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MACROECONOMIA

Trabalho independente,
reforma independente
José Roberto Afonso
Pesquisador da FGV IBRE e professor do mestrado do IDP

É dito no exterior há tempos que o resto do mundo às vezes nos analisa, office) e a economia compartilhada
Brasil virou um ponto fora da curva nos quantifica e nos qualifica. (bem simbolizada pelo Uber). Virá
dos debates e das tendências mun- É essencial debater que trabalho muito mais.
diais, mas, recentemente, passou a não mais significa necessariamente Agora, estudos acadêmicos e
ficar até fora do gráfico. Este atraso emprego. Cada vez mais surgirão pesquisas internacionais apontam
fica ainda mais acentuado em torno oportunidades e mesmo postos de o trabalho independente como uma
da discussão da revolução 4.0 e seus trabalho a serem exercidos e ocupa- das novas tendências da revolução
reflexos para instituições, economia dos por trabalhadores que, embora econômica e social em curso, im-
e sociedade. São ralos, ou até ine- existam formalmente, não possui- pulsionada pelas novas tecnologias
xistentes, os debates em nosso país, rão a carteira assinada. Já é uma de informação e comunicação. Es-
do governo à academia. Ao menos o realidade o trabalho em casa (home tas abrirão novas oportunidades

Principais preocupações sobre a indústria: comparação mundial


mudança da natureza do trabalho, flexibilidade do trabalho
Mudança da natureza do trabalho, flexibilidade do trabalho

60%

52%
50%
47% 46% 45%
43% 42% 42% 42%
38% 38%
34% 33% 33%

23%
França

Austrália

Japão

Turquia

Itália

Inglaterra

Índia

Brasil

México

Sudeste Asiático

EUA

África do Sul

China

Conselho de Cooperação
do Golfo

Alemanha

Média

Fonte: Fórum Econômico Mundial (2016). Disponível em: http://bit.ly/1nf6lYI.Elaboração própria.

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de trabalho, que venham a exigir para lidar com ocupações que ain- Tais conceitos e contextos diferem
uma maior qualificação técnica, de- da venham a ser criadas pelas novas do que se convencionou recentemen-
vem ser mais desempenhadas como tecnologias, cuja inovação e mobi- te chamar no Brasil de terceirização
projetos ao invés de atividades lidade não demandam empregados e de pejotização. Não é só uma di-
contínuas de empregos. Os traba- fixos. É um cenário terrível para o ferença linguística. As expressões
lhadores, cada vez mais, irão firmar emprego: os que tendem a ficar imu- locais são infelizes, confundem entre
contratos para empreitadas específi- nes ao desemprego, por outro lado, si, e não ajudam a compreensão das
cas no lugar da tradicional assinatu- não deverão ter emprego tradicional. novas tendências.
ra da carteira profissional. Não devem se tornar informais e ile- A nova dinâmica de trabalho,
Dois são os grandes fenômenos gais se leis e políticas públicas bem irá muito além da “terceirização”
esperados da revolução já em curso. regularem o trabalho sem carteira. porque esta contempla que o tra-
Em primeiro lugar, haverá desem- Esse trabalho independente tem balhador seja formalmente empre-
prego maciço provocado pela auto- sido qualificado como gig economy gado por um terceiro, no lugar do
mação, o que já atrai muita atenção na literatura internacional. Tra- próprio demandante daquele tra-
e preocupação há algum tempo no balhos como o da Intuit Research balho. Mas as novas funções não
exterior. Tido como inevitável, se (2010)1 demonstram que até 2020 resultaram em carteira assinada,
discutem cada vez mais paliativos – a gig economy compreenderá 40% nem mesmo indiretamente.
simbólica a proposta do imposto so- dos trabalhadores americanos. Não Já “pejotização” é expressão
bre robôs. Em segundo lugar, menos há tradução para o português – até só usada no Brasil e mal colocada.
comentados, também são esperados porque falta maior reflexão sobre Pressupõe que foi decisão exclusiva
arranjos mais flexíveis de trabalho esses fenômenos.2 do trabalhador optar por se trans-

Principais preocupações sobre a indústria: Brasil

45%

42%

27% 27%

24%

21%

18%

12%

Classe média Mudança da Poder de Novos suprimentos Internet Mudanças Economia Ética do
em mercados natureza do trabalho, processamento, de tecnologias móvel, nuvem climáticas, compartilhada, consumidor,questões
emergentes trabalho flexível big data e de energia (tecnologia) recursos naturais crowdsourcing de privacidade

Fonte: Fórum Econômico Mundial (2016). Disponível em: http://bit.ly/1nf6lYI. Elaboração própria.

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formar em uma firma individual, ção industrial, foi divulgada uma soas físicas em jurídicas acentue-se
como se fosse ele um grande maso- projeção das principais tendências ainda mais. O trabalho independen-
quista que abrisse mão de ser remu- a afetarem as maiores economias.3 te e crescente, por princípio, antes
nerado como salário, e não quisesse Na avaliação da necessidade de de tudo, tenderia a ser exercido por
receber férias e gratificação, décimo mudanças de natureza do traba- trabalhadores autônomos. Mas,
terceiro, proteção em caso de doença lho, os 42% brasileiros ficaram na como no Brasil, o contratante con-
e aposentadoria, fora outros direi- média mundial – mas exigindo um tribui para Previdência Social com
tos. É premente se reconhecer que é esforço maior do que precisará ser uma alíquota igual e incidente sobre
o empregador que contorna um dos realizado por China, Estados Uni- o valor total da remuneração, tanto
custos mais caros no mundo para se dos e Alemanha. Também chama quanto no caso de um empregado
empregar formalmente, sobretudo a atenção que o trabalho flexível de carteira assinada, a tendência
aquele de alto salário. Tal encareci- deverá requer atenção no país mui- é que se opte pela outra solução
mento decorre de uma Previdência to maior que em outros requisitos, muito mais barata (menos 20%) de
Social que se tornou demasiado ge- como poder de processamento e contratar o mesmo trabalho de uma
nerosa ou custosa para a realidade novos suprimentos de tecnologia pessoa jurídica.
de nossa economia, de modo que se (27%), internet móvel (24%), mu- A gig economy no Brasil acentuará
está preso numa terrível armadilha: danças climáticas (21%), economia ainda mais a peculiar transformação
sem uma reforma que reduza o défi- compartilhada (18%) e ética do de pessoa física em jurídica. Se nas-
cit, não há como diminuir os encar- consumidor (12%). Por mais sub- ceu como reações dos empregadores
gos patronais, mas eles são driblados jetivas que sejam tais medidas, si- à carga tributária excessiva sobre o
e evitados pelo mercado ao contratar nalizam que o Brasil está um pouco emprego, novas razões para sua con-
cada vez mais firmas de quem pode- mais preparado em termos tecnoló- solidação e expansão virão das novas
ria lhe servir com emprego formal. gicos do que institucionais para os tecnologias e relações de negócio.
Na recente reunião do Fórum desafios da nova economia. Ora, é possível que seja esse um fenô-
Econômico Mundial, que há anos Neste contexto, espera-se que o meno brasileiro sem muito paralelo
prioriza estudar a quarta revolu- processo de transformação de pes- no resto do mundo, no que se refere à
extensão (número de firmas) e diver-
sificação (de atividades e de rendas).
A análise comparativa de esta-
Quantidade de contribuintes do INSS
tísticas fiscais nacionais e internacio-
var. % média ao ano (2013-1996)
nais, como as do imposto de renda,
7,6% ficam prejudicadas pelo fato de que
os ganhos apurados por firmas indi-
5,7% viduais ou pequenas e médias empre-
Var. % média ao ano

sas, sejam tributados na pessoa física


nos Estados Unidos e na Europa, de
modo que o IRPJ deles compreenda
1,9% apenas àquele recolhido pelas cor-
porações – mais próximo ao nosso
regime do lucro real. Isto também
exige ressalvar comparações do IRPF
-0,9%
porque talvez o brasileiro devesse ser
Até 3SM 3SM a 7SM Acima de 7SM Total acrescido do IRPJ recolhido nos re-
Faixa de salário mínimo gimes simplificado e presumido, por-
que nos outros países seus lucros são
Fonte: Dataprev. Elaboração própria. levados à tabela da pessoa física.

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Particiação de declarantes do IRPF por natureza de ocupação


Em % do total - DIRPF 2017 (ano calendário 2016)

22,9%
22,0%

Setor público não financeiro (A + B)

Empregados (C)

7,9% Capitalista e proprietário de empresa (D)

Conta própria e bolsista (E)

Demais (F + G + H + I)
29,2%

18,0%

Número de declarantes do IRPF: 28.003.647

Fonte: RFB. Elaboração própria

A evolução a longo prazo da de- O maior erro das autoridades Não há como repensar a tributa-
composição dos contribuintes para governamentais será continuar a ção dos salários sem rever, ao mes-
Previdência Social evidencia a rápida tratar como caso de polícia o que mo tempo e de forma equilibrada, a
e intensa destruição dos empregos deve ser de política. Diante da tributação doméstica sobre serviços
formais de quem ganha acima do nova revolução, não se pode reagir e rendas, tanto individuais quanto
teto da contribuição previdenciária como os índios que atiraram fle- empresariais. Não se precisa só re-
– casos em que o empregador contri- chas às locomotivas que passaram formar a Previdência e a tributação,
bui sobre valor total do salário, ain- a rasgar suas terras no Oeste ame- mas será inevitável construir um
da que o empregado só pague e re- ricano. Diagnosticar e traçar um novo pacto social.
ceba até o teto. É visível a diferença plano estratégico para lidar com
entre o setor público (governos mais a gig economy é uma premência.
empresas estatais) e o privado. A começar pela própria Previdên-
A publicação da consolidação das cia e sua reforma que não deveria
1
Intuit Research – Intuit 2020 Report: twenty
declarações do IRPF do ano-base de ignorar essa tendência, inclusive
trends that will shape the next decade (2010).
2016 comprova uma comparação porque torna mais imperiosa essa Disponível em: http://intuit.me/2kMQtMd.
inusitada: de um total de 28 milhões mudança, mas exigirá diagnóstico 2
Para mais detalhes ver: McKinsey & Co. – Jobs
de declarantes, 29,2% se declararam e soluções mais inteligentes, com- lost, jobs gained: workforce transitions in a
time of automation (2017). Disponível em:
empregados de empresas privadas plexas e trabalhosas. Será preciso https://goo.gl/JNqgJS; Folha de São Paulo –
contra 25,9% ditos capitalistas, pro- repensar toda a tributação dos sa- Automação vai mudar a carreira de 16 milhões
prietários de empresa e trabalhado- lários e, ao mesmo tempo, revisitar de brasileiros até 2030 (2018). Disponível em:
https://goo.gl/FuVczp.
res por conta própria. Em que outro a forma como se taxa lucro e ga- 3
Fórum Econômico Mundial – The future
lugar do mundo se tem 1,1 proletá- nho das empresas e dos indivíduos, of jobs (2016). Disponível em: http://bit.
rio para cada 1 capitalista? e talvez até seu faturamento. ly/1nf6lYI.

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