Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Resumo
A presente pesquisa buscou observar a documentação das obras classificadas
como instalações no acervo do Museu de Arte de Brasília (MAB). A partir de
referenciais teóricos da história da arte e da museologia, o intuito é apresentar
aspectos relevantes para a construção crítica da prática museológica voltada às
artes visuais contemporâneas. Para tanto, o artigo expõe brevemente um
conceito possível de instalação, ao mesmo tempo em que trata da problemática
que envolve a sua preservação e reapresentação, por meio de um estudo
particular do MAB.
Abstract
The present research aimed to observe the documentation of the pieces classified
as installation art in the Brasilia Art Museum’s (MAB) collection. The intention is
to present, through the exposition of theoretical frameworks from art history and
museology, aspects relevant to the critical construction of the museological
practice focused at contemporary visual arts. To this end, the paper briefly
presents a possible concept of installation art while dealing with the problematics
involving its preservation and re-presentation, via the study of one particular case
from MAB’s collection.
••••••••••
1
Museóloga formada pela Universidade de Brasília (UnB), Este texto é fruto de pesquisa
fomentada pelo CNPq, via Edital ProIC/DPP/UnB – PIBIC (CNPq) 2014/2015. Tal pesquisa fora
ampliada e resultou na monografia intitulada “Instalações artísticas do Museu de Arte de
Brasília: documentação e reapresentação (1985-2015)” e pode ser consultada no site:
http://bdm.unb.br/. E-mail para contato: fwerneck@gmail.com.
2
Doutor em História pela Universidade de Brasília (UnB). Professor Adjunto do Departamento de
Artes Visuais/ IdA/ UnB e docente consorciado do curso de Museologia na mesma universidade.
E-mail para contato: dionisio@unb.br.
2o Seminário brasileiro de museologia • 277
3
cf. OLIVEIRA, Emerson Dionisio Gomes de. Regimes de exibição da arte contemporânea:
instalação, reapresentação e registro. In: KNAUSS, P.; MALTA, M.. Objetos do olhar: história e
arte. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2015.
2o Seminário brasileiro de museologia • 278
4
O edifício sede do museu foi interditado pelo Ministério Público do Distrito Federal devido à
sua má condição, parte desse acervo e da documentação pertencente ao MAB foi transferida
para o edifício Museu Nacional do Conjunto Cultural da República (MUN), onde se encontra
acondicionada.
5
cf. SUDERBURG, Erika. Introduction: On installation and site specificity. In: Space, site,
intervention: situating installation art. Edited by Erika Suderburg. Minneapolis: University of
Minnesota Press, 2000, p. 4.
6
Idem, Ibidem, p. 3-4.
2o Seminário brasileiro de museologia • 279
7
cf. HUCHET, Stéphane. A instalação em situação. In: Arte & Ensaios, nº 12, p.64-79, 2005, p.
65.
8
O termo “environment” foi utilizado por Allan Kaprow no final da década de 1950 para
descrever suas obras, ambientes imersíveis nos quais o espectador era um elemento orgânico e
ativável. (BISHOP, 2005, p. 23-24). Entretanto, trabalhos semelhantes, que implicavam na
construção de ambientes, podem ser observados em outros períodos, como é o caso da obra de
Kurt Schwitters, Merzbau, realizada durante as décadas de 1920 e 1930, ou até mesmo o Palais
Idéal, de Ferdinand Cheval, realizado entre 1879 e 1912. No Brasil, graças aos environments,
as instalações foram denominadas inicialmente de “ambientais”.
9
apud OXLEY, Nicola; PETRY, Michael; ARCHER, Michael. Installation art. Washington:
Smithsonian Institute, 1994, p.22.
10
cf. KRAUSS, Rosalind. Sculpture in the Expanded Field. In: October. Cambridge: MIT Press, vol.
8, p. 30-44, 1979, p. 36.
11
cf. OXLEY, PETRY, ARCHER. op.cit., p.14.
2o Seminário brasileiro de museologia • 280
[...] não cabe mais pensar na autoria como aquilo que vem antes da
recepção, porque a relação com a Coisa implica um tipo de
suspensão da “naturalidade” do produto, abarcando tanto o “autor”
quanto o “receptor”. Todas essas características contribuem sem
dúvida para fazer da Instalação um conjunto de operações
probabilizadas [...].12
A ordem das coisas instaladas se dá, portanto, por meio dessa relação
entre o artista e o espectador, que se torna essencial para o conceito da obra.
Outra relação determinante para as instalações se dá entre o espaço e o tempo,
especialmente para as obras que trabalham com a especificidade do local, as
site-specifics. As site-specifics são aderentes a uma localidade, sendo a sua
poética determinada pelo espaço, assimilado e interiorizado na obra. Sem essa
relação, a obra inexiste como tal.
12
cf. HUCHET, op.cit., p. 74.
2o Seminário brasileiro de museologia • 281
13
cf. SEHN, Magali Melleu. A preservação de 'instalações de arte' com ênfase no contexto
brasileiro: discussões teóricas e metodológicas. Tese (doutorado) –Universidade de São Paulo,
Escola de Comunicação e Artes, Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, 2010, p. 145.
14
cf. FERREZ, Helena Dodd. Documentação Museológica: teoria para uma boa prática. In:
Estudos Museológicos. Rio de Janeiro: IPHAN, 1994, p. 64.
15
cf. MACEDO, Rita. Da preservação à história da arte contemporânea: intenção artística e
processo criativo. In: @pha.Boletim, n.5, p.1-6, 2007, p. 1.
2o Seminário brasileiro de museologia • 282
16
Idem, ibidem, p. 2.
17
Idem, ibidem.
18
cf. MACEDO, R.; OLIVEIRA,C. Novos documentos na preservação do efêmero?. Seminário de
Investigação em Museologia dos Países de Língua Portuguesa e Espanhola. Departamento de
Ciências e Técnicas do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2009.
19
É importante ressaltar que, no que se refere à arte contemporânea, a restauração não
significa apenas a reparação de determinados danos que porventura tenham sido sofridos pela
obra, mantendo, assim, a sua integridade física. Em muitos casos, é necessário reconstruir a
obra, uma vez que a sua materialidade nem sempre é passível de ser conservada e
salvaguardada nas instituições museológicas. Devido a esse fato, a reexibição de instalações
representa um desafio a mais para os restauradores.
2o Seminário brasileiro de museologia • 283
será possível que a obra exista materialmente para a fruição se for adaptada. A
partir dessa perspectiva, cabe apontar que, em alguns casos, desvios de
autenticidade serão inevitáveis, ainda que a obra possua uma extensa
documentação que vise dar conta de todos os seus aspectos.
20
cf. MACEDO, op.cit., p. 4.
21
cf. MACEDO, R.; OLIVEIRA,C., op.cit.,p. 420.
2o Seminário brasileiro de museologia • 284
22
Idem, ibidem, p. 421.
23
Idem, ibidem, p. 421.
2o Seminário brasileiro de museologia • 285
24
cf. CÂNDIDO, Maria Inez. Documentação museológica. In: Caderno de diretrizes
museológicas I. 2º Edição. p. 31-90. Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Cultura/
Superintendência de Museus, 2006, p. 32. Disponível em:
<http://www.cultura.mg.gov.br/files/Caderno_Diretrizes_I%20Completo.pdf>. Acesso em: 14
jun. 2015.
25
Idem, Ibidem, p. 33.
2o Seminário brasileiro de museologia • 286
26
Pedreiro com habilidades de carpintaria que auxiliou a artista na realização da Oca-Maloca,
considerado por ela seu co-autor (MATTAR, 2009, p 35).
27
apud MATTAR, Denise. Cronologia de Maria Tomaselli. In: Marcia Tiburi; Denise Mattar.
(Org.). Maria Tomaselli. Sao Paulo: Tiburi & Chui, v. 1, p. 22-47, 2009, p. 36.
2o Seminário brasileiro de museologia • 287
Estava visto que eu não poderia fazer o trabalho sozinha. Algo coletivo
estava por nascer. Convidei então 40 artistas, que se transformaram
em 46, a escolherem seus espaços no interior, onde nós preparamos
caixinhas, portinhas, tampas, nichos – os Segredos. A Oca foi
engenhosamente construída em módulos e tinha um lindo chão oval
que parecia uma colcha de retalhos. Conforme as pessoas vinham
chegando, João Melquíades ia montando a Oca, e o Naja filmando
tudo.29
O MAB possui pastas arquivadas sob o nome dos artistas, contendo toda
a documentação que a instituição possui sobre as obras do acervo e seus
autores. Na pasta de Maria Tomaselli, é possível encontrar uma ficha de
inventário provisória do acervo e uma ficha catalográfica. A ficha de inventário
provisória demonstra que foi preenchida em 1991, enquanto a ficha
catalográfica não apresenta data.
28
apud MATTAR, op.cit., p. 37.
29
Maria Tomaselli apud MATTAR, op.cit., p. 35
30
NASI, Eduardo. As três ocas. In: Marcia Tiburi; Denise Mattar. (Org.). Maria Tomaselli. São
Paulo: Tiburi & Chui, v. 1, p. 146-155, 2009, p. 149.
2o Seminário brasileiro de museologia • 288
31
Site Blog da artista Maria Tomaselli: disponível em: <http://mariatomaselli.blogspot.com.br>.
Acesso em 7 jun. 2015.
32
Site Blog da artista Maria Tomaselli: disponível em:
<http://mariatomaselli.blogspot.com.br/2010/06/o-estado-das-coisas-pintura-faltando.html>.
Acesso em 7 jun. 2015.
2o Seminário brasileiro de museologia • 290
Após sua restauração, a obra foi exposta na Caixa Cultural de São Paulo,
no período de 4 de setembro a 17 de outubro de 2010, e no MUN, onde está
salvaguardada, de novembro de 2013 a janeiro de 2014. Na Caixa Cultural de
São Paulo, a montagem da obra foi realizada pelo Sr. João Melquíades, seu co-
autor34. Já em Brasília, foi realizada pela equipe de montagem do MUN, com
auxílio do manual entregue pela artista em 1991, uma vez que não foi enviado
ao MAB um novo manual de instalação da obra após a sua restauração.
33
cf. FRONER, Y.; SOUZA, L.A.C. Tópicos em conservação preventiva – 4. Reconhecimento de
materiais que compõem acervos. Belo Horizonte: LACICOR – EBA – UFMG, 2008, p. 16.
34
Informação obtida no blog da artista. Disponível em:
<http://mariatomaselli.blogspot.com.br/2010/08/o-joao-melquiades-e-o-claudinho-
estao.html>. Acesso em 12 jun. 2015.
2o Seminário brasileiro de museologia • 291
Figuras 5 e 6: A obra Oca-Maloca, de Maria Tomaselli, exposta na Caixa Cultural de São Paulo, em 2010.
Fotografias de Denise Andrade, obtidas no blog de Maria Tomaselli. Disponível em:
<http://mariatomaselli.blogspot.com.br>. Acesso em: 21 jun. 2015.
Referências
HUCHET, Stéphane. A instalação em situação. In: Arte & Ensaios, nº 12, p. 64-
79, 2005.
KRAUSS, Rosalind. Sculpture in the Expanded Field. In: October. Cambridge: MIT
Press, vol. 8, p. 30-44, 1979.
NASI, Eduardo. As três ocas. In: Marcia Tiburi; Denise Mattar. (Org.). Maria
Tomaselli. São Paulo: Tiburi & Chui, v. 1, p. 146-155, 2009.
2o Seminário brasileiro de museologia • 293