Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Escola Tomista
Professor Carlos Nougué
Aula 2
Bem-Vindos à segunda aula de nossa Escola Tomista. Entre a aula magna e
esta aula há uma grande diferença: esfriou muito por aqui. Realmente estou
congelando, então vamos ver se consigo sair do congelamento para uma boa
aula.
Pois bem. Assim também, as aulas deste curso hão de ser como radiografias.
Não esperem de mim tiradas brilhantes, não esperem de mim metáforas
fulgurantes, piadas, desprezo ad hominem aos autores adversários meus; os
combaterei, se os combater, quando os combater, no campo da ciência, não no
campo da desqualificação pessoal. Então, não esperem de mim um estilo
rebuscado, requintado, brilhante. Antes tenderei a certa monotonia, a
monotonia que é capaz de explicar passo a passo, repetitivamente se
necessário, detidamente, detalhadamente, sempre que necessário, cada coisa
que exporei, incluindo cada termo, cada expressão usada.
Posto isso, posso começar esta segunda aula propriamente dita. Há duas
coisas que nos maravilham enormemente: a vida e o conhecimento. A vida
realmente é surpreendente. Quando vemos o nosso corpo reagir por si mesmo
a doenças e regenerar-se muitas vezes por si mesmo, como movido por algo
que lhe é intrínseco, a apetecer, a defender, a manter sua própria vida; isso
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 3
Aliás, há coisas ainda mais surpreendentes. Não faz muito tempo descobriu-se
no mar uma água viva chamada Turritopsis Nutricula que, dizem os cientistas,
é imortal (veremos se essa hipótese da imortalidade é factível, porque o que
essa Turritopsis Nutricula faz é no momento de corromper-se, ela renasce das
cinzas qual uma ave fênix, ela se renova, é como se ela se desse nova vida,
uma espécie de ressurreição permanente no momento mesmo que está
prestes a corromper-se, a morrer. Ou seja, essa aparente falta de nitidez entre
as fronteiras, entre o não vivo e o vivo, entre o não vivente e o vivente, e entre
o vivente e o imortal, não nos devem desanimar, não nos devem impedir, não
nos devem fazer renunciar a ver que entre todas estas coisas há saltos
imensos. É o que Gustavo Corção, no melhor de sés livros na minha opinião,
“As descontinuidades da criação” (não concordo com tudo ali, mas é um livro
muito interessante), exatamente chama, há descontinuidades entre as coisas,
entre o não vivente e o vivente.
Há animais que, sendo quase uma ferrugem e fungos que ficam ali paradinhos,
eles não podem mover-se, eles não têm memória. Para que nos movamos é
preciso que tenhamos memória. Um cão quando se move a algum lugar é
porque memória que ali estará uma cadela, ou ali estará um osso que ele
enterrou, ele tem a memória disso. Pois bem, tudo isso é conhecimento, desde
o conhecimento por tato que têm os animais inferiores até os brutos mais
perfeitos, que têm os cinco sentidos além dos sentidos internos, incluído a
memória, e têm, por isso mesmo, movimento. Eles conhecem. Os vegetais não
conhecem de modo algum. Pode até dizer-se que de certo modo eles se
movem a nutrir-se, mas de certo modo, é um modo impróprio. Movem-se os
animais porque têm conhecimento, conhecimento do mundo sensível. O que é
o mundo sensível? É aquele que é captado pelos sentidos. Os sentidos
externos só podem captar o mundo sensível, a audição, a visão.
os animais. Não se aflijam porque ainda não saibam o que são os sentidos
internos, vamos vê-los na altura devida.
Isto é uma confusão terminológica que não pode deixar de induzir a confusões
de fundo.
Mas a confusão entre ser e existência causa ainda mais danos. Atenção, a
distinção entre ser e existência não é fácil, só a alcançarão vocês quando
chegarmos à metafísica, aprofundando-a ainda na Teologia Sagrada, é algo
que só é evidente para os sapientes. Mas, deixar de fazer a distinção entre
essas duas coisas levou a confusões imensas, como a de Heidegger ao acusar
que a filosofia ocidental havia esquecido o ser ou o ente. São Tomás não
esqueceu nada, foi ele o grande descobridor desta diferença, mas isso
ocasionou o desvio, a inflexão da doutrina tomista quanto a este ponto
essencial, metafísico, capital, fez com que houvesse um descarrilamento até o
ponto de Heidegger criticar aquilo que ele não sabe que criticava, porque é
como se ele pensasse que a doutrina de Santo Tomás fosse exatamente como
era expressa por seus continuadores ou por seus adversários. Fecho o
parêntesis apenas insistindo nisto: uma coisa é ser outra coisa é existência. Às
vezes podemos usar uma pela outra, mas poucas vezes. Em meu livro
“Estudos Tomistas”, eu tenho um opúsculo que fala exatamente disso: a
distinção entre ser e existência (salve engano é o segundo ou o terceiro
opúsculo do livro “Estudos Tomistas”).
Pois bem. Posto isso, voltemos ao ente. Repita-se, o ente está para o verbo
esse (ser), assim como fluente está para o verbo fluir e o ente, ou seja, aquilo
que é, aquilo que está sendo, aquilo que tem ser o que é o objeto próprio desse
conhecimento, o humano, que com relação ao animal é um salto
incomensurável e que também se chama intelecto, inteligência, mente. Mas o
fato é que há alguns homens que têm um conhecimento, uma inteligência da
realidade mais excelente que o restante dos homens, são os filósofos. O que
quer dizer filosofia? Amor à sabedoria. É bem verdade que, como diz
Aristóteles logo no início de sua metafísica, todo homem deseja saber, ou seja,
quer alcançar a sabedoria; mas, só uma minoria dos homens o consegue, e ela
tem então um conhecimento mais excelente que a maioria dos homens. Não é
que haja um salto entre o conhecimento corrente dos homens e os filósofos ou
sábios, do mesmo modo que houve um salto incomensurável entre o
conhecimento animal e o conhecimento humano, inteligência, intelecto ou
mente. Não, não há este salto, porque o sábio está em potência em qualquer
homem, antes de eu, você ou qualquer outro poder ser sábio, nós não o somos
e, no entanto, podemos vir a ser sábios; ao passo que um símio, contra o que
diz Darwin, não pode vir a ser um homem.
Como o verão, por um longo tempo não falarei de Deus, não falarei de alma
nem muito menos de anjos. Por quê? Porque a nossa inteligência, o nosso
intelecto é preparado, ele é próprio para entender o que é esta coisa sensível
que está diante de mim, que meus olhos vêem, que minhas mãos tocam, que
meus ouvidos ouvem, cujo cheiro, sinto. Isto é que é próprio nosso, conhecer o
que é, não ao modo dos animais ou brutos, mas ao modo humano, conhecer o
que é esta coisa sensível. Se depois, vamos fazer aquilo que Platão chamava a
segunda navegação, cujo porto era o suprassensível. Explique-se isso
rapidamente, em Grego se dizia primeira navegação aquela feita com vento e
as velas defraudadas, as velas abertas e o vento empurrava o barco, ou seja,
uma navegação fácil; a segunda navegação era mais difícil, porque sem vento,
arriavam-se as velas e navegava-se com os remos. Pois bem, é isto que Platão
chamava a segunda navegação, aquela que alcança aquilo que está além do
sensível. Isto é um segundo momento, temos de partir em todo nosso início
que o objeto próprio do intelecto é: o que é esta coisa que se nos dá aos
sentidos (à visão, à audição, ao paladar, ao tato, ao olfato).
Então, não sejamos apressados. Muitos, mesmo tomistas, incorrem neste erro,
já começam supondo coisas que não são para supor no início; elas serão um
porto como o era o porto do suprassensível que Platão pretendeu alcançar com
sua segunda navegação a remos. Insista-se, porém, antes de prosseguir na
questão da ordem. Dizia Aristóteles que o próprio do sábio é ordenar. Pois
bem, pode surgir então uma atadura, um nó. Por que a primeira pergunta é o
que é e não se é? (aliás, podemos dizer que as coisas são ou existem, todas,
menos Deus, que nem é coisa nem existe, ele não é coisa e não existe, senão
que ele é; mas isso é apenas uma excursão em algo ainda vindouro).
Voltemos, por que a primeira pergunta quando vejo algo que se me dá aos
sentidos é “o que é esta coisa”, “o que é este algo” e não se este algo existe?
Justo porque é evidente. Esta é a doença da filosofia pós-cartesiana, é a
doença de duvidar do evidente, de negar o evidente. Há um rapaz que durante
anos me perguntava: mas, professor, como posso saber que o evidente é o
evidente? E respondia eu: porque é evidente. Ou seja, essa doença de negar o
evidente leva a que a filosofia moderna pergunte: se é, se existe (em latim, na
sit) esta coisa que se me dá evidentemente, -- como se diz em linguagem mais
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 10
técnica – por si nota aos nossos sentidos. Por isso é que a primeira pergunta
não é “an sit”, já que a primeira coisa que conhecemos é o que se nos dá aos
sentidos, como acabei de dizer com relação às duas navegações platônicas.
Tomemos três exemplos para mostrar que nem todas as partes das coisas
sobre as quais perguntamos “o que são?” devem levar-se em consideração na
resposta. Tome-se uma árvore, a árvore pode ora ter folhas verdes ora ter
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 11
folhas amarelas, ela tem raízes. A amizade, se pergunta o que é amizade? Ela
supõe um trato constante, uma convivência constante, ainda que seja por
epístola, por carta, por missivas. E o rosto humano? O rosto humano pode ser
amarelo, negro, branco, vermelho, e tem sempre testa, olhos, nariz, boca. Mas
vejam no caso da árvore e no caso do rosto humano, no caso da árvore eu
digo “tem folhas verdes”, mas isso pode não ser assim, ela pode no outono ter
folhas amarelas, e pode até perder, e perde na maior parte dos casos as folhas
no mesmo outono. O rosto pode ser amarelo, branco, negro, vermelho, e tem
de ter obrigatoriamente testa, olhos, nariz, boca, assim como a árvore tem de
ter raízes. Mas mesmo deixando de lado aquelas coisas que podiam não ser,
ou seja, folhas verdes ou amarelas, ou não folhas, e, a cor branca, preta,
amarela, vermelha para o rosto humano; mesmo deixando de lado essas
coisas, ao responder o que é a árvore ou o que é o rosto humano, não
precisamos levar em consideração não só aquele primeiro bloco, mas
tampouco o fato de que a árvore tem raízes e de que o rosto tem testa, olhos,
nariz, boca, queixo, eles estão aí, mas às vezes podem não estar.
No caso do rosto, por exemplo, por algum defeito ou por uma perda acidental
podemos deixar de ter nariz. Claro, sentiremos que há algo estranho, que algo
é um defeito, uma falta, uma carência; ao passo que ser negro, branco,
vermelho ou amarelo não é considerado defeito, são cores, podemos ter
qualquer destas cores de pele; mas em nenhum dos dois casos se tem em
conta ao responder o que é a árvore ou o que é o rosto humano. Já se eu
disser que a árvore é um vegetal e que o rosto humano é o lugar dos órgãos
dos sentidos humanos (não todos obviamente, o tato é por todo o corpo), agora
sim, já respondi a o que é quiditativo, já dei uma quididade do rosto humano e
dei uma quididade da árvore.
Pois bem. Aquele primeiro bloco de coisas que não se devem levar em
consideração ao responder à pergunta “o que é?”, aquelas coisas, aquelas
partes, aqueles aspectos das coisas que não se devem levar em consideração
ao responder à pergunta “o que é?” são chamados acidentais; ao passo que
aquilo que se deve necessariamente levar em conta ao responder à pergunta
“o que é esta coisa?” é chamado essencial. Estamos na distinção entre o que é
acidental e o que é essencial. Vejam aí no documento o étimo da palavra
essência. Por aí, vocês já verão que essência normalmente se toma como o
mesmo que quididade; claro, se aquilo que é essencial é o que responde à
pergunta ”o que é esta coisa que se nos dá aos sentidos?” e se já dissemos
que aquilo que responde a esta pergunta é a quididade, logo, quididade e
essência são o mesmo. Antecipe-se, porém, que ao alcançarmos a física geral
veremos que quididade e essência não são absolutamente o mesmo, são o
mesmo, mas visto de ângulos distintos. Não são exatamente o mesmo, mas,
por hora, consideremos que essência (ou quididade) é aquilo que se encontra
ao responder a pergunta “o que está coisa?”. Quando digo que a árvore é um
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 12
vegetal e que o rosto humano é o lugar de órgãos dos sentidos externos tem
quididades, coisas essenciais do rosto humano e da árvore.
Insista-se em uma distinção anterior, disse eu que há coisas que não se devem
levar em consideração ao responder à pergunta “o que é?”, e estas coisas são
as acidentais. Se as coisas que se devem levar em consideração ao responder
à pergunta “o que é?” são as essenciais, as que não se devem levar em
consideração são as acidentais. Diga-se desde já, uma vez mais, agora
fazendo um excurso a algo mais próximo, não tão distante. Há dois tipos de
coisas acidentais. Umas são as acidentais propriamente ditas, as outras são as
também chamadas “propriedades” ou “próprios”. Acidental vem de acidente
(em latim, accidens), que vem do verbo accidere (que é formado de ad cadere),
ou seja, cair, vir a acontecer, resultar. Como veremos na próxima aula,
acidentes são aqueles que caem na substância, -- mas isso na próxima aula
que o entenderemos – por hora devemos entender que os acidentes são aquilo
que não cai na resposta que damos à pergunta “o que é?”. Logo, acidental é
aquilo que não é essencial. Os acidentes não são parte da quididade (ou
essência) da coisa que queremos conhecer ao perguntar “o que é esta coisa
que se nos dá aos sentidos?”. Mas hão de perguntar-me: como podemos
distinguir o que é acidental do que é essencial? Como podemos distinguir os
acidentes daquelas partes que devem entrar na resposta à pergunta “o que é a
coisa que se nos dá aos sentidos”? Pela inteligência, inteligindo. O verbo
inteligir quer dizer usar a inteligência, conhecer. Mas qual é a origem desta
palavrinha inteligir? É o latino intelligere (que é formado de duas partes, inter
legere). E o que é inter legere? É distinguir, escolher, eleger entre duas coisas
(daí a nossa palavra eleger, que é o mesmo que escolher).
Pois bem. Mas acabo de dizê-lo e já me assalta uma atadura, duas, para falar
a verdade. A primeira: é fácil isso, não? Parece que é fácil, que não se trata de
algo difícil. Então, incha-nos a soberba, e já nos achamos filósofos (ou sábios).
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 13
A maça é uma coisa à parte ou é parte da macieira? Estas perguntas não têm
resposta e digo mais, a maioria das perguntas não tem resposta fácil.
Antecipando um pouquinho. Podemos dizer com perfeição que o homem é um
animal racional; responda-se agora, o que é o cão? É um animal canino? Isso é
uma falácia, é um paralogismo. Se defino bem o que é o homem ao dizer que
ele é um animal racional, não defino e, portanto, não conheço o que é o cão se
digo que ele é um animal canino, ou que o gato é um animal felino. Isso é uma
petição de princípio (estudaremos aqui as falácias, e uma delas é a petição de
princípio).
coisa ou noutra, nos demais casos é que eles não conseguem fazer o que se
chama as operações do intelecto (que serão matéria de aulas próximas). Mas,
pelas espécies inteligíveis, eles de certo modo reconhecem as coisas de
maneira distinta de como os brutos conhecem por sua estimativa. Os brutos
não têm inteligência, não têm mente, não têm intelecto e, portanto, não têm
espécies inteligíveis. Não se assustem com a expressão, já entenderão o que é
isso. Digo-lhes que tenho em vários livros artigos sobre isso, sobre exatamente
as espécies inteligíveis e o que são as duas primeiras operações do intelecto,
em resposta aos erros de ninguém menos que Jacques Maritain e outros
tomistas importantes.
Estou apenas antecipando para que os que leiam o livro do padre Calderón
entendam essa sua passagem que a maioria dos homens entende a maioria
das coisas como as entendem os animais, ou seja, por comparação de
aparências sensíveis é, provavelmente uma maneira de expressar-se, uma
maneira de não entrar em assuntos mais complexos e futuros. Mas, eu gostaria
de ressaltar que não é exatamente; o homem, mesmo o mais ignorante, o mais
bruto deles jamais será igual a um animal bruto, a não ser em casos de
demência. Mas o fato é que a maioria dos homens, na maioria das vezes, não
faz as perguntas certas, ou na ordem certa, nem lhes dá as respostas cabais,
completas. Por exemplo, volte-se ao exemplo dado já, se pergunto a qualquer
pessoa ela normalmente dirá respondendo à pergunta “o que é a árvore?”: é
um vegetal. Mas já vimos que dizer que a árvore é um vegetal tem um
problema, é incompleto. Porque se olho para o arbusto digo que é um vegetal,
se olho para a roseira e digo que é um vegetal; mas então o que distingue a
roseira, do arbusto e da árvore? O que os distingue? Ou são a mesma coisa?
Serão a mesma?
Mas parece evidente que isto está errado, algo está errado aí. Não é possível
que a diferença entre uma mosca e uma zebra seja acidental, que entre a
minhoca e o orangotango haja apenas diferenças acidentais. Logo, a maioria
das pessoas não responderá cabalmente, e não é fácil responder o que é o cão
O cão é um animal irracional canino, falta algo; vejam, é uma petição de
principio. Não é fácil para maioria dos homens nem para os filósofos. Mas, a
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 15
Não é difícil antever numa excursão que faço aqui que nem o maior dos sábios
que foi São Tomás de Aquino pôde descansar enquanto estava vivo. Por isso é
que ele ao final da vida, aos 47, deixou de escrever porque teve uma
revelação, e após ter tido esta revelação (que certamente foi um lampejo
daquilo que o olho nunca viu, e que o ouvido nunca ouviu) pôde dizer então
que tinha parado de escrever, porque tudo quanto tinha escrito lhe parecia
coisa módica; não palha nem muito menos que estava errado como dizem os
inimigos do tomismo. Recomendo-lhes, se quiserem, meu estudo introdutório
ao Compêndio de Teologia, um longo estudo que saiu pela editora Concreta.
Vamos com o tempo entendendo toda essa obra, essa catedral lógica que foi o
Órganon aristotélico, com esses comentários que fizeram os grandes doutores,
e eu humildemente também o faço com o respeito às Categorias, e também
aos Predicáveis, que é outra obra, essa já não de Aristóteles, é uma obra que
se somou ao Órganon, a Isagoge de Porfírio.
Quero apenas dizer que essas excursões que faço a assuntos futuros são
apenas para precaver os alunos de interpretações falsas a que eles mesmos
possam chegar precipitadamente, ou ler em autores igualmente precipitados.
São como sinais na estrada, aquelas setinhas, vamos para lá, mas não quer
dizer que já tenhamos chegado ao ponto para o qual indicam essas setinhas,
ainda estamos nesta altura da estrada em que apenas vemos uma seta. Então,
peço-lhes encarecidamente que não me perguntam, por hora, coisas que
ampliem o que não é senão excurso. Claro, se não entenderam o que eu disse
exatamente com as palavras que disse, escrevam-me perguntando-me. Mas
por favor, não venham perguntar o que é a Santíssima Trindade, se Deus pode
ser demonstrado que ele é (sua “existência”), isto ainda não está em jogo, eu
apenas pus setas para que lhes evite tropeços por certas precipitações
próprias, ou devidas a leituras de outrem.
Creio que posso terminar a segunda aula anunciando que a terceira começará
por outra distinção importantíssima nesses primeiros trechos da estrada real
que conduz à sabedoria mais perfeita. A distinção entre substância e acidente.
Coisa tão mal entendida por aristotélicos e até por alguns tomistas, é uma
distinção fulcral. Sugiro-lhes que vejam quantas vezes sejam necessárias este
vídeo, esta aula é fundamental, não só porque não se pode soltar se se
desconhece a atadura, como não se pode galgar uma escada se não se temo o
pé firme em cada degrau, e este é o primeiro degrau de nossa ascensão à
sabedoria.
Muito obrigado.