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INTEGRATIVAS
KAMILA RIBEIRO AZEVEDO
BELO HORIZONTE
2019
KAMILA RIBEIRO AZEVEDO
Belo Horizonte
Março de 2019
Entrego, confio, aceito e agradeço
- Professor Hermógenes
Agradecimentos
Justificativa ................................................................................................................................ 9
Apresentação .......................................................................................................................... 10
Considerações finais............................................................................................................. 33
Referencias .............................................................................................................................. 35
Introdução
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entendimento da necessidade de pensarmos o a importância do feminismo
negro no contexto brasileiro.
Por outro lado, os conhecimentos da filosofia milenar yoga nos leva ao caminho
do autoconhecimento. A renomada professora de yoga e escritora Ailla
Pacheco, oxigena nossas ideias a cerca da “definição” de Yoga.
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Referencial teórico
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compreendam “O mais importante em meus livros é a substância e não quem
sou eu”( HOOKS, 2009). hooks, dialoga com as mulheres negras e propõem de
uma rede de apoio, para uma cuidar da outra, atenta sobre a saúde das
mulheres negra bell hook escreve:
Por fim, a teoria filosófica do yoga conecta com as demandas das mulheres
negras, no sentido de proporcionar o autoconhecimento para transpor as
barreiras das dores de serem violentadas. por simplesmente serem mulheres
negras. O livro da escritora e professora internacional de yoga, Ailla Pacheco,
foi a base para unir as demandas das mulheres negras, em trabalho de parto
com as praticas de yoga. “A cura só pode acontecer de dentro para
fora”(PACHECO, 2018), e esse é o caminho do yoga, curar de dentro para fora.
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Justificativa
Referencial teórico
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feminista negra , coloca em prática em sua tese , a concepção (PRESTES,
Clélia Rosane dos Santos, 2018).
Apresentação
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estereótipos da maioria das mulheres de classe média, essa percepção me fez
refletir sobre minha subjetividade e pouco a pouco entender meu processo de
estar entre lugares.
Já nos espaços tidos como subalternos sou vista como “diferenciada” por ter
acessado um curso superior, ou seja, o acesso à educação ainda é uma
realidade que distancia as pessoas, infelizmente ainda há uma cisão dos
conhecimentos, de um lado o conhecimento científico, e de outro o
conhecimento tradicional, como as curandeiras, benzedeiras. Nenhum
conhecimento pode excluir o outro, mas sim unir. Deste então não parei mais
de procurar meios para me curar e curar os meus pares.
A formação em Doula abriu meu olhar para uma demanda das mulheres, que
pouco se fala, o parto. Cresci ouvindo que parir é terrivelmente, que ao nascer
eu de certa forma causei sofrimento à minha mãe... Somente depois de passar
pela experiência do parto foi possível perceber que a dor do parto não é a dor
da morte e sim a dor da vida, parir é renascer. Entretanto, em meu parto tive
todo apoio, amor, cuidado e respeito. Pressuponho que os relatos sobre as
dores, medos, angustias, aflições que toda a vida eu ouvi sobre o trabalho de
parto foi a dor do abandono, da violência que deixaram marcas nas entranhas
das mulheres guerreiras que infelizmente foram submetidas à tamanha
crueldade.
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A dinâmica do Feminismo Negro
A filósofa Djamila Ribeiro, em seu livro “Quem tem medo do feminismo negro?”,
consistente e muito reflexivo, convida aos leitores a refletirem sobre a
importância de pensar sobre as especificidades das mulheres negras, sem
medo de reconhecer os privilégios, e a necessidade de criar espaços para
mulheres negras terem voz e serem ouvidas.
Djamila considera que sua produção intelectual é inseparável da criação de
redes de solidariedade política, neste movimento, a estudiosa sobre o
Feminismo Negro, defende que, “o feminismo negro não é uma luta meramente
identitária, até porque branquitude e masculinidade também são identidade.
Pensar no feminismo negro é pensar projetos democráticos” (RIBEIRO, Djamila
p.07 2008). Ou seja, discutir sobre o feminismo negro é uma maneira
democrática de garantir direitos às mulheres que além de sofrerem com o
machismo, sofrem com racismo velado ou explicito.
O feminismo negro de maneira geral questiona as especificidades das
mulheres Negras, neste sentido a Filosofa Djamila deixa evidente que, o
silenciamento da mulher negra é algo que tira a condição da mulher negra de
viver plenamente, o silenciamento das negras as matam, ou deixa sequelas
para o resto de suas vidas.
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Sendo assim, é necessário pensarmos sobre importância da fala e escuta das
Mulheres Negras, sobretudo, na área da saúde. Um lugar que em hipótese
alguma deve fazer tratamentos diferenciados entre pessoas, ou seja, todos
devem ser atendidos de maneira digna e respeitosa, sem distinção de raça,
crenças, gênero ou cor.
Na tese sobre saúde das mulheres negras, a doutora Cléria Rosane diz que
saúde para mulheres negras é “Minimamente, ter uma condição que
transcenda sobreviver e garanta direitos e bem viver” (ROSANE, CLÉRIA P.
62). Dito de outra forma, as mulheres negras são tratadas como “fortes” a
ponto de deixarem-nas sofrerem sem um tratamento adequado pois “aguentam
mais as dores”, o que é uma inverdade, pois negras são tão ser humanos
quanto mulheres brancas.
“Sou grata por poder ser uma testemunha, declarando que podemos
criar uma teoria feminista, uma prática feminista, uma movimento
feminista revolucionário capaz de se dirigir diretamente à dor que está
dentro das pessoas e oferecer-lhes palavras de cura, estratégias de
cura, uma teoria da cura.”( hooks, 2013, p. 103) .
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de enxergá-lo como supracitado “o corpo que aguenta dor” e o corpo para
servir, o corpo sexual, essa dinâmica animaliza a mulher negra.
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negras se movimentando para expor o racismo institucional. Como O Instituto
de Mulheres Negras- Geledés, que produz sobre os processos do racismo
institucional:
Dito de outro modo, o protagonismo que deve ser da Mulher passa a ser de
alguns profissionais que se colocam em uma posição vertical, ou seja, a
mulheres em trabalho de parto são tratadas como mulheres em estado de
vulnerabilidade, em estado quase de decadência, fazendo-as desacreditarem
de seu próprio corpo e fisiologia. A mulher em trabalho de parto é Divina, ela
sabe o que seu corpo precisa, a mulher junto com o bebe que também trabalha
para nascer, buscam o melhor caminho para se encontrarem. Por outro lado,
existem profissionais que buscam sensibilizar o olhar, como a médica Adelise
Noal; a mesma defende o protagonismo e autonomia da mulher, apontando
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que no parto humanizado existe o respeito pelo próprio ritmo biológico do
nascimento, portanto, a mulher é protagonista de seu parto, escolhendo a
posição em que deseja ter o filho, como também as pessoas com quem deseja
compartilhar este momento.
A fisiologia nos mostra que, para dar à luz uma mulher precisa manter
a menor taxa de adrenalina possível, e que o neocórtex- a parte do
cérebro mais evoluída, ligada ao pensamento, à linguagem- deve ter
sua atividade reduzida. A mulher precisa de sentir segura, não se
sentir observada.( citação de Noal, p 76. 2015)
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Na hora de dar à luz, entender uma dinâmica nova, em que as
quantidades de esforços só podem ser penetradas por uma visão de
conjunto. Desistir de si, para ser somente um canal, um meio de
escoamento para a nova vida, aceitar a dilatação, interagir com a dor
da contração. E, envolta neste estado, descer às profundezas. Como
suas ancestrais, não importando as características próprias de sua
personalidade, grau social, raça, se comporta como uma fêmea
engajada em sua tarefa mais fundamental. A serviço de trazer à luz o
fruto secreto de suas entranhas, depositária da energia ancestral
formadora da espécie.( NOAL, Adelise p.71).
Esse pensamento também conecta com a filosofia Yoga, pois é uma filosofia
que nos ensina a seguir um caminho genuíno, em busca da libertação e da
conexão profunda com nosso verdadeiro Ser.
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têm vendido, e sim um meio para a mulher obter experiências positivas do
processo de trabalho de parto, ou seja, a humanização do parto é um processo
não um produto. Humaniza como já supracitado, é tornar a assistência ao parto
digna, respeitosa, com cuidados eficientes para mãe e bebê.
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voltadas para o combate ao racismo, como é o caso do Programa de Combate
ao Racismo Institucional, lançado em 2005, projetos tais como esse é estrema
relevância, para amenizar, e extinguir as distinções entre assistência ao branco
e ao negro. Pois a discrepância no atendimento pelo imaginário racista que
acomete o sistema de saúde causa sérios impactos, é o que aponta as
pesquisas sobre o assunto:
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têm consciência que determinado procedimento é desnecessário e violento ,
como por exemplo a manobra de Kristeler( os profissionais empurram a barriga
para o bebe “descer”). Entendemos que a violência obstétrica é um tipo de
violência contra mulher, por esse motivo faz-se necessário evidenciar os
movimentos feministas, que lutam contra todas as formas de opressão
alimentadas pela sociedade patriarcal machista e misógina. Entende-se
violência obstétrica como, manipular e expor de maneira desnecessária o corpo
da mulher, dificultando e tornando desagradável o momento do parto, inclui
condutas como mentir para a paciente quanto a sua saúde condição de saúde
para induzir cesariana eletiva ou de não informar a parturiente sobre sua
situação de saúde e procedimentos necessários. São extensas as formas de
violar o direto da mulher de parir com tranquilidade e dignidade:
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O grito silenciado no momento do parto da mulher negra, e de todas as
mulheres que foram violadas devem servir de exemplos para a extinção dos
dados alarmantes. É necessário fazer ressoar as várias vozes vítimas da
truculência, para que todas as mulheres tenham a oportunidade de vivenciarem
o trabalho de parto em sua plenitude Divina, pois é um dos momentos mais
sublimes da vida da mulher que escolhe parir.
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Em trabalho de parto a dor é quase inevitável, porém, não é a dor da
aniquilação, é a dor da vida, do nascimento e renascimento. É ideal as
mulheres acreditarem em seus próprios corpos, embora muitas dores em
trabalho de parto perpassam pela violência, não somente a dor natural do
processo e sim a dor da violação do corpo físico e mental. A informação
adequada é muito importante para parturiente, pois a mesma conhecerá seus
direitos, a fisiologia de seu corpo, o seu tempo, e a evolução daquele processo,
pois munir de informação é uma forma de empoderamento. Sendo assim, a
parturiente vivenciará um trabalho de parto mais fluido, leve, amoroso. Como
proferiu Michel Odente “Para mudar o mundo é preciso mudar a forma de
nascer”, ou seja, precisamos cuidar desde o nascimento os cidadãos.
Oferecendo acolhimento, amor, bondade, paz, e toda a manifestação de Deus.
Fisiologia do parto
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Sendo assim, quando o trabalho de parto inicia, o corpo começa a produzir
hormônios, na qual são secretados no colo do útero, o colo começa a ceder e a
dilatar-se até desaparecer completamente para que o bebê nasça. O colo do
útero vai amolecendo, abrindo-se, cedendo, na medida em que trabalho de
parto avança, até o momento em que o colo do útero apaga. O motivo pelo
qual acontece o apagamento do colo são as contrações contínuas que agem
de duas formas: puxando as comissuras do colo, fazendo-o se abrir, enquanto
o fundo do útero contraído empurra o bebê para baixo. Portanto, a cada
contração, o bebê se apoia com mais força no colo do útero, assim o colo do
útero vai progressivamente se abrindo.
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sobrevivência. O estresse em excesso é que é o grande problema.
Quando estamos com medo, a resposta natural do corpo é liberar
uma onda de adrenalina e cortisol. No entanto, muita adrenalina e
cortisol são prejudiciais para a saúde física e mental de uma pessoa,
que pode vivenciar sintomas similares aos de uma ataque de pânico,
como aceleração do pulso ou dos batimentos cardíacos, respiração
curta e tontura. (Pacheco, 2018)
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Deste modo, adentrar no trabalho de parto com gratidão, leveza concentração,
respiração é adentrar no Yoga, é buscar o Samadhi, a iluminação
transcendental de nascer e renascer. Todas a mulheres que escolhem parir
merece passar por esse momento em plenitude Divina.
Assim como é a vida, o parto é cíclico, na qual cada momento tem sua
especificidade e beleza, pensando assim, elevamos nossa consciência para
viver cada momento em plenitude e satisfação, superando e reinventando em
cada processo. Como o yoga nos ensina, a aprender com os erros e evoluir.
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Os pródromos são o inicio do trabalho de parto. Sua característica é a
presença de contrações irregulares do útero. Um desconfortozinho
que vem e vai, às vezes para, depois vem mais forte, depois para
novamente.. Os pródromos podem durar bastante tempo, até dias.
Em alguns relatos as mulheres sentem contrações todos os dias em
um determinado horário, depois elas cessam, e isso durante até
algumas semanas, antes de realmente entrar em trabalho de parto (
CASTELO, 2014)
Ailla Pacheco cita Patanjali, para explicar os cinco yamas: “yama é a não
agressão[ahimsa], a autenticidade[satya], o não roubar [asteya], a prática de
uma vida espiritual regrada[brahmacarya] e o não cobiçar [aparigraha] (
Patañjali, sutras II:30 apud Barbosa, 2015). Ou seja, são éticas pilares do yoga.
Sugere para que entre na próxima fase do trabalho de parto amenizar a
ansiedade(uma forma de não agressão), ter fé e viver com atenção plena.
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Após os pródromos, inicia-se a fase latente, que geralmente manifesta da
seguinte forma:
Neste momento (fase latente) o Niyamas(a relação com o eu), o segundo añga
se encaixa perfeitamente , tendo em vista que o “Niyama está relacionado á
vivência do indivíduo consigo mesmo, às observâncias internas e à sua
disciplina para viver o Yoga como um experiência de autoreeducação”(
PACHECO, 2018). Professora Ailla cita:
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Niyama é a limpeza[sáuca], o contentamento[santosa], o
sacrifício[tapas], busca do saber interior[svadhyaya] e entrega ao
Içavara[isvara pranidhana]. (Patañjali, sutra II:32 apud Barbosa.2015)
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com a parte mais densa do organismo, exigem presença,
disciplina, foco e concentração em um objeto que, neste caso,
é o corpo. (PACHECO 2018).
Após a fase ativa é possível perceber a transição entre a fase ativa e fase
expulsiva, a fase de transição é um momento muito interessante do parto. Ela
dura relativamente pouco tempo, a Doula Mariana escreve sobre o termo
Partolândia:
Por causa dos níveis de ocitocina, que vão subindo junto com a
intensidade das contrações, e nessa hora já estão bem
elevados, a mulher começa a entrar em um estado de transe,
similar ao que acontece durante uma excitação sexual. Esse
estado é chamado de partolândia. (CASTELO, 2014).
Na partolandia a mulher se vira para dentro de si mesma, olha para sua alma.
Parece que a parturiente passa a não ouvir nada, a mesma fala algumas frases
desconexas. Exatamente na partolandia a mulher experimenta o pratyahara, o
quinto añga, que é abstração dos sentidos. “Quando o yogi conquista essa
prática, ele fica livre de qualquer instabilidade emocional. Isso ocorre de forma
que o mundo externo e os sentidos não sejam mais capazes de distraí-lo ou
tirar-lhe o equilíbrio” (PACHECO 2018). É evidente em muitos processos:
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essência animal que ela vai tirar a força necessária para fazê-
lo. A parte consciente da mulher ressurge apenas em poucos
instantes, onde ela duvida de si mesma, diz que não vai
conseguir, pede anestesia, pede cesariana. Esse é um sinal: é
chamado de "hora da covardia" e indica que o trabalho de parto
está chegando ao fim. Nessa hora, é necessário reforçar a
crença da mulher em sua capacidade de parir, e confiar nela.
(CASTELO, 2014)
Quando o bebê nasce o milagre é consolidado! A dor que existia não existe
mais, e o ser mais amado deve ir direto para os braços da mulher parida.
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Esse grande momento, transcendental, podemos comparar ao oitavo añga
Samadhi, iluminação. “Pode-se traduzir samadhi como ‘consciência perfeita’,
‘consciencia completa’, ou mesmo ‘estado de iluminação’ (PACHECO, 2018).
Parir é entrar em contato direto com o Divino, assim como entrar em estado de
Samadhi.
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•A respiração e a confiança se combinam para criar uma experiência de
nascimento estática e maravilhosa.
•O parto é seguro e natural.
•Cada onda, ritmo e movimento do meu corpo me leva para mais perto do
nascimento do meu bebê.
•Meu bebê sabe como e quando nascer.
•A cabeça do meu bebê se encaixa do interior de minha pélvis perfeitamente.
•As minhas ondas de contração uterina estão massageando e abraçando meu
bebê.
•Meu bebê vai descendo suave e facilmente.
•Meu corpo se amolece e se abre facilmente à medida que meu bebê desce.
•Confio em meu corpo.
•Meu corpo sabe como parir.
•Tenho muita força e energia.
•Eu consigo.
•Eu estou me entregando.
•Eu me entrego ao milagre que acontece em meu corpo.
•Eu posso respirar e transformar esta energia em prazer.
•Minha vagina e meu períneo se expandem e se abrem como uma flor para
deixar meu bebê nascer.
•A ajuda está lá se precisarmos – estamos seguros.
•Gosto de pensar que você vem de mim, pensar em segurá-lo em meus
braços, pensar em olhar em seus olhos.
•Eu amo você.
Considerações finais
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Referencias
LEAL, Maria do Carmo et al. A cor da dor: iniquidades raciais na atenção pré-
natal e ao parto no Brasil. Cad, Saúde Pública. 2017.
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LOLI, Jesica et al Fisiologia do parto. Texto apresentado em apostilada para
formação de Doulas. 2017
RIBEIRO, Djamila Quem tem medo do feminismo negro? ed. Companhia das
Letras, 2018.
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