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Crítica 10/07/2019

Álbum - “The Twelve Seasons - Vivaldi, Piazzolla, Shor”


David Aaron Carpenter, Salomé Chamber Orchestra; Rhino Warner Classics, 2016.

"As 12 Estações": um curioso título. É de se esperar que algo bastante original tenha sido
escolhido para exceder neste álbum aquilo que precisa exatamente de um ano para se de-
senrolar. E o que temos aqui é, no mínimo, interessante: as inéditas Quatro Estações de
Mahattan, de Alexey Shor, ao lado das consagradas Quatro Estações Portenhas, de Astor
Piazzola, mais o também consagrado sucesso fonográfico As Quatro Estações de Antonio
Vivaldi (segundo a Gramophone.uk, há pelo menos 200 gravações da obra). Qual seria o
elo de ligações entre os três opi, envolvendo três países diferentes e três épocas? Mais do
que o título, e além da presença de um ciclo inédito, o principal atrativo desta gravação é o
seu solista: David Aaron Carpenter, jovem e magnífico violista desde os dezesseis.

O Sr. Carpenter pertence a uma família musical, da qual 3 irmãos (David e os violinistas
Sarah e Sean) formam, juntamente com outros músicos premiados, a Salomé Chamber
Orchestra. Pelas mãos de David já passou nada menos que o instrumento mais caro do
mundo: a viola "Mcdonald", fabricada por Antonio Stradivari em 1719. A despeito da tradi-
ção centenária de piadas pejorativas sobre violistas e mesmo violas, paradiga só quebra-
do no fim do século XIX pelo "paladino da viola" Lionel Tertis, este instrumento em questão
já foi a leilão pelo lance inicial de 45 milhões - de dólares. Obviamente que uma preciosi-
dade destas merece ser utilizada da mais fina maneira - isto é, com um fino músico execu-
tando fina música. Não sei afirmar com certeza se o que ouvimos na gravação é o mesmo
precioso instrumento; mas, de maneira geral, o que ouvimos aqui é indiscutivelmente bom.
Normalmente, os membros da Salomé utilizam Strads.

O que chama a atenção nas Quatro Estações de Vivaldi é que as peças não são executa-
das simplesmente uma quinta abaixo, como seria de se esperar em alguma ordinária
transcrição para viola Na verdade, o que temos aqui é uma adaptação, na qual o solista
bravamente vence os desafios da escrita original para violino, ora avançando para posi-
ções obrigatoriamente mais altas, ora transpondo as passagens uma oitava abaixo. Am-
bas as opções trazem suas dificuldades, seja pela resposta mais lenta das cordas inferio-
res, seja pela maior distância física entre os intervalos das notas graves, ou seja pelas li-
mitações que o curvatura do corpo da viola impõe no registro superior. O instrumentista de
plantão provavelmente achará bastante interessante verificar como o solista lida e vence
tais desafios técnicos. Não obstante, qual será a impressão que irá ter desta versão um
leigo, ou alguém simplesmente mais interessado no aspecto musical da interpretação? In-
dependente se tocam uníssonos ou não, violas e violinos diferem claramente em timbre.
Mas a dificuldade de se tocar viola, maior se comparada diretamente com seu irmão me-
nor, pode ser notada não só por quem a executa: a música na viola, às vezes, pode soar
pesada e sofrida, extraída dela com certa dificuldade. E especialmente se tal música fora
concebida para o violino: é inevitável que a literatura violinística soe muito mais leve no
seu instrumento-fim, mesmo que por meio das mãos de um virtuose. Podemos citar como
exemplos o solo do terceiro movimento do Verão (iniciado no compasso 236 do concerto),
no qual o violino necessita tocar na sétima posição e que é uma passagem de bastante
brilho, mas que aqui soa um tanto pesada O solo seguinte, do compasso 270, é omitido,
enquanto a passagem do compasso 275 é executada oitava abaixo. Porém, a passagem
do compasso 312 é bravamente executada para soar in loco. Já um trecho anterior, do
compasso 305, é cômodo de se executar na viola na região original e soa gratificante-
mente vigoroso. No Largo da Primavera, o solo poderia se confundir com o a viola que to-
ca o motivo do “Cão que ladra”, o que felizmente não acontece. Neste movimento, o solo é
nada menos do que maravilhoso.
Quanto às Estações Portenhas, o trabalho soa mais redondo, apesar de também estar
aparecendo pela primeira vez na viola, aproveitando da mesma maneira a doçura que esta
mostra em seus momentos frágeis assim como seu vigor intenso. Se a música de Piazzola
pode também ser vista como viril e afirmativa, a viola é um instrumento perfeito para a sua
expressão. Como um homem severo, de rosto marcado pela experiência e cuja voz igual-
mente severa pode, por vezes, vacilar, enquanto declama elegantemente sentimentos in-
tensos. A presente versão é baseada no arranjo de Leonid Desyatnikov, que lhe deu um
formato de concerto italiano (em três movimentos) e inseriu citações do pioneiro venezia-
no. Invertidas, por estar Buenos Aires em outro hemisfério. Assim, ouve-se por exemplo
uma assustadora citação do já sinistro Inverno vivaldiano ao final do intenso tango estival.

Com tanta abundância musical, é de se perguntar se o prato principal aqui é Vivaldi, ou Pi-
azzolla, ou Shor. A combinação entre as peças argentinas e italianas, idealizada por Gidon
Kremer e providenciada pelo mencionado Desyatnikov, não é mais algo tão inédito, o que
lança os holofotes para a obra de Shor, quase cinquenta anos mais recente do que as pe-
ças originais de Piazzolla. A certeza que podemos ter é que as joias compostas em 2013
pelo compositor ucraniano radicado nos EUA retrata, em seus melodiosos solos dedicados
a David Aaron Carpenter e sua Salomé Chamber Orchestra, impressões da vida na ilha
onde localiza-se a famosa Estátua da Liberdade. Rápida, movimentada, mas ao mesmo
tempo com uma melancolia inerente: assim são as Quatro Estações de Manhattan. São
movimentos bastante curtos e que se sucedem sem interrupção. A música soa leve, bem
escrita, com cores profundas que podem facilmente evocar emoções, sem grades virtuo-
sismos mas com delicadas melodias.

O ciclo abre com o Verão, numa forma aproximada A-B-A, a qual será utilizada nos de-
mais movimentos, sendo que na sua primeira parte predomina um cantabile delicado na
corda superior do instrumento, mas a escrita e o registro favorecem o lirismo na execução.
Aqui tudo soa com perfeição: o som da viola é suave e terno, mas muito presente e segu-
ro, não parecendo forçar nenhum limite, como se não existisse técnica mas apenas sons e
sensações. No Outono, a viola principal dialoga com as violas da orquestra, e o tema ini-
cial aparece três vezes, na terceira executado pelos agudos dos violinos, que soam natu-
ralmente mais delicados nesta região, para então dar lugar a outro tema (Allegro Leggia-
dro, compasso 139). No compasso 149 a viola finalmente canta em seu maravilhoso regis-
tro médio, o qual nenhum violino é capaz de imitar. Na orquestra, a seção seguinte (Play-
ful) apresenta duas melodias apresentadas pelos violinos e pelas violas antes do retorno
do doloroso tema A deste movimento. A seguir temos o Inverno, bastante sereno, com os
violoncelos em tremolando executando um plácido fundo para o solo. No compasso 229
(aos 1:02 da faixa) inicia-se uma sessão turbulenta sugestivamente marcada como “Winter
Storm”, onde a viola mostra seu vigor num registro confortável e os violoncelos em divisi
fazem bloco com os primeros violinos. O tema gentil volta a seguir, o solista alcançando
notas mais altas, como o Ré da segunda oitava da corda Lá, dialogando com os violonce-
los. Um trecho, “Blooming”, em que os segundos violinos iniciam um motivo pontuado, su-
gestivamente precede último movimento, Primavera. Este finale finalmente brilha em tom
maior (nomeadamente Lá), com escrita mais alegre no solo (Shor anotou “oitava opcional”
no compasso 274). O movimento avança, sempre distribuindo passagens interessantes
ora aos segundos violinos, ora às violas, e as armaduras de clave vão ganhando mais
sustenidos (isto é, modulando quintas acima, de Lá para E e depois SI) até atingir um cer-
to clímax, quando passa repetir o caminho inverso e encerrando o luminoso e alegre movi-
mento num sóbrio acorde de lá menor.

Marcelo Eduardo de Almeida é bacharelando em Violino pela UFPel (RS) e também toca
viola na Orquestra de Cordas da Universidade.

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