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vs Soe ~ Ant paren Conselo Editorial da Coleco Zoro a Bxqued Jeers Robert Castel As metamorfoses da questao social Uma crénica do salario “Tradugso: Iraci D. Poleti mo f * de y EDITORA VOZES Potespalis CONCLUSAO O individualismo negativo — 10 niicleo da questo social hoje seria pois, novamente, a existéncia de “iniiteis para o mundo”, de supranumerarios e, em torno deles, de uma nebulosa de situagdes marcadas pela instabilidade e pela incerteza do amanha que atestam o cresci- mento de uma vulnerabilidade de massa{Paradoxo, se as rela- ¢6es do homem como trabalho forem consideradas no interior de um longo periodofForam necessérios séculos de sacrificios, de sofrimentos e de exercicio da coerga0—a forga da legislacao e dos regulamentos, a coergao da necessidade e também da fome — para fixar o trabalhador em sua tarefa e nela conserva-lo através de um leque de vantagens “sociais” que vo qualificar um status constitutivo da identidade social. E no momento em que a “civilizagéo do trabalho” parece impor-se definitivamente sob a hegemonia da condigao de assalariado que 0 edificio ra- cha, repondo na ordem do dia a velha obsessao popular de ter que viver “com o que ganha em cada dia”. | {Nao se trata, entretanto, do eterno rétorno do infortinio mas, sim, de uma completa metamorfose que apresenta hoje, de forma inédita, a questao de ter que fazer face auma vulnera- bilidade de apés protegées},O texto que tentei construir pode ser lido como uma histéria da passagem da Gemeinschaft 4 Ge- sellschaft, em que as transformagées da condigag de assalaria- do desempenharam o papel determinante. {Qualquer que possa ser a conjuntura de amanha, nao estamos mais e nao vol- AS METAMORFOSES NA QUESTAO SOCIAL taremos mais a Gemeinschaft, e este carter irreversivel da mu- danga também pode ser compreendido a partir do processo que instalou osalariado no coracdo da sociedade|Sem diivida, a condigao de assalariado conservou, do longinquo modelo da corveia (cf. capitulo If), uma dimensao “heterénoma”, para falar como André Gorz, ou “alienada”, para falar como Marx, €; para dizer a verdade, como sempre pensou o bom senso po. pular. Mas suas transformagoes até a constituigao da sociedade salarial tinham consistido, de um lado, em apagar os tragos mais arcaicos dessa subordinagao e, por outro lado, em com. pensar com garantias e direitos, bem como com 0 acesso ao consumo além da satisfacao das necessidades vitais. O salaria- do tornara-se assim, pelo menos através de varias de suas for- mas, uma condigdo capaz de se rivalizar, As vezes de vencer, com as duas outras condig6es que, durante muito tempo, o ti- nham esmagado: a do proprietario ea do trabalhador indepen- dente. A despeito das dificuldades atuais, esse movimento nao esta acabado. Numerosas profissées liberais, por exemplo, tor- nam_-se cada vez mais profissées assalariadas: médicos, advoga- dos, artistas assinam verdadeiros contratos de trabalho com as instituigdes que os empregam. Portanto, é preciso receber com muitas reservas as declara- | gdes sobre a morte da sociedade salarial, quer para regozijar-se com o fato quer para lamenta-lo. Erro de andlise sociolégica primeiro: a sociedade atual é ainda macigamente uma socieda- de salarial. Mas também, amitide, a expressao de uma escolha de natureza ideolégica: a impaciéncia de “ultrapassar 0 salaria- do” rumo a formas mais convivais de atividade é, frequente- mente, a manifestagéo de uma rejeigao da modernidade, arraigada em devaneios campestres muito antigos que evocam “9 mundo encantado das relagées feudais”, o tempo da predo- mindncia da protegdo préxima, mas igualmente das tutelas tradicionais. Fiz aqui a escolha oposta, talvez também ideold- gica”, de que as dificuldades atuais nao sao uma oleae para acertar contas com uma historia que foi tam! ém a banizagao e do dominio da natureza pela técnica, da promoga do mercado e do laicismo, dos direitos universais e da demo- 594 Pe cracia—a historia, justamente, da passagem da Gemeins, a escolha é clarear 0 que est: Gesellschaft. A vantagem dess: a4 jogo num abandono completo da heranga da socie ade sal rial. A Franga havia levado séculos para esposar seu século, e havia chegado a isso, aceitando, exatamente, Jogar 0 jogo da sociedade salarial. Se hoje as regras do jogo devem ser modifi- cadas, a consciéncia da importancia dessa heranga merece que se tomem algumas precaugoes. Tentar pensar as condig6es de uma metamorfose da sociedade salarial, mais do que se resig- nar a sua liquidacio. Para tal, € necessdrio esforgar-se por pensar em que podem consistir as protegdes numa sociedade que se torna cada vez mais uma sociedade de individuosh A historia que tentei pode, de fato, ser lida também, paralelamente 4 da promogao do sala- riado, como a narrativa da promogao do individualismo, das dificuldades e dos riscos de existir como individuo. O fato de existir como individuo ea possibilidade de dispor de protegdes mantém relag6es complexas, pois as protecées decorrem da participagao em coletivos. Atualmente, o desenvolvimento do * qué Marcel Jauchet chama de “um individualismo de massa”, em que vé “um processo antropolégico de alcance geral”’, submete a discussao o fragil equilibrio que a sociedade salarial havia realizado entre promogio do individuo e pertencimento acoletivos protetores. O que quer dizer e 0 que pode significar hoje “estar protegido”? O estado de derreligio, produzido pela auséncia completa de protegées, foi vivido primeiro pelas populagées situadas fora dos quadros de uma sociedade de ordens e de status — uma sociedade predominantemente “holista”, no vocabulario de Louis Dumont. “No man without a Lord”, diz.o velho adagio inglés, mas também ~e até tarde —na sociedade do “Antigo Re- gime”, nenhum artesao que ndo extraisse sua existéncia social do oficio, quase nenhum burgués que nao se identificasse com 1M. Gauchet, “La société Winsécurité”, loc. cit., p. 176. 0, Mas no mAximo de um “i: vé a identificagao do indivi jue SO vivem para si”: Nossos pais nao tinhama individualis- quenas sociedades qi duo “com pe; : palavra individualismo, que fori a a : jamosa oe imagem, Porque, de fato, no tempo deles nao havia indivi- jue = s nao pertencesse a um grupo e pudesse se considerar ab- : utamente sozinho; mas cada um dos milhares de pequenos Brupos de que a sociedade francesa se compunha nao pensava Senao em si mesmo. Era, se ouso dizer, uma espécie de individua- lismo coletivo, que preparava as almas para o verdadeiro indivi- dualismo que conhecemos?. Esse tipo de implicagdo em coletivos assegurava, ao mes- mo tempo, a identidade social dos individuos e 0 que chamei de sua protegdo préxima. Entretanto, nessa sociedade exis- tem formas de individualizagéo que poderiam ser classifica- das de individualismo negativo, que sao obtidas por subtragao em relagao ao encastramento em coletivos. A ex- pressdo, como alias a de “individualismo coletivo”, pode chocar, a medida que, geralmente, se entende por individua- lismo a valorizaco do sujeito e sua independéncia quanto aos pertencimentos coletivos. O individualismo moderno, diz Louis Dumont, “apresenta o individuo como um ser moral, independente e aut6nomo e, assitn (essencialmente), nao so- cial”*. De fato, o que Alan Fox chama de individualismo de mercado (market individualism) comegou a desdobrar a fi- gura de um individuo senhor de seus empreendimentos, que persegue com obstinag4o seu préprio interesse e € desafiador 2 A. de Tocqueville, L’Ancien Régime et la Révolution (1* edigao, 1856), Paris, Gallimard, 1942, p. 176. 3, Dumont, Essai sur Vindividualisme, Paris, Le Seuil, 1983, p. 69. Cf. tam- bém P Birnbaum, J. Leca (dir.), Sur Pindividualisme, Paris, Presses de la FNSB, 1986. i 596 di: ‘ lante de todas as formas coletivas de enquadramento* lo pelo liberalismo, impée-se no fim do sé de das o> © no fim do século XVIII através la uP a Revolucdo Industrial e politica. : ‘orga desse indivi i i i ees Papa dualismo conquistador, assim como a eri lo “individualismo coletivo”, ocultaram a exis- tencia de uma forma de individualizagao que retine a indepen- enc; i ivi mane ien leta do individuo e sua completa auséncia de " istencia’. O vagabundo representa-Ihe o paradigmafO va- gabundo é um ser absolutamente desengatado (desfiliado). So pertence asimesmo e no é “o homem” de ninguém, nem pode se inserir em nenhum coletivo. E um puro individuo e, por isso, completamente despossuido. E individualizado a tal ponto, que esta superexposto: desprende-se do tecido encor- pado das relagdes de dependéncia e de interdependéncia que estruturam a sociedade. “Sunt pondus inutilae terrae”, como - Apoia- * A. Fox, History and Heritage, op. cit., cap. 1. Fox data do século XVIo inicio do desenvolvimento desse individualismo conquistador (no entanto fragil, cf., por exemplo, o destino frequente desses banqueiros “lombardos” arruinados depois de terem feito esperar senhores e As vezes principes), mas identifica-se esse perfil de empreendedores ousados e avidos desde o momento da “desconversao” da sociedade feudal no século XIV. Cf., por exemplo, a personagem de Jean Boine- broke, mercador de tecidos de la em Douai no fim do século XIX, que explorava os artesaos, fazendo-os trabalhar com um cinismo tal que eles esperaram sua morte e Ihe moveram um processo péstumo. (G. Espinas, Les origines du capita- lisme, t. 1, “Sire Jean Boinebroke”, Lille, 1933). 5 Seria necessario acrescentar uma outra forma de individualismo que pode- ria ser chamado de “aristocratico”, situado no Apice da piramide social. “Nas sociedades em que o regime feudal é apenas um exemplo, pode-se dizer que a individualizagao chega ao maximo no lado em que se exerce a soberania ¢ nas instancias superiores do poder. Quanto mais a pessoa detiver poder e privilé- gios, mais marcada sera, enquanto individuo, por rituais, discursos, repre- sentacdes” (M. Foucault, Vigiar e punir — O nascimento da prisdo, 16* ed., Petrdpolis, Vozes, 1997). Essa forma de individualizacao foi progressiva- mente suplantada por aquela desenvolvida pelo comércio e pela industria. Na sociedade do “Antigo Regime”, também seria necessario assegurar um lu- gar para a personagem do aventureiro, que aparece como tema literdrio no romance picaresco espanhol e se multiplica no século XVIII (cf. a persona~ gem Casanova). O aventureiro é um individuo que usufrui de sua liberdade nos intersticios de uma sociedade estamental em via de desconversao. Co- nhece perfeitamente as regras tradicionais, serve-se delas desprezando-as e torcendo-as para fazer triunfar seu interesse ou seu prazer de individu. disse no século XVI um jurista lionés anteriormente citado: o& q vagabundos sdo o peso inttil da terra. ¢ Efetivamente, o vagabundo pagou muito caro por essa au- séncia de lugar que o situa do outro lado do espelho das rela- ges sociais. Mas 0 principal interesse de lhe desenhar a figura decorre do fato de, como se viu, representar uma posi¢4o-limi- te em relagdo a uma gama de situagées cujo lugar € igualmente mal assinalado numa sociedade cadastrada. “Quarto estado” que, em termos exatos, nao tem estado e retine, em especial, di- ferentes tipos de relag6es salariais, ou pré-salariais, antes da constituigao da relagao salarial moderna. Existe desde entao, sob os limites de uma sociedade de ordens, como que um rebu- ligo de posig6es individualizadas, no sentido de que sAo desli- gadas em relagao as regulagées tradicionais e que novas regulagées ainda nao estao firmemente impostas. Individualis- mo “negativo”, porque se declina em termos de falta — falta de consideragAo, falta de seguridade, falta de bens garantidos e de vinculos estaveis. JA metamorfose que se realiza no fim do século XVIII pode ser interpretada a partir do encontro entre essas duas formas de individualizagao. O individualismo “positivo” impéde-se ao tentar recompor 0 conjunto da sociedade sobre uma base con- tratual.jPor meio da imposigao da matriz contratual, vai ser pe- dido, ou exigido, que os individuos carentes ajam como individuos auténomos.\De fato, o que é um contrato? “O con- trato é uma convengao pela qual uma ou varias pessoas se obri- gam emyelacao a uma ou varias outras a dar, fazer ou nao fazer algo”*.fE um acordo de vontade entre seres “independentes e aut6nomos”, como diz Louis Dumont, em principio livres de seus bens e de sua pessoa. Essas prerrogativas do individualis- mo vao, assim, se aplicar a individuos que, da liberdade, co- nhecem sobretudo a falta de vinculos e, da autonomia, a auséncia de suporte: a estrutura do contrato, nao existe re- almente nenhuma referéncia a um coletivo, exceto Aquele que ® Cédigo Civil, artigo 1101. 598 _ referéncia a protegées, salvo as garantias juridicas que assegi t Ptoeeneree ea legalidade dos contratos. E ssa nova regra do jogo contratual nao vai, pois, promover ” protec6es novas e, ao contr4rio, tera por efeito destruir oO que restava de pertencimentos coletivos, acentuando, assim, o ca- rater andmico da individualidade “negativa”, JO pauperismo — uma representagao-limite como o vagabundo — exemplifica essa dessocializacao completa que reduz uma parte da popula- ¢4o industrial a uma massa agregada de individuos sem quali- dades, | ntretanto, como se pode mostrar, essa onda de choque da ordem contratual nao atingiu de frente senao uma parte limita- da da populagao. Foi como que amortecida pelo peso da cultu- ra rural, pela persisténcia de formas pré-industriais de organizacao do trabalho e pela forca dos modos de protecao préxima que lhe eram associadas’. Mas compreende-se tam- bém que, para as populagées cuja situagao dependia de um contrato de trabalho) todo movimento que desemboca na so- ciedade salarial tenha consistido em superar a friabilidade da ordem contratual para conquistar um status, isto €, um valor acrescentado em relagao A estrutura propriamente contratual ’Lembremosquea recomposi¢ao contratual que perturbou a organizagao do trabalho respeitou o miicleo tutelar da ordem familiar. Se uma legislaco libe- ral do tipo da Lei Le Chapelier tivesse sido imposta a familia como foi parao trabalho, sem dtivida a ordem social nao teria resistido. $6 muito lentamente E que o Dire:to da Familia incluiu aspectos contratuais, a0 passo que, inversa, mente, 0 Direito do Trabalho abarrotava-se de garantias estatutarias. Porém, no inicio do século XIX, as populagées que forneceram o material para as descric6es do pauperismo caracterizavam-se por sua relacao instavel com o trabalho e, ao mesmo tempo, pela decomposicgao de sua estrutura familiar: que so atribuidos as populagées rurais, unides entre operarios e operarias das primeires concentragées industriais sempre dggctitas como frageise imo. rais, rodeados de criangas de pais desconhecidosRNem relag6es organizadas de trabalho, nem vinculos familiares fortes, nem inscrigéo em comunidades estruturadas: os principais tragos do individualismo negativo conjugam-se para produzir uma desfiliagao de mass: solteiros transplantados para a cidade e afastados dos saudAveis costumes © trabalho e da Protecdo social.!Nem tutel, radosem foro dares ae ie et de conianto ena : comuns. O mundo do trabalho na sociedade salarial nao forma, para falar em termos exatos, uma sociedade de individuos mas, sobretudo, um encai- xe hierarquico de coletividades constituidas na base da divisao do trabalho e reconhecidas pelo direito. Ainda mais que, so- bretudo nos meios populares, a vida extratrabalho é tambéna estruturada pela participagdo em espacos comunitarios, o bair- rO, Os amigos, o boteco, o sindicato... Quanto ao estado de des- socializacdo que o pauperismo representava, a classe operaria, sobretudo, havia “fabricado” para si formas de sociabilidade que_podiam ser intensas e sdlidas”. (Desse modo, se cada um pode, sem diivida, existir como individuo enquanto pessoa “privada”, o status profissional € § A. Supiot, Critique du droit du travail, Paris, PUF, 1994, p. 139. Esta obra exp6e de modo muito preciso o papel desempenhado pelo Direito do Traba- Iho para passar do puro contrato de trabalho ao estatuto de assalariado. * CE, por exemplo, as andlises de E.P. Thompson, The Making of the Working Class, op. cit., e R. Hoggart, La culture du pauvre, op. cit., bem como intime- ros estudos sobre a sociedade operaria que enfatizam, talvez de modo um pouco mistificado as vezes, a forca de suas solidariedades. Para maior clareza sobre a cultura popular, cf. C. Grignon, J.-C. Passeron, Le savant et le popu- laire, Paris, Gallimard, 1989. 600 pablicoe coletivo, © esta ancoragem permite uma estabil: dos modos de vida. (Tal desindividualizacao pode até permitirs uma desterritorializacao das protegées. ‘A medida que sao ins- critas em sistemas de regulagées jurfdicas, essas novas prote- $6es nao passam necessariamente pela interdependéncia, mas tampouco pelas sujeigées das relacées personalizadas, como o paternalismo do patrao ou dos interconhecimentos que mobi- lizam a protegdo préxima. Assim, autorizam a mobilidade. O “detentor de direito”, dizfamos n6s, pode, em principio, estar assegurado tanto em Maubeuge quanto em Cholet. Em suma, a reterritorializagao pelo direito, ou fabricacdo de territérios abstratos, completamente distintos das relacgées de proximida- de e através dos quais os individuos podem circular sob a égide da lei. E a desfiliagao vencida pelo direito. Essa articulagao complexa dos coletivos, das protegées e dos regimes de individualizagao esta hoje em discussao, e de um modo que é, ele mesmo, muito complexo. As transforma- g6es que se dao no sentido de maior flexibilidade, tanto no que se refere ao trabalho quanto ao extratrabalho, tém sem divida um carter irreversivel.JA Segmentacao dos empregos, do mes- mo modo que oirresistivel aumento dos servicos, acarreta uma individualizagdo dos comportamentos no trabalho completa- mente distinta das regulacées coletivas da organizacao “for- dista”,JNao basta mais saber trabalhar, é preciso saber, tanto quanto, vender e se vender. Assim, os individuos sao levados a definir, eles proprios, sua identidade profissional e a fazer com que seja reconhecida numa interagao que mobiliza tanto um capital pessoal quanto uma competéncia técnica geral’”. Essa diluigao dos enquadramentos coletivos e dos pontos de identi- ficag4o que valem para todos nAo esta limitada as situagdes de trabalho. O préprio ciclo de vida se torna flexivel com 0 pro- 40 Cf, as andlises de B. Perret e G, Roustang, L’économie contre la société, op. cit., cap. I. Para uma interpretacdo otimista desse processo, cf. M. Crozier, Lentreprise a l’écoute, Paris, Le Seuil, 1994 (1* edigao, Paris, Inter-éditions, 1989). Heh EE SOE ATOR HTN i as EER longamento de uma “pés-adolescéncia” frequentemente en-" tregue 4 cultura do aleatério, As vicissitudes de uma vida profissional mais abrupta, e de uma vida pés-profissional que, amitide, se estira de uma safda prematura do emprego até os confins sempre mais recuados da quarta idade!. Uma espécie de desinstitucionalizagao, entendida como uma des-ligagao em relacdo aos quadros objetivos que estruturam a existéncia dos sujeitos, atravessa 0 conjunto da vida social. Esse Processo geral pode ter efeitos contrastantes sobre os | diferentes grupos por ele afetados. Na esfera do trabalho, a in- | dividualizagao das tarefas permite a alguns que escapem das sujeigdes coletivas e expressem melhor sua identidade através t de seu emprego. Para outros, significa segmentacao e frag- mentagao das tarefas, precariedade, isolamento e perda das protegdes™. A mesma disparidade é encontrada na vida so- cial. E enunciar um lugar-comum da sociologia lembrar que alguns grupos, que pertencem as classes médias, tém uma re- lagdo de familiaridade, até mesmo uma relagao complacente, com uma cultura da individualidade que se traduz pelo in- teresse dedicado a si mesmo ea seus afetos e pela propensio a Ihes subordinar todas as outras preocupacées. E 0 caso da “cultura do narcisismo”™ ou do modo da “terapia para os normais”'* representada pela posteridade da psicandlise du- rante os anos 70:\Mas ao mesmo tempo, era facil mostrar que essa preocupacao consigo mobilizava um tipo especifico de ca- pital cultural e encontrava fortes “resisténcias” nos meios po- pulares, simultaneamente porque estavam mal equipados para ‘ dedicar-se a eles e também porque seus investimentos princi- pais se dirigiam para outros pontos. 11 Xavier, Gaulier, “La mutation des Ages”, Le Débat, n° 61, setembro-outu- bro, 1991. CE£. A. Supiot, Critique du droit du travail, op. cit. % 13 C, Lash, The Culture of Narcissism, Nova York, W W Norton and Co.,1979. 4R. Castel, J.-F. Le Cerf, “Le phénoméne psy et la société frangaise”,LeDé- bat, n* 1, 2 e 3, 1980. ; ~” Essa cultura do individuo nao esta morta, e uma de suas “flantes assumiu formas ex; erbadas com o culto da perfo: mance da década de 80'°.fPorém, vé-se desenvolver hoje um‘ outro individualismo, desta vez de massa, e que aparece como uma metamorfose do individualismo “negativo”, desenvolvi- do nos intersticios da sociedade pré-industrial. Metamorfose e de modo algum reprodugao, porque € 0 produto do enfraque- cimento ou da perda das regulagoes coletivas, nao de sua extre- ma rigidez. Porém, conserva o traco fundamental de ser um individualismo por falta de referéncias, e nao por excesso de in- vestimentos subjetivos. “Nao tem muito a ver com um movi- mento de afirmagao de si — nao é necessariamente o valor do individuo que é prioritariamente motor num processo de in- dividuagao, talvez seja, de fato, a desagregagao do enquadra- mento coletivo”'’. Também se poderia ver, no exemplo ideal- tipico do jovem toxicémano de subtirbio, o homélogo da for- ma de desfiliagao que o vagabundo da sociedade pré-indus- trial encarnava. F completamente individualizado e superexposto pela falta de vinculos e de suportes em relagao ao trabalho, a transmissao familiar, A possibilidade de construir um futu- ro... Seu corpo € seu tinico bem e seu tinico vinculo, que ele trabalha, faz gozar e destroi numa explosao de individualismo absoluto. Mas, como a do vagabundo, essa imagem nao vale senao Porque introduz ao maximo tracos que sao encontrados em numerosas situagGes de inseguranga e de precariedade que se traduzem através das trajetérias estremecidas, feitas de buscas inquietas para se virar no dia a dia. Para muitos jovens, em es- pecial, é necessdrio tentar esconjurar a indeterminagdo de sua Posi¢ao, isto é, escolher, decidir, encontrar um jeito e preser- var uma preocupac¢ao consigo para nado se afundar. Essas ex- periéncias parecem estar nas antipodas do culto do eu, desenvolvido pelos adeptos da performance ou pelos explora- _ 8 CfA. Ehrenberg, Le culte de la performance, Paris, Calmann-Lévy, 1991. | 16 M. Gauchet, “La société d’insécurité”, loc. cit., p. 175. ‘ores dos arcanos da subjetividade. Nao deixam de ser aventu- ras de alto risco de individuos que, antes de tudo, se tornaram tais por subtrac4o. Esse novo individualismo nao é uma imita- cao da cultura psicoldgica das Categorias cultas, ainda que Pos- sa tomar emprestados alguns de seus tragos!”. Individualidade de certo modo Superexposta, € mais colocada a frente, 4 medi- da que € mais fragil e ameacada de decomposicao. Corre, por- tantg, 0 risco de ser carregada como um fardo. ema bipolaridade do individualismo moderno propde um esquema para compreender o desafio com que hoje se defronta | | a sociedade salarial.A aquisigao fundamental desta formacao social consistiu, para dizer uma tiltima vez, em construir um continuum de posigées sociais nao iguais mas comparaveis, isto é, compativeis entre sie interdependentes. Maneira, e tni- ca maneira que encontrei, pelo menos até hoje, de atualizar a ideia teorizada sob a III Reptiblica de uma “sociedade de seme- Ihantes”, isto é, de uma democracia moderna, para torna-la compativel com as exigéncias crescentes da divisao do traba- lho ea complexizagao da estratificacao socialfA construgao de uma nova ordem de protegées, inscrevendo os individuos em coletivos abstratos, cortados das antigas relagdes de tutela e dos pertencimentos comunitarios diretos, pode assegurar, sem *7 6 assim que uma referéncia muito particular ao “cultural” ocupa, amitide um lugar importante nessas vidas entregues ao aleatério ~ nao a cultura dos que frequentam os museus ou concertos para melémanos, mas uma busca continua para montar um espetdculo ou formar um grupo musical, por exemplo, perpassada pela esperanca meio fantasiosa de um dia ser reconhe- cido, tendo, no fundo, sem diivida, uma vaga identificagio com a boemia epi- sédica que alguns dentre os maiores artistas experimentaram antes que um dia, de repente, a gloria os imortalizasse. Seguramente bem poucos jovens sai- rAo vitoriosos desses “espacos intermediarios”, mas h4 af um exemplo dessas aventuras “subjetivas” acalentadas primeiro no vazio de uma falta (de uma falta de trabalho em primeiro lugar, porque, ha vinte anos, a maior parte des- ses jovens de origem popular teria ido diretamente aprender uma profissio i ou para a fabrica) que, entretanto, nao sao desprovidas de coragem e, algu- mas vezes, de grandeza. Sobre a nocao de “espacos intermediatios”, ck L. Rouleau-Berger, La ville intervalle, op. cit. muitos choques, a passagem da sociedade industrial para a so- ciedade salarial.} Esse modo de articulagdo individuo-coletivo, que nado deve ser mistificado mas que, apesar de tudo, manteve 0 “com- promisso social” até 0 inicio dos anos 70, é colocado numa si- tuacao dificil pelo desenvolvimento do individualismo e pela formagdo de novos modos de individualizag4o. Porém, tal pro- cesso apresenta efeitos contrastantes, pois reforga 0 individua- lismo “positivo” e, ao mesmo tempo, da origem a um individualismo de massa minado pela nao seguridade e pela auséncia de protecées. fEm semelhante conjuntura, as formas de administracgao do social sao profundamente transformadas e 0 recurso ao contra- to e o tratamento localizado dos problemas voltam maciga- mente} Isso nao se dé por acaso. Acontratualizagao traduz, eao mesmo tempo impulsiona, uma recomposig¢ao da troca social de modo cada vez mais individualista. Paralelamente, a locali- zagao das interveng6es encontra uma relacado de proximidade, entre Os parceiros diretamente concernidos, que as regulacgdes universalistas do direito tinham diluido. Mas, no sentido pré- prio do termo, essa recomposigao é ambigua, porque se presta a uma dupla leitura. Esse novo regime das politicas sociais pode, de fato, ser in- terpretado parcialmente a partir da situagdo de antes das pro- tegdes, quando os individuos, inclusive os mais carentes, deviam enfrentar com seus préprios meios os sobressaltos de- vidos ao nascimento da sociedade industrial.“Faga um proje- to, envolva-se na busca de um emprego, de uma moradia, em suas combinag6es para criar uma associag4o ou langar um gru- po de rap, e o ajudaremos”, é o que se diz hoje. Esta injungao perpassa todas as politicas de insergao ¢ assumiu, com o con- trato de insergao do RMI, sua formulagao mais explicita: um subsidio e um acompanhamento contra um projeto. Mas nao sera necessdrio se perguntar, como no caso das primeiras for- mas de contrato de trabalho no inicio da industrializagdo, se a imposig4o dessa matriz contratual nao equivale a exigir dos in- 605 divfduos mais desestabilizados que se conduzam como sujeitos | auténomos? Porque “montar um projeto profissional”, ou, mais ainda, construir um “itinerario de vida”, ndo € uma coisa evidente quando se est4, por exemplo, desempregado ou amea- gado de ser expulso da moradia. Na realidade, é uma exigéncia que muitos sujeitos bem integrados teriam muita dificuldade em assumir, porque sempre seguiram trajet6rias balizadas’®. E verdade que esse tipo de contrato em geral é ficticio, porque o impetrante dificilmente est4 a altura de semelhante exigéncia. Mas entao o agente social é que € juiz da legitimidade do que funciona como contrato e concede, ou nao, a subvengao finan- ceira em fungao dessa avaliacdo. Exerce, assim, uma verdadei- ra magistratura moral (porque se trata, em tiltima andlise, de avaliar se o solicitador “merece” de fato o RMI), muito dife- rente da atribuigdo de uma subvengao para coletivos detento- res de direito, anénimos certamente, mas ao menos garantindo a automaticidade da distribuicao. [Os mesmos riscos de que a individualizacéo dos procedi- mentos é portadora ameagam a outra transformacio decisiva dos dispositivos da intervengao social, representada por sua territorializagao. Este movimento vai muito além da descen- tralizag4o, visto que se delega poder As instancias locais para priorizarem os objetivos, definirem projetos e negociarem sua realizag4o com os parceiros concernidos. Em tiltimo caso, 0 lo- cal torna-se também global.| Mas a novidade dessas politicas nao exclui algumas homologias com a estrutura tradicional da protegdo préxima. Esta forma mais antiga da assisténcia, da qual foram examinadas varias modalidades histéricas, jA pas- sava pelo que teria sido possivel chamar de negociagao, se a pa- lavra entao existisse. Realmente, aquele que pedia um socorro sempre tinha que fazer reconhecer seu pertencimento comuni- tario. Mas a qualidade de préximo (cf. capitulo I, “Meu pré- ximo € 0 préximo”) insere-o num sistema de dependéncias 18 Cf J.-F. Noél, “L’insertion en attente d’une politique”, in J. Donzelot, Face 4 Pexclusion, op. cit. 606 | “-tutelares, cuja figura limite Karl Polanyi descreveu sob o nome de “servidao paroquial” (parish serfdom) das poor laws ingle- sasfQue garantias se tem de que os novos dispositivos “transver- ee ” sais”, “de parcerias”, “globais” etc. nado dar4o origem a formas de neopaternalismo?/Evidentemente, “o eleito local” rara- mente é um déspota local, e o “chefe de projeto” nao é uma se- nhora patrocinadora. Mas o desvio histérico ensina que, até hoje, sempre existiram “pobres bons” e “pobres maus”, e que tal distincdo é baseada em critérios morais e psicolégicos. Sem a mediagao de direitos coletivos, a individualizagdo das aju- das e o poder de decisdo fundado sobre interconhecimentos, tendo em vista as instancias locais, correm sempre 0 risco de encontrar a velha logica da filantropia: jure fidelidade e sera socorrido. Mas 0 proprio direito social se particulariza, se individua- liza, pelo menos 4 medida que uma regra geral pode indivi- dualizar-se. Assim, o direito do trabalho, por exemplo, se fragmenta, recontratualizando-se ele proprio fAquém das re- gulacées gerais que dao um estatuto e uma identidade forte aos coletivos de assalariados, a multiplicag4o das formas particula- res de contratos de trabalho ratifica a balcanizagdo dos tipos de relaco com o emprego: contratos de trabalho por tempo de- terminado, interino, de tempo parcial etc. As situag6es inter- medidrias entre emprego e nao emprego também constituem objeto de novas formas de contratualizagao: contratos de volta ao emprego, contratos emprego-solidariedade, contratos de reinsergao em alternancia... Estas altimas medidas sao parti- cularmente significativas da ambiguidade dos processos de individualizacao do direito e das protegdes,Por exemplo, o contrato de retorno ao emprego concerne “Aas pessoas que en- contram dificuldades particulares de acesso ao emprego” (arti- go L322-4-2 do Cédigo do Trabalho). E, portanto, a especificidade de algumas situagGes pessoais que abre 0 acesso a esse tipo de contrato’’. Essa abertura de um direito é assim subordinada a 29 Cf. A. Supiot, Critique du droit du travail, op. cit., p. 97. 607., a constatagéo de uma deficiéncia, de res”, de natureza pessoal ou psicoss. funda, “dificuldades pay mal ‘ocial. Ambiguidade p ripen ces gine oe Sean ee ae le é absolutamente defensave! 7 ‘a requalificagdo antes de voltar aliens ease aliguieg duce tesco oak r gica da assisténcia tradicional que o di- reito do trabalho havia combatido, isto é, para ser assistido, é necessario manifestar os sinais de incapacidade, uma deficién- cia em relagdo ao regime comum do trabalho. Como no caso do RMle das politicas locais, esse tipo de recurso ao contrato ameaga trair a impoténcia do Estado paracontrolar uma socie- dade cada vez mais complexa e heterogénea através de adia- mento, por artiffcios singulares, de tudo 0 que as regulagées coletivas nado podem mais comandar. Essa ambiguidade atravessa a recomposicao das politicas sociais e das politicas do emprego que esté em curso hé mais ou menos 15 anos. Para além da “crise”, se enraiza num profundo processo de individualizagéo que também afeta os principais setores da existéncia social.|Assim, seria possivel fazer o mes- mo tipo de andlise a propésito das transformagées da estrutura familiar, A familia “moderna” se fecha em torno de sua rede re- lacional, as relacdes entre seus membros, desde esses tiltimos anos, est4o contratualizadas sobre uma base pessoal. Porém, como observa Iréne Théry”’, essa “libertacgdo” da familia no que diz respeito as tutelas tradicionais produz efeitos diferen- tes conforme os tipos de familia, e os membros das familias economicamente mais precdrias e socialmente mais carentes podem fazer a experiéncia negativa da liberdade quando ocor- re, por exemplo, uma ruptura conjugal, uma separagao ou uma degradagao do status social. O fato, aqui como alhures, de existir como individuo nao € um dado imediato da conscién- cia. Paradoxo cuja profundidade é necessario sondar‘fyive-se 20 Cf I. Théry, Le démariage, op. cit. 608 & vontade a propria individualidade 4 medida au ypoia em recursos objetivos e protecdes coletivas. b Soe Af se situa o cerne da questo suscitada pelo desmorona- mento da sociedade salarial, pelo menos de seu modelo do inf- cio dos anos 70. E o cerne da quest4o social hoje. Nao se pode haver denunciado a hegemonia do Estado so- bre a sociedade civil, o funcionamento burocratico € a inefi- cAcia de seus aparelhos, a abstragao do direito social e sua impoténcia para suscitar solidariedades concretas e, depois, condenar transformagées que levam em conta a particularida- de das situacées e que, para isso, fazem apelo a mobilizagao dos sujeitos. Alias, seria inatil, pois esse movimento de individuali- zagdo é sem dtivida irreversivel. Porém nao se pode mais, por achar que nAo serd necess4rio enfrentar 0 problema, negligen- ciar o estudo do custo dessas transformagées para algumas ca- tegorias da populacado. Quem n4o pode pagar de outro modo deve, continuamente, pagar com sua pessoa, o que €um exerci- cio extenuante. Vé-se muito esse mecanismo nos procedimen- tos de contratualizagéo do RMI: o solicitador nao tem nada mais a apresentar senao 0 relato de sua vida, com seus fracassos e suas privagées: escruta-se este pobre material para identificar uma perspectiva de reabilitacao a fim de “construir um proje- to”, de definir um “contrato de insergao”'. Os fragmentos de uma biografia esfacelada constituem a tinica moeda de troca para o acesso a um direito. Nao é verdade que esse tratamento do individuo convenha a um cidadao pleno. ‘Assim, a contradigao que atravessa 0 processo atual de in- dividualizagdo é profunda. Ameaga a sociedade de uma frag- mentacdo, que a tornaria ingovernavel, ou de uma polarizagao entre os que podem associar individualismo e independéncia, porque sua posigao social esta assegurada, e os que carregam 21 Cf I. Astier, Revenu minimum et souci d’insertion: entre le travail, le do- mestique et l’intimité, tese de doutorado em Sociologia, Paris, EHESS, 1994. 609; “sua individualidade como uma cruz, porque significa’ vinculos e auséncia de protegées. Sera possivel aceitar esse desafio? Ninguém pode afirma com absoluta certeza. Mas cada um poderia convir quanto 4 via que € necessdrio trabalharf©O poder publico é a tnica ins- tancia capaz de construir pontes entre os dois polos do indivi- dualismo e impor um minimo de coesao a sociedade.\As coergées impiedosas da economia exercem uma creécente , pressao centrifuga. As antigas formas de solidariedade estao esgotadas demais para reconstituir bases consistentes de resis- téncia. O que a incerteza dos tempos parece exigir nao é menos Estado — salvo para se entregar completamente as “leis” do mercado. Também ndo €, sem dtivida, mais Estado —salvo para querer reconstruir a forga o edificio do inicio da década de 70, definitivamente minado pela decomposicéo dos antigos cole- tivos e pelo crescimento do individualismo de Esa te so € um Estado estrategista que estenda amplamente suas interveng6es para acompanhar esse processo de individualiza- cao, desarmar seus pontos de tens4o, evitar suas rupturas e re- conciliar os que cafram aquém da linha de flutuagao. Um Estado até mesmo protetor porque, numa sociedade hiperdi- versificada e corrofda pelo individualismo negativo, ndo hd co- eso social sem protegdao social. Mas esse Estado deveria ajustar o melhor possivel suas intervengées, acompanhando as nervu- ras do processo de individualizaga Apresentar essa exigéncia nao é esperar que uma nova for- ma de regulagao estatal desga pronta do céu, porque, como também se sublinhou, partes da acao ptiblica tentaram trans- formar-se nesse sentido h4 mais ou menos 15 anos. Mas tudo se passa como se 0 Estado Social oscilasse entre tentativas de ex- pans&o para fazer face ao que a situagao atual comporta de iné- dito ea tentagao de abandonar a outras instancias — 4 empresa, a mobilizag4o local, a uma filantropia bizarramente coberta de novos ouropéis e, inclusive, aos recursos que os proprios 6r- faos da sociedade salarial deveriam desenvolver — a responsa- bilidade de realizar seu mandato de fiador do pertencimento 610 CONCLUSAO - O INDIVIDUALS a todos a uma mesma sociedade. Realmente, quando o navié faz Agua, cada um tem que despejar a Agua pelo vertedouro. Mas, em meio 4s incertezas que hoje sao muito numerosas, 1 pelo menos uma coisa é clara: ninguém pode substituir o Esta- : do em sua fungdo fundamental que é comandar a manobra e evitar o naufragio.

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