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História Kalunga

Curso de Condutores de
Visitantes em Unidades
de Conservação

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De onde veio o povo Kalunga
Os Kalungas são uma comunidade originalmente
formada por descendentes de quilombolas,
negros fugitivos da escravidão forçada pelos
brancos colonizadores do Brasil. Os primeiros
africanos que foram trazidos como escravos
para o país vinham da costa da África Ocidental.
Eram povos que aqui ficaram conhecidos como
negros guinés, minas, congos, cabindas,
benguelas e muitos outros nomes, que
geralmente designavam o porto de embarque de
onde tinham vindo e não o povo ou a civilização
a que pertenciam. Depois da costa ocidental
africana, vieram outros negros que ficaram
conhecidos como moçambiques e, por fim, do
noroeste africano os povos que foram chamados
de geges, nagôs e iorubás. Os escravos que
chegavam ao interior do Brasil vinham desses
diversos portos.
No entanto os Kalungas também se
miscigenaram com indígenas que
habitavam o centro oeste brasileiro.
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De onde veio o povo Kalunga
A história do povo Kalunga teve início no período
de mineração do Brasil Colônia (Ciclo do Ouro).
Em meados do século XVIII, época de grande
movimentação nas Minas Gerais, dos Goyazes e
dos Tocantins, os bandeirantes começaram a
explorar o interior do Brasil em busca de ouro.
Como as populações nativas não bastavam para
o trabalho, os colonizadores buscavam mão de
obra escrava diretamente nos portos de Santos,
Salvador e Rio de Janeiro, tal qual ocorria nas
lavouras de cana de açúcar.

Na região de Cavalcante, os senhores de


escravos chegaram a possuir mais de nove mil
escravos oficialmente registrados e ao longo do
período do auge da mineração no município, que
durou cerca de um século, estima-se que haviam
mais de vinte mil negros africanos trabalhando
nas jazidas de ouro do município.

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Como surgiu o Quilombo Kalunga

Cansados de serem explorados, os africanos escravizados


acabaram se rebelando e fugindo. Eles se escondiam nas
matas, em locais de difícil acesso. Para evitar a recaptura, os
fugitivos tinham que ir para cada vez mais longe, refugiando-
se nos vales entre as serras, onde formaram quilombos. A
Chapada dos Veadeiros é um mar de serras e morros que se
estendem até onde a vista alcança.
O Território Kalunga é cercado delas. Serra da Nova Aurora,
do Mendes, do Mocambo, do Bom Jardim, da Areia, de São
Pedro, da Boa Vista, da Contenda, do Bom Despacho, do
Maquine, da Ursa, Morro da Mangabeira, do Moleque e dedo
do Moleque. São encostas íngremes, cheias de pedra.

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Como surgiu o Quilombo Kalunga

Do outro lado das serras, os paredões de pedra caem quase


a pique nas terras baixas dos vales, como muralhas
impossíveis de ultrapassar e mais adiante encontraram um
refúgio, nas margens do grande Rio Paranã, que corta todo o
Território Kalunga e que de lá segue adiante, em direção ao
rio Tocantins.
O relevo local dificultava as buscas e foi aí que se
estabeleceu o Território Kalunga. Nele, constituíram uma
identidade e uma cultura próprias, com os elementos
africanos de sua origem, adicionados aos indígenas
adquiridos com os nativos e aos europeus dos colonizadores,
marcados pela forte presença do catolicismo tradicional do
meio rural.

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O Quilombo Kalunga
e a influência indígena

Na busca de um território próprio e mais seguro, os primeiros


Kalungas foram desbravando a região da Chapada dos
Veadeiros. Entretanto, o território ocupado por eles não era
totalmente desabitado. A região dos Goyazes já abrigava
diversos povos indígenas que fugiam de seus territórios com a
chegada dos colonizadores como as etnias tapirapés, Xavantes,
Crichás, Avá-Canoeiro, Krahô, Capepuxi, Xacriabá, Kaiapó e
Karajás, Araés e apinagés.
No início desse processo de povoação, tanto os índios quanto
os negros tinham medo uns dos outros.

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O Quilombo Kalunga
e a influência indígena

Os índios não tinham muita confiança para se aproximar dos


quilombolas, e os negros, por sua vez, também temiam os
indígenas. Eles tinham curiosidade de ver, mesmo que de longe,
como viviam os quilombolas, acompanhando as festas e rezas.
Assim, pouco a pouco a confiança entre negros e índios foi
crescendo, e com o passar dos anos eles foram se aproximando.
Durante todo este período, houveram diversas miscigenações.
Além dos quilombolas e índios, outros negros libertos das minas
de ouro, se mudaram para aquelas serras e ali foram abrir
fazendas ou viver em pequenos sítios. Lentamente o povo
Kalunga foi se estendendo pelas serras em volta do Rio Paranã,
por suas encostas e seus vales, que os moradores chamam de
vãos.

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Curiosidades sobre
o nome Kalunga

Há muitos significados para a palavra Kalunga ou Calunga.


As duas grafias são consideradas corretas.
No idioma banto, de origem africana, Kalunga significa “lugar
sagrado, de proteção”. A expressão também pode significar
"tudo de bom".
Na fazenda Tinguizal, em Monte Alegre de Goiás (GO), existe
uma grota chamada Kalunga, e que, por essa razão, os que
viviam na região também passaram a ser chamados assim.
Ainda nas línguas bantas dos africanos angolanos, congos e
moçambiques que foram trazidos para o Brasil, Kalunga seria
também uma boneca de madeira que os moradores de
comunidades do Rio Lui, na África, fabricavam.

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Curiosidades sobre
o nome Kalunga

Calunga, é um elemento sagrado dos Candomblés e do


Maracatu de Pernambuco, no Brasil.
Deu origem e passou a ser a figura central nos cortejos do
Maracatu. É uma boneca de madeira, ricamente vestida e
que simboliza uma entidade ou rainha já morta. Sem ela o
Maracatu não sai.
Calunga seria a Lunga ou malunga, que é plural em
quimbundo da palavra "lunga".
A tradição foi trazida de Angola para o nordeste brasileiro
pelos africanos escravizados.

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Curiosidades sobre
o nome Kalunga

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Curiosidades sobre
o nome Kalunga

Outra versão define Kalunga como divindades do culto banto.


Nzambi, a quem também chamam Ndala Karitanga (Deus
criador de si próprio), Nzambi ia Kalunga (Deus Supremo e
Infinito) e Nzambi Ampungu (Deus Poderoso), depois de ter
criado o Mundo e tudo quanto nele existe, criou uma mulher
para que fosse sua esposa.
Disse a sua esposa que ela ia chamar-se Ná Kalunga, em
virtude da filha que iria dar a luz, que se chamaria Kalunga.

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Curiosidades sobre
o nome Kalunga

No dialeto Kikongo, Kalunga significa "limiar entre dois


mundos", ou “Grande Mar”, para os africanos que foram
trazidos para a escravidão, esse limiar era o oceano
atlântico. Acreditava-se que a alma viajava para o oeste, em
direção ao por do sol, após a morte. Os escravizados
acreditavam que estavam sendo levados para a Necrópoles e
que a única maneira de voltar para a vida seria atravessar
de volta essa linha entre os mundos.
Além dos significados trazidos da África, para os moradores
do Sítio Histórico, Kalunga significa "lugar sagrado que não
pode pertencer a uma só pessoa ou família" ou "lugar onde
nunca seca, arável, sendo bom para as horas de dificuldade".

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Curiosidades sobre
o nome Kalunga

Existe também uma planta chamada Kalunga, Simaba


ferruginea, que tem várias aplicações medicinais e para a
qual tem se a crença de que cura até a malária, além de
muitas outras enfermidades.
Calunga, escrito com c, pode significar coisa pequena e
insignificante, como o ratinho camundongo que no Nordeste
do Brasil se chama calunga ou então catita.
Kalunga é uma palavra comum entre muitos povos africanos
e foi com eles que ela veio para o Brasil. Era normal por isso
que os africanos fossem chamados assim, calungas. Este era
apenas um outro modo de dizer negros utilizado pelos
colonizadores europeus.

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A Sussa Kalunga
A Sussa é uma das manifestações culturais mais tradicionais do povo
Kalunga, Surgiu no século XIX como homenagem à princesa Isabel, pela
Abolição da Escravatura. Para celebrar a liberdade, os negros dançavam e
cantavam ao som de instrumentos de percussão, feitos por eles mesmos
com árvores do cerrado e couro de gado.
É cantada e tocada pelos músicos foliões. Possui elementos das
chamadas “danças de rodas” e do batuque, com dançarinos ao centro,
sempre acompanhados pelos instrumentos de percussão. Assim como
outros ritmos de origem africana, se caracteriza pela presença de
pandeiros e tambores. Os casais dançam separados, se aproximando e se
afastando de acordo com as batidas da música. Na sequência, as
mulheres entram na roda e dançam como se provocassem os dançarinos,
que sapateiam a espera do chapéu para poderem entrar na roda e
desafiar a próxima.
As mulheres dançam em rodopios cadenciados entre passos que também
as aproximam e as afastam umas das outras, numa atitude de desafio.
Quem rodopia mais rápido e alegremente parece vencer essa “disputa”.
As vestimentas são bem coloridas com saias de chita e lenços na cabeça.
Normalmente dançam descalças.

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As folias kalungas

As festas são a marca registrada dos Kalungas. É assim que


demonstram sua cultura e religiosidade. Do início dos tempos
até os dias de hoje, é nas festas que sentem de verdade o
que é ser Kalunga e experimentam o sentimento de fazer
parte de uma comunidade, de um povo que tem uma história
e uma identidade. Mais do que comemoração religiosa, tais
festas têm um papel social. É o momento em que encontram
familiares e amigos que vivem mais distantes.
Confraternizam-se, conhecem pessoas novas, celebram
casamentos e batizados. Compartilham suas experiências,
trocam informações, negociam suas pequenas produções
domésticas de frutos do cerrado e iguarias, celebram a vida,
a fertilidade, a colheita, a natureza simples das coisas.

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As folias kalungas

Os festejos dos Kalungas são demorados e marcados por um


vasto cardápio de comidas típicas, muita música, dança,
rituais e simbologia. São festas de romarias, com ladainhas,
folias, sussa e forró.
Os Kalungas são em sua maioria católicos, porém com
práticas específicas e distintas da Igreja. E possuem um vasto
calendário de festas, realizadas em todas as localidades, em
diversas épocas do ano: Festa de São João no mês de junho,
Nossa Senhora das Neves, Divino espírito Santo e Nossa
Senhora D´Abadia em agosto no vão de almas, Nossa
Senhora do Livramento e São Gonçalo em setembro no Vão
do Moleque, Nossa Senhora Aparecida em outubro, São
Sebastião em fevereiro, Folia de Reis em janeiro, entre outras.

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Como eram os partos
das crianças Kalungas
Os partos dos Kalungas eram feitos, em sua maioria, por parteiras. O
nascer, para muitos quilombolas, é um evento familiar e coletivo. É
um vasto conhecimento tradicional tido como “dádiva divina”, que se
traduz no uso de plantas medicinais e benzimentos. Passado por
gerações, o trabalho das parteiras representa a continuidade dos
ensinamentos dos ancestrais. As mulheres que atuam nos cuidados e
nos atendimentos às grávidas são vistas como lideranças pelos
Kalungas, tratadas como membros das famílias das mulheres a quem
prestam auxílio.
As parteiras tinham o orgulho em ajudar a dar à luz as crianças
Kalungas, as quais consideravam seus “meio filhos”. A última parteira
da comunidade do Engenho II, dona Joana Cezário de Torres, faleceu
recentemente com bem mais de cem anos e foi responsável pelo
nascimento de 70% dos moradores do povoado no século passado.
Ela contabilizava mais de duzentos “meio filhos”.

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Formas de subsistência
do povo Kalunga
Os primeiros quilombolas que chegaram às terras que hoje formam o território
Kalunga, tiveram que aprender a sobreviver na região para poderem continuar
livres. Para garantir o alimento, passaram a observar e a reconhecer o tempo
das chuvas, a natureza da terra e sua aptidão, os ciclos da lua, os usos
medicinais das plantas e os sinais da seca. Tudo isso era necessário para saber
regular o plantio das roças, por exemplo. Aprenderam a caçar para quando
faltasse a carne do gado que eles mantinham nos pastos e das galinhas criadas
na beira das casas. Essa adaptação deu origem a uma cultura de envolvimento
e preservação do meio ambiente. Atualmente, 93% do território Kalunga ainda
continua intacto.
Vivem até hoje da agricultura familiar, fazendo “roça de toco”, forma de manejo
agrícola que preserva o meio ambiente, do escambo e do comércio de farinha.
Com este dinheiro compram roupa, sal e óleo na cidade. A venda de gado é
outro negócio existente, mas é feito por poucos. A venda de carne acontece
dentro da comunidade, nas festas ou sob encomenda. As mulheres também
fazem cobertores de algodão para vender. Vendem também para fora produtos
como tapiti, peneiras, óleo de castanhas, artesanato, bruacas e frutas.

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Sítio Histórico e Patrimônio Cultural
Kalunga
O Quilombo Kalunga, formado há mais de 300 anos, foi constituído Sítio Histórico e
Patrimônio Cultural através de leis e decretos do Estado de Goiás entre os anos de 1.985 e
1.997, reconhecido como remanescente de quilombos pela Fundação Palmares em 2.000,
teve seu território reconhecido por um decreto presidencial em 2009, ocupa 261.999
hectares e abriga cerca de dez mil afrodescendentes. São vários núcleos de população nos
municípios de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás: Vão de Almas, Vão do Moleque,
Prata, Diadema, Riachão, Ema, Contenda, Limoeiro, Tinguizal, Ribeirão de Bois, etc.
O principal povoado é a comunidade do Engenho II, localizada no município de Cavalcante, a
27 km do centro da cidade. Possui belíssimas cachoeiras como a Santa Bárbara, a cerca de 6
Km do povoado, considerada o cartão postal de Cavalcante. Além da Santa Bárbara, o
Engenho II ainda possui dois outros atrativos de grande porte e com diferentes
características: a cachoeira Capivara, a pouco mais de 1 Km do povoado, e a Candaru, a
cerca de 4 Km da comunidade, com uma queda d'água de 70 metros de altura.
O Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga é uma área protegida e 90% de seu território
continua intacto. Nas Vastas regiões de difícil acesso do vão de almas e do vão do moleque é
que se pode perceber a imensidão da área preservada pelos kalungas, que também
mantiveram sua cultura e seus costumes preservados. No entanto o território e seu povo é
alvo constante de grileiros, garimpeiros, madeireiros e outros que tentam explorar
ilegalmente as riquezas do Sítio Histórico.

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Resgate da História Kalunga

Pesquisa e texto e diagramação final: André Praude, Fotos dos Kalungas: Ion David
O texto final foi construído de forma participativa com a Comunidade Kalunga que contribuiu com
diversos detalhes que possibilitaram enriquecer e validar as informações.
Referências Bibliográficas:
BAIOCCHI, Mari de Nazaré. Kalunga, Povo da terra. Editora UFG, 2006.
BAIOCCHI, Mari de Nazaré. Kalunga - A Sagrada Terra. Editora UFG, 1996.
UNGARELLI, Daniella Buchmann. A comunidade quilombola kalunga do Engenho II: cultura, produção
de alimentos e ecologia de saberes. 2009. 92 f., il. Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento
Sustentável - UNB, 2009.
OLIVEIRA, R. Uma história do povo kalunga. Brasília, DF: MEC; Secretaria
de Educação Fundamental, 2001.
Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Comissão de Legislação Participativa. Parteiras
Tradicionais: mães da pátria. — Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2008.
66 p. — (Série ação parlamentar; n. 350). Audiência Pública realizada pela Comissão de Legislação
Participativa no dia 31 de maio de 2006, para debater o Projeto de Lei nº 2.354, de 2003.
http://educacaoquilombolaeadiversidade.blogspot.com/2010/03/mas-por-que-eles-se-chamam-kalung
a.html
https://slavevoyages.org/

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