, então, executa as intenções
proféticas de Deus? Não foi Deus somente que planejou o fim desde o começo (Is
46.9)? Deus revelou nas Escrituras algo que é tão sem importância ou trivial que possa
ser considerado opcional para os cristãos (At 20.20, 25,27)? Onde, na Bíblia, se pode
encontrar a mínima sugestão de que questões proféticas devam ser evitadas porque
podem ser controversas ou difíceis de entender?
CONTEÚDO BÍBLICO
As Escrituras transbordam de material profético.[1] Não existe nem mesmo uma leve
indicação de que o material profético deva ser ignorado, colocado à parte ou
marginalizado. Considere os seguintes fatos sobre a informação escatológica na Bíblia,
especialmente a segunda vinda de Cristo.
● Na Escritura, 62 (94 por cento) dos 66 livros contém informações preditivas (Rute,
Cântico dos cânticos, Filemon e 3João são as exceções).
Por toda a Bíblia, Deus manda e louva o acurado estudo de toda a Escritura. Este tema
aparece nos ensinos de Cristo, na pregação dos apóstolos e nos escritos de Paulo e
Pedro.
Mateus 28.19-20
Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do
Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho
ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século.
Atos 2.42
E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas
orações.
Atos 5.20
Ide e, apresentando-vos no templo, dizei ao povo todas as palavras desta Vida.
Atos 20.27
Porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus.
2Timóteo 2.15
Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se
envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
1Pedro 1.10-11
Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais
profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, investigando, atentamente, qual a
ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que
neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e
sobre as glórias que os seguiriam. (Todas as ênfases são minhas).
CONSEQUÊNCIAS BÍBLICAS
Os benefícios da vida e as bênçãos espirituais de conhecer e obedecer às Escrituras
proféticas enriquecem a todos os cristãos dedicados. Os seguintes dez resultados
ilustram representativamente como e porque a Bíblia exalta o estudo da profecia bíblica.
● A profecia fornece respostas para questões teológicas, respostas essas que não são
encontradas em nenhum outro lugar, tais como o relacionamento entre o arrebatamento
e a ressurreição (1Ts 4.13-18).
● A profecia dá motivação para uma vida santa hoje (1Ts 5.6-9; Tt 2.11-14; 2Pe 3.11-
13).
● Expectativas proféticas purificam (1Jo 3.2-3).
● As profecias fornecem uma base bíblica para a oração (cf. Dn 9.1-19 com Jr 25.11-
12).
● A profecia nos assegura que a perseguição injusta sobre os retos será vingada por
Deus (2Ts 1.5-10).
CONFIANÇA BÍBLICA
Qual será o fruto definitivo de estudar a Palavra de Deus, incluindo essas porções
explicando a segunda vinda de Cristo? O profeta Isaías construiu a resposta com essas
palavras infalíveis dadas originalmente para Israel, mas que continuam verdade hoje:
“Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que
primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador
e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim
vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei (Is 55.10-11).
CAPÍTULO 1 (PARTE 1)
O que é o Dispensacionalismo? | Michael Vlach
Daniel, um menino de nove anos, saiu da sala da escola bíblica dominical explodindo
como um cavalo selvagem. Seus olhos corriam em todas as direções enquanto ele
tentava localizar o pai ou a mãe. Finalmente, depois de uma busca rápida, ele agarrou
seu pai pela perna e gritou: “Pai, essa história de Moisés e de todas aquelas pessoas que
atravessaram o Mar Vermelho é ótima!” Seu pai olhou, sorriu e pediu ao menino que ele
dissesse tudo que pudesse sobre a história.
“Bem, os israelitas saíram do Egito, mas Faraó e seu exército os perseguiram. Então os
judeus correram o mais rápido que podiam até chegarem ao Mar Vermelho. O exército
egípcio ia chegando cada vez mais perto. Então Moisés pegou o seu rádio e mandou a
Força Aérea de Israel bombardear os egípcios. Enquanto isto, a Marinha israelense
construiu uma ponte de barcas para que as pessoas pudessem atravessar. E eles
atravessaram!”
O pai está chocado até agora. “Foi assim que eles lhe ensinaram essa história?”
“Bem, não, não exatamente”, Daniel admitiu, “mas se eu contasse para o senhor essa
história do jeito que eles nos contaram, o senhor jamais acreditaria, pai”.
Apesar de não apresentar uma lista de “essenciais”, Craig Blaising e Darrel Bock
forneceram uma lista de “características comuns” do dispensacionalismo em seu livro
“Progressive Dispensationalism” [Dispensacionalismo Progressivo], publicado em
1993. Estas características incluem: (1) a autoridade das Escrituras; (2) dispensações;
(3) singularidade da igreja; (4) significado prático da igreja universal; (5) significância
da profecia bíblica; (6) premilenismo futurista; (7) retorno iminente de Cristo; e (8) um
futuro nacional para Israel.[3]
Após um exame atento, porém, as listas de Ryrie, Feinberg, Blaising e Bock revelam
três marcas importantes do dispensacionalismo. Primeira, todas estas listas mencionam
a singularidade da igreja como uma característica do dispensacionalismo. Embora possa
haver discordância sobre alguns detalhes desta distinção, os dispensacionalistas
concordam que a igreja começou em Pentecostes (Atos 2) e não deve ser identificada
como Israel.[5] Todos os dispensacionalistas, portanto, rejeitam a “teologia da
substituição” ou “supersecionismo”, segundo a qual acredita que a igreja substitui
permanentemente a nação de Israel como povo de Deus.
De acordo com Feinberg, a diferença reside em três áreas: (1) a relação da revelação
progressiva à prioridade de um Testamento sobre o outro; (2) o entendimento e as
implicações do uso do Novo Testamento do Antigo Testamento; e (3) o entendimento e
implicações da tipologia.[9] Em suma, a diferença principal repousa na forma em como
dispensacionalistas e não-dispensacionalistas vêem o relacionamento entre os
Testamentos.
CAPÍTULO 1 (PARTE 2)
SEIS CRENÇAS ESSENCIAIS DO DISPENSACIONALISMO |
Michael Vlach
Nesta seção apresento as crenças essenciais do dispensacionalismo. Por “essencial”
entendo as crenças fundamentais do dispensacionalismo que são centrais e únicas ao
sistema, crenças sobre as quais o sistema permanece de pé ou cai. Há também crenças
que, se negadas, provavelmente fariam de uma pessoa um não-dispensacionalista. Esta
lista leva em consideração a contribuição de Ryrie, Feinberg e Blaising e Bock, mas
também ofereço minhas próprias distinções que espero ajudarem na elucidação dessas
questões.
Vamos considerar uma passagem chave como exemplo. Hebreus 8.8-13, que cita a
passagem original da nova aliança de Jeremias 31.31-34, inclui a igreja nas bênçãos
espirituais da nova aliança, mas, uma vez que a nova aliança foi originalmente
prometida a Israel, o cumprimento final da aliança deve envolver a nação de Israel. O
autor de Hebreus inclui a igreja como nas bênçãos da nova aliança, mas ele não exclui a
nação de Israel da aliança. Assim, a nova aliança traz nela o elemento “tanto/quanto”,
ou seja, tanto Israel quanto a igreja. A igreja está relacionada com a nova aliança (Hb
8.8-13) e Israel será relacionado à nova aliança na segunda vinda de Cristo (cf. Rm
1.25-27). Bock está correto quando afirma que “A inclusão adicional de algo na
promessa não significa que o beneficiário original seja assim excluído. A expansão da
promessa não significa necessariamente o cancelamento de compromissos anteriores
feitos por Deus. O cumprimento da esperança da nova aliança hoje pelos gentios não
significa que a promessa feita a Israel em Jeremias 31 tenha sido descartada”.[15]
Ryrie, também, aponta que o Novo Testamento não contradiz o significado dos textos
do Antigo Testamento. Ele afirma: “Uma nova revelação não pode significar revelação
contraditória. Uma revelação posterior sobre um assunto não faz a revelação anterior
significar algo diferente”.[22] “Se assim fosse”, escreve Ryrie, “Deus teria de ser
concebido enganador dos profetas do Antigo Testamento quando revelou a eles um
reino nacionalista, sendo que Ele saberia do tempo que reverteria completamente o
conceito de revelação posterior”.[23] Para Ryrie, o conceito de “a estrutura superior não
substitui a fundação”.[24] Assim, a manutenção da relevância da intenção original do
autor de uma passagem do Antigo Testamento é um elemento essencial do
dispensacionalismo.
2. Tipos existem, mas Israel nacional não é um tipo substituído
pela igreja.
A questão da tipologia tem implicações significativas para a escatologia. Não-
dispensacionalistas sustentam que Israel nacional funcionou como um tipo da igreja no
Novo Testamento. Uma vez que o maior antítipo (“o cumprimento” do tipo), a igreja,
foi revelado, o lugar de Israel como povo de Deus foi transcendido e superado pela
igreja.[25]
Paul Feinberg, também, embora reconhecendo a existência de tipos, não vê Israel como
um símbolo da igreja: “Além disso, embora a interpretação histórico-gramatical leve em
conta símbolos, tipos e analogias, não vejo evidência de que Israel seja um símbolo para
a igreja, a Palestina para a nova Jerusalém, e outros”.[27] Deve-se usar de cautela para
determinar quando o Novo Testamento cancela um tipo do Antigo Testamento. Como
John Feinberg declara: “Se o antítipo do NT cancela o significado do tipo do AT, o NT
precisa nos dizer isso”.[28]
Assim, pode haver ligação tipológica entre Israel e a igreja, mas essa conexão não é que
a igreja substitui o Israel nacional. Em vez disso, a conexão tipológica é de uma
correspondência histórica e teológica que revela uma estreita relação entre Israel e a
igreja.
Esta ligação tipológica entre o Antigo e o Novo Testamentos, no entanto, não altera o
sentido original das promessas do Antigo Testamento a Israel. David L. Turner explica:
“Tipologia genuína e analogia entre AT e NT não devem ser vistas como destrutiva para
o cumprimento literal das promessas do AT a Israel, mas sim uma indicação de uma
maior continuidade entre Israel e a igreja”.[31] Assim, qualquer que seja a relação
tipológica que exista entre Israel e a igreja, esta não pode ser tomada como significando
que Israel foi transcendido e superado pela igreja.
Arnold Fruchtenbaum, por exemplo, mostra que o título “Israel” é usado num total de
setenta e três vezes no Novo Testamento, mas é sempre usado para judeus étnicos:
“Destas setenta e três citações, a grande maioria refere-se ao Israel nacional, étnico.
Algumas se referem especificamente aos crentes judeus que ainda são judeus
étnicos”.[34] Saucy confirma este ponto quando diz: “A evidência do NT revela que,
fora algumas referências em disputa... o nome Israel está relacionado ao povo
“nacional” da aliança do AT”.[35] Para os dispensacionalistas é significativo que o
Novo Testamento ainda consistentemente se refira à nação de Israel como “Israel”,
mesmo após o estabelecimento da igreja. Israel é tratado como uma nação, em contraste
com os gentios depois que a igreja foi fundada no dia de Pentecostes (At 3.12; 4.8, 10;
5.21, 31, 35; 21.28). Como Ryrie destaca, “Na oração de Paulo pelo Israel natural (Rm
10.1) há uma clara referência à Israel como um povo nacional distinto e fora da
igreja”.[36]
Ryrie argumenta que a ligação feita por Paulo do Israel nacional às alianças e promessas
do Antigo Testamento, mesmo enquanto em um estado de descrença, é uma prova de
que a igreja não absorveu inteiramente as bênçãos de Israel:
Sugerir que Deus tem em mente um futuro separado para Israel, em distinção do futuro
que ele tem planejado para os gentios, na verdade vai contra o propósito de Deus. É
como colocar os andaimes de volta depois que o edifício foi concluído. É como voltar o
relógio da história aos tempos do Antigo Testamento. É impor a distinção do Antigo
Testamento sobre o Novo Testamento e ignorar o progresso da revelação.[43]
Essa crença dispensacional que a igualdade salvífica não exclui distinções funcionais é
vista em outros exemplos na Escritura. Por exemplo, de acordo com Gálatas 3.28,
homens e mulheres participam igualmente nas bênçãos da salvação, mas a Bíblia ainda
ensina que eles têm diferentes funções (cf. 1Tm 2.9-15). Assim, no caso de homens e
mulheres, a unidade salvífica não anula distinções funcionais. O mesmo é verdade para
os presbíteros e não-presbíteros em uma igreja. Ambos são iguais em essência e
compartilham as mesmas bênçãos espirituais, mas os presbíteros têm um papel distinto
no plano de Deus (cf. Hb 13.17). Poderia ser estabelecida a mesma distinção entre pais e
filhos ou até mesmo na própria Trindade, em que há igualdade de essência entre eles e
ainda distinções funcionais dentro desta unidade. Assim, a igualdade em essência e
bênçãos espirituais não anula distinções funcionais. Como Saucy escreve:
Assim, quando se trata da questão da unidade salvífica entre crentes judeus e gentios e
um papel futuro de Israel num reino milenar, o dispensacionalista diz: “Sim, trata-se de
uma situação do tipo tanto um/como o outro”.
Gálatas 3.7 afirma que os que exercem fé são “filhos de Abraão”. Gálatas 3.9 também
declara que aqueles que pertencem a Cristo são “descendentes de Abraão” e “herdeiros
conforme a promessa”. Não-dispensacionalistas têm argumentado que uma vez que os
gentios são “filhos” e “descendentes” (ou “semente”) de Abraão, eles também devem
ser judeus espirituais.[48] Dispensacionalistas, porém, contestam esse entendimento.
Eles o fazem desafiando a idéia de que ser um “filho” ou “semente” de Abraão torna
alguém automaticamente um judeu. Saucy, por exemplo, afirma que a paternidade de
Abraão vai além de ser o pai de Israel étnico, uma vez que Abraão confiou em Deus
antes de ser reconhecido como um Hebreu:
Se Abraão fosse apenas o pai de Israel, temos de concluir que os gentios que agora são
uma parte desta semente são, portanto, uma parte de Israel. Mas de acordo com o Novo
Testamento, Abraão é mais do que isso, é retratado como o pai de ambos os povos,
Israel e gentios. Com base no fato de Abraão ter sido um crente, antes de ser
reconhecido como um hebreu – o apóstolo Paulo declarou que ele é “o pai de todos os
que crêem, mas não foram circuncidados... e... também o pai do circuncidado” (Rm
4.9-12; cf. v 16).[49]
Como resultado, “O fato de que a verdadeira semente de Abraão inclui judeus e gentios
não descarta uma distinção contínua para Israel no Novo Testamento. Também não
deve o fato dos gentios serem chamados como a semente de Abraão ser interpretado
como a formação de um “novo Israel espiritual”, que substitui a nação de Israel do
Antigo Testamento”.[50]
Este homem estava sinceramente errado. Tricotomismo não é uma crença necessária ao
dispensacionalismo nem de longe. Eu me perguntava como ou de onde ele tirou essa
conclusão. Infelizmente, os seus ouvintes terminaram aquele dia pensando que o
dispensacionalismo defende uma visão errônea da salvação. Este é apenas um dos
muitos exemplos em que o dispensacionalismo tem sido seriamente deturpado.
Ao longo de sua história, ele tem sido muitas vezes associado a vários pontos de vista
periféricos que não são fundamentais para a sua teologia, especialmente no que diz
respeito à doutrina da salvação. Tal alegação revela a ignorância quanto à verdadeira
natureza do dispensacionalismo. Assim, este capítulo vai mostrar alguns dos MITOS
comuns ou mal-entendidos sobre a teologia dispensacionalista que precisam ser
eliminadas de quaisquer discussões factuais do dispensacionalismo.
Para esclarecer, não estou afirmando que os dispensacionalistas não possuem suas
opiniões soteriológicas individuais; claro que eles têm. Uma distinção, contudo, deve
ser feita entre o que os dispensacionalistas asseguram individualmente e o que o
dispensacionalismo, enquanto um sistema, afirma. Não considerar esta distinção é o
grande erro daqueles que associam o dispensacionalismo a certos pontos de vista
soteriológicos. Eles estão, como Feinberg diz, “reagindo àquilo que eles pensam que o
dispensacionalismo afirma ao invés de reagirem contra a lógica do próprio sistema”.[8]
Como uma dispensação, a graça começa com a morte e a ressurreição de Cristo (Rm
3.24-26; 4.24,25). O ponto aqui não é mais a obediência à lei como condição da
salvação, mas a aceitação ou rejeição de Cristo, com as boas obras como fruto da
salvação.[13]
Na dispensação anterior, a lei se mostrava impotente para garantir justiça e vida para
uma raça pecadora (Gl 3.21-22). Antes da cruz, a salvação do homem foi por meio da
fé (Gn 15.6; Rm4.3), tendo como base o sacrifício expiatório de Cristo, visto
antecipadamente por Deus; agora está claramente revelada a salvação e a ressurreição
do Salvador.[18]
Uma segunda acusação errônea muitas vezes feita contra o dispensacionalismo está
associado ao Arminianismo.[25] Assim, o dispensacionalismo é supostamente oposto ao
Calvinismo. Por exemplo, de acordo com Keith A. Mathison, “o dispensacionalismo
adotou uma doutrina semipelagiana, arminiana, não baseada nas Escrituras”.[26]
Gerstner viu o dispensacionalismo como inerentemente “anticalvinista” e o acusou de
negar todos os cinco pontos do Calvinismo.[27] Ele também diz que “do seu ponto de
vista da criação do homem, da queda, da expiação, soteriologia e escatologia, esse
sistema é uma variação do arminianismo”.[28] J. I. Parker parece impressionado com as
afirmações de Gerstner quando declara: “Ele [Gerstner] procura mostrar que o
Calvinismo e o Dispensacionalismo são radicamente opostos e prova seu
argumento”.[29]
Uma terceira acusação algumas vezes feita contra o dispensacionalismo é que ele ensina
o antinomianismo. Antinomianismo, como Robert D. Linder define, é “a doutrina sobre
a qual não é necessário que os cristãos preguem e/ou obedeçam a lei moral do AT”.[40]
O antinomianismo é frequentemente associado com o endosso do comportamento sem
lei.[41] De acordo com Gerstner, o dispensacionalismo é “comprometido com a
doutrina inegociável do antinomianismo”.[42] Para ele, “todos os dispensacionalistas
tradicionais ensinam que cristãos convertidos podem (não devem) viver em pecado
durante toda a vida pós-conversão sem perigo para o destino eterno deles”.[43] É
importante notar que Gerstner foi além de simplesmente argumentar que certos
dispensacionalistas ensinam antinomianismo. Para ele, o dispensacionalismo é
inerentemente antinomiano.[44] Gerstner crê nisso por causa da alegação de que o
cristão não está sob a Lei Mosaica e por causa de sua suposta falha “em entender as
doutrinas reformadas de justificação e santificação”.[45] O dispensacionalismo, ele
alega, crê que as pessoas podem ser justificadas sem ser santificadas. Este “dualismo”,
de acordo com Gerstner, leva à crença de que esses cristãos podem ser “carnais”.[46]
Como Gerstner, Curtis Crenshaw e Grover Gunn também afirmaram que há “um
antinomianismo inerente ao dispensacionalismo”.[51] Para eles, os dispensacionalistas
rejeitam a lei moral de Deus e sustentam que os cristãos são livres para agir
carnalmente:
Rejeitar a lei moral, especialmente a lei moral do AT, resulta numa série de
conseqüências. Eles tendem a rejeitar a idéia de que Cristo está governando agora por
sua lei (ou qualquer lei que importe) como Rei dos reis, relegando isso a um futuro
milênio. Isto, por sua vez, leva-os a rejeitar o Seu senhorio na salvação e mantém que
se pode ter a fé sem obras (a idéia do “cristão carnal”).[52]
Há duas respostas a esta acusação de antinomianismo. Primeiro, não estamos negando
que alguns dispensacionalistas podem ser antinomianos ou têm tendências antinomianas
(embora não saibamos de nenhum dispensacionalista que realmente defenda uma vida
sem lei). Negamos, entretanto, que o dispensacionalismo seja, em si, inerentemente
antinomiano. Um sistema que é preocupado principalmente com eclesiologia e
escatologia não pode necessariamente levar ao antinomianismo. Como Feinberg coloca:
MacArthur também está certo quando diz que “É um grosseiro mal-entendido assumir
que o antinomianismo está no coração da doutrina dispensacionalista”.[54]
Outro MITO diz que o dispensacionalismo ensina que há uma diferença entre o reino de
Deus e o reino dos céus. Novamente, esta visão foi sustentada por alguns dos primeiros
dispensacionalistas, mas é amplamente rejeitada pela maioria dos atuais. Mais uma vez,
uma distinção precisa ser feita entre o que alguns crêem e o que é característico do
dispensacionalismo como um sistema. Como John Martin observou, “Um dos maiores
equívocos é o pressuposto de que existe uma única ‘interpretação dispensacional’ de
cada passagem”.[73]
CAPÍTULO 3 (PARTE 1)
Por Que Premilenismo Futurista? | Richard Mayhue
Durante os anos da minha infância, eu adorava os desafios de quebra-cabeça. Desde o
início, surgiu uma estratégia básica que permitia de forma bem-sucedida completar o
quebra-cabeça. Primeiro, eu procurava as mais óbvias e mais determinativas partes do
quebra-cabeça que guiaria todos os meus esforços. Isso envolvia identificar as quatro
peças dos cantos específicos. Segundo, localizava as partes mais óbvias que acabavam
sendo as poucas com um lado reto das bordas. Com estes dois passos completos, o
quebra-cabeça assumia uma forma e design básicos nos quais a multidão de peças
restantes se encaixava e não podia mudar.
Pós-milenismo ensina que o reino de Deus está atualmente sendo avançado com
crescente triunfo no mundo através da pregação do Evangelho e ministério da igreja.
Cristo agora reina sobre essa “era dourada” de extensão indeterminada dos céus e
retornará para a terra no fim – assim, um retorno pós-milenar. A igreja é considerada o
“Israel espiritual”, tendo herdado as promessas feitas a Abraão e Davi, que foram ab-
rogados por Israel por causa de sua desobediência nacional. Por isso, não há nenhum
futuro para Israel nacional com qualquer significado bíblico. Quando Cristo retornar no
final do milênio, então o arrebatamento, o segundo advento, ressurreição geral e
julgamento, TODOS acontecerão em uma sequência rápida e, finalmente, vem o estado
eterno.
O premilenismo histórico ensina que Cristo retornará para arrebatar a igreja, julgar os
descrentes vivos, e instalar um Reino terrestre (Alguns dizem que terá a extensão de mil
anos, enquanto outros crêem que mil é um número simbólico significando um “longo
tempo”). Cristo reina agora sobre a terra dos céus e no futuro governará sobre um
milênio na terra, onde pouca distinção é feita entre a Igreja e o Israel nacional
restaurado. No fim do milênio haverá a ressurreição dos descrentes e o julgamento final,
que será seguido pelo estado eterno. Esta categoria de premilenismo geralmente
interpreta Apocalipse 6-18 num sentido “histórico”, i.e, que Apocalipse 6-18 deve ser
interpretado como eventos passados na história da igreja mais do que eventos futuros.
Daí o nome “Premilenismo histórico”.
● Abordar qualquer livro da Bíblia com o mesmo tratamento interpretativo geral, seja
(1) A pura história de Josué, (2) A linguagem figurativa do cântico de Salomão ou (3)
Os livros proféticos, tanto maior quanto menor.
● Abordar qualquer tópico da teologia sistemática com o mesmo esquema geral
interpretativo ao invés de mudar quando se depara com eclesiologia ou escatologia
como fazem as outras principais posições.
“... as profecias do VT, se interpretadas literalmente, não podem ser consideradas como
tendo cumpridas ou como sendo possíveis de cumprimento nessa era”.
“É geralmente aceito que se as profecias forem tomadas literalmente, elas predizem uma
restauração do Israel nacional na terra da Palestina com os Judeus tendo um lugar
preeminente no Reino e reinando sobre as nações”.
● O terceiro fator é a teologia da substituição: Israel sendo substituído pela igreja, a qual
herda as bênçãos ‘espirituais’ de Israel.
O Premilenismo Futurístico, por outro lado, chega ao texto sem nenhuma preconcepção
além de uma consistente hermenêutica histórico-gramatical que é empregada ao longo
das Escrituras em todas as esferas da Teologia.
Por isso, a não ser que algum claro e incontestável mandato da Escritura mude o modo
como a pessoa interpreta a profecia da segunda vinda (e não há nenhum mandato), então
a Escritura deve ser interpretada consistentemente ao longo de toda a Bíblia. Somente o
Premilenismo Futurista faz isso.
O Tempo do Cumprimento
Eventos peculiares ocorrem durante este segmento especial de tempo. Um anjo prende
Satanás com uma grande cadeia (Ap 20.1-2). Satanás é então encarcerado no abismo,
que é fechado e selado (Ap 20.3). Assim, Satanás não engana as nações até que os mil
anos terminem. Os Mártires da Tribulação são ressuscitados para reinar com Cristo (Ap
20.4,6). Quando os mil anos terminam, Satanás é solto por um curto período de tempo
para mais uma vez enganar as nações (Ap 20.3,7-8).
Começamos com a pergunta: “Será que isto já foi cumprido?”. A maioria dos que
mantém uma forma de teologia da “Aliança” respondem afirmativamente e apontam
para a vitória de Cristo sobre Satanás na cruz como o ponto de partida. Textos como
Mateus 12.22-29 são empregados para reforçar a posição de que Satanás está agora
preso em cumprimento de Apocalipse 20.
Portanto, podemos concluir que Apocalipse 20 aponta para algum tempo futuro de
confinamento especial. Uma vez que está ainda adiante, perguntamos: “Quanto tempo
vai durar esse tempo?”
A Extensão do Tempo
A moral da história, nesta questão, pergunta: “Chilia ete” em Apocalipse 20 realmente
significa MIL ANOS literais?”. Comecemos a discussão examinando números bíblicos
em geral e então estreitaremos o foco para Apocalipse e “MIL ANOS” em particular.
É entendido comumente como uma regra básica de hermenêutica que números devem
ser aceitos por seu valor real, i.e., comunicando uma grandeza matemática, a não ser
que haja uma evidência substancial que garante o contrário. Este ditado para interpretar
números bíblicos é geralmente aceito como um ponto de partida apropriado.
Esta regra permanece real por toda a Bíblia, incluindo Apocalipse. Um resumo de
números em Apocalipse sustenta isto. Por exemplo, sete igrejas e sete anjos em
Apocalipse 1 referem-se a sete igrejas literais e seus mensageiros. Doze tribos e doze
apóstolos referem-se ao real número histórico (Ap 21.12,14). Dez dias (Ap 2.10), cinco
meses (Ap 9.5), um terço da humanidade (Ap 9.15), duas testemunhas (Ap 11.3),
quarenta e dois meses (Ap 11.2), 1260 dias (Ap 11.3), doze estrelas (Ap 12.1), dez
chifres (Ap 13.1), mil e seiscentos estádios (Ap 14.20), três demônios (Ap 16.13), e
cinco reis caídos (Ap 17.9-10), todos usam números em seu sentido normal. Dos vários
números em Apocalipse, somente dois (Sete espíritos em Ap 1.4 e 666 em Ap 13.18)
são conclusivamente usados de uma forma simbólica. Enquanto essa linha de arrazoado
não prova que “MIL ANOS” em Apocalipse 20 deve ser tomado literalmente, ele coloca
o ônus da prova sobre aqueles que discordam em aceitar “MIL ANOS” como mil anos.
Não devem apenas os números em geral ser tomados normalmente em Apocalipse, mas,
mais especificamente, números referindo-se a tempo. Em Apocalipse 4-20 existem, pelo
menos, vinte e cinco referências e medições de tempo. Apenas dois destes demanda ser
entendido como algo que não seja um sentido literal, e estes não envolvem números
reais. “O grande dia da ira dEle” (Ap 6.17) provavelmente excederá 24 horas e “A hora
do Seu juízo” (Ap 14.7) aparentemente se estende para além de sessenta minutos. Não
há nada, no entanto, na frase “MIL ANOS” que sugira uma interpretação simbólica.
Este próximo ponto é muito importante: Na Bíblia, o “ano” nunca é usado com um
adjetivo numérico quando não se refere ao período real de tempo que ele
matematicamente representa. A não ser que evidências ao contrário possam ser
fornecidas, Apocalipse 20 não é a única exceção na Escritura inteira.
Também, o número “mil” não é usado em outros lugares da Bíblia com um sentido
simbólico. Jó 9.3; 33.23; Salmos 50.10; 90.4; Eclesiastes 6.6; 7.28; e 2Pedro 3.8 têm
sido usados em apoio à ideia de que mil em nosso texto é usado simbolicamente. No
entanto, estas tentativas falham porque em cada um destes textos é usado no seu sentido
normal para fazer um ponto vívido.
O Testemunho da História
A partir da era pós-apostólica, a igreja entendeu o “milênio” de Apocalipse 20 como mil
anos literais. Papias, Barnabé, Justino Mártir, Irineu, Tertuliano... todos deram prova
disto em seus escritos. A igreja não ensinou nada além disto até o quarto século.
À luz da discussão acima, podemos concluir que os mil anos de Apocalipse 20 exigem
um cumprimento FUTURO, uma vez que uma apreciação com consciência justa do
texto e da história determina que ele ainda não aconteceu. E mais, um panorama de
números na Bíblia e Apocalipse claramente exige que os mil anos sejam entendidos no
sentido normal. Esta posição recebe melhor substanciação através da interpretação da
igreja primitiva deste texto, que se alinha com a visão Premilenista Futurística.
Aliança Abraâmica
Deus fez o independente, sagrada (Lc 1.72) aliança abraâmica unilateralmente (Gn 15.7-
17) com Abraão, Isaque e Jacó (Ex 2.24; Lv 26.42; Sl 105.9-10), e é falada ou
reafirmada pelo menos oito vezes (Gn 12.1-3; 13.14-17; 15.1-21; 17.1-21; 22.15-18;
26.2-5; 24; 28.13-17; 35.10-12). Esta aliança era eterna (Gn 17.7-8,13,19; 1Cr 16.15,17;
Sl 105.8,10; 111.5,9; Is 24.5); irrevogável (Hb 6.13-18); superior à aliança mosaica (Rm
4.13; Gl 3.17); imediatamente condicional (Gn 17.14; Lv 26.43; 2Re 13.23; Sl 74.20;
106.45; Is 24.5), mas, em última análise, incondicional (Lv 26.44; Dt 4.31; Jr 33.25-26;
Ez 16.60); cujo sinal é a circuncisão (Gn 17.9-14; At 7.8). Esta aliança prometida: 1)
descendentes de Abraão etnicamente (Gn 13.15; 15.18; 17.2,7; 22;17; 26.3; 28.13-14;
35.11-12); 2) os descendentes de Abraão redentivamente (Rm 4.11; Gl 3.7, 26-29); (3) o
Salvador (Gl 3.16); 4) uma nação (Gn 12.2; 17.4; 35;11); 5) A terra (Gn 12.1; 13.15,17;
15.18; 17.8; 26.3; 28.13; 35.12; Ex 6.4; Lv 26.42; Sl 105.11); 6) bênção pessoal e
proteção (Gn 12.3; 28.15; 35.12; Sl 105.14-15; 106.44-46); e 7) bênçãos para as nações
(Gn 12.3; 17.4-6; 22.18; 26.4; 28.14; 35.11), especialmente redenção (Sl 111.9; Rm
4.16-18; Gl 3.8).
Aliança Davídica
Com absoluta incondicionalidade (2Sm 7.15; 1Cr 17.13; Sl 89.33-37), Deus prometeu a
Davi (2Sm 7.12-16; 1Cr 17.11-14) que um descendente (2Sm 7.12,16; 1Cr 17.11,14)
seria entronizado (2Sm 7.13,16; 1Cr 17.12,14) para governar sobre Israel e o mundo
(2Sm 7.12,16; 1Cr 17.11,14). Esta aliança Davídica é autônoma e unilateral (2Sm 23.5;
2Cr 13.5; Sl 89.3,28,34); irrevogável (2Sm 7.15; 1Cr 17.13; Sl 89.34; Jr 33.20-22,25-
26); e eterno (2Sm 7.13,16; 23.5; 1Cr 17.12,14; 2Cr 13.5; 21.7; Sl 89.28,36). Todavia, a
aliança era imediatamente condicional (2Sm 7.14; 1Re 2.3-4; Sl 89.30-32,39; 132.12)
uma feita que descendentes pecaminosos foram desqualificados. Não obstante, o fato do
pacto não ser explicitamente nomeado no Novo Testamento (cf. At 2.30), deixa claro
que Jesus Cristo é a específica semente de Davi (Mt 1.1; Jo 7.42) que Deus tem a
intenção de entronizar (Mt 19.28; 25.31; Lc 1.32; Jo 18.37) para um futuro, no terreno
sobre Israel e as nações (Sl 110.2; Zc 14.9; Lc 1.33; Ap 11.15; 12.5; 19.15-16) durante o
reino milenar (Ap 20.1-10).
Nova Aliança
A incondicional, unilateral (Ez 20.37; 37.26), eterna (Is 55.3; 59.21; 61.8; Jr 32.40;
50.5; Ez 16.60; 37.26; Hb 9.15; 13.20), e irrevogável (Is 54.10; Hb 7.22) a nova aliança
assume anulação, devido ao pecado de Israel, da condicional Velha/Mosaica aliança (Jr
31.32; Ez 44.7; Zc 11.10-11). Originalmente feita com Israel (Jr 31.31) e que continha
bênçãos redentoras de ambos salvação (Is 49.8; Jr 31.34) e prosperidade (Is 49.8; Jr
32.40; 50.5; Ez 34.25; Os 2.18ss), esta aliança autônoma, mais tarde permitiu à igreja do
Novo Testamento participar salvificamente (cf. Rm 11.11-32) por meio de Cristo, o
Mensageiro (Ml 3.1) e Mediador (Hb 8.6; 9.15; 12.24) de uma melhor aliança (Hb 7.22;
8.6) comprada com o sangue e morte deste Sumo Sacerdote singular (Zc 9.11; Mt
26.28; 1Co 11.25; Hb 9.15; 10.29; 12.24; 13.20). Crentes do Velho Testamento
anteciparam (Hb 9.15). O sacrifício vivificante de Cristo (2Co 3.6) envolve: (1) graça
(Hb 10.29); (2) a paz (Is 54.10; Ez 34.25; 37.26); (3) o Espírito (Is 59.21); (4) redenção
(Is 49.8; Jr 31.34; Hb 10.29); (5) remoção do pecado (Jr 31.34; Rm 11.27; Hb 10.17);
(6) um novo coração (Jr 31.33; Hb 8.10; 10.16); e (7) um novo relacionamento com
Deus (Jr 31.33; Ez 16,62; 37.26-27; Hb 8.10). Esta aliança retrata o novo noivado de
Israel com Deus (Os 2.19-20) iniciado pela mesma misericórdia divina como a aliança
davídica (Is 55.3).
O Futuro de Israel
Ambas as alianças, abraâmica e davífica, se destinavam a ser incondicionais em seu
efeito final. Em nenhum lugar as Escrituras sugerem que Israel abandonou as bênçãos
de Deus para sempre e que essas bênçãos já foram supostamente tornadas espirituais e
herdadas pela igreja. Afirmar o contrário, com efeito, é deturpar as intenções de Deus.
A aliança com Abraão é chamada uma aliança eterna, em que Deus deu a Abraão a seus
descendentes a terra de Israel como uma possessão eterna (Gn 17.7-8). A promessa de
Deus a Abraão é corroborada em 1Crônicas 16.15-17 e Salmos 105.8-15. Por esta
aliança, um povo e uma terra são prometidos a Israel.
O apóstolo Paulo colocou isso melhor quando falou sobre Israel: “Porque eu não quero,
irmãos, que ignoreis este mistério... porque os dons e a vocação de Deus são
irrevogáveis (Rm 11.25,29). Somente o Premilenista Futurista leva o caráter
incondicional das eternas alianças de Deus e sua irreversibilidade a sério.
CAPÍTULO 3 (PARTE 4)
AS FIRMES PROMESSAS DE DEUS | Richard Mayhue
A quarta e última peça de canto definidora para o quebra-cabeça profético concentra-se
nas promessas inegáveis de Deus a uma nação antiga que Ele iria logo julgar
severamente. Israel entendeu que haveria um momento no futuro, quando eles, como
nação e um povo, seriam restaurados. Então, o tão esperado Messias viria e governaria a
partir de Jerusalém, sentado no trono de Davi, sobre Israel e o mundo inteiro.
Jeremias 31.12
“Hão de vir e exultar na altura de Sião, radiantes de alegria por causa dos bens do
SENHOR, do cereal, do vinho, do azeite, dos cordeiros e dos bezerros; a sua alma será
como um jardim regado, e nunca mais desfalecerão”.
Jeremias 31.40
“Todo o vale dos cadáveres e da cinza e todos os campos até ao ribeiro Cedrom, até à
esquina da Porta dos Cavalos para o oriente, serão consagrados ao SENHOR. Esta
Jerusalém jamais será desarraigada ou destruída”.
Ezequiel 34.28,29
“Já não servirão de rapina aos gentios, e as feras da terra nunca mais as comerão; e
habitarão seguramente, e ninguém haverá que as espante. Levantar-lhes-ei plantação
memorável, e nunca mais serão consumidas pela fome na terra, nem mais levarão sobre
si o opróbrio dos gentios”.
Ezequiel 37.25
“Habitarão na terra que dei a meu servo Jacó, na qual vossos pais habitaram; habitarão
nela, eles e seus filhos e os filhos de seus filhos, para sempre; e Davi, meu servo, será o
príncipe eternamente”.
Joel 2.26,27
“Comereis abundantemente, e vos fartareis, e louvareis o nome do SENHOR, vosso
Deus, que se houve maravilhosamente convosco; e o meu povo jamais será
envergonhado. Sabereis que estou no meio de Israel e que Eu Sou o SENHOR, vosso
Deus, e não há outro; e o meu povo jamais será envergonhado”.
Joel 3.18-20
“E há de ser que, naquele dia, os montes destilarão mosto, e os outeiros manarão leite, e
todos os rios de Judá estarão cheios de águas; sairá uma fonte da Casa do SENHOR e
regará o vale de Sitim. O Egito se tornará uma desolação, e Edom se fará um deserto
abandonado, por causa da violência que fizeram aos filhos de Judá, em cuja terra
derramaram sangue inocente”.
Amós 9.11-15
“Naquele dia, levantarei o tabernáculo caído de Davi, repararei as suas brechas; e,
levantando-o das suas ruínas, restaurá-lo-ei como fora nos dias da antiguidade; para que
possuam o restante de Edom e todas as nações que são chamadas pelo meu nome, diz o
SENHOR, que faz estas coisas. Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que o que lavra
segue logo ao que ceifa, e o que pisa as uvas, ao que lança a semente; os montes
destilarão mosto, e todos os outeiros se derreterão. Mudarei a sorte do meu povo de
Israel; reedificarão as cidades assoladas e nelas habitarão, plantarão vinhas e beberão o
seu vinho, farão pomares e lhes comerão o fruto. Plantá-los-ei na sua terra, e, dessa terra
que lhes dei, já não serão arrancados, diz o SENHOR, teu Deus”.
Sofonias 3.14-20
“Canta, ó filha de Sião; rejubila, ó Israel; regozija-te e, de todo o coração, exulta, ó filha
de Jerusalém. O SENHOR afastou as sentenças que eram contra ti e lançou fora o teu
inimigo. O Rei de Israel, o SENHOR, está no meio de ti; tu já não verás mal algum.
Naquele dia, se dirá a Jerusalém: Não temas, ó Sião, não se afrouxem os teus braços. O
SENHOR, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para salvar-te; Ele se deleitará em ti
com alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo. Os que estão
entristecidos por se acharem afastados das festas solenes, Eu os congregarei, estes que
são de ti e sobre os quais pesam os opróbrios. Eis que, naquele tempo, procederei contra
todos os que te afligem; salvarei os que coxeiam, e recolherei os que foram expulsos, e
farei ignomínia. Naquele tempo, Eu vos farei voltar e vos recolherei; certamente, farei
de vós um nome e um louvor entre todos os povos da terra, quando Eu vos mudar a
sorte diante dos vossos olhos, diz o SENHOR. Deles um louvor e um nome em toda a
terra em que sofrerem”.
Zacarias 14.1,9,11
“Eis que vem o Dia do SENHOR, em que os teus despojos se repartirão no meio de ti. O
SENHOR será Rei sobre toda a terra; naquele dia, um só será o SENHOR, e um só será
o seu nome. Habitarão nela, e já não haverá maldição, e Jerusalém habitará segura”.
Permita-me ser tão ousado ao ponto de dizer que se Deus não cumprir estas promessas a
Israel como um povo e uma nação, Ele falhou com Sua palavra. Esta é uma afirmação
forte e não tem a intenção de ofender, mas de chocar pessoas que acreditam em outra
forma de ver quão anti-bíblica sua escatologia realmente é. Pessoas que não crêem na
Bíblia, quer sejam amilenistas, premilenistas futuristas, premilenistas históricos ou
posmilenistas, acreditariam que Deus é um mentiroso. Todavia, nós todos, crentes na
Bíblia, acreditamos que Ele é a verdade, fala a verdade e não mente como os homens
(Nm 23.19; 1Sm 15.29; Tt 1.2).
A Preservação de Israel
Agora, para as peças laterais do quebra-cabeça profético, as bordas. Israel é o mais
perseguido grupo étnico na história. A partir dos egípcios dos dias de Moisés até as
atrocidades de Hitler na Segunda Guerra Mundial, a raça judaica tem estado muitas
vezes à beira da eliminação. Desde o cativeiro assírio (722 a.C.), a nação nunca
recuperou qualquer grau de seu governo soberano tal como tinha na época da monarquia
unida de Davi e Salomão.
Porém, preservação envolve apenas uma metade da história. Deus prometeu preservação
para que Ele pudesse, por último, instituir restauração. Até agora, um retorno com as
características enumeradas nas Escrituras não ocorreu, nem no antigo retorno da
Babilônia, nem no retorno de 1948.
Esta passagem não pode ser explicada como tendo sido já cumprida. Nada na história
passada de Israel, desde o cativeiro Assírio e Babilônico, chega sequer remotamente
perto desta categoria de cenário que Ezequiel descreve em detalhes. Nem pode ser
explicado como tendo a ver com as bênçãos herdadas pela Igreja, perdidas pelo Israel
continuamente pecaminoso. O detalhe proíbe qualquer tentativa de espiritualizar a
intenção e o contexto encontrado aqui.
Frederick ficou surpreendido com esta resposta. “Que palavra mágica é esta que carrega
tal peso de prova?”, perguntou ele.
A preservação milagrosa de Israel através dos milênios é um sinal certo de que Deus vai
restaurar Israel no final, tão claramente ensinado pelos profetas e confirmado pelo
Premilenismo Futurista.
Duas passagens na Escritura tratam com o fim das maldições. Primeiro, Zacarias 14.11:
“... e já não haverá maldição e Jerusalém habitará segura”. Esta passagem se refere às
maldições de Deuteronômio 28. O Reino milenar de Cristo será o tempo de bênçãos
prometido para Israel. Segunda, Apocalipse 22.3: “... Nunca mais haverá qualquer
maldição”. Referindo-se à maldição Edênica de Gênesis 3.8-21 sobre toda a terra e toda
população. Eternidade futura, o assunto de Apocalipse 21-22, será sem pecado e, desta
forma, sem a maldição de Deus.
Por uma variedade de razões bíblicas, pode ser confiantemente ensinado que a igreja
não substituiu Israel:
● O livro de Atos fala frequentemente da igreja (nove vezes) e de Israel (vinte vezes).
Começando em Pentecostes, “igreja” sempre se refere a esses povos (judeus e gentios)
que são crentes em Cristo; “Israel” sempre se refere à nação judaica, historicamente e
etnicamente. Os termos nunca são usados como sinônimo ou intercambiavelmente.
● No Novo Testamento inteiro, a igreja nunca é chamada de “Israel espiritual” ou, pior,
de “novo Israel”. Nunca, no Novo Testamento inteiro, Israel jamais é chamado de
“igreja”.
● Igreja “é mencionada dezenove vezes em Apocalipse 1-3”. “Igreja” não é
posteriormente confundida com “Israel” em Apocalipse 6-19. Curiosamente, não há
qualquer menção de “igreja” a partir de Apocalipse 3.22 até 22.16.
Alguns tem proposto que Romanos 9.6 fala da igreja como Israel: “... Porque nem todos
os de Israel são, de fato, israelitas”. No entanto, a distinção de Paulo aqui é entre os
judeus étnicos, cuja linhagem pode ser traçada até Abraão, apenas num sentido físico, e
judeus étnicos que tem tanto uma herança física quanto espiritual em Abraão. Em
Gálatas 6.16, Paulo usa a frase “Israel de Deus”. Alguns têm concluído que ele esteja
igualando Israel com a igreja aqui, quando, na verdade, ele está se referindo aos judeus
crentes na congregação da igreja.[7]
Robert Louis Stevenson, famoso autor escocês do século dezenove, escreveu estas
palavras marcantes sobre a equação de menos-que-sensata à igreja com “Israel
espiritual”.
Não posso entender como vocês teólogos e pregadores podem aplicar à Igreja [ou à
multiplicidade de igrejas] promessas da Escritura que, em seu sentido literal, devem
aplicar-se ao povo escolhido por Deus de Israel e à Palestina; e que, por conseguinte,
ainda devem estar no futuro... Os livros proféticos estão cheios de ensinamentos que, se
forem interpretados literalmente, seriam inspiradores e uma magnífica segurança de
um futuro grande e glorioso. A partir do instante em que eles são espiritualizados,
tornam-se ridículos – Quando aplicados à igreja, eles são uma comédia.[8]
CAPÍTULO 3 (PARTE 5)
Sequência do Retorno e Reinado de Cristo | Richard Mayhue
Quatro textos significativos da “segunda vinda” (dois no Antigo Testamento e dois no
Novo Testamento) ensinam a sequência de eventos: Cristo vem em primeiro lugar e, em
seguida, reina, como ilustrado no seguinte gráfico:
CRISTO VEM CRISTO REINA
Daniel 2.34-35 Daniel 2.44-45
Zacarias 14.5 Zacarias 14.9
Mateus 24.27,30,37,39,42,44 Mateus 25.31
Apocalipse 19.11-16 Apocalipse 20.4
Palavra Final
Estas quatro peças de canto e quatro peças laterais do quebra-cabeça profético formam
significativamente o padrão bíblico dos eventos futuros.
Cada ponto de vista do arrebatamento tem seus defensores ultra-zelosos que têm
empregado raciocínios e metodologias inaceitáveis para provar sua posição. O Pré-
tribulacionismo não é uma exceção. Algumas das falhas menos do que satisfatórias que
têm sido observadas em todos os lados do debate do arrebatamento incluem:
Esta apresentação busca evitar tais erros muito comuns. As seguintes perguntas serão
levantadas e respondidas nesta tentativa de apresentar uma resposta convincente à
querela em tela: “Por que um arrebatamento Pré-tribulacional?”
“Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a
trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os
que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o
Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” (1Tessalonicenses 4:16,17).
Sem empregar harpazo, mas usando uma linguagem contextual semelhante, 1Coríntios
15.51-52 refere-se ao mesmo evento escatológico de 1Tessalonicenses 4.16-17.
“Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos
transformados; num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta;
porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos
transformados” (1Coríntios 15:51,52).
Assim, pode ser seguramente concluído que a Escritura aponta para o fato de um
arrebatamento escatológico, embora nenhum destes textos fundamentais contenham
quaisquer indicadores de tempo explícitos.
Elas avisam vigorosamente sobre o erro vindouro e os falsos profetas (veja At 20.29-30;
2Pe 2.1; 1Jo 4.1-3; Jd 1.4). Elas avisam contra um viver ímpio (veja Ef 4.25; 5-7; 1Ts
4.3-8; Hb 12.1). Elas até mesmo admoestam os crentes a perseverarem no meio da
presente tribulação (veja 1Ts 2.13-14; 2Ts 1.4; 1Pe). No entanto, há um absoluto
silêncio acerca de preparar a igreja para qualquer espécie de tribulação como a
encontrada em Apocalipse 6-18.
Jesus instruiu seus discípulos que Ele estava indo para a casa de Seu Pai (céu) preparar
um lugar para eles. Ele lhes prometeu que voltaria e os receberia, para que eles
estivessem onde quer que Ele estivesse.
A frase “onde Eu estou”, ao mesmo tempo que implica presença contínua em geral, aqui
significa presença no céu em particular. Nosso Senhor disse aos fariseus em João 7.34:
“Onde Eu estou, vós não podeis ir”. Ele não estava falando sobre sua atual habitação na
terra, mas sim de sua presença ressurreta à destra do Pai. Em João 14.3, “onde Eu estou”
tem que significar “no céu” conforme o contexto de João 14.1-3.
● No arrebatamento, Cristo vem nos ares e retorna ao céu (1 Ts. 4:17), porém no evento
final da segunda vinda, Cristo vem à terra para habitar e reinar (Mt. 25:31-32).
● No arrebatamento, Cristo reúne os seus (1 Ts 4:17), porém na segunda vinda, os anjos
reúnem os eleitos (Mt. 24:31).
● No arrebatamento, Cristo vem para recompensar (1 Ts. 4:17), porém na segunda
vinda, Cristo vem para julgar (Mt. 25:31-46).
● No arrebatamento, a ressurreição é proeminente na vinda de Jesus (1 Ts. 4:15-16),
porém na segunda vinda, nenhuma ressurreição é mencionada com a descida de Cristo.
● No arrebatamento, os crentes são removidos da terra (1 Ts. 4:15-17), porém na
segunda vinda, os descrentes são removidos da terra [para o inferno, até que venha o
Juízo Final e sejam lançados no lago de fogo] (Mt. 24:37-41).
● No arrebatamento, os descrentes permanecem na terra (implícito), porém na segunda
vinda, os crentes permanecem na terra (Mt. 25:34).
● No arrebatamento, não existe menção do reino de Cristo na terra, porém na segunda
vinda, o reino de Cristo na terra é estabelecido (Mt. 25:34).
● No arrebatamento, os crentes receberão corpos glorificados (cf. 1 Co. 15:51-57),
porém na segunda vinda, ninguém que está vivo recebe corpo glorificado.
Adicionalmente, várias parábolas de Cristo em Mateus 13 confirmam as diferenças
entre o arrebatamento e o evento final da segunda vinda:
● Na parábola do trigo e do joio, o joio (descrentes) são tirados dentre o trigo (crentes)
no ápice da segunda vinda (Mt 13.30,40), enquanto os crentes são removidos do meio
dos descrentes no arrebatamento (1Ts 4.15-17).
● Na parábola da rede, os peixes ruins (descrentes) são removidos do meio dos peixes
bons (crentes) no ápice da segunda vinda (Mt 13.48-50), enquanto que os crentes são
removidos do meio dos descrentes no arrebatamento (1Ts 4.15-17).
A preposição grega ek (“da”) contém a idéia básica de emergência. Mas isso não é
válido para todos os casos. Duas exceções notáveis são encontradas em 2Co 1.10 e 1Ts
1.10. Na passagem de Coríntios, Paulo ensina seu resgate dos mortos por Deus. Agora,
Paulo não emerge de um estado de morte, mas é resgatado de um perigo em potencial.
Mais convincente ainda é 1Tessalonicenses 1.10. Aqui Paulo declara que Jesus está
resgatando os crentes da ira vindoura. A idéia não é “imersão da”, mas, antes, proteção
da entrada “na”.
Por isso, ek pode ser entendido como significando um estado contínuo “fora de” ou
“imersão de dentro”. Então, nenhuma posição do arrebatamento pode ser dogmática
nesse ponto; todas as posições, neste aspecto, permanecem possíveis.
Tem sido questionado que se João tivesse tido a intenção de usar “guardar da”, ele teria
usado tereo apo (cf. Tg1.27: “manter a si mesmo incontaminado do mundo”). Porém, é
igualmente verdade que se João tivesse tido a intenção de “proteção dentro”, ele teria
usado tereo com en, eis ou dia. Alega-se que o maior ônus da prova recai sobre outras
posições, desde sua solução de imunidade “dentro de”, mas que de modo algum explica
o uso de ek.
Primeiro, ek é muito mais perto de apo no significado do que ele é de en, eis ou dia. Os
dois frequentemente se sobrepõem, e apo, no grego moderno, está absorvendo ek.
Quando combinado com tereo ek, se aproxima muito mais de apo do que de em, eis ou
dia. Por esta razão, “guardar da” é o significado mais provável.
Segundo, a frase tereo en é usada três vezes no Novo Testamento (veja At 12.5; 1Pe
1.4; Jd 1.21). Em cada caso, implica existência prévia interior com uma visão de
continuar dentro. Agora, se tereo en significa “continuada existência dentro”, então
tereo ek [muito logicamente e obviamente] significa manter uma existência
EXTERIOR.
João 17.15 (“eu não peço que os tires do mundo, mas que os guardes (tereo ek) do mal”)
é a única outra passagem no Novo Testamento onde tereo ek ocorre. Esta combinação
de palavra não ocorre na Septuaginta. Nós podemos concluir que, o que quer que seja
que a frase signifique aqui, terá também o mesmo significado em Ap 3.10.
Mas se tereo ek foi designado para significar “existência anterior interna” em João
17.15, então ele entraria em contradição com 1João 5.19, onde é dito que os crentes são
de Deus e os descrentes estão sob o poder do maligno, isto é, tereo ek implicaria no
entendimento de que os discípulos tinham “contínua existência” dentro do maligno. No
entanto, com muita clareza, 1João 5.19 diz exatamente o oposto. Em vez disso, João
17.15 registra a petição do Senhor para mantê-los fora do maligno.
Sendo que João 17.15 significa “manter fora” do maligno, então o pensamento paralelo
em Ap 3.10 é manter a igreja fora da hora da provação. Por isso, somente um
arrebatamento Pré-tribulacional cumpriria a promessa.
OBJEÇÃO: Uma vez que a frase “ao encontro do Senhor”, em 1Ts 4.17 (apantao e
apantasis) pode se referir a uma cidade amigável indo ao encontro do rei visitante e o
escoltando de volta à cidade, essa frase não aponta para decididamente um
arrebatamento Pós-tribulacional?
OBJEÇÃO: Por que Paulo escreve em 1Ts 5.6 para os crentes estarem alertas para o
“Dia do Senhor” se eles não estariam nele de acordo com o Pré-tribulacionismo?
RESPOSTA: Paulo exorta os crentes em 1Ts 5.6 a estarem alerta e viverem uma vida
piedosa no contexto do Dia do Senhor, assim como Pedro faz em 2Pe 3.14-15, onde o
Dia do Senhor é claramente uma experiência no final do milênio, uma vez que os velhos
céus e terra serão destruídos e substituídos pelos novos. Em ambos os casos, são
exortações para apresentar um viver piedoso para os verdadeiros crentes à luz do juízo
futuro de Deus sobre os incrédulos. Sendo assim, estes textos não são relevantes para
determinar o momento do arrebatamento.
OBJEÇÃO: Mateus 24.37-42, onde pessoas são tiradas do mundo, não ensina um
arrebatamento Pós-tribulacionista?
OBJEÇÃO: Quando Jeremias escreve (30.7): “Ah! Que grande é aquele dia, e não há
outro semelhante! É tempo de angústia para Jacó; ele, porém, será livre dela”, não é a
mesma categoria de linguagem usada em Ap 3.10 (guardar de) e, assim, não aponta
para um arrebatamento Pós-tribulacional?
RESPOSTA: É verdade que a palavra “igreja” (ekklesia) não é usada acerca da igreja
no céu em Ap 4-19. No entanto, isso não significa que a igreja não está presente. Há
pelo menos duas ocorrências distintas da igreja no céu. Primeiro, os vinte e quatro
anciçãos em Ap 4-5 simbolizam a igreja. Segundo, a frase “vós santos, apóstolos e
profetas”, em Ap 18.20, claramente se refere à igreja no céu. O cenário de
arrebatamento que melhor se adéqua com a igreja estar no céu nesses textos é um
cenário de arrebatamento.
OBJEÇÃO: Por que Apocalipse é dirigido à igreja se a igreja não irá experimentar a
tribulação de Apocalipse 6-19 devido ao arrebatamento Pré-tribulacional?
Depois de olhar para os textos em questão, parece que cada trombeta é usada para um
propósito distinto que é único e diferente dos outros três.
A trombeta de Joel 2.1 é uma trombeta de alarme (cf. Jr 6.1) de que o Dia do Senhor
está próximo. A trombeta de 1Tessalonicenses 4.16 e 1Coríntios 15.52 é uma trombeta
que anuncia o Rei se aproximando (cf. Sl 47.5) para que as pessoas possam sair para
saudá-lO. A trombeta de Mateus 24.31 é uma trombeta para reunir-se (cf. Ex 19.16; Ne
4.20. Jl 2.15). A trombeta de Apocalipse 11.15 é a sétima de uma série de sete
trombetas e anuncia vitória (cf. 1Sm 13.3). Não há razão convincente para equiparar a
trombeta do arrebatamento com qualquer uma das outras três trombetas.
OBJEÇÃO: A promessa de libertação para os santos da igreja em 2Ts 1.6-10, no
tempo em que Jesus voltar com seus anjos para julgar o mundo, aponta para um
arrebatamento Pós-tribulacional?
RESPOSTA: Dizer que a tribulação real não começa até o ponto do meio da
Septuagésima semana de Daniel é fazer uma delimitação arbitrária e também
contradizer o testemunho de, no mínimo, quatro dos primeiros selos de Apocalipse 6.1-
8, que retratam a tribulação desencadeada por Cristo dos céus. Estes selos são descritos
como “dores de parto” e “tribulação” em Mateus 24.8-9. Enquanto a intensidade final
da tribulação (“grande tribulação”) está na metade final da septuagésima semana de
Daniel, todo o período é marcado por uma tribulação em geral. Assim, a única posição
Pré-tribulacional genuína é aquela que coloca o arrebatamento antes da septuagésima
semana de Daniel.
OBJEÇÃO: Se a igreja participa da primeira ressurreição, e se a primeira
ressurreição é descrita em Apocalipse 20.4-5, isso não aponta para uma
ressurreição/arrebatamento Pós-tribulacional?
________________________________________
Nota
[1]. O arrebatamento ocorre logo antes do início da septuagésima semana de Daniel,
enquanto que o Dia do Senhor começa no fim da septuagésima semana de Daniel. Veja
Richard L. Mayhue, “The Bible’s Watchwood: Day of the Lorde”, The Master’s
Seminary Journal 22.1 (spring 2011): 65-68.
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Richard Mayhue / Os Planos Proféticos de Cristo: Um guia básico sobre o premilenismo
futurista – John MacArthur & Richard Mayhue – Cap. 4, Pág. 83-99
CAPÍTULO 5
E QUANTO A ISRAEL? | Michael Vlach
Um pastor de outra geração estava pregando sobre a realeza de Cristo quando, eloqüente
e poderosamente, soltou este belo resumo:
A Bíblia diz que meu Rei é rei de sete maneiras. Ele é o Rei dos Judeus. Este é um rei
social. Ele é o Rei de Israel. Este é um rei nacional. Ele é o Rei da Justiça. Este é um
rei espiritual. Ele é o Rei dos séculos. Este é um rei eterno. Ele é o Rei dos céus. Este é
um rei celestial. Ele é o Rei da glória. Este é um rei magnífico. Ele é o Rei dos reis e
Senhor dos senhores. Este é um rei divino. Este é o meu Rei divino.[1]
O propósito deste capítulo é estabelecer o fato de que Israel é o povo e a nação sobre a
qual o Rei dos reis e Senhor dos senhores governará um dia.
Poucos temas na teologia cristã são tão controversos e importantes quanto Israel. Na
realidade, Israel é a questão principal que separa Premilenismo Futurista de sistemas
não-dispensacionalistas, tais como Amilenismo, Premilenismo histórico e
Posmilenismo. A questão fundamental é: “A nação de Israel ainda possui significância
no plano de Deus ou esta relevância foi substituída e transcendida por Jesus de tal forma
que não há um papel futuro para a nação neste planejamento divino?” Premilenistas
futuristas afirmam a primeira opção enquanto os outros pontos de vista defendem a
segunda.
A evidência bíblica mostra que o Premilenismo Futurista está correto ao considerar que
a nação de Israel permanece importante para os propósitos de Deus. Na verdade, não se
pode ter uma compreensão apropriada dos planos de Deus para as eras a menos que se
tenha uma opinião sobre como Deus está usando Israel para cumprir Seus propósitos.
Isso inclui compreender a relação entre a nação de Israel e Jesus, o israelita definitivo
que, como o cabeça Israel, restaura a nação num futuro local de culto e liderança entre
as nações. É aqui que os premilenistas futuristas fazem uma contribuição significativa
para a compreensão da teologia e onde outros sistemas teológicos têm falhado
largamente. Aqueles que não endossam o Premilenismo Futurista têm concluído
erroneamente que a identificação de Jesus com Israel significou o fim do papel e da
significância do Israel nacional,[2] enquanto os premilenistas futuristas afirmam que a
identidade de Jesus “Israel” é parte de uma solidariedade societária na qual na qual um
(Jesus) e muitos (nação de Israel) estão relacionados entre si sem que Aquele retire o
significado destes.
Apesar de ser uma instituição pós-queda, as nações não são inerentemente más ou algo
que deva transcender ou diminuir em importância com a vinda de Cristo. Sim, há muita
ênfase na Bíblia na salvação individual, mas isso não é mutuamente exclusivo com os
planos de Deus para as nações. Na verdade, as nações foram criadas por Deus. Paulo
declarou que “de um só [Deus] fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da
terra” (At 17.26ª). Isaías 19.24-25 indica que um dia virá quando os tradicionais
inimigos de Israel, Egito e Assíria irão se juntar a Israel como povo de Deus:
“Naquele dia, Israel será o terceiro com os egípcios e os assírios, uma bênção no meio
da terra; porque o Senhor dos exércitos os abençoará, dizendo: Bendito seja o Egito,
meu povo, e a Assíria, obra de minhas mãos, e Israel, minha herança”.
Note que, nos últimos dias, o Egito se tornará “meu povo” e a Assíria será “obra de
minhas mãos”. Estas nações se tornarão o povo de Deus ao lado de Israel, que ainda é
“herança” de Deus. As nações crentes não se tornam “Israel”, mas existem como povo
de Deus junto a Israel para a glória dEle. Assim, o Senhor não apenas tem um futuro
para Israel; Ele tem um plano para outras nações também, mesmo os tradicionais
inimigos de Israel, como o Egito e a Assíria. Em Zacarias 2.11, Deus declarou que
“muitas nações se ajuntarão ao SENHOR e serão o meu povo”. Zacarias 14 indica que
no dia em que “O SENHOR será Rei sobre toda a terra” (v. 9), “nações” (incluindo o
Egito) “subirão de ano em ano para adorar o Rei” (v. 16).
Mas os planos de Deus são transcendidos pela vinda de Jesus e a era do Novo
Testamento? Não há evidência de que sim. Repetidamente, os planos de Deus para a
nação de Israel são afirmados (ver Mt 19.28; Lc 1.32-33; At 1.6; Rm 11.26-27).
Apocalipse 21.24-26 afirma ainda a presença de nações no Estado Eterno:
“As nações andarão mediante a sua [a Nova Jerusalém] luz, e os reis da terra lhe trazem
a sua glória. As suas portas nunca jamais se fecharão de dia, porque, nela, não haverá
noite. E lhe trarão a glória e a honra das nações”.
Estas “nações” (plural) andarão pela luz da Nova Jerusalém e os “reis da terra” trarão
suas contribuições culturais de suas terras para a grande cidade. Estas nações estão
unidas no sentido de que todas são salvas da mesma maneira – através unicamente da fé
somente em Cristo. Mas esta unidade espiritual não apaga todas as diferenças étnicas e
geográficas que possuem entre si. A evidência escriturística para as nações nos planos
futuros de Deus é tão significativa que até mesmo o teólogo amilenista Anthony
Hoekema reconhece a existência das nações. Em relação à Apocalipse 21.24,26,
Hoekema perguntou: “Será que é demais dizer que, de acordo com esses versículos, as
únicas contribuições de cada nação para a vida da terra presente será enriquecer a vida
da nova terra?”[4] Estas contribuições incluem “os melhores produtos da cultura e arte
que esta terra já produziu”.[5]
Este entendimento de que várias nações têm um papel nos propósitos futuros de Deus
conduz a uma importante implicação teológica: Se é reconhecido que há nações no
futuro com papéis e identidades específicos, por que não haveria um papel especial e
identidade para a nação de Israel? Em resposta à declaração de Hoekema sobre a
presença de nações e cultura na nova terra, Barry Horner corretamente aponta que “a
menção de contribuições nacionais distintas (...) certamente teriam de incluir as
benfeitorias culturais de Israel!”[6] O ponto de Horner é bem aceito. Se há nações na
nova terra, por que Israel não seria uma dessas nações que contribuem para a nova
ordem? Além disso, a presença de nações plurais no estado eterno indica que não é o
propósito de Deus tornar todos Israel, como os não-dispensacionalistas constantemente
alegam. Não há nenhuma indicação de que as nações em Apocalipse 21 e 22 sejam
todas identificadas como “Israel”. O papel de Israel é trazer bênçãos para as nações, não
tornar todo mundo Israel. Em suma, ao nos aproximarmos do tema de Israel, devemos
pôr de lado quaisquer noções não-bíblicas ou suposições de que as nações não são de
caráter espiritual ou algo que deva ser transcendido. Ambos os Testamentos da Bíblia
afirmam um futuro para as nações.
“Ora, disse o SENHOR a Abraão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e
vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te
engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e
amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra”.
Esta passagem introduz a aliança Abraâmica. Aqui, Deus promete a Abraão bênçãos
pessoais, incluindo um grande nome. Deus também diz a Abraão: “de ti farei uma
grande nação”. Quando o livro de Gênesis se desdobra, torna-se evidente que esta
“grande nação” é Israel, os descendentes de Abraão através de Isaque e Jacó.
Significativamente, o propósito de Abraão e da grande nação que viria dele é
encontrado no versículo 3b: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra”. Dumbrell
salienta que a gramática hebraica indica aqui o destino de Abraão e da grande nação:
A cláusula é, mais provavelmente, para ser tomada como uma cláusula de resultado,
indicando qual será a consumação das promessas que os versos precedentes
anunciaram. Ou seja, as promessas pessoais feitas a Abraão têm a bênção mundial
final como o seu objetivo.[7]
Assim, Gênesis 12.2-3 indica que o propósito de Abraão e da grande nação a surgir dele
(Israel) é uma bênção para todo o mundo. Como Christopher Wright ressalta: “Sem
dúvida, então, houve um propósito universal na eleição de Abraão por Deus e, portanto,
também uma dimensão universal para a própria existência de Israel. Israel como um
povo que foi chamado à existência por causa da missão de Deus em abençoar as nações
e restaurar sua criação”.[8]
“Multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e lhe darei todas estas
terras. Na tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra” (26.4).
“Quando, pois, todas estas coisas vierem sobre ti, a bênção e a maldição que pus diante
de ti, se te recordares delas entre todas as nações, para onde te lançar o SENHOR teu
Deus, e tornares ao SENHOR, teu Deus, tu e teus filhos, de todo o teu coração e de toda
a tua alma, e deres ouvidos à sua voz, segundo tudo o que hoje te ordeno, então, o
SENHOR, teu Deus, mudará a tua sorte, e se compadecerá de ti, e te ajuntará, de novo,
de todos os povos entre os quais te havia espalhado o SENHOR, teu Deus. Ainda que os
teus desterrados estejam para a extremidade dos céus, desde aí te ajuntará o SENHOR,
teu Deus, e te tomará de lá. O SENHOR, teu Deus, te introduzirá na terra que teus pais
possuíram, e a possuirás; e te fará bem e te multiplicará mais do que a teus pais. O
SENHOR, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua descendência, para
amares o SENHOR, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas”.
Este trecho detalha uma profecia “num quadro geral” sobre o futuro de Israel. Deus
tinha tirado Israel dramaticamente do Egito. Ele também tinha dado a Israel a lei
mosaica. Em Deuteronômio 28-29, Deus descreveu as bênçãos que viriam sobre Israel
se a nação O obedecesse. Ele também tratou das maldições que resultariam da
desobediência. Deus então descreveu o que o futuro distante reservaria para Israel.
Depois de experimentar a bênção e a maldição, Deus iria banir Israel a todas as nações
por causa da desobediência. Mas um tempo viria em que Israel voltaria para Deus e Ele
o restauraria. Isso inclui uma salvação espiritual (“O SENHOR, teu Deus, circuncidará
o teu coração”) e uma restauração física (“na terra que teus pais possuíram”). Em suma,
Deus prometeu a Israel que, após um período de banimento, a nação seria salva e
restaurada à sua Terra Prometida. Esta passagem deve nos orientar claramente com
relação a qualquer teologia que afirme que Deus tenha supostamente substituído ou
suplantado a nação de Israel por causa de sua desobediência. Tanto a rebelião quanto a
restauração de Israel ao previstas e ambas acontecerão. Outras passagens reafirmam a
expectativa de Deuteronômio 30.1-6. Ezequiel 36.22-30 prediz que, após um período de
dispersão, Israel irá experimentar salvação e restauração na sua terra:
“Dize, portanto, à casa de Israel: Assim diz o SENHOR Deus: Não é por amor de vós
que Eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo nome, que profanastes entre as
nações para onde fostes. Vindicarei a santidade do meu grande nome, que foi profanado
entre as nações, o qual profanastes no meio delas; as nações saberão que Eu Sou o
SENHOR, diz o SENHOR Deus, quando Eu vindicar a minha santidade perante elas.
Tomar-vos-ei de entre as nações, e vos congregarei de todos os países, e vos trarei para
a vossa terra. Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as
vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e
porei dentro de vós um espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei
coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus
estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis. Habitareis na terra que Eu dei a vossos
pais; vós sereis o meu povo, e Eu serei o vosso Deus. Livrar-vos-ei de todas as vossas
imundícias; farei vir o trigo, e o multiplicarei, e não trarei fome sobre vós. Multiplicarei
o fruto das árvores e a novidade do campo, para que jamais recebais o opróbrio da fome
entre as nações”.
“Palavra que do SENHOR veio a Jeremias, dizendo: Assim fala o SENHOR, Deus de
Israel: Escreve num livro todas as palavras que Eu disse. Porque eis que vêm dias, diz o
SENHOR, em que mudarei a sorte do meu povo de Israel e de Judá, diz o SENHOR; fá-
los-ei voltar para a terra que dei a seus pais, e a possuirão”.
Joel 3.20 indica que, como resultado do dia do Senhor (3.18) “Judá, porém, será
habitada para sempre, e Jerusalém, de geração em geração”. Em Sofonias 3.20 Deus
promete novamente “mudar a sorte” de Israel. Quando se examinam estes outros textos
sobre restauração na Bíblia, certas verdades emergem: (1) A restauração de Israel
envolve tanto a salvação espiritual quanto bênçãos físicas, incluindo a posse da terra da
promessa; (2) a promessa de restauração não é baseada na grandeza de Israel, mas na
escolha de Deus e no caráter dEle; e (3) a promessa de restauração tem lugar após o
período de desobediência de Israel. Como as passagens acima e muitas outras indicam,
a restauração de Israel é um dos temas principais do Antigo Testamento. Trata-se de
uma doutrina explícita.
“E me disse: Tu és o meu servo, és Israel, por quem hei de ser glorificado. Eu mesmo
disse: debalde tenho trabalhado, inútil e vãmente gastei as minhas forças; todavia, o
meu direito está perante o SENHOR, a minha recompensa, perante o meu Deus, mas
agora diz o SENHOR, que me formou desde o ventre para ser seu servo, para que torne
a trazer Jacó e para reunir Israel a ele, porque eu sou glorificado perante o SENHOR, e
o meu Deus é a minha força. Sim, diz ele: Pouco é o seres meu servo, para restaurares
as tribos de Jacó e tornares a trazer os remanescentes de Israel; também te dei como luz
para os gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra”.
De acordo com o versículo 3, o Senhor está falando para “meu servo Israel”. O
amilenista Robert Strimple tem razão quando afirma que Cristo “é o Servo sofredor do
Senhor”.[10] O versículo 5 afirma, em seguida, um dos propósitos deste “Servo”. O
papel dele é “para que torne a trazer Jacó e para reunir Israel a ele”. O versículo 6
também afirma que o papel do Servo é “levantar as tribos de Jacó, e restaurar os
preservados de Israel”. Deus irá também “fazer” o Servo ser uma “luz para os gentios”.
O que é significativo aqui é que o Servo está claramente ligado a Israel (v.3), mas Ele
também é distinto de alguma forma, já que Ele é aquele que irá “restaurar” Israel. A
nação de Israel não pode restaurar a si mesma, pois é pecadora. Mas o Servo – que é
Jesus Cristo, o verdadeiro Israel – pode restaurar esta nação e trazer bênçãos para as
outras. Assim, esta passagem ensina que Jesus, o verdadeiro Israel, vai restaurar a nação
de Israel e trazer luz para as nações. Ele também vai restaurar Israel à sua terra (Is 49.8).
Desta forma, a presença de Jesus não significa que o povo de Israel perde seu
significado ou identidade. Não é o objetivo de Jesus que tudo seja absorvido nEle. Pelo
contrário, o povo de Israel está salvo e restaurado à sua terra e transformando no que
deveria ser por causa de Jesus Cristo. Em relação a Israel, Robert Saucy corretamente
aponta para o conceito de “personalidade social”, na qual a cabeça ministra o corpo para
que este possa realizar sua missão.[11] Isto significa que Israel, a quem foi dada uma
missão para as nações, será capaz de cumprir sua missão por causa do Servo – Jesus
Cristo. Assim, Isaías 49.3-6 contradiz explicitamente o argumento de não-
dispensacionalistas de que Cristo, enquanto o verdadeiro Israel, implique no fim da
significância de Israel nacional. Não apenas Cristo, enquanto o verdadeiro Israel, não
significa o fim da nação de Israel no plano de Deus, como também a presença de Cristo
significa a restauração da nação.
Os Evangelhos e Atos
Quando o anjo Gabriel apareceu a Maria, ele indicou que a criança nascida dela um dia
reinaria sobre Israel: “Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o
Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai (Lc 1.32). As palavras de Jesus em Mateus
19.28 e Lucas 22.29-30 mostram que Jesus esperava uma restauração da nação de
Israel:
“Jesus lhes respondeu: Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, na
regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos
assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel” (Mt 19.28).
“Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio, para que comais e bebais à
minha mesa no meu reino; e vos assentareis em tronos para julgar as doze tribos de
Israel” (Lc 22.29-30).
Nestas passagens Jesus está falando sobre o que acontecerá no futuro. Quando chegar o
dia em que a terra experimentará a “regeneração” e o “reino”, os apóstolos se assentarão
em doze tronos para “julgar as doze tribos de Israel”. Este é o testemunho explícito e
poderoso sobre a restauração de Israel, que está ligada à segunda vinda, à renovação do
planeta e ao vindouro Reino de Deus.
Mateus 23.37-39 e Lucas 13.34-35 também são evidências de que Jesus esperava uma
restauração futura de Israel. A primeira passagem registra as palavras de Jesus aos
habitantes de Jerusalém:
Nestes dois textos paralelos, Jesus anunciou que a desolação viria a Jerusalém e a seu
Templo porque os habitantes da cidade O rejeitaram. Ele também anunciou que estaria
oculto às pessoas de Jerusalém até o dia em que eles dissessem: “Bendito o que vem em
nome do Senhor!”. A predição de que os judeus um dia irão gritar que Jesus é “bendito”
é clara, mas qual o contexto do seu clamor? Seria a exclamação dos judeus
desobedientes enfrentando o julgamento escatológico ou é o grito de Israel arrependido
no momento da sua restauração? A última visão está correta. Craig L. Blomberg
observa que as palavras de Jesus em Mateus 23.39 indicam uma “crença genuína” por
parte de Israel.[12] Esta declaração de bem-aventurança sobre Jesus virá de uma nação
arrependida na época de sua restauração. Assim, Robert Gundry é correto em afirmar
que Mateus 23.37-39 refere-se à “restauração de Israel no Reino do Filho do
Homem”.[13] Em referência a Lucas 13.35, Robert C. Tannehill também declara, com
razão, que “Este lamento sobre Jerusalém inclui uma contínua esperança de que uma
Jerusalém restaurada vai encontrar esta salvação”.[14]
Outra passagem que apoia a ideia de uma restauração da nação de Israel é Atos 1.6-7,
onde os apóstolos fizeram a Jesus uma importante pergunta:
“Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram: Senhor, será este o tempo em que
restaures o reino a Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou
épocas que o Pai reservou pela Sua exclusiva autoridade”.
Romanos 9-11
Romanos 9-11 oferece a mais explícita evidência de um futuro para a nação de Israel.
Em 9.3b-4, Paulo se refere a “meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne; que
são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e as alianças, e a lei, e o culto, e
as promessas”. Quando Paulo escreveu em sua carta aos Romanos, a era da igreja estava
em curso e a rejeição de Cristo por Israel estava bem estabelecida. Mas Paulo diz que há
certas coisas que ainda “pertencem” a seus irmãos israelitas. Usando o tempo presente,
Paulo inclui “adoção de filhos”, “glória”, “os mandamentos” “a entrega da Lei”, “o
serviço do templo” e “as promessas”. Estes ainda pertencem a Israel. As palavras de
Paulo não são uma declaração de que judeus descrentes são salvos ou estão atualmente
em um relacionamento correto com Deus, mas elas indicam que o compromisso de
Deus para com a nação de Israel não acabou. Assim, apesar de seu presente estado de
descrença, Deus não terminou com Israel. Ele não revogou Suas alianças e promessas
para o Seu povo. Estas coisas ainda pertencem a Israel.
Romanos 11.1 coloca: “terá Deus, porventura, rejeitado o Seu povo? De modo
nenhum!”. No caso, não houve nenhuma dúvida para Paulo declarar enfaticamente que
Israel ainda era “Seu povo”. Paulo então fez uma declaração estratégica em Romanos
11.11-12:
“Digo, pois: Porventura tropeçaram, para que caíssem? De modo nenhum, mas pela sua
queda veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação. E se a sua queda é a
riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos gentios, quanto mais a sua
plenitude”!
O tropeço de Israel é temporário, não permanente. Além disso, esse tropeço tem um
propósito: provocar ciúmes em Israel, trazendo a salvação para os gentios. Quando o
cumprimento de Israel (salvação e restauração) acontecer, bênçãos ainda maiores serão
concedidas ao mundo. Isso mostra que os planos de Deus, tanto para Israel quanto para
os gentios, não foram totalmente cumpridos em nossa era. Grandes bênçãos têm
atualmente vindo aos gentios como resultado da queda temporária de Israel, mas,
quando este for salvo, as bênçãos aos gentios serão ampliadas ainda mais. Em outras
palavras, se você acha que as bênçãos para os gentios são grandes agora, abasta esperar
até o “cumprimento” de Israel chegar! Então Paulo prevê explicitamente esta salvação e
restauração de Israel em Romanos 11.25-27:
“Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós
mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos
gentios haja entrado. E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o
Libertador, e desviará de Jacó as impiedades. E ESTA SERÁ A MINHA ALIANÇA
COM ELES, QUANDO EU TIRAR OS SEUS PECADOS”.
A salvação de Israel não é apenas explicitamente declarada – “Todo o Israel será salvo”,
como também está ligada às promessas do Antigo Testamento, mostrando que as
promessas de Deus serão cumpridas literalmente. Paulo também menciona que a
salvação de Israel está relacionada com a soberania de Deus, para fins de eleição:
“quanto, porém, à eleição, amados por causa dos patriarcas” (11.28). Deus tem um
futuro para o povo de Sua aliança, Israel, porque Ele é fiel às promessas que fez aos
patriarcas judeus e Seus propósitos relativos à eleição permanecem verdadeiros.
“E ouvi o número dos selados, e eram cento e quarenta e quatro mil selados, de todas as
tribos dos filhos de Israel. Da tribo de Judá, havia doze mil selados; da tribo de Rúbem,
doze mil selados; da tribo de Gade, doze mil selados; da tribo de Aser, doze mil selados;
da tribo de Naftali, doze mil selados; da tribo de Manassés, doze mil selados; da tribo de
Simeão, doze mil selados; da tribo de Levi, doze mil selados; da tribo de Issacar, doze
mil selados; da tribo de Zebulom, doze mil selados; da tribo de José, doze mil selados;
da tribo de Benjamim, doze mil selados”.
A menção específica de cada uma das doze tribos de Israel, que têm um papel de
testemunhas nos dias difíceis do período da Tribulação, enfatiza a continuidade da
importância das tribos de Israel no plano de Deus. Isso não é uma referência aos gentios
ou à “igreja militante”, como alguns afirmam.[17] Imediatamente depois, Apocalipse
7.9 declara: “Depois destas coisas, vi, e eis uma grande multidão que ninguém podia
enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do
Cordeiro”. Assim, João distingue judeus (Ap 7.4-8) dos gentios (Ap 7.9). O grupo em
7.4-8 consiste de judeus étnicos, enquanto o grupo em 7.9 é uma multidão de “todas as
nações”. Além disso, o grupo em 7.4-8 é um número específico e relativamente pequeno
– um grupo de 144 mil, enquanto o de 7.9 é uma “grande multidão que ninguém podia
enumerar”. Estes não são um mesmo grupo de pessoas.
CONCLUSÃO
Como este estudo mostrou, a salvação e a restauração da nação de Israel é uma doutrina
bíblica explícita. Ela é encontrada de Gênesis a Apocalipse. O futuro de Israel está
ligado ao Israelita definitivo, Jesus Cristo, que restaura a nação de Israel e traz bênçãos
às nações da terra. Que a nossa resposta à idéia anti-bíblica de que a nação de Israel não
tem mais um lugar nos planos de Deus seja a do apóstolo Paulo, que declarou: “Terá
Deus, porventura, rejeitado o Seu povo? De modo nenhum” (Rm 11.1).
CAPÍTULO 6
E QUANTO A APOCALIPSE 20? | Matthew Waymeyer
Vários anos atrás, uns amigos meus alugaram um filme de aventura para assistir com
suas duas filhas. Durante uma cena intensa no início do filme, as meninas ficaram com
medo e já não tinham certeza se queriam terminar o DVD. Então, seus pais fizeram algo
criativo – eles avançaram até o final e mostraram a suas filhas que os personagens
principais estavam vivos e bem na última cena. Então, eles voltaram o filme e
continuaram de onde haviam parado. Agora as meninas podiam seguir pelas partes
assustadoras do filme porque sabiam ao certo como tudo ficaria bem no final.
“E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua
mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por
mil anos. E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais
engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por
um pouco de tempo.” (Apocalipse 20:1-3)
O confinamento de Satanás não pode ser considerado uma realidade presente, pois os
eventos de Apocalipse 20.1-3 são incompatíveis com a descrição do Novo Testamento
de sua constante influência durante a era atual. De acordo com a visão de João, Satanás
será cortado inteiramente de toda a atividade terrena durante os mil anos. A imagem
dele sendo lançado no abismo e tendo-o fechado e selado sobre ele fornece uma
ilustração vívida de uma remoção total de sua influência sobre a Terra. De fato, se uma
visão tem a intenção de ensinar que Satanás ficará completamente inativo durante os mil
anos descritos [com riqueza de detalhes] em Apocalipse 20, fica difícil [e ilógico]
imaginar como isso poderia ser retratado de forma mais clara.
NOTA: “E eis que clamaram, dizendo: Que temos nós contigo, Jesus, Filho de
Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” (Mateus 8:29). “Antes do tempo”
foi a expressão usada pelos demônios para se referirem à segunda vinda propriamente
dita de Jesus Cristo para o Seu Reinado, quando os espíritos malignos estarão presos
no abismo e impedidos de atuarem no mundo. (JP Padilha)
O mesmo pode ser visto no livro de Apocalipse. Em Apocalipse 9.1-3, uma multidão de
demônios deve, primeiramente, ser liberada do abismo antes de causar danos na Terra.
Antes dessa liberação, no entanto, os demônios não têm nenhuma influência terrena,
qualquer que seja. Da mesma forma, em Apocalipse 20, Satanás deverá primeiro ser
“solto da sua prisão” (20.7) para que possa “sair a seduzir as nações” (20.8). Mas
enquanto ele estiver confinado no abismo, o diabo não é capaz de sair de sua prisão e,
portanto, sua atividade na terra é completamente nula.
Em contraste com isto, o Novo Testamento deixa bem claro que Satanás – que é
descrito como “o deus deste século” (2Co 4.4) e “o príncipe deste mundo” (Jo 12.31;
14.30; 16.11; cf. 1Jo 4.4) – é extremamente ativo na terra durante a era atual. Ele não
somente “anda em derredor, como leão que ruge, buscando a quem possa devorar”
(1Pe 5.8), mas também está envolvido em uma série de outras atividades: ele conta
mentiras (Jo 8.44); ele tenta crentes a pecar (1Co 7.5; Ef 4.27); ele se disfarça como
um anjo de luz (2Co 11.13-15); ele procura enganar os filhos de Deus ( 2Co 11.3);
ele arrebata o evangelho dos corações incrédulos (Mt 13.19; Mc 4.15; Lc 8.12; cf
1Ts 3.5); ele leva “vantagens” sobre crentes (2Co 2.11); ele influencia as pessoas a
mentir (At 5.3); ele mantém os incrédulos sob seu poder (At 26.18; Ef 2.2; 1Jo 5.19);
ele “esbofeteia” os servos de Deus (2Co 12.7); ele impede o progresso do ministério
(1Ts 2.18); ele procura destruir a fé dos crentes (Lc 22.31); ele promove guerra
contra a igreja (Ef 6.11-17); ele ilude e engana as pessoas, mantendo-as cativas
para fazerem sua vontade (2Tm 2.26). É impossível conciliar esta vasta descrição
bíblica das atividades atuais de Satanás com a visão de que ele esteja atualmente selado
no abismo.
Porém, há várias dificuldades com este ponto de vista. Primeiro, a palavra traduzida
como “ressurreição” (anastasis) é usada outras quarenta e uma vezes no Novo
Testamento e nunca se refere à regeneração. Essa objeção não é conclusiva porque é
teoricamente possível que João esteja usando esta palavra de uma maneira única – mas
isto coloca o ônus da prova sobre aqueles que dizem que ela é usada dessa maneira em
Apocalipse 20.
Um segundo problema diz respeito ao reviver dos “restantes dos mortos” no início do
versículo 5. Quando João diz que essas pessoas “reviveram” (ezêsan), os intérpretes
concordam que esta palavra se refere a uma ressurreição física. Todavia, pelo fato de
João usar a mesma forma da mesma palavra grega (ezêsan) para se referir ao “vir à
vida” dos indivíduos no versículo 4, segue-se logicamente que essa “primeira
ressurreição” é uma ressurreição física também. Caso contrário, “somos confrontados
com o problema de uma mesma palavra estar sendo usada no mesmo contexto com dois
significados completamente distintos, porém sem qualquer indicação quanto à mudança
de significado”.[7] O Premilenismo Futurista não tem esse problema, pois ele vê o
verbo ezêsan como se referindo a uma ressurreição física nos dois versículos – uma
ressurreição dos justos no versículo 4 e uma ressurreição dos ímpios no versículo 5.
[Pois esta é a intenção clara do autor inspirado].
Em terceiro lugar, esta passagem indica que todo o grupo de indivíduos que são
ressuscitados na primeira ressurreição é ressuscitado junto no início do milênio e reinará
juntamente com Cristo pela totalidade dos mil anos (Ap 20.4-6). Isso fica claro a partir
da gramática da passagem.[8] No entanto, de acordo com a visão de que a primeira
ressurreição é igual à regeneração, os crentes são regenerados ao longo dos mil anos
(que é visto como a era atual), de modo que a entrada dos santos neste reinado é
distribuída ao longo do milênio. Isso simplesmente não se encaixa com a visão de João
como ele a descreve.
Por último, de acordo com a visão de que a primeira ressurreição [supostamente] se
refere à regeneração, os indivíduos descritos no versículo 4 são regenerados pelo
Espírito Santo só depois de terem sido martirizados. Desta forma, a visão da
regeneração introduz “a absurda idéia de haver almas sendo regeneradas depois de
terem sido decapitadas por sua fidelidade a Cristo!”[9]
Em contraste com isto, há várias razões óbvias pelas quais a “primeira ressurreição” se
refere a uma ressurreição física: (1) Isto é coerente com o uso da palavra “ressurreição”
(anastasis), que se refere à ressurreição física em quarenta e uma das quarenta e duas
vezes no Novo Testamento; (2) a palavra traduzida como “reviveram” (ezêsan) refere-se
ao mesmo tipo de ressurreição, tanto no versículo 5 como no versículo 4 – uma
ressurreição física; (3) isso explica perfeitamente o uso da terminologia “primeira
ressurreição”, o que implica, obviamente, uma segunda ressurreição, a ressurreição
dos ímpios, mil anos mais tarde; e (4) isso se encaixa com o contexto em que João vê
aqueles que foram mortos no âmbito físico voltando à vida no âmbito físico.
Em resposta a esta objeção, Daniel 12.2, João 5.28-29 e Atos 24.15, na verdade, não
excluem a possibilidade de duas ressurreições distintas e separadas por um período de
tempo. De fato, todas as três passagens falam de uma ressurreição dos justos e uma
ressurreição de iníquos – e sempre nessa mesma ordem (a mesma de Apocalipse 20) – e
elas não afirmam nem exigem que as duas ressurreições aconteçam ao mesmo
tempo.[11]
É útil lembrar que revelações posteriores na Escritura irão às vezes esclarecer que há
realmente um intervalo de tempo que separa dois eventos previstos em revelações
anteriores – dois eventos que inicialmente pareciam que ocorreriam ao mesmo tempo.
Por exemplo, não há nenhuma evidência clara no Antigo Testamento em si de que
haveria duas vindas distintas do Messias, separadas por um período de tempo
significativo. Mas, quando você vem para a revelação posterior, no Novo Testamento,
você percebe que aquilo que os escritores do Antigo Testamento pareciam retratar como
um único evento deve, agora, ser reconhecido como envolvendo dois eventos. Da
mesma forma, quando se trata de ressurreição futura, o que os escritores anteriores da
Escritura parecia retratar como uma única ressurreição (a ressurreição geral dos justos e
dos ímpios) deve agora ser reconhecido como envolvendo duas ressurreições (a
ressurreição dos justos e, em seguida, a ressurreição dos ímpios mil anos depois).
Para ilustrar, imagine-se dirigindo por uma estrada no deserto. Ao longe você vê duas
montanhas no horizonte e a rodovia passando bem no meio delas. As duas montanhas
parecem estar bem do lado uma da outra, uma à esquerda e outra à direita. Porém, à
medida que você se aproxima, você vê que a da direita está, na verdade, mais próxima
do que a outra à esquerda. De fato, à medida que você dirige e passa pela montanha da
direita, você descobre que há uma lacuna de mil metros entre as duas montanhas ----
uma lacuna que você não podia ver ao olhar de longe.
Não é suficiente meramente dizer que Apocalipse está repleto de simbolismo e concluir,
com isto, que os mil anos devem ser simbólicos. É necessário fornecer evidências
convincentes de que eles devem ser entendidos desta forma. A única abordagem
concebível para a compreensão de literatura de qualquer tipo é assumir o sentido literal,
a menos que a natureza da linguagem force o leitor a considerar uma interpretação
simbólica.[13] Esta não somente é a única abordagem concebível, como também reflete
o fato de que a linguagem simbólica do texto leva a um afastamento da literal, e não
vice-versa.
Para determinar se algo nas Escrituras deve ser interpretado simbolicamente, é útil fazer
três perguntas. Primeiro, será que isto possui um grau de absurdidade quando tomado
literalmente? Com a linguagem simbólica, há algo inerente à própria linguagem que
obriga o intérprete a olhar para além do significado literal. Este algo é um grau de
absurdidade que faz o intérprete coçar a cabeça e dizer: “Mas como pode ser isso?”. Em
segundo lugar, será que isto possui um grau de clareza quando tomado simbolicamente?
A linguagem simbólica é essencialmente clara e compreensível, retratando vividamente
aquilo que ela simboliza. Por esta razão, interpretar a linguagem figurativa
simbolicamente traz clareza para o significado de um texto que parecia ser absurdo
quando tomado literalmente. E em terceiro lugar, será que isto se encaixa em uma
categoria estabelecida de linguagem simbólica? Pelo fato das figuras de linguagem
serem afastamentos legítimos do uso normal (literal) da linguagem, eles são limitados
em número e podem ser definidos de acordo com exemplos conhecidos.[14] Por esta
razão, o intérprete deve determinar se a linguagem em questão cai [de fato] em uma
categoria estabelecida de linguagem figurada, tais como símile, metáfora, hipérbole,
personificação ou antropomorfismo.
Por exemplo, quando Isaías 55.12 se refere à árvores do campo batendo palmas, a
linguagem do teto cumpre todos os três critérios para a linguagem simbólica: 1) ela
possui um grau de absurdidade quando tomada literalmente (árvores não possuem
mãos); 2) ela possui um grau de clareza quando tomada simbolicamente (ela comunica
claramente um momento de tamanha alegria que até mesmo as árvores batem palmas); e
3) ela se encaixa em uma categoria estabelecida de linguagem simbólica (personificação
– na qual uma ação humana é atribuída a um objeto inanimado).
Em segundo lugar, não existe sequer um grau de clareza no texto quando o mesmo é
tomado simbolicamente. Por exemplo, um Posmilenista descreve o significado
simbólico dos mil anos assim: “O número sagrado, sete, em combinação com o número
igualmente sagrado, três, forma o número de santa perfeição [dez], e quando este dez é
elevado ao cubo para mil, [João] diz tudo que ele poderia dizer para transmitir às nossas
mentes a idéia de plenitude absoluta”.[15] Mas o que exatamente levaria o intérprete a
ver estes tipos de equações matemáticas por detrás do número mil? Além disso, a
explicação comum de que os mil anos representam “plenitude” ou “um período de
tempo completo” suscita a questão: O que exatamente é esta plenitude? O que é um
período de tempo completo e como é que isto se difere de um período de tempo
incompleto? O que exatamente está sendo comunicado pelas palavras “mil anos”? A
maioria das explicações simbólicas dos mil anos introduz mais confusão do que clareza.
Terceiro, o uso simbólico dos mil anos não se enquadra em nenhuma categoria clara de
linguagem simbólica. A possibilidade mais próxima parece ser a sugestão de que a
interpretação simbólica dos mil anos é como a declaração: “Eu já lhe disse um milhão
de vezes”.[16] Esta figura de linguagem é conhecida como hipérbole, um exagero óbvio
para enfatizar um ponto. Mas o uso de João de mil anos não pode ser entendido como
uma hipérbole se estiver sendo usado para se referir a um período de tempo que já tem
quase dois mil anos de duração! O número 1.000 não é um exagero do número 2.000.
O argumento mais comum para a recapitulação vem de Apocalipse 12. De acordo com a
perspectiva da recapitulação, os paralelos entre a expulsão de Satanás em Apocalipse
12.7-12 e a expulsão de Satanás em Apocalipse 20.1-6 confirmam que ambas as
passagens retratam os mesmos eventos na era atual. Por exemplo, ambos ocorrem em
uma cena celestial; ambos envolvem uma batalha angelical com Satanás; ambos se
referem a ele como o dragão e a antiga serpente; ambos o retratam sendo lançado para
baixo; e ambos se referem ao seu “pouco” tempo. Estes e outros paralelos são citados
por Amilenistas e Posmilenistas como prova de que Apocalipse 20.1 leva o leitor de
volta para o início da era do Novo Testamento.[17]
CONCLUSÃO
A divergência sobre o milênio provavelmente continuará por algum tempo, mas não por
causa de uma falta de clareza em Apocalipse 20.1-6. Qualquer tentativa de argumentar a
favor do Amilenismo ou Posmilenismo subestima a contribuição desta passagem ou
rejeita a sua interpretação direta. Quando Cristo voltar à terra em glória, Satanás será
lançado no abismo e lá confinado por mil anos. Durante este tempo, o Senhor Jesus
estabelecerá o Seu reino milenar e reinará de Jerusalém em perfeita paz e justiça. Então,
na conclusão dos mil anos, Satanás será solto do abismo, decisivamente derrotado, e
lançado no fogo. Os ímpios serão julgados, a Terra será destruída, e novos céus e terra
serão estabelecidos e continuarão por toda a eternidade. E desta forma, quando tudo
houver sido dito e feito, o Senhor Jesus será vitorioso sobre tudo o que é mal.
CAPÍTULO 7
O CALVINISMO LEVA AO PREMILENISMO FUTURISTA |
John MacArthur
O legado da teologia reformada (comumente chamada “Calvinismo”) remonta não
apenas a reformadores como João Calvino ou aos pais da Igreja como Agostinho, mas à
própria Bíblia. As gloriosas doutrinas da graça não são primariamente produto da
história da Igreja, mas o testemunho da Escritura – com sua repetida ênfase na total
inabilidade do homem e no amor de Deus que o elege e preserva. Passagem após
passagem, de João 6 à Romanos 9 e a Efésios 1, testificamos estas grandes verdades
com clareza e poder.[2] Como explicou o notável fundador de orfanatos e poderoso
guerreiro de oração, há um século, George Muller:
Fui à Palavra, lendo o Novo Testamento desde o início, com referência particular à
essas verdades. Para meu grande espanto, descobri que as passagens que falam
enfaticamente de eleição e graça perseverante são quatro vezes mais em número do que
as que [aparentemente] falam contra estas verdades; e mesmo estas poucas passagens,
pouco tempo depois, quando as examinei e entendi, serviram para confirmar-me nas
doutrinas que acabo de citar.[3]
Embora Miller inicialmente tivesse rejeitado as doutrinas calvinistas, ele logo tornou-se
profundamente convencido de sua veracidade por meio de seus estudos nas Escrituras.
Juntamente com George Miller, os grandes nomes da história da igreja evangélica têm
compartilhado deste legado reformado – homens como John Knox, John Owen, George
Whitefield, Jonathan Edwards, William Carey, Charles Roth, Charles Spurgeon e Dr.
Martyn Lloyd-Jones.
Mas, a despeito deste prestigioso legado, há ainda umas poucas áreas nas quais a
teologia reformada precisa [com urgência] de reforma. Uma das deficiências mais
notórias na história do movimento reformado diz respeito ao campo da Escatologia –
onde, falando em termos gerais, uma interpretação literal das promessas milenares feitas
a Israel tem sido rejeitada. Em vez disso, uma hermenêutica alegórica (ou espiritual)
tem sido aplicada em muitas passagens proféticas, resultando em um compromisso
predominante com o Amilenismo e, em um grau menor, com o Posmilenismo.
A realidade é que o estudo das coisas concernentes ao fim realmente importa. Importa
para Deus – tanto que aproximadamente um quarto de Sua Palavra se relaciona com as
profecias do fim. Seriam estas passagens significantes da profecia tão confusas ao ponto
de que o máximo que os teólogos podem conseguir é simplesmente reconhecer a
confusão e passar adiante, abandonando qualquer pensamento da peculiaridade das
Escrituras com respeito à Escatologia? O esforço de se entender as passagens proféticas
resultaria em fútil empreitada, uma vez que estas passagens requerem uma interpretação
espiritualizada ou alegorizada para serem entendidas? Estaria a verdade oculta por trás
do significado normal das palavras, de modo que o texto realmente significa algo
diferente do que diz?
Este erro [da alegoria] tem sido a fonte de muitos males. Ele não somente abriu o
caminho para a adulteração do significado natural da Escritura, como também fortaleceu
a alegorização como a principal virtude exegética. Assim, muitos dos antigos sem
quaisquer restrições jogaram toda a espécie de jogos com a sagrada Palavra de Deus,
como se chutassem uma bola pra lá e pra cá. A alegorização também concedeu aos
hereges uma oportunidade de lançar a Igreja numa tormenta, pois quando é aceito que
qualquer um possa interpretar qualquer passagem como bem entende, qualquer idéia
louca, absurda ou monstruosa, pode ser introduzida sob o pretexto de alegoria. Mesmo
os bons homens foram levados pelo erro da alegoria, formulando um grande número de
opiniões perversas.[7]
Assim, ele concluiu que os estudantes da Palavra de Deus devem “rejeitar
completamente as alegorias de Orígenes e de outros como ele, que Satanás, com a mais
profunda sutileza, tem introduzido na Igreja, com o propósito de tornar a doutrina da
Escritura ambígua e destituída de toda a firmeza e certeza”.[8]
Se alguém objetar e disser que o profeta não fala aqui alegoricamente, a resposta é
claríssima – pois esta é uma maneira de falar em muitos outros lugares da Escritura,
de que um estado da felicidade é descrito diante de nossos olhos, estabelecendo diante
de nós as conveniências da vida presente e das bênçãos da vida presente: isto pode
especialmente ser observado nos profetas, pois eles acomodaram o seu estilo, como já
declaramos, as capacidades de um povo rude e fraco.[10]
William Masselink: Se toda profecia deve ser interpretada de modo literal, as visões
quiliásticas [premilenismo futurista] estão corretas; se não pode ser provado que estas
profecias têm significados espirituais, a alegoria deve ser rejeitada.[15]
Anthony Hoekema: Amilenistas, por outro lado, crêem que, embora muitas profecis do
Antigo Testamento devam ser interpretadas literalmente, muitas outras precisam ser
interpretadas de modo alegórico.[16]
Graeme Goldsworthy: Poderia ser argumentado que, embora os detalhes posam ser
difíceis de interpretar por causa da preferência profética pela imagem poética e pela
metáfora, o quadro maior é abundantemente claro. Nesta fase, o literalista afirma que
Deus revela através dos profetas que seu reino virá com o retorno dos judeus à
Palestina, a reedificação de Jerusalém, a restauração do templo... O literalista deve
tornar-se um futurista, uma vez que o cumprimento literal de toda a profecia do Antigo
Testamento ainda não aconteceu.[17]
Mas, com todo devido respeito ao distinto reformador [Calvino], ao contrário dele, não
há nenhuma boa razão para mudarmos nossa hermenêutica ao nos depararmos com a
profecia bíblica. Devemos interpretar a profecia da mesma maneira que interpretamos a
história – tomando-a como um relato literal de eventos reais (embora futuros). Como J.
C. Ryle corretamente notou:
Todos estes textos [proféticos] são para mim profecias plenas da segunda vinda e do
reino de Cristo. Todas estas profecias permanecem sem cumprimento e serão
cumpridas literalmente com exatidão. Digo “literalmente cumpridas com exatidão”, e o
digo de modo a instruir. Antes do primeiro dia em que comecei a ler a Bíblia com meu
coração, jamais pude enxergar estes textos e centenas de outros semelhantes a eles de
outra maneira. Sempre me pareceu que quando tomamos os textos literalmente os
muros da Babilônia desabam, de modo que devemos interpretá-los literalmente para
que os muros de Sião sejam erguidos – segundo a profecia de que os judeus foram
literalmente dispersos e de que serão literalmente ajuntados – e que em seus mínimos
detalhes as predições se cumpriram com respeito à vinda de nosso Senhor como servo
sofredor, assim também as predições com respeito à sua segunda vinda para reinar
serão cumpridas em seus mínimos detalhes.[19]
Como Ryle aponta, é inconsistente mudar [de modo arbitrário] nosso método de
interpretação no que diz respeito à profecia dos últimos tempos. As razões pelas quais o
próprio Calvino o fez foram baseadas em sua afirmação de que essas profecias ainda
não tinham se cumprido na história, e, portanto, não poderiam ser tomadas
literalmente.[20] Ao rejeitar a possibilidade de um cumprimento futuro, Calvino
abraçou o erro hermenêutico que ele mesmo tanto denunciou: o método alegórico.
Mas a hermenêutica alegórica, mesmo quando usada com moderação (como Calvino
pretendeu fazer),[21] é cheia de perigos – pois abre a porta para um número sem fim de
interpretações espiritualizadas. Antes, o texto deve ser tomado em seu valor nominal,
não ao pé da letra, mas de acordo com o uso normal da linguagem [exigida pela
gramática do texto]. Repetindo uma excelente frase de João Calvino, “saibamos que o
verdadeiro significado da Escritura é aquele simples e genuíno”. Se ele tivesse
aplicado este princípio a todas as passagens bíblicas, a história da Escatologia
reformada teria tomado um rumo totalmente diferente.
William Hendricksen: E o que dizer da nação, que se pode chamar de o Israel não-
convertido, os que rejeitaram o Messias?... No lugar do povo da antiga aliança surgiria –
e não é o que já começou a acontecer? – ‘uma nação que produzisse seus frutos’, uma
igreja internacional, a partir de judeus e gentios.[22]
David Hill: A nação judaica, como entidade corporativa, tinha agora perdido seu status
de eleição.[23]
R. V. G. Tasker: Por causa desta rejeição de Jesus como Messias, que veio como
clímax de uma longa série de rejeições de profetas enviados por Deus (Mt 21.35,36), o
velho Israel, como tal, perderia o direito de receber as bênçãos pertencentes ao Reino de
Deus. Estas bênçãos seriam, em conseqüência, disponibilizadas à um povo menos
exclusivo que contraria com homens de todas as raças e nações (Mt 21.43); e os
assassinos do Filho de Deus seriam destruídos (Mt 21.41).[25]
Charles Price: O ensino de Jesus nestas parábolas (Mt 21.1–22.14) diz respeito à
rejeição do povo de Deus do foco do propósito de Deus no mundo, e sua substituição
por uma nova ordem, aqueles dos becos e vielas que se identificarão com Cristo e serão
trazidos à comunhão com Ele. Mas a figueira e Israel é amaldiçoada.[26]
Declarações como estas afirmam a teologia da substituição – a noção [mirabolante] de
que a nação de Israel foi substituída ou superada pela Igreja, de modo que a Igreja é
agora Israel. Paul Enns explica:
Em outras palavras, por sua desobediência, a nação de Israel perdeu status de eleição
como povo escolhido de Deus, juntamente com todas as bênçãos correspondentes
prometidas à ela no Antigo Testamento. Embora judeus individuais possam ser salvos
por meio da Igreja, Deus não trata mais Israel como nação.
Mas como pode ser isto? A eleição pode ser cancelada? As promessas de Deus podem
ser anuladas, mesmo por meio da desobediência dos homens? A apostasia de Israel não
era parte do plano eterno de Deus?
É aqui, mais uma vez, onde a doutrina reformada – consistentemente aplicada – leva às
conclusões Premilenistas Futuristas. Nada há mais coerente com a afirmação da eleição
soberana e das doutrinas da graça do que a posição Premilenista Futurista. Tanto o
Amilenismo como o Posmilenismo melhor se adéquam à uma abordagem arminiana, na
qual a eleição pode ser perdida com base em escolhas e comportamento humanos.
Ensinar que os israelitas podem anular a escolha de Deus por meio de suas ações
deliberadas é consistente com o arminianismo [e jamais com o Calvinismo], pois não é
consistente com a teologia reformada. Para os que entendem que Deus é Soberano, que
Ele é o único que pode determinar quem será salvo e que somente Ele pode salvá-los,
nem o Amilenismo nem o Posmilenismo fazem qualquer sentido. Ambas as visões
essencialmente ensinam que a nação de Israel, por sua própria escolha, anulou as
promessas de Deus.
Deus não está alheio à aliança que fez com seus pais, pela qual testificou que,
segundo o Seu propósito eterno, Ele amou aquela nação [de Israel]: e isto ele [Paulo]
confirma por esta notável declaração, - de que a graça da vocação divina não pode
ser anulada... [ou] o conselho de Deus, pelo qual Ele uma vez condescendeu para
escolhê-los para si como nação peculiar, permanece firme e imutável. Se, portanto, é
completamente impossível ao Senhor demover-se da aliança que fez com Abraão nas
palavras “EU serei o Deus da... tua semente” (Gn 17.7), então Deus não retirou Sua
misericórdia da nação judaica.[29]
Assim, até mesmo Calvino reconheceu que a eleição de Deus à nação de Israel jamais
poderia ser desfeita nem mesmo por causa de sua descrença.[30]
Aqui, portanto, permanece o dilema. Se não há futuro para Israel como nação (como
afirma a teologia da substituição), então a eleição de Deus sobre a nação de Israel foi
anulada. Mas, como Calvino articulou, isto seria impossível, uma vez que os “dons e a
vocação de Deus são irrevogáveis” (Rm 11.29). A natureza imutável da eleição divina
garante que Deus não abandonará o Seu povo escolhido. Nas palavras de um renomado
teólogo protestante:
Em Gálatas 6.16, tanto a gramática como o contexto indicam que o “Israel de Deus” se
refere à judeus eleitos e não à toda a Igreja.[35] Neste versículo, Paulo diz aos seus
leitores: “E a todos quantos andarem de conformidade com esta regra, paz e
misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus”. Dois grupos de pessoas,
portanto, são imediatamente evidentes na gramática do versículo – os “que seguem esta
regra” sendo distintos do “Israel de Deus”.[36] Ao primeiro grupo, todos os cristãos que
seguem a instrução dada por meio da epístola, Paulo estende a paz de Deus. Mas ele
reserva uma bênção especial e especificamente aos crentes judeus – sabendo que a
misericórdia divina será mostrada aos que são eleitos de Deus. “Israel de Deus”,
portanto, se refere aos judeus étnicos circuncidados em seus corações e não apenas
fisicamente (cf. Rm 2.21-29). Eles são os verdadeiros israelitas, o mesmo grupo que
Paulo distingue em Romanos 9.6. Como em todos os outros exemplos onde ele usa o
termo “Israel”, Paulo entende que “Israel” neste versículo se refere aos judeus
nacionais. Contextualmente, ele nos dá uma importante nota de conclusão de Gálatas,
uma carta na qual Paulo consistentemente refuta os judaizantes. Embora o sistema
mosaico não esteja mais vigorando sobre os crentes (que é o foco de Paulo em toda a
carta), o apóstolo conclui notando que Deus, de maneira nenhum, abandonou o Seu
povo [Israel] escolhido (cf. Rm 1.26).[37]
Naturalmente, se Deus rejeitou a nação de Israel, deveríamos esperar que o povo judeu
tivesse deixado de existir. Assim como os heteus, amorreus, moabitas e todo o resto, os
judeus teriam desaparecido na história e a nação de Israel jamais teria sido
restabelecida. Entretanto, não foi isto que aconteceu. Os judeus têm sobrevivido
miraculosamente e Israel é, agora, mais uma vez, uma nação. Alguns amilenistas negam
que isto tenha qualquer significância escatológica; entretanto, outros têm parado para
pensar, como por exemplo o escritor Kim Riddlebarger admite:
Não podemos repetir os mesmos erros das gerações anteriores de amilenistas (tais
como Bavinck e Berkhof) ao afirmarem que um dos sinais seguros de que o
Dispensacionalismo seja falso seria a predição dispensacionalista de que Israel se
tornaria uma nação. Como bem sabemos, Israel tornou-se uma nação soberana em
1948 a despeito das visões contrárias de Berkhof e Bavinck.[38]
Este capítulo, então, é uma chamada aos pensadores reformados no sentido de que
reconsiderem sua Escatologia à luz de seu compromisso com a hermenêutica literal e
com a Doutrina da Eleição Soberana. O Premilenismo Futurista é a única conclusão a
que se pode chegar partindo de uma hermenêutica histórico-gramatical literal
aplicada consistentemente. Ademais, os calvinistas devem ser os primeiros a afirmarem
que a eleição soberana de Deus não pode ser anulada, pois seus propósitos jamais serão
frustrados. Assim, as promessas feitas ao Israel eleito serão cumpridas a Israel da
mesma forma que as promessas feitas à Igreja eleita serão cumpridas a nós.
Nos últimos quarenta anos tenho tido o privilégio maravilhoso de estudar e pregar em
cada versículo, cada frase, cada palavra do Novo Testamento. Em toda a minha
pregação tenho aplicado uma hermenêutica histórico-gramatical literal – tomando a
Palavra de Deus em seu valor nominal. Como resultado, o entendimento Premilenista
Futurista da Escatologia tem passado pelo crivo de cada verso do Novo Testamento.
Mas, em vez de ser persuadido contra o Premilenismo Futurista, minha convicção
quanto à sua veracidade tem se fortalecido cada vez mais.
CAPÍTULO 8
O Novo Testamento Rejeita o Premilenismo Futurista? |
John MacArthur
Há vários anos o termo “newspaper exegesis” (‘exegese periódica’) foi cunhado e usado
como argumento indigno contra o Premilenismo Futurista.[2] A caricatura mostrava os
estudiosos do Premilenismo Futurista com a Bíblia em uma das mãos e a última edição
do citado jornal na outra.
Nos tempos de Cristo, portanto, a expectativa do povo judeu tinha como foco um reino
terreno no qual o Messias reinaria de Jerusalém sobre todas as nações.[5] Esta teria sido
a perspectiva de Maria ao ouvir o anúncio do anjo Gabriel em Lucas 1.31-33.[6]. Foi
também a visão dos discípulos durante seu tempo com Jesus – foi por isto que, embora
motivados por razões egoístas, eles desejaram grandeza pessoal no reino (cf. Mt 20.21;
Mc 10.37; Lc 22.24).
O fato de não existir tal denúncia tem grande significância, especialmente quando
comparado com as passagens do Novo Testamento onde uma interpretação literal da
profecia do Antigo Testamento é assumida. Ademais, a referência mais explícita ao
milênio em toda a Escritura encontra-se no Novo Testamento, no livro de Apocalipse
20.1–6. Se o propósito dos escritores do Novo Testamento era negar a escatologia
prevalecente em seus dias, como afirma a posição amilenista, eles fizeram um péssimo
trabalho – de fato, um trabalho muito pobre, tanto que a geração de pais da igreja que
imediatamente os seguiu entendeu o Novo Testamento numa perspectiva distintamente
Premilenista.[8] Como observa certo escritor:
Após a ressurreição, o Senhor continuou a instruir seus discípulos sobre o reino. Lucas,
em sua breve descrição do período de quarenta dias entre a ressurreição e a assunção do
Senhor, explica que este tópico era predominante nos dias do ministério de ensino de
Cristo. Em Atos 1.3, Lucas escreve: “A estes [os apóstolos] também, depois de ter
padecido, se apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes
durante quarenta dias e falando das coisas concernentes ao reino de Deus”. Sua
mensagem primária dizia respeito ao reino. Embora os discípulos tivessem sido
caracterizados no passado como cabeças duras, este não era mais o caso, pois Cristo
“abriu suas mentes para entenderem as Escrituras” (Lc 24.45).
Ao fim do período de quarenta dias a Escritura inclui uma passagem mais instrutiva
acerca do reino milenar. Depois de terem sido ensinados sobre o reino pelo próprio
Cristo e de terem recebido um entendimento sobrenatural da Palavra de Deus, os
discípulos ainda entenderam o reino messiânico no seu sentido normal [literal] –
Premilenista Futurista. Em Atos 1.6 eles inquiriram: “Senhor, será este o tempo em
que restaurarás o Reino a Israel?”. Na mente dos discípulos, após intensiva instrução
sobre o assunto pelo próprio Cristo ressurreto, as promessas do Antigo Testamento
concernentes ao milênio ainda deveriam ser entendidas como literalmente verdadeiras.
Sua única pergunta era a respeito de quando estas coisas deveriam acontecer. É
importante notarmos a maneira que Jesus respondeu a esta dúvida: “Respondeu-lhes:
‘Não vos compete conhecer os tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua
exclusiva autoridade’” (v. 7). É significativo que Cristo não denuncie ou corrija a
expectativa dos discípulos quanto ao milênio [literal]. Ele não refuta seu entendimento
da natureza do reino. Em vez disso, Cristo meramente explica que não era da
competência dos discípulos conhecerem o tempo daquele reino futuro. Durante os
quarenta dias que Jesus passou com seus discípulos discutindo coisas pertinentes ao
reino, Ele certamente poderia ter-lhes ensinado que esse reino era apenas “espiritual”.
Tendo aberto os olhos dos discípulos para entenderem as Escrituras, o Senhor poderia
ter-lhes explicado que os profetas do Antigo Testamento deveriam ser interpretados de
modo alegórico e não literal. Mas Ele não o fez. Ao fim deste período, os discípulos
ainda estavam convencidos de que o reino seria literalmente restaurado à nação de
Israel. Se Cristo tivesse a intenção de corrigir tal noção, esta seria a melhor
oportunidade para o fazer. Mas Ele nada disse. Ele se recusou a responder a pergunta
dos discípulos acerca do tempo do reino, mas de maneira nenhuma refutou seu
entendimento da natureza desse reino. A resposta de Cristo indica claramente que a
expectativa dos apóstolos de um reino terreno, literal, refletia seu próprio ensino e o
plano de Deus, claramente revelado no Antigo Testamento. Mas o tempo do reino era
ainda futuro. Nesse ínterim, o Senhor tinha uma missão específica a confiar aos
discípulos, que deveriam ser suas testemunhas “tanto em Jerusalém como em toda a
Judeia, Samaria e até os confins da terra” (At 1.8).
Nestes poucos versos, Pedro revela dois pontos importantes: Primeiro, ele enfatizou que
as profecias do Antigo Testamento sobre a primeira vinda de Jesus tinham sido
literalmente cumpridas (v. 18); assim, os judeus deveriam esperar que as profecias sobre
sua segunda vinda também se cumpririam literalmente (v. 20-21). Segundo, Pedro usou
a linguagem própria do milênio – indicando que falava de um reino terreno esperado por
sua platéia judia. Frases como “tempos de refrigério” e “o período de restauração de
todas as coisas” são frases características do milênio literal, emprestando imagens do
Antigo Testamento, com as quais os ouvintes de Pedro estavam plenamente
familiarizados.
Por exemplo, Ezequiel disse que o reino milenar seria “chuva de bênçãos” (34.26). O
profeta Joel o descreveu como um tempo de satisfação (2.26). Isaías o viu como uma
era em que “A areia esbraseada se transformará em lagos, e a terra sedenta em
mananciais de águas” (35.6-7). Isaías 11.6-10 o descreve com palavras semelhantes:
Pedro encerrou seu sermão em Atos 3 reafirmando o fato de que os judeus ainda eram a
nação escolhida de Deus. Ele disse: “Vós sois os filhos dos profetas e da aliança que
Deus estabeleceu com vossos pais, dizendo a Abraão: “NA TUA DESCENDÊNCIA
SERÃO ABENÇOADAS TODAS AS NAÇÕES DA TERRA” (v. 25). Em vez de
negar um futuro para a Israel nacional, Pedro sustentou e afirmou um entendimento
literal das promessas do Antigo Testamento – note que elas seriam cumpridas
literalmente, do mesmo modo que foram as promessas quanto à primeira vinda de
Cristo. Quando o ouviram pregar, os judeus entenderam exatamente o que Pedro queria
dizer.
A infidelidade de alguns judeus (cf. Rm 9.6) – ao ponto de uma geração inteira ter
rejeitado o seu Messias – não anulou a fidelidade de Deus, nem cancelou Suas
promessas à nação de Israel. Como Paulo perguntou retoricamente em Romanos 11.1:
“Pergunto, pois: Terá Deus rejeitado Seu povo? De modo algum!”. O apóstolo
continua a explicar esse ponto nos versos 25-29. Ele escreve:
“Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais
presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja
entrado a plenitude dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito:
VIRÁ DE SIÃO O LIBERTADOR, E ELE APARTARÁ DE JACÓ AS
IMPIEDADES. ESTA É A MINHA ALIANÇA COM ELES, QUANDO EU TIRAR
OS SEUS PECADOS. Quanto ao evangelho, são eles inimigos por vossa causa;
quanto, porém, à eleição, amados por causa dos patriarcas; porque os dons e a
vocação de Deus são irrevogáveis”.
No contexto, “Todo Israel” deve ser entendido apenas como – uma geração futura de
judeus étnicos que comporão toda a nação de Israel no início do reino milenar. A visão
amilenista comum de que “todo Israel” se refere unicamente ao remanescente redimido
durante a era da igreja é incoerente com o texto. A declaração de Paulo diz respeito de
todo o Israel judeu crente, a quem o Senhor preservara para Si mesmo. O fato, por
exemplo, de que somente alguns dos ramos (judeus descrentes) foram quebrados (v. 17)
plenamente indica que o remanescente de judeus crentes – os ramos que não foram
quebrados – continuarão a existir, enquanto que a totalidade dos gentios está sendo
completada. Estes judeus são os que estão sendo redimidos e que não fazem parte do
endurecimento espiritual que veio a Israel por conta de sua rejeição do Messias (v. 25).
Antes de todo o Israel ser salvo, seus membros descrentes, impiedosos, serão separados
pela inerrante mão do julgamento de Deus (Ez 20.33-38; Dn 12.10; Zc 13.8-9). Os que
ouvirem a pregação dos 144.000 (Ap 7.1-8); 14.1-5), de outros convertidos (Ap 7.9), de
outras testemunhas (Ap 11.3-13) e do anjo (Ap 14.6), e assim passarem pela vara do
julgamento de Deus, compreendem todo Israel, que – em cumprimento à promessa
irrevogável e soberana de Deus – será completamente uma nação de crentes prontos
para o reino do Messias Jesus. Então as promessas da nova aliança serão final e
completamente cumpridas:
“Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel
e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que
os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porque eles invalidaram a minha
aliança apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas esta é a aliança que farei
com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu
interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.
E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo:
Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles,
diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos
seus pecados “ (Jeremias 31.31-34; cf. 32.38).
“E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na
sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e
amarrou-o por mil anos. E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele,
para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois
importa que seja solto por um pouco de tempo. E vi tronos; e assentaram-se sobre
eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados
pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a
sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e
reinaram com Cristo durante mil anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que
os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo
aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda
morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos”
(Apocalipse 20.1-6).
A passagem inequivocadamente ensina que o retorno de Cristo precede o reino milenar
– um cenário incompatível com o Amilenismo e o Posmilenismo, mas que é exatamente
o que ensina o Premilenismo Futurista. Para negar a cronologia que Apocalipse impõe
às suas perspectivas, as posições amilenistas e posmilenistas precisam negar que o
capítulo 20 segue cronologicamente o capítulo 19.[11] Mas tal negação ignora a
significância cronológica da frase “e vi” (v. 1,4,11; cf. Ap 6.1,2,5,8,12; 7.2; 8.2,13; 9.1;
10.1; 13.1,11; 14.1,6,14; 15.1; 16.13; 17.3; 19.11,17,19; 21.1) e a continuidade do
contexto. Tendo tratado do Anticristo e do falso profeta no capítulo 19, Cristo trata com
o maligno, Satanás, no capítulo 20. Por que rejeitar uma cronologia tão óbvia? A
principal motivação parece ser uma negação das conclusões Premilenistas Futuristas –
na ausência daquela persuasiva justificativa bíblica.
A extensão do tempo em que Satanás será preso é definido como mil anos, isto é, as
primeiras seis referências precisas e importantes à duração do milênio (cf. Ap
20.3,4,5,6,7). A prisão de Satanás traz sérias dificuldades para amilenistas e
posmilenistas. Eles afirmam que Satanás já se encontra preso, pois crêem que já
[supostamente] estamos vivendo o milênio (embora não entendam que a duração do
milênio seja literalmente de mil anos). Muitos posmilenistas também crêem que Satanás
esteja atualmente preso, pois, de outra forma, seria difícil ver como a igreja poderia
antecipar o milênio. Entretanto, a atividade de Satanás na era presente torna impossível
a afirmação de que ele esteja preso na era atual. Satanás introduz hipócritas mentirosos
na igreja (At 5.3), trama esquemas contra os crentes (2Co 2.11; Ef 6.11), disfarça-se de
anjo de luz para enganar as pessoas (2Co 11.14) e ataca os crentes (2Co 12.7; Ef 4.27).
Satanás também deve ser resistido (Tg 4.7); ele atrapalha os que estão no ministério
(1Ts 2.18) e leva os crentes ao desvio (1Tm 5.15). Amilenistas e posmilenistas
geralmente argumentam que Satanás foi preso no momento da cruz e que tal prisão
significa simplesmente que ele não pode mais enganar as nações, impendido-as de
aprenderem a verdade de Deus. Mas Satanás nunca impediu as nações gentílicas de
conhecerem a verdade antes de sua alegada prisão por ocasião da cruz. Os egípcios
ouviram sobre o Deus verdadeiro pelos lábios de José e dos israelitas durante os
quatrocentos anos em que lá viveram como escravos. Os assírios de Nínive não somente
ouviram a verdade pela boca de Jonas, como também se arrependeram (Mt 12.41). A
rainha de Sabá ouviu a respeito do verdadeiro Deus por meio de Salomão (1Re 10.1-9);
os babilônios ouviram através de Daniel e de seus amigos judeus; os persas ouviram
sobre Deus através de Ester, Mordecai e Neemias. Ademais, em que sentido Satanás é
impedido de enganar as nações na era presente, quando Paulo afirma
[peremptoriamente] que ele cega o entendimento dos incrédulos (2Co 4.4), e que ele
“agora opera nos filhos da desobediência” (Ef 2.2), e que “mantém cativos os
descrentes” (2Tm 2.26) em seu atual império (Cl 1.13)?
A Escritura testifica que tudo pode ser dito de Satanás nesta era, menos que esteja preso,
o que acontecerá somente no reino terreno vindouro de nosso Senhor Jesus Cristo.
Somente então o príncipe das trevas será encarcerado no grande abismo, que será
fechado e selado para que ele não possa mais enganar as nações (cf. Is 24.21-22). Sua
atividade no mundo não será meramente restringida ou refreada, mas completamente
interrompida; não mais lhe será permitido atuar no mundo, como quer que seja. Com
Satanás, suas hostes de demônios e todos os pecadores que rejeitaram a Deus estarão
fora do caminho, e o reino milenar de paz e justiça será estabelecido [na terra por mil
anos]. O regente supremo neste reino será, naturalmente, o Senhor Jesus Cristo.
Somente ele é o “REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES” (Ap 19.16), e “O
Senhor Deus lhe dará [a Ele somente] o trono de Davi, seu pai” (Lc 1.32). E Ele ainda
prometeu graciosamente que seus santos reinarão com Ele (Ap 2.26-27). Eles
governarão subordinados sobre cada aspecto da vida no reino e, sendo glorificados e
aperfeiçoados, cumprirão com perfeição a vontade de Deus.
O livro de Apocalipse, embora sujeito a todo tipo de abuso por parte da erudição e
divergentes interpretações, quando tomado em seu propósito pleno, nos oferece um
esboço simples da verdade Premilenista Futurista – primeiramente um tempo de grande
tribulação; em seguida o segundo advento, o aprisionamento de Satanás, a libertação e
bênção dos santos, o governo justo sobre a terra por 1000 anos, seguidos pelo
julgamento final, e novos céus e nova terra.[12]
De fato, eles fizeram o oposto. Quando é seu propósito falar sobre o tratamento de Deus
com os judeus, eles enfatizam o fato de que Ele ainda não concluiu Sua obra naquela
nação. As promessas do Antigo Testamento ainda não se cumpriram, mas se cumprirão
– do mesmo modo que a profecia bíblica se cumpriu com respeito à primeira vinda de
Cristo. Ademais, o Novo Testamento especifica a duração do tempo, mil anos, que terá
o reino milenar antes da história do mundo chegar ao seu fim, dando início ao estado
eterno. Com a confiança de que todas as promessas de Deus verdadeiramente se
cumprirão, os crentes podem esperar um futuro glorioso – tanto no reino milenar como
além – que os aguarda e a todos que põem sua fé em Jesus Cristo.
CAPÍTULO 9
A Igreja Primitiva Acreditava num Reino Milenar Literal |
Nathan Busenitz
O testemunho dos pais da igreja, embora não seja autoritativo, é particularmente
instrutivo em relação à forma como as primeiras gerações de cristãos entenderam o
ensino dos apóstolos.[1] O seu testemunho é útil em muitas questões teológicas,
incluindo a Escatologia. Se, como foi sugerido no capítulo 8, o Novo Testamento
sustenta um futuro e terreno reino milenar, então esperaríamos que o Premilenismo
fosse a visão predominante nos escritos dos pais da igreja primitiva. E é exatamente isso
que encontramos.
Falando dos pais da igreja, o notável historiador do século XIX, Philip Schaff, escreveu:
William Alger: Quase todos os primeiros pais da igreja acreditavam num milênio, um
reino de Cristo na terra com seus santos por mil anos.[3]
Stanley Grenz: Na vizinhança de Éfeso, a localização das sete igrejas abordadas pelo
livro do Apocalipse (hoje Turquia ocidental), uma desenvolvida tradição milenar
partilha certas características com o Premilenismo moderno. Essa tradição foca nas
bênçãos materiais que acompanhará o reino futuro de Cristo sobre a Terra física
renovada após a ressurreição no final desta era.[6]
Roger E. Olson: Agostinho [no quarto século] desenvolveu o que veio a ser conhecido
como amilenialismo, enquanto a maioria dos primeiros pais da igreja eram
premilenistas.[7]
“Há um consenso geral entre os estudiosos de que a visão da igreja primitiva era
premilenista. Ou seja, os cristãos afirmavam que Cristo reinaria sobre um reino terrestre
literal por mil anos, assistido por santos arrebatados. Nenhum dos pais da igreja dos dois
primeiros séculos são conhecidos por terem discordado dessa visão. Na sequência, pode
ser listado como aqueles que favoreceram este ponto de vista: desde o primeiro século,
Aristio, João o Presbítero, Clemente de Roma, Barnabé, Hermas, Inácio, Policarpo e
Papias. A partir do segundo século, Potino, Justino Mártir, Melito, Hegisippus, Taciano,
Irineu, Tertuliano e Hipólito.”[9]
Neste capítulo, os escritos de alguns desses primeiros líderes cristãos serão brevemente
pesquisados, permitindo-lhes expressar seus pontos de vista premilenistas em suas
próprias palavras. Em seguida, será discutido o surgimento do Amilenismo na história
da igreja primitiva.
A bênção que é predita [nas profecias] pertence sem dúvida aos tempos do reino,
quando os justos irão ressuscitar dos mortos e do reino, e a criação que se renova e se
liberta trará o orvalho do céu, e a fertilidade do solo, e a abundância de alimentos de
todos os tipos. Assim, os anciãos, que viram João, o discípulo do Senhor, lembrarão de
ouvi-lo dizer como o Senhor os usou para ensinar sobre aqueles tempos, dizendo: “Os
dias estão chegando quando a vinha brotará, cada uma com também os frutos
restantes, sementes e vegetação irão produzir em proporções semelhantes. E todos os
animais que comem esse alimento tirado da terra virão estar em paz e harmonia uns
com os outros, produzindo em completa submissão aos seres humanos”. Papias, bem
como um antigo homem – aquele que ouviu João e era companheiro de Policarpo – dá
um relato escrito destas coisas no quarto de seus livros.[10]
Eusébio, o historiador da Igreja do século IV, da mesma forma, registrou o ponto de
vista premilenista de Papias. Em sua História Eclesiástica, Eusébio escreveu:
Este Papias, sobre quem que acabamos de discutir, reconhece que recebeu as palavras
dos apóstolos por meio daqueles que tinham sido seus seguidores, e indica que ele
próprio havia escutado Aristion e João o Presbítero. E, assim, ele os lembra pelos
nomes, e em seus livros ele apresenta as tradições que eles repassaram... Entre essas
coisas, ele diz que depois da ressurreição dos mortos, haverá um período de mil anos,
durante o qual o Reino de Cristo existirá de forma tangível aqui nesta mesma terra.[11]
Em seu Diálogo com o judeu Trifon, Justino enfatizou que ele interpretou as promessas
milenares dos profetas do Antigo Testamento de uma forma literal:
Opiniões semelhantes foram sustentadas por Irineu, bispo de Lyon, que foi mencionado
anteriormente em conexão com Papias. Nascido na Ásia Menor, Irineu foi exposto aos
ensinamentos de Policarpo (o discípulo de João) como um jovem rapaz. Mais tarde, ele
se estabeleceu na parte ocidental do Império Romano, eventualmente sucedendo Potino
como bispo de Lyon. Conhecido como um verdadeiro “pacificador”,[15] Irineu ajudou a
resolver várias disputas inter-cristãs durante a sua vida, incluindo uma controvérsia
sobre a data da Páscoa. No entanto, ele não permitiu que seu amor pela paz substituísse
o seu amor pela verdade. Por esta razão, Irineu dedicou-se à refutação das heresias
gnósticas, em última análise, produzindo uma obra de cinco volumes comumente
chamada Contra as Heresias.
Mas quando o Anticristo devastar todas as coisas neste mundo, ele reinará por três
anos e seis meses, e sentará no templo de Jerusalém; e então o Senhor virá do céu, nas
nuvens, na glória do Pai, lançando este homem e os que o seguem para o lago de fogo;
mas trazendo para os justos os tempos do reino, isto é, o descanso, o sagrado sétimo
dia; e restaurar a Abraão a herança prometida, o reino sobre o qual o Senhor
declarou: “... muitos, vindo do Leste e do Oeste, sentarão com Abraão, Isaque e
Jacó”.[17]
Em outro lugar, depois de citar uma série de profecias milenares do Antigo Testamento,
Irineu concluiu:
Por todas estas e outras palavras foram, sem dúvida, falado em referência à
ressurreição dos justos, que acontece após a vinda do Anticristo, e a destruição de
todas as nações sob o seu governo; em que os justos reinarão na terra, já mais fortes
aos olhos do Senhor.[18]
Nós confessamos que um reino terreno está prometido para nós, embora antes do céu,
apenas em outro estado de existência; na medida em que será depois da ressurreição
por mil anos na cidade divinamente construída de Jerusalém, “que desce do céu”, que
o apóstolo chama também de “a nossa mãe de cima”, e, ao declarar que a nossa
[politeuma], ou cidadania, está nos céus, assim, ele afirma claramente que ela é
realmente uma cidade que está no céu. Nisso, tanto Ezequiel teve conhecimento como o
apóstolo João contemplou.[20]
Mas Ele [Cristo], quando Ele destruir a injustiça e executar Seu grande julgamento, e ter
recordado a vida dos justos, que viveram desde o início, serão comprometidos entre os
homens por mil anos, e os regerá com apenas um comando... Sobre o mesmo tempo,
também o príncipe dos demônios, que é o inventor de todos os males, deve ser amarrado
com correntes, e poderá ser preso durante os mil anos do governo celestial em que a
justiça reinará no mundo, de modo que ele não poderá inventar nenhum mal contra o
povo de Deus. Depois de Sua vinda, os justos serão recolhidos de toda a terra, e o
julgamento será concluído, a cidade sagrada será plantada no meio da terra, onde o
próprio Deus, o Construtor, possa habitar junto com o justo, e governar.[22]
Portanto, a paz sendo feita e todo o mal reprimido, o justo Rei e Conquistador irá
instituir um grande julgamento sobre a terra com respeito aos vivos e aos mortos, e vai
entregar todas as nações em sujeição aos justos que estiverem vivos, e vai elevar os
justos mortos para a vida eterna, e Ele mesmo vai reinar com eles na terra, e vai
construir a cidade santa, e este reino dos justos será por mil anos.[23]
Lactâncio ensinou que, após o término dos mil anos, o diabo será libertado e mais uma
vez organizará a rebelião dos incrédulos. Uma vez que a revolta é esmagada e os
inimigos de Deus destruídos, o estado eterno será introduzido e os crentes “devem ser
sempre engajados diante do Todo-Poderoso... e servi-lo para sempre”.[24]
Embora este seja apenas um breve levantamento de alguns dos pais da igreja
premilenistas, isto é suficiente para estabelecer o argumento, ou seja, que a Escatologia
Premilenista prosperou [unanimemente] nas primeiras gerações da Igreja Primitiva.
Com base em seu entendimento de ambos, a profecia do Antigo Testamento e o ensino
apostólico, esses pais da igreja estavam convencidos de que Cristo voltaria à Terra
vitoriosamente e estabeleceria o Seu reino em Jerusalém, durante mil anos.
A ASCENSÃO DO AMILENISMO
Como vimos no capítulo 7, os estudiosos amilenistas reconhecem prontamente que uma
simples leitura dos profetas do Antigo Testamento leva a uma visão Premilenista
Futurista. O capítulo 8 explicou que Cristo e os apóstolos nunca rejeitaram essas
expectativas milenares, mas as afirmou como certas. Não é surpreendente, então,
descobrir que o Premilenismo foi a visão escatológica predominante da igreja primitiva.
É especialmente significativo perceber que esta visão escatológica floresceu na Ásia
Menor – a região onde o apóstolo João havia ministrado e onde o livro do Apocalipse
foi escrito.
Mas tudo isso levanta uma questão importante: Se o Premilenismo é ensinado no Antigo
Testamento, afirmado no Novo e amplamente adotado na história da Igreja Primitiva,
como então o Amilenismo se desenvolveu, de modo que ele se tornou a posição da
maioria da igreja durante a Idade Média?
Os estudiosos têm sugerido pelo menos quatro fatores que contribuíram para o aumento
do [pobre] Amilenismo – a visão que realmente tomou forma nos séculos III e IV. Os
primeiros dois fatores – a hermenêutica alegórica e dualismo platônico – estão
conectados, e entraram na igreja através da influência da filosofia e da cultura grega
popular. Essa influência foi particularmente forte em Alexandria, Egito, onde ele
primeiro afetou o ensino rabínico judaico antes da época de Cristo. Como Rick Bowman
e Russel L. Penney explicam: “Este tipo de interpretação alegórica pode ser visto na
época de Platão quando o hedonismo flagrante das divindades foi interpretado
simbolicamente, a fim de torná-los aceitáveis. Incapaz de conciliar seus pontos de
vista com a interpretação literal das Escrituras, comentaristas antigos judeus
começaram a alegorizá-las. Os rabinos de Alexandria, Egito, começaram a ensinar
alegoricamente, a fim de combater a crítica gentílica do Antigo Testamento”.[25] Esta
abordagem rabínica teve um grande impacto sobre a igreja. O historiador Roger Olson
observa a conexão: “O padrão de Alexandria tinha sido estabelecido no tempo de
Cristo pelo teólogo judeu e estudioso bíblico Filo, que acreditava que as referências
literais e históricas das Escrituras Hebraicas eram de menor importância. Ele
procurou descobrir e explicar significados alegóricos ou espirituais das narrativas
bíblicas... Muitos pensadores cristãos tomaram emprestado as estratégias
[mirabolantes] hermenêuticas de Filo, e que não era mais verdadeiro nem mesmo em
Alexandria”.[26]
Com a nação judaica em baixa e um império cristão com sede em Roma, muitos crentes
não acharam necessário olhar para frente, para um futuro reino messiânico na terra.
No início de sua vida cristã, Agostinho havia sido atraído para o milenarismo
(Premilenismo), porém, mais tarde o rejeitou. Sua rejeição, ao que parece, foi em
grande parte devido a algumas das versões excessivamente carnais do milenarismo que
eram correntes em sua época. Ele mudou de posição e adotou, de vez, uma abordagem
simbólica para o vigésimo capítulo de Apocalipse. Na Cidade de Deus, Agostinho
ensina que a primeira ressurreição mencionada em Apocalipse 20 é uma ressurreição
espiritual, a regeneração de pessoas mortas espiritualmente (20.6). Em contraste com o
Premilenismo, ele ensina que a segunda ressurreição ocorre na segunda vinda de
Cristo, e não mil anos depois.[37]
Agostinho afirma suas razões para rejeitar o Premilenismo em A Cidade de Deus. Lá ele
escreve: “Este parecer [de um futuro milênio literal depois da ressurreição] pode ser
permitido se propor um único deleite espiritual aos santos durante este espaço (e nós já
fomos da mesma opinião); mas vendo as provas deste documento, que afirma que os
santos, após esta ressurreição, devem fazer nada além de deleitarem-se com banquetes
carnais, onde o elogio deve exceder tanto a modéstia e a medida, este é bruto e apto para
ninguém, mas os homens carnais para acreditar. Mas, os que são realmente e
verdadeiramente espirituais se chamam aqueles desta opinião quialista”.[39] Do ponto
de vista premilenista moderno, as razões de Agostinho para rejeitar uma compreensão
literal da profecia milenar parece trivial.[40] No entanto, o que se poderia pensar dos
méritos relativos às conclusões de Agostinho, ninguém questiona a influência que sua
mudança de espírito provocou na história da igreja. Embora houvesse ainda alguns
defensores do Premilenismo no século V,[41] “a derrota final do quialismo no Ocidente
deve-se a Agostinho, que, em sua Cidade de Deus identificou o milênio com a história
da Igreja na Terra e declarou que, para aqueles que pertencem à verdadeira Igreja, a
primeira ressurreição já passou”.[42]
CAPÍTULO 10
O amilenista Harold Camping predisse (em 1992) a segunda vinda de Cristo e o fim
deste mundo como o conhecemos para o ano de 1994.[1] Sua última atualização da
previsão (no ano de 2005) apontava para o dia 21 de maio de 2011.[2]
O premilenista Hal Lindsey também se arriscou nessa previsão, pelo menos duas vezes.
Primeiro, ele previu 1988.[3]. Depois, sua possível data sugerida mudou para 2007.[4]
Até mesmo R. C. Sproul embarcou nessa onda [“profética”] de estabelecer datas para a
vinda de Cristo, embora num retrospecto histórico. Sendo um preterista parcial ou
moderado, ele aponta a segunda vinda de Cristo para o ano de 70 d.C. Porém, para
permitir uma ressurreição geral posterior, ele de fato propõe uma terceira vinda de
Cristo, num tempo indeterminado no futuro.[5]
“No monte das Oliveiras, achava-se Jesus assentado, quando se aproximaram dele
os discípulos, em particular, e lhe pediram: ‘Dize-nos quando sucederão estas
coisas e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século.
“Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o
Filho, senão o Pai”.
Compare ainda Mateus 24.42,44,50; 25.13; e Lucas 12.39-40,46, onde Cristo usa “hora”
e “dia” no contexto de suas parábolas sobre a segunda vinda.
“Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram: ‘Senhor, será este o tempo em
que restaures o reino a Israel?’ Respondeu-lhes: “Não vos compete conhecer os
tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade”.
Tendo abordado a pergunta inicial em termos bem precisos quanto ao tempo, Cristo
agora usa expressões de tempo de longa duração num sentido mais geral.
Nem os profetas, nem os apóstolos, muito menos a igreja primitiva, sabiam os tempos
(cronos), as estações (kairós), o dia (hemera) e a hora (hora). No que diz respeito ao
tempo específico (dia/hora), ou geral (tempos/épocas), ambos, Jesus e Paulo, ensinaram
sobre a futilidade de tais esforços.
Assim sendo, se eles não sabiam, por que as pessoas em nossos dias insistem em
especular? Seria por uma crônica das Escrituras, ou por uma terrível má interpretação da
Bíblia ou mesmo por uma desobediência voluntária? Mas a resposta óbvia da Escritura
é que não temos necessidade de conhecer o futuro com um nível de especificidade e,
portanto, Deus não o revelou em sua Palavra.
Isto significa dizer que há mais incerteza no que diz respeito a tempos específicos do
que certeza? Em uma palavra, sim – com respeito a um tempo previsível no futuro. Mas
não no que diz respeito à caracterização da vinda de Cristo em si.
Ambos, Cristo e Paulo, são muito claros quanto à possibilidade de uma predição
acurada com respeito à data do retorno de Cristo. O evento não pode ser
especificamente projetado por tempo e/ou épocas. Não podemos e também não
necessitamos saber sobre o tempo do segundo advento de Cristo em termos tão precisos.
Portanto, evitemos a impossibilidade de predizer o que somente Deus sabe, mas não nos
revelou.
Bem, se não podemos saber o tempo (específico ou geral) do retorno de Cristo, o que
podemos saber com certeza? O que Deus descortinou nas Escrituras! A seguinte
discussão esboça cinco certezas da visão Premilenista Futurista considerando a segunda
vinda de Cristo.
A CERTEZA DO FATO
Esta certeza fundamenta-se no atributo da veracidade de Deus (Is 65.16) e na
impossibilidade de Deus mentir (Tt 1.2). Portanto, toda palavra que Deus profere é
verdadeira. Um silogismo básico valida esta conclusão: 1) A Escritura é a Palavra de
Deus; 2) A Palavra de Deus é verdadeira; 3) Portanto, a Escritura é verdadeira.
Deus o Pai (Sl 119.142, 151, 160), Deus o Filho (Jo 14.6) e Deus o Espírito Santo (Jo
14.17; 15.26; 16.13) falam somente a verdade, toda a verdade, nada mais do que a
verdade.
Para que ninguém duvide de que a Escritura repetidamente fala da natureza verdadeira
de Deus, vamos meditar nesta curta declaração teológica sobre a veracidade de Deus:
Agora, no que diz respeito aos seus planos futuros, Jesus disse aos discípulos (Jo 14.3):
“Eu voltarei”.
Os anjos também disseram aos discípulos (At 1.11): “Varões galileus, por que estais
olhando para as alturas? Este Jesus que dentre vós foi elevado aos céus, Ele há de
vir, do mesmo modo como o vistes subir”.
Com base no triplo testemunho de Cristo, dos anjos e do apóstolo Paulo, podemos
descansar no fato de que Jesus virá uma segunda vez. Mas, para além deste ponto, as
várias expectativas proféticas diferem em grande medida. Somente o Premilenismo
Futurista oferece certezas bíblicas consistentes.
A rebelião final contra Deus e seu domínio resultará na morte de todos os anarquistas
sob fogo enviado do céu (Ap 20.9) e Satanás lançado no lado de fogo por toda a
eternidade (Ap 20.10).
Por isso, a próxima vez que alguém indagar: “O que você crê sobre o milênio?”, você
não precisará mais empregar aquela resposta patética “Promilenar” ou “Panmilenar”
mostrada no prefácio. Agora você pode responder confiante e convicto: “Creio nas
certezas bíblicas do Premilenismo Futurista!” Estas certezas proféticas não devem
apenas afetar suas crenças, mas também seu comportamento (2Pe 3.13-17,18).
“Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que
habita a justiça. Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dEle
sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz... Antes crescei na graça e
conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A Ele seja dada a glória,
assim agora, como no dia da eternidade. Amém”.
Assim, juntamente com o apóstolo João, desejemos com ardor a vinda do Messias:
“Vem, Senhor Jesus” (Ap 22.20).