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CLÍNICA AILLA PACHECO: NÚCLEO DE YOGA E TERAPIAS

INTEGRATIVAS
KAMILA RIBEIRO AZEVEDO

YOGA: UMA EXPERIÊNCIA POSITIVA PARA


MULHERES NEGRAS EM TRABALHO DE PARTO

BELO HORIZONTE
2019
KAMILA RIBEIRO AZEVEDO

YOGA: UMA EXPERIÊNCIA POSITIVA PARA


MULHERES NEGRAS EM TRABALHO DE PARTO

“Trabalho apresentado à Clínica Ailla


Pacheco como requisito parcial à obtenção
de certificação como professor de yoga”.
Professor Orientador : Ailla Pacheco

Belo Horizonte
Março de 2019
Entrego, confio, aceito e agradeço
- Professor Hermógenes
Agradecimentos

À minha mãe Rosângela pela inspiração, e por me fazer acreditar na frase “É


difícil, mas não é impossível”.
Às minhas irmãs Elizângela e Priscila por serem presentes e pilares
importantes na minha rede de apoio, cuidando amorosamente da pequena Sol
para eu seguir minha missão.
Aos homens que sutilmente me ensinaram que o amor é a melhor opção, Pai
Elizeu e irmão Júnior( in memoriam).
Ao meu companheiro Tiago por acreditar e apoiar meus sonhos.
À minha filha Sol, que me ensina todos os dias a ser um ser humano melhor.
À mestre Ailla Pacheco, por todos ensinamentos e oportunidade para
realização de meu sonho.
Às mulheres negras que me inspiram a construir um mundo Justo e igualitário.
Sumário
Introdução .................................................................................................................................. 5

Referencial teórico ................................................................................................................... 7

Objetivo geral e específico .................................................................................................... 8

Justificativa ................................................................................................................................ 9

Referencial teórico ................................................................................................................... 9

Apresentação .......................................................................................................................... 10

A dinâmica do Feminismo Negro ....................................................................................... 12

A conexão da humanização ao Parto com o Yoga ........................................................ 15

O medo da dor - A dor do medo ......................................................................................... 19

Fisiologia do parto ................................................................................................................. 23

Fases do trabalho de parto e os Añgas do Yoga........................................................... 26

Afirmações para o parto ....................................................................................................... 32

Considerações finais............................................................................................................. 33

Referencias .............................................................................................................................. 35
Introdução

Este presente trabalho vai de encontro ao pensamento da médica Adelise Noal,


que enxerga o parto como algo sagrado “Parto não é partida, parto é chegada”,
é chegada de seres potencialmente iluminados, é um momento repleto de
símbolos e significados. Vivenciar o parto deve ser transcendental, assim como
a plenitude da natureza. Portanto, todas as mulheres sem distinção de cor,
classe social, crença, etc, merecem passar pela experiência de parto de
maneira positiva, amorosa, respeitosa, selvagem, para chegada do novo ser de
luz na terra.

Infelizmente, não são todas mulheres que têm a oportunidade de viver


plenamente o trabalho de parto. A violência obstétrica é uma triste realidade no
cenário brasileiro, de acordo com os dados da Fundação Perseu Abramo, uma
em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência durante o parto, como
gritos, silenciamento, procedimentos dolorosos não autorizados ou não
informados, ausência de anestesia e negligência. Com as mulheres negras a
incidência da violência é mais presente. Mulheres negras são as que mais
morrem por complicações no parto. Em 2014 o Ministério da Saúde lançou a
campanha “SUS sem racismo”, na qual foram divulgados dados alarmantes:
60% das vítimas de mortalidade materna no Brasil são negras; somente 27%
das mulheres negras tiveram acompanhamento durante o parto, enquanto as
mulheres brancas esse número chega aos 46,2%.

Na perspectiva de colocar as mulheres negras como protagonistas do seu


próprio corpo e consequente do seu próprio parto, buscamos amparo no
feminismo negro e conhecimentos da yoga, delineando possibilidades para que
as mulheres que mais precisam de acolhimento, se reconheçam como
autônomas de seus corpos, sentimentos e emoções. O feminismo negro traz o
conhecimento das especificidades das mulheres negras, e uma visão de
evidenciar a mulher para valorizá-la, como todo ser humano deve ser
valorizado e reconhecido nas suas especificidades. Djamila Ribeiro admira os
escopos do feminismo negro, neste sentido a pensadora nos auxilia no

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entendimento da necessidade de pensarmos o a importância do feminismo
negro no contexto brasileiro.

Por outro lado, os conhecimentos da filosofia milenar yoga nos leva ao caminho
do autoconhecimento. A renomada professora de yoga e escritora Ailla
Pacheco, oxigena nossas ideias a cerca da “definição” de Yoga.

“Yoga é uma filosofia de vida que se desenvolveu na Índia, ao longo


dos últimos 4 mil anos, e uma prática que visa à identificação do ser
humano com sua própria natureza(microcosmo) e à sua integração
com o universo (macrocosmo). Serve como instrumento para que o
indivíduo se autoconheça e possa alcançar a consciência do estado
de iluminação(samadhi) e, assim trilhar seu caminho em direção à
libertação( moksha) e ao isolamento (kaivalyam), que pode ser
compreendido como independência”. (PACHECO, Ailla 2018)

Portanto, é legítimo relacionar o feminismo negro com o yoga em busca de um


parto positivo, respeitoso e sagrado, pois tanto o feminismo negro, quanto o
yoga pensam na particularidade e capacidade de cada ser humano. O que é
primordial em um trabalho de parto. A mulher tem o direito de se expressar e
ter liberdade de transcender ao dar a Luz. Pedro Kupfer profere muito bem a
dimensão que o yoga deve ter em nossa sociedade, na qual não podemos
negar a existência do racismo, machismo e capitalismo exacerbado, nos
levando cada vez mais distante de nós mesmos, da nossa própria verdade.
Subjugando um ao outro pela condição social, racial e gênero.

“Yoga é para todos. Não apenas para pessoas sadias ou doentes,


jovens ou velhas. É para seres humanos, e não consiste em substituir
o sistema de valores ou mitologias do mundo ocidental por outro
exótico, não é escapismo ou uma resposta desesperada ao vazio que
a sociedade oferece.”(KUPFER, Pedro [S.d]).

Em suma, a luz do feminismo negro nos leva à reflexão e as práticas yóguicas


nos acolhe para a busca do autoconhecimento, para a cura de nós mesmo, e
consequentemente do mundo carente de amor e empatia.

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Referencial teórico

O embasamento teórico, se fundamenta nos pensamentos do feminismo negro


no qual, luta pela a vida das mulheres. O livro quem tem medo do feminismo
negro da Filósofa Djamila Ribeiro, resignifica nosso olhar para a demanda das
mulheres negras e a necessidade das mulheres negras serem ouvidas, serem
respeitadas. Neste livro Djamila disserta sobre as ondas do feminismo, e cita a
importância deste movimento para a vida das mulheres. A pensadora destaca
também a necessidade de buscar o conhecimento de maneira autônoma, pois
tinha “vergonha” de falar na sala de aula, anos depois ela percebeu que tinha
era medo da turma majoritariamente branca que compunha a turma. Portanto,
Djamila traz a reflexão sobre os lugares de privilégios “Ao perder o medo do
feminismo negro, as pessoas privilegiadas perceberão que nossa luta é
essencial e urgente, pois enquanto nós, mulheres negras, seguirmos sendo
alvo de constantes ataques, a humanidade toda corre perigo( Djamila 2018)”.

Na mesma linha de pensamento, pesquisadora Clélia Rosane, defende a tese


de que a promoção da saúde de mulheres negras, pela perspectiva dos direitos
humanos e do feminismo negro, requer o entendimento da interseccionalidade
como metodologia para o bem viver das mulheres negras. A autora expande o
conceito de interseccionalidade e a noção de bem viver , sendo assim, a noção
de saúde é considerada de maneira holística, ou seja, a “interseccionalidade
orienta para uma estratégia de promoção da saúde formada por encruzilhada
onde se conectam diferentes fontes de conhecimento(como o campo científico,
o campo do movimento negro e das mulheres negras, entre outros), com
especial considerações pelas experiências pessoais e coletivas. Assim, a
intelectual feminista negra, coloca em prática em sua tese, a concepção de
entender e falar sobre as especificidades das mulheres negras em contexto
brasileiro. (PRESTES, Clélia Rosane dos Santos, 2018).

Outras importante intelectual do feminismo negro é a renomada bell hooks,


norte-americana, que assina seu nome em letra minúscula, pois não quer ser
somente “nome”, mas sim que as pessoas leiam suas obras e as

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compreendam “O mais importante em meus livros é a substância e não quem
sou eu”( HOOKS, 2009). hooks, dialoga com as mulheres negras e propõem de
uma rede de apoio, para uma cuidar da outra, atenta sobre a saúde das
mulheres negra bell hook escreve:

O sistema escravocrata e as divisões raciais criaram condições muito


difíceis para que os negros nutrissem seu crescimento espiritual. Falo
de condições difíceis, não impossíveis. Mas precisamos reconhecer
que a opressão e a exploração distorcem e impedem nossa
capacidade de amar.(bell hooks, 2009)

A capacidade de se amar perante tanta opressão, pode parecer difícil,


entretanto, não é impossível.

Por fim, a teoria filosófica do yoga conecta com as demandas das mulheres
negras, no sentido de proporcionar o autoconhecimento para transpor as
barreiras das dores de serem violentadas. por simplesmente serem mulheres
negras. O livro da escritora e professora internacional de yoga, Ailla Pacheco,
foi a base para unir as demandas das mulheres negras, em trabalho de parto
com as praticas de yoga. “A cura só pode acontecer de dentro para
fora”(PACHECO, 2018), e esse é o caminho do yoga, curar de dentro para fora.

Objetivo geral e específico

O objetivo principal desta pesquisa é discutir sobre a importância de criar


espaços por meio dos quais as mulheres negras possam expressarem, serem
reconhecidas, e respeitadas. Não somente criar espaço, mas também buscar
alternativas e condições para que as mulheres negras em trabalho de parto
tenham autonomia do corpo e mente. Para além de discutir, buscamos
descobrir como as práticas do Yoga podem auxiliar as mulheres negras em
trabalho de parto, de forma que as mesmas vivenciem o parto (A CHEGADA)
sem violências, humilhações e traumas.

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Justificativa

A ausência de trabalhos que façam recorte racial em beneficio às mulheres


negras, enquanto autônomas de seus corpos e mente; nos faz refletir sobre os
caminhos da filosofia yoga no Brasil, ou seja, nos perguntamos: “Para quais
corpos a filosofia Yoga Chega?” Neste sentido, este estudo diz muito sobre
quais caminhos pretendemos percorrer com as práticas de yoga, um caminho
justo para aqueles e aquelas que ainda não tiveram a oportunidade de
vivenciar o caminho sagrado Yoga.

Porquanto, o grito silenciado no momento do parto da mulher negra e da


mulher não negra, é um grande impulso para este trabalho. Serão várias vozes
ecoando para que todas as mulheres tenham a oportunidade de vivenciarem o
trabalho de parto em sua plenitude Divina, pois é um dos momentos mais
sublimes da vida da mulher que escolhe parir.

Referencial teórico

A pesquisadora Clélia Rosane, defende a tese de que a promoção da saúde de


mulheres negras, pela perspectiva dos direitos humanos e do feminismo negro,
requer o entendimento da interseccionalidade como metodologia para o bem
viver das mulheres negras. A autora expande o conceito de
interseccionalidade e a noção de bem viver , sendo assim, a noção de saúde é
considerada de maneira holística, ou seja, a “interseccionalidade orienta para
uma estratégia de promoção da saúde formada por encruzilhada onde se
conectam diferentes fontes de conhecimento(como o campo científico, o campo
do movimento negro e das mulheres negras, entre outros), com especial
considerações pelas experiências pessoais e coletivas. Assim, a intelectual

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feminista negra , coloca em prática em sua tese , a concepção (PRESTES,
Clélia Rosane dos Santos, 2018).

Apresentação

O tema desta pesquisa emergiu na confluência entre dois pertencimentos


específicos: O trabalho como Doula e a dedicação na defesa dos direitos das
mulheres, mais especificamente das mulheres negras. Ser ativista do parto
com respeito, é diretamente falar sobre a vida das mulheres, a pergunta que
não podemos deixa de refletir é: “quais são as mulheres que mais precisam
desse olhar cuidadoso e atento?” Prontamente deveríamos responder que
todas as mulheres merecem ser tratadas com respeito e dignidade, porém são
as mulheres negras que mais sofrem com a dinâmica do racismo no Brasil.

O interesse pelo assunto passa não só por compreender tais processos de


racismos institucional e violência contra as mulheres, mas também por
intervenções cruéis que ficaram marcadas em minhas ancestrais. Falar de
direitos das mulheres, é falar sobre o feminismo, que pensar e repensar sobre
a liberdade e equidade das mulheres na sociedade. Não é apenas um
movimento de mulheres, mas sim mulheres movimentando em busca de um
mundo justo e igualitário.

A ligação com o movimento feminista se deu a partir da oportunidade de


participar de alguns grupos que abriam para mulheres do ensino médio, desde
2011 tive o privilégio de conhecer outras formas de me enxergar enquanto
mulher, meus sonhos, ambições e projetos de vida. Em 2012, já na
universidade me identifiquei com o feminismo negro, participei de um núcleo de
pesquisa, na qual dedicávamos entender a dinâmica das ações afirmativas nas
universidades brasileiras, assim, compreendi que não era uma mulher branca,
tampouco reconhecida como negra em minha comunidade. Entretanto, meu
corpo estava entre lugares, nos espaços de privilegio, meu corpo é diferente,
“exótico”, minha beleza é excêntrica, porquanto não me enquadrava aos

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estereótipos da maioria das mulheres de classe média, essa percepção me fez
refletir sobre minha subjetividade e pouco a pouco entender meu processo de
estar entre lugares.

Já nos espaços tidos como subalternos sou vista como “diferenciada” por ter
acessado um curso superior, ou seja, o acesso à educação ainda é uma
realidade que distancia as pessoas, infelizmente ainda há uma cisão dos
conhecimentos, de um lado o conhecimento científico, e de outro o
conhecimento tradicional, como as curandeiras, benzedeiras. Nenhum
conhecimento pode excluir o outro, mas sim unir. Deste então não parei mais
de procurar meios para me curar e curar os meus pares.

A formação em Doula abriu meu olhar para uma demanda das mulheres, que
pouco se fala, o parto. Cresci ouvindo que parir é terrivelmente, que ao nascer
eu de certa forma causei sofrimento à minha mãe... Somente depois de passar
pela experiência do parto foi possível perceber que a dor do parto não é a dor
da morte e sim a dor da vida, parir é renascer. Entretanto, em meu parto tive
todo apoio, amor, cuidado e respeito. Pressuponho que os relatos sobre as
dores, medos, angustias, aflições que toda a vida eu ouvi sobre o trabalho de
parto foi a dor do abandono, da violência que deixaram marcas nas entranhas
das mulheres guerreiras que infelizmente foram submetidas à tamanha
crueldade.

Portanto, entender minha ancestralidade e trajetória é de extrema importância


para que eu possa cada vez mais valorizar o conhecimento científico e o saber
tradicional para a defesa da vida das mulheres. Como a escritora Bell Hooks
estrategicamente fala, sobre a importância de mulheres procurarem os meios
da intelectualidade para compreendermos e consequentemente sobrevivermos
à nossa própria realidade, uma vez que vivemos em uma sociedade patriarcal
de supremacia branca, em que toda a cultura se esforça para negar as
mulheres o direito legitimo do pensamento liberto. A busca pelo conhecimento
e pela cura é um ato de Resistência.

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A dinâmica do Feminismo Negro

A filósofa Djamila Ribeiro, em seu livro “Quem tem medo do feminismo negro?”,
consistente e muito reflexivo, convida aos leitores a refletirem sobre a
importância de pensar sobre as especificidades das mulheres negras, sem
medo de reconhecer os privilégios, e a necessidade de criar espaços para
mulheres negras terem voz e serem ouvidas.
Djamila considera que sua produção intelectual é inseparável da criação de
redes de solidariedade política, neste movimento, a estudiosa sobre o
Feminismo Negro, defende que, “o feminismo negro não é uma luta meramente
identitária, até porque branquitude e masculinidade também são identidade.
Pensar no feminismo negro é pensar projetos democráticos” (RIBEIRO, Djamila
p.07 2008). Ou seja, discutir sobre o feminismo negro é uma maneira
democrática de garantir direitos às mulheres que além de sofrerem com o
machismo, sofrem com racismo velado ou explicito.
O feminismo negro de maneira geral questiona as especificidades das
mulheres Negras, neste sentido a Filosofa Djamila deixa evidente que, o
silenciamento da mulher negra é algo que tira a condição da mulher negra de
viver plenamente, o silenciamento das negras as matam, ou deixa sequelas
para o resto de suas vidas.

“A questão do silêncio também pode ser estendida a um


silenciamento epistemológico e de prática política dentro do
movimento feminista. O silêncio em relação à realidade das mulheres
negras não as coloca como sujeitos políticos. Um silêncio que, por
exemplo, fez com que nos últimos dez anos o número de
assassinatos de mulheres negras tenha aumentado quase 55%,
enquanto o de mulheres brancas caiu 10%, segundo o Mapa da
Violência de 2015. Falta um olhar étnico-racial para políticas de
enfrentamento contra a mulher. A combinação de opressões coloca a
mulher negra num lugar no qual somente a interccionalidade permite
uma verdadeira prática, que não negue identidades em detrimento de
outras.” (RIBEIRO, Djamila 2018)

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Sendo assim, é necessário pensarmos sobre importância da fala e escuta das
Mulheres Negras, sobretudo, na área da saúde. Um lugar que em hipótese
alguma deve fazer tratamentos diferenciados entre pessoas, ou seja, todos
devem ser atendidos de maneira digna e respeitosa, sem distinção de raça,
crenças, gênero ou cor.

Na tese sobre saúde das mulheres negras, a doutora Cléria Rosane diz que
saúde para mulheres negras é “Minimamente, ter uma condição que
transcenda sobreviver e garanta direitos e bem viver” (ROSANE, CLÉRIA P.
62). Dito de outra forma, as mulheres negras são tratadas como “fortes” a
ponto de deixarem-nas sofrerem sem um tratamento adequado pois “aguentam
mais as dores”, o que é uma inverdade, pois negras são tão ser humanos
quanto mulheres brancas.

O feminismo negro cria estratégia de informações e bem-estar para a


população que durante muito tempo foi escravizada e submetida a
procedimentos cruéis, a consagrada bell hooks declara:

“Sou grata por poder ser uma testemunha, declarando que podemos
criar uma teoria feminista, uma prática feminista, uma movimento
feminista revolucionário capaz de se dirigir diretamente à dor que está
dentro das pessoas e oferecer-lhes palavras de cura, estratégias de
cura, uma teoria da cura.”( hooks, 2013, p. 103) .

Por conseguinte, o feminismo negro não é contra as mulheres não negras, e


muito menos o movimento não é somente fazer frente (lutando muitas vezes
bravamente), contra o machismo, racismo (e outras formas de preconceitos),
que infelizmente ainda persiste. As mulheres negras precisam de cuidados,
precisam de se cuidarem entre si, não excluindo outros grupos, mas
construindo uma egrégora forte para romper a dinâmica da violência que os
corpos negros foram (e são) submetidos. É urgente curar as feridas da
população negra, porque é uma dor ancestral. Neste raciocínio, bell hooks
relata brevemente como as negras foram tratadas pelos senhores, e como
ainda a sociedade carrega essa herança agressiva para com o corpo negro, ou

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de enxergá-lo como supracitado “o corpo que aguenta dor” e o corpo para
servir, o corpo sexual, essa dinâmica animaliza a mulher negra.

[...] Mais que qualquer grupo de mulheres nesta sociedade, as negras


têm sido consideradas só “corpo, sem mentes”. A utilização de corpos
femininos negros na escravidão como incubadoras para a geração de
outros escravos era a exemplificação prática da ideia de que as
“mulheres desregradas” deviam ser controladas. Para justificar a
exploração masculina branca e o estupro das negras durante a
escravidão, a cultura branca teve de reproduzir uma iconografia de
corpos de negras que insistia em representa-las como altamente
dotadas de sexo e perfeita encarnação de um erotismo primitivo e
desenfreado. Essas representações incutiram na consciência de
todos a ideia de que as negras eram só corpo sem mente. A
aceitação cultural dessas representações continua a informar a
maneira como as negras são encaradas. Vistas como símbolo sexual.
(bell hooks 1995, p. 469 )

Em resumo, os fatos históricos refletem em todos os âmbitos sociais, incluindo


o contexto hospitalar, os profissionais da área da saúde, poucos estudam sobre
a dinâmica do racismo no Brasil. A tranquilidade de pensar o Brasil totalmente
livre de racismo, reforça ainda mais a violência, considerando que, o Brasil vive
no contexto do Mito da Democracia Racial; Domingues define que o mito da
democracia racial é “...um sistema racial desprovido de qualquer manifestação
de preconceito ou discriminação”. Ou seja, institui a sensação de paz e
harmonia, mas na realidade a população negra permanece nas periferias da
justiça e direitos humanos. Portanto, é de extrema relevância evidenciar tais
processos para que cada cidadão se reconheça (levando em conta a
construção social) como sujeito que também reforça muitos preconceitos, para
assim, desconstruir e reconstruir uma nova história. Outro conceito importante
para pensarmos a dinâmica do racismo no Brasil é o conceito de Racismo
Institucional. O racismo institucional é uma das formas do racismo velado, que
atinge grupos maiores de sujeitos socialmente estigmatizados. O racismo
institucional é alimentado nas instituições e organizações, gerando uma
desigualdade na dinâmica dos serviços, benefícios, direitos e oportunidades
aos diferentes cidadãos do ponto de vista racial. Entretanto, há várias mulheres

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negras se movimentando para expor o racismo institucional. Como O Instituto
de Mulheres Negras- Geledés, que produz sobre os processos do racismo
institucional:

O racismo institucional é um dos modos de operacionalização do


racismo patriarcal heteronormativo - é o modo organizacional – para
atingir coletividades a partir da priorização ativa do interesse dos mais
claros, patrocinando também a negligência e a deslegitimação das
necessidades dos mais escuro. E mais, como vimos acima,
restringindo especialmente e de forma ativa as opções e
oportunidades das mulheres negras no exercício de seus direitos(
Instituto Gedelés- Instituto da Mulher Negra, 2006 )

Isto é, o racismo institucional tem uma sobrecarga ainda maior para as


mulheres negras, dado que, a mulher negra além de sofrer com o machismo,
sofre o com racismo. Sendo assim, faz sentido organizações de mulheres
negras para garantir direitos básicos das mulheres. Direitos tais como: Parir.
Parir com dignidade e respeito. Portanto, defender os direitos das mulheres de
serem tratadas com dignidade é um ato político, é feminismo. O feminismo são
mulheres se movimentando em busca da equidade. Todavia, o feminismo
negro vai além das demandas contra o machismos e sistema patriarcal, as
mulheres negras têm a necessidade de lutarem contra a construção social
racista. Em conclusão, é necessário evidenciar a demanda das mulheres
negras a fim de gerar a sororidade entre as mulheres brancas, negras, ricas,
pobres, etc.

A conexão da humanização ao Parto com o Yoga

No artigo “A humanização do nascimento: percepção dos profissionais de


saúde que atuam na atenção ao parto, escrito por três enfermeiras obstétricas;
podemos entender a trajetória da complexidade do parto. Este estudo é
embasado em uma pesquisa exploratória qualitativa, na qual traz a percepção
dos profissionais da saúde que atuam na assistência ao parto sobre a
humanização do processo de nascimento. Neste sentido, as autoras fazem
15
uma retrospectiva do fenômeno do nascimento, explanando que a evolução
dos avanços tecnológicos e científicos na área da saúde, corroboraram para a
transição dos locais onde aconteciam os partos; antes eram ambientes
reservados(domicílio), “hoje” (existem partos domiciliares planejados) acontece
em contexto hospitalar. As especialistas afirmam a importância da evolução
tecnológicas para salvar a vida das mulheres e dos bebes, ou seja, em partos
que haviam algum tipo de complicação que aconteciam em casa(antigamente),
não tinham os aparelhos médicos que podiam sanar a complicação naquele
momento.

Entretanto, nesse processo de transição entre o domicílio e hospital, passou-se


a medicalizar o corpo da mulher, como se todo corpo precisasse de
intervenção. Perdendo a sabedoria do parto fisiológico, na qual cada mulher e
bebê tem seu tempo e especificidade de atendimento. De tal modo, as
enfermeiras obstétricas questionam a conduta do contexto hospitalar:

As maternidades são instituições que possuem forte poder de decisão


sobre a vida mulher/bebê/família, passando a controlar quando e
como será o parto, quem e quando pode ter contato com o binômio
mãe-filho e como devem ser o comportamento das pessoas
envolvidas nesse processo. Essas práticas tornaram a assistência ao
parto desumanizada, na qual a mulher não tem o direito de decidir
sobre sua saúde e ações relacionadas ao seu próprio corpo, fazendo-
nos questionar sobre a qualidade da atenção prestada a este grupo
populacional (SOUZA, Taísa. 2011)

Dito de outro modo, o protagonismo que deve ser da Mulher passa a ser de
alguns profissionais que se colocam em uma posição vertical, ou seja, a
mulheres em trabalho de parto são tratadas como mulheres em estado de
vulnerabilidade, em estado quase de decadência, fazendo-as desacreditarem
de seu próprio corpo e fisiologia. A mulher em trabalho de parto é Divina, ela
sabe o que seu corpo precisa, a mulher junto com o bebe que também trabalha
para nascer, buscam o melhor caminho para se encontrarem. Por outro lado,
existem profissionais que buscam sensibilizar o olhar, como a médica Adelise
Noal; a mesma defende o protagonismo e autonomia da mulher, apontando

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que no parto humanizado existe o respeito pelo próprio ritmo biológico do
nascimento, portanto, a mulher é protagonista de seu parto, escolhendo a
posição em que deseja ter o filho, como também as pessoas com quem deseja
compartilhar este momento.

Nessa lógica as práticas humanizadoras do nascimento é um processo em que


os profissionais devem respeitar a fisiologia do parto, não intervindo
desnecessariamente, reconhecer os aspectos sociais e culturais do parto e
nascimento, oferecendo suporte emocional à mulher e sua família, facilitando a
formação de laços afetivos familiares e vínculo mãe-filho; criar espaços para
que a mulher exerça sua autonomia e privacidade durante todo o processo.
Noal em seu livro, cita Michel Odent, obstetra francês, um dos líderes do
movimento pelo parto humanizado, disse:

A fisiologia nos mostra que, para dar à luz uma mulher precisa manter
a menor taxa de adrenalina possível, e que o neocórtex- a parte do
cérebro mais evoluída, ligada ao pensamento, à linguagem- deve ter
sua atividade reduzida. A mulher precisa de sentir segura, não se
sentir observada.( citação de Noal, p 76. 2015)

Isto é, a mulher precisa se sentir segura para manifestar sua verdadeira


essência, a segurança da mulher permite que floresça o lado selvagem para
colocar um ser no mundo. A mulher além de parir um bebê, da à luz a si
mesma. O parto é transcendental. Nesta perspectiva podemos relacionar as
praticas de yoga como uma ponte para mulher passar com tranquilidade e
consciência, tornando assim, uma experiência positiva do parto. “O yoga nos
convida à vivencia da independência, à desconstrução do que pensamos ser e
à manifestação do que verdadeiramente somos, num trajeto de volta para a
casa, de volta para nós mesmos” (PACHECO, Ailla p. 90). Sendo assim, as
afirmações da escritora Ailla Pacheco dialogam com as afirmações do médico
Michel Odent, ambos consideram a necessidade de olharmos para nosso
interior para conseguirmos parir, um novo ser ou até mesmo parir a nós
mesmo, ou seja, nos construirmos e reconstruirmos em essência. De maneira
profunda Noal ainda fala da entrega das mulheres em trabalho de parto, a
necessidade de libertar do ego e apego a fim de trazer à luz ao mundo.

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Na hora de dar à luz, entender uma dinâmica nova, em que as
quantidades de esforços só podem ser penetradas por uma visão de
conjunto. Desistir de si, para ser somente um canal, um meio de
escoamento para a nova vida, aceitar a dilatação, interagir com a dor
da contração. E, envolta neste estado, descer às profundezas. Como
suas ancestrais, não importando as características próprias de sua
personalidade, grau social, raça, se comporta como uma fêmea
engajada em sua tarefa mais fundamental. A serviço de trazer à luz o
fruto secreto de suas entranhas, depositária da energia ancestral
formadora da espécie.( NOAL, Adelise p.71).

Esse pensamento também conecta com a filosofia Yoga, pois é uma filosofia
que nos ensina a seguir um caminho genuíno, em busca da libertação e da
conexão profunda com nosso verdadeiro Ser.

O Yoga utiliza-se da filosofia prática para que a alma possa se libertar


da identificação com o mundo fenomênico, que aprende na roda do
Samsara( Ciclo da vida e da morte). Esse processo de libertação da
alma ocorre em diferentes caminhos, que conduzem a alma a se
libertar dos vínculos compulsórios do nascer e do morrer. Esses
caminhos estão classificados de acordo com a natureza de cada
caminhante, pois não há um único meio de se chegar ao céu. Cada
qual deve conhecer a sua natureza interna e, a partir dessa
percepção seguir a trajetória que possa lhe conferir a libertação (
PACKER, Maria. p 24)

É necessário entendermos que a “humanização da assistência ao parto requer


atitude ética e solidária por parte dos profissionais de saúde(SOUZA, Taísa),
pois a assistência de qualidade vai assistir de maneira amorosa e respeitosa a
mulher em seu momento de dar à luz. São detalhes que podem fazer a
diferença a mulher entrar em estado de meditação para dar à luz e renascer
juntos com o bebê. Atitudes como criar um ambiente acolhedor, adoção de
condutas hospitalares que rompam com o tradicional isolamento imposto à
mulher, ou seja, permitindo que a mulher esteja acompanhada por aquele ou
aquela em que se sente segura e confortável. É importante ressaltar que o
termo “parto humanizado”, não é um tipo de parto, como a mídia ou indústria

18
têm vendido, e sim um meio para a mulher obter experiências positivas do
processo de trabalho de parto, ou seja, a humanização do parto é um processo
não um produto. Humaniza como já supracitado, é tornar a assistência ao parto
digna, respeitosa, com cuidados eficientes para mãe e bebê.

Por fim, os profissionais que estão à disposição da parturiente são


coadjuvantes desta experiência e desempenham importante papel. Têm o
privilegio de servir a mulher e um novo ser que nasceu junto com o
renascimento da mãe, faz-se necessário os profissionais serem atentos e
empáticos para reconhecerem os momentos críticos em que suas intervenções
são necessárias para assegurar a saúde de ambos. Contudo, tanto os
profissionais quantos as parturientes e acompanhantes precisam estar em
estado de presença e libertação da superficialidade, para adentar às
profundezas do ciclo nascer e morte, esse nível de consciência elevado
proporciona a harmonia e amor para o processo de parto. Assim como os
ensinamentos do yoga nos conduz. “A vida é um constante nascer e morrer. A
cada pequeno momento, estamos desenvolvendo verdadeiros partos de nós
mesmo. E trazemos ao mundo por meio desse nascimento, ideias, regras,
criações, socialização. sistemas filosóficos dentre outras coisas”.
(PACHECO, 2018). Desta maneira, o yoga nos oferece amparos para passar
pelos partos da vida de maneira lúcida e verdadeira e com leveza.

O medo da dor - A dor do medo

A partir de processos históricos, podemos perceber um conjunto de evidências


que nos leva a refletir sobre as discrepâncias raciais no Brasil nas mais
diversas dimensões da vida social, incluindo educação, emprego e condições
de moradia. Não obstante no âmbito da saúde, pois também é perceptível as
disparidades raciais. Decorrente do cenário de desigualdades raciais,
sobretudo na saúde, que apresenta níveis elevados de adoecimentos e de
morte que poderiam ser evitadas, se a assistência médico hospitalar fosse
atenta e prestativa para a população negra, iniciativas governamentais e

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voltadas para o combate ao racismo, como é o caso do Programa de Combate
ao Racismo Institucional, lançado em 2005, projetos tais como esse é estrema
relevância, para amenizar, e extinguir as distinções entre assistência ao branco
e ao negro. Pois a discrepância no atendimento pelo imaginário racista que
acomete o sistema de saúde causa sérios impactos, é o que aponta as
pesquisas sobre o assunto:

“... ficaram evidentes as lacunas no tocante à promoção da equidade


de gênero, autonomia da mulher e mortalidade materna. Mortalidade
materna elevada sinaliza para falhas na atenção obstétrica ofertadas,
desde o pré-natal e assistência hospitalar ao parto, há falhas na
qualidade da assistência prestada, contribuindo para esses desfecho
negativo, tanto em relação à saúde materna quanto do recém-
nascido”(LEAL, Maria do Carmo, et al 2017)

As mulheres negras estão morrendo, estão sendo submetidas à assistência


menos assertivas por condições raciais. Neste mesmo estudo de Leal, há
relatos de profissionais admitindo “o racismo internalizado”, na qual comparam
negros e não negros, os negros na perspectiva dos profissionais são mais
resistentes à dor. (LEAL. 2017), essa realidade justifica a péssima assistência
que as negras são submetidas. Outro dado notório nas pesquisas de Maria do
Carmo Leal, foi certeza dos médico de acreditarem que as mulheres negras
têm a melhor adequação da pelve para parir, fato que justificaria a não
utilização de analgesia, ou empatia para acolher a mulher negra, que esta
sentindo dor, assim como as mulheres não negras tidas como “frágeis”. Leal
cita autores que dialogam com a pressuposição do racismo institucional, na
qual nega diretos às mulheres negras “o uso diferencial de analgesia segundo
grupos raciais possivelmente se associa a percepção sociais que se baseiam
na existência de profundas biológicas supostamente intrínsecas (Hoffman et al
2007).

Negar diretos a uma parturiente configura violência obstétrica, portanto, é


necessário atentarmos para as práticas de assistência adequada, pois violência
obstétrica é uma triste realidade, na qual algumas mulheres violentadas não

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têm consciência que determinado procedimento é desnecessário e violento ,
como por exemplo a manobra de Kristeler( os profissionais empurram a barriga
para o bebe “descer”). Entendemos que a violência obstétrica é um tipo de
violência contra mulher, por esse motivo faz-se necessário evidenciar os
movimentos feministas, que lutam contra todas as formas de opressão
alimentadas pela sociedade patriarcal machista e misógina. Entende-se
violência obstétrica como, manipular e expor de maneira desnecessária o corpo
da mulher, dificultando e tornando desagradável o momento do parto, inclui
condutas como mentir para a paciente quanto a sua saúde condição de saúde
para induzir cesariana eletiva ou de não informar a parturiente sobre sua
situação de saúde e procedimentos necessários. São extensas as formas de
violar o direto da mulher de parir com tranquilidade e dignidade:

“A violência obstétrica compreende o uso excessivo de


medicamentos e intervenções no parto, assim como a realização de
praticas consideradas desagradáveis e muitas vezes dolorosas, não
baseadas em evidencias cientificas. Alguns exemplos são raspagem
de pelos pubianos, episiotomia de rotina, realização de enema,
indução do trabalho de parto e a proibição do direito ao
acompanhante escolhido pela mulher durante o trabalho de parto”
(Diniz et al 2009)

Nesse caminho de realidade violenta, vai construindo uma história, na qual o


parto é visto como uma experiência terrivelmente negativa. Um momento de
vulnerabilidade e desconfiança do próprio instinto selvagem da mulher que
escolhe parir, entretanto, as mulheres estão sendo criadas a sentirem medo
desse momento sublime. O medo de não suportar a dor natural das
contrações, de não dar conta do processo e prejudicar o bebê, de não saber o
que vai acontecer a partir da primeira contração. Tais temores contribuem para
uma conduta intervencionista de alguns profissionais como “meio de aliviar a
dor e os temores”, principalmente quando assume proporções envolvem toda a
percepção da mulher em processo de parturição. Contudo, essas práticas
tornam-se contraditórias perante aos dados de assistência a mulher negra,
uma vez que as mesmas são deixadas de lado, pois “aguentam mais as dores”.

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O grito silenciado no momento do parto da mulher negra, e de todas as
mulheres que foram violadas devem servir de exemplos para a extinção dos
dados alarmantes. É necessário fazer ressoar as várias vozes vítimas da
truculência, para que todas as mulheres tenham a oportunidade de vivenciarem
o trabalho de parto em sua plenitude Divina, pois é um dos momentos mais
sublimes da vida da mulher que escolhe parir.

A violência obstétrica (nenhum tipo de violência) não pode ficar impune. O


preconceito aniquila, e muitas mulheres descobrem esse fato da pior maneira.
É pela vida das mulheres. É necessário ecoar o Não à violência, é preciso
denunciar e apontar os responsáveis para reparação de tal conduta. É
fundamental que cada mulher cuide uma das outras. Onde há violência há
resistência, na revista Toques, escrita por mulheres negras, evidencia essa
força ancestral de reerguer perante a dor da violência

Nós mulheres estamos lutando para retomar o que é nosso.


Nossos saberes ancestrais. Nossos poderes. O que significa dizer
que estamos buscando uma nova aliança com os profissionais da
saúde. Queremos um diálogo aberto, troca de opiniões – e não o
monólogo de um ou uma profissional coberto de desatenção e
preconceito. (Wenerck, Jurema 2002)

É de suma importância as mulheres serem unidas para voltar para dentro de si


mesmas, para reconhecerem o poder Divino que há em todos ser vivo. As
práticas de yoga nos permitem abrir nosso olhar sobre a vida, sobretudo sobre
as dores:

A vida é uma constante nascer e morrer. A cada pequeno momento,


estamos desenvolvendo verdadeiros partos de nós mesmos. E
trazemos ao mundo por meio desse nascimento, ideias regras,
criações, socialização, sistemas filosóficos, dentre outras coisas. A
prática de yoga representaria, analogicamente, a realização de partos
sem dor, de forma a tornar o caminho mais suave. Podemos crescer
pela dor ou pelo amor, e os dois caminhos são importantes e nos
trazem amadurecimento. Não podemos negar a existência da dor.
(PACHECO, Ailla 2018)

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Em trabalho de parto a dor é quase inevitável, porém, não é a dor da
aniquilação, é a dor da vida, do nascimento e renascimento. É ideal as
mulheres acreditarem em seus próprios corpos, embora muitas dores em
trabalho de parto perpassam pela violência, não somente a dor natural do
processo e sim a dor da violação do corpo físico e mental. A informação
adequada é muito importante para parturiente, pois a mesma conhecerá seus
direitos, a fisiologia de seu corpo, o seu tempo, e a evolução daquele processo,
pois munir de informação é uma forma de empoderamento. Sendo assim, a
parturiente vivenciará um trabalho de parto mais fluido, leve, amoroso. Como
proferiu Michel Odente “Para mudar o mundo é preciso mudar a forma de
nascer”, ou seja, precisamos cuidar desde o nascimento os cidadãos.
Oferecendo acolhimento, amor, bondade, paz, e toda a manifestação de Deus.

Fisiologia do parto

A natureza é sábia, devemos acreditar nela. Na fisiologia do corpo da mulher


não é diferente. O corpo feminino foi preparado para gerar, é especial pensar
nesse processo cíclico de gerar uma vida. Quando o bebê está pronto para
nascer, ou seja, quando passou os tempos que a natureza determinou, os nove
meses. Novos movimentos iniciam dentro da gestante. Inicia as contrações, no
início são espaçadas, depois pegam um padrão, somente quando as
contrações uterinas pegam um padrão de tempo, por exemplo, vem de 4 em 4
minutos, podemos considerar trabalho de parto.

É relevante salientar como é a anatomia do útero “o útero é um músculo oco,


cujo interior se desenvolveu o bebê. Na parte inferior, existe uma cavidade
fechada por um esfíncter muito forte, composto de um anel de fibras
musculares estreitamente tecidas umas às outras: O colo do útero (LOLI,
Jesica 2017). Portanto, é um local seguro e agradável para o bebê crescer e se
desenvolver. Um momento de conexão profunda entre mãe e filha(o).

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Sendo assim, quando o trabalho de parto inicia, o corpo começa a produzir
hormônios, na qual são secretados no colo do útero, o colo começa a ceder e a
dilatar-se até desaparecer completamente para que o bebê nasça. O colo do
útero vai amolecendo, abrindo-se, cedendo, na medida em que trabalho de
parto avança, até o momento em que o colo do útero apaga. O motivo pelo
qual acontece o apagamento do colo são as contrações contínuas que agem
de duas formas: puxando as comissuras do colo, fazendo-o se abrir, enquanto
o fundo do útero contraído empurra o bebê para baixo. Portanto, a cada
contração, o bebê se apoia com mais força no colo do útero, assim o colo do
útero vai progressivamente se abrindo.

Além da dinâmica do colo do útero, há também o tampão mucoso, o tampão


mucoso é um tipo de secreção que reveste o colo e protege a cavidade uterina
de infecções. Quando o trabalho de parto inicia, o tampão se desprende e
desliza como se fosse um catarro.

No momento em que há o apagamento do colo, o bebe gira num movimento de


rotação sobre seu próprio eixo para encaixar-se e passar pela pelve, que é um
anel ósseo estreito que contém os órgãos reprodutores, a bexiga, os intestinos
e o reto. Dito de outro modo, no momento em que a cabecinha do bebe gira, a
pelve se abre para a cabeça e o corpo passar para chegar até o canal vaginal.

Todo esse processo interno acontece com a liberação de hormônios


específicos produzidos pela parte primitiva do cérebro: Hipotálamo, pituitária e
hipófise e independente da nossa vontade. Entretanto, esse processo por ser
prejudicado pelos processos psíquicos inconscientes e pelas interferências
externas que mantêm o neo córtex da mulher em atividade ( LOLI, Jesica
2017). Ou seja, se a parturiente se sentir em um ambiente inseguro, expostos,
sem acolhimento, a mesma pode entrar em estado de stresse, podendo causar
desiquilíbrio nos hormônios que ajudam no trabalho de parto. Sobre o stress a
Ailla Pacheco nos ensina:

O stresse é inerente ao ser humano e desde a época das cavernas


atua prevenindo perigos e contribuindo para a luta e a fuga por

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sobrevivência. O estresse em excesso é que é o grande problema.
Quando estamos com medo, a resposta natural do corpo é liberar
uma onda de adrenalina e cortisol. No entanto, muita adrenalina e
cortisol são prejudiciais para a saúde física e mental de uma pessoa,
que pode vivenciar sintomas similares aos de uma ataque de pânico,
como aceleração do pulso ou dos batimentos cardíacos, respiração
curta e tontura. (Pacheco, 2018)

A Mestre Ailla Pacheco ainda completa, que é necessário buscarmos conectar


com nossa essência, com nosso Eu, para evitar a raiva e preocupação
exacerbada. Esse pensamento vai de encontro com os pensamentos sobre a
dinâmica do parto

Todo trabalho de parto é uma iniciação para a mulher e cada uma


pode aproveitar essa oportunidade de aprofundamento interior na
dependência da sua visão de mundo. Este pequeno espaço de tempo
capiteneado pela parte mais antiga, primitiva do cérebro, vivido numa
intensidade total instintiva e arquetípica. Desdobrada em imagens,
sentimentos, sensações.( NOAL, 2015)

Aprender a encontrar nossa verdadeira essência através do yoga e


espiritualidade é um presente Divino. Ter um trabalho de parto de maneira
positiva é possível, quando a mulher se entrega a natureza do seu corpo e
mente. Acreditando que tudo acontecerá da melhor maneira possível, os
conhecimentos do yoga expandem nossa mente para o lindo encontro com
nosso Eu verdadeiro, aflora nossa gratidão perante a vida, que é cíclica. Que o
yoga seja fonte de inspiração para a humanidade.

Yoga, contudo, não é apenas mais um tratamento pra vencer ou


prevenir doença. Yoga é uma filosofia, que até contribui para manter
a saúde, mas que objetiva o autoconhecimento, porque acredita que,
no interior de cada ser existe absolutamente tudo aquilo de que ele
precisa para autodesenvolver. O praticante não deve buscar no Yoga
um caminho de cura agenciada por um professor ou guru, mas sim
um caminho de volta para si mesmo, um caminho em que ele é seu
próprio agente de cura. (Pacheco 2018)

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Deste modo, adentrar no trabalho de parto com gratidão, leveza concentração,
respiração é adentrar no Yoga, é buscar o Samadhi, a iluminação
transcendental de nascer e renascer. Todas a mulheres que escolhem parir
merece passar por esse momento em plenitude Divina.

Fases do trabalho de parto e os Añgas do Yoga

Assim como é a vida, o parto é cíclico, na qual cada momento tem sua
especificidade e beleza, pensando assim, elevamos nossa consciência para
viver cada momento em plenitude e satisfação, superando e reinventando em
cada processo. Como o yoga nos ensina, a aprender com os erros e evoluir.

São seis fases que apresentam características especificas no trabalho de


parto, são: pródromos, fase latente, fase ativa, fase transição, fase expulsiva e
por fim a dequitação da Placenta. Mariana Castelo, no site “no fundo do ventre”
escreve sobre cada fase do trabalho de parto. Nesta perspectiva de entender o
parto como fases preciosas, podemos relacionar os yogasutras de Patanjali (
os 8 angas: yamas, nyamas, ásanas, pranayanamas, pratyahara, dharana,
dhyanam e samadhi), para que a parturiente vivencie da melhor maneira
possível todo o processo. “Os yogasutras compõe um texto clássico sobre a
teoria, filosofia e a prática do Yoga, Patañjali compilou um antigo manual de
técnica práticas” (Pacheco, 2018 ). Já os angas são partes práticas da filosofia
yoga, os angas são os caminhos da libertação espiritual, autoconhecimento,
evolução. Sendo assim, podemos pensar que a inclusão dos angas em cada
fase do trabalho de parto, pode corroborar para a vivência de um parto positivo,
entretanto, não quer dizer que seja necessário seguir linearmente cada anga
de acordo com a fase do trabalho de parto aqui sugerido. Castelo escreve
sobre o inicio do trabalho de parto:

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Os pródromos são o inicio do trabalho de parto. Sua característica é a
presença de contrações irregulares do útero. Um desconfortozinho
que vem e vai, às vezes para, depois vem mais forte, depois para
novamente.. Os pródromos podem durar bastante tempo, até dias.
Em alguns relatos as mulheres sentem contrações todos os dias em
um determinado horário, depois elas cessam, e isso durante até
algumas semanas, antes de realmente entrar em trabalho de parto (
CASTELO, 2014)

É relevante ressaltar que, cada corpo é único, portanto, nem sempre a


parturiente vivenciará as todas as partes das fase do trabalho de parto, cada
mulher terá o seu caminho de descoberta, sobretudo, com a vivencia dos
angas no trabalho de parto.

Os pródromos configura o inicio do trabalho de parto, é um aviso que o


processo da chegada do bebe está próxima, é um momento da mulher se
observar, descansar e se preparar para as próximas fases, na qual tendem
aumentar os “desconfortos”, sendo assim, o pródromos dialoga com o primeiro
añga: Yama;

“ os yamas se relacionam-se à conduta do indivíduo com o


mundo e ao que ele deve observar em seus próprios
comportamentos para com os outros. A palavra yama [do
sânscrito, contenção, domínio] expressa a necessidade de o
praticante exercer controle sobre suas próprias palavras,
pensamentos, ações e atitudes, que podem impactar seu
próprio eu ou qualquer outra forma de vida no universo(
Pacheco, 2018)

Ailla Pacheco cita Patanjali, para explicar os cinco yamas: “yama é a não
agressão[ahimsa], a autenticidade[satya], o não roubar [asteya], a prática de
uma vida espiritual regrada[brahmacarya] e o não cobiçar [aparigraha] (
Patañjali, sutras II:30 apud Barbosa, 2015). Ou seja, são éticas pilares do yoga.
Sugere para que entre na próxima fase do trabalho de parto amenizar a
ansiedade(uma forma de não agressão), ter fé e viver com atenção plena.

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Após os pródromos, inicia-se a fase latente, que geralmente manifesta da
seguinte forma:

Dilatação entre 2 e 5cm; o colo do útero mais afina do que dilata. As


contrações contecem a cada 20 ou 30 minutos com duração de 20 ou
30 segundos cada uma (CASTELO, 2014)

Algo relatado por algumas mulheres nesse momento é um pico de energia


elevado, muitas sentem muito desejo de arrumar a casa, roupinhas do bebe,
etc, porém é necessário ainda manter a tranquilidade e aguardar até que o
trabalho de parto pegue o ritmo, para avançar para a próxima etapa. É
relevante destacar que cada fase pode duras alguns minutos ou pode durar
muitas horas. Na fase latente as dores são suportáveis, propicio para que o
casal se conecte, se abracem, dancem, namorem. As interações amorosas,
são muito bem-vindas, pois iniciam o trabalho de liberação da ocitocina, o
hormônio do prazer, que é primordial durante o trabalho de parto. Mariana
Castelo ressalta sobre essa fase.

Para algumas mulheres que não resolveram bem seus conflitos


emocionais durante a gestação, este pode ser um momento difícil,
onde o medo e a angústia aumentam, ou onde ela fica tão sensível
que chora por tudo. É bom que isso aconteça agora, quando o
trabalho de parto ainda não começou a ficar muito intenso, e é
importante deixar que ela "bote para fora", chore tudo que tiver de
chorar, diga tudo que quiser dizer. Assim, na hora do parto, ela
poderá se concentrar, sem estar presa à esses outros assuntos, que,
por incrível que pareça, são capazes de travar completamente o
parto, quando não resolvidos. Quando a gestante passa a sentir
contrações mais próximas umas das outras, de 6 em 6 ou 5 em 5
minutos de intervalo (mais ou menos 5cm de dilatação), ela entra na
chamada fase ativa do trabalho de parto ( CASTELO, 2014)

Neste momento (fase latente) o Niyamas(a relação com o eu), o segundo añga
se encaixa perfeitamente , tendo em vista que o “Niyama está relacionado á
vivência do indivíduo consigo mesmo, às observâncias internas e à sua
disciplina para viver o Yoga como um experiência de autoreeducação”(
PACHECO, 2018). Professora Ailla cita:

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Niyama é a limpeza[sáuca], o contentamento[santosa], o
sacrifício[tapas], busca do saber interior[svadhyaya] e entrega ao
Içavara[isvara pranidhana]. (Patañjali, sutra II:32 apud Barbosa.2015)

Praticar os Niyamas na fase latente, pode ser uma forma de resolver, e


entender o que não foi muito bem elaborado durante a vida, ou gestação. Os
Niyamas conduzem para a ressignificação dos processos mal qualificados.
Niyama é a limpeza de tudo aquilo que desagrada, que estagna.

Depois de toda a limpeza, contentamento, sacrifício, busca do saber interior e


entrega; corpo e mente se preparam para de fato entrar na fase ativa do parto.
Configura a fase ativa:

Dilatação maior ou igual a 5cm, aumentando progressivamente; o


colo do útero mais dilata do que afina, as contrações aumentam
também progressivamente até que na fase final da dilatação chegam
a ter intervalos de um minuto e meio e podem durar cerca de 60 a 90
segundos cada uma. O trabalho de parto ativo é marcado pela
presença de contrações regulares, de 5 em 5 minutos em média, que
vão ficando cada vez mais próximas e intensas (CASTELO, 2014).

Agora com corpo e mente descansados, podemos pressupor que a parturiente


está disposta para essa fase, na qual as dores e desconfortos físicos se
intensificam. Ásanas, o terceiro añga é bem vindo, pois corroborará para
abertura para passagem do bebê. Há posturas especificas para o parto,
portanto, o profissional que está acompanhando a parturiente deve ter
responsabilidade e conhecimento para conduzir os ásanas adequados para o
trabalho de parto. Muitas vezes a própria mulher através da intuição encontra
uma posição firme e confortável para descansar e ajudar na evolução do
trabalho de parto. Entende-se como ásana:

Os asanas são meios através dos quais o corpo exercita a


amplitude de todos os movimentos internos e externos. Eles
nos proporcionam aterramento, consciência corporal e o
desenvolvimento dos processos meditativos, pois aos trabalhar

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com a parte mais densa do organismo, exigem presença,
disciplina, foco e concentração em um objeto que, neste caso,
é o corpo. (PACHECO 2018).

Pranayamas, é o quarto añga, regulação da energia vital pela respiração.


Podemos considerar que esse añga pode ser praticado durante todo o trabalho
de parto, desde o inicio até o nascimento do bebê, pois; “Respirar
conscientemente encoraja nossa alma a um verdadeiro milagre a cada
segundo, a cada inspiração: abraçar a oportunidade de evoluir a cada pequeno
momento disponibilizado pela vida” ( PACHECO, 2018). A respiração é a vida.

Após a fase ativa é possível perceber a transição entre a fase ativa e fase
expulsiva, a fase de transição é um momento muito interessante do parto. Ela
dura relativamente pouco tempo, a Doula Mariana escreve sobre o termo
Partolândia:

Por causa dos níveis de ocitocina, que vão subindo junto com a
intensidade das contrações, e nessa hora já estão bem
elevados, a mulher começa a entrar em um estado de transe,
similar ao que acontece durante uma excitação sexual. Esse
estado é chamado de partolândia. (CASTELO, 2014).

Na partolandia a mulher se vira para dentro de si mesma, olha para sua alma.
Parece que a parturiente passa a não ouvir nada, a mesma fala algumas frases
desconexas. Exatamente na partolandia a mulher experimenta o pratyahara, o
quinto añga, que é abstração dos sentidos. “Quando o yogi conquista essa
prática, ele fica livre de qualquer instabilidade emocional. Isso ocorre de forma
que o mundo externo e os sentidos não sejam mais capazes de distraí-lo ou
tirar-lhe o equilíbrio” (PACHECO 2018). É evidente em muitos processos:

Nesta fase, a parte consciente e racional da mulher já não está


mais presente, e o que resta é a Fêmea em seu sentido mais
essencial e irracional. Esse estado "animal" é essencial para
que a mulher coloque seu filho no mundo, pois é de sua

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essência animal que ela vai tirar a força necessária para fazê-
lo. A parte consciente da mulher ressurge apenas em poucos
instantes, onde ela duvida de si mesma, diz que não vai
conseguir, pede anestesia, pede cesariana. Esse é um sinal: é
chamado de "hora da covardia" e indica que o trabalho de parto
está chegando ao fim. Nessa hora, é necessário reforçar a
crença da mulher em sua capacidade de parir, e confiar nela.
(CASTELO, 2014)

Há também o sexto e sétimo añgas: Dharana, concentração e o añga


Dhyanam, meditação. Ambos são essenciais para a fase expulsiva. Nesta fase
o bebe já esta na porta, esta no canal vaginal. É possível ver a cabecinha
coroada na vagina da mulher. A coroação do bebê também é chamada de
círculo de fogo, pois a sensação é de ardor, queimação. pode durar segundos
ou muitos minutos.

“Dharana objetiva oferecer ao praticante uma estrutura física e mental firme


para que ele possa suportar as transformações decorrentes do despertar da
energia potencial: a kundaliní.” (PACHECO, 2018). Praticar o Dharana, é
sobretudo praticar o Aqui e Agora. Por outro lado, estudiosos sobre o assuntos
constatam que explicar o Dhyanam é difícil, pois só é possível entender
vivenciando o Dhyanam. “Meditação é um estado de consciência. E estados de
consciências não são ensinados:são vividos e experienciados em essência”
(PACHECO 2018).

Quando o bebê nasce o milagre é consolidado! A dor que existia não existe
mais, e o ser mais amado deve ir direto para os braços da mulher parida.

A ocitocina endógena, que estava sendo produzida em grandes


quantidades para aliviar a dor, agora está sendo produzida sem
que haja dor, e acontece o que se chama de pico de ocitocina.
Esse pico de ocitocina produz uma sensação de imenso amor
e prazer, a sensação de se apaixonar, que, juntamente com o
alívio pela dor ter acabado e da alegria pela chegada do bebê.
(CASTELO, 2014)

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Esse grande momento, transcendental, podemos comparar ao oitavo añga
Samadhi, iluminação. “Pode-se traduzir samadhi como ‘consciência perfeita’,
‘consciencia completa’, ou mesmo ‘estado de iluminação’ (PACHECO, 2018).
Parir é entrar em contato direto com o Divino, assim como entrar em estado de
Samadhi.

Todo o longo processo do trabalho de parto nos ensina a seguir e acreditar em


nosso potencial, assim como os angas que nos conduz ao caminho do
autoconhecimento e aperfeiçoamento de nós mesmo. Não deixando
esquecermos que o Divino habita em nós. Por fim, todas as mulheres merecem
passar por esse processo de maneira respeitosa, liberta, amorosa.

Afirmações para o parto

A educadora Perinatal e autora do livro Parto ativo, Janet Balaskas, publicou


uma lista com afirmações para Yoga e Parto ativo. Podemos utilizar essas
frases como mantras, para que a confiança e tranquilidade seja estabelecida.

• Minha gestação é natural, normal, vibrante e saudável.


•Meu corpo está nutrindo e protegendo meu bebê perfeitamente.
•Meu bebê é puro, sagrado e inocente.
•Meu bebê percebe tudo.
•Estou aprendendo a relaxar mais e mais a cada dia.
•Estou calma e tranquila, meu bebê sente minha tranquilidade e compartilha
dela.
•Quanto mais me afasto do medo, mais relaxada eu fico e menos dor eu sinto.
•O Universo apóia e guia a mim e a meu bebê.
•Eu posso me comunicar com o espírito do meu filho agora, durante o trabalho
de parto e após o parto.
•Estou me preparando para um parto calmo e confortável.
•O nascimento é um momento de prazer e não há nada a temer.

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•A respiração e a confiança se combinam para criar uma experiência de
nascimento estática e maravilhosa.
•O parto é seguro e natural.
•Cada onda, ritmo e movimento do meu corpo me leva para mais perto do
nascimento do meu bebê.
•Meu bebê sabe como e quando nascer.
•A cabeça do meu bebê se encaixa do interior de minha pélvis perfeitamente.
•As minhas ondas de contração uterina estão massageando e abraçando meu
bebê.
•Meu bebê vai descendo suave e facilmente.
•Meu corpo se amolece e se abre facilmente à medida que meu bebê desce.
•Confio em meu corpo.
•Meu corpo sabe como parir.
•Tenho muita força e energia.
•Eu consigo.
•Eu estou me entregando.
•Eu me entrego ao milagre que acontece em meu corpo.
•Eu posso respirar e transformar esta energia em prazer.
•Minha vagina e meu períneo se expandem e se abrem como uma flor para
deixar meu bebê nascer.
•A ajuda está lá se precisarmos – estamos seguros.
•Gosto de pensar que você vem de mim, pensar em segurá-lo em meus
braços, pensar em olhar em seus olhos.
•Eu amo você.

Considerações finais

Yoga é uma filosofia capaz de modificar o mundo, sobretudo o nosso mundo


interior, portando deve ser uma prática acessível para todos os corpos, todas
as classes sociais. “Yoga é essencialmente um caminho de libertação. O ser
humano, por sua vez, é complexo, sendo mais conhecidos os seus aspectos
físico, emocional e mental (Lindemann, 2008). O enfrentamento é conosco
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mesmo, e o yoga nos auxilia de maneira firme e confortável até que
percebamos que o Divino está em todos.

A complexidade do ser humano, cria sistemas nos quais submete outros


corpos à desvalorização. Como Preconceitos como o racismo. Neste trabalho
foi possível discutir as dinâmicas as racismo, machismo, e uma série de
mazelas. Entretanto, foi possível entender que as mulheres negras são as que
mais enfrentam a subalternidade. Além de lutarem contra o machismo, lutam
contra o racismo. Nas estatísticas alarmantes as mulheres negras estão no
topo, principalmente, em trabalho de parto.

Neste sentido o yoga pode possibilitar às mulheres negras um trabalho de


parto positivo, consciente, empoderado. A associação das fases do trabalho de
parto com os angas do yoga leva às parturientes vivenciarem o trabalho de
parto plenamente até alcançarem o Samadhi, o nascimento, o renascimento.
Em suma, todas as mulheres merecem viver as Dádivas do yoga.

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Referencias

1º curso de Doulas – Casa Tina Martins. Apostila de apoio.

BALASKAS, Janet. Afirmações para o parto. Disponível em:


<http://www.espacodharmarj.com.br/afirmacoes-para-o-parto.html>Acessado
em:< 20 de fev. de 2019>

BRANCO, Mariana Castello. As fases do trabalho de parto. 2014. Disponível


em :< http://dofundodoventre.blogspot.com/2014/11/as-fases-do-trabalho-de-
parto.html> acessado em:< 10 de jan. de 2019>

CUNHA, Maria Lúcia. Orientações para acompanhantes das parturientes: uma


proposta para a educação na saúde. Porto Alegre. 2007.

DINIZ, C. S. G. Humanização da assistência ao parto no Brasil: os muitos


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DOMINGUES, Petrônio. O mito da democracia racial e mestiçagem no


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