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"Norma" e "Desvio" no comportamento delinquente"

*Sara Cristina Martins Lopes

Mestre em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de


Coimbra- Tese «OS FILHOS DA PRIVAÇÃO» - Trabalho que focaliza as privações psicossociais na
primeira e segunda infância e o evoluir para a patologia deliquencial .

Secretaria da Vice-Presidência da Academia Internacional de Psicologia sediada no Instituto Superior


Miguel Torga em Coimbra.

Docente na Categoria de Assistente, exercendo as funções de Assessora para a Àrea de Formação


Permanente do Instituto Superior Miguel Torga de Coimbra.

Presidente do Centro de Estudos Psicossocias do Instituto Superior Miguel Torga de Coimbra

http://www.psicologia.org.br/internacional/pscl10.htm - 24/07/19

Quando foi solicitado o meu contributo para o Simpósio "Os Novos


Caminhos da(s) Dependência(s) com o objectivo de participar na mesa
redonda- ""Norma" e "Desvio" em épocas de mudança- novos significados
para conceitos tradicionais", senti muitas dúvidas não só quanto à vastidão
do tema mas também no que se prende com o conteúdo e forma de
apresentação deste trabalho.

Embora me sinta confortada, mais que confrontada pela companhia dos


ilustres palestrantes que honram a minha presença nesta mesa redonda não
posso deixar de pedir a vossa compreensão para a exposição que se segue e
que intitulei "Norma" e "Desvio" no comportamento delinquente".

Não sou especialista na matéria, e também não posso afirmar que a


experiência acumulada neste domínio seja muita, por isso, a breve reflexão
que vos vou transmitir é quando muito a prova que, também a nível
académico e cientifico, novos significados se anunciam e se impõem aos
tradicionais.

Não será precisamente por isso que esta primeira mesa é constituída por
especialistas de diversos domínios? Questiono-me no sentido de saber como
poderá ser analisada a temática subjacente a esta mesa redonda, por cada
um dos seus participantes.

Nesta sociedade de fim de século, novos paradigmas e significados se


anunciam enquanto os tradicionais se equacionam e necessariamente têm
que ser reflectidos e reformulados numa óptica multidisciplinar.

É que, nesta área, talvez mais do que em qualquer outra, se tem muita
importância o que cada um pensa mais importante parece ser definir em que
qualidade e a que nível se pode intervir. Espero, então, que a minha
intervenção seja tudo menos uma "torrente" de conceitos ou, muito menos,
assuma um cariz dogmático e que se constitua, antes, numa exposição
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pragmática das dúvidas e reflexões que a elaboração da minha Tese de


Mestrado me suscitou.

Assim, em relação à temática em causa a primeira constatação que


posso apresentar é que desde os tempos mais remotos o que pode ser
considerado "norma" e "desvio", ou mesmo "normal" e "patológico", é visto
quase como um "mistério", dado que é difícil de limitar ou delinear.

Os critérios de "norma" ou "desvio" que uma determinada sociedade


considera como adquiridos podem, de facto, acompanhar a cultura
dominante numa determinada época histórica. A valorização dos próprios
"sintomas" varia habitualmente, de continente para continente negando a
sua uniformidade e muitas concepções do que pode ser considerado "normal"
ou "desviante", vistas à luz do século passado, são diferentes das que
actualmente norteiam o pensamento médico ou jurídico.

Neste sentido, o que muitos estudos antropológicos revelam é que no


decurso dos séculos, e de civilização para civilização, tem havido alterações
consideráveis nas fronteiras do que é designado delito, desvio, ou doença. O
mesmo se verifica, aliás, com a fronteira do que pode ser considerado moral
ou não já que algumas culturas permitem e encorajam formas de
comportamento que outras condenam severamente.

Assim, o homicídio, especialmente por vingança, era frequente em


algumas sociedades antigas sem que se impusessem restrições penais a essa
prática e o infanticídio era um acontecimento frequente em alguns povos da
Melanésia, da India e em várias tribos da África, América e Austrália, sendo
mesmo em algumas culturas considerado um acto santificado pela religião.

Tal como sucede com o homicídio, também os atentados à propriedade


alheia eram lícitos em algumas civilizações. Para o homem primitivo (por
exemplo, entre algumas tribos da América, África ou Austrália) a noção de
propriedade não existe. Por isso, o furto é considerado como um negócio
legítimo, punindo-se somente aqueles que não o realizem com destreza.

Noutras culturas em que o papel da autoridade judicial é colocado em


prática, mesmo sem códigos judiciais escritos, existem regulamentos e
normas de conduta legais que se relacionam com a inviolabilidade dos
direitos de propriedade e de vida humana.

Para estas sociedades a prática do crime corresponde, quase sempre, a


um conflito de valores: por um lado, a vontade individual, por outro a
vontade colectiva subordinada à lei, aos costumes; mas o que
essencialmente caracteriza este gesto é o facto de lhe estar associada uma
punição. Contudo, mesmo para esta punição não se pode considerar que haja
um padrão universal que permita avaliar com que severidade é encarada a
conduta em causa pelas diferentes culturas.
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O termo "crime" não determina factos definidos por uma lei absoluta e
invariável, antes é um conceito social que tem evoluído no espaço e no
tempo; a sua variabilidade encontra uma demonstração exemplar na
evolução da legislação penal portuguesa em épocas sucessivas.

Na verdade, podemos afirmar que os conceitos sociais de criminalidade


variam com o tempo e o lugar, pelo que a prática de um acto num
determinado país e época histórica definida pode corresponder a uma certa
repressão penal, enquanto noutras pode ser punido de uma forma diferente,
ou mesmo nem sequer o ser.

Se os limites sociais, culturais e jurídicos do que pode ser visto como um


acto desviante, criminal e delituoso são variáveis e evoluem de acordo com o
próprio desenvolvimento cultural, também, numa perspectiva psicológica, se
tem assistido à progressão conceptual do fenómeno desviante, que só por
extensão se pode aplicar ao âmbito da Psicopatologia.

Focando somente a delinquência juvenil verificamos que, pelo menos ao


nível da conceptualização teórica esta poderá assumir um significado de
relevo, a partir do momento em que for definida com clareza, não só em
relação aos actos como também às motivações e organização psicológica do
indivíduo que comete o acto delinquente. No entanto, o que se verifica é que
ao longo das gerações este conceito, apesar de valorizado, continua a
permanecer ligado a noções de carácter estritamente jurídico, social e
mesmo moral, deixando de lado, no essencial, a sua constituição como
objecto de análise psicológica.

Se juridicamente a delinquência é, tal como afirma S. RUBIN (cit.


Ajuriaguerra, 1977), "o que a lei diz que ela é" e, numa perspectiva moral,
um conceito variável que é influenciado por noções religiosas e sociais, na
perspectiva sociológica relaciona-se com as normas sociais que permitem um
determinado equilíbrio que é necessário manter no quadro da sociedade.

Neste sentido, podem ser considerados delinquentes os indivíduos que


transgridem regras e tabus, hábitos e costumes aceites, normalmente, sem
contestação, pela maioria das pessoas e que variam segundo as sociedades e
a evolução que lhes é inerente.

Uma das preocupações constantes dos criminologistas e de outros


investigadores da área das Ciências Sociais foi e continua a ser a formulação
de uma imagem que permita visualizar e categorizar a delinquência.

Com base nos dois campos de referência subjacentes às definições que


normalmente são utilizadas nos estudos sobre delinquência, isto é, o quadro
jurídico-legal e o do comportamento desviante ou anti-normativo, é
frequente distinguir-se delinquência feminina e masculina, os verdadeiros e
os falsos delinquentes e, ainda, a delinquência "oficial" por oposição aquela
que é designada por latente e real.
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A delinquência começa por ser analisada como uma ruptura das


estruturas relacionais do indivíduo com o meio, o que leva o delinquente,
primeiro na família depois já durante o período escolar, a apresentar prova
das suas tendências anti-sociais que parecem ter como único objectivo, nesta
fase, chamar a atenção dos pais e dos professores e como tal, são o sinal de
uma perturbação profunda da afectividade.

Este fenómeno que começa a manifestar-se com maior acuidade na


idade escolar, não é mais do que o eclodir de um comportamento que evoluiu
a partir da infância e que se manifesta inicialmente por mentiras, roubo,
procura de objectos para destruir onde aparece sob a forma da desordem, da
violência e das condutas destrutivas e evolui com frequência para a
expressão da mesma tendência no grupo de pares.

Na origem de uma compreensão global desta problemática está a


necessidade de um entendimento, também global, das explicações:

- por um lado, a sociologia aponta a influência nefasta do meio. As


teorias sociológicas da criminalidade descrevem o delinquente como um ser
individual, uma pessoa que tem uma hereditariedade, uma educação, e que
vive num meio cujas condições o orientam para o agir de tendências
hereditárias ou adquiridas e onde as circunstâncias possibilitam a ocasião de
"passagem ao acto".

- por outro lado, a psicologia baseia-se em factores relacionados com a


qualidade da relação maternal estabelecida na primeira infância. Só assim
será possível apreciar e reconhecer, na criança e no adolescente, os sintomas
constatados, o que é importante, porque eles vão determinar a qualidade da
"passagem ao acto" e podem conduzir ao risco da reincidência.

Os estudos psicanalíticos demonstram a importância do papel da mãe


junto do recém-nascido e valorizam as consequências, muitas vezes
longínquas, de uma carência maternal durante a primeira infância. A
ausência ou carência da mãe é tida como causa remota das perturbações de
comportamento do adolescente. Quanto aos estudos que colocam em
destaque o papel do pai, estes valorizam a sua opinião, ou constrangimento,
aos movimentos de autonomização do jovem em busca da sua própria
automomia.

Mas o que é a Delinquência? O que é ser Delinquente?

Por definição jurídica, delinquente é o indivíduo que delinquiu, ou seja,


que é culpado por uma infracção à lei penal, um delito, um crime que pode
assumir, entre outros, a forma de roubo, homicídio ou de um acto violento.

Delinquir, derivado etimologicamente do verbo latino Delinquere,


significa originalmente "cometer falta, pecar, errar", o vocábulo delinquência
deriva também do latim Delinquentia que significa "delito" (Machado, 1977).
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"Delinquência" e "delinquir" apresentam-se, então, com um duplo


significado, o jurídico-legal e o psicológico.

Assim, numa perspectiva jurídica e técnica, só é considerado


delinquente o indivíduo que infringiu a lei, isto é, que cometeu um delito. As
leis que definem a delinquência, bem como a apreciação do delito são, como
referimos acima, específicas de cada país e o modo como se rege o seu
sistema judiciário reflecte-se não só na avaliação das infracções, como na
sua penalização.

A concretização do delito, como é óbvio, faz ascender a lei ao domínio


da sua aplicabilidade prática e visível, na punição de quem o cometeu.

Numa perspectiva psicológica, transgredir a lei, é segundo R. Paixão


"em certo sentido uma tarefa de crescimento, normativa e que se
consubstancia nos processos mentais criativos e, por isso, na maturidade
positiva dos indivíduos e dos grupos" (cit. Paixão, 1991).

Podemos, então, concluir que o termo delinquência dever ser entendido


como sinónimo da existência de duas vias diferentes embora
complementares.

Esta perspectiva influencia a discussão do conceito de delinquência e


influência as práticas propostas para a sua abordagem psicossocial.

Assim, a utilização jurídica do termo delito contribui para que, na


perspectiva psicológica, se empreenda uma análise dos comportamentos
desviantes, enquanto que a perspectiva sociopsicológica, ao abordar o
indivíduo e o meio social, possibilita que juridicamente se abandone uma
visão estritamente penal, repressiva e punitiva, em detrimento da
abordagem preventiva e reeducativa.

A dificuldade reside, tal como refere PAIXÃO (1991), no modo de


"operacionalizar numa perspectiva psicológica o delito com o significado de
desvio, ou ainda, como se poderá falar em psicologia da delinquência juvenil
sem pervertermos a especificidade do seu discurso", uma vez que o
comportamento adolescente é muitas vezes visto como um comportamento
preenchido por pequenos delitos.

Deste modo, a delinquência refere-se a comportamentos desviados,


"comportamentos problemáticos" (Debuyst, 1983), ou seja, anti-normativos
em relação à norma estabelecida pelo grupo e, como tal, considerados
ameaçadores para esse mesmo grupo.

Ao considerarmos, porém, os comportamentos desviantes é necessário


levar sempre em linha de conta que na perspectiva jurídica, nem todo o acto
desviante é delito. Assim como no âmbito psicológico nem todo o delito é um
acto desviante. Assim, a transgressão da norma não define de per si o crime
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nem o desvio, porque os actos nunca são percebidos do mesmo modo e


porque nem todos os actos anti-normativos são ilegais ou desviantes. Dado
que estamos inseridos numa realidade social é compreensível que não
descuremos as noções socio-jurídicas e não nos limitemos à simples
constatação do acto, mas antes, estejamos atentos para às motivações e ao
contexto psicossocial em que o mesmo se desenvolveu.

De um ponto de vista psicopatológico a compreensão do comportamento


delinquente, quer em termos de normalidade quer de patologia, remete-nos,
em primeiro lugar, para a compreensão da adolescência, com a reflexão
consequente e o presente que subjazem ao projecto de futuro.

Esta concepção permite elaborar uma imagem da adolescência que se


caracteriza por perturbações e inadaptações transitórias, mas necessárias ao
desenvolvimento. A sua ausência que então ser entendida como sinal de
consolidação prematura do Eu, ou ser considerada como sinónimo de um
prognóstico desfavorável para o equilíbrio futuro da personalidade.

Verifica-se que à adolescência não só está subjacente a ideia de ruptura,


mudança brusca e súbita no desenvolvimento que pode conduzir o indivíduo
a modificações comportamentais, no modo de pensar e nas representações
de si, como também lhe está associada um carácter patologizante. A noção
de perturbação do funcionamento psicológico implica mal-estar, sofrimento,
angústia, ou seja, uma série de dificuldades que provocam incapacidades na
vida quotidiana semelhantes às perturbações neuróticas.

Se é certo que não existe nenhum argumento que permita relacionar o


processo maturativo da adolescência com "doença", estamos convictos que
existem situações psicopatológicas que estão mais relacionadas com
fenómenos psicossociológicos, isto é, são mais determinadas por
acontecimentos de ordem social, que se vão reflectir no indivíduo a nível
psicológico, do que, propriamente, com o tipo de organização/ estrutura da
personalidade.

Recordamos que às formas de inadaptação psicossocial, descritas após a


sua manifestação como um acto inadequado no quadro de uma determinada
socialização, é atribuído um valor patogénico diferente, de acordo com as
classificações existentes e com o modo como os diversos autores as
abordam.

Por outro lado, se para a generalidade dos autores os distúrbios da


personalidade do adulto têm a sua origem na infância, sabemos que é difícil
aplicar às crianças as mesmas normas que ao adulto. De facto, a noção de
inadaptação comportamental tem um sentido diferente se se tratar de uma
criança ou de um adulto, uma vez que a descrição de certos distúrbios do
modelo de personalidade impõe que o seu diagnóstico só seja elaborado com
a aproximação da idade adulta.
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Por tudo isto, torna-se oportuno estabelecer a distinção entre modo de


funcionamento psicopatológico na infância e na adolescência e estrutura
patológica na idade adulta: a primeira refere-se a condições de crescimento
biopsicossocial que possibilitem o desenvolvimento da personalidade; a
segunda relaciona-se com o culminar da construção da personalidade adulta
propriamente dita.

Se é certo que alguns comportamentos na adolescência podem estar


relacionados com uma patologia específica, também há outros que surgem
subitamente. Certas "anomalias" da personalidade reúnem, em dimensões
variáveis, um sujeito a outro pelos sintomas que apresentam: inadaptação à
vida social, instabilidade comportamental, facilidade na "passagem ao acto"
associada eventualmente, a perturbações diversas (depressão,
comportamento toxicodependente).

Este grupo de "casos difíceis" levantam problemas consideráveis não só


do ponto de vista médico-legal, como também da compreensão psiquiatrica.
Os problemas que se colocam na fronteira entre a Psiquiatria e a
Criminologia devem ser abordados com a descrição das perturbações
observadas de modo a compreender a sua natureza e detectar em que
medida se distinguem das estruturas neuróticas ou psicóticas mais habituais.

A dificuldade em determinar critérios de definição para esse conjunto de


casos reflecte-se, ainda, na inexactidão da terminologia utilizada.

Cabe, neste contexto, frisar a diferença entre a delinquência juvenil,


como entidade mórbida, e as perturbações de comportamento, uma vez que
a confusão entre ambas pode acarretar consequências nefastas para o
desenvolvimento dos jovens.

Torna-se, pois, imprescindível o conhecimento do patológico para


penetrar nos mecanismos psicológicos normais, uma vez que é pelo estudo
da estruturação do funcionamento mental que se pode avançar no estudo da
mente saudável.

Assim sendo, delinquência e criminalidade não deverão ser considerados


radicalmente actos diferentes dos outros actos humanos mas devem,
outrossim, conduzir a um estudo aprofundado, no quadro de outras
perturbações da conduta que a Justiça não conhece que interferem, de modo
passageiro ou prolongado, com mecanismos de adaptação da criança ou
adolescente ao seu meio.

E isto, mesmo quando englobamos estas condutas no quadro da


"personalidade anti-social" que, no nosso, ponto de vista, se encontra na
charneira entre a marginalidade, a imaturidade e a instabilidade
psicoafectiva, o que deverá fazer imperar uma compreensão sóciopsicológica,
psiquiatrica e mesmo psicanalítica do mal-estar existencial que a elas subjaz.
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Torna-se assim, em nosso entender, útil realizar uma sinopse rápida do


que sobre esta temática é conhecida, a partir da pesquisa por nós efectuada
no quadro do trabalho de Mestrado.

Assim:

1º a análise do problema da Delinquência Juvenil privilegia estudos que


abrangem o exame psicossociológico, numa visão dinâmica e multifacetada;

2º Pensar em delinquência exige, cada vez mais, a capacidade de


operacionalizar as diferentes conceptualizações que lhe estão subjacentes,
por isso, preferimos utilizar o termo Delinquências em vez de Delinquência;

3º A(s) Delinquência(s), nas suas diferentes formas, podem conduzir-


nos à elaboração de um pensamento que conceba a existência de um
"continuum" patológico (que pode constituir-se entre dois pólos: a psicopatia
e a neurose) que vai introduzindo, nestas condutas variações diferentes em
grau e qualidade;

4º A Delinquência Juvenil como forma de ruptura das estruturas


relacionais do indivíduo com o meio social e familiar pode apresentar-se sob
várias formas de inadaptação, consoante o quadro sócio-cultural e a
perturbação do funcionamento mental que lhe subjaz;

Esta inadaptação não depende somente das características internas do


indivíduo (desenvolvimento/organização psicológica), mas também da
influência do exterior, podendo admitir-se a existência de situações
psicopatológicas relacionadas e determinadas por fenómenos
psicossociológicos;

5º Se é através das diferentes formas de manifestação da conduta


delinquente que o indivíduo se exprime, pensamos que esta não deve ser
separada de outras perturbações que, de modo passageiro ou não, conduzem
a inadaptações da criança ou adolescente ao seu meio (familiar e social).

Salientamos, em particular, os estudos que abordam o papel da


interacção precoce, das dificuldades de interiorização de um bom objecto
interno e da perturbação dos processos identificatórios (principalmente os
secundários).

6º Na dinâmica da Delinquência Juvenil, como de todas as perturbações


do comportamento, está subjacente uma ansiedade, um sofrimento profundo
resultante de um conflito afectivo, não só do sujeito consigo próprio como
também com o meio familiar e sócio envolvente. Assim, a análise psicossocial
da Delinquência Juvenil deverá orientar-se para a leitura das realidades e
ambientes que a envolvem, sem esquecer o afecto depressivo que
normalmente lhe subjaz e que estas condutas podem ser a expressão visível
(exteriorizada),
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7º Quanto às diferentes formas de expressão das perturbações do


comportamento, elas evidenciam-se, na maior parte das vezes, após o início
do período escolar, em manifestações como a mentira, o roubo, as fugas,
que persistem na adolescência no seio do grupo de iguais sob a forma de
comportamentos desordenados, violência, da violência, agressão, furtos de
maior envergadura, tráfico e/ou consumo de estupefacientes.

Estas condutas, então, revelam uma profunda perturbação das


identificações e uma distorção grave dos laços familiares e sociais que
dificultam os processos de aprendizagem.

É para estes indivíduos com uma sucessiva história de privações nos


planos real e simbólico, que o Estabelecimento Prisional pode surgir numa
fase precoce da sua trajectória pessoal. Para muitos será o "refúgio", ao qual
certamente voltarão, como um filho que regressa ao lar, porque é do "lado
de lá" que encontraram protecção. Para outros é a possibilidade de
restabelecerem o contacto perdido com a família.

A atitude dos pais em face das sucessivas privações de liberdade dos


seus filhos mostra indirectamente a má qualidade do seu investimento
afectivo e a distorção das relações inter-pessoais no seio destas famílias. Por
isso, o jovem num "último grito" de raiva apela, algumas vezes, ao
Estabelecimento para que chame a si os progenitores que, de um modo real
ou simbólico, estiveram ausentes das fases mais significativas do seu
desenvolvimento.

(E nós, que tivemos a percepção destas vivências, foi notório num


grande número de casos em que, pelo menos, o reencontro físico com os
progenitores ocorre todos os fins de semana (esperamos que o afectivo
também). Aqueles passam a telefonar e visitar regularmente o filho (primeiro
a mãe e só depois o pai e os irmãos). E estes vêm carregados não só de
produtos alimentares suplementares para os filhos, mas também
"sobrecarregados de esperanças" ou das palavras dos advogados ou do
antigo patrão que ainda está disponível para aceitar o filho quando sair em
liberdade).

Estes jovens "privados de liberdade" não se identificam a nenhum grupo


formal (excepto em caso de ameaça) no interior do Estabelecimento
Prisional, apesar da maior parte pertencer a um grupo de trabalho ou mesmo
desportivo.

Quando chegam ao "regime aberto" a palavra de ordem é para estes


jovens preparar o regresso ao meio familiar e social. Se é certo que as
ocupações profissionais no Estabelecimento só têm como função "ocupar o
tempo" e está muitas vezes distante da realidade do meio em que vivem.
Alguns adquirirão competências para ultrapassar os obstáculos, outros,
talvez, a maior parte não! Tanto mais que as suas frágeis trajectórias de vida
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se inscrevem numa sociedade cuja norma é a obtenção do sucesso a todo o


custo.

Desde bem cedo, marcados pela predominância de fenómenos


constantes de mobilidade e precaridade na esfera familiar e sócio-profissional
estes adolescentes ou jovens adultos partem numa posição desfavorável
para esta nova etapa da sua vida.

Não podemos, assim, nem como profissionais vocacionados para o


trabalho nesta área, nem como cidadãos, deixar de nos comprometer no
esforço de intervenção nesta problemática humana e social tão exigente.

Pensamos, por isso, é necessário que se pugne pela elaboração,


estruturação e implementação de uma política específica de prevenção da
delinquência em Portugal que permita romper este ciclo infernal da privação
afectiva, violência e criminalidade.

Finalmente, se é certo que tornar-se adulto, crescer numa sociedade em


mutação é algo que "magoa" porque faz imperar a necessidade de reflectir,
pensar e sentir, não é menos certo que nos cabe a nós profissionais
responsáveis e cidadãos conscientes do nosso papel na polis, contribuir para
que os filhos da privação adquiram as competências para se tornarem
capazes de ser, eles próprios, pais de filhos saudáveis e equilibrados do
ponto de vista afectivo e social.

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