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Agradecimentos
A primeira versão dessas notas foi adotada no curso de Análise Funcional do Programa
de Pós-Graduação em Matemática da Universidade Federal Fluminense, no Verão de 2019.
Os autores agradecem aos(às) alunos(as) Andrés Avelino Lipa Carrizales, Crı́sia Ramos
de Oliveira, Deise Lilian de Oliveira, Edgar Ramires Luna, Erick Cargnel Borges Barreto,
Fernando Machado Matias, Gian Marcos Maldonado Ruiz, Lucas Lima Silva Portugal,
Orlando Noel Romero Oblitas e Wilder Pinto Mendes pela leitura cuidadosa, e pelas
inestimáveis contribuições seja apontando erros de digitação, ou sugerindo modificações e
soluções de exercı́cios!
Conteúdo
2 Espaços Normados 25
2.1 Normas em espaços vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.2 Dimensão finita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.3 Dimensão infinita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.4 Operadores lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
5 Espaços de Hilbert 93
5.1 Definição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
5.2 Representação de Riesz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
5.3 O adjunto de Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
5.4 Bases ortonormais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
5.5 Dimensão de Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
5.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
3
4 CONTEÚDO
Índice 199
Capı́tulo 1
i. ∅ e X estão em τ ,
ii. τ é fechada para uniões, o que significa que qualquer união de elementos de τ é um
elemento de τ ,
Em geral, é difı́cil descrever todos os abertos de uma topologia. Vamos mostrar como
é possı́vel descrever uma topologia através de uma coleção menor de conjuntos. Esse
conceito será central nas definições de topologias fracas em espaços de Banach.
Definição 1.1.3. Uma base para uma topologia em um conjunto X é uma coleção B de
subconjuntos de X tal que:
5
6 CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA GERAL E ESPAÇOS MÉTRICOS
Vamos verificar que a topologia τ gerada por uma base B é, de fato, uma topologia
em X. Primeiro, é claro que ∅ ∈ τ . Agora, seja {Uλ }λ∈L uma subcoleção arbitrária de
abertos de τ , e seja
[
U= Uλ .
λ∈L
n
\
V = Uj .
j=1
Lema 1.1.1. Sejam (X, τ ) um espaço topológico e B uma base para τ . Então τ é pre-
cisamente a coleção de todas as uniões de elementos de B. Por outro lado, se B é uma
coleção de subconjuntos de X com a propriedade de que τ coincide com a coleção de todas
as uniões de elementos de B, então a coleção B é uma base no sentido da Definição 1.1.3.
τY = {Y ∩ U : U ∈ τ }
BY = {B ∩ Y : B ∈ B}
i. ∅ e X são fechados,
Exemplo 1.2.1. Seja X um conjunto munido com a topologia discreta. Então todos os
subconjuntos de X são fechados. De fato, como todos os subconjuntos de X são abertos,
para qualquer F ⊆ X temos que X \ F é aberto, donde F é fechado.
Se Y ⊆ (X, τ ) é um subespaço munido da topologia induzida τY , então dizemos que
um subconjunto F ⊆ Y é fechado em Y se F é fechado na topologia induzida, isto é, se
(Y \ F ) ∈ τY .
Lema 1.2.1. Se Y é um subespaço topológico de (X, τ ), então F ⊆ Y é fechado em Y
se, e somente se, F é a interseção de Y com algum fechado de X.
Demonstração. Se F ⊆ Y é fechado em Y , então (Y \ F ) ∈ τY , donde Y \ F = Y ∩ U
para algum aberto U de X. Daı́,
F = Y \ (Y \ F ) = Y \ (Y ∩ U ) = Y ∩ (X \ U ),
ii. xj → x.
Observação 1.2.1. Note que se o primeiro axioma de enumerabilidade não vale, então
ainda temos que se x ∈ X é um ponto de acumulação de V ⊆ X, então toda vizinhança
de X intersecta V em algum ponto diferente de x. Entretanto, neste caso a recı́proca não
é necessariamente verdadeira.
Corolário 1.2.2. Seja (X, τ ) um espaço topológico que é Hausdorff e satisfaz ao primeiro
axioma de enumerabilidade. Um subconjunto F ⊆ X é fechado se, e somente se, toda
sequência convergente em F converge para um ponto de F .
Demonstração. Se F é fechado, então F = F ∪ F 0 . Seja (xj )j∈N uma sequência de pontos
em F tal que xj → x para algum x ∈ X. Se existe n0 ∈ N tal que xj = x para todo
j ≥ n0 , então x ∈ F . Caso contrário, (xj ) admite uma subsequência de termos dois a dois
distintos que converge para x. Daı́, x é um ponto de acumulação de F , e portanto x ∈ F .
No outro sentido, se toda sequência convergente de pontos de F converge para algum
ponto de F , segue que F 0 ⊆ F , donde cl(F ) ⊆ F . Como sempre vale a inclusão F ⊆ cl(F )
temos que F é fechado.
ponto do fecho de Y . Assim, U intersecta Y . Isso mostra que qualquer aberto não-vazio
de X intersecta Y .
Para a outra afirmação do enunciado, note que se Y é denso em um espaço topológico
(X, τ ) que é Hausdorff e que satisfaz ao primeiro axioma de enumerabilidade, então segue
da Proposição 1.2.2 que X = cl(Y ) = Y ∪ Y 0 . Assim, se x ∈ X, então x ∈ Y ou x ∈ Y 0 .
No primeiro caso, basta considerar a sequência em que todos os termos são iguais a x. No
segundo caso, x é um ponto de acumulação de Y , e portanto existe uma sequência em Y
que converge para x.
Vamos descrever de que maneira uma distância induz uma topologia. Em um espaço
métrico (X, d), a bola aberta de centro p ∈ X e raio ε > 0 é o conjunto
Denote por Bd a coleção de todas as bolas abertas de (X, d), e perceba cuidadosamente
que, em nossa definição, qualquer bola aberta tem raio positivo.
Lema 1.3.1. A coleção Bd de bolas abertas de um espaço métrico (X, d) é uma base para
uma topologia.
e note que ε0 > 0. Afirmamos que B(z, ε) ⊆ B(x, ε1 ) ∩ B(y, ε2 ). Com efeito, se w ∈
B(z, ε0 ), então
donde d(w, z) + d(x, z) < ε1 . Pela desigualdade triangular, segue que d(w, x) < ε1 , isto é,
w ∈ B(x, ε1 ). Pelo mesmo argumento mostramos que w ∈ B(y, ε2 ).
12 CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA GERAL E ESPAÇOS MÉTRICOS
Deste lema segue que podemos definir naturalmente a topologia τd gerada pela coleção
Bd . Essa topologia é chamada de topologia métrica gerada por d. Os abertos e fechados
da métrica são, respectivamente, os abertos e fechados da topologia métrica gerada por
d. Também, dizemos que uma dada sequência converge na métrica d se ela converge
na topologia métrica gerada por d. Note que qualquer topologia gerada por uma
métrica é Hausdorff e satisfaz ao primeiro axioma de enumerabilidade (para
cada x ∈ X, as bolas abertas de centro em x e raio racional formam uma base enumerável
de vizinhanças de x). Em particular, vale o Corolário 1.2.2.
A seguir, enunciamos de que forma esses conceitos são usualmente introduzidos na
teoria de espaços métricos (isto é, quando não adotamos o ponto de vista de que as
topologias métricas constituem um caso particular das topologias gerais).
Teorema 1.3.1. A topologia τd gerada por uma métrica d em um conjunto X tem as
seguintes propriedades:
iii. Uma sequência (xj )j∈N em um espaço métrico (X, d) converge para um ponto x ∈ X
se, e somente se, para todo ε > 0 existe n0 ∈ N tal que d(x, xj ) < ε para todo j ≥ n0 .
A prova deste teorema decorre imediatamente das definições originais, e do fato de
que toda vizinhança de um ponto x contém uma bola aberta centrada em x.
Seja Y um subconjunto de um espaço métrico (X, d). A restrição dY de d ao produto
cartesiano Y × Y é claramente uma métrica em Y e é chamada a métrica induzida em
Y . Naturalmente, dY induz uma topologia em Y . Esta topologia coincide com a restrição
da topologia métrica de X a Y , como verificaremos a seguir. No que se segue, a bola
aberta de centro p e raio ε na métrica dY será denotada por BY (p, ε). As bolas abertas
na métrica de X seguem sendo denotadas por B(p, ε). Note que para quaisquer y ∈ Y e
ε > 0 temos que
BY (y, ε) = Y ∩ B(y, ε). (1.3.1)
Proposição 1.3.1. A topologia métrica gerada em Y por dY é precisamente a topologia
métrica τd de X induzida em Y .
Demonstração. Por simplicidade, denote por τY a topologia induzida por X em Y , e
denote por ∆Y a topologia gerada pela restrição dY da métrica d a Y × Y . Qualquer
aberto V de τY pode ser escrito como V = Y ∩ U , onde U é um aberto de X. Vamos
mostrar que V ∈ ∆Y . Se y ∈ V , então y ∈ U , e existe ε > 0 tal que B(y, ε) ⊆ V . Daı́,
BY (y, ε) ⊆ V,
donde todo ponto de V contém uma vizinhança da topologia gerada por dY .
Seja agora V um aberto da topologia ∆Y . Para qualquer ponto y ∈ V , existe um
número εy > 0 tal que BY (y, εy ) ⊆ V . Defina
[
U= B(y, εy ).
y∈V
1.4. ESPAÇOS COMPACTOS 13
Definição 1.3.2. Uma sequência (xj )j∈N em um espaço métrico (X, d) é dita uma sequência
de Cauchy se para todo ε > 0 existe n0 ∈ N tal que d(xn , xm ) < ε para quaisquer
n, m ≥ n0 . Um espaço métrico em que todas as sequências de Cauchy são convergentes é
dito um espaço completo.
Observação 1.3.1. Note que, em particular, qualquer sequência convergente é uma sequência
de Cauchy. De fato, se xj → x, então dado ε > 0, tomamos n0 tal que d(xn , x) < ε/2
sempre que n > n0 . Assim, se n, m > n0 , segue que
Definição 1.3.3. Um espaço topológico (X, τ ) é dito regular se dados qualquer ponto
x ∈ X e qualquer fechado F ⊆ X que não contém x existem abertos disjuntos contendo
x e F , respectivamente.
Assuma que (Y, τY ) é um subespaço topológico de (X, τ ). Dizemos que uma coleção
A de subconjuntos de X cobre Y se a união de seus elementos contém Y . Neste caso,
também dizemos que A é um cobertura de Y . A seguir, mostraremos que podemos decidir
se Y é um espaço compacto tomando coberturas formadas por subconjuntos de X.
Lema 1.4.1. Um subespaço topológico Y ⊆ X é compacto se, e somente se, toda cobertura
de Y por abertos de X contém uma subcoleção finita que cobre Y .
Agora, assuma que toda cobertura de Y por abertos de X contém subcoleção finita
que cobre Y . Se AY = {Aλ }λ∈L é uma cobertura de Y por abertos de Y , então para cada
λ ∈ L existe um aberto A0λ de X tal que Aλ = A0λ ∩ Y . Segue que A = {A0λ }λ∈L é uma
cobertura de Y por abertos de X, e portanto admite uma subcoleção finita {A0λj }nj=1 que
cobre Y . Daı́, é claro que a subcoleção {Aλj }nj=1 = {A0λj ∩Y }nj=1 de A é uma subcobertura
finita de Y . Como A é uma cobertura arbitrária de Y por abertos de Y segue que Y é
compacto.
e portanto não intersecta Y . Segue que U ⊆ X \ Y . Isso mostra que todo ponto x ∈ X \ Y
tem uma vizinhança contida em X \ Y , donde X \ Y é aberto.
e assim temos que xj → x, como querı́amos. Para mostrar que (X, d) é totalmente
limitado, vamos proceder por contradição. Se (X, d) não é totalmente limitado, então
existe um número ε0 > 0 tal que X não pode ser escrito como uma união finita de
subconjuntos de diâmetro menor do que 2ε0 . Isso nos permite fazer a seguinte construção:
tome um ponto x1 ∈ X, e como X 6= B(x1 , ε0 ), tome um ponto x2 ∈ X \ B(x1 , ε0 ). Como
também temos X 6= B(x1 , ε0 ) ∪ B(x2 , ε0 ), podemos tomar um ponto x3 ∈ X que não
pertence a B(x1 , ε0 ) e nem a B(x2 , ε0 ). Uma vez que X não está contido em nenhuma
união finita de bolas de raio ε0 (do contrário X seria a união finita de conjuntos de diâmetro
igual a 2ε0 ), segue que prosseguindo indutivamente obtemos uma sequência (xj )j∈N com
a propriedade de que d(xi , xj ) ≥ ε0 sempre que i 6= j. É claro que, desta forma, (xj )
não tem subsequência convergente, e isso nos dá a contradição desejada. Assim, temos
(b)⇒(c).
Por último, vamos mostrar que (c)⇒(a). Suponha que (X, d) é completo e total-
mente limitado, e seja A uma cobertura por abertos de X. Mais uma vez procedendo por
contradição, assuma que A não tem subcobertura finita. Pela Observação 1.4.1, escreve-
mos X como a união finita de subconjuntos fechados de diâmetro menor do que 1. Ao
menos um desses subconjuntos, que chamaremos de X1 , não pode ser coberto por finitos
elementos da coleção A. É claro que X1 também é totalmente limitado, e então X1 pode
ser escrito como uma união de conjuntos fechados de diâmetro menor do que 1/2. Como
anteriormente, ao menos um desses subconjuntos, que denominaremos X2 , não pode ser
coberto por finitos elementos da coleção A. Prosseguindo indutivamente, construı́mos
uma sequência infinita de conjuntos fechados não-vazios X1 ⊃ X2 ⊃ X3 ⊃ . . . ⊃ Xn ⊃ . . .
tal que diam(Xn ) < 1/n para cada n ∈ N, com a propriedade de que nenhum Xj pode
ser coberto por finitos elementos de A. Para cada j ∈ N, fixe um elemento xj ∈ Xj . É
claro que a sequência assim construı́da é de Cauchy, uma vez que se m, n > n0 temos que
xm , xn ∈ Xn0 e portanto d(xm , xn ) ≤ diam(Xn0 ) < 1/n0 . Como (X, d) é completo, segue
que (xj ) converge para algum ponto x ∈ X. Como cada Xn é um conjunto fechado, e como
(xj )j≥n é uma sequência em Xn que converge para x, segue que x ∈ Xn para todo n ∈ N.
Tome Aλ ∈ A tal que x ∈ Aλ . Como Aλ é aberto, existe ε > 0 tal que B(x, ε) ⊆ Aλ .
Se n0 ∈ N é tal que 1/n0 < ε segue que Xn0 ⊆ B(x, ε). Com efeito, se houvesse algum
ponto y ∈ Xn0 tal que y ∈ / B(x, ε), então terı́amos diam(Xn0 ) ≥ d(x, y) ≥ ε > 1/n0 , uma
contradição. Segue que Xn0 ⊆ Aλ , e isso é uma contradição com o fato de que Xn0 não
pode ser coberto por finitos elementos da famı́lia A.
Daı́, o conjunto
Y = {xnj : n ∈ N e j = 1, . . . , k(n)}
é enumerável (uma vez que é a união enumerável de conjuntos finitos) e denso. De fato,
se U ⊆ X é um aberto, então U contém alguma bola aberta B(x, ε). Se n0 ∈ N é tal
que 1/n0 < ε, então x ∈ B(xnj 0 , 1/n0 ) para algum j = 1, . . . , k(n0 ). Logo, xnj 0 ∈ B(x, ε),
donde xnj 0 ∈ Y ∩ U . Isso mostra que todo aberto de X contém um ponto de Y .
1.5. APLICAÇÕES CONTÍNUAS 17
(a) f é contı́nua.
e isso significa que f (cl(f −1 (F )) ⊆ F (note que aplicamos a propriedade (c) pondo
f −1 (F ) = A). Tomando pré-imagens, essa inclusão nos dá
cl(f −1 (F )) ⊆ f −1 (F ),
Demonstração. Assuma que f é contı́nua e seja (xj )j∈N uma sequência em X tal que
xj → x. Se V ⊆ Y é uma vizinhança qualquer de f (x), então f −1 (V ) é uma vizinhança
de x, donde existe n0 ∈ N tal que j ≥ n0 implica xj ∈ f −1 (V ). Assim, para todo j ≥ n0
vale que f (xj ) ∈ V . Segue que f (xj ) → f (x).
Se f não é contı́nua, então existe um aberto (não-vazio) A ⊆ Y tal que f −1 (A) não é
aberto em X. Isso significa que existe um ponto x ∈ f −1 (A) tal que toda vizinhança U
de x contém algum ponto de X \ f −1 (A). Assumindo que a topologia de X é Hausdorff
e satisfaz ao primeiro axioma de enumerabilidade, segue da Proposição 1.2.2 que x é um
ponto de acumulação de X \ f −1 (A), e portanto podemos tomar uma sequência (xj )j∈N
em X \ f −1 (A) tal que xj → x. Como A é um aberto contendo f (x), e f (xj ) ∈ / A para
todo j ∈ N, temos que f (xj ) não converge para f (x).
Demonstração. Seja A = {Aλ }λ∈L uma cobertura de f (X) por abertos de Y . Como
f é contı́nua, temos que f −1 (Aλ ) é aberto para cada λ ∈ L. Além disso, é claro que
−1
S
X = λ∈L f (Aλ ), e como X é compacto, segue que existem λ1 , . . . , λn ∈ L tais que
{Aλj : j = 1, . . . , n} é uma cobertura de X. Assim, temos que
n
[
f (X) ⊆ Aλj ,
j=1
e isso mostra que f (X) é coberto por uma subcoleção finita A. Como A é uma cobertura
arbitrária de f (X) por abertos de Y , segue do Lema 1.4.1 que f (X) é compacto (com a
topologia induzida de Y ).
(a) f é contı́nua.
(b) Para quaisquer x ∈ X e ε > 0 existe um número δ > 0 tal que dX (x, y) < δ implica
dY (f (x), f (y)) < ε.
(c) Para toda sequência (xj )j∈N em X tal que xj → x para algum x ∈ X, vale que
f (xj ) → f (x).
Demonstração. Note que a equivalência entre (a) e (c) decorre da Proposição 1.5.1 e do
fato de que toda topologia gerada por uma métrica é Hausdorff e satisfaz ao primeiro
axioma de enumerabilidade.
Assuma que f é contı́nua e sejam x ∈ X e ε > 0. A pré-imagem da bola BY (f (x), ε) é
um aberto de X, e portanto existe uma vizinhança U de x tal que U ⊆ f −1 (BY (f (x), ε)).
Em particular, existe um número δ > 0 tal que BX (x, δ) ⊆ U . Assim, se dX (x, y) < δ,
então y ∈ BX (x, δ), donde y ∈ f −1 (BY (f (x), ε)). Logo, f (y) ∈ BY (f (x), ε), e portanto
dY (f (x), f (y)) < ε. Isso mostra a implicação (a)⇒(b).
Agora, suponha que (b) vale, e seja A ⊆ Y um aberto. Se x ∈ f −1 (A), então existem
um número ε > 0 tal que BY (f (x), ε) ⊆ A, e um número δ > 0 tal que dX (x, y) < δ
implica dY (f (x), f (y)) < ε. Em outras palavras, a imagem de BX (x, δ) está contida na
bola aberta BY (f (x), ε), e portanto está contida em A. Segue que BX (x, δ) ⊆ f −1 (A).
Isso mostra que todo ponto de f −1 (A) possui uma vizinhança contida em f −1 (A), e assim
f −1 (A) é aberto.
20 CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA GERAL E ESPAÇOS MÉTRICOS
1.6 Exercı́cios
Exercı́cio 1.1. Seja τ uma topologia em um espaço X gerada por uma base B. Mostre
que τ é a interseção de todas as topologias de X que contém B.
Exercı́cio 1.2. Mostre que se Z é um subespaço topológico de Y , e Y é um subespaço
topológico de X, então as topologias induzidas em Z por X e Y coincidem (lembre-se da
Observação 1.1.1).
Exercı́cio 1.3. Prove que a interseção arbitrária de uma coleção de topologias em um
conjunto X é uma topologia em X.
Exercı́cio 1.4. Assuma que τ1 e τ2 são topologias em X, e que τ1 é mais forte que τ2 . Se
Y ⊆ X, mostre que as topologias σ1 e σ2 induzidas em Y por τ1 e τ2 , respectivamente,
são tais que σ1 é mais forte do que σ2 .
Exercı́cio 1.5. Sejam (X, τ ) um espaço topológico e (xj )j∈N uma sequência que converge
para algum ponto x ∈ X. Mostre que, se τ 0 é uma topologia mais fraca do que τ , então
xj → x também na topologia τ 0 .
Exercı́cio 1.6. Prove que se τ1 ⊆ τ2 são topologias em um mesmo espaço X, então se X
é compacto com respeito a τ2 , temos que X é compacto com τ1 .
Exercı́cio 1.7. A fronteira de um subconjunto A ⊆ X é o conjunto
Mostre que:
d(x, y)
d0 (x, y) =
1 + d(x, y)
é uma métrica em X. Prove que a topologia gerada por d0 é a mesma topologia gerada
por d.
Observação 1.6.2. Note que este exercı́cio estabelece que toda topologia metrizável pode
ser obtida por uma métrica limitada (como função de X × X).
Exercı́cio 1.15. Seja f : (X, τ ) → (Z, σ) uma aplicação contı́nua entre espaços to-
pológicos, e seja Y ⊆ X um subespaço topológico. Mostre que a restrição f |Y : (Y, τY ) →
(Z, σ) é contı́nua (onde estamos denotando a topologia de X induzida em Y por τY , é
claro).
Exercı́cio 1.17. Seja f : (X, τ ) → (Y, σ) uma aplicação contı́nua entre espaços to-
pológicos. Prove que se (X, τ ) é compacto, então f (X) é compacto com a topologia
induzida de Y . Conclua que a compacidade é preservada por homeomorfismos.
Exercı́cio 1.21. Uma aplicação f : (X, dX ) → (Y, dY ) entre espaços métricos é dita
uniformemente contı́nua se para todo ε > 0 existe δ > 0 tal que para quaisquer x, z ∈ X,
dX (x, z) < δ implica dY (f (x), f (z)) < ε. Mostre que se f : (X, dX ) → (Y, dY ) é contı́nua
e (X, dX ) é compacto, então f é uniformemente contı́nua.
Exercı́cio 1.22 (Teorema do ponto fixo). (a) Uma contração em um espaço métrico
(X, d) é uma aplicação T : X → X para a qual que existe uma constante 0 ≤ c < 1 com
a propriedade de que
para quaisquer x, y ∈ X. Mostre que uma contração em um espaço métrico completo tem
um ponto fixo, isto é, um ponto x ∈ X tal que T (x) = x. Mostre, também, que tal ponto
fixo é único.
(b) Uma contração fraca em um espaço métrico (X, d) é uma aplicação T : X → X com
a propriedade de que
para todos x, y ∈ X distintos. Prove que uma contração fraca em um espaço métrico
compacto tem um ponto fixo, e que este ponto fixo é único.
(c) Dê um exemplo de uma contração fraca em um espaço métrico completo que não é
uma contração.
(i) um conjunto F ⊆ C(X) é dito equicontı́nuo se para todo ε > 0 existe δ > 0 tal que
|f (x) − f (y)| < ε para quaisquer f ∈ F e x, y ∈ X tais que d(x, y) < δ.
Assuma que (X, d) é um espaço métrico compacto, e seja (fn )n∈N ⊆ C(X) uma
sequência equicontı́nua e uniformemente limitada. Então, (fn ) tem alguma subsequência
que converge uniformemente (veja o Exercı́cio 1.19 para a definição de convergência uni-
forme).
1.6. EXERCÍCIOS 23
Exercı́cio 1.25. Mostre que se X é um espaço métrico compacto e (fn )n∈N é uma
sequência pontualmente limitada e equicontı́nua em C(X), então (fn ) é uniformemente
limitada.
Observação 1.6.3. Observe que no teorema de Arzelá-Ascoli podemos exigir que (fn )n∈N
seja pontualmente limitada, ao invés de uniformemente limitada.
24 CAPÍTULO 1. TOPOLOGIA GERAL E ESPAÇOS MÉTRICOS
Capı́tulo 2
Espaços Normados
É claro que a distância dada pela norma gera uma topologia em X, a topologia da
norma ||·||. Também, é a essa topologia que estaremos nos referindo quando mencionarmos
a topologia de (X, || · ||). Mais à frente, outras topologias em um espaço normado serão
definidas, mas usaremos nomes especiais para elas.
25
26 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS NORMADOS
Observação 2.1.1. Note que uma norma é sempre contı́nua com respeito à topologia gerada
por ela própria (onde K está munido da sua topologia usual, é claro). Com efeito, pela
desigualdade triangular é imediato que ||x|| − ||y|| ≤ ||x − y|| para quaisquer x, y ∈ X,
e portanto se xn → x na distância d gerada pela norma, então
||xn || − ||x|| ≤ ||xn − x|| = d(xn , x) → 0,
n
!1/p
X
||x||p = |xj |p ,
j=1
para cada x = (x1 , . . . , xn ), é uma norma em Rn . A única propriedade que não é imediata
é a desigualdade triangular, que é consequência direta da desigualdade de Minkowski, que
provamos abaixo. O espaço (Rn , || · ||p ) será denotado por `np .
Antes de prosseguir para outros exemplos de espaços normados, vamos provar algumas
desigualdades importantes em nossa teoria, dentre elas a mencionada desigualdade de
Minkowski. No que segue, dois números 1 < p, q < ∞ são ditos conjugados se
1 1
+ = 1.
p q
Neste caso, também vamos nos referir ao par (p, q) como um par de números conjugados
(ou, simplesmente, um par conjugado). Note cuidadosamente que, aqui, não estamos
considerando o par (1, ∞) como um par de números conjugados.
Teorema 2.1.1. Se (p, q) é um par de números conjugados, então valem as seguintes
desigualdades:
a. (desigualdade de Young)
ap b q
ab ≤ + ,
p q
para quaisquer a, b ≥ 0.
b. (desigualdade de Hölder)
n n
!1/p n
!1/q
X X X
|xj yj | ≤ |xj |p |yj |q ,
j=1 j=1 j=1
c. (desigualdade de Minkowski)
n
!1/p n
!1/p n
!1/p
X X X
|xj + yj |p ≤ |xj |p + |yj |p ,
j=1 j=1 j=1
f 0 (t) = tq−1 − a.
Além disso, observe que f 0 é continuamente diferenciável em (0, +∞), e f 00 (t) > 0 para
todo t > 0. Segue que f tem um mı́nimo global em t = a1/(q−1) . Como
aq/(q−1) ap
1/(q−1) q/(q−1) p 1 1
f a = −a + =a −1+ = 0,
q p q p
vem que f (b) ≥ 0 para todo b ∈ [0, +∞). Isso dá a desigualdade de Young.
Vamos agora para a desigualdade de Hölder. Primeiro, note que se todos os xj ou se
todos os yj se anulam, então a desigualdade é trivial. Desta forma, podemos considerar
apenas o caso em que algum dos xj e algum dos yj não são nulos. Para cada j = 1, . . . , n
defina
|xj | |yj |
aj = 1/p e bj = 1/q .
Pn Pn
j=1 |xj |p j=1 |yj |q
onde a última igualdade se justifica uma vez que q(p − 1) = p. Dividindo ambos os lados
da desigualdade por A1/q , e usando mais uma vez o fato de que (p, q) é um par conjugado,
vem
n
!1/p n
!1/p
X X
A1/p ≤ |xj |p + |yj |p ,
j=1 j=1
Exemplo 2.1.2 (Os espaços `p (N)). Denote por KN o K-espaço vetorial de sequências
(xj )j∈N com entradas em K (as operações de soma e multiplicação por escalares em K são
feitas termo a termo, naturalmente). Para cada p ≥ 1, defina
( ∞
)
X
p p
` (N) = (xj )j∈N ∈ K : N
|xj | < ∞ .
j=1
∞
!1/p
X
||(xj )j∈N ||p = |xj |p
j=1
Observe que esse caso é mais simples: o fato de que o conjunto `∞ (N) é um espaço vetorial
e de que a função || · ||∞ é uma norma vem diretamente da desigualdade triangular para
o módulo usual em K.
Observação 2.1.3. Ao longo do texto, os espaços `p (N) e `∞ (N) sempre serão considerados
com as respectivas normas definidas acima, salvo menção em contrário.
Exemplo 2.1.3. Seja X um espaço topológico compacto. Denote por C(X) o K-espaço
vetorial das funções contı́nuas f : X → K (note que é imediato verificar que C(K) é, de
fato, um espaço vetorial). A função
||f ||∞ = max{|f (x)| : x ∈ X}
é uma norma em C(K), chamada norma da convergência uniforme. Para formalizar essa
afirmativa, precisamos mostrar que || · ||∞ está bem definida, isto é, que o máximo de
|f (x)| em X de fato existe. Isso decorre do próximo resultado, que é um conhecido fato
topológico.
Proposição 2.1.1. Seja X um espaço topológico compacto. Se f : X → K é uma função
contı́nua, então existem x0 , y0 ∈ X tais que
|f (y0 )| ≤ |f (x)| ≤ |f (x0 )|
para todo x ∈ X.
Demonstração. O módulo | · | : K → R é claramente uma função contı́nua, e portanto a
função g = |f | é uma composição de funções contı́nuas, portanto contı́nua. Assuma que
não existe x0 ∈ X tal que g(x) ≤ g(x0 ) para todo x ∈ X, e seja
m = sup{g(x) : x ∈ X},
onde possivelmente temos m = ∞. A coleção
A = {g −1 ((−∞, r)) : r ∈ R e r < m}
é uma cobertura de X, uma vez que para cada x ∈ X vale que g(x) < m, donde podemos
escolher r ∈ R tal que g(x) < r < m, e portanto x ∈ g −1 ((−∞, r)). Como g é contı́nua,
temos que cada conjunto g −1 ((−∞, r)) é um aberto de X, e portanto A é uma cobertura
aberta de X. Por compacidade, segue que A contém uma subcoleção finita que cobre X.
Denote tal subcoleção por
A0 = {g −1 ((−∞, rj )) : j = 1, . . . , n},
e assuma que r1 < r2 < . . . < rn . Como rn < m, e m = sup{g(x) : x ∈ X}, segue que
existe x1 ∈ X tal que g(x1 ) > rn . Assim, x1 não pertence a nenhum dos conjuntos da
subcoleção A0 , e isso é uma contradição. Consequentemente, temos que existe x0 ∈ X tal
que g(x) ≤ g(x0 ) para todo x ∈ X. A demonstração da existência de um ponto y0 tal que
g(y0 ) ≤ g(x) para todo x ∈ X é análoga.
Observação 2.1.4. Note que na terminologia da teoria de espaços métricos, a bola unitária
de (X, || · ||) é a bola fechada de centro na origem e raio 1 tomada na distância induzida
pela norma.
Definição 2.1.3. Um subconjunto K de um espaço vetorial X é convexo se
(1 − t)x + ty ∈ K
donde (1 − t)x + ty ∈ BX .
Uma combinação linear em que todos os coeficientes são nulos é denominada uma com-
binação linear trivial . Prosseguindo, o subespaço gerado por um subconjunto A ⊆ X é o
conjunto de todas as combinações lineares finitas de elementos de A:
( n )
X
span(A) = α j xj : x j ∈ A e α j ∈ K .
j=1
É um resultado conhecido de Álgebra Linear que para todo A ⊆ X vale que span(A)
é um subespaço vetorial de X.
2.2. DIMENSÃO FINITA 31
Definição 2.2.2. Seja X um K-espaço vetorial não-vazio. Dizemos que X tem dimensão
finita se existe um subconjunto finito B ⊆ X tal que X = span(B). Se X é um espaço
vetorial não-vazio que não tem dimensão finita, então dizemos que X tem dimensão
infinita.
Observação 2.2.1. Note que os conceitos introduzidos na Definição 2.2.1 também valem no
caso em que X tem dimensão infinita, e eles serão mencionados sem maiores comentários
na próxima seção (onde lidaremos com tais espaços). Na presente seção, é apenas a partir
de agora que devemos de fato nos restringir aos espaços de dimensão finita.
Se X tem dimensão finita, então um subconjunto B ⊆ X é uma base de X se B é um
conjunto linearmente independente tal que X = span(B). Note que se B é uma base de
X, então cada vetor de x pode ser escrito de uma única maneira como combinação linear
finita de elementos de B. É também um resultado de Álgebra Linear que quaisquer duas
bases de um espaço vetorial de dimensão finita tem a mesma quantidade de elementos. O
número de elementos de uma base de X é a dimensão de X.
Vamos agora prosseguir para enunciar e provar que quaisquer normas em um espaço
vetorial de dimensão finita geram a mesma topologia. Mas primeiro, vamos enunciar e
provar um resultado que descreve a topologia da bola unitária neste caso (em dimensão
infinita a situação é mais difı́cil de descrever, como ficará claro mais adiante).
Proposição 2.2.1. Se (X, || · ||) é um espaço normado de dimensão finita, então a bola
unitária BX é um corpo convexo.
Demonstração. Do Lema 2.1.2 já temos que BX é convexa. Para verificar que o interior
de BX é não-vazio, note que a bola aberta
está contida em BX . Assim, falta apenas mostrar que BX é compacta. Como a topologia
gerada pela norma é, na verdade, uma topologia gerada por uma métrica, é necessário e
suficiente mostrar que BX é um espaço sequencialmente compacto. Em outras palavras,
devemos mostrar que toda sequência de pontos de BX tem uma subsequência convergente.
Se {e1 , . . . , en } é uma base de X, e (xj )j∈N é uma sequência em BX , então para cada j ∈ N
escrevemos
x = α1 e1 + α2 e2 + . . . αn en .
que vale para todo j ∈ J. Fazendo j → ∞ em J temos que o lado direito da desigualdade
acima converge para 0.
32 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS NORMADOS
Observação 2.2.2. Note que, por enquanto, mostramos que a bola unitária de um espaço
normado de dimensão finita é compacta apenas na topologia dada pela norma fixada.
Em outras palavras, ainda não provamos que a bola unitária correspondente a uma deter-
minada norma é compacta na topologia gerada por outra norma. Observe, entretanto,
que isso é uma consequência direta do próximo teorema.
Teorema 2.2.1. Sejam || · ||1 e || · ||2 duas normas em um espaço vetorial de dimensão
finita X. Então, as topologias geradas por || · ||1 e || · ||2 coincidem.
Demonstração. Dizemos que as normas || · ||1 e || · ||2 são equivalentes se existem números
α, β > 0 tais que
para todo x ∈ X. É claro que se || · ||1 e || · ||2 são equivalentes, então as distâncias d1 e
d2 geradas por || · ||1 e || · ||2 , respectivamente, são equivalentes. Por outro lado, se d1 e
d2 são equivalentes, então segue do Exercı́cio 1.10 que as topologias geradas por d1 e d2
coincidem (a solução do exercı́cio vem do fato de que a equivalência das métricas garante
que toda bola aberta de d1 contém alguma bola aberta de d2 com o mesmo centro, e
vice-versa).
Assim, é suficiente mostrar que duas normas quaisquer em um espaço vetorial de
dimensão finita são equivalentes. Fixe uma base {e1 , . . . , en } em X, e note (abusando da
notação) que a função || · ||1 definida por
n
X
||α1 e1 + . . . + αn en ||1 = |αj |
j=1
é uma norma em X. Uma vez que a equivalência entre normas é de fato uma relação de
equivalência (ou seja, é uma relação reflexiva, simétrica e transitiva), basta mostrar que
qualquer norma || · || em X é equivalente à norma || · ||1 definida acima. Primeiro, vamos
mostrar que a norma || · || : X → R é uma função contı́nua com respeito à topologia dada
em X por pela norma || · ||1 . Para isso, vamos usar o critério sequencial. Se d1 é a métrica
induzida por || · ||1 , e (xj )j∈N é uma sequência em X tal que d1 (xj , x) → 0 quando j → ∞,
então decompondo os pontos da sequência (xj ) base {e1 , . . . , en } e escrevendo, temos
xj = αj1 e1 + . . . + αjn en ,
e x = α1 e1 + . . . + αn en , segue que
temos que ||xj || → ||x|| quando j → ∞. Logo, pela Proposição 2.2.1 e pela Proposição
2.1.1 podemos tomar
α = min{||z|| : z ∈ B1 }, e
β = max{||z|| : z ∈ B1 },
2.2. DIMENSÃO FINITA 33
A topologia dada por uma norma em um espaço vetorial X de dimensão finita depende
apenas da dimensão de X, de certa forma. Na realidade, a topologia usual de Kn induz a
topologia de qualquer espaço normado (X, || · ||) de dimensão n: os abertos de X são as
imagens dos abertos de Kn por um isomorfismo T : Kn → X.
Corolário 2.2.1. Todo espaço normado de dimensão finita (sobre um corpo completo) é
completo.
Demonstração. Apresentamos este resultado como corolário do teorema anterior pois,
como todas as normas em um espaço de dimensão finita X induzem a mesma topologia, é
suficiente fixar uma base {e1 , . . . , en } em X e mostrar que X é completo com a topologia
dada pela norma
n
X
1 n
||α e1 + . . . + α en ||1 = |αq |.
q=1
para quaisquer j, m ∈ N e todo q = 1, . . . , n. Segue que cada sequência (αjk )j∈N é uma
sequência de Cauchy de escalares em K. Logo, todas essas sequências são convergentes,
e assim podemos escrever αjk → αk quando j → +∞ para cada k = 1, . . . , n. Segue
imediatamente que xj converge para α1 e1 + . . . + αn en , e isso mostra que toda sequência
de Cauchy em X converge para um ponto de X.
Lema 2.3.1. Um espaço vetorial não vazio X tem dimensão infinita se, e somente se,
para todo subconjunto finito linearmente independente A ⊆ X existe um vetor x ∈ X tal
que A ∪ {x} é linearmente independente.
Demonstração. Como a topologia de X é dada por uma métrica, é suficiente mostrar que
toda sequência convergente de pontos de Y converge para algum ponto de Y . Se (yj )j∈N é
uma sequência em Y tal que yj → x para algum x ∈ X, então (yj )j∈N é uma sequência de
Cauchy, em particular. A restrição de || · || a Y é uma norma em Y , e portanto (Y, || · ||) é
um espaço normado de dimensão finita, e portanto (Y, || · ||) é um espaço completo. Segue
que yj converge para algum ponto y ∈ Y , e pela unicidade do limite vem x = y. Isso
mostra que toda sequência convergente de pontos de Y converge para um ponto de Y .
Lema 2.3.3 (Lema de Riesz). Seja (X, || · ||) um espaço vetorial de dimensão infinita, e
seja Y ⊆ X um subespaço vetorial fechado próprio. Se α ∈ (0, 1), então existe um vetor
x ∈ X \ Y tal que ||x|| = 1 e inf y∈Y ||x − y|| ≥ α.
Demonstração. Tome um vetor x1 ∈ X \ Y , e note que c = inf y∈Y ||x1 − y|| > 0, uma vez
que Y é fechado (do contrário terı́amos uma sequência de pontos de Y convergindo para
x1 , que não é um ponto de Y ). Consequentemente, para cada número b > c, existe um
vetor y1 ∈ Y tal que c ≤ ||x1 − y1 || ≤ b. Defina
x1 − y 1
x= ,
||x1 − y1 ||
2.3. DIMENSÃO INFINITA 35
onde a primeira desigualdade se justifica pois y2 = y1 +||x1 −y1 ||y ∈ Y , donde ||x1 −y2 || ≥
inf y∈Y ||x1 − y|| = c. Finalmente, dado α ∈ (0, 1), basta construir o vetor x como acima
tomando b = c/α.
Teorema 2.3.1. A bola unitária BX de um espaço normado (X, || · ||) é compacta se, e
somente se, X tem dimensão finita.
Não é difı́cil notar que o conceito de base de um espaço vetorial dimensão finita não
pode ser imediatamente traduzido para o caso de dimensão infinita. A existência de
algum subconjunto satisfazendo as propriedades “desejáveis”não é nem mesmo garantida
a priori, como veremos a seguir.
i. x v x,
ii. x v y e y ⊆ z implicam x v z,
36 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS NORMADOS
iii. x v y e y v x implicam x = y.
Lema 2.3.4 (Lema de Zorn). Seja (X, v) um conjunto não-vazio munido de uma or-
denação parcial. Se todo subconjunto totalmente ordenado de X possui um limite superior,
então X tem um elemento maximal.
Teorema 2.3.2. Todo espaço vetorial não-vazio tem uma base de Hamel.
Exemplo 2.3.1. Se 1 ≤ p < +∞, então o espaço `p (N) definido no Exemplo 2.1.2 possui
uma base de Schauder. Considere o conjunto B = {en }n∈N , em que cada elemento en é
a sequência em que todas as entradas são 0, exceto pela n-ésima, que é 1. Afirmamos
que B é uma base de Schauder em `p (N). Para provar essa afirmação, seja x ∈ `p (N) a
sequência (αj )j∈N . Daı́, temos que
∞
X
|αj |p < +∞,
j=1
e pela igualdade (2.3.1) vem que a última expressão converge para 0 quando k → ∞.
Segue que
k
X
x = lim αj e j ,
k→∞
j=1
onde o limite é tomado na norma || · ||p . Isso mostra que, de fato, B é uma base de
Schauder em `p (N).
Observação 2.3.2. O leitor deve verificar atentamente que esse argumento não vale para
`∞ (N). Na realidade, esse espaço não admite base de Schauder. Esse fato será provado
mais à frente.
Lembre-se de que um espaço métrico é separável quando tem um subconjunto enu-
merável denso. Um espaço normado é dito separável quando é separável com a métrica
induzida pela norma.
Proposição 2.3.1. Seja (X, || · ||) um espaço normado de dimensão infinita. Se (X, || · ||)
tem uma base de Schauder, então (X, || · ||) é separável.
para representar os complexos racionais). Para verificar que spanQ (B) é denso, note que
se x ∈ X e ε > 0, então existem k ∈ N e α1 , . . . , αk ∈ K tais que
Xk ε
x − αj ej < .
2
j=1
ε
|qj − αj | < .
2k||ej ||
Para a enumerabilidade, note que spanQ (B) está naturalmente identificado com o sub-
conjunto F do espaço QN de sequências com entradas racionaisP que têm uma quantidade
finita de termos não nulos. Com efeito, basta identificar o vetor kj=1 qj ej com a sequência
(q1 , . . . , qk , 0, . . . , 0, . . .). Note que alguns dos qj podem ser nulos também. Para mostrar
que F é enumerável, escreva
∞
[
F = Fn ,
n=1
onde Fn = {(qj )j∈N ∈ F : qj = 0 para todo j > n}. Isto é, para cada n ∈ N, Fn é o
conjuntos das sequências em que todas as entradas depois da n-ésima são nulas. Segue
que Fn pode ser identificado com o produto cartesiano de n cópias de Q, e daı́ cada Fn é
enumerável. Finalmente, F é uma união enumerável de conjuntos enumeráveis, e portanto
enumerável.
Exemplo 2.3.2. O espaço `∞ (N) não é separável, e portanto não admite uma base de
Schauder. De fato, seja {en : n ∈ N} um conjunto enumerável qualquer em `∞ (N), e
denote en = (αjn )j∈N para cada n ∈ N. Construa uma sequência x = (βj )j∈N pondo, para
cada j ∈ N, βj = 0 se |αjj | ≥ 1 e βj = αjj + 1 se |αjj | < 1. Note que x ∈ `∞ (N), pois
Por outro lado, para todo n ∈ N temos ||en − x||∞ ≥ 1. Com efeito, se |αnn | ≥ 1, então
βn = 0 e assim vem ||en − x||∞ ≥ |αnn − βn | = |αnn | ≥ 1. Já se |αnn | < 1, então temos
||en − x||∞ ≥ |αnn − βn | = 1. Segue que o conjunto {en : n ∈ N} não é denso em X.
2.4. OPERADORES LINEARES 39
Um operador linear entre espaços normados é, em particular, uma aplicação entre
espaços topológicos (com as respectivas topologias geradas pelas normas), e daı́ é natural
perguntar sob quais condições um operador é uma aplicação contı́nua.
Teorema 2.4.1. Um operador T : (X, || · ||X ) → (Y, || · ||Y ) entre espaços normados é
contı́nuo se, e somente se, T é limitado.
Demonstração. Se T não é limitado, então para cada c > 0 existe um vetor unitário x ∈ X
tal que ||T x||Y > c||x||X = c. Assim, para cada n ∈ N podemos escolher um vetor xn ∈ X
tal que ||xn ||X = 1 e ||T xn ||Y > n. Logo, a sequência zn = xn /n é tal que ||zn ||X → 0
quando n → ∞, mas ||T zn ||Y > 1 para todo n ∈ N. Segue que T zn não converge para
0Y = T (0X ) quando n → ∞, e daı́ T não é contı́nuo em 0X (veja o Teorema 1.5.2).
Assuma agora que T é limitado, e seja c ∈ R um número tal que ||T x||Y ≤ c||x||X
para todo x ∈ X. Seja (xj )j∈N uma sequência em X que converge para x ∈ X. Da ı́,
donde segue que T (x̂k ) → 0Y . Daı́, segue imediatamente que T (xk ) → T (x), e isso mostra
que T é uma aplicação contı́nua.
Sejam (X, || · ||X ) e (Y, || · ||Y ) espaços normados. Denotamos o espaço de operadores
lineares limitados T : X → Y por L(X, Y ). É fácil notar que L(X, Y ) é um espaço
vetorial com as operações:
para quaisquer n, m > n0 . Segue que, para cada x ∈ X, a sequência (Tn x)nN é uma
sequência de Cauchy em Y (note que o caso x = 0X é trivial). Como Y é completo, existe
o limite
lim Tn x := T x,
n→∞
para cada x ∈ X. É claro que T é linear. Vamos mostrar que T ∈ L(X, Y ) e que
Tn converge para T na norma de operadores. Ainda usando o fato de que (Tn ) é uma
sequência de Cauchy, e usando também a continuidade da norma, temos que, para todo
x ∈ BX ,
Definição 2.4.2. Seja (X, || · ||X ) um K-espaço vetorial normado. Um funcional linear
em X é um operador linear f : X → K. Dizemos que f é um funcional linear limitado
se f é um operador limitado, onde estamos considerando a norma usual | · | (isto é, o
módulo) em K. O espaço dos funcionais lineares limitados em X é o espaço dual de X,
denotado por X ∗ . Em outras palavras,
X ∗ = L(X, K).
42 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS NORMADOS
2.5 Exercı́cios
Exercı́cio 2.1. Dê um exemplo de um subespaço vetorial de um espaço vetorial de di-
mensão infinita que não é fechado.
Exercı́cio 2.2. Seja X um espaço vetorial de dimensão infinita.
(a) Mostre que se x ∈ X é um vetor não-nulo, então existe uma base de Hamel de X que
contém x.
para qualquer x ∈ X.
2.5. EXERCÍCIOS 43
(c) Por meio de um exemplo, mostre que a ortogonalidade de Birkhoff não é necessaria-
mente simétrica.
Exercı́cio 2.15. Mostre que uma isometria sobrejetiva entre espaços normados é um
isomorfismo.
Exercı́cio 2.16. Seja (X, || · ||X ) um espaço normado. Mostre que T ∈ L(X, X) é um
isomorfismo se, e somente se, existe S ∈ L(X, X) tal que T S = ST = IdX .
Exercı́cio 2.17. Um espaço topológico (X, τ ) é dito localmente compacto se para todo
x ∈ X existem um aberto não-vazio U e um compacto (com a topologia induzida) K ⊆ X
tais que x ∈ U ⊆ K. Em outras palavras, X é localmente compacto se todo ponto admite
uma vizinhança contida em um compacto. Um subconjunto Y ⊆ X é dito localmente
compacto se é localmente compacto com a topologia induzida. Mostre que se (X, || · ||X ) é
um espaço normado de dimensão infinita, então X não contém subconjuntos localmente
compactos.
44 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS NORMADOS
Capı́tulo 3
3.1 Definição
Definição 3.1.1. Um espaço normado (X, || · ||) é um espaço de Banach se é completo
na métrica dada pela norma.
Note que, pelo Corolário 2.2.1 segue que todo espaço normado de dimensão finita é um
espaço de Banach. Entretanto, o mesmo não acontece para espaços de dimensão infinita.
Vamos estudar alguns exemplos.
Exemplo 3.1.1. Os espaços `p (N), 1 ≤ p < +∞ são Banach. Com efeito, seja (xn )n∈N uma
sequência de Cauchy em `p (N), onde denotaremos xn = (αjn )j∈N para cada n ∈ N. Da
desigualdade
que vale para quaisquer j, k, m ∈ N, seque que cada sequência (αjn )n∈N é uma sequência
de Cauchy em K (ou seja, os escalares da j-ésima posição de cada sequência formam uma
sequência convergente). Denote
αj = lim αjn ,
n→∞
Uma vez que a soma acima tem uma quantidade finita de termos, fazendo n → ∞ obtemos
N
!
X
p
|αj | ≤ cp ,
j=1
e essa desigualdade vale para todo N ∈ N. Daı́ segue que a série das p-ésimas potências
dos módulos das entradas de x converge, e assim temos x ∈ `p (N). Falta mostrar que
45
46 CAPÍTULO 3. ESPAÇOS DE BANACH: PARTE I
para qualquer N ∈ N. Uma vez que a primeira soma é finita, podemos fazer m → ∞ e
obter a desigualdade
N
X
|αjk − αj |p ≤ εp ,
j=1
Exemplo 3.1.2. O espaço `∞ (N) também é um espaço de Banach. Seja (xn )n∈N uma
sequência de Cauchy em `∞ (N), e continue denotando xn = (αjn )j∈N para todo n ∈ N.
Note que, fixando um j ∈ N, temos
|αjk − αjm | ≤ sup |αjk − αjm | = ||xk − xm ||∞ , (3.1.1)
j∈N
para cada j ∈ N, e seja x = (αj )j∈N . Para mostrar que x ∈ `∞ (N), suponha o contrário.
Então existe uma subsequência (αjk )k∈N tal que αjk → ∞. se k → ∞. Para cara k ∈ N,
escolha n(k) ∈ N tal que
n(k)
|αjk − αjk | < 1.
n(k)
Daı́, é claro que αjk → ∞ se k → ∞. Mas então temos
n(k)
||xn(k) ||∞ ≥ |αjk | → ∞,
o que é uma contradição, pois toda sequência de Cauchy é limitada. Logo, temos de fato
que x ∈ `∞ (N). Finalmente, usando a desigualdade (3.1.1), temos que se ε > 0, então
existe n0 ∈ N tal que k, m ≥ n0 implicam
|αjk − αjm | ≤ ||xk − xm ||∞ < ε,
para todo j ∈ N. Fixando j ∈ N qualquer e fazendo m → ∞ acima, segue que
|αjk − αj | ≤ ε
para todo k > n0 . Consequentemente, uma vez que a desigualdade acima vale para
qualquer j ∈ N, temos que
||xk − x||∞ = sup |αjk − αj | ≤ ε
j∈N
Exemplo 3.1.3. Não provaremos isto agora, mas se X é um espaço topológico compacto,
então o espaço C(X) com a norma da convergência uniforme é um espaço de Banach (veja
o Exemplo 2.1.3).
Exemplo 3.1.4. Note que se X é um espaço vetorial sobre um corpo que não é completo,
então X pode não ser Banach mesmo sendo de dimensão finita. Considere, por exemplo, o
conjunto Q dos números racionais como um Q-espaço vetorial com a norma induzida de R.
Note que c é um subespaço vetorial de `∞ (N), e a norma que consideramos acima para
c é a norma induzida de `∞ (N). Vamos provar que c é Banach. Para isso, é suficiente
mostrar que c é fechado em `∞ (N). Seja xn = (αjn )j∈N uma sequência em c tal que
xn → x = (βj )j∈N em `∞ (N), e assuma que
lim αjn = αn ,
j→∞
para cada n ∈ N. Vamos mostrar que (αn )n∈N é uma sequência de Cauchy em K. Note
que
|αn − αm | = |αn − αjn + αjn − αjm + αjm − αm | ≤ |αn − αjn | + |αjn − αjm | + |αjm − αm | ≤
≤ |αn − αjn | + ||xn − xm ||∞ + |αjm − αm |.
Dado ε > 0, escolhemos j suficientemente grande de modo que tenhamos as desigualdades
|αn − αjn | < ε/3 e |αjm − αm | < ε/3. Assim, uma vez que toda sequência convergente é
de Cauchy, tomamos n0 tal que n, m > n0 implica ||xn − xm ||∞ < ε/3. Segue que, se
n, m > n0 , então
|αn − αm | < ε.
Assim, (αn ) é uma sequência de Cauchy em K, e portanto podemos assumir que
lim αn = α.
n→∞
|βj − α| < ε.
Isso mostra que βj → α, e portanto x ∈ c. Note cuidadosamente que esse raciocı́nio
também mostra que o subespaço vetorial
c0 = {(αj )j∈N ∈ KN : αj → 0}
48 CAPÍTULO 3. ESPAÇOS DE BANACH: PARTE I
Teorema 3.1.1. Seja (X, || · ||X ) um espaço normado. Então, X é isomorfo a um su-
bespaço denso de um espaço de Banach (Y, || · ||Y ). O espaço (Y, || · ||Y ) é chamado de
completamento de (X, || · ||X ). Mais ainda, dois completamentos quaisquer de (X, || · ||X )
são isomorfos.
p(λx) = λp(x), e
p(x + y) ≤ p(x) + p(y)
Observação 3.2.1. Note que toda norma é um funcional sublinear. Além disso, da primeira
condição temos que p(0X ) = 0.
g(y) ≤ p(y),
e se t < 0, então,
Observação 3.2.2. Observe que o enunciado do Teorema de Hahn-Banach não faz menção
à uma norma em X. Em particular, os funcionais lineares envolvidos não são necessaria-
mente limitados. Além disso, o teorema de Hahn-Banach é um resultado de existência,
e a unicidade não é garantida (veja o Exercı́cio 3.14). Em alguns momentos, chamaremos
uma extensão dada pelo teorema de Hahn-Banach de extensão de Hahn-Banach.
Mencionamos que a extensão de Hahn-Banach não é necessariamente um funcional
limitado. Entretanto, vamos mostrar que todo funcional linear limitado em um subespaço
Y ⊆ X admite uma extensão a X que preserva a norma (e portanto é limitada). No que
segue, observe que no caso real vale
É fácil notar que p é sublinear. Pelo Teorema 3.2.1 segue que existe uma extensão f :
X → R de g que é dominada por p. Assim, para todo x ∈ BX temos
e daı́ vem imediatamente que ||f ||X ∗ ≤ ||g||Y ∗ . Para mostrar a desigualdade inversa, basta
lembrar que BY = BX ∩ Y ⊆ BX e escrever
para todo x ∈ X. Com efeito, como K é aberto e contém a origem, existe β > 0 tal que
1 x
BX = : x ∈ BX ⊆ K.
β β
Se x 6= 0, então é claro que
x 1
∈ BX (⊆ K),
β||x|| β
e assim
x
pK ≤ 1.
β||x||
Como pK é um funcional sublinear, vem imediatamente que pK (x) ≤ β||x||. Se x = 0 a
desigualdade é trivial.
Mais ainda, vale que
pK0 (x0 ) ≥ 1.
e se t < 0, então
onde lembramos que o funcional de Minkowski é sempre não-negativo. Segue que g(y) ≤
pK0 (y) para todo y ∈ Y . Pelo Teorema de Hahn-Banach, existe um funcional linear
f : X → R que estende g e é dominado por pK0 . Assim, vale que f (x0 ) = g(x0 ) = 1, e
para todo x ∈ X temos
onde β ∈ R é uma constante dada como em (3.2.1), e daı́ vem que f é limitado. Agora,
se x ∈ A e y ∈ B, então z = x − y + x0 ∈ K0 , e vem de (3.2.2) que pK0 (z) < 1.
Consequentemente,
e assim temos que f (x) < f (y) para quaisquer x ∈ A e y ∈ B. Tomando α ∈ R tal que
O leitor deve notar que, até aqui, apenas trabalhamos com espaços vetoriais sobre
R. Entretanto, para algumas aplicações posteriores é importante conseguirmos extensões
de funcionais em espaços sobre C. Se X é um espaço vetorial sobre C, então X é um
espaço vetorial sobre R se restringirmos a multiplicação por escalares a R. Denotaremos
esse R-espaço vetorial por XR . É claro que uma norma em X induz uma norma em XR ,
uma vez que a condição de homogeneidade vale para todos os complexos, e portanto vale
também para os reais.
Desta forma, se (X, || · ||) é um espaço vetorial complexo normado, então (XR , || · ||)
é um espaço vetorial real normado, e o seu dual será denotado por XR∗ . No que segue,
adotaremos a notação z = Rez +iImz para a decomposição usual de um número complexo
z ∈ C em parte real e parte imaginária.
Lema 3.2.1. Seja (X, || · ||) um espaço vetorial complexo. Se f ∈ X ∗ , então Re(f ) ∈ XR∗ .
Mais ainda, a aplicação I : X ∗ → XR∗ dada por
I(f ) = Re(f )
onde notamos que, como α ∈ R, os colchetes acima separam a parte real da parte ima-
ginária. Segue que Re(f )(x + αy) = Re(f )(x) + αRe(f )(y), e portanto Re(f ) é linear.
Observe também que a R-linearidade de I é imediata. Vamos agora mostrar que Re(f ) é
limitado. Para isso, note que BX = BXR , e daı́, se x ∈ BXR , então
Mais do que mostrar que Re(f ) é um funcional limitado sobre XR , essa desigualdade
também mostra que
É claro que f preserva a soma em X. Assim, para verificar que f é linear em X, basta
mostrar que f preserva a multiplicação por escalares de C. Para isso, dados λ = α+iβ ∈ C
e x ∈ X, temos
onde usamos o fato de que g preserva a multiplicação (apenas) por escalares reais. Agora,
perceba que para cada x ∈ BX vale que ix ∈ BX , e daı́ temos |f (x)|C ≤ |g(x)|R +|g(ix)|R ≤
2||g||XR∗ , onde notamos, mais uma vez, que X = XR (como conjuntos). Segue que f ∈ X ∗ ,
e como é claro que Re(f ) = g, temos que I é de fato sobrejetiva.
Falta apenas mostrar que I é uma isometria, e já temos a desigualdade ||I(f )||XR∗ ≤
||f ||X ∗ para qualquer f ∈ X ∗ . Assuma que f ∈ X ∗ e x ∈ X são tais que f (x) 6= 0. Denote
g = I(f ) e seja
f (x)
λ= ∈ C.
|f (x)|
Daı́,
1 x x ix x
|f (x)| = f (x) = f =g − ig =g ,
λ λ λ λ λ
onde a última igualdade se justifica pois |f (x)| ∈ R e g assume valores reais. Assim, segue
que
x x
|f (x)| = g ≤ ||g||XR∗ = ||g||XR∗ ||x|| = ||I(f )||XR∗ ||x||,
λ λ
e daı́ vem que ||f ||X ∗ ≤ ||I(f )||XR∗ . Isso conclui a prova.
Teorema 3.3.1 (Teorema de Baire). Seja (X, d) um espaço métrico completo, e seja
(Yn )n∈N uma sequência de subconjuntos tal que Yn é aberto e denso para cada n ∈ N.
Então, o conjunto
∞
\
Z= Yj
j=1
é denso.
se n → ∞. Daı́, segue que (xn )n∈N é um sequência de Cauchy. Como (X, d) é completo,
temos que xn → x para algum x ∈ X. Agora, note que xm ∈ B(xn , ρn ) para todo n ≥ m.
Assim, x ∈ cl(B(xn , ρn )) para qualquer n ≥ 0. Como cl(B(xn , ρn )) ⊆ Yn temos que x ∈ Z.
Além disso, é claro que x ∈ U . Isso mostra que todo aberto U de X tem algum ponto de
Z, donde Z é denso.
A seguir, enunciamos dois corolários que são algumas vezes apresentados como o te-
orema de Baire. Suas demonstrações são imediatas, e omitiremos os detalhes. Para o
primeiro deles, note que Y ⊆ X é denso se, e somente se, int(X \ Y ) = ∅.
Corolário 3.3.1. Seja (X, d) um espaço métrico completo, e seja (Xn )n∈N uma sequência
de subconjuntos de fechados de X tal que int(Xn ) = ∅ para todo n ∈ N. Então,
∞
!
[
int Xj = ∅
j=1
Corolário 3.3.2. Se uma sequência (Xn )n∈N de fechados de um espaço métrico completo
(X, d) é tal que sua união tem interior não-vazio, então existe n0 ∈ N tal que Xn0 tem
interior não-vazio.
56 CAPÍTULO 3. ESPAÇOS DE BANACH: PARTE I
Teorema 3.3.2 (Princı́pio da limitação uniforme). Sejam (X, ||·||X ) um espaço de Banach
e (Y, || · ||Y ) um espaço normado. Também, seja {Tj }j∈L uma famı́lia de operadores em
L(X, Y ). Assuma que
Em outras palavras, existe uma constante c ∈ R tal que ||Tj x||Y ≤ c||x||X para quaisquer
j ∈ L e x ∈ X.
Observação 3.3.1. Note que o teorema vale para qualquer famı́lia de operadores. Em
particular, não precisamos assumir enumerabilidade.
f (Z) = {f (z) : z ∈ Z}
Tz (f ) = f (z).
donde |Tz (f )| ≤ ||z||X para qualquer f ∈ BX ∗ (lembre-se de que z está fixo na definição
de Tz ). Agora, para qualquer f ∈ X ∗ , note que
uma vez que f (Z) é limitado em K. Segue que podemos aplicar o princı́pio da limitação
uniforme para a famı́lia (Tz )z∈Z : existe c ∈ R tal que
donde vem que f0 (z) = ||z||X . Daı́, aplicando a desigualdade (3.3.1) para f0 e z, temos
e isso mostra que Z é limitado, uma vez que o lado direito da desigualdade acima não
depende do vetor z ∈ Z considerado.
No que segue, lembre-se de que denotamos por BE (p, r) a bola aberta de centro em
p ∈ E e raio r > 0 no espaço normado (E, || · ||E ). A bola unitária (fechada) de E é
denotada por BE . Lembre-se, também, de que para A, B ⊆ E e α ∈ K, denotamos
A + B = {a + b : a ∈ A e b ∈ B}, e
αA = {αa : a ∈ A}.
Demonstração. Se y ∈ BX (x, ρ), então ||αx − αy|| < |α|ρ, donde αy ∈ BX (αx, |α|ρ),
e daı́ vem a inclusão αBX (x, ρ) ⊆ BX (x, |α|ρ). Agora, seja y ∈ BX (αx, |α|ρ). Como
||αx − y|| < |α|ρ, vem imediatamente que y/α ∈ BX (x, ρ), e portanto y ∈ αBX (x, ρ).
Segue que BX (αx, ρ|α|) ⊆ αBX (x, ρ). O fato de que int(αA) = αint(A) vem como
consequência imediata.
Para mostrar que cl(αA) = αcl(A), basta notar que xn → x em X se, e somente se,
αxn → αx em X.
Agora, se K ⊆ X é convexo, então a inclusão (α + β)K ⊆ αK + βK é imediata. De
fato, se x ∈ K, então basta escrever
uma vez que o segmento {(1 − t)x + ty : t ∈ [0, 1]} está contido em K.
e portanto, para cada t ∈ [0, 1] fixado, a sequência (1−t)xn +tyn converge para (1−t)x+ty.
Logo, (1 − t)x + ty ∈ cl(K)
Na última inclusão todos os conjuntos envolvidos são fechados, e portanto segue do teo-
rema de Baire que o interior de algum deles é não-vazio. Do Lema 3.3.1 vem que
Assim, podemos tomar y0 ∈ Y e c > 0 tais que BY (y0 , 4c) ⊆ cl(T (BX (0X , 1)). Pela
simetria da bola, segue que −y0 ∈ cl(T (BX (0X , 1))). Se z ∈ BY (0Y , 4c), então y0 + z ∈
BY (y0 , 4c) ⊆ cl(T (BX (0X , 1))), de sorte que podemos escrever
z = (y0 + z) − y0 ,
como a soma de dois vetores de cl(T (BX (0X , 1))). Logo,
BY (0Y , 4c) ⊆ cl(T (BX (0X , 1))) + cl(T (BX (0X , 1))) = 2cl(T (BX (0X , 1))),
onde a última igualdade se justifica pois cl(T (BX (0X , 1))) é convexo. Segue imediatamente
que
BY (0Y , 2c) ⊆ cl(T (BX (0X , 1))),
e pelo Lema 3.3.1 isso significa que
BY (0Y , c) ⊆ cl(T (BX (0X , 1/2))).
Agora, vamos mostrar que vale BY (0Y , c) ⊆ T (BX (0X , 1)). Para isso, seja y ∈ BY (0Y , c)
dado arbitrariamente. Uma vez que, em particular, y ∈ cl(T (BX (0X , 1/2))) temos que
para todo ε > 0 existe z ∈ BX (0X , 1/2) tal que
||y − T z|| < ε.
Pondo ε = c/2, seja z1 ∈ BX (0X , 1/2) tal que ||y − T z1 || < c/2. Agora, como y − T z1 ∈
BY (0Y , c/2) ⊆ cl(T (BX (0X , 1/4))), segue que existe z2 ∈ BX (0X , 1/4) com a propriedade
de que
c
||y − T z1 − T z2 || < .
4
Prosseguindo indutivamente, obtemos uma sequência (zn )n∈N em X com as propriedades
de que
1
||zn || < , e
2n
c
||y − T z1 − T z2 − . . . − T zn || < n ,
2
para todo n ∈ N. Da primeira propriedade, segue imediatamente que a sequência das
somas parciais xj = z1 + . . . + zj é de Cauchy em X, donde existe
∞
X n
X
x= zj = lim zj ,
n→∞
j=1 j=1
e daı́ temos y = T x. Logo, y ∈ T (BX (0X , 1)), e isso dá a inclusão BY (0Y , c) ⊆
T (BX (0X , 1)).
60 CAPÍTULO 3. ESPAÇOS DE BANACH: PARTE I
Demonstração. O que o teorema anterior diz que um operador linear limitado sobrejetivo
entre espaços de Banach é uma aplicação aberta, ou seja, uma aplicação em que a imagem
de um aberto é sempre um aberto. Com efeito, seja T : X → Y é um operador linear
limitado e sobrejetivo entre espaços de Banach, e tome U ⊆ X aberto não-vazio. Dado
y ∈ T (U ), sejam x ∈ U tal que y = T x, e r > 0 tal que BX (x, r) ⊆ U . Assim, como
BX (x, r) = x + rBX (0X , 1), vem que
T (BX (x, r)) = T (x + rBX (0X , 1)) = y + rT (BX (0X , 1)) ⊇ y + rBY (0Y , ρ) = BY (y, ρr),
onde ρ > 0 é dado como no teorema da aplicação aberta. Segue que BY (y, ρr) ⊆
T (BX (x, r)) ⊆ T (U ), e isso mostra que T (U ) é aberto.
Portanto, temos que se T é limitado e bijetivo, então a pré-imagem de todo aberto de
X por T −1 é um aberto de Y . Logo, T −1 : Y → X é um operador contı́nuo.
graf(T ) = {(x, T x) : x ∈ X} ⊆ X × Y.
Se (X, || · ||X ) e (Y, || · ||Y ) são espaços normados sobre K, então o produto cartesiano
X × Y é um K-espaço vetorial com as operações usuais, e será considerado um espaço
normado com a norma
para cada x ∈ X. Note que o fato de que || · ||T é uma norma vem diretamente da
linearidade de T , e observe também que ||x||T = ||(x, T x)||X×Y para qualquer x ∈ X.
Vamos verificar que (X, || · ||T ) é um espaço de Banach. Seja (xn )n∈N é uma sequência de
Cauchy neste espaço normado. Temos
||xn − xm ||T = ||xn − xm ||X + ||T (xn − xm )||Y = ||(xn − xm , T (xn − xm ))||X×Y ,
Observação 3.3.3. A volta também vale, mesmo que os espaços envolvidos não sejam
Banach. Veja o ı́tem (b) do Exercı́cio 3.24.
3.4 Exercı́cios
Exercı́cio 3.1. Encontre um subespaço vetorial de `1 (N) que não é Banach (com a norma
induzida).
Exercı́cio 3.2. Seja (X, || · ||) um espaço normado de dimensão infinita. Construa um
funcional linear f : X → R que não é limitado.
Exercı́cio 3.3. Prove que o espaço C([0, 1]) de funções contı́nuas f : [0, 1] → R é um
espaço de Banach com a norma da convergência uniforme.
Exercı́cio 3.4. Considere o conjunto
( )
|f (x) − f (y)|
C 0,α ([0, 1]) = f ∈ C([0, 1]) : sup <∞ ,
x,y∈[0,1],x6=y |x − y|α
das funções α-Hölder contı́nuas em [0, 1], onde 0 < α ≤ 1 é um número fixado. Prove que
C 0,α ([0, 1]) é um subespaço vetorial, que o funcional
|f (x) − f (y)|
||f ||α = ||f ||∞ + sup
x,y∈[0,1],x6=y |x − y|α
é uma norma em C 0,α ([0, 1]), e demonstre que (C 0,α ([0, 1]), || · ||α ) é Banach.
Exercı́cio 3.5. Considere o subespaço vetorial X = {u ∈ C([0, 1]) : u(0) = 0} de C([0, 1])
munido com a norma da convergência uniforme. Mostre que o funcional
Z 1
f : X 3 u 7→ u(t) dt
0
é limitado, e calcule sua norma. Existe um vetor unitário u ∈ X tal que f (u) = ||u||X ∗ ?
Verifique também que X é um espaço de Banach.
62 CAPÍTULO 3. ESPAÇOS DE BANACH: PARTE I
Exercı́cio 3.6. Verifique que `1 (N) ⊆ c0 . Mostre que `1 (N) não é fechado em c0 , isto é,
que `1 (N) não é fechado na topologia dada em c0 pela norma || · ||∞ . Conclua que `1 (N)
não é Banach com a norma || · ||∞ .
(a) Mostre que f está bem-definido, isto é, que a série acima converge para qualquer
x ∈ c0 .
(c) Encontre uma sequência (xn )n∈N de vetores unitários de c0 tal que f (xn ) → ||f ||c0∗ .
Exercı́cio 3.8. Escreva X ' Y para espaços normados que são isometricamente isomor-
fos. Mostre que
1
||T − S||L(X,X) < ,
||T −1 ||L(X,X)
então S ∈ Iso(X).
Exercı́cio 3.12. Um espaço normado (X, ||·||) é dito estritamente convexo se a igualdade
||x + y|| = ||x|| + ||y|| implica que os vetores x e y são linearmente dependentes. Mostre
que X é estritamente convexo se, e somente se, para quaisquer x, y ∈ BX distintos vale
que ||(1 − t)x + ty|| < 1 para todo t ∈ (0, 1).
Exercı́cio 3.13. Sejam (X, || · ||) um K-espaço normado e x0 ∈ X tal que ||x0 || = 1.
(b) Prove que se X ∗ é estritamente convexo, então o funcional obtido no ı́tem anterior é
único.
(c) Dê um exemplo que mostre que a hipótese de convexidade estrita do dual é necessária
para a unicidade do funcional construı́do no ı́tem (a). Você pode usar um exemplo em
dimensão finita.
Exercı́cio 3.14. De forma mais geral, mostre que se X é um espaço normado cujo dual
é estritamente convexo, Y ⊆ X é um subespaço vetorial de X, e g ∈ Y ∗ , então uma
extensão de g que preserva norma é unica (veja o Corolário 3.2.1).
Exercı́cio 3.15. (a) Seja Y um subespaço vetorial de um espaço normado real (X, || · ||).
Mostre que Y é denso em X se, e somente se, o único funcional de X ∗ que se anula em Y
é o funcional nulo.
(b) Seja (X, || · ||) um espaço normado real. Mostre que se o dual X ∗ é separável, então
X é separável.
Exercı́cio 3.18. Seja (X, || · ||) um espaço normado. Seja K ⊆ X um conjunto convexo,
aberto e limitado. Assuma também que K é simétrico com respeito à origem. Mostre que
o funcional de Minkowski de K é uma norma em X equivalente à norma original || · ||.
64 CAPÍTULO 3. ESPAÇOS DE BANACH: PARTE I
Exercı́cio 3.19 (Teorema de Banach-Steinhaus). Sejam (X, || · ||X ) e (Y, || · ||Y ) espaços
de Banach. Assuma que (Tn )n∈N uma sequência em L(X, Y ) tal que para cada x ∈ X a
sequência (Tn x)n∈N converge em Y . Denote limn→∞ Tn x = T x.
(a) Mostre que T é fechado se, e somente se, para toda sequência (xn )n∈N com a propri-
edade de que xn → x em X e T xn → y em Y , vale que T x = y.
(b) Prove que, se X e Y são espaços normados, então todo operador T ∈ L(X, Y ) é
fechado.
(c) Assuma que Y é Banach, e seja X ⊆ Y um subespaço vetorial com a norma induzida.
Demonstre que um operador linear T : X → Y tal que graf(T ) é fechado em Y × Y é
limitado se, e somente se, X é Banach.
Exercı́cio 3.25. Seja (X, || · ||) um espaço de Banach, e seja Y um subconjunto qualquer
do dual X ∗ . Assuma que para cada x ∈ X o conjunto Yx = {f (x) : f ∈ Y } é limitado em
K. Mostre que Y é limitado.
Exercı́cio 3.26. Sejam X e Y espaços de Banach, e seja b : X × Y → K uma forma
bilinear que tem as seguintes propriedades:
3.4. EXERCÍCIOS 65
para quaisquer x ∈ X e y ∈ Y .
66 CAPÍTULO 3. ESPAÇOS DE BANACH: PARTE I
Capı́tulo 4
Observação 4.1.1. Para que todas as funções de F sejam contı́nuas, devemos exigir que
fj−1 (Uj ) seja um aberto da topologia de X para quaisquer j ∈ L e Uj aberto da topologia
de Yj . Dessa forma, o Teorema 4.1.1 tem por objetivo descrever, em certo sentido, qual
é a topologia “com menos abertos”que tem essa propriedade. Entretanto, para fins de
caracterização, necessitaremos de um resultado mais “descritivo”. Isso será feito a seguir.
Teorema 4.1.2. Considere a mesma notação do Teorema 4.1.1, e para cada j ∈ L,
denote por τj a topologia de Yj . Considere a coleção
AF = fj−1 (Uj ) : j ∈ L e Uj ∈ τj .
67
68 CAPÍTULO 4. ESPAÇOS DE BANACH: PARTE II
Como consequência do Lema 1.1.1, a topologia menos fina de X com respeito à qual
todas as aplicações da coleção F = {fj : X → Yj : j ∈ L} são contı́nuas é precisamente
a coleção das uniões arbitrárias de interseções finitas dos elementos de AF , que são as
pré-imagens dos abertos dos espaços topológicos Yj pelas respectivas aplicações fj .
Definição 4.1.1. Se A é uma coleção de subconjuntos de X com a propriedade de que a
famı́lia de todas as interseções finitas de elementos de A é uma base para uma topologia
σ, então dizemos que A é uma sub-base de σ.
Nas duas proposições abaixo investigamos algumas propriedades da topologia que
acabamos de construir e caracterizar. Para esses resultados, continuaremos denotando
por (Yj , τj )j∈L uma coleção de espaços topológicos, por F = {fj : X → Yj : j ∈ L}
uma famı́lia de aplicações, e por τ a topologia menos fina com respeito à qual todas
as aplicações de F são contı́nuas. No que segue, a convergência de uma sequência com
σ
respeito a uma dada topologia σ será denotada por → −.
Proposição 4.1.1. Uma sequência de pontos (xn )n∈N em X converge para x ∈ X na
topologia τ se, e somente se, fj (xn ) converge para fj (x) na topologia τj de Yj para todo
j ∈ L.
τ
Demonstração. Assuma que xn → − x, e seja j ∈ L. Se Uj é uma vizinhança de qualquer
−1
fj (x) em Yj , então fj (Uj ) é um aberto de τ . Assim, existe n0 ∈ N com a propriedade
de que xn ∈ fj−1 (Uj ) para todo n > n0 . Segue que fj (xn ) ∈ Uj para todo n > n0 , e isso
τj
mostra que fj (xn ) −→ fj (x).
Assuma agora que uma sequência (xn )n∈N em X e um ponto x ∈ X são tais que
τj
fj (xn ) −
→ fj (x) para qualquer j ∈ L. Seja U ∈ τ uma vizinhança qualquer de x. Usando
o Teorema 4.1.2, segue que existe uma interseção finita
V = fj−1
1
(Uj1 ) ∩ . . . ∩ fj−1
m
(Ujm )
de pré-imagens de abertos Ujk de Yjk por fjk , k = 1, . . . , m, tal que x ∈ V ⊆ U . Da
hipótese, segue que existe n0 ∈ N tal que n > n0 implica que fjk (xn ) ∈ Ujk para quaisquer
k = 1, . . . , m e n > n0 . Consequentemente, xn ∈ V (⊆ U ) para todo n > n0 , e isso mostra
τ
que xn →− x.
Definição 4.2.1. A topologia fraca em X é a topologia menos fina com respeito à qual
todos os funcionais de X ∗ são contı́nuos. Conforme a notação introduzida acima, essa
topologia será denotada por σ(X, X ∗ ).
Observação 4.2.1. Observe que a topologia forte de (X, ||·||) é mais fina do que a topologia
fraca σ(X, X ∗ ), uma vez que todos os funcionais de X ∗ são contı́nuos na topologia forte.
Em outras palavras, todos os abertos da topologia fraca são abertos da topologia forte,
mas o contrário pode não ocorrer. Na verdade, veremos mais à frente que as topologias
fraca e forte coincidem se, e somente se, X tem dimensão finita.
É claro que ||g||Y ∗ = 1, e portanto g admite uma extensão linear f : X → K tal que
f ∈ X ∗ . Uma vez que
e daı́ existe α > 0 tal que Re(f (x)) < α < Re(f (z)). Assim, pondo
A coleção
V = {V (x, f, ε) : x ∈ X, f ∈ X ∗ e ε > 0}
A = f −1 (V ) : f ∈ X ∗ e V ∈ τK
x ∈ f1−1 (V1 ) ∩ . . . ∩ fm
−1
(Vm ) ⊆ U.
Daı́, como cada Vj é aberto, segue que para cada j = 1, . . . , m podemos tomar εj > 0 tal
que BK (fj (x), εj ) ⊆ Vj . Consequentemente, temos
Observação 4.2.2. Na demonstração acima, observe que (4.2.1) pode ser escrito como
x ∈ V (x, f1 , ε1 ) ∩ . . . ∩ V (x, fm , εm ) ⊆ U.
x ∈ V (x, f1 , . . . , fm , ε) ⊆ U.
Vx = {V (x, f1 , . . . , fm , ε) : f1 , . . . , fm ∈ X ∗ e ε > 0}
Definição 4.2.2. Dizemos que uma sequência (xn )n∈N em um espaço normado (X, || · ||)
converge fracamente para um ponto x ∈ X se (xn )n∈N converge para x na topologia fraca.
Denotaremos a convergência fraca por xn * x.
Observação 4.2.3. Vamos seguir denotando a convergência na norma (ou seja, na topologia
forte) por xn → x. Observe que no espaço dual e no corpo K esta notação (→) significa
convergência na norma dual e no módulo, respectivamente.
Nas próximas proposições vamos investigar algumas propriedades da convergência
fraca. Da Observação 4.2.1, note que se xn → x em X, então xn * x em X, uma
vez que a topologia fraca é menos fina do que a topologia forte.
Proposição 4.2.3. Uma sequência (xn )n∈N em um espaço normado (X, || · ||) converge
fracamente para x ∈ X se, e somente se, f (xn ) → f (x) em K para todo funcional linear
f ∈ X ∗.
Nosso próximo objetivo é mostrar que toda sequência que converge fracamente em um
espaço de Banach é limitada na norma. Para isso, precisamos introuzir alguns conceitos
que também serão importantes. Lembre-se de que o bi-dual X ∗∗ de um espaço normado
X é o dual do seu dual, isto é X ∗∗ = (X ∗ )∗ .
Proposição 4.2.4. Seja (X, || · ||X ) um K-espaço normado. Para cada x ∈ X definimos
uma aplicação J(x) : X ∗ → K por
J(x)(f ) = f (x),
e isso mostra que J(x) é uma aplicação linear. Por outro lado, se ||f ||X ∗ ≤ 1, então temos
donde ||J(x)||X ∗∗ ≤ ||x||X . Isso mostra que J(x) ∈ X ∗∗ . Para provar a desigualdade
inversa podemos assumir que x 6= 0X , uma vez que claramente J(0X ) = 0X ∗∗ . Daı́, pelo
Exercı́cio 3.13, tome f0 ∈ X ∗ tal que
x
f0 = ||f0 ||X ∗ = 1.
||x||X
e assim temos ||J(x)||X ∗∗ = ||x||X , donde J é uma isometria. Para verificar que J é linear,
sejam x, z ∈ X e α ∈ K. Daı́, para qualquer f ∈ X ∗ vale que
e isso mostra que J(x + αz) = J(x) + αJ(z). A última afirmação decorre do fato de que
uma isometria linear entre espaços normados é sempre um isomorfismo sobre sua imagem
(veja o Exercı́cio 2.15).
Proposição 4.2.5. Seja (X, ||·||) um espaço normado. Se xn * x em X, então (||xn ||)n∈N
é uma sequência limitada de números reais. Além disso, ||x|| ≤ lim inf n→∞ ||xn ||.
uma vez que f (xn ) → f (x) em K. Segue que podemos aplicar o princı́pio da limitação
uniforme (Teorema 3.3.2) para a famı́lia de operadores {x̂n : X ∗ → K : n ∈ N}, onde
observamos que X ∗ é Banach mesmo que X não o seja, e tomar c ∈ R tal que
|x̂n (f )| ≤ c,
cuja existência é garantida pelo Exercı́cio 3.13. Segue que c ≥ |fn (xn )| = ||xn || para todo
n ∈ N, donde (||xn ||)n∈N é limitada. Para a outra afirmação, note que da convergência
fraca vem que para todo funcional f ∈ X ∗ vale que
e, além disso, como J é uma isometria, temos ||x̂||X ∗∗ = ||x|| e ||x̂n ||X ∗∗ = ||xn || para cada
n ∈ N. Se f ∈ BX ∗ , então
isto é, para f ∈ BX ∗ fixado, temos que a sequência |x̂n | é dominada pela sequência ||xn ||.
Assim, fazendo n → ∞ temos
Observação 4.2.5. Optamos por dar uma prova detalhada deste resultado, devido à sua im-
portância. Entretanto, note que ele é uma consequência imediata do teorema de Banach-
Steinhaus (Exercı́cio 3.19) pondo Tn = x̂n ∈ L(X ∗ , R) = X ∗∗ . É claro que também
usamos o fato de que J é uma isometria. Intuitivamente, usamos J para “enxergar”os
pontos de X como operadores limitados, e daı́ podemos aplicar o princı́pio da limitação
uniforme.
A seguir, mostraremos que as topologias fraca e forte nunca coincidem em um espaço
normado de dimensão infinita. Em outras palavras, há abertos da topologia forte que
não são abertos na topologia fraca. Este fato seguirá como consequência imediata do
próximo lema, que dá uma interpretação geométrica das vizinhanças da topologia fraca
(veja também o Exercı́cio 4.7).
Lema 4.2.1. Seja (X, || · ||) um espaço normado de dimensão infinita, e tome finitos
funcionais f1 , . . . , fm ∈ X ∗ . Então, se Y é um subespaço vetorial de X tal que dim(Y ) >
m, existe um vetor não-nulo y ∈ Y tal que fj (y) = 0 para todo j = 1, . . . , m.
(f1 , . . . , fm ) : Y → Km .
Como dim(Y ) > m = dim(Km ) segue que existe um vetor não-nulo y ∈ Y tal que
(f1 (y), . . . , fm (y)) = 0Km . Assim, fj (y) = 0 para cada j = 1, . . . , m.
{x + ty : t ∈ R} ⊆ V (x, f1 , . . . , fm , ε),
e como ||x + ty|| ≥ |t| · ||y|| − ||x|| temos que existem vetores de norma arbitrariamente
grande em V (x, f1 , . . . , fm , ε). Segue que as topologias fraca e forte são diferentes, uma
vez que a topologia forte contém abertos limitados na norma (qualquer bola aberta da
norma, por exemplo). Uma vez que já sabemos que a topologia fraca é menos fina do que
a topologia forte, temos que essa relação é estrita.
Observe que a existência de uma reta passando por x em uma vizinhança qualquer
V (x, f1 , . . . , fm , ε) da topologia fraca tem a seguinte consequência geométrica intuitiva:
qualquer vizinhança de um ponto do interior da bola unitária BX deve intersectar a
esfera unitária de (X, || · ||):
SX = {x ∈ X : ||x|| = 1}.
É claro que isso não é verdade para a topologia forte. Segue que os pontos de BX são
pontos do fecho de SX na topologia fraca. A seguir, vamos provar formalmente que esses
dois conjuntos são, de fato, iguais. Para o que segue, o fecho de um subconjunto A ⊆ X
na topologia fraca será denotado por clσ(X,X ∗ ) (A). Por simplicidade da notação, o fecho
de A na norma (ou seja, na topologia forte) continuará sendo denotado por cl(A).
Proposição 4.2.6. Se (X, || · ||) é um espaço normado de dimensão infinita, então vale
que
clσ(X,X ∗ ) (SX ) = BX .
x ∈ V (x, f1 , . . . , fm , ε) ⊆ U.
Pelo Lema 4.2.1 podemos tomar um vetor não-nulo y ∈ X tal que fj (y) = 0 para cada
j = 1, . . . , m. Daı́, afirmamos que
{x + ty : t ∈ R} ⊆ V (x, f1 , . . . , fm , ε).
Com efeito, para todo t ∈ R e para qualquer j = 1, . . . , m vale que |fj (x + ty) − fj (x)| =
0 < ε. Agora, note que a função g : R → R dada por
é contı́nua, e que g(0) = ||x|| < 1. Como sempre vale que g(t) ≥ |t| · ||y|| − ||x||, temos
||x|| + 1
g ≥ 1.
||y||
4.2. A TOPOLOGIA FRACA 75
Pelo teorema do valor intermediário segue que existe t0 ∈ R tal que ||x + t0 y|| = 1. Assim,
x + t0 y ∈ U ∩ SX , e portanto temos que BX ⊆ clσ(X,X ∗ ) (SX ).
Agora, vamos mostrar a inclusão reversa. Para isso, é suficiente mostrar que BX é
fechado na topologia fraca, uma vez que a inclusão SX ⊆ BX implica imediatamente que
Afirmamos que
Segue que f0 ∈ BX ∗ , mas |f0 (x)| = ||x|| > 1. Agora, note que de (4.2.2) vem imediata-
mente
\
BX = {x ∈ X : |f (x)| ≤ 1}.
f ∈BX ∗
para todo x ∈ K. Logo, pondo U = f −1 ((−∞, α)) segue que U é um aberto da topologia
fraca que contém x0 e não intersecta K, e isso mostra que X \ K é aberto. Agora, se
X é um C-espaço vetorial, considere XR como no Lema 3.2.1 e seja f ∈ XR∗ como dado
anteriormente. Daı́, se g : X → C é dado por
Proposição 4.2.8. Em um espaço normado de dimensão finita (X, ||·||) a topologia fraca
coincide com a topologia forte.
Demonstração. É claro que é suficiente mostrar que toda bola aberta da topologia forte é
um aberto da topologia fraca. Seja B(x0 , ρ) uma bola aberta da norma, e fixe uma base
E = {e1 , . . . , en } de X em que todos os vetores são unitários. Para cada j = 1, . . . , n seja
fj o único funcional linear em X tal que fj (ej ) = 1 e fj (ei ) = 0 se i 6= j. Afirmamos que
Teorema 4.2.1. Sejam (X, || · ||) e (Y, || · ||) espaços de Banach, e seja T : X → Y um
operador linear. Então, T é contı́nuo com respeito às topologias fortes em X e Y se, e
somente se, T é contı́nuo com respeito às topologias fracas em X em Y .
Demonstração. Primeiro, suponha que T é contı́nua nas topologias fortes de X e Y . Para
mostrar que T : (X, σ(X, X ∗ )) → (Y, σ(Y, Y ∗ )) é contı́nua, vamos usar a Proposição 4.1.2.
Precisamos mostrar que f ◦ T : (X, σ(X, X ∗ )) → K é contı́nua para qualquer f ∈ Y ∗ .
Note que, se f ∈ Y ∗ , então f ◦ T ∈ X ∗ (composição de aplicações contı́nuas na topologia
forte). Segue da definição da topologia fraca que f ◦T é contı́nua com respeito à σ(X, X ∗ ).
Agora, assuma que T é contı́nua nas topologias fracas de X e Y . Para mostrar
que T : (X, || · ||) → (Y, || · ||) é contı́nua. O gráfico de T em X × Y é fechado na
topologia produto σ(X, X ∗ ) × σ(Y, Y ∗ ) em X × Y , que claramente igual à topologia
σ(X × Y, (X × Y )∗ ). Como todo conjunto fracamente fechado é fortemente fechado, segue
que graf(T ) é fechado na topologia forte de X ×Y . Assim, pelo teorema do gráfico fechado
segue que T é contı́nua nas topologias fortes de X e Y .
4.3. A TOPOLOGIA FRACA∗ 77
Observação 4.3.3. Observe que aqui precisamos assumir que X é um espaço de Banach
para poder usar o teorema de Banach-Steinhaus. Isso não foi necessário na Proposição
4.2.5, uma vez que naquele caso os funcionais são definidos em X ∗ , que é Banach mesmo
se X não o for.
É fácil perceber que se X é um espaço normado de dimensão finita, então J(X) = X ∗∗
(isto é, todos os espaços de dimensão finita são reflexivos). Segue, portanto, que neste caso
as topologias fraca e fraca∗ em X ∗ coincidem. Essas topologias também coincidem com
a topologia forte em X ∗ , uma vez que as topologias fraca e forte coincidem em dimensão
finita, e é claro que a dimensão de X ∗ é finita.
Antes de prosseguir, precisamos de dois lemas técnicos sobre álgebra linear em espaços
de dimensão finita. A prova do primeiro deles é muito simples, e dessa forma a omitiremos.
4.3. A TOPOLOGIA FRACA∗ 79
para cada x ∈ X. É claro que G é linear, e portanto Im(G) é um subespaço de Km+1 . Note
que da hipótese temos que o ponto e1 = (1, 0, . . . , 0) não pertence a Im(G), e portanto
segue que Im(G) é um subespaço próprio. Assim, do Lema 4.3.1 segue que existe um
funcional linear f : Km+1 → K tal que f |Im(G) = 0 e f (1, 0, . . . , 0) 6= 0. Denote por
{en : 1 ≤ n ≤ m + 1} a base canônica de Km+1 . Ponha λ = f (e1 ), e βj = f (ej+1 ) para
cada j = 1, . . . , m. Daı́, para todo x ∈ X temos
m
X
0 = f (G(x)) = f (g(x)e1 + g1 (x)e2 + . . . + gm (x)em+1 ) = λg(x) + βj gj (x).
j=1
Note que λ = f (e1 ) = f (1, 0, . . . , 0) 6= 0. Assim, escrevendo λj = −βj /λ, para cada
j = 1, . . . , m, segue a igualdade desejada.
como querı́amos.
80 CAPÍTULO 4. ESPAÇOS DE BANACH: PARTE II
Observação 4.3.4. Observe cuidadosamente que esta proposição diz que qualquer funcional
linear contı́nuo na topologia fraca∗ é um funcional de J(X).
Corolário 4.3.1. Seja X um espaço de Banach. As topologias fraca e fraca∗ no seu dual
X ∗ coincidem se, e somente se, X é reflexivo.
Demonstração. Se X é reflexivo, então as famı́lias de funcionais J(X) e X ∗∗ coincidem,
portanto as topologias fraca e fraca∗ são iguais. Agora, se σ(X ∗ , X) e σ(X ∗ , X ∗∗ ) coinci-
dem, segue que se ϕ ∈ X ∗∗ , então ϕ é contı́nua com respeito à topologia fraca∗ . Assim,
f ∈ J(X), e isso mostra que X é reflexivo.
e portanto é suficiente provar que cada um dos conjuntos Sx,y e Pλ,x é fechado na topologia
produto. Mas isso vem diretamente das igualdades
Sx,y = (πx+y − πx − πy )−1 (0), e
Pλ,x = (πλx − λπx )−1 (0),
que mostram que Sx,y e Pλ,x são pré-imagens de conjuntos fechados por aplicações contı́nuas
(lembre-se de que as projeções são contı́nuas na topologia produto), donde são fechados.
Segue que K é a interseção de um compacto na topologia produto com um fechado
na topologia produto, e portanto K é compacto na topologia produto. Com efeito, K1 é
fechado na topologia produto, em particular (veja a Proposição 1.4.2 e o Exercı́cio 4.2).
Assim, se A é uma cobertura por abertos de K, então A ∪ {KX \ K} é uma cobertura por
abertos de KX , e em particular, uma cobertura por abertos de K1 . Como K1 é compacto,
segue que essa cobertura admite subcobertura finita A0 ∪ {KX \ K}. Daı́, temos que a
coleção finita A0 cobre K, e isso mostra que toda cobertura de K por abertos admite
subcobertura finita.
82 CAPÍTULO 4. ESPAÇOS DE BANACH: PARTE II
para qualquer j = 1, . . . , m.
para quaisquer β1 , . . . , βm ∈ K.
Demonstração. Primeiro, assuma que (i) vale, e sejam β1 , . . . , βm ∈ K dados arbitraria-
mente. Dado ε > 0, seja xε ∈ BX como em (i). Assim,
m m
m m
X X X X
βj fj (xε ) − βj αj ≤ |βj | · |fj (xε ) − αj | < ε |βj |,
j=1 j=1 j=1 j=1
onde o fecho é tomado na norma `m ∞ (ou em qualquer outra norma, uma vez que K
m
tem dimensão finita). Assuma que v ∈ / cl(G(BX )). É claro que podemos considerar Km
como um espaço vetorial sobre R, e assim, como cl(G(BX )) é fechado e convexo, segue
do Exercı́cio 3.16 que existe um hiperplano real que separa estritamente v e cl(G(BX )).
Em particular, existem α ∈ R e um funcional R-linear g : Km → R tais que
g(y) < α < g(v)
para todo y ∈ cl(G(BX )). Além disso, como cl(G(BX )) é simétrico com respeito à origem
(pois BX o é, e G é linear), temos que |g(y)| < α < g(v) para qualquer y ∈ cl(G(BX )).
Se {e1 , . . . , em } é a base canônica de Km (como K-espaço vetorial) e βj = g(ej ) para cada
j = 1, . . . , m, então para todo x ∈ BX vale que
m
X
|g(G(x))| = |g(f1 (x), . . . , fm (x))| = βj fj (x) < α,
j=1
e isso contradiz a hipótese (ii). Segue que v ∈ cl(G(BX )), e portanto (i) vale.
Teorema 4.4.1 (Kakutani). Um espaço de Banach X é reflexivo se, e somente se, sua
bola unitária BX é compacta na topologia fraca.
Demonstração. Suponha que X é reflexivo. Assim, J(BX ) = BX ∗∗ , e pelo teorema de
Banach-Alaoglu-Bourbaki (Teorema 4.3.1) temos que BX ∗∗ é compacta na topologia fraca∗
σ(X ∗∗ , X ∗ ) do bi-dual X ∗∗ . Logo, é suficiente mostrar que
J −1 : (X ∗∗ , σ(X ∗∗ , X ∗ )) → (X, σ(X, X ∗ ))
é uma aplicação contı́nua. Pela Proposição 4.1.2 vale que a aplicação acima é contı́nua se,
e somente se, f ◦ J −1 : (X ∗∗ , σ(X ∗∗ , X ∗ )) → K é contı́nua para cada f ∈ X ∗ . Isso ocorre,
de fato. Para verificar esta afirmação, note que se f ∈ X ∗ , então como X é reflexivo,
temos que todo elemento de X ∗∗ é da forma x̂ para algum x ∈ X, e
f ◦ J −1 (x̂) = f (x) = x̂(f ) = J ∗ (f )(x̂),
onde o leitor deve se lembrar de que J ∗ : X ∗ → X ∗∗∗ é a aplicação canônica de X ∗ . Segue
que f ◦ J −1 é um funcional de J ∗ (X ∗ ), e portanto é contı́nuo na topologia σ(X ∗∗ , X ∗ ).
Lembre-se de que σ(X ∗∗ , X ∗ ) é, por definição, a topologia menos fina em X ∗∗ com respeito
à qual todos os funcionais de J ∗ (X ∗ ) são contı́nuos.
Assuma agora que BX é compacta na topologia fraca de X. A aplicação canônica J
de X com as topologias fraca no domı́nio e fraca∗ na imagem:
J : (X, σ(X, X ∗ )) → (X ∗∗ , σ(X ∗∗ , X ∗ ))
é contı́nua. Com efeito, usando a Proposição 4.1.2 novamente, basta verificar que fˆ ◦ J :
(X, σ(X, X ∗ )) → K é contı́nua para qualquer fˆ = J ∗ (f ) ∈ J ∗ (X ∗ ). Se fˆ ∈ J ∗ (X ∗ ), então
fˆ(J(x)) = fˆ(x̂) = x̂(f ) = f (x)
para todo x ∈ X, donde fˆ ◦ J = f ∈ X ∗ . Como todos os funcionais de X ∗ são contı́nuos
na topologia fraca em X, segue que fˆ◦J é contı́nua. Agora que temos a continuidade de J
nas topologias fracas de X e fraca∗ do bi-dual, segue que hipótese que J(BX ) é compacta
na topologia σ(X ∗∗ , X ∗ ). Como a topologia fraca∗ é Hausdorff, segue que J(BX ) é fechado
na topologia σ(X ∗∗ , X ∗ ). Assim, da Proposição 4.4.1 segue que
J(BX ) = clσ(X ∗∗ ,X ∗ ) (J(BX )) = BX ∗∗ ,
onde lembramos que sempre temos J(BX ) ⊆ BX ∗∗ , uma vez que J é uma isometria. Dessa
igualdade vem imediatamente que J(X) = X ∗∗ , isto é, que X é reflexivo.
4.4. ESPAÇOS REFLEXIVOS 85
Corolário 4.4.1. Todo subespaço vetorial fechado (na topologia forte ou na topologia
fraca) de um espaço reflexivo é reflexivo (com a norma induzida).
Demonstração. Primeiro, lembre-se de que um subespaço vetorial é um conjunto convexo,
e portanto é fechado na topologia fraca se, e somente se, é fechado na topologia forte (veja
a Proposição 4.2.7). Seja X um espaço reflexivo, e seja Y ⊆ X um subespaço vetorial
fechado. A bola unitária BY = BX ∩ Y de Y é a interseção do compacto BX da topologia
fraca com o fechado Y da topologia fraca. Segue do Exercı́cio 1.14 que BY é compacto com
a topologia σ(X, X ∗ ) induzida. Uma vez que, pelo Exercı́cio 4.17, a topologia σ(X, X ∗ )
induzida em Y coincide com a topologia σ(Y, Y ∗ ), temos que BY é compacto na topologia
σ(Y, Y ∗ ), portanto Y é reflexivo.
Proposição 4.4.2. Um espaço de Banach é reflexivo se, e somente se, seu dual é refle-
xivo.
Demonstração. Primeiro, assuma que X é reflexivo, e lembre-se de que denotamos a
aplicação canônica de X ∗ por J ∗ : X ∗ → X ∗∗∗ . Precisamos mostrar que J ∗ é sobrejetiva.
Portanto, seja ϕ : X ∗∗ → K um funcional linear de X ∗∗∗ . é claro que ϕ ◦ J : X → K é
um funcional de X ∗ , e assim escrevemos ϕ ◦ J = f ∈ X ∗ . Vamos mostrar que ϕ = J ∗f .
Com efeito, como X é reflexivo temos que todo elemento v do domı́nio de ϕ é da forma
Jx para algum x ∈ X. Daı́,
ϕ(v) = ϕ(Jx) = f (x) = x̂(f ) = Jx(f ) = v(f ) = J ∗f (v),
e assim temos o desejado.
Agora, assuma que X ∗ é reflexivo. Uma vez que já sabemos que o dual de um espaço
reflexivo é reflexivo, temos que X ∗∗ é reflexivo. Pelo Exercı́cio 4.28, temos que J(X) é
um subespaço vetorial fechado de X ∗∗ , e portanto, pelo Corolário 4.4.1 vem que J(X) é
reflexivo (com a norma induzida de X ∗∗ , é claro). Como J é um isomorfismo sobre J(X)
com a norma induzida, segue do Exercı́cio 4.29 que X é reflexivo.
Observe que a série converge, uma vez que |f (an )| ≤ ||f ||X ∗ ||an ||X ≤ ||f ||X ∗ . Dessa
desigualdade, também segue que ||f ||A ≤ ||f ||X ∗ para todo f ∈ X ∗ . Além disso, é
imediato notar que a aplicação || · ||A : X ∗ → R é uma norma em X ∗ . Assim, || · ||A induz
naturalmente uma métrica dA em X ∗ por dA (f, g) = ||f − g||A . Nossa estratégia é mostrar
que a topologia induzida em BX ∗ por dA coincide com a restrição da topologia fraca∗ a
BX ∗ .
Vamos começar mostrando que toda vizinhança da topologia fraca∗ em BX ∗ de um
ponto qualquer f0 ∈ BX ∗ contém uma vizinhança de f0 na topologia métrica gerada por
dA . Pelo Exercı́cio 4.18, podemos assumir que a vizinhança considerada
V = V (f0 , x1 , . . . , xm , ε) ∩ BX ∗
da topologia fraca∗ é tal que ||xj ||X ∗ ≤ 1 para qualquer 1 ≤ j ≤ m. Vamos mostrar que
V contém uma bola métrica de dA centrada em f0 (restrita a BX ∗ ). É claro que, para
cada 1 ≤ j ≤ m, existe um ponto anj ∈ A tal que
||xj − anj ||X < ε/4.
Escolha ρ > 0 com a propriedade de que 2nj ρ < ε/2 para todo j = 1, . . . , m. Afirmamos
que a bola aberta de dA
BA (f0 , ρ) = {f ∈ X ∗ : dA (f0 , f ) < ρ}
é tal que BA (f0 , ρ) ∩ BX ∗ ⊆ V . Com efeito, se f ∈ BA (f0 , ρ) ∩ BX ∗ , então
∞
X |f (aj ) − f0 (aj )|
1
|f (a n j
) − f 0 (a nj
)| ≤ = ||f − f0 ||A < ρ,
2nj j=1
2j
m ∞ ∞
r X 1 X ||f − f0 ||X ∗ ||aj ||X r X 1 r 1
≤ j
+ j
< + j−1
= + m−1 < r,
2 j=1
2 j=m+1
2 2 j=m+1 2 2 2
4.4. ESPAÇOS REFLEXIVOS 87
e isso mostra que f ∈ B. Isso nos dá que todo aberto de BX ∗ na topologia métrica gerada
por dA é um aberto da topologia fraca∗ induzida em BX ∗ . Consequentemente, as duas
topologias coincidem em BX ∗ .
Agora, suponha que a topologia fraca ∗ induzida na bola unitária BX ∗ do dual de X
coincide com a topologia gerada por uma métrica d em BX ∗ , e para cada n ∈ N, seja
para εn > 0 e xnj ∈ X, com 1 ≤ j ≤ m(n). Agora, para cada n ∈ N denote o conjunto de
pontos de X que definem a vizinhança Vn por En = {xn1 , . . . , xnm(n) }, e escreva
[
E= En .
n∈N
O conjunto E é enumerável por ser união enumerável de conjuntos finitos. Mais ainda,
afirmamos que cl(span(E)) = X, onde o fecho é tomado na topologia forte. Usando o
ı́tem (a) do Exercı́cio 3.15, devemos mostrar que o único funcional f ∈ X ∗ que se anula
em span(E) é o funcional nulo. Com efeito, se f (x) = 0 para todo x ∈ span(E), então
f (xnj ) = 0 para todo n ∈ N e todo 1 ≤ j ≤ m(n). Segue que f ∈ Vn para todo n ∈ N,
e como Vn ⊆ Bn , temos que d(f, 0X ∗ ) < 1/n para qualquer n ∈ N. Assim, f = 0X ∗ .
Finalmente, como cl(spanQ (E)) = cl(span(E)), segue que spanQ (E) é um subconjunto
enumerável e denso em X (veja a demonstração da Proposição 2.3.1).
Observação 4.4.1. Com uma prova inteiramente análoga é possı́vel mostrar que se o dual
X ∗ de um espaço de Banach X é separável, então a bola unitária BX de X é metrizável
na topologia fraca de X. A volta deste resultado também vale, mas sua demonstração é
bem mais difı́cil.
Corolário 4.4.2. Seja X um espaço de Banach separável. Toda sequência (fn )n∈N de X ∗
que é limitada na norma dual possui subsequência que converge na topologia fraca∗ .
Demonstração. Se (fn )n∈N é uma sequência limitada na norma dual, então podemos assu-
mir que ||fn ||X ∗ < M para qualquer n ∈ N. Segue que a sequência definida por gn = fn /M
é uma sequência em BX ∗ . Como a topologia fraca∗ em BX ∗ é metrizável (pois X é se-
parável), segue do Teorema 1.4.1 que (gn ) tem uma subsequência (gnk ) convergente na
topologia fraca∗ . Pela versão do resultado do Exercı́cio 4.16 para a topologia fraca∗ (veja
o ı́tem (c) do Exercı́cio 4.20) , segue que (fnk ) converge na topologia fraca∗ .
Finalmente, podemos enunciar e provar o principal teorema desta seção, que afirma
que toda sequência limitada em um espaço reflexivo possui uma subsequência fracamente
convergente.
Teorema 4.4.4. Seja X um espaço reflexivo. Qualquer sequência (xn )n∈N em X que é
limitada na norma possui subsequência que converge na topologia fraca de X.
88 CAPÍTULO 4. ESPAÇOS DE BANACH: PARTE II
Demonstração. Seja (xn )n∈N uma sequência limitada em X, e ponha Y = cl(span{xn }). É
claro que Y é um subespaço vetorial fechado de X, e portanto é reflexivo (veja o Corolário
4.4.1). Note que Y também é separável (mais uma vez, o argumento é semelhante ao usado
na Proposição 2.3.1).
Como a aplicação canônica é uma isometria, temos que (x̂n ) é uma subsequência
limitada em Y ∗∗ . Pelo Corolário 4.4.2 temos que existe uma subsequência (x̂nk ) que
converge na topologia fraca∗ de Y ∗∗ para algum ponto de Y ∗∗ . Como Y é reflexivo,
esse limite é da forma x̂ para algum x ∈ Y . Segue que para qualquer f ∈ Y ∗ , vale
que JY ∗ (f )(x̂nk ) → JY ∗ (f )(x̂), onde JY ∗ : Y ∗ → Y ∗∗∗ é a aplicação canônica de Y ∗ .
Lembramos ao leitor que a topologia fraca∗ em Y ∗∗ é a topologia menos fina que faz com
que todos os funcionais da imagem de JY ∗ sejam contı́nuos, e estamos usando a Proposição
4.1.1. Como
JY ∗ (f )(ŷ) = ŷ(f ) = f (y)
para todo y ∈ Y , temos que f (xnk ) → f (x) para todo f ∈ Y ∗ . Agora, seja g ∈ X ∗
arbitrário. A restrição g|Y = f é claramente um funcional em Y ∗ , e portanto g(xnk ) =
f (xnk ) → f (x) = g(x). Assim, usando mais uma vez a Proposição 4.1.1, temos que
xnk * x em X.
4.5 Exercı́cios
Exercı́cio 4.1. Sejam X um conjunto, e F1 e F2 coleções de aplicações de X sobre
espaços topológicos. Mostre que se F1 ⊆ F2 , então σ(X, F1 ) ⊆ σ(X, F2 ).
Exercı́cio 4.2. Mostre que se (Xλ , τλ )λ∈L é uma famı́lia de espaços topológicos de Haus-
dorff, então o produto
Y
Xλ
λ∈L
Q Seja (Xλ , τλ )λ∈L uma famı́lia de espaços topológicos, e seja ⊗τλ a topologia
Exercı́cio 4.3.
produto em λ∈L Xλ . Para cada λ ∈ L, seja Yλ ⊆ Xλ um subconjunto, e denote a
topologia
Q induzida em Yλ porQτYλ . Prove que a topologia produto ⊗τλ induzida em
Y
λ∈L λ como subconjunto de λ∈L Xλ coincide com a topologia produto ⊗τYλ .
Exercı́cio 4.4. Seja X um espaço normado, e seja K ⊆ X um subconjunto que é com-
pacto na topologia forte. Seja (xn )n∈N uma sequência em K tal que xn * x para algum
x ∈ X. Prove que x ∈ K e que xn → x.
Exercı́cio 4.5. Sejam X um espaço normado e Y ⊆ X um subconjunto qualquer. Mostre
que intσ(X,X ∗ ) (Y ) ⊆ int(Y ), e cl(Y ) ⊆ clσ(X,X ∗ ) (Y ).
Exercı́cio 4.6. Seja (X, || · ||) um espaço normado, e assuma que xn * x em X e que
fn → f em X ∗ . Mostre que fn (xn ) → f (x) em K (caso haja dúvida quanto à notação,
consulte a Observação 4.2.3).
Exercı́cio 4.7. Seja (X, || · ||) um espaço normado de dimensão infinita, e sejam x ∈ X,
f1 , . . . , fm ∈ X ∗ e ε > 0. Mostre que para todo k ∈ N existem vetores linearmente
independentes y1 , . . . , yk ∈ X tais que
{x} + span{y1 , . . . , yk } ⊆ V (x, f1 , . . . , fm , ε).
Verifique, também, que isso não ocorre para espaços normados de dimensão finita.
4.5. EXERCÍCIOS 89
Observação 4.5.1. Este exercı́cio mostra que, em dimensão infinita, qualquer aberto da
topologia fraca contém translações de subespaços vetoriais de dimensão finita arbitraria.
Exercı́cio 4.8. Em um espaço normado de dimensão infinita, prove que a bola aberta da
norma B(0X , 1) = {x ∈ X : ||x|| < 1} não é aberta na topologia fraca.
Observação 4.5.2. Mais ainda, B(0X , 1) tem interior vazio na topologia fraca, assim como
qualquer conjunto limitado na norma (veja o Corolário 4.2.1). O mesmo vale para a
topologia fraca∗ .
Exercı́cio 4.9. Uma combinação convexa (finita) de vetores x1 , . . . , xn de um espaço
vetorial X é um vetor da forma
x = λ1 x1 + λ2 x2 + . . . + λn xn ,
(b) Prove que conv(A) é a interseção de todos os conjuntos convexos que contém A.
(b) Assuma que dim(X) = ∞. Mostre que V não é limitado na norma dual X ∗ .
(c) Enuncie e prove resultados análogos aos dos Exercı́cios 4.14, 4.15 e 4.16 para as
vizinhanças da topologia fraca∗ .
Exercı́cio 4.21. Como consequência da versão do Exercı́cio 4.15 para a topologia fraca∗ ,
prove que para quaisquer f0 ∈ X ∗ e α ∈ K não-nulo a bola f0 + αBX ∗ é compacta na
topologia fraca∗ .
Exercı́cio 4.22. Sejam ϕ : X ∗ → K um funcional linear não-nulo, e seja α ∈ K. Prove
que se o hiperplano
h(ϕ, α) = {f ∈ X ∗ : ϕ(f ) = α}
Exercı́cio 4.26. Mostre que a topologia σ(X ∗ , J(Y )) restrita a Y ⊥ é a topologia trivial
em Y ⊥ .
Exercı́cio 4.27. Seja X um espaço de Banach, e seja J sua aplicação canônica. Prove
que J(BX ) é fechado em BX ∗∗ na topologia forte. Conclua que J(BX ) é denso em BX ∗∗
na topologia forte se, e somente se, X é reflexivo.
Exercı́cio 4.32. Seja (X, || · ||) um espaço normado de dimensão infinita. Prove que a
norma não é contı́nua na topologia fraca σ(X, X ∗ ). Mostre, também, que a norma dual
em X ∗ não é contı́nua na topologia fraca∗ de X ∗ .
Exercı́cio 4.34. Seja X um espaço normado. Mostre que se (BX ∗ , σ(X ∗ , X)) é metrizável,
então (x0 +αBX ∗ , σ(X ∗ , X)) é metrizável para todo x0 ∈ X e para qualquer escalar α ∈ K
não-nulo. Conclua que se X é um espaço de Banach separável, então todas as bolas
(fechadas) da norma dual são metrizáveis com a topologia fraca∗ .
Exercı́cio 4.36. Sejam X um espaço de Banach, e X ∗ o seu dual. Prove que um sub-
conjunto F ⊆ X ∗ é compacto com a topologia fraca∗ se, e somente se, F é fechado na
topologia fraca∗ e limitado na norma.
Exercı́cio 4.37. Seja X um espaço de Banach reflexivo, e seja (xn )n∈N uma sequência
com a propriedade de que para qualquer f ∈ X ∗ a sequência (f (xn ))n∈N converge em K.
Prove que existe x ∈ X tal que xn * x.
92 CAPÍTULO 4. ESPAÇOS DE BANACH: PARTE II
Capı́tulo 5
Espaços de Hilbert
5.1 Definição
Neste capı́tulo, continuamos a trabalhar com espaços vetoriais sobre um corpo K = R ou
C. O conjugado de um escalar α = Re(α) + iIm(α) é o escalar ᾱ = Re(α) − iIm(α). É
claro que ᾱ = α se, e somente se, α ∈ R. Além disso, observe que α + β = ᾱ + β̄ e que
αβ = ᾱβ̄ para quaisquer α, β ∈ K, e que o conjugado de ᾱ é α.
Definição 5.1.1. Um produto interno em um K-espaço vetorial é uma aplicação h·, ·i :
X × X → K tal que para quaisquer x, y, z ∈ X e α ∈ K valem:
93
94 CAPÍTULO 5. ESPAÇOS DE HILBERT
|hx, yi|2
0 ≤ ||x||2 − ,
||y||2
donde vem a desigualdade desejada. A igualdade ocorre se, e somente se, x = αy. Para
verificar que || · || é uma norma, apenas a desigualdade triangular não é imediata. Sejam,
portanto, x, y ∈ X. Daı́,
p p
||x + y|| = hx + y, x + yi = ||x||2 + 2Rehx, yi + ||y||2 ≤
p p
≤ ||x||2 + 2|hx, yi| + ||y||2 ≤ ||x||2 + 2||x|| ||y|| + ||y||2 =
= ||x|| + ||y||,
Definição 5.1.2. A norma introduzida em um espaço de produto interno (X, h·, ·iX )
como no Lema 5.1.1 é chamada de norma do produto interno. Se X é um espaço de
Banach com essa norma, então dizemos que (X, h·, ·iX ) é um espaço de Hilbert. Se || · || é
uma norma emp um espaço vetorial X para a qual existe um produto interno h·, ·i em X
tal que || · || = h·, ·i, então dizemos que || · || deriva de um produto interno.
onde (αn ) e (βn ) são sequências em `2 (N). De fato, a norma induzida por esse produto
interno é a norma usual de `2 (N). Veja o Exemplo 6.5.2.
5.1. DEFINIÇÃO 95
Definição 5.1.3. Seja X um espaço de produto interno. Dois vetores x, y ∈ X são ditos
ortogonais se hx, yi = 0. Denotaremos a ortogonalidade de vetores por x ⊥ y. Dizemos
que dois subconjuntos Y, Z ⊆ X são ortogonais (e denotamos por Y ⊥ Z) se hy, zi = 0
para quaisquer y ∈ Y e z ∈ Z. Dado Y ⊆ X, o conjunto
X = Y ⊕ Y ⊥.
e isso mostra que (yn ) é uma sequência de Cauchy na norma do produto interno. Como
X é um espaço de Hilbert, segue que existe y ∈ X tal que yn → y (na norma), e como Y
é um subespaço fechado, temos que y ∈ Y . Além disso, uma vez que a norma é contı́nua
na topologia forte, temos que ||x − y|| = limn→∞ ||x − yn || = δ.
Em dimensão finita, temos a intuição geométrica de que a distância de um vetor w a
um subespaço que não contém w é realizada na projeção ortogonal de w sobre o subespaço.
Vamos obter algo semelhante aqui: mostraremos que x − y ∈ Y ⊥ . Para isso, note que
dados quaisquer z ∈ Y e t ∈ K, vale que
Definição 5.1.5. Sejam (X, h·, ·i) um espaço de Hilbert, e Y ⊆ X um subespaço vetorial
fechado na norma do produto interno. Para cada x ∈ X, seja x = y + y ⊥ a decomposição
de x dada pelo Teorema 5.1.1, e denote y = projY (x). Em outras palavras, projY (x)
é a componente em Y da decomposição de x na soma direta Y ⊕ Y ⊥ . Denominamos
y = projY (x) a projeção ortogonal de x sobre Y . A aplicação projY : X → Y é a projeção
ortogonal sobre Y .
Proposição 5.1.1. Seja Y um subespaço fechado não-trivial de um espaço de Hilbert
(X, h·, ·i). A projeção ortogonal projY : X → Y é um operador linear, limitado (onde Y
é considerado com a norma induzida) e sobrejetivo.
Demonstração. A decomposição de y ∈ Y é y = y + 0X , donde a restrição da aplicação
projY a Y é o operador identidade de Y , e daı́ segue a sobrejetividade. Para a linearidade,
sejam x, z ∈ X, e escreva as decomposições
x = y + y⊥,
z = w + w⊥ ,
com y, w ∈ Y e y ⊥ , w⊥ ∈ Y ⊥ . Seja, também, α ∈ K. Daı́, escrevemos
x + αz = y + αw + (y ⊥ + αw⊥ ),
e notamos que, como Y e Y ⊥ são subespaços vetoriais, valem que y+αw ∈ Y e y ⊥ +αw⊥ ∈
Y ⊥ . Da unicidade da decomposição na soma direta Y ⊕ Y ⊥ , segue que
projY (x + αz) = y + αw = projY (x) + αprojY (z),
e isso mostra a linearidade. Para verificar que projY é um operador limitado, note que
decompondo x = y + z, então pelo Exercı́cio 5.3 temos
||x||2 = ||y||2 + ||z||2 ≥ ||y||2 ,
donde ||projY (x)|| = ||y|| ≤ ||x||. Segue que ||projY ||L(X,Y ) ≤ 1. Na realidade, temos de
fato que ||projY ||L(X,Y ) = 1, uma vez que ||projY (y)|| = ||y|| para qualquer y ∈ Y .
5.2. REPRESENTAÇÃO DE RIESZ 97
e assim vem que ||fx ||X ∗ ≤ ||x||X . Para verificar que a igualdade vale, apenas note que
|fx (x)| = |hx, xiX | = ||x||2X . Isso significa
fx x
= ||x||X ,
||x||X
donde ||fx ||X ∗ ≥ ||x||X . Observe que isso mostra que F : X → X ∗ é uma isometria.
Vamos provar que F é sobrejetiva. Se f ∈ X ∗ , então ker(f ) é subespaço fechado de X
(pois é a pré-imagem do fechado {0} ⊆ K pela aplicação contı́nua f : X → K), e assim,
pelo Teorema 5.1.1, podemos escrever X como a soma direta
X = ker(f ) ⊕ ker(f )⊥
Se f = 0X ∗ , então é claro que F (0X ) = f , então podemos assumir que f não é o funcional
nulo. Nesse caso, o núcleo ker(f ) é um subespaço próprio, e daı́ segue que ker(f )⊥ não
é trivial. Consequentemente, ker(f )⊥ contém um vetor não-nulo x0 , e multiplicando por
um escalar podemos assumir que ||x0 ||X = 1. Observe que
0 = hx0 , f (x)x0 − f (x0 )xiX = f (x)||x0 ||2 − hx0 , f (x0 )xiX = f (x) − hf (x0 )x0 , xiX
para qualquer x ∈ X. Logo, temos que f = F f (x0 )x0 , e isso mostra que F é sobreje-
tora. A injetividade vem do fato de que se F (x) = F (z), então hx − z, ·iX : X → K é o
funcional nulo. Portanto, hx − z, x − ziX = 0, donde x = z. Finalmente, se x, z ∈ X e
α ∈ K, então
F (x + αz)(y) = hx + αz, yiX = hx, yiX + ᾱhy, ziX = F (x)(y) + ᾱF (z)(y),
FX ∗ ◦ FX (x) = x̂,
o que significa provar que FX ∗ ◦ FX (x)(f ) = x̂(f ) para qualquer f ∈ X ∗ , onde notamos
que FX ∗ ◦ FX (x) ∈ X ∗∗ , e portanto é um funcional cujo domı́nio é X ∗ . Seja FX (x) = fx .
O funcional FX ∗ (FX (x)) = FX ∗ (fx ) ∈ X ∗∗ é definido como
e isso mostra o desejado. Como FX e FX ∗ são sobrejetivas, segue que a aplicação canônica
de X é sobrejetiva.
b(x, y) = hT x, yiY
para quaisquer x ∈ X e y ∈ Y .
Demonstração. Para cada x ∈ X fixado, temos que bx : Y → K definido por bx (y) =
b(x, y) é um funcional linear em Y . É claro que se x = 0X , então bx é o funcional nulo, e
se x 6= 0X , então para todo y ∈ BX vale que
x
|bx (y)| = |b(x, y)| = ||x||X b , y ≤ ||x||X ||b||sesq < ∞,
||x||X
donde segue que bx ∈ Y ∗ . Se FY é a identificação de Riesz de Y , então para cada x ∈ X
existe um vetor de Y , que denotaremos por T x, tal que FY (T x) = bx , donde
Observação 5.2.2. Note que temos, de fato, a igualdade ||T ||L(X,Y ) = ||b||sesq . Isso vem da
igualdade ||T x||Y = ||bx ||Y ∗ , que vale para todo x ∈ X, conforme mostrado acima. Assim,
||T x||L(X,Y ) = sup{||T x||Y : x ∈ BX } = sup{||bx ||Y ∗ : x ∈ BX } =
= sup{|b(x, y)| : x ∈ BX e y ∈ BY } = ||b||sesq .
Definição 5.2.2. Seja (X, ||·||) um espaço normado. Uma forma sesquilinear b : X ×X →
K é dita coerciva se existe uma constante c > 0 com a propriedade de que |b(x, x)| ≥ c||x||2
para qualquer x ∈ X.
Note que o produto interno é uma forma sesquilinear coerciva (na norma induzida por
ele próprio, é claro). Isso vem diretamente da definição da norma do produto interno:
vale que |hx, xi| = ||x||2 para qualquer x ∈ X, então basta tomar c = 1.
Teorema 5.2.2 (Lax-Milgram). Sejam (X, h·, ·iX ) um espaço de Hilbert, e b : X ×X → K
uma forma sesquilinear limitada e coerciva. Para todo f ∈ X ∗ existe um vetor zf ∈ X
tal que
f (x) = b(zf , x)
para todo x ∈ X.
Demonstração. Considere a aplicação T : X → X tal que
b(z, x) = hT z, xiX
para quaisquer z, x ∈ X (dada pela Proposição 5.2.1). Vamos usar a coercividade de b
para mostrar que T : X → X é uma bijeção. Para a injetividade, observe que se T w = T z,
então b(z, x) = b(w, x) para qualquer x ∈ X. Em particular, b(z − w, z − w) = 0, donde
0 = |b(z − w, z − w)| ≥ c||z − w||2 ,
e assim temos z = w. Para a sobrejetividade, vamos começar provando que im(T ) é um
subespaço vetorial fechado em X. Para isso, seja (T zn )n∈N uma sequência em im(T ) tal
que T zn → y. Para quaisquer n, m ∈ N vale que
||T zn − T zm ||X ||zn − zm ||X ≥ |hT zn − T zm , zn − zm iX | = |b(zn − zm , zn − zm )| ≥
≥ c||zn − zm ||2X ,
e portanto (zn ) é uma sequência de Cauchy em X (uma vez que (T zn ) é de Cauchy, pois
é convergente). Como X é Hilbert, existe z ∈ X tal que zn → z. Por continuidade segue
que T zn → T z (lembre-se de que T é limitado), e isso prova que a imagem de T é fechada.
Assim, pela Proposição 5.1.1, podemos escrever X como a soma direta
X = im(T ) ⊕ im(T )⊥ .
Por outro lado, se w ∈ im(T )⊥ , então, em particular, temos
0 = |hT w, wiX | = |b(w, w)| ≥ c||w||2 ,
e, portanto, vem que w = 0X . Isso mostra que im(T )⊥ é o espaço vetorial trivial, e daı́
segue que im(T ) = X.
Agora, dado f ∈ X ∗ , seja z ∈ X tal que FX (z) = fz = f , onde FX é a identificação
de Riesz de X. Pondo zf = T −1 (z) temos
b(zf , x) = b(T −1 z, x) = hT (T −1 z), xiX = hz, xiX = fz (x) = f (x)
para todo x ∈ X. Para verificar a unicidade de zf , basta aplicar o mesmo argumento
usado para provar que T é injetiva.
5.3. O ADJUNTO DE HILBERT 101
T a (g) = g ◦ T,
para cada g ∈ Y ∗ (veja o Exercı́cio 4.23 e a Observação 7.4.3). Dessa forma, um operador
limitado entre espaços de Banach induz um operador limitado entre seus duais. Se os
espaços envolvidos são Hilbert, então usando a identificação de Riesz podemos representar
o adjunto como um operador entre os espaços originais, e não mais entre seus duais.
Definição 5.3.1. Sejam X e Y espaços de Hilbert, e denote por FX e FY as identificações
de Riesz de X e Y , respectivamente. Se T ∈ L(X, Y ), então o adjunto de Hilbert de T é
o operador T ∗ definido por
T ∗ = (FX )−1 ◦ T a ◦ FY : Y → X.
||T ∗ y||X = ||FX−1 (T a (FY (y)))||X = ||T a (FY (y))||X ∗ ≤ ||T a ||L(Y ∗ ,X ∗ ) ||FY (y)||Y ∗ =
= ||T ||L(X,Y ) ||y||Y ,
e daı́ segue ||T ∗ ||L(Y ∗ ,X ∗ ) ≤ ||T ||L(X,Y ) . Para verificar que a igualdade vale, seja (gn )
uma sequência em BY ∗ tal que ||T a gn ||X ∗ → ||T a ||L(Y ∗ ,X ∗ ) , e para cada n ∈ N seja
yn = FY−1 (gn ). Assim, cada yn é um ponto de BY (pois FY ) é uma isometria, e
donde ||T ∗ yn ||X → ||T a ||L(Y ∗ ,X ∗ ) = ||T ||L(X,Y ) quando n → ∞. Consequentemente, temos
||T ∗ ||L(Y,X) ≥ ||T ||L(X,Y ) , e portanto vale a igualdade.
Agora, sejam x ∈ X e y ∈ Y arbitrários. Por simplicidade, denote FY (y) = gy . Temos
|fx (z)| = |hT x, ziX | = |hx, T ziX | ≤ ||x||X ||T z||X ≤ ||T z||X
que vale sempre que x ∈ BX para qualquer z ∈ X, garante que a famı́lia de operadores
entre espaços de Banach
F = {fx : X → K : x ∈ BX }
para cada z ∈ X fixado. Segue do princı́pio da limitação uniforme (Teorema 3.3.2) que
existe um número c > 0 tal que
e assim vem ||T x||X ≤ c para todo x ∈ X. Isso mostra que T é limitado.
Pelo Teorema 5.3.1, o adjunto de Hilbert T ∗ de T é o único operador linear com a
propriedade de que hT ∗ x, ziX = hx, T ziX para quaisquer x, z ∈ X. Como T tem essa
propriedade por hipótese, segue que T = T ∗ .
Vamos investigar sob que condições algo similar pode ser feito em espaços de dimensão
infinita. Observe que uma base ortonormal em um espaço de Hilbert pode não ser nem
mesmo enumerável, e portanto não podemos definir um análogo direto da soma acima para
o caso de dimensão infinita. Antes, vamos estudar a existência de bases ortonormais. É
um resultado clássico de álgebra linear que todo espaço de Hilbert de dimensão finita
(não-trivial) possui uma base ortonormal. Agora, vamos enunciar e provar um resultado
de existência que também vale para espaços de Hilbert com dimensão infinita.
Teorema 5.4.1. Todo espaço de Hilbert não trivial tem base ortonormal.
Demonstração. Se X um espaço de Hilbert não-trivial, então podemos tomar um vetor
x ∈ X com x 6= 0X , e segue que {x/||x||X } é um subconjunto ortonormal de X. Assim, a
coleção E de subconjuntos ortonormais de X é não-vazia. A inclusão define uma ordenação
parcial em E, e se E 0 ⊆ E é uma subcoleção totalmente ordenada, então a união de todos
os elementos de E 0 é um limite superior para E 0 . Pelo lema de Zorn (Lema 2.3.4), segue
que E possui um elemento maximal E, que vamos provar ser uma base ortonormal. Como
E ⊆ E, temos que E é ortonormal, e portanto, devemos mostrar que cl(span(E)) = X.
Se isso não é verdade, então escrevendo X como a soma direta
X = cl(span(E)) ⊕ cl(span(E))⊥ ,
(ii) λ∈N |heλ , xiX | ≤ ||x||2X , onde a soma é tomada com respeito a qualquer enumeração
P
de N .
é uma seqência monótona e limitada (por ||x||2X ) de números reais. Segue que zn converge,
e que
∞
X
lim zn = |heλj , xiX |2 ≤ ||x||2X ,
n→∞
j=1
e isso é a desigualdade de Bessel para o caso enumerável. Agora, assuma que L não é
enumerável, e para cada m ∈ N considere o conjunto
e note que da desigualdade (5.4.1) temos que cada conjunto Lm é finito. Como é claro
que
∞
[
N= Lm ,
m=1
Note que, para a desigualdade de Bessel, não assumimos que {eλ }λ∈L é uma base
ortonormal, mas sim que é um conjunto ortonormal. A seguir, vamos investigar o caso
em que {eλ }λ∈L é, de fato, uma base ortonormal.
Teorema 5.4.2. Sejam X um espaço de Hilbert, e E = {eλ }λ∈L uma base ortonormal.
Para qualquer x ∈ X, a série de Fourier de x com respeito a E, definida como
X
heλ , xiX eλ ,
λ∈L
5.4. BASES ORTONORMAIS 105
onde, mais uma vez, a soma é feita com respeito à qualquer enumeração de N .
Demonstração. Se x ∈ X, então pela Proposição temos que N = {λ ∈ L : heλ , xiX 6= 0}
é enumerável, e assim, fixando uma enumeração j 7→ λj qualquer de N , podemos denotar
eλj = ej , para cada j ∈ N. Assim, queremos mostrar que
n
X ∞
X
x = lim hej , xiX ej = hej , xiX ej .
n→∞
j=1 j=1
Vamos primeiro garantir que o limite acima existe. Para isso, vamos usar a Proposição
5.4 e mostrar que a sequência de somas parciais é uma sequência de Cauchy em X. Se
m, n ∈ N são tais que m > n, então
m 2 2
X Xn m
X m
X
hej , xiX ej − hej , xiX ej = hej , xiX ej = |hej , xiX |2 → 0
j=1 j=1 X j=n+1 j=n+1
Eσ = {eλ ∈ E : heλ , fσ iX 6= 0}
é enumerável. Além disso, para cada eλ existe σ ∈ LF tal que heλ , fσ iX 6= 0. Com efeito,
se eλ ⊥ fσ para todo σ, então temos que eλ = 0 (veja o Exercı́cio 5.14). Daı́, segue que
[
E= Eσ .
σ∈LF
Ou seja, E se escreve como uma reunião de conjuntos contáveis indexados por LF . Segue
que #E ≤ #F . Repetindo o argumento para F segue a desigualdade inversa. Isso mostra
o desejado.
É um resultado clássico de álgebra linear que dois espaços vetoriais têm a mesma
dimensão se, e somente se, são isomorfos. A noção de isomorfismo em espaços de Hilbert
é dada pelos operadores unitários, definidos no Exercı́cio 5.13. Vamos enunciar e provar
um análogo para essa relação entre isomorfismo e dimensão em espaços de Hilbert.
Proposição 5.5.2. Dois espaços de Hilbert (sobre um mesmo corpo K) são unitariamente
equivalentes se, e somente se, têm a mesma dimensão de Hilbert.
para x ∈ X \span(E), onde (xn ) é qualquer sequência em span(E) tal que xn → x. É claro
que U x independe da sequência escolhida, uma vez que se (zn )n∈N é uma sequência em
span(E) tal que zn → 0X , então U0 zn → 0Y . Além disso, a linearidade de U é imediata, e
também temos da continuidade do produto interno (veja o Exercı́cio 5.2) que U preserva
o produto interno. Assim, para provar que U é um operador unitário, basta verificar que
U é sobrejetivo. Se y ∈ Y , então y = limn→∞ yn para alguma sequência yn ∈ span(F ).
Para cada n ∈ N, escreva
yn = α1n fλ1 + . . . + αkn fλk ,
onde k = k(n) é a quantidade de termos da decomposição de yn como combinação linear
finita de yn . Assim, é claro que
U0 (α1n eλ1 + . . . + αkn fλk ) = yn .
Escrevendo, para cada n ∈ N, xn = α1n eλ1 + . . . + αkn eλk , vem que (xn )n∈N é uma sequência
de Cauchy em X (de novo, estamos lembrando que U0 é uma isometria). Logo, xn → x
em X, e, por definição, U x = y. Isso conclui a prova.
5.6 Exercı́cios
Exercı́cio 5.1. Mostre que a aplicação h·, ·iX introduzida no Exemplo 5.1.1 é, de fato,
um produto interno.
Exercı́cio 5.2. Seja h·, ·i um produto interno em um espaço vetorial X. Prove que para
cada y ∈ X fixado, a aplicação x 7→ hx, yi : X → K é contı́nua na topologia dada em X
pela norma do produto interno. Mostre que isso também é verdade se fixarmos a primeira
coordenada.
108 CAPÍTULO 5. ESPAÇOS DE HILBERT
Exercı́cio 5.3. Seja (X, h·, ·i) um espaço de produto interno, e seja ||·|| a norma induzida
pelo produto interno. Mostre que se x ⊥ y, então ||x + y||2 = ||x||2 + ||y||2 .
Observação 5.6.1. Note que também vale ||x − y||2 = ||x||2 + ||y||2 quando x ⊥ y.
Exercı́cio 5.4. Sejam x, y ∈ (X, h·, ·i). Prove que x ⊥ y se, e somente se,
Exercı́cio 5.6. Prove que se || · || é uma norma induzida por um produto interno em um
espaço vetorial X, então vale que
Observação 5.6.2. A volta deste resultado também vale: se a norma de um espaço normado
satisfaz à lei do paralelogramo, então essa norma deriva de um produto interno.
Observação 5.6.3. É claro que o exercı́cio acima também vale se trocarmos as posições de
Y e Y ⊥ , uma vez que (Y ⊥ )⊥ = Y .
Exercı́cio 5.8. Prove que qualquer norma dada por um produto interno é estritamente
convexa (veja o Exercı́cio 3.12).
(b) Seja U ∈ L(X, Y ) um operador invertı́vel. Prove que U é unitário se, e somente se,
U −1 = U ∗ .
Exercı́cio 5.21. Sejam T e S operadores limitados entre espaços de Hilbert tais que a
composição T ◦ S está bem definida. Prove que (T ◦ S)∗ = S ∗ ◦ T ∗ .
Capı́tulo 6
(a) X ∈ Σ.
(b) Se A ⊆ Σ, então X \ A ∈ Σ.
111
112 CAPÍTULO 6. ESPAÇOS DE FUNÇÕES INTEGRÁVEIS
Lema 6.1.1. Seja F = {Σj }j∈J uma famı́lia qualquer de σ-álgebras de um conjunto X.
A interseção de F é uma σ-álgebra de X.
T
Como X ∈ Σj para cada j ∈ J, segue que X ∈ F. Se A ∈ Σj para todo j ∈ J, então T
como cada Σj é uma σ-álgebra, temos que X \A ∈ Σj para
T cada j ∈ J. Daı́, X \A ∈ F.
Finalmente, se {An }n∈N é uma coleção enumerável
T em F, então sua união pertence a
cada Σj , e portanto pertence à interseção F.
Lema 6.1.2. Equivalentemente, a menor σ-álgebra que contém uma coleção C de subcon-
juntos de X, que denotaremos por ΣC , é a única σ-álgebra contendo C que está contida
em qualquer σ-álgebra que contém C.
Isso mostra que ΣC está contida em qualquer σ-álgebra de X que contém C. Observe que
isso garante que de fato existe uma σ-álgebra com a propriedade descrita no enunciado, e
a unicidade que demonstramos anteriormente garante que ela é precisamente a interseção
de todas as σ-álgebras que contém C. Mais ainda, note que essa interseção é não-vazia,
uma vez que 2X ∈ FC .
Definição 6.1.3. Uma medida σ-aditiva (ou, simplesmente, uma medida) em um espaço
mensurável (X, Σ) é uma função µ : Σ → [0, +∞] que satisfaz:
(a) Para qualquer coleção enumerável {An }n∈N de conjuntos mensuráveis mutuamente
disjuntos (isto é, tais que Ai ∩ Aj = ∅ sempre que i 6= j) vale que
∞
! ∞
[ X
µ An = µ(An ).
n=1 n=1
(b) µ(∅) = 0.
Demonstração. Para (a), basta considerar que Ej = ∅ para todo j > m e as propriedades
de µ:
∞
! ∞ m
[ X X
µ(E1 ∪ . . . ∪ Em ) = µ Ej = µ(Ej ) = µ(Ej ).
j=1 j=1 j=1
e daı́ vem
∞
! ∞
! ∞ ∞
" n−1
!#
[ [ X X [
µ Ej =µ An = µ(An ) = µ(E1 ) + µ(En ) − µ Ei =
j=1 n=1 n=1 n=2 i=1
∞ ∞ n−1
! ∞
X X [ X
= µ(En ) − µ Ei ≤ µ(En ),
n=1 n=2 i=1 n=1
onde a terceira igualdade vem imediatamente do fato de que µ(A \ B) = µ(A) − µ(B)
sempre que A, B ∈ Σ (veja o Exercı́cio 6.7).
Proposição 6.1.2. (a) Se {Ej }j∈N é uma sequência crescente de conjuntos mensuráveis,
isto é, com a propriedade de que Ej ⊆ Ej+1 para qualquer j ∈ N, então vale a igualdade
∞
!
[
µ Ej = lim µ(Ej ).
j→∞
j=1
(b) Seja {Ej }j∈N uma sequência decrescente em Σ, isto é, com a propriedade de que
Ej ⊇ Ej+1 para cada j ∈ N. Se µ(E1 ) < ∞, então
∞
!
\
µ Ej = lim µ(Ej ).
j→∞
j=1
6.1. σ-ÁLGEBRAS E MEDIDAS 115
= lim µ(Ej ).
j→∞
Vamos agora provar o ı́tem (b). Para cada n ∈ N defina An = En \ En+1 . Assim, a
sequência {An }n∈N é formada por conjuntos disjuntos dois-a-dois, e com a propriedade de
que
∞
! ∞
!
\ [
En = Ej ∪ Aj (6.1.1)
j=1 j=n
T∞
para cada n ∈ N. Com efeito, se x ∈ En e x ∈
/ j=1 Ej , então x ∈
/ Em para algum m > n,
e portanto x ∈/ Ej para todo j > n. Logo, podemos tomar m0 = max{j : x ∈ Ej }, e é
claro que x ∈ Em0 \ Em0 +1 = Am0 . Consequentemente, pra cada n ∈ N vale a igualdade
∞
! ∞
\ X
µ(En ) = µ Ej + µ(Aj ).
j=1 j=n
P∞
Como µ(E1 ) < ∞, segue da igualdade acima (para n = 1) que a soma j=1 µ(Aj ) é
convergente. Logo, vale que
∞
X
lim µ(Aj ) = 0,
n→∞
j=n
Observação 6.1.3. Na realidade, a medida de Lebesgue em Rn pode ser definida para uma
σ-álgebra que contém propriamente a σ-álgebra de Borel. Entretanto, esse ponto de vista
foge ao escopo deste texto.
Sabemos que a σ-álgebra de Borel de um espaço topológico possui, em geral, conjuntos
que não são abertos e nem fechados. Entretanto, a medida de Lebesgue em Rn de conjun-
tos “complicados”pode ser aproximada pelas medidas de conjuntos abertos ou fechados,
como verificaremos a seguir.
Definição 6.1.4. Seja (X, τ ) um espaço topológico, e seja B a sua σ-álgebra de Borel.
Uma medida µ : B → [0, ∞] é dita regular se para qualquer E ∈ B valem as igualdades
e portanto,
∞
[
−1
f (B) = f −1 (Ej ) ∈ ΣX ,
j=1
Como consequência da Proposição 6.2.1, temos também uma útil caracterização das
funções mensuráveis. Lembre-se de que a topologia em R̄ está definida no Exercı́cio 6.4,
e tenha em mente que essa topologia possui uma base enumerável de abertos.
Proposição 6.2.2. Sejam (X, ΣX ) um espaço mensurável e f : (X, ΣX ) → R̄ uma
função. São equivalentes:
(a) f é mensurável.
uma vez que ΣX é fechada para interseções enumeráveis. Agora, como [−∞, a) = R̄ \
[a, +∞], segue que
f −1 ([−∞, a)) = X \ f −1 ([a, +∞]) ∈ ΣX ,
118 CAPÍTULO 6. ESPAÇOS DE FUNÇÕES INTEGRÁVEIS
donde f −1 ((a, b)) é mensurável. Segue que as pré-imagens de todos os conjuntos de uma
base enumerável de R̄ são mensuráveis, e portanto a Observação 6.2.2 garante que f é
mensurável.
Observação 6.2.3. Os intervalos (a, +∞] e [−∞, a) nos ı́tens (b) e (c) acima podem ser
substituı́dos por [a, +∞] e [−∞, a], respectivamente.
Para o que segue, observe que a topologia usual de Rn admite uma base enumerável
de cubos abertos. Com efeito, basta tomar os cubos da forma
Proposição 6.2.4. Seja (X, Σ) um espaço mensurável, e seja {fj : X → R̄}j∈N uma
sequência de funções mensuráveis. As funções inf j∈N fj : X → R̄ e supj∈N fj : X → R̄
definidas por
Demonstração. Seja a ∈ R. Dado x ∈ X, temos que supj∈N fj (x) > a se, e somente se,
existe k ∈ N tal que fk (x) > a. Consequentemente, temos a igualdade
−1 [∞
sup fj (a, +∞] = fj−1 ((a, +∞]),
j∈N
j=1
inf fj = − sup(−fj ),
j∈N j∈N
Corolário 6.2.2. Nas mesmas hipóteses da proposição anterior, as funções lim supk→∞ fk :
X → R̄ e lim inf k→∞ fk : X → R̄, definidas por
Aplicando a Proposição 6.2.4 (duas vezes em cada caso) segue que lim supk→∞ fk e
lim inf k→∞ fk são mensuráveis.
Agora, suponha que im(s) = {a1 , . . . , am }, e que s−1 (aj ) ∈ Σ para cada j = 1, . . . , m.
Seja B ⊆ R um conjunto mensurável. Daı́, se B ∩ im(s) = {ai1 , . . . , aik }, então
k
[
s−1 (B) = s−1 (aij ),
j=1
Veremos a seguir que as funções mensuráveis (positivas) podem ser aproximadas por
funções simples. Recomendamos ao leitor observar que as funções simples sempre assu-
mem valores na reta, enquanto que as funções mensuráveis que aproximaremos por elas
assumem valores na reta estendida.
Ou seja, para cada x ∈ X temos que sn (x) é uma sequência não-decrescente que converge
para f (x).
Observação 6.2.4. O limite em iii é tomado com respeito à topologia de R̄ (veja o Exercı́cio
6.4).
para quaisquer t ∈ [0, ∞] e n ∈ N. Agora, seja t ∈ [0, ∞) e para cada natural n ≥ t seja
k(n) ∈ {0, 1, . . . , n2−n − 1} tal que
A existência de k(n) é provada na solução do Exercı́cio 6.13. Pela definição de φ(n), temos
que
φn (t) = k(n)2−n ,
para cada n ∈ N. Além disso, de novo pela solução do Exercı́cio 6.13, vale que
lim k(n)2−n = t.
n→∞
Portanto, segue que limn→∞ φn (t) = t para qualquer t ∈ [0, ∞). Na realidade, essa
igualdade vale para t em [0, ∞], uma vez que φn (∞) = n para cada n ∈ N. Finalmente,
para cada n ∈ N defina sn : X → [0, ∞) por
sn = φn ◦ f.
Cada uma das funções sn é mensurável, uma vez que é a composição de funções men-
suráveis. De (6.2.1) vem que sn (x) ≤ sn+1 (x) ≤ f (x) para qualquer x ∈ X, e do fato de
que limn→∞ φn (t) = t vem que
Observação 6.2.5. Por simplicidade de notação, se (fn )n∈N é uma sequência de funções
mensuráveis que converge pontualmente e monotonicamente (de forma não-decrescente)
para uma função f , escreveremos fn % f .
Observação 6.3.1. Note que o contra-domı́nio de uma função simples não-negativa é sem-
pre [0, ∞). Entretanto, a definição de integral acima vale para funções cujo contra-domı́nio
é [0, ∞] (essas funções podem ser aproximadas por funções que assumem apenas valores
em [0, ∞), veja o Teorema 6.2.1). A principal razão para isso é que todas as sequências
monótonas não-decrescentes em [0, ∞] são convergentes. Isso facilitará os argumentos em
alguns casos, uma vez que poderemos assumir que determinados limites existem sem a
necessidade de separar o caso infinito. Apesar disso, o leitor deve observar que na próxima
seção voltaremos a nos restringir a funções que assume valores apenas em R. Faremos
isso pois as funções envolvidas não mais serão necessariamente não-negativas, e desejamos
evitar a soma não-definida ∞ + (−∞).
A seguir, vamos estudar algumas propriedades da integral de Lebesgue. Em alguns
momentos, as demonstrações serão feitas primeiro para funções simples, e depois estendi-
das ao caso geral. Começamos com um lema simples e útil que permite escrever a integral
de uma função sobre um subconjunto mensurável E ⊆ X como uma integral sobre X.
onde Sf χE denota a coleção das funções simples, mensuráveis, não-negativas e tais que
u ≤ f χE em X. Logo, é suficiente provar que
Z Z
sup sχE dµ : s ∈ Sf = sup u dµ : u ∈ Sf χE .
X X
Para isso, note primeiro que se s ∈ Sf , então sχE ∈ Sf χE , donde vem a desigualdade
Z Z
sup sχE dµ : s ∈ Sf ≤ sup u dµ : u ∈ Sf χE .
X X
Assim,
Z Z Z
cf dµ = sup u dµ : u ∈ Scf = sup c s dµ : s ∈ Sf =
E E E
Z Z
= c · sup s dµ : s ∈ Sf = c f dµ,
E E
Essa igualdade se dá uma vez que todas as funções S0 se anulam em E (veja também a
Observação 6.3.2).
Nosso próximo objetivo é obter propriedades das integrais da soma funções men-
suráveis não-negativas. Para isso, precisamos antes de um importante teorema sobre
a convergência das integrais de uma sequência de funções que converge pontualmante.
para quaisquer n ∈ N e x ∈ X. Assim, note que o limite limn→∞ fn (x) existe em [0, ∞]
para cada x ∈ X (veja o ı́tem (e) do Exercı́cio 6.4). Defina a função f : X → [0, ∞] por
Demonstração. O fato de que f é mensurável vem da Proposição 6.2.4, uma vez que a
monotonicidade garante que f = supn∈N fn . Pela Proposição 6.3.1 vem a desigualdade
Z Z
fn dµ ≤ fn+1 dµ, (6.3.2)
X X
En = {x ∈ X : fn (x) ≥ αs(x)}.
S
Assim, é claro que En ⊆ En+1 para cada n ∈ N, e X = n∈N En . Além disso, usando
Proposição 6.3.1 de novo temos que
Z Z Z
fn dµ ≥ αs dµ = α s dµ,
En En En
Uma vez que s ∈ Sf foi tomada arbitrariamente, tomando o supremo temos imediatamente
Z Z
L
f dµ = sup s dµ : s ∈ Sf ≤ .
X X α
Finalmente, como α pode ser tomado arbitrariamente próximo de 1, segue a desigualdade
desejada. Isso conclui a prova.
Demonstração. Para provar a igualdade igualdade, vamos começar pelas funções simples.
Sejam s, u : X → [0, ∞) funções simples, mensuráveis, e não-negativas, que podem ser
escritas como
m
X
s= aj χEj , e
j=1
n
X
u= bi χAi ,
i=1
respectivamente, onde Ej = s−1 (aj ) para cada j e Ai = u−1 (bi ) para cada i. Daı́, é claro
que vale a igualdade
m X
X n
s+u= (aj + bi )χEj ∩Ai . (6.3.3)
j=1 i=1
como querı́amos.
Agora, vamos ao caso em que se funções envolvidas não são necessariemante simples.
Sejam f, g : X → [0, ∞] funções mensuráveis e não-negativas, e assuma primeiro que
E = X. Pelo Teorema 6.2.1, podemos tomar sequências de funções (sn )n∈N e (un )n∈N de
funções simples, mensuráveis e não-negativas tais que sn % f e un % g (veja a Observação
6.2.5). Segue que sn + un % f + g, e pelo Teorema 6.3.1 temos
Z Z Z Z
(f + g) dµ = lim (sn + un ) dµ = lim sn dµ + lim un dµ =
X n→∞ X n→∞ X n→∞ X
Z Z
= f dµ + g dµ,
X X
6.3. INTEGRAIS DE LEBESGUE 127
onde na segunda igualdade usamos a aditividade da integral das funções simples demons-
trada anteriormente. Para o caso em que a integração é feita sobre um subconjunto
próprio E ⊆ X basta usar o Lema 6.3.1:
Z Z Z Z Z Z
(f + g) dµ = (f + g)χE dµ = f χE dµ + g χE dµ = f dµ + g dµ.
E X X X E E
Note que também poderı́amos ter seguido essa ordem para as funções simples: poderı́amos
ter mostrado a aditividade de funções simples para a integral sobre X, e depois usado
o Lema 6.3.1 para estender o resultado às integrações sobre subconjuntos próprios men-
suráveis. Por outro lado, também não é difı́cil estender o Teorema 6.3.1 para o caso em
que as hipóteses (e as integrais) são consideradas apenas em um subconjunto próprio
mensurável E ⊆ X.
onde a função lim inf n→∞ fn : X → [0, ∞] é definida como no Corolário 6.2.2.
lim inf fn = f.
n→∞
128 CAPÍTULO 6. ESPAÇOS DE FUNÇÕES INTEGRÁVEIS
Para cada k ∈ N, defina gk = inf j≥k fj . Pela Proposição 6.2.4 segue que cada uma dessas
funções é mensurável. Além disso, é fácil notar que a sequência (gk )k∈N é pontualmente
monótona (não-decrescente). Como consequência, temos
lim gk (x) = sup gk (x) = sup inf fj (x) = lim inf fn (x) = f (x),
k→∞ k∈N k∈N j≥k n→∞
sempre que i ≥ k (esse fato decorre da Proposição 6.3.1). Isso implica, para qualquer
k ∈ N, a desigualdade
Z Z
gk dµ ≤ inf fi dµ.
X i≥k X
Observação 6.3.3. A desigualdade no Lema de Fatou pode ser estrita. Referimos o leitor
ao Exercı́cio 6.19, onde um exemplo é construı́do.
|f | = f + + f − ,
Segue que a integral de |f | é finita se, e somente se, as integrais de f + e f − são ambas
finitas.
para qualquer E ∈ Σ.
= (f χE )+ dµ − (f χE )− dµ = f χE dµ,
X X X
onde a primeira e a última igualdade vêm da definição da integral de uma função qualquer,
dada em (6.4.2).
130 CAPÍTULO 6. ESPAÇOS DE FUNÇÕES INTEGRÁVEIS
f + − f − + g + − g − = f + g = (f + g)+ − (f + g)− .
e, pela definição da integral de uma função mensurável qualquer dada por (6.4.2), essa é
a desigualdade que querı́amos provar.
Agora, vamos provar a outra igualdade. Note que a integrabilidade de cf vem da igual-
dade |cf | = |c||f |. Vamos usar a versão para funções não-negativas, dada na Proposição
6.3.2. Se c = 0, então o resultado é imediato. Se c > 0, então é claro que (cf )+ = cf + e
(cf − ) = cf − . Logo,
Z Z Z Z Z
−
+
cf dµ = (cf ) dµ − (cf ) dµ = +
cf dµ − cf − dµ =
E E E E
Z Z E Z
=c f + dµ − f − dµ = c f dµ.
E E E
f + − f − = f ≤ g = g+ − g−,
e essa é a desigualdade desejada, uma vez que pela definição dada em (6.4.2), o lado
esquerdo é a integral de f sobre E e o lado direito é a integral de g sobre E.
(i) (fn ) é uma sequência dominada por g, isto é, |fn (x)| ≤ g(x) para quaisquer n ∈ N e
x ∈ X.
para todo E ∈ Σ.
Observação 6.4.1. A função f : X → R é chamada o limite pontual da sequência de
funções (fn )n∈R .
Demonstração. Observe que como cada sequência (fn (x))n∈N é convergente, temos a igual-
dade
para cada x ∈ X. Assim, pelo Corolário 6.2.2 que f é mensurável. Além disso, como
|fn (x)| → |f (x)| para cada x ∈ X, pelo Lema de Fatou (Teorema 6.3.2) segue que
Z Z Z Z Z
|f | dµ = lim |fn | dµ = lim inf |fn | dµ ≤ lim inf |fn | dµ ≤ g dµ < ∞,
X X n→∞ X n→∞ n→∞ X X
e isso mostra que f é integrável. Note que a última desigualdade vem do fato de que
(fn ) é dominada por g, e da Proposição 6.4.2. Como fn (x) → f (x) para cada x ∈ X
e |fn | ≤ g para todo n ∈ N, segue que |fn (x)| ≤ g(x) para todo x ∈ X. Logo, temos
|fn − f | ≤ |fn | + |f | ≤ 2g, e isso fornece
2g − |fn − f | ≥ 0
para qualquer n ∈ N. Assim, podemos aplicar o Lema de Fatou (Teorema 6.3.2) para a
sequência de funções não-negativas (2g − |fn − f |)n∈N
Z Z Z
2g dµ = lim inf 2g − |fn − f | dµ ≤ lim inf 2g − |fn − f | dµ =
X X n→∞ n→∞ X
Z Z Z Z
= 2g dµ + lim inf − |fn − f | dµ = 2g dµ − lim sup |fn − f | dµ,
X n→∞ X X n→∞ X
onde na primeira igualdade usamos o fato de que lim inf n→∞ |fn (x) − f (x)| = 0 para todo
x ∈ X, que vem imediatamente da convergência pontual fn → f , e na última igualdade
lembramos que para toda sequência (an )n∈N de números reais vale que
A igualdade vale, uma vez que estamos calculando o limite superior de uma sequência de
números não-negativos. Daı́, segue que
Z
lim |fn − f | dµ = 0.
n→∞ X
6.5. OS ESPAÇOS LP 133
6.5 Os espaços Lp
Nesta seção, vamos introduzir e estudar alguns espaços (vetoriais) de funccões integráveis
definidas em espaços de medida. Nesses espaços de funções, introduziremos normas que
os tornam espaços de Banach. Começamos por definir uma propriedade requerida para
os espaços de medida.
Definição 6.5.1. Seja (X, Σ, µ) um espaço de medida. Dizemos que µ é uma medida
σ-finita se existe uma coleção enumerável {En }n∈N em Σ com as propriedades de que
µ(En ) < ∞ para cada n ∈ N e
∞
[
X= Ej .
j=1
Observação 6.5.1. Observe que se uma medida é σ-finita, então podemos tomar
S os con-
n−1
juntos En sendo mutuamente disjuntos. Basta definir A1 = E1 e An = En \ j=1 Ej
para cada n ≥ 2.
Nesta seção, todas as medidas serão consideradas σ-finitas, salvo menção em
contrário. O espaço de funções integráveis definidas em um espaço de medida (X, Σ, µ)
é claramente um R-espaço vetorial (isso é decorrência imediata da Proposição 6.4.1).
Desejamos introduzir uma norma neste espaço. Uma primeira tentativa, que é análoga à
norma introduzida no espaço `1 (N), seria
Z
f 7→ |f | dµ.
X
onde a penúltima igualdade se justifica pelo Exercı́cio 6.17 (e pelo fato de que |f | = |g| em
X \ N , e a última igualdade vem do Exercı́cio 6.18. Como consequência dessa igualdade,
134 CAPÍTULO 6. ESPAÇOS DE FUNÇÕES INTEGRÁVEIS
temos que qualquer função que não é identicamente zero somente a menos de um conjunto
de medida nula teria “norma” zero.
Note que o comportamento de uma função integrável sobre um (conjunto contido em
um) conjunto de medida nula não importa do ponto de vista da integração. Por essa
razão, fixamos a seguinte terminologia: quando estamos trabalhando com um espaço de
medida (X, Σ, µ), dizemos que uma determinada propriedade vale em quase toda parte (ou,
abreviando, µ-q.t.p) se existe um conjunto N ⊆ X de medida nula tal que a propriedade
vale em X \ N . Em particular, isso induz uma relação de equivalência no espaço de
funções definidas em um espaço de medida X. Dadas duas funções f, g : X → R, dizemos
que f e g são iguais em quase toda parte (ou iguais em µ-q.t.p) se existe um conjunto de
N ⊆ X tal que f = g em X \ N e µ(N ) = 0. Denotaremos essa relação de equivalência
por f ∼µ g.
Definição 6.5.2. O espaço L1 (X, Σ, µ), que também será denotado por L1 (X) quando
não houver possibilidade de dúvida com respeito à medida fixada em X, é o espaço
quociente do conjunto de funções integráveis f : X → R pela relação de equivalência ∼µ .
Isto é,
{f : X → R : f é integrável}
L1 (X, Σ, µ) := .
∼µ
Lema 6.5.1. Seja (X, Σ, µ) um espaço de medida. A aplicação || · ||L1 (X) : L1 (X) → R
dada, para cada f ∈ L1 (X), por
Z
||f ||L1 (X) = |f | dµ
X
∞
!
[
0 < µ(E) = µ En = lim µ(En ),
n→∞
n=1
6.5. OS ESPAÇOS LP 135
e essa desigualdade é uma contradição. Segue que se ||f ||L1 (X) = 0, então f = 0 em
quase toda parte, como querı́amos. As outras propriedades (positividade, homogeneidade
e desigualdade triangular) são imediatas.
Observação 6.5.3. Assim como no caso dos espaços L1 (X, Σ, µ), ao escrevermos f ∈
Lp (X, Σ, µ) convencionamos que f é um representante de uma das classes de equivalência
de Lp (X, Σ, µ), ou seja, f é uma função mensurável para a qual a desigualdade acima
vale. De novo abusando da terminologia, vamos nos referir aos elementos de Lp (X) como
funções.
Note que não é claro, a princı́pio, que Lp (X, Σ, µ) é fechado para a soma. Mostra-
remos que isso é uma consequência da versão integral da desigualdade de Hölder, que
enunciaremos e provaremos a seguir. Para o que segue, lembre-se de que dois números
p, q ∈ (1, ∞) são dito conjugados quando 1/p + 1/q = 1.
Teorema 6.5.1 (A desigualdade de Hölder). Seja (X, Σ, µ) um espaço de medida, e sejam
p, q ∈ (1, ∞) números conjugados. Se f ∈ Lp (X) e g ∈ Lq (X), então f g ∈ L1 (X) e vale
a desigualdade
Z Z p1 Z 1q
p q
|f g| dµ ≤ |f | dµ |g| dµ . (6.5.1)
X X X
Demonstração. Pela desigualdade de Young (veja o Teorema 2.1.1), temos que se λ > 0,
então
λp 1
|λf (x)g(x)| ≤ |f (x)|p + |g(x)|q
p q
para todo x ∈ X, e daı́ segue que
λp−1 1
|f (x)g(x)| ≤ |f (x)|p + |g(x)|q ,
p λq
para qualquer x ∈ X. Consequentemente, pela Proposição 6.4.2 temos a desigualdade
λp−1
Z Z Z
p 1
|f g| dµ ≤ |f | dµ + |g|q dµ. (6.5.2)
X p X λq X
136 CAPÍTULO 6. ESPAÇOS DE FUNÇÕES INTEGRÁVEIS
Demonstração. Devemos provar que Lp é fechado para a soma (as outras propriedades
são imediatas). Para isso, basta mostrar que se f, g : X → R são funções mensuráveis
tais que
Z Z
p
|f | dµ < ∞ e |g|p dµ < ∞,
X X
Com efeito, como p > 1, temos que se 0 < a < b, então ap < bp . Daı́,
p p
|f (x) + g(x)|p ≤ |f (x)| + |g(x)| ≤ 2 max{|f (x)|, |g(x)|} ≤
p p
≤ 2|f (x)| + 2|g(x)| = 2p |f (x)|p + |g(x)|p ,
como querı́amos.
Agora, vamos mostrar que || · ||Lp (X) é uma norma. A única propriedade que não
é imediata é a desigualdade triangular. Para demonstrá-la, sejam f, g ∈ Lp (X, Σ, µ), e
observe que
Z Z Z
p p p−1
||f + g||Lp (X) = |f + g| dµ ≤ |f + g| |f | dµ + |f + g|p−1 |g| dµ. (6.5.3)
X X X
6.5. OS ESPAÇOS LP 137
Seja q ∈ (1, ∞) o conjugado de p. Afirmamos que |f + g|p−1 ∈ Lq (X, Σ, µ). De fato, como
1/p + 1/q = 1, temos pq = p + q, donde p = pq − q = q(p − 1). Assim,
Z Z
p−1 q
|f + g|p µ < ∞.
|f + g| dµ =
X X
Essas desigualdades estimam os dois termos do lado direito em (6.5.3). Além disso,
observe que p/q = p − 1. Daı́,
||f + g||pLp (X) ≤ ||f + g||p−1
p
L (X) ||f ||Lp (X) + ||g||Lp (X) ,
e isso fornece a desigualdade triangular para || · ||Lp (X) . Note que se ||f + g||Lp (X) = 0,
então a desigualdade triangular é trivial.
Definição 6.5.5. Seja (X, Σ, µ) um espaço de medida. O espaço L∞ (X, Σ, µ), que
também será denotado por L∞ (X), é o espaço quociente do conjunto de funções essenci-
almente limitadas f : X → R pela relação de equivalência ∼µ .
{f : X → R : f é essencialmente limitada}
L∞ (X, Σ, µ) = .
∼µ
Observação 6.5.5. Assim como fizemos para os espaços Lp (X) com p ∈ [1, ∞), usaremos
naturalmente a terminologia funções para nos referirmos aos elementos de L∞ (X), apesar
de tais elementos serem, na verdade, classes de equivalência.
Proposição 6.5.2. A função || · ||L∞ (X) : L∞ (X) → R definida por
segue que µ(E ∪ N ) = 0, e portanto |g| ≤ c em quase toda parte. Assim, mostramos
que se |f | ≤ c em quase toda parte, então |g| ≤ c em quase toda parte. Isso fornece a
desigualdade
Repetindo o argumento trocando f por g temos a desigualdade inversa. Logo, segue que
||f ||L∞ (X) = ||g||L∞ (X) .
Agora que sabemos que || · ||L∞ (X) está bem-definida em L∞ (X), vamos mostrar que
essa função é, de fato, uma norma. É claro que ||f ||L∞ (X) ≥ 0 para toda f ∈ L∞ (X), e
a homogeneidade também é imediata. Assuma que f ∈ L∞ (X) é tal que ||f ||L∞ (X) = 0.
Devemos mostrar que f = 0 em quase toda parte. A condição ||f ||L∞ (X) = 0 garante que
para cada n ∈ N o conjunto
En = {x ∈ X : |f (x)| ≥ 1/n}
é tal que µ(En ) = 0. Além disso, é fácil notar que En ⊆ En+1 para cada n ∈ N. Por outro
lado, temos
∞
[
En = {x ∈ X : f (x) 6= 0}.
n=1
Observe que a desigualdade acima vale para quaisquer números c1 , c2 ∈ R tais que |f | ≤ c1
em quase toda parte e |g| ≤ c2 em quase toda parte. Logo, podemos passar aos respectivos
ı́nfimos para obter
O próximo passo é provar que os espaços Lp (X) são espaços de Banach, isto é, são
completos com respeito às suas respectivas normas definidas acima.
Observação 6.5.7. convencionamos que todos os espaços Lp mencionados no texto (não
apenas nesta seção) são definidos para espaços de medida σ-finitos, salvo menção em
contrário. Mais ainda, vamos nos referir à convergência na norma de Lp (X) simplesmente
como convergência em Lp (X). Para outros tipos de convergência nos espaços Lp referimos
o leitor aos Exercı́cios 6.26, 6.27 e 6.28.
Teorema 6.5.2. Seja (X, Σ, µ) um espaço de medida. Então Lp (X), || · ||Lp (X) é um
espaço de Banach para todo 1 ≤ p ≤ ∞.
Demonstração. Vamos começar pelo caso p = ∞. Seja (fn )n∈N uma sequência de Cauchy
em L∞ (X). Para cada k ∈ N, existe mk ∈ N tal que se m, n ≥ mk , então ||fm −fn ||L∞ (X) <
1/k. Daı́ existe um conjunto Ek ∈ Σ de medida nula tal que
1
|fn (x) − fm (x)| <
k
para todo x ∈ X \ Ek . Seja
∞
[
E= Ek .
k=1
É claro que µ(E) = 0, e para cada x ∈ X \ E a sequência (fn (x))n∈N é uma sequência de
Cauchy de números reais. Portanto, podemos definir f0 : X \ E → R como
||fn ||L∞ (X) ≤ M para todo n ∈ N. Segue que para cada n ∈ N existe um conjunto Fn ∈ Σ
de medida nula tal que
Observe que cada gn é claramente uma função mensurável, e que gn ∈ Lp (X), uma vez
que
n n
X X 1
||gn ||Lp (X) ≤ ||fnj+1 − fnj ||Lp (X) < j
< 1. (6.5.4)
j=1 j=1
2
Pelo teorema da Convergência Monótona (Teorema 6.3.1) segue que (gn )n∈N converge pon-
tualmente para uma função g : X → [0, ∞], e portanto |gn |p ) n∈N converge pontualmente
para |g|p . Pelo mesmo teorema, também vale que
Z Z
p
||g||Lp (X) = p
|g| dµ = lim |gn |p dµ = lim ||gn ||pLp (X) ,
X n→∞ X n→∞
6.5. OS ESPAÇOS LP 141
e o último limite acima existe pois a sequência ||gn ||pLp (X) é uma sequência monótona
|fnj (x) − fni (x)| ≤ |fnj (x) − fnj−1 (x)| + . . . + |fni+1 (x) − fni (x)| ≤
≤ g(x) − gi−1 (x) ≤ g(x)
sempre que j ≥ i ≥ 2. Uma vez que gn (x) % g(x) em R para todo x ∈ X \ E∞ , segue que
a desigualdade acima garante que (fnk (x))k∈N é uma sequência de Cauchy em R. Assim,
podemos definir
donde fnk → f em Lp (X). Observe que a segunda igualdade vem do fato de que µ(E∞ ) =
0. Isso conclui a demonstração.
A seguir, vamos mostrar que os espaços Lp (X) são reflexivos para 2 ≤ p < ∞. Isso
também vale para 1 < p ≤ 2, mas esse caso será tratado apenas na próxima seção, obtido
como consequência da caracterização dos duais dos espaços Lp (X). Veja o Corolário 6.6.1.
Demonstração. Seja φ ∈ BX ∗∗ (se a norma de φ for maior que 1, então apenas precisamos
normalizá-lo). Devemos mostrar que existe x ∈ BX com a propriedade de que φ = x̂.
Como J(BX ) é fechado com respeito à topologia forte em X ∗∗ , é suficiente provar que
para todo ε > 0 existe xε ∈ BX tal que ||x̂ε − φ||X ∗∗ ≤ ε.
Dado ε > 0, seja δ > 0 tal que ||(x + y)/2||X < 1 − δ sempre que x, y ∈ BX são tais
que ||x − y||X > ε. Escolha f ∈ X ∗ com ||f ||X ∗ = 1 e tal que
δ
φ(f ) > 1 − . (6.5.5)
2
Note que isso é possı́vel pois ||φ||X ∗∗ = sup{φ(g) : g ∈ BX ∗ } = 1. Considere a vizinhança
φ ∈ X ∗∗ \ (x̂ + εBX ∗∗ ) := W,
onde W é aberto na topologia fraca∗ de X ∗∗ , uma vez que pelo teorema de Banach-
Alaoglu-Bourbaki (Teorema 4.3.1) a bola BX ∗∗ é fechada nessa topologia (veja também o
Exercı́cio 4.21). Segue que V ∩ W é uma vizinhança de φ na topologia fraca∗ de X ∗∗ , e
portanto, usando a Proposição 4.4.1 mais uma vez, segue que V ∩ W ∩ J(BX ) 6= ∅. Logo,
podemos tomar z ∈ BX tal que ẑ ∈ V ∩ W . Como ẑ ∈ W , temos que ||x̂ − ẑ||X ∗∗ > ε,
donde segue (do fato de que a aplicação canônica é uma isometria linear) que
Portanto, segue que ||(x + z)/2||X < 1 − δ. Por outro lado, como x̂, ŷ ∈ V , temos que
onde as primeiras desigualdades em cada linha são justificadas meramente pela definição
do módulo de um número real. Somando as duas desigualdades e reorganizando os termos
vem
||x + z||X = ||x̂ + ẑ||X ∗∗ ≥ |x̂(f ) + ẑ(f )| > 2φ(f ) − δ > 2 − 2δ.
Consequentemente, temos que ||(x + z)/2||X > 1 − δ, e essa contradição conclui a prova.
αp + β p ≤ (α2 + β 2 )p/2
Assim, se ε > 0 e f, g ∈ BLp (X) são tais que ||f − g||Lp (X) > ε, temos que
f + g p
ε p
2 p
< 1 − .
L (X) 2
Observe que se ε > 2, então não existem f, g ∈ BLp (X) tais que ||f − g||Lp (X) > ε. Assim,
assumindo ε ≤ 2, se δ > 0 é tal que
h ε p i1/p
1− = 1 − δ,
2
então f, g ∈ BLp (X) e ||f − g||Lp (X) > ε implicam
f + g
2 p
< 1 − δ,
L (X)
para cada f ∈ Lp (X). Note que T está bem-definida pois como u ∈ Lq (X) e f ∈ Lp (X),
segue da desigualdade de Hölder (veja a Observação 6.5.4) que uf ∈ L1 (X), e portanto a
integral acima é finita.
É claro que é suficiente mostrar que T é uma isometria linear, uma vez que nesse caso
a aplicação Ip é apenas a inversa de T . A linearidade é óbvia, então vamos prosseguir
mostrando que T é uma isometria. Seguindo a notação para a bola unitária de um espaço
normado introduzida no Capı́tulo 2, vamos denotar
BLp (X) = f ∈ Lp (X) : ||f ||Lp (X) ≤ 1 .
Usando a desigualdade de Hölder, segue que sempre que f ∈ BLp (X) vale
Z
uf dµ ≤ ||u||Lq (X) ||f ||Lp (X) ≤ ||u||Lq (X) ,
X
donde segue que ||T u||Lp (X)∗ ≤ ||u||Lq (X) . Para provar que a igualdade vale, dada u ∈
Lq (X) com u 6= 0 (o caso nulo é trivial), defina g : X → R por
|u(x)|q−2 u(x), se u(x) 6= 0,
g(x) = .
0, se u(x) = 0
Daı́, é fácil notar que |g|p = |u|q , e dessa igualdade segue que g ∈ Lp (X), e que ||g||Lp (X) =
q/p
||u||Lq (X) . Além disso,
Z Z
|u|q dµ = ||u||qLq (X) .
2 q−2
|T u(g)| = u |u| dµ =
X X
6.6. DUALIDADE, REFLEXIVIDADE E SEPARABILIDADE 145
Consequentemente,
||u||qLq (X)
g
||T u||Lp (X)∗ ≥ T u
= = ||u||Lq (X) ,
||g||Lp (X) ||u||q/p
q
L (X)
uma vez que q − q/p = 1. Isso mostra que ||T u||Lp (X)∗ = ||u||Lq (X) . Falta mostrar que T é
sobrejetiva. Para isso, primeiro observe que a imagem T (Lq (X)) é um subespaço fechado
de Lp (X)∗ . Isso se dá pois T é uma isometria e Lq (X) é Banach. Assim, é suficiente
mostrar que T (Lq (X)) é denso em Lp (X)∗ . Para isso, vamos usar o ı́tem (a) do Exercı́cio
3.15. Assuma que ϕ ∈ Lp (X)∗∗ é tal que ϕ(T (u)) = 0 para todo u ∈ Lq (X). Como Lp (X)
é reflexivo (isso vem da Proposição 6.5.3, uma vez que estamos assumindo 2 ≤ p < ∞),
segue que existe h ∈ Lp (X) tal que ϕ = ĥ. Daı́
Z
0 = ϕ(T u) = T u(h) = uh dµ
X
E1 ⊆ E2 ⊆ . . . ⊆ En ⊆ En+1 ⊆ . . . ,
onde a última igualdade se justifica pois, com |u| > c > ||φ||L1 (X)∗ ≥ 0 em A, segue que
|v| > 0 em A, e portanto |sign(v)| = 1 em A. Daı́,
Z Z
χ
|| A∩En · sign(v)||L1 (X) = χ
| A∩En · sign(v)| dµ = χA∩En · |sign(v)| dµ =
X Z X
Z
= |sign(v)| dµ = dµ = µ(A ∩ En ).
A∩En A∩En
Logo, temos c · µ(A ∩ En ) ≤ µ(A ∩ En ) · ||φ||L1 (X)∗ , e como c > ||φ||L1 (X)∗ isso implica
S∞ que
µ(A ∩ En ) = 0. Uma vez que n ∈ N foi tomado arbitrariamente, e que X = n=1 En ,
temos que µ(A) = 0, e isso mostra que
||u||L∞ (X) ≤ ||φ||L1 (X)∗ . (6.6.1)
Agora, seja f ∈ L1 (X). Observe que fn := χn · (Tn ◦ f ) ∈ L1 (X) para cada n ∈ N, pois
fn é limitada em En e se anula em X \ En . É claro que fn converge pontualmente para f .
Com efeito, se x ∈ X, então basta tomar n0 ∈ N suficientemente grande tal que x ∈ En0
e |f (x)| < n0 . Assim, fn (x) = f (x) sempre que n > n0 . Como vale que |fn (x)| ≤ |f (x)|
para quaisquer n ∈ N e x ∈ X, e uma vez que |f | ∈ L1 (X), segue do Exercı́cio 6.27 que
fn → f em L1 (X), e portanto
φ(f ) = lim φ(fn ),
n→∞
pois φ é um funcional linear contı́nuo de L1 (X). Por outro lado, é claro que fn /g ∈ L2 (X)
para cada n ∈ N, uma vez que fn /g é limitada no conjunto de medida finita En e se anula
em X \ En . Assim,
Z Z
fn fn
ufn dµ = v· dµ = Gφ = φ(fn ). (6.6.2)
X X g g
É claro que ufn → uf pontualmente, e como u ∈ L∞ (X) temos que |uf | é integrável.
Assim, uma vez que |ufn (x)| ≤ |uf (x)| para quaisquer n ∈ N e x ∈ X segue do teorema
da Convergência Dominada (Teorema 6.4.1) que
Z Z
uf dµ = lim ufn dµ.
X n→∞ X
Em contraste com o caso dos espaços Lp (X) para 1 < p < ∞, os espaços L1 (X) e
L∞ (X) não são sempre reflexivos (quanto têm dimensão infinita, é claro). Investigaremos
este fato a seguir.
Proposição 6.6.1. Assuma que (X, Σ, µ) é um espaço de medida que tem a propriedade
de que para todo ε > 0 existe E ∈ Σ tal que 0 < µ(E) < ε. Então, L1 (X) não é reflexivo.
Para construir tal sequência, comece tomando conjuntos mensuráveis Ak com a proprie-
dade de que 0 < µ(Ak ) < 1/2k para cada k ∈ N. Então, defina
∞
[
En = Ak .
k=n
É imediato verificar que a sequência assim construı́da tem as propriedade descritas acima.
Suponha, por contradição, que L1 (X) é reflexivo. Para cada n ∈ N, denote χn := χEn , e
defina
χn
un = .
||χn ||L1 (X)
Note que a definição faz sentido, uma vez que como ||χn ||L1 (X) = µ(En ) < ∞ temos
χn ∈ L1 (X). Observe, também, que ||un ||L1 (X) = 1 para cada n ∈ N, donde (un )n∈N é uma
sequência limtada. Como estamos supondo que L1 (X) é reflexivo, decorre do Teorema
4.4.4 que (un ) tem uma subsequência que converge na topologia fraca σ(L1 (X), L∞ (X))
para alguma função u ∈ L1 (X). Aqui, estamos usando a identificação L1 (X)∗ ' L∞ (X)
dada no Teorema 6.6.2. Por simplicidade, denotamos un * u. Daı́, segue imediatamente
do teorema mencionado que a convergência fraca un * u é equivalente a
Z Z
un φ dµ → uφ dµ,
X X
para qualquer φ ∈ L∞ (X). Para cada k ∈ N fixado, temos que χk ∈ L∞ (X), e para
qualquer n > k vale a igualdade
µ(En ∩ Ek )
Z Z
1
χ
un k dµ = χn · χk dµ = = 1,
X
χ
|| n ||L1 (X) X µ(En )
para todo k ∈ N. Por outro lado, a sequência (uχk )k∈N converge pontualmente para a
função nula, exceto possivelmente nos pontos do conjunto
∞
\
E= Ej ,
j=1
que tem medida nula. Com efeito, E ⊆ En para todo n ∈ N, donde segue que µ(E) ≤
µ(En ) para qualquer n ∈ N. Como µ(En ) → 0 quando n → ∞ vem que µ(E) = 0. Além
da convergência pontual uχk → 0 em quase toda parte, observe que |uχk (x)| ≤ |u(x)|
para quaisquer x ∈ X e k ∈ N, e lembre-se de que u é integrável (donde |u| também o
é). Assim, decorre do teorema da Convergência Dominada (Teorema 6.4.1, veja também
a Observação 6.4.2) que
Z
uχk dµ → 0
X
F := spanQ {χC : C ∈ CQ }.
Sejam f ∈ Lp (Rn ) e ε > 0 dados arbitrariamente. Pelo Exercı́cio 6.30, podemos tomar
g ∈ Cc (Rn ) tal que ||f − g||Lp (Rn ) < ε/2. Assuma que C ∈ CQ é um cubo que contém o
suporte de g. Dado δ > 0, por compacidade podemos decompor C em uma quantidade
finita de cubos {Cj }N
j=1 com a propriedade de que
Assim, basta fazer a construção acima para δ > 0 de modo que se tenha δ·vol(C)1/p < ε/2.
Segue da desigualdade triangular que ||f − h||Lp (Rn ) < ε, e isso mostra que F é denso em
Lp (Rn ). Como F é enumerável, temos que Lp (Rn ) é separável.
6.7 Exercı́cios
Exercı́cio 6.1. Seja (X, Σ) um espaço mensurável. Mostre que se A, B ∈ Σ, então
A \ B ∈ Σ.
Exercı́cio 6.2. Seja X um conjunto infinito não-enumerável, e considere a coleção Σ ⊆ 2X
formada pelos subconjuntos A ⊆ X com a propriedade de que A é não-enumerável ou o
seu complementar X \ A é não-enumerável. Mostre que Σ é uma σ-álgebra de X.
Exercı́cio 6.3. Uma coleção {Ej }i∈J de subconjuntos não-vazios S de um conjunto X é
uma partição de X se Ei ∩ Ej = ∅ sempre que i 6= j e se X = j∈J Ej = X (em outras
palavras, uma partição de X é uma cobertura de X cujos elementos são disjuntos dois-a-
dois). Prove que a coleção das uniões arbitrárias dos conjuntos de uma partição de X é
uma σ-álgebra de X.
Exercı́cio 6.4 (O espaço R̄). Considere o conjunto
R̄ = R ∪ {−∞, ∞},
denominado reta real estendida, que também denotaremos por [−∞, ∞]. Estenda a
operação usual de soma a R̄ definindo
a + ∞ = ∞ + a = ∞, e a + (−∞) = −∞ + a = −∞
∞ + ∞ = ∞, e − ∞ + (−∞) = −∞.
para qualquer a ∈ R. Observe que a soma não está definida se {a, b} = {−∞, ∞}. Nosso
objetivo é introduzir uma topologia em R̄, e estudar algumas de suas propriedades.
(b) Mostre que (R̄, τ ) é Hausdorff e admite uma base enumerável de vizinhanças.
(c) Prove que R̄ é um espaço topológico compacto com sua topologia usual.
(d) Em análise real, dizemos que uma sequência (an )n∈N é tal que limn→∞ an = ∞ quando
para todo M > 0 existe n0 ∈ N com a propriedade de que an > M para qualquer n > n0 .
Demonstre que essa definição coincide com a convergência para ∞ ∈ R̄ na topologia usual
de R̄. Verifique o análogo para sequências convergindo para −∞.
Observação 6.7.1. É possı́vel mostrar que a topologia usual da reta estendida é metrizável,
e que R̄ com essa topologia é um homeomorfo a um intervalo compacto de R.
Exercı́cio 6.5. Mostre que a medida de Dirac definida no Exemplo 6.1.1 é, de fato, uma
medida.
Exercı́cio 6.6. Seja {Ej }j∈J uma partição em um conjunto X, e assuma que Σ é a σ-
álgebra definida por essa partição como no Exercı́cio 6.3. Seja f : J → [0, ∞] uma função
qualquer, e defina µ : Σ → [0, ∞] por
!
[ X
µ Aj = f (j)
j∈L j∈L
para qualquer subconjunto de ı́ndices L ⊆ J. Prove que µ é uma medida em (X, Σ).
Exercı́cio 6.8. Uma medida finitamente aditiva em um espaço mensurável (X, Σ) é uma
função µ : Σ → [0, ∞] tal que µ(∅) = 0 e com a propriedade de que para toda coleção
finita {Ej }mj=1 em Σ vale
m
! m
[ X
µ Ej = µ(Ej ).
j=1 j=1
Seja Σ uma σ-álgebra em um espaço topológico (X, τ ), e denote por C a coleção dos
subconjuntos compactos de X. Uma medida finitamente aditiva µ : Σ → [0, ∞] é dita
regular (com respeito à topologia τ ) se para todo E ∈ Σ valem as igualdades
que contém E e igual ao supremo das medidas dos compactos mensuráveis contidos em E.
Prove que toda medida finitamente aditiva regular é σ-aditiva (e portanto é uma medida
no sentido da Definição 6.1.3). Mostre, também, que neste caso, se τ é Hausdorff e se Σ
é a σ-álgebra de Borel de (X, τ ), então µ é regular no sentido da Definição 6.1.4.
ΣE = {A ∈ Σ : A ⊆ E}
f∗ ΣX = {B ⊆ Y : f −1 (B) ∈ ΣX }.
Mostre que f∗ ΣX é uma σ-álgebra em Y . Prove também que uma aplicação f : (X, ΣX ) →
(Y, ΣY ) entre espaços mensuráveis é mensurável se, e somente se, ΣY ⊆ f∗ ΣX .
A = {k2−n : n ∈ N e k = 0, 1, . . . , n2n − 1}
S∞
onde E = j=1 Ej .
154 CAPÍTULO 6. ESPAÇOS DE FUNÇÕES INTEGRÁVEIS
Exercı́cio 6.19. O objetivo deste exercı́cio é mostrar, por meio de um exemplo, que a
desigualdade no Lema de Fatou (Teorema 6.3.2) pode ser estrita. Sejam (X, Σ, µ) um
espaço de medida, e seja E ∈ Σ tal que 0 < µ(E) < µ(X). Defina a sequência (fn )n∈N
pondo fn = χE se n é par, e fn = 1 − χE se n é ı́mpar. Prove que
Z Z
lim inf fn dµ < lim inf fn dµ.
X n→∞ n→∞ X
µ = λ1 δx1 + . . . + λm δxm ,
Exercı́cio 6.25. Assuma que (X, Σ, µ) é um espaço de medida com µ(X) < ∞. Mostre
que se existe ε > 0 tal que para qualquer E ∈ Σ com µ(E) > 0 vale que µ(E) ≥ ε, então
µ é puramente atômica.
Exercı́cio 6.26. Dizemos que uma sequência de funções {fn : X → R}n∈N definidas em
um espaço de medida (X, Σ, µ) converge em quase toda parte (ou converge em µ-q.t.p) se
existe um conjunto de medida nula N ∈ Σ tal que (fn ) converge pontualmente em X \ N .
Para qualquer 1 ≤ p < ∞, prove que se fn → f em Lp (X) então existe uma subsequência
de (fn ) que converge em quase toda parte para f . Mais ainda, mostre que a se fn → f
em L∞ (X), então (fn ) converge para f em quase toda parte.
para quaisquer n ≥ n0 e x ∈ X. Assuma que (X, Σ, µ) é um espaço de medida com µ(X) <
∞, e seja p ∈ [1, ∞]. Prove que se (fn )n∈N é uma sequência de funções (representantes
de classes) em Lp (X) que converge uniformemente para uma função f : X → R, então
f ∈ Lp (X) e fn → f na norma de Lp (X).
|| · || = || · ||1 + || · ||2
7.1 Capı́tulo 1
Exercı́cio 1.1 Denote por F = {τλ : λ ∈ L} a coleção de todas as topologias em X que
contém B. É claro que τ ∈ F, uma vez que a topologia gerada por B contém B. Assim,
temos que
\
τλ ⊆ τ.
λ∈L
157
158 CAPÍTULO 7. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS
(f |Y )−1 (V ) = f −1 (V ) ∩ Y.
Exercı́cio 1.16 Do Exercı́cio 1.15, temos que f |Z é contı́nua. Além disso, é claro que
f é bijetiva sobre sua imagem. A inversa da aplicação f : Z → f (Z) é precisamente a
restrição de f −1 a f (Z), que é contı́nua (onde f (Z) está munido da topologia induzida por
Y ) pelo Exercı́cio 1.15 aplicado para f −1 |f (Z) (lembre-se de que f −1 : Y → X é contı́nua
pois f é um homeomorfismo). Isso mostra que f : Z → f (Z), onde Z tem a topologia
induzida por X e f (Z) tem a topologia induzida por f (Z), é contı́nua, bijetiva, e tem
inversa contı́nua, donde é um homeomorfismo.
Exercı́cio 1.17 Seja A = {Vλ }λ∈L uma cobertura de f (X) por abertos de Y . Como f é
continua, temos que f −1 (Vλ ) é aberto para cada λ ∈ L, e portanto a coleção {f −1 (Vλ ) :
λ ∈ L} é uma cobertura por abertos de X. Como X é compacto, segue que existem
finitos λ1 , . . . , λm ∈ L tais que
X ⊆ f −1 (Vλ1 ) ∪ . . . ∪ f −1 (Vλm ),
e daı́ segue que f (X) ⊆ Vλ1 ∪ . . . ∪ Vλm . Assim, toda cobertura de f (X) por abertos de Y
admite subcobertura finita. Segue do Lema 1.4.1 que f (X) é compacto com a topologia
induzida de Y .
Note que se f : (X, τ ) → (Y, σ) é contı́nua e sobrejetiva, e se (X, τ ) é compacto, então
(Y, σ) é compacto. Logo, temos que a compacidade é uma propriedade preservada por
homeomorfismos.
e a soma no último termo converge para 0 quando n → ∞ uma vez que c < 1, e portanto
a série das potências de c converge. Segue que (xn )n∈N é de Cauchy, e como X é completo,
temos que xn → x para algum x ∈ X. Afirmamos que x é um ponto fixo de T . Como T
é claramente contı́nua, temos
T x = T lim xn = lim T (xn ) = lim xn+1 = x,
n→∞ n→∞ n→∞
e isso prova o desejado. Para a unicidade, note que se y ∈ X é outro ponto fixo, então
d(x, y) = d(T x, T y) ≤ cd(x, y) < d(x, y), uma contradição.
(b) Defina f : X → R por f (x) = d(T x, x). Primeiro, vamos verificar que f é contı́nua.
Se xn → x em (X, d), então
|f (xn ) − f (x)| = |d(T xn , xn ) − d(T x, x)| ≤
≤ |d(T xn , xn ) − d(T xn , x)| + |d(T xn , x) − d(T x, x)| ≤ d(xn , x) + d(T xn , T x),
e o último termo vai para zero se n → ∞, uma vez que T é claramente contı́nua. Agora,
como f é contı́nua e X é compacto, existe x0 ∈ X tal que
f (x0 ) = min f (x).
x∈X
e assim, para todo c < 1 existe x ∈ (0, ∞) tal que f (x + 1) − f (x) > c = c(x + 1 − x).
Segue que f não é uma contração.
160 CAPÍTULO 7. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS
Exercı́cio 1.23 Uma vez que X é enumerável, escreva X = {xj : j ∈ N}. A sequência
(fn (x1 ))n∈N é uma sequência limitada de números reais, donde possui uma subsequência
convergente, que denotaremos por (f1,k (x1 )). Agora, como (f1,k (x2 ))k∈N é uma sequência
limitada, segue que (f1,k (x2 )) possui subsequência convergente, que denotaremos por
(f2,k (x2 ))k∈N . Observe que (f2,k (x1 ))k∈N também é convergente, uma vez que (f2,k ) é uma
subsequência de (f1,k ). Agora, como (f2,k (x3 )) é limitada, tomamos uma subsequência
convergente (f3,k (x3 )). Prosseguindo indutivamente, para cada m ∈ N temos um con-
junto de ı́ndices {(m, k)}k∈N com a propriedade de que (fm,k (xj )) é convergente para
todo j ≤ m. Mais ainda, como cada um desses conjuntos de ı́ndices é obtido retirando
elementos do conjunto de ı́ndices anterior, temos que a ordem dos ı́ndices é preservada,
no sentido de que (m, k + 1) > (m, k) ≥ (m − 1, k). Finalmente, considere a sequência
diagonal (fm,m )m∈N (que está bem-definida por causa da observação anterior). Para cada
n ∈ N, vale que exceto pelos primeiros n − 1 elementos a sequência (fm,m )m∈N é uma
subsequência de (fn,k )k∈N . Consequentemente, (fm,m (xj ))m∈N converge para cada j ∈ N,
donde (fm,m ) é a subsequência procurada.
para cada x ∈ X. Uma vez que Z é denso em X, segue que para qualquer x ∈ X existe
zj ∈ Z tal que d(x, zj ) < δ. Consequentemente, a coleção
A = {Vδ (zj ) : zj ∈ Z}
Como (fnk (zj )) converge para cada um dos (finitos) j ∈ {1, . . . , m} fixados, podemos
tomar k0 ∈ N com a propriedade de que se k > k0 , então
para quaisquer i, k > k0 e todo j ∈ {1, . . . , m}. Seja x ∈ X arbitrário, e assuma que
x ∈ Vδ (zj0 ). Daı́, como d(x, zj0 ) < δ (e da desigualdade acima) vale que
|fnk (x) − fni (x)| ≤ |fnk (x) − fnk (zj0 )| + |fnk (zj0 ) − fni (zj0 )| + |fni (zj0 ) − fni (x)| < 3ε
sempre que i, k > k0 (note cuidadosamente que k0 não depende de x, mas apenas de ε).
Isso mostra que (fnk (x)) é uma sequência de Cauchy para cada x ∈ X, donde (fnk ) é
pontualmente convergente em X. Pondo
para cada x ∈ X, temos que (fnk ) converge uniformemente para f em X. Com efeito,
fazendo i → ∞ na desigualdade acima segue que
Exercı́cio 1.25 Seja ε > 0 arbitrário. Como (fn )n∈N é uma sequência equicontı́nua, segue
que existe δ > 0 tal que para quaisquer x, y ∈ X com d(x, y) < δ e n ∈ N vale
Pelo Teorema 1.4.1, temos que (X, d) é totalmente limitado, donde existe um subconjunto
finito {x1 , . . . , xm } ⊆ X com a propriedade de que
m
[
X⊆ B(xj , δ).
j=1
7.2 Capı́tulo 2
Exercı́cio 2.8 Seja z ∈ BZ . Daı́,
||T Sz||Y ≤ ||T ||L(X,Y ) ||Sz||X ≤ ||T ||L(X,Y ) ||S||L(Z,X) ||z||Z = ||T ||L(X,Y ) ||S||L(Z,X) .
Exercı́cio 2.9 Assuma que Sn → S em L(X, X). Para todo n ∈ N, vem do Exercı́cio 2.8
que
162 CAPÍTULO 7. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS
||T −1 y||X = 1,
e isso conclui a prova. Note que, neste caso, é claro que temos T −1 = S.
Exercı́cio 2.17 Como a bola unitária BX não é compacta, segue que nenhuma bola
fechada
7.3 Capı́tulo 3
Exercı́cio 3.1 Considere o subconjunto F de sequências em `1 (N) que têm uma quanti-
dade finita de entradas não-nulas. É claro que F é um subespaço vetorial. Considere a
sequência (xn )n∈N em F definida por
n 1 1 1
x = 1, , , . . . , n , 0, . . . , 0, . . . ,
2 4 2
7.3. CAPÍTULO 3 163
ou seja, denotando xn = (αjn )j∈N , temos αjn = 1/2j se j ≤ n, e anj = 0 se j > n. Agora,
x = (αj )j∈N a sequência tal que αj = 1/2j para cada j ∈ N. É claro que x não é um ponto
de F . Note que
∞ ∞
n
X X 1
||x − x||1 = |αjn − αj | = ,
j=1 j=n+1
2j
Exercı́cio 3.3 Seja (fn )n∈N uma sequência de Cauchy em C([0, 1]). Para cada x ∈ [0, 1],
note que
e assim temos que (fn (x))n∈N é uma sequência de Cauchy em K. Assim, para cada
x ∈ [0, 1] existe o limite
|f (x) − f (y)| ≤ |f (x) − fn (x)| + |fn (x) − fn (y)| + |fn (y) − f (y)|.
Daı́, para ε > 0 dado, tomamos n0 suficientemente grande de forma que |f (x)−fn (x)| < ε
e |fn (y) − f (y)| < ε, donde ficamos com a estimativa
Agora, usamos o fato de que fn0 é contı́nua. Tomamos δ > 0 tal que |x − y| < δ implica
|fn0 (x) − fn0 (y)| < ε. Segue que se |x − y| < δ, então
Exercı́cio 3.4 Seja (fn )n∈N uma sequência de Cauchy em (C 0,α ([0, 1]), || · ||α ). Note que
||fn − fm ||∞ ≤ ||fn − fm ||α ,
para quaisquer n, m ∈ N. Assim (fn )n∈N é uma sequência de Cauchy em (C([0, 1]), ||·||∞ ),
e portanto fn → f na norma || · ||∞ para alguma função f ∈ C([0, 1]). Vamos mostrar
que f ∈ C 0,α ([0, 1]). Sejam x, y ∈ [0, 1] com x 6= y. Daı́,
|f (x) − f (y)| |f (x) − fn (x)| |fn (x) − fn (y)| |fn (y) − f (y)|
α
≤ + + ≤
|x − y| |x − y|α |x − y|α |x − y|α
||fn − f ||∞ |fn (x) − fn (y)| ||fn − f ||∞
≤2 α
+ α
≤2 + ||fn ||α
|x − y| |x − y| |x − y|α
Tome n suficientemente grande tal que ||fn − f ||∞ < |x − y|α , e seja M > 0 tal que
||fn ||α < M para todo n ∈ N (lembre-se de que toda sequência de Cauchy é limitada).
Assim, ficamos com
|f (x) − f (y)|
≤ 2 + M,
|x − y|α
e isso mostra que f ∈ C 0,α ([0, 1]). Agora, falta mostrar que fn → f na norma || · ||α . Para
isso, dado ε > 0, tome n0 ∈ N tal que se m, n > n0 , então valem que ||fn − f ||∞ < ε e
||fn − fm ||α < ε. Afirmamos que, para quaisquer z, x, y ∈ [0, 1] com x 6= y, temos
|(fn − f )(x) − (fn − f )(y)|
|fn (z) − f (z)| + ≤
|x − y|α
(7.3.2)
|(fn − fm )(x) − (fn − fm )(y)|
≤ ||fn − f ||∞ + lim < 2ε
m→∞ |x − y|α
se n > n0 . Com efeito, se n > n0 , então
|(fn − fm )(x) − (fn − fm )(y)|
≤ ||fn − fm ||α < ε
|x − y|α
7.3. CAPÍTULO 3 165
se n > n0 . Como (7.3.2) vale para quaisquer z, x, y ∈ [0, 1] com x 6= y, segue que
||fn − f ||α < 2ε para todo n > n0 . Daı́, fn → f em || · ||α .
converge, então αj → 0. Agora, considere a sequência (xn )n∈N em `1 (N) definida, para
cada n ∈ N fixado, por:
n n 1 1 1
x = (αj )j∈N = 1, , , . . . , , 0, 0, . . . , 0, . . . ,
2 3 n
isto é, αjn = 1/j se 1 ≤ j ≤ n, e αjn = 0 se j > n. Uma vez que xn é uma sequência
com finitas entradas não-nulas, temos que xn ∈ `1 (N) de fato. Mais ainda, (xn )n∈N é uma
sequência de Cauchy na norma || · ||∞ de c0 , uma vez que, dados n > m, temos
1
||xn − xm ||∞ = max{|αjn − αjm | : j ∈ N} = .
m+1
Entretanto, em c0 temos que xn converge para a sequência
1
x= ,
j j∈N
Exercı́cio 3.8 (a) Para cada sequência x = (αj )j∈N ∈ `∞ (N) considere a função fx :
`1 (N) → K dada por
∞
X
fx (y) = αj βj , (7.3.3)
j=1
para cada y = (βj )j∈N ∈ `1 (N). Desejamos mostrar que a aplicação que leva x em fx é
um isomorfismo isométrico de `∞ (N) em `1 (N). Vamos dividir a prova em etapas.
(1) fx está bem definida. Note que o somatório em (7.3.3) converge para algum escalar
em K. Para isso, note que
N
X N
X ∞
X
|αj βj | ≤ sup |αj | |βj | ≤ ||x||∞ |βj | = ||x||∞ ||y||1 ,
j∈N
j=1 j=1 j=1
166 CAPÍTULO 7. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS
(3) T é linear. Sejam x = (αj )j∈N e z = (γj )j∈N sequências em `∞ (N), e seja θ ∈ K.
Assim, para todo y = (βj )j∈N ∈ `1 (N) temos
∞
X ∞
X ∞
X
T (θx + z)(y) = fθx+z (y) = (θαj + γj )βj = θ α j βj + γj βj =
j=1 j=1 j=1
e portanto, de fato, vale que T (θx + z) = θT (x) + T (z) para quaisquer x, z ∈ `∞ (N) e
todo θ ∈ K. Lembre-se de que já provamos que todas as séries acima são convergentes.
(4) T é uma isometria. Note que a desigualdade (7.3.5) pode ser escrita como
para todo x ∈ `∞ (N). Por outro lado, para cada n ∈ N, seja y n ∈ `1 (N) a sequência tal
que sua n-ésima entrada é 1 e todas as outras são 0. É claro que ||y n ||1 = 1 para todo n.
Escrevendo, de novo, x = (αj )j∈N ∈ `∞ (N), temos
e portanto temos ||T x||`1 (N)∗ = ||x||∞ para todo x ∈ `∞ (N), isto é, T é uma isometria.
Note que isso garante que T é injetiva.
αj = f (y j ),
onde y j é a sequência em que todas as entradas são 0, exceto a j-ésima, que é igual a 1
(já havı́amos usado esses termos no passo anterior). Se x = (αj )j∈N , então afirmamos que
f = T x. Com efeito, sabemos do Exemplo 2.3.1 que (y n )n∈N é uma base de Schauder de
`1 (N), e que se y = (βj )j∈N ∈ `1 (N), temos que
∞
X n
X
j
y= βj y = lim βj y j ,
n→∞
j=1 j=1
7.3. CAPÍTULO 3 167
Isso mostra que T é sobrejetiva. Como T é uma isometria sobrejetiva, segue do Exercı́cio
2.15 que T é um isomorfismo. Isso conclui a prova.
donde segue que fx ∈ `p (N)∗ (a linearidade de fx é imediata). Agora, basta mostrar que
a aplicação T : `q (N) → `p (N)∗ dada por T x = fx é um isomorfismo isométrico. Os
argumentos são semelhantes aos do ı́tem (a).
para cada (αj ) ∈ `1 (N) e (βj ) ∈ c0 . Primeiro, vamos mostrar que, de fato, para cada
(αj ) ∈ `1 (N) a aplicação T (αj ) : c0 → R está bem-definida e é um funcional linear. Com
efeito, note que
∞
X
|αj βj | ≤ ||(βj )||∞ ||(αj )||`1 (N) ,
j=1
donde f = T (αj ). Finalmente, (7.3.6) garante que se f ∈ c0∗ , então ||T −1 f ||`1 (N) ≤ ||f ||c0∗ ,
e portanto o operador T −1 : c0∗ → `1 (N) é limitado. Logo, T é um isomorfismo.
Exercı́cio 3.9 Para a primeira afirmativa, note que para (αj )j∈N ∈ `1 (N) fixado, vale que
∞
X
n
||T (αj )||`1 (N) = |αj | → 0
j=n+1
quando n → ∞, pois (αj ) ∈ `1 (N). Para mostrar que T n não converge para o operador
nulo em L(`1 (N), `1 (N)), é suficiente mostrar que ||Tn ||L(`1 (N),`1 (N)) ≥ 1 para qualquer
n ∈ N. Dado n ∈ N, tome a sequência xn = (αjn )j∈N tal que αjn = 0 para todo j 6= n + 1,
n
e αn+1 = 1/(n + 1). Assim, é claro que ||xn ||`1 (N) = 1, e
||Tn ||L(`1 (N),`1 (N)) = sup{||Tn x||`1 (N) : x ∈ B`1 (N) } ≥ ||Tn (xn )||`1 (N) =
= ||(1, 0, 0, . . . , 0, . . .)||`1 (N) = 1,
e isso conclui a prova.
Exercı́cio 3.10 Note que a sequência
N
X
SN = T j.
j=0
N ∈ N, é uma sequência em L(X, X). Queremos mostrar que (SN )N ∈N converge para
algum ponto de L(X, X). Para isso, é suficiente mostrar que (SN ) é uma sequência de
Cauchy (lembre-se de que L(X, X) é Banach). Seja ||T || = δ < 1. Daı́, se m > n, temos
m n
X X
j j
||Sm − Sn ||L(X,X) = T − T = ||T n+1 + . . . + T m ||L(X,X) ≤
j=0 j=0 L(X,X)
∞
X
n+1 m n+1 m
≤ ||T ||L(X,X) + . . . + ||T ||L(X,X) < δ + ... + δ < δj ,
j=n+1
e como 0 < δ < 1, segue que a soma à direita vai para 0 quando n → ∞. Daı́, (SN ) é
uma sequência de Cauchy, e como L(X, X) é Banach, segue que existe S ∈ L(X, X) tal
que
N
X ∞
X
j
S = lim SN = lim T = T j.
N →∞ N →∞
j=0 j=0
7.3. CAPÍTULO 3 169
Agora, vamos mostrar que o operador (IdX − T ) é um isomorfismo. Primeiro, note que é
imediato que IdX −T é limitado. Para a injetividade, assuma que (IdX −T )x = (IdX −T )y
para x 6= y. Daı́, vem imediatamente que
x−y
T = 1,
||x − y||
e isso contradiz a hipótese ||T || < 1. Para mostrar que IdX − T é sobrejetivo, se y ∈ X,
então defina
∞
X N
X
j
x= T y = lim T j y.
N →∞
j=0 j=0
Para verificar que o limite de fato existe, note que a sequência das somas parciais é de
Cauchy. Com efeito, se n, m ∈ N com m > n, então:
m n
∞
X X X
T jy − T j y ≤ ||T n+1 y|| + . . . + ||T m y|| ≤ (δ n+1 + . . . + δ m )||y|| ≤ ||y|| δj ,
j=0 j=0 j=n+1
donde usamos a continuidade da composição (Exercı́cio 2.9). Falta apenas verificar que
(IdX − T )−1 é limitado. Se ||y|| = 1 e x = (IdX − T )−1 y, então
1 = ||y|| = ||x − T x|| ≥ ||x|| − ||T x|| ≥ ||x|| − ||T ||L(X,X) ||x|| = (1 − δ)||x||,
170 CAPÍTULO 7. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS
Exercı́cio 3.11 (a) Já sabemos que se T e S são limitados, então T S é limitado. Além
disso, a bijetividade é imediata, e o operador inverso é claramente dado por S −1 T −1 .
Como T −1 e S −1 são limitados segue que S −1 T −1 é limitado.
Assim, pelo exercı́cio anterior temos que IdX − T0 é um isomorfismo. Por outro lado,
T (IdX − T0 ) = T − T T −1 (T − S) = S,
(c) O ı́tem (b) mostra que para todo T ∈ Iso(X), a bola aberta (na métrica de L(X, X))
1
S ∈ L(X, X) : ||T − S||L(X,X) <
||T −1 ||L(X,X)
está contida em Iso(X). Daı́, segue imediatamente que Iso(X) é aberto em L(X, X).
Exercı́cio 3.12 Se X não é estritamente convexo, então podemos tomar vetores linear-
mente independentes x, y ∈ X tais que ||x + y|| = ||x|| + ||y||. Pondo
||y||
t= ,
||x|| + ||y||
temos que
x y x y = ||x + y|| = 1.
(1 − t) + t = +
||x|| ||y|| ||x|| + ||y|| ||x|| + ||y|| ||x|| + ||y||
Para a outra implicação, também procederemos pela contrapositiva. Se existem vetores
distintos x, y ∈ BX e t ∈ (0, 1) tais que ||(1 − t)x + ty|| ≥ 1, então note primeiro que, como
||(1 − t)x + ty|| ≤ (1 − t)||x|| + t||y|| = 1, segue que ||(1 − t)x + ty|| = 1. Mais ainda, é
claro que x e y são linearmente independentes, uma vez que são distintos e têm a mesma
norma. Assim, x̂ = (1 − t)x e ŷ = ty são linearmente independentes, e finalmente
(b) Assuma que há dois funcionais lineares f0 , g0 ∈ X ∗ distintos tais que
Daı́,
e assim segue que ||f0 + g0 ||X ∗ = ||f0 ||X ∗ + ||g0 ||X ∗ , donde X ∗ não é estritamente convexo.
f0 (α, β) = β − α, e
g0 (α, β) = α + β.
Note que f0 (x0 ) = g0 (x0 ) = 1. Além disso, se (α, β) ∈ B1 , então |α| + |β| ≤ 1, e isso
implica
2||g||Y ∗ = ||f1 ||X ∗ + ||f2 ||X ∗ ≥ ||f1 + f2 ||X ∗ = sup{f1 (x) + f2 (x) : x ∈ BX } ≥
≥ sup{f1 (x) + f2 (x) : x ∈ BX ∩ Y } = sup{2g(y) : y ∈ BY } = 2||g||Y ∗ ,
e assim temos que ||f1 + f2 ||X ∗ = ||f1 ||X ∗ + ||f2 ||X ∗ . Como o espaço X ∗ é estritamente
convexo, devemos ter f1 = αf2 para algum α ∈ R. Por outro lado, como ||f1 ||X ∗ =
||g||Y ∗ = ||f2 ||X ∗ , segue que α = 1, e portanto f1 = f2 .
Exercı́cio 3.15 (a) Assuma que Y é denso e que f ∈ X ∗ é tal que f (y) = 0 para todo
y ∈ Y . Seja x ∈ X, e tome uma sequência (yn )n∈N uma sequência em Y com yn → x. Por
continuidade, temos que
lim f (yn ) = 0,
n→∞
e vamos usar este fato para construir um funcional limitado não-nulo que se anula em Y .
Seja W = span(cl(Y ) ∪ {x0 }) e defina g : W → R pondo
para quaisquer y ∈ cl(Y ) e α ∈ R. É claro que g|Y = 0. Além disso, g é dominado pela
norma em W , pois
y
g(y + αx0 ) = αδ ≤ |α|δ ≤ |α| · + x0 = ||y + αx0 ||,
α
para quaisquer y ∈ cl(Y ) e α 6= 0 (o caso α = 0 é trivial), onde a segunda desigualdade se
justifica pois −y/α ∈ cl(Y ). Como a norma é um funcional sublinear, segue do teorema
de Hahn-Banach que g admite uma extensão linear f : X → R tal que f (x) ≤ ||x|| para
todo x ∈ X. Dessa desigualdade temos que f ∈ X ∗ . Além disso, f |Y = g|Y = 0, e
f (x0 ) = 1. Em outras palavras, f é um funcional em X ∗ que se anula em Y , mas que não
é identicamente nulo.
Exercı́cio 3.19 (a) Fixe x ∈ X. Uma vez que Tn x converge em Y , segue que
Assim, pelo princı́pio da limitação uniforme (Teorema 3.3.2) vem que existe c ∈ R tal que
sup{||Tn ||L(X,Y ) : n ∈ N} = c.
Assim, a sequência ||Tn x||Y é dominada pela sequência ||Tn ||L(X,Y ) . Fazendo n → ∞ vem
que
como querı́amos.
Exercı́cio 3.20 Observe que como, para um dado x ∈ X, a sequência (Tn x)n∈N é conver-
gente, segue que
Dado ε > 0, podemos tomar n suficientemente grande tal que ||xn − x||X < ε/2c e ||Tn x −
T x||Y < ε/2 (lembre-se de que T x = limn→∞ Tn x). Segue que para n suficientemente
grande temos
donde Tn xn → T x em Y .
174 CAPÍTULO 7. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS
Exercı́cio 3.21 Considere a aplicação identidade
IdX : (X, || · ||2 ) → (X, || · ||1 ).
Note cuidadosamente que a identidade é claramente linear, mas não é necessariamente
limitada se as normas definidas no domı́nio e no contra-domı́nio são distintas. No nosso
caso, entretanto, a hipótese nos dá
||IdX (x)||1 = ||x||1 ≤ C||x||2 ,
para todo x ∈ X. Isso mostra que a identidade é contı́nua nas normas consideradas. Uma
vez que as duas normas fazem com que X seja Banach, podemos aplicar o Teorema da
Aplicação aberta, e garantir que existe c > 0 tal que
B1 (0X , 2c) ⊆ IdX (B2 (0X , 1)) = B2 (0X , 1),
onde os números subscritos indicam de qual norma é a respectiva bola aberta. Se x 6= 0,
então cx/||x||1 ∈ B1 (0X , 2c), e portanto cx/||x||1 ∈ B2 (0X , 1). Logo,
cx
||x||1 < 1,
2
e isso nos dá c||x||2 < ||x||1 . No caso x = 0X temos a igualdade c||0X ||2 = ||0X ||1 , e
portanto vem que c||x||2 ≤ ||x||1 para todo x ∈ X, como querı́amos.
Exercı́cio 3.22 Considere || · ||1 = || · ||∞ , e defina
Z 1
||f ||2 = |f (t)| dt.
0
O fato de que || · ||2 é uma norma vem da continuidade das funções em C([0, 1]). Note que
Z 1
||Id(f )||2 = ||f ||2 = |f (t)| dt ≤ max{|f (t)| : t ∈ [0, 1]} = ||f ||∞ ,
0
É fácil notar que cada função fn assim definida é contı́nua. Note que, para cada n > 2,
temos ||fn ||2 = 1. Com efeito,
Z 1/n Z 2/n
2
||fn ||2 = n t dt + (−n2 t + 2n) dt = 1.
0 1/n
Por outro lado, ||fn ||∞ ≥ |fn (1/n)| = n para cada n ∈ N. Segue que
sup{||Id(f )||∞ : ||f ||2 = 1} = ∞,
donde o operador inverso Id : (C([0, 1]), || · ||2 ) → (C([0, 1]), || · ||1 ) não é limitado.
7.4. CAPÍTULO 4 175
(b) Sejam T ∈ L(X, Y ) e (xn , T xn )n∈N uma sequência em graf(T ) tal que (xn , T xn ) →
(x, y) em X × Y . Daı́, xn → x em X, e como T é contı́nuo temos T xn → T x em Y . Segue
que T x = y, donde graf(T ) é fechado.
7.4 Capı́tulo 4
Exercı́cio 4.1 Se F1 ⊆ F2 , então toda aplicação de F1 é contı́nua com respeito à topo-
logia σ(X, F2 ). Segue da definição que σ(X, F1 ) é menos fina do que σ(X, F2 ), isto é,
σ(X, F1 ) ⊆ σ(X, F2 ).
Exercı́cio 4.4 Primeiro, observe que (xn )n∈N possui subsequência fortemente convergente,
pois K é compacto na topologia forte, e portanto é sequencialmente compacto (isso vem
do Teorema 1.4.1, uma vez que a topologia forte é métrica). Denote uma tal subsequência
convergente por (xnk )k∈N , e seja z = limk→∞ xnk . Como a convergência forte implica
a convergência fraca, temos que xnk * z, e portanto vem que z = x (note que, em
particular, x ∈ K).
Agora, assuma que xn não converge fortemente para x. Daı́, existem um número ε0 > 0
e uma subsequência (xnj )j∈N tais que ||xnj −x||X > ε0 para qualquer j ∈ N. Como (xnj )j∈N
é uma sequência de pontos de K, temos que (xnj ) tem uma subsequência convergente,
que denotaremos por (xm )m∈N por simplicidade. É claro que limm→∞ xm = x0 6= x, uma
vez que ||xm − x|| > ε0 para qualquer m ∈ N. Como a convergência forte implica a
convergência fraca, temos que xm * x0 . Mas isso é uma contradição, uma vez que (xm )
é, em particular, uma subsequência de (xn ), e x0 6= x.
176 CAPÍTULO 7. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS
Observação 7.4.1. Em qualquer espaço topológico, vale que a convergência de uma sequência
implica a convergência de qualquer uma de suas subsequências.
Exercı́cio 4.5 Seja A(Y ) a coleção de todos os abertos da topologia forte de X que estão
contidos em Y , e seja Aw (Y ) a coleção de todos os abertos da topologia fraca de X que
estão contidos em Y . É claro que Aw (Y ) ⊆ A(Y ). Assim,
[ [
intσ(X,X ∗ ) (Y ) = Aw (Y ) ⊆ A(Y ) = int(Y ).
Agora, como todos os fechados da topologia fraca são fechados na topologia forte, segue
que se F(Y ) e Fw (Y ) são as famı́lias dos fechados das topologias forte e fraca, respecti-
vamente, que contém Y , então temos Fw (Y ) ⊆ F(Y ). Assim,
\ \
cl(Y ) = F(Y ) ⊆ Fw (Y ) = clσ(X,X ∗ ) (Y ).
Exercı́cio 4.6 Se xn * x, então pela Proposição 4.2.5 existe c ∈ R tal que ||xn || ≤ c
para todo n ∈ N. Assim,
Observe que esse argumento pode falhar em dimensão finita se a vizinhança conside-
rada tiver tantos funcionais quanto a dimensão do espaço. Explicitamente, assuma que
dim(X) = n, e fixe uma base {e1 , . . . , en } em X. Para cada j = 1, . . . , n, considere o
(único) funcional linear fj : X → K tal que fj (ej ) = 1 e fj (ei ) = 0 se i 6= j. Afirmamos
que para quaisquer x ∈ X e ε > 0 a vizinhança V (x, f1 , . . . , fn , ε) não contém nenhuma
reta passando por x. Com efeito, se y 6= 0X é tal que
{x + ty : t ∈ R} ⊆ V (x, f1 , . . . , fn , ε),
então ε > |fj (x + ty) − fj (x)| = |t| · |fj (y)| para quaisquer t ∈ R e j = 1, . . . , m.
Consequentemente, devemos ter f1 (y) = . . . = fm (y) = 0. Se y = α1 e1 + . . . αn en , então
essas igualdades garantem que α1 = . . . = αn = 0, donde y = 0X .
7.4. CAPÍTULO 4 177
Exercı́cio 4.8 Vamos apresentar duas soluções. A mais simples delas segue imediata-
mente do Corolário 4.2.1. Mas também podemos usar o fato de que a esfera unitária não
é fechada na topologia fraca. De fato, pela Proposição 4.2.6, segue que a bola unitária
BX é fechada na topologia fraca, mas a esfera unitária SX não o é. Se B(0X , 1) é aberta
na topologia fraca, então X \ B(0X , 1) é um conjunto fechado da topologia fraca. Como
temos claramente que
SX = BX ∩ (X \ B(0X , 1)),
segue que SX é a interseção de dois fechados da topologia fraca, donde fechada na topologia
fraca. Esta contradição mostra que B(0X , 1) não é aberta.
(b) Como conv(A) é um convexo que contém A, temos que conv(A) contém a interseção de
todos os convexos contendo A. Portanto, devemos provar que esta interseção está contém
conv(A), e isso é o mesmo que mostrar que conv(A) está contido em qualquer convexo
que contém A. Para isso usaremos um argumento de indução. Seja K um convexo que
contém A. É claro que toda combinação convexa de dois elementos de A pertence a K.
Suponha, então, que toda combinação convexa de n − 1 pontos de A está em K. Daı́,
escrevemos uma combinação convexa de n pontos de A como
n n−1
X X αj
x= αj xj = (1 − αn ) xj + α n xn ,
j=1 j=1
1 − αn
Daı́, o vetor
n−1
X αj
z= xj
j=1
1 − αn
178 CAPÍTULO 7. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS
(c) Se conv(K) = K, então é claro que K é convexo, uma vez que conv(K) é convexo.
Para o outro sentido, suponha que K é convexo. É claro que K ⊆ conv(K), e a outra
inclusão vem do ı́tem (b), onde notamos que K é um convexo que contém K.
Exercı́cio 4.10 Sejam f ∈ X ∗ e ε > 0 arbitrários. Seja n0 ∈ N tal que n > n0 implica
ε
|f (xn ) − f (x)| < .
2
Assim, para qualquer m ∈ N, vale a desigualdade
f (x1 ) + . . . + f (xn0 ) + f (xn0 +1 ) + . . . + f (xn0 +m )
|f (zn0 +m ) − f (x)| = − f (x) ≤
n0 + m
max1≤j≤n0 |f (xj ) − f (x)| mε max1≤j≤n0 |f (xj ) − f (x)| ε
≤ + < +
n0 + m 2(n0 + m) n0 + m 2
Tomando m0 ∈ N com a propriedade de que
max1≤j≤n0 |f (xj ) − f (x)| ε
<
n0 + m 2
sempre que m > m0 (observe que o numerador não depende de m), segue que se n >
n0 + m0 , então |f (zn ) − f (x)| < ε. Consequentemente, temos que f (zn ) → f (x) para
qualquer f ∈ X ∗ , donde zn * x.
Exercı́cio 4.11 Seja K = conv {xn : n ∈ N} . Pelo ı́tem (a) do Exercı́cio 4.9, temos que
K é convexo. Como o fecho cl(K) de K na topologia forte é um fechado convexo, segue
da Proposição 4.2.7 que cl(K) é fechado na topologia fraca. Como {xn : n ∈ N} ⊆ K ⊆
cl(K) e xn * x, temos que x ∈ cl(K). Finalmente, como a topologia forte é uma topologia
métrica, e portanto é Haudorff e tem o primeiro axioma de enumerabilidade, os pontos de
cl(K) são precisamente aqueles que podem ser aproximados por uma sequência de pontos
de K, que por suas vez são combinações convexas finitas dos pontos da sequência (xn ).
Assim, para provar que clσ(X,X ∗ ) (K) = cl(K) basta mostrar que
uma vez que a inclusão inversa é óbvia (se A é subconjunto de B, então o fecho de A
é subconjunto do fecho de B). Seja y ∈ clσ(X,X ∗ ) (cl(K)). Precisamos mostrar que toda
vizinhança de y na topologia fraca contém algum ponto de K, e sabemos que uma tal
7.4. CAPÍTULO 4 179
vizinhança sempre tem algum ponto de cl(K). Portanto, seja V = V (y, f1 , . . . , fm , ε) uma
vizinhança arbitrária de y na topologia fraca, e seja y0 ∈ V ∩ cl(K). Ponha
|fj (y1 ) − fj (y)| ≤ |fj (y1 ) − fj (y0 )| + |fj (y0 ) − fj (y)| ≤ ||fj ||X ∗ ||y1 − y0 ||X + ε1 ≤
≤ M ||y1 − y0 ||X + ε1 < ε − ε1 + ε1 = ε,
e isso significa que y1 ∈ V , de fato. Como consequência, temos que toda vizinhança de y
na topologia fraca contém algum ponto de K, e portanto y ∈ clσ(X,X ∗ ) (K). Isso conclui a
prova.
Exercı́cio 4.13 Denote V = V (x, f1 , . . . , fm , ε) por simplicidade, e sejam y, z ∈ V , e seja
t ∈ [0, 1]. Para cada 1 ≤ j ≤ m, temos
|fj ((1 − t)y + tz) − fj (x)| = |(1 − t)(fj (y) − fj (x)) + t(fj (z) − fj (x))| =
= (1 − t)|fj (y) − fj (x)| + t|fj (z) − fj (x)| < (1 − t)ε + tε = ε,
donde (1 − t)y + tz ∈ V (x, f1 , . . . , fm , ε). Agora, como cl(V ) é fechado na topologia forte,
vem da Proposição 4.2.7 que cl(V ) é fechado na topologia fraca. Uma vez que o fecho de
V na topologia fraca é a interseção de todos os fechados da topologia fraca que contém
V , e como V ⊆ cl(V ), temos que
clσ(X,X ∗ ) (V ) ⊆ cl(V ).
A inclusão reversa vem diretamente do Exercı́cio 4.5, e portanto temos que cl(V ) =
clσ(X,X ∗ ) (V ). Para a igualdade remanescente, usaremos a topologia forte, isto é, provare-
mos que
para todo j = 1, . . . , m, e isso nos dá uma das inclusões. Por outro lado, se z ∈ X é tal
que |fj (z) − fj (x)| ≤ ε para todo 1 ≤ j ≤ m, tome uma sequência (εn )n∈N de números
reais positivos com as propriedades de que εn → ε e εn < ε para todo n ∈ N, e ponha
εn z (ε − εn )x
zn = + .
ε ε
180 CAPÍTULO 7. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS
Exercı́cio 4.14 Se z ∈ V (x, f1 , . . . , fm , ε), então |fj (z) − fj (x)| < ε para qualquer 1 ≤
j ≤ m. Daı́,
|fj (x0 + αz) − fj (αx + x0 )| = |α| · |fj (z) − fj (x)| < |α|ε
Exercı́cio 4.15 É claro que Tx0 é uma bijeção. Do Exercı́cio 4.14 vem que para qualquer
vizinhança V = V (x1 , f1 , . . . , fm , ε) da topologia fraca vale que
Tx−1
0
(V ) = V (x1 − x0 , f1 , . . . , fm , ε),
ou seja, um aberto da topologia fraca. Segue que Tx0 é contı́nua. Para verificar que a
inversa de Tx0 é contı́nua na topologia fraca, note que Tx−1 0
= T−x0 . Para a aplicação Pα ,
note que
−1 x1 ε
Pα (V ) = V , f1 , . . . , fm , .
α |α|
7.4. CAPÍTULO 4 181
Y ∩ V (y, f1 , . . . , fm , ε) = V (y, f1 |Y , . . . , fm |Y , ε) ,
e isso prova que todo aberto de σ(Y, Y ∗ ) é a interseção de Y com um aberto de σ(X, X ∗ ),
ou seja, um aberto da topologia σ(X, X ∗ ) induzida em Y .
Exercı́cio 4.18 É suficiente mostrar que toda vizinhança V (x, f1 , . . . , fm , ε) contém al-
guma vizinhança em que as normas duais dos funcionais envolvidos são todas menores ou
iguais a 1. Seja
Exercı́cio 4.21 Da versão do Exercı́cio 4.15 para a topologia fraca∗ , segue que Tf0 ◦ Pα :
(X ∗ , σ(X ∗ , X)) → (X ∗ , σ(X ∗ , X)) é um homeomorfismo. Assim, a sua restrição a BX ∗ :
é contı́nua (pelo Exercı́cio 1.15). Como a imagem dessa restrição é precisamente a bola
f0 + αBX ∗ , e como (BX ∗ , σ(X ∗ , X)) é compacto (pelo Teorema 4.3.1), segue do Exercı́cio
1.17 que f0 + αBX ∗ é compacta com a topologia fraca∗ .
Observação 7.4.2. Como consequência do Exercı́cio 1.16 temos de fato que a restrição
(Tf0 ◦ Pα )|BX ∗ é um homeomorfismo de BX ∗ em f0 + αBX ∗ , ambos com a topologia fraca∗
(ou ambos com a topologia fraca, ou com ambos com a topologia forte, uma vez que Tf0 ◦Pα
é um homeomorfismo de X ∗ sobre si mesmo com qualquer uma dessas topologias).
182 CAPÍTULO 7. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS
|g(T (x))| ≤ ||g||Y ∗ ||T x||Y ≤ ||g||Y ∗ ||T ||L(X,Y ) ||x||X , (7.4.1)
T a g = g ◦ T,
para todo funcional g ∈ Y ∗ . Note que T a é injetiva, pois T a g = T a h implica g(T (x)) =
h(T (x)) para todo x ∈ X, e como T é sobrejetiva segue que g(y) = h(y) para qualquer
y ∈ Y . Para verificar que T a é sobrejetiva, primeiro note que se f ∈ X ∗ , então vale a
desigualdade
|f (T −1 (y))| ≤ ||f ||X ∗ ||T −1 (y)|X ≤ ||f ||X ∗ ||T −1 ||L(Y,X) ||y||Y , (7.4.2)
T a (g + αh) = (g + αh) ◦ T = g ◦ T + αh ◦ T = T a g + αT a h,
e isso mostra que T a é limitado. Assim, para mostrar que T a é um isomorfismo, falta
apenas provar que sua inversa (T a )−1 é um operador limitado. Se g = (T a )−1 f , então
f = T a g. Assim, se T x = y, então
e daı́ segue que ||(T a )−1 ||L(X ∗ ,Y ∗ ) ≤ ||T −1 ||L(Y,X) , donde (T a )−1 é limitado. Isso conclui a
prova de que T a é um isomorfismo entre Y ∗ e X ∗ .
T 6= 0L(X,Y ) , então podemos tomar uma sequência xn ∈ BX tal que ||T xn ||Y → ||T ||L(X,Y ) ,
e podemos assumir que T xn 6= 0Y para todo n ∈ N. Defina
T xn
yn = ,
||T xn ||Y
para cada n ∈ N, e do Exercı́cio 3.13 considere gn ∈ Y ∗ tal que
gn (yn ) = ||gn ||Y ∗ = 1.
Assim, cada gn é um ponto de BY ∗ , e portanto
||T a ||L(Y ∗ ,X ∗ ) ≥ ||T a gn ||X ∗ = ||gn ◦ T ||X ∗ ≥ |gn (T xn )| = ||T xn ||Y |gn (yn )| = ||T xn ||Y .
Como ||T xn ||Y → ||T ||L(X,Y ) segue que ||T a ||L(Y ∗ ,X ∗ ) ≥ ||T ||L(X,Y ) .
Exercı́cio 4.24 Se f ∈ clσ(X ∗ ,X) (Y ⊥ ) então, em particular, para todo y ∈ Y vale que
V (f, ŷ, 1) ∩ Y ⊥ 6= ∅.
Portanto, dado y ∈ Y arbitrário, seja gy ∈ V (f, ŷ, 1) ∩ Y ⊥ . Temos que
|f (y)| = |ŷ(f ) − ŷ(gy )| < 1,
e segue que |f (y)| < 1 para todo y ∈ Y . Isso só pode ocorrer se f |Y = 0, e portanto
f ∈ Y ⊥ . Isso prova que Y ⊥ é fechado na topologia σ(X ∗ , X).
Exercı́cio 4.25 Pelo teorema de Banach-Alaoglu-Bourbaki (Teorema 4.3.1) temos que
BX ∗ é compacta na topologia fraca∗ . Assim, Y ⊥ ∩ BX ∗ é compacto pois é a interseção de
um fechado com um compacto (veja o Exercı́cio 1.14).
Exercı́cio 4.28 A prova é semelhante à do Exercı́cio 4.27. Seja (xn )n∈N ∈ X uma
sequência em X tal que Jxn → y em X ∗∗ . Uma vez que J é uma isometria linear, temos
que (xn ) é uma sequência de Cauchy em X, e portanto temos que xn → x para algum
x ∈ X. Por continuidade, segue que Jxn → Jx, e portanto y = Jx ∈ J(X).
Exercı́cio 4.29 Se X e Z são isomorfos, então o operador adjunto T a : Z ∗ → X ∗ é um
isomorfismo (veja o Exercı́cio 4.23). Seja T aa : X ∗∗ → Z ∗∗ o adjunto de T a , cuja imagem
para cada ψ ∈ X ∗∗ é o funcional T aa ψ : Z ∗ → K em Z ∗∗ dado por
T aa ψ(f ) = ψ(T af ),
Exercı́cio 4.31 Observe que K é fechado na topologia fraca (veja a Proposição 4.2.7).
Como K é limitado, temos que existe c > 0 tal que K ⊆ cBX . Como X é reflexivo, temos
que BX é compacta na topologia fraca σ(X, X ∗ ) de X (veja o Teorema 4.4.1), e como
consequêcia do Exercı́cio 4.14, temos que cBX também é compacto na topologia σ(X, X ∗ ).
Segue que K é um subconjunto fechado de um espaço topológico que é compacto com
a topologia σ(X, X ∗ ), e portanto também é compacto com a topologia σ(X, X ∗ ) (veja a
Proposição 1.4.1).
7.4. CAPÍTULO 4 185
Exercı́cio 4.32 Pelo Corolário 4.2.1, temos que nenhum aberto não vazio da topologia
fraca é limitado. Segue que a pré-imagem do intervalo aberto (0, 1) ⊆ R pela norma
não é aberto na topologia fraca. Segue que a norma não é aberta na topologia fraca.
Pelo Exercı́cio 4.20, temos que a topologia fraca∗ também não contém abertos não-vazios
limitados, e daı́ usamos o mesmo argumento para mostrar que a norma de X ∗ não é
contı́nua na topologia fraca∗ .
Exercı́cio 4.34 Pela versão do Exercı́cio 4.15 para a topologia fraca∗ , temos que a
aplicação
Tx0 ◦ Pα : (BX ∗ , σ(X ∗ , X)) → (x0 + αBX ∗ , σ(X ∗ , X))
é um homeomorfismo (veja também o Exercı́cio 1.16). Seja d uma métrica em BX ∗ que
gera a topologia fraca∗ , e defina a métrica d0 em x0 + αBX ∗ por
d0 (x0 + αx, x0 + αy) = d(x, y)
para quaisquer x, y ∈ BX ∗ . Como
Bd0 (x0 + αx, ρ) = Tx0 ◦ Pα (Bd (x, ρ))
para todos x ∈ BX ∗ e ρ > 0, segue que
Tx0 ◦ Pα : (BX ∗ , d) → (x0 + αBX ∗ , d0 )
é um homeomorfismo. Assim, segue que a topologia gerada por d0 em x0 + αBX ∗ coincide
com a topologia fraca∗ induzida em x0 + αBX ∗ (veja o Exercı́cio 1.18).
Exercı́cio 4.35 Pelo Corolário 3.3.3, é suficiente mostrar que a imagem f (A) é limitada
em K para cada f ∈ X ∗ fixado. Se f é o funcional nulo, então é claro que a imagem de
A por f é limitada em K, e se f 6= 0X ∗ , então a famı́lia
Af = {V (a, f, 1) : a ∈ A}
é uma cobertura de A por abertos da topologia fraca. Como A é compacto nessa topologia,
temos que existem finitos pontos a1 , . . . , am ∈ A tais que
m
[
A⊆ V (aj , f, 1).
j=1
Exercı́cio 4.36 Seja F ⊆ X ∗ compacto com a topologia fraca∗ induzida. Temos ime-
diatamente que F é fechado na topologia fraca∗ pois essa topologia é Hausdorff (veja a
Proposição 1.4.2 e a Proposição 4.3.1). Devemos mostrar, portanto, que F é limitado na
norma, e para isso vamos usar uma estratégia semelhante à usada no Exercı́cio 4.35, mas
agora usando o Exercı́cio 3.25. Basta mostrar que para cada x ∈ X fixado, o conjunto
Yx = {f (x) : f ∈ F } é limitado em K. Dado x ∈ X, a famı́lia
Ax = {V (f, x̂, 1) : f ∈ F }
Seja M = max1≤j≤m |fj (x)|. Para qualquer f ∈ F , existe k ∈ {1, . . . , m} tal que f ∈
V (fk , x̂, 1), e portanto
e assim Yx é limitado em K.
Agora, assuma que F é fechado na topologia fraca∗ e limitado na norma. Seja m > 0
tal que F ⊆ mBX ∗ . Pelo Exercı́cio 4.21, temos que mBX ∗ é compacto na topologia
fraca∗ . Como F é fechado como subconjunto de (X ∗ , σ(X ∗ , X)), segue que F é fechado
como subconjunto de (mBX ∗ , σ(X ∗ , X)). Finalmente, F é um subconjunto fechado de um
espaço topológico compacto, e da Proposição 1.4.1 vem que F é compacto com a topologia
fraca∗ .
Observação 7.4.4. Note que provamos que F é compacto com a topologia fraca∗ induzida
por mBX ∗ (que é a topologia fraca∗ de X ∗ induzida em mBX ∗ , é claro). O leitor pode se
perguntar se realmente F é compacto com a topologia fraca∗ induzida por X ∗ . Isso vem
do seguinte fato topológico: se Z ⊆ Y ⊆ (X, τ ), e τY é a topologia τ de X induzida em
Y , então as topologias (τY )Z e τZ que τY e τ induzem em Z, respectivamente, coincidem.
Com efeito, todo aberto de τZ é da forma U ∩Z, para algum U ∈ τ , e todo aberto de (τY )Z
é da forma U ∩ Y ∩ Z, para algum U ∈ τ . Como Z ⊆ Y , temos que U ∩ Z = U ∩ Y ∩ Z
para qualquer aberto U de X. Assim, todo aberto de τZ é aberto de (τY )Z e vice-versa.
Exercı́cio 4.37 Seja J : X → X ∗∗ a aplicação canônica, e para cada x ∈ X denote
J(x) = x̂, como usual. Tome a sequência (x̂n )n∈N como uma famı́lia de operadores
lineares em L(X ∗ , K) e observe que para cada f ∈ X ∗ vale que
sup{x̂n (f ) : n ∈ N} < ∞,
uma vez que x̂n (f ) = f (xn ) é uma sequência convergente. Pelo princı́pio da limitação
uniforme, segue que a sequência (x̂n )n∈N é uma sequência limitada em X ∗∗ , e como a
aplicação canônica é uma isometria vem que (xn )n∈N é uma sequência limitada em X.
Como X é reflexivo, temos que (xn ) tem uma subsequência fracamente convergente xnk .
Assuma que x ∈ X é tal que xnk * x quando k → ∞. Isso significa que para qualquer
f ∈ X ∗ , temos f (xnk ) → f (x), e como f (xn ) é convergente, vem que f (xn ) → f (x).
7.5. CAPÍTULO 5 187
7.5 Capı́tulo 5
Exercı́cio 5.1 O fato de que h·, ·iX é um produto interno decorre imediatamente de
propriedades da integral. Com efeito, se f ∈ C([0, 1]), então
Z Z
f (t) dt = f (t) dt,
R1
e, por continuidade, se 0
|f (t)|2 dt = 0, então temos que f é a função identicamente nula.
Exercı́cio 5.2 Como a topologia da norma é métrica, podemos usar o critério sequencial.
Seja (xn ) uma sequência em X com xn → x na norma do produto interno. Devemos
mostrar que hxn , yi → hx, yi em K. Para verificar isso, basta notar que
|hx, yi|2 |hx, yi|2 |hx, yi|2 |hx, yi|2 |hx, yi|2
0 ≤ −2Re + = −2 + = − ,
||y||2 ||y||2 ||y||2 ||y||2 ||y||2
Segue que x0 /δ e x1 /δ são pontos da esfera unitária tais que o seu ponto médio também
é um ponto da esfera unitária. Logo, devemos ter x0 = x1 , uma vez que toda norma dada
por um produto interno é estritamente convexa.
Exercı́cio 5.11 A sesquilinearidade de b é imediata. Se x ∈ BX e Y ∈ BY , então
|b(y, x)| = |hy, T xiY | ≤ ||y||Y ||T x||Y ≤ ||T ||L(X,Y ) ||x||X ≤ ||T ||L(X,Y ) ,
e isso mostra que b é limitada. Para mostrar que S = T ∗ , note que do Teorema 5.3.1
temos a igualdade
hT ∗ y, xiX = hy, T xiY = b(y, x)
para quaisquer x ∈ X e y ∈ Y . Da Proposição 5.2.1 vem que S é o único operador de
L(Y, X) com a propriedade de que b(y, x) = hSy, xiX para quaisquer x ∈ X e y ∈ Y , e
daı́ vem que S = T ∗ .
7.5. CAPÍTULO 5 189
Observação 7.5.1. Como consequência desse exercı́cio, temos que o adjunto de Hilbert T ∗
de T ∈ L(X, Y ) é o único operador limitado com a propriedade de que
hT ∗ y, xiX = hy, T xiY
para quaisquer x ∈ X e y ∈ Y . Com efeito, se T ∗ tem essa propriedade, então T ∗ é o
operador dado pela Proposição 5.2.1 para a forma sesquilinear limitada
b(y, x) = hy, T xiX
definida em Y × X, e esse operador é único.
Exercı́cio 5.14 Assuma primeiro que E é uma base ortonormal, e seja x ∈ X um vetor
tal que x ⊥ eλ para todo λ ∈ L. Daı́, para todo ε > 0 existe uma combinação linear finita
m
X
y= αλj eλj
j=1
tal que ||x − y||X < ε. Como x ⊥ y, segue do Exercı́cio 5.3 que
||x||2X ≤ ||x||2X + ||y||2X = ||x − y||2X < ε2 ,
e portanto segue que x = 0X . Agora, assuma que E ⊥ = {0X }, e seja Y = span(E). Pela
Proposição 5.1.1 segue que X = cl(Y ) ⊕ cl(Y )⊥ . Se cl(Y ) 6= X, então existe um vetor
não-nulo y0 ∈ cl(Y )⊥ , donde Y ⊥ contém um vetor não-nulo y. Como y ⊥ w para todo
w ∈ Y , temos em particular que y ⊥ eλ para qualquer λ ∈ L (pois E ⊆ Y ). Assim,
y ∈ E ⊥ , e isso contradiz a hipótese. Logo, cl(span(E)) = X, e portanto E é uma base
ortonormal de X.
Exercı́cio 5.15 Seja (ej )j∈N é uma sequência ortonormal em um espaço de Hilbert X.
Tome um funcional qualquer f ∈ X ∗ . Pelo teorema da representação de Riesz, existe
x ∈ X com a propriedade de que f (z) = hx, ziX para qualquer z ∈ X. Por outro lado,
pela desigualdade de Bessel temos que a série
∞
X ∞
X ∞
X
2 2
|f (ej )| = |hx, ej iX | = |hej , xiX |2
j=1 j=1 j=1
é convergente. Segue que f (ej ) → 0 = f (0X ) quando j → ∞. Uma vez que isso vale para
qualquer f ∈ X ∗ temos que en * 0X .
Para verificar que (ej )j∈N não tem subsequência convergente apenas note que nenhuma
subsequência de (ej ) é de Cauchy. Com efeito, se i 6= j, então pelo teorema de Pitagoras
temos ||ei − ej ||2X = ||ei ||2X + ||ej ||2X = 2.
Exercı́cio 5.16 Seja E uma base ortonormal de X. Como U preserva produto interno, é
claro que U (E) é um conjunto ortonormal. Resta mostrar que cl(span(U (E)) = Y . Para
isso, vamos usar a sobrejetividade de U , e o fato de que U é uma isometria. Se y ∈ Y ,
então podemos tomar x ∈ X tal que U x = y. Como E é base ortonormal de X, segue que
existe uma sequência (xn ) em span(E) tal que xn → x. Como U é isometria, temos que
||U xn − y||Y = ||U (xn − x)||Y = ||xn − x||X , donde U xn converge para y. Por linearidade,
cada U xn é um vetor de span(U (E)). Isso conclui a demonstração.
190 CAPÍTULO 7. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS
Exercı́cio 5.18 Para quaisquer x, y ∈ X, temos
0 = hT (x + y), x + yiX = hT x, yiX + hT y, xiX , e
0 = hT (x + iy), x + iyiX = ihT x, yiX − ihT y, xiX .
Dividindo a segunda igualdade por i, e somando com a primeira, temos que hT x, yiX = 0
para todos x, y ∈ X. Segue que T é o operador nulo.
Exercı́cio 5.19 Primeiro, assuma que hT x, xiX ∈ R para qualquer x ∈ X, e seja T ∗ o
adjunto de Hilbert de X. Daı́,
hT ∗ x, xiX = hx, T xiX = hT x, xiX ,
onde a última igualdade se justifica pois o conjugado de um número real é ele próprio.
Assim, segue que
h(T ∗ − T )x, xiX = 0
para todo x ∈ X. Do Exercı́cio 5.18, segue que T ∗ = T . Agora, assuma que T é auto-
adjunto. Assim, hT x, xiX = hx, T xiX = hT x, xiX para todo x ∈ X. Isso conclui a
prova.
7.6 Capı́tulo 6
Exercı́cio 6.8 Seja {En }n∈N umaScoleção enumerável de conjuntos de Σ tal que Ej ∩Ei = ∅
sempre que i 6= j, e denote E = ∞ j=1 Ej . Devemos mostrar que
∞
X
µ(E) = µ(Ej ).
j=1
Sn
Para cada n ∈ N, temos que En ⊆ E, e portanto
j=1
n
! n
[ X
µ(E) ≥ µ Ej = µ(Ej ).
j=1 j=1
Os termos da sérieP ∞
P
j=1 µ(Ej ) são todos
P∞não negativos, e portanto se a série não é
∞
convergente, então j=1 µ(Ej ) = ∞. Se j=1 µ(Ej ) = ∞, então da desigualdadeP acima
temos µ(E) = ∞ e daı́ vem a igualdade desejada. Portanto, assuma que a série ∞ j=1 µ(Ej )
é convergente. Pela desigualdade acima temos imediatamente que
∞
X
µ(Ej ) ≤ µ(E).
j=1
Agora, vamos provar a desigualdade invrsa. Seja ε > 0 arbitrário. Usando a regularidade
de µ, para cada n ∈ N tome um aberto mensurável Gn contendo En com a propriedade
de que
ε
µ(Gn ) < µ(En ) + n .
2
7.6. CAPÍTULO 6 191
donde {Gj }∞j=1 é uma cobertura de K por abertos de (X, τ ). Segue do Lema 1.4.1 que
essa cobertura admite uma subcobertura finita, donde podemos tomar m ∈ N tal que
m
[
K⊆ Gj .
j=1
S
Como µ é finitamente aditiva, segue que µ m ≤ m
P
G
j=1 j j=1 µ(Gj ). A demonstração
desta desigualdade é análoga ao caso em que µ é σ-aditiva (veja o ı́tem (c) da Proposição
6.1.1). Consequentemente,
m m h ∞ ∞
X X ε i Xh εi X
µ(K) ≤ µ(Gj ) < µ(Ej ) + j ≤ µ(Ej ) + j = ε + µ(Ej ).
j=1 j=1
2 j=1
2 j=1
Como ε > 0 é arbitrário, temos que para todo compacto mensurável K ⊆ E vale que
∞
X
µ(K) ≤ µ(Ej ).
j=1
Assim, uma vez que µ é regular tomamos o supremo das medidas dos compactos men-
suráveis contidos em E para obter a desigualdade desejada:
∞
X
µ(E) = sup{µ(K) : K ∈ Σ ∩ C, K ⊆ E} ≤ µ(Ej ),
j=1
Exercı́cio 6.12 Seja φ : X → R2 a aplicação dada por φ(x) = (f (x), g(x)). Pela
Proposição 6.2.3, segue que φ é mensurável. As funções de R2 em R dadas por
s(a, b) = a + b, p(a, b) = ab, M (a, b) = max{a, b}, e m(a, b) = min{a, b}
são contı́nuas, e portanto mensuráveis (veja o Corolário 6.2.1. Agora, observe que
f + g = s ◦ φ, f g = p ◦ φ, max{a, b} = M ◦ φ, e min{a, b} = m ◦ φ,
que são composições de funções mensuráveis, donde são mensuráveis (veja o Exercı́cio
6.10). Para mostrar que |f | é mensurável, basta notar que | · | : R → R é contı́nua, e
portanto mensurável, e usar de novo o Exercı́cio 6.10.
Exercı́cio 6.13 Seja t ∈ [0, ∞), e assuma que t ≤ n0 . Note que para cada n ∈ N, vale
que
n −1
n2[ h i
[0, n] = k2−n , (k + 1)2−n ,
k=0
e portanto xn → t.
onde Ej = s−1 (aj ) para cada j. Pela definição de integral sobre um subconjunto men-
surável, temos que
Z Xm Xm
µs (∅) = s dµ = aj µ(Ej ∩ ∅) = aj µ(∅) = 0.
∅ j=1 j=1
Falta mostrar que µs é σ-aditiva. Seja {An }n∈N uma coleção de conjuntos mensuráveis
que são mutuamente disjuntos. Daı́,
∞
! Z m ∞
! m ∞
[ X [ X X
µs An = S s dµ = aj µ Ej ∩ An = aj µ(Ej ∩ An ) =
∞
n=1 n=1 An j=1 n=1 j=1 n=1
∞ m
! ∞ Z ∞
X X X X
= aj µ(Ej ∩ An ) = s dµ = µs (An ),
n=1 j=1 n=1 An n=1
Pela aditividade da integral (Proposição 6.3.3) e pelo Lema 6.3.1 segue a igualdade
Z n
Z X n Z
X n Z
X
fn dµ = f χEj dµ = f χEj dµ = f dµ. (7.6.1)
X X j=1 j=1 X j=1 Ej
Agora, observe que, como f é não-negativa, a sequência de funções (fn )n∈N é pontualmente
monótona. Mais ainda, se x ∈ X, então x ∈ Ej0 para um único j0 ∈ N, ou x ∈ / E. No
primeiro caso, temos fn (x) = f (x) para todo n ≥ j0 , e no segundo caso temos fn (x) = 0
para todo n ∈ N. Segue que
onde na última igualdade usamos o Lema 6.3.1 mais uma vez. Finalmente, pela igualdade
acima e por (7.6.1) temos
Z Z n Z
X ∞ Z
X
f dµ = lim fn dµ = lim f dµ = f dµ.
E n→∞ X n→∞ Ej Ej
j=1 j=1
onde usamos, mais uma vez, a aditividade da integral e o Lema 6.3.1. Isso prova a
afirmativa do enunciado para o caso em que g é simples. Finalmente, assuma que g é
uma função mensurável não-negativa qualquer. Pelo Teorema 6.2.1 podemos tomar uma
sequência (sn )n∈N de funções simples, mensuráveis e não-negativas com a propriedade de
que sn % g. Pelo teorema da convergência monótona (Teorema 6.3.1) segue que
Z Z Z
g dµf = lim sn dµf = lim sn f dµ.
X n→∞ X n→∞ X
Agora, note que (sn f )n∈N é uma sequência monótona (pois f é não-negativa) que converge
pontualmente para f g. Daı́, aplicando o Teorema 6.3.1 mais uma vez temos
Z Z
lim sn f dµ = f g dµ,
n→∞ X X
e isso conclui o caso em que a integração é feita sobre X. Agora, se a integral é feita sobre
um subconjunto mensurável E ⊆ X, então pelo Lema 6.3.1 vem
Z Z Z Z
g dµf = g χE dµf = f g χE dµ = f g dµ.
E X X E
Exercı́cio 6.17 Pelo Exercı́cio 6.15, temos que
Z X∞ Z
+
f dµ = f + dµ,
E j=1 Ej
e vale a igualdade análoga para f − . Além disso, uma vez que f é integrável, temos que o
lado esquerdo da igualdade acima é finito, donde a soma do lado direito é convergente. É
claro que o mesmo vale para f − . Consequentemente,
Z Z Z X∞ Z X∞ Z
−
f dµ = +
f dµ − f dµ = +
f dµ − f − dµ =
E E E j=1 Ej j=1 Ej
∞ Z Z ! ∞ Z
X X
+ −
= f dµ − f dµ = f dµ,
j=1 Ej Ej j=1 Ej
Z m
X
s dµ = aj · µ(E ∩ Ej ) = 0,
E j=1
uma vez que µ(E) = 0 implica µ(E ∩ Ej ) = 0 para cada j = 1, . . . , m. Segue que a
integral de todas as funções de Sf sobre E são iguais a zero, e portanto passando ao
supremo temos
Z
f dµ = 0.
E
inf fj (x) = 0
j≥n
para qualquer x ∈ X. Isso mostra que lim inf n→∞ fn é a função nula. Consequentemente,
Z
lim inf fn dµ = 0.
X n→∞
e se n é ı́mpar, temos
Z Z
fn dµ = 1 − χE dµ = µ(X) − µ(E) = µ(X \ E).
X X
R
Assim, a sequência X fn dµ n∈N é formada apenas pelos números µ(E) e µ(X \ E)
aparecendo alternadamente. Segue que
Z Z
lim inf fn dµ = min{µ(E), µ(X \ E)} > 0 = lim inf fn dµ,
n→∞ X X n→∞
como querı́amos. Note que na desigualdade acima usamos a hipótese 0 < µ(E) < µ(X).
196 CAPÍTULO 7. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS
Exercı́cio 6.21 Observe que como f ∈ Lp (X), temos que |f |r ∈ Lp/r (X). Da mesma
forma, |g|r ∈ Lq/r (X). Da hipótese
1 1 1
+ = ≤ 1,
p q r
segue que p/r e q/r são conjugados. Assim, usando a desigualdade de Hölder (veja a
Observação 6.5.4) temos que |f g|r ∈ L1 (X), e vale a desigualdade
|f g|r 1 ≤ |f |r Lp/r (X) |g|r Lq/r (X) .
L (X)
Exercı́cio 6.22 Vamos proceder por indução em k. Pelo Exercı́cio 6.21, o resultado vale
para k = 2. Assuma que k > 3 é um número natural, e que o resultado que desejamos
provar vale para k − 1 números p1 , . . . , pk−1 ∈ (1, ∞) e k − 1 funções f1 , . . . , fk−1 com
fj ∈ Lpj (X) para cada j = 1, . . . , k − 1. Denote
1 1 1
+ ... + = ≤ 1,
p1 pk−1 q
Daı́, como
1 1 1 1 1
+ = + ... + = ≤1
q pk p1 pk p
e g ∈ Lq (X) e fk ∈ Lpk (X), usamos o Exercı́cio 6.21 mais uma vez para obter que
gfk ∈ Lp (X), e vale a desigualdade
7.6. CAPÍTULO 6 197
Como f ∈ Lp (X), temos que |f |α ∈ Lp/α (X) e, da mesma forma, uma vez que f ∈ Lq (X)
segue que |f |1−α ∈ Lq/(1−α) (X). Assim, segue do Exercı́cio 6.21 que |f | = |f |α |f |1−α ∈
Lr (X), e vale a desigualdade
Z α/p Z (1−α)/q
1−α
||f ||Lr (X) ≤ |f |α Lp/α (X)
|f |
Lq/(1−α) (X)
= p
|f | dµ q
|f | dµ =
X X
= ||f ||αLp (X) ||f ||L1−α
q (X) .
Exercı́cio 6.25 Assuma que µ não é atômica. Então, se U é a união dos átomos de X,
existe E0 ⊆ X \ U tal que µ(E0 ) > 0. Em particular, E0 não contém nenhum átomo. Seja
e observe que c0 ≥ ε. Tome uma sequência de conjuntos (Fi )i∈N com a propriedade de
que µ(Fi ) → c0 quando i → ∞, e seja F a famı́lia de todas as interseções enumeráveis de
medida positiva dos conjuntos Fi (em outras palavras, descarte as interseções enumeráveis
cuja medida é nula). A inclusão de conjuntos define uma ordem parcial em F, que
tem a propriedade de que toda subfamı́lia totalmente ordenada tem um limite inferior
em F. Basta tomar a interseção de todos os membros da subfamı́lia: com efeito, essa
interseção pode ser escrita como alguma interseção enumerável de elementos da subfamı́lia
totalmente ordenada (como cada um desses conjuntos tem medida maior ou igual a ε vem
da Proposição 6.1.2(b) que a sua interseção também tem medida maior ou igual a ε).
Segue que F tem um elemento minimal F0 que, por estar em F, tem medida positiva,
e portanto µ(F0 ) ≥ ε.
Por outro lado, como F0 ⊆ Fi para todo i ∈ N, temos que µ(F0 ) ≤ c0 , donde µ(F0 ) =
c0 . Consequetemente, F0 é um átomo. Com efeito, se E ⊆ F0 é tal que µ(E) < µ(F0 ),
então devemos ter µ(E) = 0, pois do contrário terı́amos E ∈ F com µ(E) < c0 .
tomar k ∈ N tal que 1/k < ε e para n ≥ nk vale que |f (x) − fn (x)| < 1/k < ε, uma vez
que X \ E ⊆ X \ Ek , e portanto x ∈ X \ Ek . Daı́ fn (x) → f (x).
Vamos agora ao caso p ∈ [1, ∞). Se fn → f em Lp (X) então, em particular, (fn )
é uma sequência de Cauchy. Logo, podemos tomar uma subsequência (fnk )k∈N com a
propriedade de que
1
||fnk+1 − fnk ||Lp (X) <
2k
para todo k ∈ N. Pela prova do Teorema 6.5.2, temos que fnk converge pontualmente em
quase toda parte para uma função que denotaremos por f0 . Ainda pela prova do Teorema
6.5.2 vale que fnk converge para f0 na norma. Pela unicidade do limite segue que f = f0 .
Exercı́cio 6.27 Pela definição de convergência em quase toda parte (veja o Exercı́cio
6.26), existe um conjunto N ∈ Σ com a propriedade de que fn → f pontualmente em
X \ N . Segue que |f (x)| ≤ g(x) para qualquer x ∈ X \ N , donde
Z Z Z
p p
|f | dµ = |f | dµ ≤ g dµ < ∞,
X X\N X\N
Exercı́cio 6.28 Dado ε > 0, seja n0 ∈ N tal que |fn (x) − f (x)| < ε para quaisquer n ≥ n0
e x ∈ X. Daı́,
Z 1/p Z 1/p
p p
||fn − f ||Lp (X) = |fn − f | dµ ≤ ε dµ = εµ(X)1/p ,
X X
Índice
199
200 ÍNDICE
sub-base, 68
subconjuntos ortogonais, 95
subespaço gerado, 30
subespaço topológico, 7
subespaço vetorial fechado, 34
subsequência, 15
suporte de uma função, 156
suporte de uma medida, 154
supremo essencial, 138
Teorema de Arzelá-Ascoli, 22
teorema de Tychonoff, 80
topologia, 5
topologia da norma, 25
topologia discreta, 5
topologia forte, 67
topologia fraca, 69
topologia fraca∗ , 77
topologia Hausdorff, 9
topologia induzida, 7
topologia métrica, 12
topologia mais fina, 5
topologia metrizável, 13
topologia produto, 69
topologia trivial, 5
topologias comparáveis, 5
vetores ortogonais, 95
vizinhança, 7