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Contém êste livro uma coletânea de

mensagens esparsas de Joel Ooldsmith,


cognominado o místico ocidental do
século X X , extraídas de algumas de
suas inúmeras obras e das cartas men­
sais que costumava dirigir aos seus
milhares de seguidores em todo o mun­
do, e que continuam a ser editadas,
muito embora o autor não mais esteja
entre os vivos. Qual a mensagem dêste
livro? O s leitores de hoje exigem ró­
tulos. A s profundas modificações do
pensamento religioso de nossos dias
conduziram o hom em na busca deses­
perada de um a resposta aos seus cru-
ciantes problemas. N ão desperta, no
entanto, o seu interesse qualquer livro
rotulado de “ religioso” . A própria pala­
vra “ religião” ou “ Deus” é hoje tabu .
Quiçá devéssemos ter escolhido um
titulo diferente, como por exemplo “ co­
m o conseguir mais saúde, dinheiro e
felicidade” para despertar o interesse
do inquieto e angustiado buscador da
V erdade. Q uem é Joel Goldsmith? U m
instrutor? U m curador? Estam os segu­
ros de que o autor repudiaria vigorosa­
mente tais qualificações. D iz Huberto
Rohden, no prefácio de sua tradução do
livro “ A A R T E D E C U R A R P E L O
E S P Í R IT O ” que o autor não possuía
nenhuma cultura filosófica, nem fizera
estudos superiores de espécie alguma;
era simples comerciante que abando­
nou sua profissão e radicou-se em
Honolulu, onde passou a praticar suas
curas espirituais e a divulgar a “ M E N ­
S A G E M D O I N F I N I T O ” , tendo por
diversas vêzes feito a volta ao mundo,
levando gratuitamente os seus ensina­
mentos para todo e qualquer sincero
buscador. Sua intuição, diz Rohden, o
conduziu em linha reta à Verdade, à
R ealidade. Insiste Goldsmith em que
é impossível crear alto grau de cons­
ciência espiritual, carregar a bateria do
E u Divino, enquanto o hom em mantém
os seus fios-terra ligados ao ego huma­
no. Solidão e silêncio auscultativo;
intensa e diutum a meditação, são fatô-
res indispensáveis para acumular ener­
gia espiritual e utilizá-la em momento
oportuno para curar os m a le s. G old­
smith vai além de Chardin, o qual,
como teólogo, não teve a coragem de
afirmar cem por cento a imanência de
D eus em todas as coisas. Q uem não
pode conceber a presença do Infinito
APRESENTAÇÃO

«Se o Senhor não edificar a casa, em vão


trabalham os que a edificam » (Salmo 127).

A iluminação desfaz todos os laços materiais e une


os homens pelos vínculos áureos da compreensão espiri­
tual: reconhece ünicamente a liderança do Cristo; não tem
ritual ou lei, senão o Amor impessoal, universal; nenhum
culto senão o da chama interna, eternamente acesa no san­
tuário do Espírito. Esta união é o estado da fraternidade
espiritual, livre. A única restrição é a disciplina da Alma:
conhecemos, assim, a liberdade sem licenciosidade. Somos
um universo unido sem limites físicos; rendemos serviços
a Deus, sem cerimonial nem credo. Os iluminados cami­
nham sem mêdo - pela Graça.

(Do livro THE INFINITE W AY


do mesmo Autor)
0 FLUXO DB LUZ
Carta mensal de junho de 1969

Prezado A m igo:
O estado de consciência primitivo, original, é puro,
harmonioso e absolutamente bom. Esta é a consciência do
ser individual. Quando nos separamos, ou somos separa­
dos, dêsse estado de consciência divina, e creamos nossa
própria mente e nossa própria vida, passamos a viver fora
da lei de Deus, e então a vida se torna uma questão de pro­
babilidades, objeto de cálculos estatísticos: algumas vêzes,
boa; outras, má; porém as mais das vêzes má. Resta-nos,
todavia, a esperança de podermos recuperar a harmonia
perdida e voltar à casa do Pai, unindo-nos conscientemente
com Êle.
Felizmente, isto não depende de nós. O que nos leva
de volta a Deus não são os nossos esforços. O que nos está
abrindo o caminho é a graça de Deus. Espero que nenhum
de vós jamais acredite que tenha por virtude própria che­
gado a praticar determinados ensinamentos espirituais, ou
que tenha, graças a seus próprios méritos, conseguido per­
manecer no Caminho espiritual ou fazer algum progresso
espiritual na Anda, pois isso lhe destruiría tôdas as opor­
tunidades de verdadeiro progresso.

A CONSCIÊNCIA ESTÁ NOS ATRAINDO


DE VOLTA PARA SI
Se pensarmos nos milhões de pessoas, tão boas quanto
nós, ou ainda melhores, sob quase todos os pontos de vista,
e que não estão no Caminho, não obstante o merecerem
tanto quanto nós, tornar-se-nos-á claro que se chegamos a

7
êste ponto não foi pelos nossos méritos e nem porque te­
nhamos, nós próprios, preferido voltar para Deus. Crer
que escolhemos o Caminho espiritual seria, em última aná­
lise, egoísmo. Se estamos neste caminho é porque Deus
nos escolheu. E se o dedo de Deus nos tocou, não foi por
que nos tenhamos tornado merecedores ou por sermos me­
lhores que o resto da humanidade, mas por razões que re­
montam a um passado muito distante, anterior à nossa
atual existência na terra, o qual está relacionado com o
estado de consciência que tivemos num passado ainda mais
remoto e que sempre produz seus frutos no devido tempo.
«Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo con­
trário, eu vos escolhi a vós outros, e vos d esignei... Eu
vos escolhi do mundo, por isso o mundo vos odeia.»1 Isto
quer dizer que à medida que evoluímos de um a outro es­
tado de consciência, vamos retornando para onde está­
vamos no comêço, com tôda a glória que possuíamos com
Deus, antes que houvesse êste senso humano de existência
do mundo. O que nos atrai de volta para o reino de Deus
não são os nossos esforços, mas a Substância primordial,
ou Consciência.
De certo modo, isto se pode comparar ao que acon­
tece quando jogam os lôdo dentro de uma vasilha que con­
tém água limpa: o lôdo não pode remover-se por si mes­
mo, mas, eventualmente, êle assentará no fundo da vasilha,
e deixará a água tão pura como antes. A perfeição da
Consciência que somos, e dentro da qual foi, por assim di­
zer, lançado o lôdo adâmico, isto é, o lôdo representado por
assassínios, escravidão e a crença na existência de dois
podêres, não fo i alterada, mas apenas encoberta: essa
Consciência continua como uma chama viva, a queimar e
extinguir as impurezas da consciência humana. Apesar de
nossa maior ou menor mesquinhez ou egoísmo atual, a ver­
dade é que desde o comêço, quando nos afastamos daquele
nosso primitivo estado de consciência puro, há uma Fôrça
que vem operando em nós e através de nós e dissipando
pouco a pouco nossa mesquinhez ou egoísmo. E assim, no
curso dos séculos, irá removendo todos os resquícios dêsse

1 - Jo 15: 16, 19.

8
mal ou corrupção, até chegar o dia em que nos sentiremos
mais perto do que éramos no princípio.
Não somos nós que escolhemos Deus; não somos nós
que escolhemos a vida espiritual; não somos nós que esco­
lhemos a senda espiritual, porque o ser humano é incapaz
de tal escolha. O ser humano é uma criatura separada de
Deus, mas, a certa altura de sua evolução, é tocado inte­
riormente pela Luz, que o coloca no Caminho. Não deve­
mos presumir que nos caiba algum mérito por tudo isto,
porque, como sêres humanos, nunca seríamos outra coisa
senão sêres humanos.
Existe uma consciência evolutiva, uma consciência es­
piritual que se projeta dentro e através da consciência
humana, levando-nos para a frente, passo a passo. Ê ine­
vitável que uns poucos se encontrem à frente dos demais,
e isto é porque a graça de Deus toca êsses poucos antes
de alcançar a humanidade em massa, que ainda não está
suficientemente avançada e, por isso, talvez tenha que
viver mais uma, duas, três, cinco, sete ou mais vidas antes
de ser tocada e estar apta a reconhecer a Graça já estabe­
lecida internamente.
Hoje, mais do que nunca, se clama por independência
ou liberdade sôbre a terra, e não é de estranhar que as
fôrças contrárias à liberdade também gritem, e ainda mais
alto, porque, no cenário da vida humana, há sempre os
pares de opostos, o bem e o mal em contenda um com o
outro. Mas, como a Consciência está se expandindo no
sentido de Sua plena realização na terra, serão esmagados
todos aquêles que barram o caminho da liberdade, inde­
pendência, justiça e fraternidade. Isto será inevitável, pois
não se trata de uma luta contra o homem, mas contra
Deus. A liberdade, a independência, a justiça, a igualdade,
a paternidade divina e o amor ao próximo são qualidades
inerentes a Deus, e não às criaturas humanas, e consti­
tuem objeto das atividades de Deus. Lutar contra isso é
lutar contra Deus; contra a evolução ou expansão da cons­
ciência espiritual.

9
O TOQUE DE DEUS E A ATITUDE DE ESCUTA
Embora o progresso espiritual resulte de um ato de
Deus, deve haver uma atitude de auscultação da parte
do homem. Aquêles que desenvolvem a capacidade de re­
flexão interna, contemplação e meditação; aquêles que
aprenderam que orar é realmente escutar e não falar com
Deus, são os primeiros a receber a palavra de Deus - e
recebem orientação e proteção em todos os seus caminhos.
Em Deus, tudo é divino. Não há n’Êle mal nenhum.
Deus é Amor, Inteligência infinita, onisciente. Além disso,
é onipresente. Sua presença e poder estão sempre ao al­
cance da humanidade. Mas, para receber o toque de Sua
presença e poder, o homem precisa estar em atitude de
escuta, sutilmente atento, internamente tranquilo e silen­
cioso. Ninguém é suficientemente sábio para poder ensi­
nar alguma coisa a Deus, aconselhá-Lo òu influenciá-Lo.
Ninguém tem sabedoria para saber como orar.
Não obstante, há aquêles que ainda vão a Deus para
dizer-Lhe quais as suas necessidades ou de seu país, como
se realmente as conhecessem.
Não sabem mais acêrca de suas necessidades do que
certa pessoa que em 1900 escreveu um artigo dizendo da
grande necessidade de maior número de cavalos. Estivesse
ela escutando, procurando ouvir a Voz de Deus, ao invés
de estar refletindo sôbre o maná do passado, e poderia ter
recebido a informação antecipada de que Deus tinha em
vista algo nôvo no horizonte.
O mesmo acontece conosco. A razão de acreditarmos
saber o que é bom para nós, é a lembrança do maná de on­
tem, isto é, das coisas de que gostamos em nosso passado
e que^gostaríamos de possuir mais, esquecidos, como esta­
mos; de que todo momento de cada dia é um nôvo comêço.
Para iniciar o estabelecimento dessa atitude de escuta em
nossa consciência, não necessitamos aguardar o nascer do
sol, amanhã, e nem sequer precisamos esperar para daqui
a uma hora. Sempre podemos mudar do passado para o
presente a qualquer momento e, se dentro de uma hora
após essa mudança, viermos a fracassar, retornando ao
passado, poderemos recomeçar tudo de nôvo.

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Para isso, o que se precisa é escutar, escutar aquela
«voz tranqüila e suave».7 Isso nada tem a ver com nossas
crenças ou convicções. Nada tem que ver com nossas neces­
sidades ou com as necessidades de nossa nação. «A pala­
vra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante do que
qualquer espada de dois gumes.»8 « . . .êle faz ouvir a sua
voz e a terra se dissolve.»2
4
3
Essas passagens contêm a chave da prece, que é o
único meio de sermos governados por Deus. Ê o segredo
da liberdade, independência, justiça e igualdade sob o go-
vêm o de Deus. Isso não se obtém em virtude daquilo que
um grupo de homens gostaria de nos dar ou do que outro
grupo gostaria de nos tirar. Nosso destino nada tem a ver
com homens. Nosso destino depende de Deus. Mas não
haverá meio de nos valermos de Deus ou de Seu govêrno
enquanto insistirmos em falar com Êle, em contar-Lhe as
nossas desditas ou procurar influenciá-Lo em nosso favor.
A prece é uma abertura de nossa consciência e o reconhe­
cimento da natureza e da presença de Deus.
Quando reconhecemos que Deus é a Inteligência infi­
nita dêste universo, e que essa Inteligência é responsável
pelo fato de os pêssegos serem oriundos de pessegueiros, e
os tomates, de tomateiros; quando compreendemos que o
sol, a lua e as estréias não funcionam senão de acôrdo
com o plano dessa divina Inteligência, então estamos em
condições de abandonar nossa absurda pretensão de falar
com Deus ou pedir-Lhe coisas que julgamos necessitar;
só então é que podemos iniciar o estabelecimento, em nos­
so íntimo, de uma verdadeira atitude de oração, confiando
em que Deus conhece de antemão as coisas que necessita­
mos.
Quando reconhecemos a natureza de Deus como amor,
e vemos como êste opera através de todos os processos da
Natureza que contemplamos, só então é que estamos pre­
parados para confiar no govêrno de Deus. Essa confiança
significa que nós, por nós mesmos, nada sabemos sôbre o

2 - 1 R s 19: 12.
3 - H b 4 : 12.
4 - SI 4 6 : 6.

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dia de amanhã: não sabemos onde estaremos e o que ire­
mos fazer. Sabemos apenas que existe uma Inteligência
divina, ilimitada, muito superior a tudo o que qualquer ser
humano possa conhecer; que existe uma presença e poder
do Amor divino que Se compraz em dar-nos o Seu reino, e
passamos a reconhecer que tudo isso está dentro de nós.
Agora, podemos deixar que a graça de Deus frutifique ou
manifeste Seu bem. Portanto, nunca devemos voltar-nos
para Deus com o intuito de receber alguma coisa, mas sim,
unicamente, com o propósito de reconhecer Sua onipre­
sença e de escutá-Lo. Isto implica em um estado de recep­
tividade interna, é como se soubéssemos, sem qualquer
sombra de dúvida, que o reino de Deus está dentro de nós.

SER RECEPTIVO MESMO DORMINDO


Desta maneira poderiamos aprender a viver as vinte
e quatro horas do dia com os ouvidos internos abertos,
mesmo enquanto dormimos, porque a consciência é tão
perceptiva quando dormimos como o é quando estamos
acordados. Em outras palavras: Deus está sempre ativo.
Para Ele não há tal coisa como período de descanso. Não
há momento em que Sua voz não esteja sendo emitida.
Portanto, não fecheis vossos ouvidos a essa Voz, mesmo
em horas de sono, mas abri-os e compenetrai-vos de que:
«.Durante as vinte e quatro horas do dia, eu e o Pai
som os um, e eu posso ouvir tudo o que o Pai está dizendo
em cada segundo dessas vinte e quatro horas».
Descobriremos que embora estejamos descansando,
ou mesmo dormindo, há uma parte de nós que está sem­
pre receptiva. Se houver ocasião para que Deus nos fale,
acordaremos e ouviremos a Sua comunicação, ou a rece­
beremos em sonho. Mas de qualquer modo saberemos com
absoluta certeza que a comunicação veio de Deus. Se qui­
sermos, pois, estar atentos tanto durante a noite como
durante o dia, precisaremos abrir conscientemente aquêle
nosso ouvido interno antes de dormir, conscientizando que:
Posso ouvir agora tudo o que o Pai está dizendo, posso
ouvi-Lo durante as vinte e quatro horas do dia, tanto acor­
dado como dormindo. Deus tem um meio de Se comunicar

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comigo. Estou sempre alerta para receber tudo quanto Ele
tem para me comunicar.
Com isso, poderemos descansar, confiantes em que
deixamos aberto dentro de nós um ponto bem desperto pa­
ra receber qualquer comunicação necessária para o nosso
bem. Não podemos permitir-nos excluir Deus de nossa
vida das dez da noite às sete da manhã, ou da meia-noite
às seis. Necessitamos de Deus quando dormimos, senão
mais, pelo menos tanto como quando estamos acordados.
Por isso não devemos esquecer Sua presença quando vamos
dormir. Devemos lembrar-nos conscientemente de que so­
mos um com o Pai, dia e noite. Isto nos torna receptivos
e suscetíveis àquela Palavra que é viva, penetrante e eficaz.

ORANDO COM AS FACULDADES DA ALMA


Êste Deus de que estamos falando é a mesma Cons­
ciência divina primária. Começa a operar dentro e através
de nós desde o momento em que voltamos nossa atenção
para dentro de nós mesmos em estado de receptividade.
Quanto mais cedo aprendermos a orar sem palavras e sem
pensamentos, em estado de receptividade interna profun­
da, tanto mais cedo verificaremos que êste Deus está sem­
pre presente e em permanente atividade. Até então, va­
mos deixando-0 de lado, por não estarmos em estado de
escuta e em sintonia com Êle.
Quando digo que precisamos orar sem palavras e sem
pensamentos, não estou querendo dizer que não precisamos
preparar-nos para isso, reconhecendo, como estamos ago­
ra, com o auxilio desta Carta, a graça, de Deus, Sua pre­
sença, Seu poder. A parte preliminar de nossa prece é êsse
reconhecimento consciente, pois a iniciamos pensando pro­
fundamente na graça de Deus, na Sua presença, no Seu
poder. Isto, porém, é só o início da prece, quando estamos
preparando a base na qual podemos nos apoiar quando es­
tamos em atitude de auscultação.
Tendo estabelecido em nossa consciência êsse estado
preliminar de oração, poderemos agora cessar de pensar,
entrando a escutar, entrando no estado de oração prò-
priamente dito. E o que estivermos ouvindo internamente

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poderá não ser uma palavra falada, mas, na realidade,
será algo que nos dá a certeza da presença de Deus, da.
Sua graça. Algumas vêzes, chega em palavras e pensa­
mentos; outras vêzes, como impressões, ou apenas como
uma sensação interna de relaxamento ou liberdade. Âs
vêzes nossa face expressa um sorriso. Parece não ter sig­
nificação, mas há nêle uma sensação de paz.
No momento em que nos sentimos uma confirmação
interna, estamos recebendo uma resposta à nossa prece.
Daí por diante, bastar-nos-â ficar atentos ao desabrocha-
mento da harmonia em nossa experiência, o que poderá
levar um dia, uma semana, um mês ou um ano. Tudo de­
pende de quanta macega precisa ser capinada ou de quan­
tas florestas devam ser derrubadas. Muitos de nós
estamos perdidos em espêssas florestas de superstição,
florestas de ignorância quanto à natureza de Deus e à
maneira como Êle trabalha. Quando estas coisas são vis­
tas com clareza e superadas, verificam os que a harmonia
começa a manifestar-se em nossa vida.
Temos acesso a Deus, a Consciência divina, que é a
nossa consciência individual, somente pela nossa auscul-
tação interna, por meio da meditação, convidando-a a der­
ramar-se em nós e através de nós. Não temos acesso a
Deus através de nossa mente. Só podemos alcançar a Deus
através de nosso aparelho auditivo interno, e não pelo ou­
vido externo.
Temos olhos e não vem os? Temos ouvidos e não ou­
vim os? O Mestre não se referia aos olhos e ouvidos ma­
teriais, mas à capacidade interna da Alma. Acaso possuí­
mos essa faculdade de perceber Deus e não O estamos
percebendo, ouvindo ou vendo? Acaso sabemos que Deus
nos deu a possibilidade interna de nos unirmos a Êle e de
recebermos tudo quanto Êle tem e sermos tudo o que Êle
é? Será que fazemos uso suficiente dessa capacidade ou­
torgada por Deus? As faculdades de nossa Alma são a
vista e a audição internas, o que nos permite permanecer
intemamente em paz.
Para isso, tem que haver a efetiva, real presença de
Deus, temos que sentir-Lhe a presença. Então teremos
algo em que confiar. Precisamos confiar na certeza que

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provém da realização e demonstração da presença dé
Deus - o que torna possível tôdas as coisas. Graças à pre­
sença de Deus podemos aprender a amar nossos inimigos.
Pela graça de Deus, e não por quaisquer de nossas virtu­
des, é que podemos orar por aquêles que nos odeiam e
caluniam. Se realmente quisermos orar pelos nossos ini­
migos, se realmente quisermos perdoá-los, precisaremos,
antes de tudo, conscientizar a realidade da presença de
Deus e, então, por meio dessa Presença, poderemos fazer
tôdas as coisas. Uma vez identificados conscientemente
com a presença de Deus, a Consciência primária, podere­
mos caminhar através das chamas ou entrar na cova dos
leões.

PROVAS DE ELEVAÇÃO DO NÍVEL


DE CONSCIÊNCIA DA HUMANIDADE
Com o advento da imprensa, começou o conhecimen­
to a substituir a ignorância, a sabedoria a substituir o
obscurantismo, a luz a substituir as trevas. A mente da
raça humana tornou-se mais permeável à Consciência
Divina. Seu embotamento e cegueira diminuem na propor­
ção em que é. penetrada pelo conhecimento e pela sabedo­
ria, mesmo quando esta ainda seja a sabedoria espiritual.
Em virtude da natureza daquilo que recebe, fica a mente
imbuída de idéias e ideais de que nunca antes teve conhe­
cimento ou notícia.5
Como exemplo disto, podemos citar o fato de alguns
homens e mulheres importantes e bem sucedidos nas suas
especialidades de trabalho estão dedicando seu tempo no
sentido de conseguir a abolição da pena de morte. Irrefle-
tidamente, poder-se-ia perguntar: «Por que tanto interês-
se por assassinos? Que importa o que lhes aconteça?» Mas
aquêles que estão trabalhando pela abolição da pena ca­
pital não pensam tanto em assassinos ou criminosos quan­
to no efeito que essa pena exerce sôbre homens e mulheres
que, como jurados ou como juizes, têm de sentenciar à
morte o seu semelhante, ou sôbre os que se vêem obriga­
dos a tomar parte ativa na execução dos condenados. Êles
5 - Essa é a principal finalidade da F . E . E . U . ( N . do T . ) .

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se preocupam com a influência disso na mente é na alma
da humanidade.
Quando êsses homens e mulheres que participam da
referida campanha houverem realizado seu intento, as
guerras serão pràticamente eliminadas da face da terra.
E isso graças, tão-sòmente, a êsse ato de revelação à cons­
ciência humana do horror que representa tirar a vida,
mesmo quando em nome da lei. Acaso não será natural que
depois dêsse passo nos sintamos culpados de assassínio
legal quando mandamos nossos filhos para a guerra para
matarem e para serem mortos, cônscios de que não saíram
para lutar por uma causa nobre? O máximo que se pode
dizer é que êsses jovens de dezoito, dezenove e vinte anos
são enviados para a morte a fim de que os homens de qua­
renta, cinqüenta ou sessenta permaneçam em casa, pros­
perem e vivam em paz. Quão forte é a influência hipnótica
no mundo, a ponto de os pais pensarem que é nobre man­
dar os filhos para a guerra!
Ê preciso uma espécie de choque, para que o homem
desperte dêste sonho horrendo. E êle tem recebido tal cho­
que. Nos últimos tempos tem havido várias guerras que
lhe devem dar o que pensar. São notórios os massacres
atômicos de Nagasaki e Hiroshima, os bombardeios de
Berlim, Leipzig, Dresden e Londres, e ainda outros con­
flitos mais recentes, em que devemos refletir. Se a mente
do homem já reflete sôbre estas coisas, é porque tem tido
acesso a conhecimentos que até aqui lhe vinham sendo ne­
gados. A luz da verdade espiritual está irrompendo na
consciência do homem através de muitos e diferentes ca­
nais, transmitindo-lhe um senso de vida mais elevado, o
qual estamos agora vendo manifestar-se sôbre a terra.
A primitiva idéia de segurança social foi uma dessas
manifestações humanas da idéia divina. Ê verdade que se
tem usado e abusado disto como recurso demagógico. Co­
mo em tudo, sempre vamos de um extremo a outro - desde
a falta de cuidado para com aquêles que o necessitam, até
à prestação de assistência mesmo a milionários. Tais coi­
sas, porém, são problemas temporários. Chegará o dia do
reajustamento. A segurança social voltará a corresponder
à sua idéia original. Servirá, então, à sua finalidade, que

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é a manifestação externa no homem do amor ao seu pró­
ximo como a si mesmo. Essa idéia não será sempre explo­
rada como recurso demagógico ou ferramenta política.
Muito do que estamos vendo acontecer no mundo
atual é fruto dessa exploração. Tem-se abusado de mui­
tas form as de legislação social progressista, mas tais
abusos serão corrigidos pela lei de reajustamento, o que
inevitàvelmente ocorrerá graças ao esclarecimento do
homem.
Tôdas as formas de legislação social progressista re­
sultam de nossa consciência individual, que está apare­
cendo como manifestação, expressão e demonstração da
Consciência divina, para que tôdas as avenidas conduzam
ao mesmo objetivo - o Bem, a fim de que nos seja revelada
a natureza divina da vida e de sua formação.
A Consciência abre caminho e aparece como uma Bí­
blia; a Consciência abre caminho aparecendo como idéias
de sindicatos, de segurança social, Liga das' Nações ou
Organização das Nações Unidas.
Tôdas essas provas externas de um nôvo estado de
consciência, mesmo que pareçam ineficientes, como a Liga
das Nações, ou fracas, como as Nações Unidas, não dei­
xam de ser, entretanto, manifestações da Consciência di­
vina procurando abrir caminho. Finalmente, o ideal que
estêve encarnado na Liga das Nações, e está se manifes­
tando nas Nações Unidas, sairá triunfante e atuará em
sentido prático para o bem universal. Então veremos que
nada ocorreu aqui antes que inrrompesse algo do Invisível
para transmitir-nos as idéias e os ideais mais elevados.
Não nos enganemos com as aparências, acreditando
que todos êsses esforços para o bem, tôdas essas evidências
de maior esclarecimento e suas manifestações externas se­
jam produto do acaso, ou que não passam de meras cria­
ções dos homens. Atrás de cada uma delas está a consciên­
cia espiritual do homem procurando abrir caminho. E é
por isto que se pode predizer, sem mêdo de errar, que já
está mais próximo do que pensamos o advento da paz uni­
versal, da fraternidade universal entre os homens - a rea­
lização do ideal de paz sôbre a terra e a boa vontade entre

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os homens. Tudo isso é o reflexo de uma atividade espi­
ritual manifestada em uma atividade humana.
Essa minoria, êsses poucos que recebem essas idéias
divinas e sacrificam sua própria vida pessoal para trazer
essas idéias e ideais de bem universal e espiritual ao co­
nhecimento da humanidade, acabarão fazendo surgir uma
nova civilização.

OPOSIÇÃO À EXPANSÃO DA CONSCIÊNCIA


Êste estado de consciência em expansão sempre en­
contra resistência por parte da maioria. Ê da índole da
maioria das pessoas fazer restrições e estar sempre aquém
dos tempos em que vivem. Ê sempre uma minoria que
lidera a maioria para tirá-la dos erros do passado. Dai a
razão por que precisamos de muito tempo para alcançar
um nível de consciência em que haja suficiente compreen­
são de que devemos ser protetores de nossos irmãos, ou
que devemos amar nosso semelhante como a nós mesmos,
a ponto de realmente fazermos algo neste sentido.
No curto período de nossas vidas, a maioria de nós
já teve oportunidade de ver grandes corporações provi­
denciando hospitais e planos de hospitalização para seus
empregados, bem como fundos de aposentadoria e pensões.
Nos dias de minha juventude não havia nada disso. Essas
coisas vieram a surgir em conseqüência de uma apercep-
ção mais elevada, de uma maior expansão de consciência,
de uma maior sensibilidade em relação às necessidades
alheias. Ê sinal de que somos total e completamente egoís­
tas, e que vivemos exclusivamente para nós mesmos, em
nosso senso humano e obscurecido, mas que quando entra
em nossa experiência a luz do conhecimento, da sabedoria
e das coisas espirituais, começamos a compreender o que
significa sermos responsáveis pelo bem-estar de nosso
irmão.
A vida humana tem progredido não só no desenvolvi­
mento da tecnologia, mas também no que diz respeito ao
aspecto do amor, êsse amor que o homem manifesta como
interêsse pelo bem-estar de seu semelhante e a disposição

18
de assumir a responsabilidade de cuidar daqueles que não
podem cuidar dé si mesmos.

OS INIMIGOS ESTÃO DENTRO


DE NOSSAS PRÕPRIAS CASAS
Não nos devemos perturbar, nem ficar alarmados,
quando virmos os erros que aparecem na esteira dêsses
movimentos de vanguarda, como se houvesse alguma dú­
vida quanto aos seus resultados. Podería haver dúvida se
essas coisas estivessem à mercê do homem; mas não de­
pendem dêle, e sim de Deus, que está forcando a passagem,
porque sempre haverá os que reagem -contra essas mu­
danças. Não obstante, elas se consumarão, alcançando ple­
namente seu objetivo, visto que constituem um desdobra­
mento das atividades do Espírito, què é Deus.
Isto se aplica não só ao mundo em geral, mas também
ao indivíduo em particular. Só pode aplicar-se ao mundo
aquilo que se aplica ao indivíduo. O fato de virmos bus­
cando a verdade durante cinco, dez, vinte ou trinta anos e
ainda não têrmos encontrado a Utopia, êsse estado de
perfeição ideal, não deveria perturbar-nos.
Quando a luz da verdade irrompe pela primeira vez
em nossa consciência, só encontra inimizade dentro de
nós. Os inimigos do homem são aquêles que vivem na pró­
pria casa do homem, isto é, em sua consciência. Portanto,
quando o Espírito, a luz da verdade força sua passagem
para dentro de nossa consciência, necessàriamente terá de
eliminar tôdas as nossas idéias humanas. Muitas delas
constituem aquilo que julgamos ser bom para nós, e por
isso nos rebelamos contra a própria vida espiritual que
procura penetrar em nós.
Se estivéssemos profundamente apercebidos da causa
e finalidade dêsse processo de eliminação de nossas idéias
humanas, não havería luta contra êle, ou, se houvesse,
seria breve; mas, como ignoramos o que está ocor­
rendo dentro de nós, não sabemos que estamos combaten­
do as idéias espirituais e os impulsos mais elevados que
estão chegando à nossa consciência para destruir «o ho­
mem velho».

19
«O homem velho»,6 que tem de «morrer diàriamen-
te»,7 deseja apegar-se à vida. Êsse apêgo ao maná de
ontem é um instinto humano que vem de muito antes de
Moisés. Ê natural apegar-se à vida aquilo que deve
«m orrer».
Foi-nos dito que o mais elevado instinto humano é o
de autopreservação. Entretanto, êste é o maior inimigo de
nosso desenvolvimento espiritual. O instinto humano mais
profundo, o mais forte, é ao mesmo tempo o mais feroz
inimigo de nossa evolução espiritual. Por quê? Que é o
que sempre queremos conservar de nossa personalidade,
senão o que julgamos bom para nós? Se isso não é o que
nos convém, então, que é o que constitui o apogeu do pro­
gresso espiritual? - É não só a «m orte» para o «eu», mas
também a perda do senso humano da vida. O instinto hu­
mano diz: «preserva-te!» O impulso de desenvolvimento
espiritual diz: «perde tua vida!» Ambos estão sempre em
luta um com o outro.
Esta é a razão por que a sociedade combatia os sindi­
catos, se opunha às instituições de previdência social, à
Organização das Nações Unidas e tenta embargar a distri­
buição de alimentos para as nações que dêles carecem. Por
trás dessa resistência está a idéia da autopreservação. Por
que dar nosso dinheiro para aquelas, famílias pobres que
estão além de nossas fronteiras? Por que contribuir para
os fundos de assistência destinados a pessoas da Ãsia, a
pessoas que nem conhecemos? Por que enviar nosso ali­
mento e nosso dinheiro a nações inamistosas?
Na realidade, não existem nações inamistosas. Pode
haver pessoas pouco amáveis em algum govêrno estrangei­
ro, mas não há nações inamistosas. O que cria os obstá­
culos à boa convivência é a idéia da autopreservação. Por
que não conservamos para nós mesmos o que tem os? -
Onde? Em armazéns que precisarão ser queimados?
A idéia da autopreservação persiste, é o inimigo do
progresso espiritual, que nos diz: «Dá, reparte, sacrifica,
ajuda; se necessário, morre até pelo teu amigo. Não há

6 - E f 4 : 22.
7 - 1 C o 1 5: 3 1 .

20
maior demonstração espiritual do que esta.» Os maiores
inimigos de nosso progresso espiritual somos nós mesmos,
tu e eu, porque insistimos em apegar-nos a essas idéias do
passado. Apegamo-nos ao desejo de autopreservação e,
com isso, creamos oposição dentro de nós próprios indivi­
dualmente e coletivamente.
Isto não é dito como julgamento, crítica ou condena­
ção a ninguém, mas para mostrar aquilo que está dentro
de nós e que retarda e até impede a nossa própria expan­
são espiritual, a paz e a prosperidade de todo o mundo.
É dito com a intenção de alertar-nos para que não perca­
mos a paciência com nós mesmos e não esperemos alcan­
çar a Utopia, aquêle estado de perfeição ideal, logo no dia
seguinte, porque dentro de cada um de nós estão êsses
inimigos que ainda precisam ser derrotados: a autopre­
servação e o senso pessoal de «eu» ou «ego» e cada uma de
suas múltiplas manifestações.
Ê evidente que nós não podemos vencê-los, mas, à me­
dida que nos expomos à luz da verdade, absorvendo-nos na
leitura dos escritos místicos e espirituais que existem no
mundo - os quais lemos porque a Luz, que é Deus, já nos
tocou a alma e a mente,8 - essas leituras inspiradas vão
despertando em nosso íntimo algo que lhes responde:
«Sim, sim, sim, é isto mesmo». Então vamos entrando em
sintonia com elas, e sua essência se vai transfundindo em
nós e modificando nossa maneira de sentir.
Esta é a garantia de que fom os tocados pela Consciên­
cia divina, infinita, a qual, pacientemente, está abrindo
caminho e estabelecendo o cêrco decisivo para a vitória
sôbre os nossos inimigos internos. Ela destruirá, por nós,
aquilo que dentro de nós se apega ao maná de ontem, às
idéias e ideais do passado, e extirpará a crença em nós en­
raizada de que a autopreservação é a primeira lei da Na­
tureza, permitindo-nos, assim, compreender que, pelo con­
trário, a mais importante lei da expansão espiritual é o
auto-sacrifício, isto é, o sacrifício do interêsse particular,
pessoal, pelo universal, divino, que é o da fraternidade.

8 - N. do T . - Essa a tarefa que foi imposta à F . E . E . U .

21
O Mestre revelou que de nada nos aproveita orar, pe­
dir, para nós mesmos. Para sermos filhos de Deus, para
que essa Consciência divina efetivamente se expresse em
nós, precisamos orar pelos nossos inimigos. Em outras pa­
lavras: o «eu», o «ego» humano precisa esvaziar-se a tal
ponto que a dedicação do nosso tempo e de nossas orações,
exclusivamente em favor de nós mesmos e de nossos ami­
gos, se amplie e converta num estado de consciência em
que haja o verdadeiro amor-ao-próximo.

A CONSCIÊNCIA EXPRESSANDO-SE
COMO AMOR
Podemos aquilatar até que ponto a Consciência divina
se converteu em nossa consciência individual se observar­
mos em que medida nosso interesse começa a incluir o
mundo, tornando-se menos pessoal, menos restrito à nossa
família e amigos.
Por isso é que aos estudantes que. contribuem re­
gularmente para as atividades de «O Caminho do Infinito»
sempre se recomenda que não reservem todos os seus fun­
dos dè beneficência, qualquer que seja o montante de seus
dízimos, sòmente para o «O Caminho do Infinito», mas
que se lembrem também de distribuir uma parte com as
atividades de outras comunidades de âmbito nacional ou
internacional, o que prova que nossa obra é espiritual e es­
tende-se a tôda a humanidade.9 A Consciência divina, que
aparece como nossa consciência individual, não pode dei­
xar de se mostrar através de nosso interêsse por tudo o
que contribua para a liberdade, a justiça, a equanimidade
e a igualdade para o gênero humano e para todo êste
mundo.
Da mesma maneira, aquêles de nós que estamos em­
penhados numa atividade religiosa que inclui a cura espi­
ritual, estamos contribuindo para o advento de uma nova
civilização. Uns poucos milhares de pessoas podem mudar
a história do mundo inteiro, e transformar o estado de
consciência humana em Consciência divina. A espiritua-

9 - N. do T . - É essa a mensagem da F . E . E . U . sôbre a “ lei do

22
lização da consciência humana será conseguida através de
uma minoria que conhece a verdade, estuda como aplicá-la,
vive-a e observa sua influência exercendo-se primeiro em
caráter individual e, mais tarde, em escala ampla e co­
letiva.
Por trás do mundo físico, ou visível, está aquilo a que
chamamos Deus, ou Consciência divina infinita, fazendo
por se expressar como consciência; individual, que traz à
luz, o amor de Deus e o amor ao próximo. Essa Consciên­
cia primeva infinita, divina, surge sempre onde existe re­
ceptividade. Quando a consciência individual se impregna
com esta Consciência divina, ela se torna divina, e a cons­
ciência humana começa a desaparecer, de modo que o que
resta é sòmente a Consciência divina. Então, finalmente,
alguns, talvez uns «dez»,10 poderão atingir a plenitude da
Consciência divina e levantar o mundo inteiro.
Quando um indivíduo, que vive sua vida de rotina,
como a conhecemos, por qualquer razão se volta para a
vida espiritual, à busca de Deus, não é que êle esteja pro­
curando a Luz, mas a Luz, dentro dêle e sempre ao seu
alcance, é que lhe está atraindo a atenção, ao procurar
irromper em sua consciência, pelo fato de, de uma form á
ou outra, já estar êle preparado para receber seu influxo.
O mesmo acontece em escala coletiva. Esta luz do Sèr
espiritual está abrindo caminho através da consciência
humana de tal form a que, de geração em geração, o estado
de consciência da humanidade vai se tornando cada vez
mais uma transparência, através da qual esta Luz pode
manifestar-se.

(a) Joel

10 - G n 1 8; 3 0.

23
ILÉM DO 1EDPO E DO ESPIÇO
Do livro «A Parenthesis in E ternity»

Como seres humanos, vivemos no passado, no presen­


te e no futuro. O passado foi, e nada mais podemos fazer
dêle. O futuro não chegou, e nada há que o ser humano
possa fazer com êle, a não ser esperá-lo, para ver o que
lhe reserva.
No Caminho Espiritual, nossa atitude para com o pas­
sado e o futuro é modificada, porque compreendemos que
agora estamos construindo nosso futuro. O que nos ocupa
a consciência, neste momento, constitui a semente que es­
tamos semeando, e esta determina a natureza do fruto que
colheremos. Se semearmos para a carne, colheremos cor­
rupção; se semearmos para o Espírito, colheremos vida
eterna.
Em sentido absoluto, não há futuro: o futuro é a cons­
tituição do presente, é o prolongamento do presente no
tempo e no espaço; nosso futuro será êste presente, qual­
quer que seja, a estender-se através do tempo e do espaço.
Se a vida é consciência, as sementes que semearmos,
em nossa consciência, determinarão a natureza da safra
que teremos na extensão do presente, chamada futuro. Não
há futuro separado dêste minuto: o futuro é a projeção
dêste minuto, e sua natureza terá que ser a mesma dêste
minuto. Se agora permanecermos no Verbo e deixarmos
que o Verbo permaneça em nós, teremos abundante co­
lheita espiritual, divina, harmoniosa.
O homem está sempre semeando as sementes de seu
futuro. A cada minuto está construindo o seu amanhã, o

24
que terá no próximo ano e no outro, e garantindo o que
possuirá num porvir ainda mais distante.
Edificam os nossa vida na consciência, segundo a na­
tureza dos nossos pensamentos. Aquilo que neste momento
incorporamos à nossa consciência, projeta-se com ela atra­
vés do tempo e do espaço, levando consigo a qualidade da­
quilo que lhe infundimos neste minuto.
Se constantemente conscientizarmos de que Deus é
Lei e é Espírito, e que portanto a Lei é espiritual (e somos
governados por le i), isso se converterá em lei para a nossa
vida neste presente momento e para o futuro, porque a
nossa vivência dêste minuto estender-se-â através do tem­
po e do espaço. Tudo o que existe na vida é nossa cons­
ciência desdobrando-se no tempo e no espaço. Se ela, nossa
consciência, cessasse de funcionar, não existiríam para nós
o tempo e o espaço.
O fator tempo não participa das atividades de Deus.
No Reino espiritual não existe tempo, há somente o agora,
êste momento atemporal, contínuo. Graças à continuidade
dêste momento, tudo o que acontece agora acontecerá no
chamado futuro. Se no próximo mês a folhagem das árvo­
res do parque ficar amarela, marrom ou vermelha, será
devido ao processo que neste momento está se operando
nessas árvores. A queda das folhas, no outono, se deve ao
que ocorreu nas árvores antes dessa estação. O que sucede
na consciência de alguém neste momento, determina quais
serão as suas condições daqui a uma hora, um dia ou uma
semana. Deus está operando neste minuto, e por isto acon­
tecerá algo no minuto seguinte, pois êste minuto é sempre
a continuação do minuto anterior.
Qualquer que seja a atividade do Espírito que esteja
se processando agora, ela determina a atividade que have­
rá no universo daqui a um segundo. Deus não pode iniciar
uma ação. Não pode fazer agora com que duas vêzes dois^
sejam quatro, e ainda que quisesse, não podería fazer com'
que fôssem cinco também. O que é duas-vêzes-dois, está
determinado desde o comêço dos tempos.
Deus é , e a única vez que Êle é, é agora. Deus é sem­
pre agora, e êste «ser» de Deus é incessante, na continui­
dade do agora. O reino de Deus é sempre agora: não há,

25
nêle, «antes» nem «depois»; não há, por ex., quinze minu­
tos «antes» nem quinze minutos «depois».
Todo momento que desperdiçamos a viver no passado,
é um momento de vida sem Deus. Deus nada pode fazer
quanto ao passado, porque Deus não está no passado:
Deus está aqui, Deus ê agora. O lugar onde estou é terra
santa - agora. Se ocorrer alguma coisa no que chamamos
«futuro», terá que ser como uma continuação da presença
de Deus agora. O único meio de nos colocarmos sob a lei
de Deus, é abandonar tanto o passado quanto o futuro e
nos harmonizarmos com Deus aqui e agora, pela compre­
ensão espiritual de que Êle é a única Presença, a única
Ação, o único Ser.
Viver assim, é viver conscientemente em «terra santa».
Se em algum momento nossa falta de compreensão
disso nos conduzir ao cárcere ou a um hospital, ou nos
induzir ao pecado, à doença ou à miséria, então o remé­
dio será, no mesmo instante em que isso ocorrer, procurar­
mos atualizar-nos com Deus, conscientizando-nos de Sua
onipresença.
Nada sabemos do amanhã, nem podemos fazer sequer
a mais pálida idéia do que acontecerá amanhã. Se julga­
mos sabê-lo, estamos limitando nosso amanhã ao que co­
nhecemos do ontem e do hoje - e não estamos abertos ao
conhecimento direto de Deus.
Deus não opera amanhã. Mas a influência de Deus so­
bre o amanhã do homem depende da ação de Deus agora,
porque Deus age sòmente nesta fração infinitesimal de se­
gundo, e Sua influência se estende a tôdas as frações de
segundo que se seguem a esta. Mesmo Deus não pode fazer
com que um botão de rosa desabroche plenamente em pou­
cos minutos. Deus trabalha agora. Nós, como somos parte
do funcionamento de Deus no agora, nos desdobramos de
acordo com a natureza de nosso ser, mas não podemos
fazê-lo sem Deus. Não podemos conseguir que Deus faça
isto ontem nem amanhã. O «amanhã» de Deus é o desdo­
bramento do agora. Deus é Deus agora. Deus é eterno.
Opera sempre agora, nunca no passado nem no futuro.
Quando vivemos no futuro, estamos vivendo uma vida tão
sem Deus como se estivéssemos a viver no passado.

26
Todavia, se estivermos vivendo a vida mística, tere­
mos um período de ação de graças, quando nos recolher­
mos, à noite, agradecendo a Deus pela form a como Êle «di­
rigiu» êste universo nas últimas vinte e quatro horas,
permitindo que o sol e a lua despontassem nas horas certas,
e as chuvas e os dias ensolarados viessem nas estações
próprias, e as marés chegassem e se fôssem no devido
tempo. Por tamanha exatidão e equilíbrio, merece Êle um
pequeno crédito nosso. Podemos, pois, confiantes no ama­
nhã, dormir tranqüilos, na certeza de que o Senhor con­
tinuará cuidando de tudo.
E quando acordarmos, pela manhã, não tentaremos no­
vamente arcar com tôda a responsabilidade na direção
dêste universo. Lembrando-nos de que Deus, o Senhor, fêz
tudo com precisão no dia anterior, sem nossa ajuda, dei­
xaremos ao Seu cuidado o nôvo dia.
O místico não se preocupa com o que possa acontecer
a êste mundo. Êle contempla a vida e observa Deus em
ação. Se quer apreciar o nascimento do sol, levanta cedo,
e sabe que está testemunhando uma das atividades do
Princípio que governa êste universo.
Quando nos convertemos em expectadores e observa­
mos o que Deus faz a cada hora, superamos a crença
egoística de que êste mundo é nosso e que somos responsá­
veis por êle. Então já não tememos «o homem cujo fôlego
está no seu nariz»,1 com a mesma confiança com que fo­
mos dormir à noite, e entregamos também o nôvo dia aos
Seus cuidados. E aprendemos a manter-nos um pouquinho
à direita de nós mesmos, observando quão maravilhosa­
mente Deus dirige êste universo e como provê, de antemão,
a tôda necessidade. Percebemos a glória dêste universo
quando contemplamos a atividade de Deus, Deus em ação.
Isto é ser testemunha. A testemunha não toma parte
ativa no que vê. Testemunha é aquele que presencia e
observa algum acontecimento. Isto é o que som os: teste­
munhas de Deus. No comêço, é difícil praticar êste prin­
cípio. Habituar-nos a confiar a Deus nossos dias com a
mesma fé com que Lhe confiamos nossas noites - leva tem­

1 - Is 2 :2 2 .

27
po! Alguns não confiam suas noites a Deus a não ser quan­
do o cansaço não lhes permite ficar acordados!
Aqueles dentre nós que meditam muito durante a
noite, e comungam com Deus nessas ocasiões, não o fazem
com o propósito de ajudar a Deus. Meditamos porque gos­
tamos de contemplar as atividades de Deus, mesmo em
meio à noite, pois file faz tantas coisas maravilhosas du­
rante a noite como durante o dia.
«Agora é o dia da salvação».2 Agora é o único tempo,
agora é o tempo perfeito. Agora Eu sou. «Amados, agora
somos filhos de Deus.»3 Agora - não amanhã, não quando
estivermos mortos, mas agora! Agora vivemos, nos move­
mos e temos nosso ser na Consciência-Cristo.
Tôda a vida se afirma no agora. Enquanto vivermos
no nível da vida humana, a lei de o-que-sem eares-isso-co-
Iherás atuará sôbre nossa vida, o que quer dizer que co­
lheremos aquilo que estivermos semeando agora.
A natureza da sementeira determina a natureza da
safra, mas a safra do futuro não poderá ser mais harmo­
niosa que a semeadura do presente. O fruto espiritual que
colhermos amanhã, será o produto da semeadura espiri­
tual dêste momento, e se agora não semearmos espiritual­
mente, mais tarde não haverá frutos espirituais. Todos os
efeitos cármicos podem ser anulados a qualquer momento,
porque êles só podem perdurar enquanto as sementes cár-
micas operam. Logo que saímos da esfera da consciência
material, em que semeamos materialmente, deixa de haver
colheita material, porque não estando nessa esfera, já
estamos «m ortos» para ela.
No instante em que «morremos» para o passado, re­
nascemos para êste eterno agora. Em nosso renascimento
para o Espírito, nada levamos do passado. Somos como a
borboleta, que nada mais tem da lagarta que foi. Após
construir seu casulo e nêle passar longo período de quie­
tude, isolada do mundo exterior, a lagarta morre e nasce
a borboleta, completamente esquecida do estado de larva
por que passou.

2 - Co 6: 2.
3 - Jo 3 : 2.

28
No momento em que nos identificarmos consciente­
mente com a presença de Deus, estaremos «m ortos» para
o nosso materialismo. O nascimento de Cristo é um fato
que pode ocorrer muitas vêzes por dia em nossa meditação,
e cada vez que isto aconteça, será varrida de nossa cons­
ciência alguma parte do passado humano que se tenha
introduzido nela.
Precisamos dispor de períodos em que possamos viver
conscientemente como se estivéssemos olhando uma longa
linha reta como que formada pelo alongamento dêste
agora, dêste momento atemporal, sem nada vermos do
passado e sem nos interessarmos pelo futuro, mas em
união consciente com o Pai.
Quando sentimos a confirmação desta união em nosso
silêncio, é porque o Pai está trabalhando conosco, e então
poderemos seguir avante em Sua obra e fazer, se neces­
sário, planos para a próxima semana ou para o próximo
ano, ou ainda para daqui a dez anos, se após a meditação
nos fôr dado fazê-los. Êsse planejar, porém, não cria
preocupações com o futuro: é uma ação do presente que
se estende naturalmente ao porvir.
Em certo sentido, é verdade que nós não fazemos pla­
nos, mas em outros, não. Quando me vem, por exemplo, a
intuição de que devo dar aulas ou proferir palestras em
várias partes do mundo, esta idéia está se apresentando à
minha consciência em dado momento presente, e sua rea­
lização pode ser considerada numa continuação dêsse
presente, embora envolva o futuro. Neste caso, poderei
elaborar planos que incluam as providências necessárias.
Em tal sentido é que fazemos planos para o futuro, mas
tais planos resultam do trabalho de Deus em nós, no
agora, ao revelar-nos o que devemos fazer aqui ou ali em
determinada época. Logo que nos vem essa convicção
interna, fazemos todos os planos, mas isto não é planeja­
mento humano: são meras providências humanas tomadas
em obediência ao plano divino que nos foi revelado.
Preocupar-se com o passado, afligir-se ou condenar-se
pelo que se tenha feito, é desperdício de tempo, porque
Deus não está no passado. E se Deus não está no passado,
nós também podemos afastar-nos do passado. Além disso,

29
não precisamos interessar-nos pelo futuro, salvo no que
respeita aos planos que rèsultem naturalmente das idéias
que nos tenham sido espiritualmente inspiradas sôbre o
que deverá ser feito.
Quando dominamos e vivemos o princípio do viver
sempre no eterno agora, todo momento de nossa vida se
reveste de vital importância para nós. Depois que apren­
dermos esta lição, jamais ligaremos importância aos dias
que passaram. Mesmo que já tenhamos realizado alguma
coisa muito importante, não ficarem os descansados e sa­
tisfeitos com isso porque o futuro nada nos trará senão em
conseqüência do que fizermos hoje. No presente é que se
constrói o futuro. O passado é passado, e nada se pode
fazer com êle. Mas se pode fazer muito no presente ime­
diato, que governa tudo o que chamamos futuro.
Uma realização espiritual neste momento produz har­
monia que poderá manifestar-se amanhã ou no próximo
ano; poderá movimentar fôrças capazes de produzir efeitos
tangíveis daqui a um ano. A verdade realizada neste ins­
tante está preparando o caminho para a nossa próxima
encarnação e determinando em que plano, ou nível, será.
Se estivermos satisfeitos com tudo o que conseguimos
durante nossos anos de vida neste mundo; se nos interes­
samos por coisa alguma que esteja além dos limites desta
existência, ou se estivermos convencidos de que a vida se
reduz a êste breve período que passamos na terra, não
precisamos prestar atenção a tudo o que aqui foi dito.
Entretanto, se nosso estudo da sabedoria espiritual,
nossa meditação e contemplação nos convenceram de que
a vida não começa com o nascimento e não terminará com
a chamada morte, então deveremos, necessàriamente, nos
interessar tanto pela vida que teremos daqui a um século
quanto pela que levaremos no próximo ano. É por esta
razão que precisamos chegar a viver sempre plenamente
cônscios da tremenda importância do agora na vida, por­
que não poderemos moldar sequer o nosso próximo ano
de vida, a não ser na base do que estivermos «moldando»
neste momento, pela nossa conscientização.
A vida, ou consciência, é uma experiência contínua, e
aquilo com que nos identificamos agora é o que determina

30
a natureza, o estado e o grau de nossa consciência em
todos os amanhas com que possamos sonhar. Nunca vive­
mos em outro tempo senão neste momento, neste agora.
Todos os momentos de nossa vida têm sido «êste momen­
to». Não podemos viver antes nem depois «dêste momento».
Temos que viver a partir dêste momento. Quando compre­
endermos que a profundidade da nossa consciência e a
altura da nossa realização espiritual são a medida da nossa
paz enquanto repousamos e dormimos durante a noite,
bem como a medida da saúde e harmonia que gozaremos
amanhã, então nos sentiremos na obrigação de viver a
todo momento na conscientização do agora, e a percepção
consciente dêste agora, determinará todos os «apora» fu­
turos.
A harmonia de nossa vida neste mês é o resultado
da profundidade da nossa visão espiritual no ano passado,
de nossas horas, dias, semanas e meses de estudo, medita­
ção e preparação. Todos os nossos momentos de prepara­
ção no ano passado resultaram na harmonia que estamos
experimentando êste ano. E êste processo continuará para
sempre, eternamente, - não sòmente durante esta vida,
mas no decurso de tôdas as vidas que hão de vir.
Foi para demonstrar que a vida é eterna e imortal,
que o Mestre apareceu a seus discípulos após a Crucifica­
ção. Sua vida, após a Crucificação, era a resultante de to­
dos os momentos da vida que levara na terra. Êle levou
consigo tudo o que havia alcançado na terra. A grande
lição da Ressurreição quanto ao que concerne a nós, foi
a prova de que a vida continua no além-túmulo.
Resta a pergunta: qual será a natureza da vida no
além-túmulo? - Isso, para o mundo, é problema muito
sério, para o qual êle não tem resposta. Ninguém sabe
qual a form a que a vida assumirá no próximo plano de
experiência. Não obstante, os místicos revelam que nossa
vida após a transição chamada morte será o resultado do
que era antes dessa transição, e que o grau de consciên­
cia espiritual com que iniciaremos nossa nova experiên­
cia no além será o resultante de cada parcela de conheci­
mento espiritual que tenhamos assimilado em nossa exis­
tência terrena.

31
O estudante que passe com notas excelentes no 2?
Ciclo do Curso Colegial, não precisará consultar um adivi­
nho para saber qual será o seu aproveitamento no Curso
Superior. Provàvelmente será de alta ordem, porque o co­
nhecimento e os hábitos de estudo adquiridos no Curso Se­
cundário lhe servirão de base para dominar conhecimentos
superiores. Do mesmo modo, o grau de consciência espi­
ritual já alcançado é o que levamos conosco no curso dos
tempos, de ano a ano e, eventualmente, para além do mo­
mento dé nossa transição dêste plano para o seguinte.
Poderemos reconhecer a verdade disto sòmente se
compreendermos que o grau de realização consciente em
que nos encontramos é conseqüência do estudo e meditação
que fizem os nos anos anteriores. Graças à nossa disposi­
ção de trocar alguns dos nossos prazeres e proveitos ma­
teriais pelo desenvolvimento de nossa Alma - conservando
nosso pensamento fixo em Deus e habitando no esconderi­
jo do Altíssimo - , é que tem havido pelo menos um certo
desenvolvimento em nossa consciência. E êste desenvolvi­
mento é responsável pelo nível de harmonia, paz, felicida­
de e abundância que agora estivermos manifestando e des­
frutando. Pela graça de Deus nos foi dado alcançar maior
luz espiritual, e agora nos encontramos em um estado de
consciência que produz alguns frutos espirituais.
Será sempre assim. A saúde, o sucesso e os frutos que
teremos êste ano ou no próximo, podem ser medidos pelo
degrau de atenção que estamos prestando ao nosso desen­
volvimento espirítual|Que insensato seria pensar que tudo
o que estamos fazendjo seja apenas tornar a vida um pouco
mais confortável poi^ dez, vinte ou trinta anos, e que isso
acabará na sepultura, que tudo isso um dia se destroçará
de encontro a um túmulo. Se dermos guarida a tal pensa­
mento, isso será o que estaremos atraindo sôbre nós. *
Agora, agora, agora somos filhos de Deus, não ontem
nem amanhã, sòmente agora! Agora, «Eu e o Pai somos
um», e êste agora que estamos vivendo é uma experiência
contínua, porque o que quer que sejamos agora, o seremos
infinita e eternamente, e se somos um com o Pai agora, e
se tudo o que o Pai tem é nosso, agora, temos que viver
exclusivamente neste agora.

32
Segundo o relógio, faz mais ou menos dez minutos que
começamos a considerar todo êste assunto - «o agora».
Estamos vivendo dez minutos atrás ou estamos vivendo
agora? Não é êsse agora de dez minutos atrás o mesmo que
continua até êste momento? e não estamos agora num
grau de consciência superior àquele em que estávamos dez
minutos atrás? Dez minutos de vivência no agora do Es­
pírito têm que produzir um estado de consciência mais
profundo e mais rico. Entretanto, se êsse viver consciente
não houvesse começado agora de dez minutos antes, onde
estaríamos nós dez minutos depois? Estaríamos no mesmo
nível de consciência onde estávamos dez minutos atrás;
mas não estamos. Temos mais verdade, estamos mais des­
pertos, mais conscientemente vigilantes internamente, por­
que começamos com o que tínhamos em casa (isto é, em
nossa consciência) dez minutos atrás e construímos sôbre
essa base.
Que foi o que construímos sôbre essa base? - O inces­
sante A gora! A lembrança consciente do que somos agora,
de quem somos agora; a lembrança consciente, agora, da
natureza da vida e da lei e do Espírito.
O que nos ajuda em todos os setores de nossa exis­
tência, é essa compreensão da natureza da consciência, a
compreensão de que a consciência só é consciente neste
agora, neste momento fora do que chamamos tempo. Quan­
do contemplamos as árvores, verificam os que elas vivem no
agora, e não podem viver no ontem. Se houver um amanhã
para elas, êste tem que ser uma continuação do agora.
Portanto, só existe uma próxima vida para alguém oü para
alguma coisa como uma continuação do agora.
«Estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem
anjos, nem potestades, nem coisas presentes, nem futu­
ras, nem potências, nem o que há nas alturas, nem nas
profundezas, nem criatura alguma será capaz de nos sepa­
rar do amor de Deus, que está em Cristo, nosso Senhor.»
(Romanos 8:38,39)
Nem a vida nem a morte podem separar-nos da cons­
ciência do viver no agora, na eternidade dêste momento
«vivo» ou «vivente», que é o único que devemos desejar
viver. O viver agora é uma experiência contínua que se

33
estende além dos confins da carne. A Vida Se manifesta
agora. Isso afasta de nossa consciência o senso de separa-
tividade expresso nas palavras «eu», «tu», «você», «êle»
ou «ela», e permite nos trasladarmos do finito e mortal
para o Infinito e Eterno. Quando usamos êstes pronomes
pessoais, quer consciente, subconsciente ou inconsciente­
mente, nosso pensamento volta ao espaço entre o berço e a
tumba, aos dias que medeiam entre o nascimento e a mor­
te, e ficamos presos às aparências finitas - mas, se viver­
mos apercebidos do fato de que precisamente onde se nos
apresentam tais aparências existe somente a Consciência,
que está sempre Se expressando a Si mesma, a Vida que
está sempre Se manifestando e vivendo a Si mesma, então
teremos transcendido as form as finitas e estaremos cons­
cientemente integrados no Infinito e no Eterno.
Enquanto pensarmos em nossa vida, em nosso corpo e
em nossos negócios, e em como poderemos m odificá-los ou
melhorá-los, estaremos vivendo dentro dos limites do pa­
rêntese, do finito. Mas no momento que percebemos o
círculo na sua integridade, deixamos de confinar a Vida
num parêntese. Ê possível que, nesse momento, estejamos
contemplando a Vida desde o ângulo dêsse parêntese,
mas, pelo menos, estaremos testemunhando a manifesta­
ção da Vida que não tem comêço e não terá fim, e assim
estamos desfazendo êste parêntese.
Nenhuma verdade espiritual correspondente à vida é
autêntica, real quando vivida dentro dêsse parêntese. Te­
mos, pois, que ultrapassar essa limitação, para compre­
ender que em todo momento a Consciência está se
revelando como forma. Se pensarmos na Vida como for­
ma, estaremos dentro do parêntese, mas se virmos a
form a como expressão da Vida, teremos que admitir que
a Vida continua indefinidamente, e perdurará por tôda a
eternidade, mesmo que tenha de crear novas formas de
hora em hora.
Se tu, e eu, ainda pensarmos que estamos expressan­
do amor, estaremos ainda nos mantendo dentro do pa­
rêntese. Se, pelo contrário, compreendermos que o Amor
está Se expressando, que a Vida está Se manifestando e
formando a Si mesma, que a Consciência está desabro-

U
chando e Se revelando numa infinita multiplicidade de for­
mas, então estaremos sendo levantados e removidos para
fora do parêntese, para dentro da Eternidade. A Eter­
nidade nunca termina. Na Eternidade não há passado nem
futuro: A Eternidade é um contínuo agora.
Através da meditação é que devemos voltar para a
Eternidade, porque quando meditamos, abrimo-nos ao In­
finito, atentos e receptivos à Sua manifestação, ao apareci­
mento da Consciência a expressar-Se como forma, seja
qual fôr a form a como Se nos apresente no momento.
Quando em meditação, ainda nos achamos dentro do pa­
rêntese das nossas limitações, mas, na verdade, já as es­
tamos ultrapassando, atingindo as profundezas de nossa
Consciência, de onde podemos expandi-la em mais e maior
Vida, Amor, e Verdade manifestados no que parece ser
o parêntese mas que está quebrando ràpidamente os im­
pedimentos dêsse parêntese. Situados, assim, no que
parece finito, estamos voltando a viver conscientemente no
Infinito, no Eterno. Êsse Eterno está funcionando sempre
agora; vivendo sempre nesse agora é que podemos estar
voltando para a Eternidade, e êste voltar-se para a Eterni­
dade favorece-nos o viver na continuidade do agora.
à medida que apanhamos a verdadeira significação do
agora, e passamos a viver nêle, então repentinamente des­
pertamos e compreendemos que o que havíamos estado
tentando fazer, antes disso, era viver três vidas ao mesmo
tempo - a passada, a presente e a futura. Tínhamos estado
pensando nas coisas boas do passado, e em conseguir mais
no presente e no futuro. Pudemos constatar que tudo isso
não passa de um meio de nos separarmos de Deus. So­
mente vivendo no agora é que somos filhos de Deus; so­
mente no agora é que o EU está conosco, e êsse EU nunca
nos deixará nem nos desamparará. O EU é o pão da vida
agora.
Então tudo volta à eternidade do agora, vivendo no
agora, e já não mais procurando prender-nos aos trapos
com que vestíamos ontem. Se pudermos desinteressar-nos
dos nossos ontens e despreocupar-nos dos nossos amanhãs
para vivermos no agora, em meditação, uma experiência
espiritual, e então continuarmos a viver na compreensão

35
de que a graça de Deus está operando agora, sempre agora,
converter-nos-emos no fermento que irá levedando a mas­
sa da consciência humana até iniciar nela um processo de
crescimento consciente capaz de conduzi-la para fora do
parêntese.

36
EXPANSÃO DA CONSCIÊNCIA COMO BASE
PARA A HARMONIA DO ANO-NÔVO

Carta mensagem de janeiro de 1970

No início de qualquer ano-nôvo, sempre ouvimos tôda


sorte de predição: predições sôbre a marcha dos negócios,
as possibilidades de paz, os acontecimentos políticos, o fun­
cionamento do govêrno. Naturalmente é possível conjetu-
rar ou predizer acontecimentos à base de cartas astroló­
gicas. Via de regra, essas previsões se cumprem em 10,
12 ou 15% das vezes, embora muito poucas tenham alguma
base válida.
Existe, porém, um meio de profetizar que se baseia
na verdade. Por exemplo: Há algum tempo se fêz uma
pesquisa da opinião pública dos EE.UU. sôbre o que mais
podería contribuir para a paz. E o interessante e surpre­
endente é que 38% dos entrevistados - um número con­
siderável - acharam que a união de todos em nome de
um único Deus contribuiría mais para assegurar a paz
do que uma maior reserva de bombas, armamentos e mais
conferências de desarmamento. Isso denota o comêço de
uma mudança de consciência, e é nesta base que se podem
fazer profecias válidas. Com 38% da população concor­
dando em que os valores espirituais farão mais pela paz
do que bombas, podemos ter certeza de que se está pro­
duzindo uma mudança de consciência que acabará por
trazer a paz.
Quase tôdas as guerras que não foram originadas pela
competição comercial, o foram pelas discriminações religio­
sas. Há entre os grupos religiosos aquêles que consideram
os hebreus o povo escolhido de Deus, ou que o único Deus
verdadeiro é o dos católicos, ou que os protestantes são os

37
que se acham no caminho. Há sempre a crença de que exis­
te um Deus para cada religião, e cada qual considera seu
Deus o único verdadeiro. Entretanto, quando 38% das
pessoas entrevistadas nos EE.UU. estão acordes em que
existe sòmente um Deus, é porque as prevenções, o fana­
tismo e as querelas religiosas já estão sendo eliminadas,
restando apenas a questão da form a do culto: se deve
entrar no templo com chapéu ou sem chapéu, se com
sapatos ou sem sapatos. Coisa sem importância. O que
importa é o reconhecimento d% que, quer sejamos ociden­
tais ou orientais, brancos ou negros, judeus ou gentios, o
nosso Deus é o mesmo. Então teremos universalismo.
A compreensão de que existe sòmente um Deus muda­
rá a natureza do indivíduo, mudará a natureza das nossas
relações, uma vez que terá sido eliminada a causa da
maior divergência entre os homens - a crença de que tu
tens um Deus e eu tenho outro.
As previsões de paz, para serem dignas de fé, deve­
rão estar baseadas no reconhecimento de uma mudança no
estado de consciência da humanidade. Se não houver mu­
dança de consciência, não poderá haver mudança efetiva
nas condições externas de nossa vida. Se na entrada de
um nôvo ano a nossa consciência continuar a mesma que
tínhamos no anterior, poderemos estar certos da repetição
das mesmas experiências dêsse ano; mas, se nossa cons­
ciência se tiver aprofundado e enriquecido, então o nôvo
ano será mais rico.

OS FRUTOS DO RECONHECIMENTO DE DEUS


COMO CONSCIÊNCIA INDIVIDUAL
Tudo o que nos acontece é resultado de projeção da
nossa consciência. O tempo e o espaço não influem nos
acontecimentos. Tôda ação é projetada pela consciência,
individual e coletivamente. Somos afetados pela nossa
consciência, ao trazer-nos de volta as experiências daquilo
que ocorre com o conseqüência das ações que projeta.
Por exemplo: que é o que acontece se aceito a revela­
ção metafísica e mística de que Deus como consciência
individual, isto é, a revelação de que Deus constitui minha

38
consciência, o que equivale à declaração do Mestre, de que
« 0 reino de Deus está dentro de vós» ?* Imediatamente co­
meço a perder a fé em pessoas ou coisas externas, começo
a perder meu senso de dependência em relação a elas.
Começo a compreender que todo e qualquer poder que
possa ser exercido em benefício de minha vida tem que
fluir de dentro de mim mesmo.
Até certo ponto meu olhar se volta, agora, do mundo
para o reino de Deus, para o poder, o amor e a Graça, que
sempre estão dentro de mim. Ao mesmo tempo, meu mêdo
do mundo externo - m icróbios, maus pensamentos e tôda
a sorte de forças de fora - diminui. Mesmo que estivesse
em meio a uma guerra, eu me sentiría em segurança,
porque o reino de Deus, o reino do verdadeiro poder, está
dentro de mim, e sei que ainda que caíssem mil à minha
esquerda e dez mil à minha direita, isso não podería atingir
minha morada, porque, me encontro identificado com a
realidade de Deus, que é Onipresença, Onipotência, Onis-
ciência e nela descanso, aqui onde me encontro. Na guerra
ou na paz, enfêrmo ou com saúde, em quaisquer circunstân­
cias, eu estaria ancorado na presença e poder de Deus, que
constitui meu verdadeiro ser.
Estabelecido nesta consciência, ou conscientização, eu
podería profetizar que o meu ano-nôvo seria de menos con­
flitos ou desavenças com o meu próximo, menos pecados
ou vícios, menos doenças, porque vivendo neste estado de
consciência, apercebido da presença e poder de Deus, o
mal não me podería influenciar. Em Sua presença, há ple­
nitude de vida, há integridade e perfeição. Portanto, minha
consciência determinaria a natureza do meu ano-nôvo ou
ano-bom - não em cem por cento, porque ainda não atingi
cem por cento da Conscientização da Presença de Deus,
mas até o ponto em que atingi essa Consciência, ela pro­
duzirá paz e harmonia em minha vida.

TORNANDO-NOS UMA SOCIEDADE


DE AMIGOS E BONS VIZINHOS
Nas relações de todos os que tivessem aceitado um
único Deus, onipresente, onisciente, onipotente, havería
1 - L c 1 7 :2 1 .
39
paz, haveria harmonia, havería amor, porque cada um
amaria tanto a seu próximo como a si mesmo. Qualquer
discórdia ou desarmonia que se manifestasse na experiên­
cia da sua vida, seria conseqüência de alguma crença uni­
versal que ainda não superaram completamente.
Posso prever o bem para mim mesmo na medida em
que minha consciência se tenha aprofundado e enriqueci­
do em sua identificação com a realidade de Deus em Sua
onipresença, onisciência e onipotência. O que eu der, a
mim retornará. O pão que eu lançar sôbre as águas, a mim
voltará. Por isso, à medida que individualmente conscien­
tizo que Deus constitui a consciência da humanidade -
amigos e inimigos, judeus e gentios, brancos e negros,
orientais e ocidentais; e, na medida em que posso perceber
a unidade da Consciência, estou amando o meu próximo
como a mim mesmo; estou reconhecendo que tudo o que
Deus é para mim, o é também para o meu próximo e, por
conseqüência, estou dando amor, verdade e contribuindo
para as boas relações entre vizinhos. Em parte, isso é o que
retornará a mim.
Por ter sido ignorado êste princípio durante tantos
anos, torna-se necessário renovar essa conscientização to­
dos os dias, isto é, de Deus como a vida e o ser da huma­
nidade. Ã medida que form os adotando esta atitude em
nosso viver, nos iremos tornando uma sociedade de amigos
e bons vizinhos, uma sociedade de pessoas conscientes da
presença de Deus, uma sociedade de pessoas que amam a
Deus. Quando tantos quanto 38% da população dos
EE.UU. concordam em que existe um só Deus, tem que
ser óbvio que êste senso da unicidade de Deus está ganhan­
do terreno. E então se pode prever com certeza o advento,
cada vez mais próximo, de uma paz permanente sôbre a
terra, porque estamos chegando cada vez, mais e mais
perto da conscientização unida de que há um só Deus.
Nestes últimos dez anos se tem verificado constante
aumento de interêsse pelo estudo da cura espiritual, e isto
é outro sinal de manifestação da unidade da consciência do
gênero humano. Pouco importa se a cura espiritual é con­
siderada do ponto de vista de uma determinada doutrina
ou de outra. O importante é que as consciências estão se

40
unindo na verdade de que Deus é o único Poder que se deve
reconhecer na existência humana.
Até o presente século, Deus tem sido apresentado prin­
cipalmente como um poder existente no além. Existe a
opinião de que o bem que Deus não nos dá neste mundo
certamente nos será dado no outro. Mas a aceitação da
interferência específica de Deus em questões de saúde e
suprimento e. em nossas relações como próximo em nossa
vida de cada dia, ou*nas relações internacionais, surgiu no
século passado, e continua no atual, o que é outra evidên­
cia de uma união de consciências e do reconhecimento de
que existe Deus na terra como existe Deus no céu.
Quanto mais a humanidade reconhecer que não exis­
tem coisas tais como um Deus batista, um Deus episcopal,
um Deus presbiteriano, um Deus metafísico ou um Deus
ortodoxo, senão um só Deus, então mais nos aproximare­
mos da união da consciência.
Quanto mais unidos nos tornarmos na compreensão
de que, por estar o reino de Deus dentro de nós, está Êle
mais próximo de nós que o próprio ar que respiramos, e
que para encontrá-Lo não precisamos ir a cidades santas,
a templos sagrados ou mesmo a homens santos, tanto
maior é o grau de consciência divina que se liberta sôbre
a terra.

PUNIÇÃO OU REFORMA PARA O MALFEITOR?


Além disso, quando conscientizamos que Deus é o
mesmo tanto para pecadores como para santos, nós nos
unímos numa só consciência, que assegura, de modo abso­
luto, a harmonia, a liberdade e a alegria da vida. Todos
estão sofrendo, em certa medida, as eonseqiiências da
crença de que seus pecados, sejam por ação ou por omis­
são, os estão afastando do amor, zêlo e proteção de Deus.
Mas «Deus não faz acepção de pessoas.»2 Deus é o mesmo
tanto para o pecador como para o santo. Na verdade,
tem-se dito que Deus se agrada mais naquele que é re­
dimido que em noventa e nove que não precisam de re­
denção.
2 - A t 10:34.

41
Se Deus fôsse humano ou tivesse emoções humanas,
isso podería não ser verdade, mas o fato é que, a menos
que o indivíduo humanamente bom sinta contato com
Deus, Deus não estará mais ativo na sua vida do que na
vida de uma pessoa má. Aperceba-se o pecador de que
está na presença de Deus, e eis que desaparecerão de sua
consciência os pecados, os vícios, os males. Em outras pa­
lavras: deixem-se as trevas tocar pela luz, e eis que não
haverá mais trevas. Deixem-se os males da consciência
humana tocar pelo reino de Deus, ou toquem êles êste
reino, e eis que cessarão de existir nessa consciência. Per­
petuar a crença de que o mal na consciência de alguém
esteja impedindo a atividade de Deus, é realmente protelar
o dia da salvação.
O sacerdócio do Mestre não era um simples serviço de
cura de enfermos. Dedicava-se igualmente ao perdão dos
pecadores, não após séculos de castigo no inferno ou em
alguma de suas antecâmaras, nem após séculos de sofri­
mento sob o jugo da lei do karma, mas no mesmo instante
em que êles se voltavam para o alto. Todo o seu ministério
era mostrar que somos salvos no momento em que nos
voltamos a Cristo, no momento que o aceitamos, que rece­
bemos a Graça espiritual. Esta é a parte da nova consciên­
cia que é mais difícil de atingir, porque se acha arraigada
em nós a crença de que precisamos sofrer pelos nossos pe­
cados.
Esta crença faz parte do êrro da justiça estabelecida
pelo homem, o qual não poderá ser superado senão me­
diante a espiritualização da consciência humana. Os cri­
minosos são castigados com prisão e depois postos em li­
berdade para cometerem os mesmos crimes, sem que se
procure saber se houve ínudança em sua consciência. Ê
evidente que o detento, pôsto em liberdade quando con­
tinua no mesmo estado de consciência, está propenso a re­
petir seus crimes.
Tempo virá em que os encarcerados não serão soltos
enquanto não tenham evidenciado acharem-se realmente
em um nôvo estado de consciência. Então não haverá peri­
go em soltá-los. Enquanto isso não acontecer, sua liberda­

42
de servirá, sem dúvida, para que continuem a cometer sem­
pre os mesmos crimes, inúmeras vêzes.
Tudo o que nos acontece corresponde ao nosso estado
de consciência. Os 38% da população a que nos referimos,
que alcançaram o conhecimento da unicidade de Deus, ago­
ra mesmo estão contribuindo efetivamente para o advento
da paz.

A CONSCIÊNCIA MÍSTICA DA UNIDADE,


O SEGRÊDO DA FRATERNIDADE
Quando tu e eu, individualmente, indiferente à opinião
dos demais membros da fam ília ou ao que estejam fazendo
seus amigos ou vizinhos, nos empenharmos em alcançar a
Consciência divina e o conseguirmos, quando mais não seja,
pelo menos, até certo ponto, então estaremos determinan­
do a harmonia de nossa experiência. Ã medida que nossa
própria consciência se aprofunda e amadurece, ela se tom a
lei para o nosso próximo - parentes, amigos e vizinhos. Co­
meçamos então a atraí-los para êste mesmo estado de
consciência e, eventualmente, verificam os que o que a
princípio era a nossa Consciência divina, tornou-se agora a
Consciência divina de muitos.
O indivíduo - quer seja curador metafísico, pastor
protestante, rabino ou padre - torna-se lei para todos aquê-
les que são atraídos à órbita de sua consciência, os quais,
a princípio, serão em pequeno número, que irá gradativa­
mente aumentando, até repentinamente surge uma comu­
nidade de consciências irmanadas em Deus.
Uma vez que possamos aceitar um só Deus, teremos
de reconhecer a existência de uma só verdade, e então não
haverá controvérsias ou animosidades que nos dividam.
Seremos o que o Mestre revelou que somos: irmãos. Tere­
mos um único Pai - o Pai. As diferenças existentes entre
diversos grupos chamados de brancos, negros, amarelos,
protestantes, judeus, católicos e budistas, desaparecerão
totalmente, graças ao reconhecimento dêsse Deus único,
dessa Verdade única.
A humanidade está esperando a paz na terra, e não
tem dúvida que finalmente ela virá. Mas eu não hesito em

43
profetizar que ela não virá enquanto os buscadores da
verdade, os protestantes e os católicos não se unirem em
oração uns pelos outros. Não poderemos ter paz na terra
enquanto as seitas cristãs não puderem orar umas pelas
outras ou entenderem-se. Falamos de cristianismo, fala­
mos de Cristo, da verdade e do amor e, não obstante, re­
velamos ciúme, inveja e rivalidade entre nós.
A vida mística não conhece denominações, ou coisas
tais como congregações eclesiásticas, seitas e religiões.
O Espírito do Senhor Deus ou está sôbre ti ou não está.
Se está, está, quer sejas católico, protestante, judeu, mu­
çulmano ou o que quer que sejas.
No Cairo, no Egito, eu tenho um amigo muçulmano
muitíssimo devoto. Certa vez êle me mandou um belíssimo
rosário de âmbar, que fôra abençoado em Meca. Nenhum
devoto sente maior amor que êste demonstrado pelo meu
amigo, ao dar essas pérolas que haviam recebido aquela
santa bênção. Nós nos compreendemos e somos de fato
bons amigos.
Eu tinha o seu enderêço comercial, mas não tinha o
de sua residência. Um domingo, cheguei ao Cairo às três
horas da madrugada. Era um daqueles dias esplêndidos,
uma das coisas a que o Cairo deve sua fama. Levantei-me
às oito horas da manhã, tomei minha primeira refeição e,
como ignorasse o enderêço da residência do amigo, não po­
dería ir visitá-lo. Então, sem nada o que fazer durante
todo aquêle dia, saí a andar sem rumo e fui levado a uma
praça circular de onde partiam ruas em tôdas as direções.
Sem saber qual o caminho que deveria tomar, passei em
frente ao comêço de uma rua e entrei noutra, e ali estava
o meu amigo, de pé, encostado numa parede, orando com
um rosário de pérolas nas mãos. Dirigi-me a êle:
- Abdula!
- Goldsmith! estou orando por você.
- Que é que você quer dizer com isso de estar orando
por mim?
- Esta manhã eu disse a minha mulher que não podia
mais esperar, e que você teria que vir, porque eu estava
precisando muito de você e que eu ia a alguma parte, ia
orar para que você viesse ao Cairo.

44
Eu havia chegado precisamente àquele lugar onde êle
estava orando. Tenho a impressão de que ao meu desejo
de ir aonde quer que Deus queira me conduzir - desejo de
quem segue «O Caminho do Infinito» - associou-se espon­
tâneamente a sua oração muçulmana! E nos encontramos.
É essa a natureza dessa unidade de consciência, dessa
consciência mística. Misticismo é união consciente com
Deus, o que dá a habilidade de receber comunicações dire­
tamente de Deus. Em misticismo não se menciona coisa
alguma a respeito de demonstrações pessoais, raças, reli­
giões, côr da pele, climas, credos. Mas não poderás cum­
prir a missão expressa na mensagem do Mestre, de restau­
rar a vida, e de restaurá-la mais abundantementej ou seja,
levar a qualquer um a cura e o suprimento, isto é, a ilumi­
nação espiritual, se em ti próprio não tiveres êsse Algo,
êsse Cristo, que cura, redime, salva, ressuscita os mortos,
alimenta as multidões.

FAZENDO A VONTADE DO PAI


A despeito de o Mestre haver mostrado claramente a
vontade de Deus, quantas pessoas existem, que crêem que
essa vontade é ruim! Quantos crêem que quedas de aviões,
naufrágios, incêndios, terremotos ou irrupção de vulcões
representam a ação de Deus! Castigos ou queimaduras no
fogo do inferno - tudo isso é considerado como da vontade
de Deus. Quão diferentes são os ensinamentos do Mestre:
«Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para
que julgasse o mundo».3 «Nem eu tão pouco te condeno.»4
«Não peques mais para que não te suceda coisa pior»5, não
coisa vinda de Deus, mas em conseqüência do retorno a
crenças já superadas.
O Mestre não falou de castigos, a não ser dos que são
causados pelas nossas más ações, que evocam a lei do
karma, a lei a que êle se referiu com estas palavras: «O
que semeardes, isso colhereis.» Mas não se trata de casti­
go impôsto por Deus, mas, sim, das conseqüências dos
3 - Jo 3 :1 7 .
4 - Jo 8 :1 1 .
5 - Jo 5 :1 4 .

45
nossos atos. Se pusermos a mão no fogo, ela será queima­
da. Se tomarmos veneno suficiente para nos matar, êle nos
matará. Por quê? Porque cremos que o fogo queima e que
o veneno mata, e assim colhemos os frutos de nossas cren­
ças.
Deus não nos aflige com doenças. Se Deus nos casti­
gasse com doenças, então nem médico, nem medicina,
nem oração, nem cirurgia jamais poderíam curar-nos. A
possibilidade de cura nos planos físico, mental e espiritual
se deve exclusivamente ao fato de a doença não ser orde­
nada por Deus.
A missão do Cristo precisa ser bem compreendida, pri­
meiro por nós e, então, mostrada aos outros pelo nosso
exemplo, para que o mundo pergunte: «Como se faz isto,
se nem as pessoas mais religiosas puderam fazer estas
obras?» E nossa resposta será: «Quando o Espírito do
Senhor Deus está sôbre nós, nós podemos fazer estas obras
através dêsse Espírito, porque então êsse Espírito faz as
obras através de nós.»

A ORDENAÇÃO PELO ESPÍRITO


Muitos têm trazido ao seu trabalho de cura somente o
conhecimento intelectual do que leram em livros. Todos
conhecem as afirmações da verdade, embora ainda não
estejam preparados para receber a ordenação, isto é, para
receber o Espírito de Deus. A simples leitura dessas expo­
sições em um livro não é o que a produz. O amor e o zêlo
para com elas também não o conseguem. Tampouco o que­
rer salvar o mundo. Há sòmente uma coisa eficaz para
isso: Isola-te e estuda, sê reservado, sê devotado, não dei­
xes ninguém saber o que estás fazendo. Apenas estuda, e
estuda, e estuda até que chegue o dia em que o dedo de
Deus te toque, e então te sintas ordenado. Então não pre­
cisarás sair de casa à procura de trabalho, do trabalho que
devas fazer, porque o mundo abrirá caminho para a tua
casa. Êsse Espírito do Senhor Deus é o melhor atrativo
que se pode ter. Sentirás êsse Algo dentro de ti, mais
próximo que o ar que respiras, Algo que permanece as­
sentado sôbre o teu ombro ou que caminha atrás ou per­

46
manece bem junto de ti. «Reconhecerás esta Presença, e
conhecerás o Seu poder - senti-la-ás, ouvirás a Sua voz
silenciosa e suave.»8 E então poderás dizer:
«O Espírito do Senhor Deus está sobre mim.»6 7 Agora
estou ordenado: não pelo meu intelecto, pela minha
sabedoria, pela minha fôrça, pelo meu conhecimento
ou pelo meu zelo. Agora sou um soldado sob ordens.
Tenho sôbre mim a armadura do Espírito do Senhor -
a qual é a Palavra de Deus - , não as palavras de um
livro, mas a Palavra de Deus, a qual é vida e amor.
Então saberás que podes entrar nas casas do enfêrmo,
do pobre, do moribundo ou do morto, e levar consolo, cura,
ressurreição, suprimento, ou levar-lhes tôdas as coisas de
qúe necessitem.
Jamais cometas o pecado de crer que a dor ou qual­
quer circunstância seja obstáculo à busca de Deus. Ainda
que sintas dor ou discórdia de qualquer natureza, busca a
Deus - mesmo na tua dor ou através da tua dor e quan­
do houveres alcançado a Consciência divina, a dor te dei­
xará, e a discórdia, e a doença. Quanto mais pobre fores,
e maior a tua necessidade, mais precisarás de encontrar
Deus. Busca a Deus em primeiro lugar, e te sentirás livre.
Se tentares obter a tua liberdade em primeiro lugar, ja ­
mais chegarás a Deus.
Existem aqueles que não querem sacrificar uma ou
duas horas de sono. Existem aquêles que não querem re­
servar dez minutos de cada hora do dia para estudo e me­
ditação. Mas isso nem por um momento quer dizer que
haja alguém sincera e honestamente na busca da experiên­
cia espiritual, que não possa alcançá-la. Ê bem verdade,
não poderá consegui-lo em um dia; não poderá consegui-lo
em cinco anos ou mesmo em dez anos. Isto demanda devo­
ção e consagração; isto exige seriedade.
E qual é a meta que deves atingir? Certamente não é
nome ou fama, porque mesmo que tivesses tal coisa, esta­
rias demasidamente ocupado para utilizá-la. A meta a al­

6 - 1 R s 1 9:12.
7 - Is 6 1 :1 .

47
cançar é êste Espírito do Senhor Deus, esta Consciência.
Esta Consciência é a ,única meta da vida espiritual.
O que o Espírito do Senhor fará contigo depois que o
atingires, isso é lá com Êle. Tudo o que fizeres com o
Espírito do Senhor trabalhando em ti, o farás bem. Tudo
quanto fizeres quando o Espírito do Senhor estiver sôbre
ti, o farás melhor do que o faria qualquer outro que não
tivesse êsse Espírito sôbre si.
Não podes saber qual será o teu campo de atividade;
não podes ter a ambição de vir a ser alguma coisa extraor­
dinária,' e, se a tiveres, deverás estar preparado para mu­
dar a qualquer momento, porque não tens idéia do que o
Espírito do Senhor te fará quando descer sôbre ti.
Quando fui tocado até o ponto em que me foi dado
escrever e publicar pela primeira vez «O Caminho do Infi­
nito», eu havia feito um bonito plano de vida: algumas
horas por dia no meu gabinete de trabalho, e os longos fins
de semana para estudo e meditação. Era maravilhoso, e de
fato aconteceu - durante três semanas! Felizmente sou
flexível. Se não o fôsse, o Espírito me havería quebrado,
pois com Êle, ou vai, ou racha. Se trabalhas com Êle, Êle
te sustenta, mas se vais contra Êle, Êle te arrebenta.
Não se exige mais do que uma única demonstração
daqueles que desejam tornar-se discípulos: a demonstra­
ção da Presença. Procura sentir essa Presença dentro, ao
redor ou perto de ti.
E então, quando a tiveres contigo, estarás seguindo
espontaneamente esta recomendação do Mestre: «Não an­
deis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de co­
mer, nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de ves­
tir.»8 De modo algum te preocuparás com a tua vida nem
com coisa alguma. O Espírito, atuando sôbre ti, tornar-se-á
o teu pão de cada dia, a oportunidade para os teus negócios,
o teu talento, a tua capacidade, a tua habilidade, o teu vi­
gor físico. Existe sòmente Êle, e êsse «Êle» é a tua de­
monstração. Esta é a tua meta.
Êsse Cristo - Essência ou Substância de tôdas as for­
mas - revela-se com tudo o que é necessário em tua expe­

8 - Jo 8:58.

48
riência, quer seja um lar, meios de transportes, saúde ou
seja o que fôr.
Isto é misticismo. É a plenitude do Ser em Deus. O
Cristo de Deus, o Espírito de Deus dentro de ti, e o Espírito
Santo, constituem o elo entre o Pai e o Filho.
Vida mística é vida edificada no Espírito de Deus.
A vida do aspirante à espiritualidade é uma vida devotada
ao estudo, à meditação e à comunhão com aquêles que lhe
passaram à frente na senda, à comunhão com aquêles
através dos quais poderá receber esclarecimentos até que
chegue o momento em que o Espírito do Senhor Deus entre
nêle, e êle então se veja ordenado. Daí por diante, cada
um dependerá de si mesmo exclusivamente.
Com isto por fundação' é que edificamos a consciência
que nos permitirá viver as vinte e quatro horas de cada
dia e os sete dias de cada semana apercebidos da presença
da Divindade: o divino Poder, a divina Graça, dentro de
nosso próprio ser. Isto é o que finalmente irá libertar o
mundo, e não uma doutrina, uma religião ou um mestre.
Não tenhas dúvida de que se algum mestre pudesse liber­
tar o mundo, Buda ou Jesus, um ou outro, ou ambos, já
o teriam libertado há muito tempo, mas nem um nem
outro o libertou, e nenhum mestre jamais o libertará.

A AÇÃO UNIVERSAL DA GRAÇA


PROMOVE A PAZ
Nada libertará o mundo senão a ação da Graça divina
dentro de ti, dentro de mim e de tôda a humanidade, de
modo que possamos libertar uns aos outros.
Sinto-me feliz em saber que meus livros são lidos,
porque êles recomendam aos que os lêem que não se ape­
guem a mim ou a esta mensagem, e lembram-lhes que o
reino da Graça está dentro dêles mesmos. Êles têm sido
libertados pela compreensão de que o reino de Deus está
operando dentro dêles.
Quando começamos a ver as provas disso em nossa
vida e passamos por experiências que nos mostram a ação
dessa Graça, nós olharemos para tôdas as pessoas de
nossa comunidade em esta atitude: «Não é m aravilhoso?!

49
Posso libertar-vos pela compreensão de que o reino da
Graça está operando dentro de cada um de vós. Quer o
saibas, ou não, neste momento estou afirmando, conscien­
temente, em vosso benefício, a verdade de que o reino da
Graça está operando dentro de vós. Ela não permitirá que
mal algum se aproxime de vossa morada. Ela não permiti­
rá que se aproxime de vós o pecado, o vício, a doença ou
a desumanidade do homem para com o homem.»
Ao invés de nos sentirmos responsáveis pelas pessoas
do mundo, no sentido de nos tornarmos caridosos, nós
olhamos para êste mundo com um sorriso, murmurando
silenciosamente: «Obrigado, Pai, por me haveres revelado
que o reino da Graça está operando na consciência de ca­
da indivíduo.» Assim como me tornei consciente de que o
reino da Graça está operando dentro de mim, cada indi­
víduo, por sua vez, se aperceberá de que o reino da Graça
está operando dentro dêle.
Assim é como se pode assegurar a realização de um
ano nôvo, pleno de esperanças. Nada mais o conseguirá.
Jamais virá a paz sôbre a terra através de armamen­
tos e guerras; a paz nunca virá por meio de pactos entre
nações, pois sempre tem havido acordos entre nações
«desde antes que Abraão existisse.»9 Nenhuma nação os
respeitou, mesmo na época atual, senão somente até o mo­
mento em que serviram aos seus desígnios. Tôdas as na­
ções têm rompido acôrdos que assinaram quando corres­
pondiam aos seus interêsses. Jamais haverá paz na base
de pactos. A paz virá quando houver amor nos corações
dos homens. Mas somente uma coisa trará essa paz ao
coração da humanidade: é o viver pela Graça divina, que
opera dentro de cada um.
A paz não virá pela gratidão. Nenhuma nação será
grata pelo auxílio que outra lhe der. Não, as nações nunca
tiveram e jamais terão o verdadeiro sentimento de grati­
dão, da mesma form a como é muito raro encontrar-se êsse
sentimento naqueles a quem ajudamos do ponto de vista
humano, e se houver, será de curta duração. Só poderá
haver paz pela compreensão de uma Graça divina que
opera dentro da consciência de cada um de nós. Esta
Graça te trará paz na medida em que a perceberes dentro

50
de ti; e, quando começamos a perceber sua atuação na
consciência da humanidade, começaremos proporcional­
mente em nós a despertar o Espírito-Crístico na huma­
nidade.

A GRAÇA FUNCIONA COMO AMOR


A atuação da Graça não é questão de intelecto. Tra­
ta-se realmente de uma questão de percepção direta. Nin­
guém pode conhecer a atuação íntima da Graça por meio
de sua mente, porque esta, quando em atividade, não per­
mite tal percepção. A Graça é uma atividade de Deus que
se conhece por percepção interna. A Graça é o segredo
que Jesus deu ao mundo. Se conhecéssemos o seu segredo,
teríamos que conhecer a Graça. Dizem que a letra da lei,
isto é, os Mandamentos, os «tu-não-deves» vieram atra­
vés de Moisés. Mas a Graça foi revelada por Cristo Jesus.
A contribuição que Cristo Jesus deu ao mundo fo i a
demonstração da existência de uma Graça divina, que li­
berta o homem do pecado, da carência, da limitação, da
doença; a demonstração de que não existe outro poder
senão o desta Graça divina, e que o lugar de Sua atividade
é dentro de nós, e que funciona através do amor. Então
permitimos que o amor, não o nosso amor, mas o amor de
Deus, flua através de nós, perdoando «setenta vêzes sete»9
orando pelos nossos inimigos, orando pelos que nos
perseguem.
Demonstra-se amor visitando enfermos. Visitamos
doentes, mas nossa visita não consiste em irmos às suas
casas e lá ficarm os algum tempo sentados, segurando-lhes
as mãos e nos penalizando do seu estado. Não, graças à
nossa consciência desperta, nós* permanecemos fisicamen­
te onde estamos, em nossos lares, e os visitamos, conscien­
tizando a realidade da Graça divina, que os liberta de seus
males.
Às vêzes visitamos fisicamente aquêles que se encon­
tram encarcerados, mas, na realidade, tôdas as nossas vi­
sitas são espirituais. Devido à natureza incorpórea de nos­
so ser, nós não precisamos fazer fisicamente as coisas que
9 - Mt 18:22.

51
os homens do mundo parecem julgar necessárias. Conhe­
cendo-se apenas como sêres físicos, êles não sabem como
se pode visitar um enfêrmo ou um prisioneiro a não ser
pessoalmente. No entanto, compreendendo a natureza da
Graça, podemos, sem sair de casa, visitar os pecadores, os
doentes e os encarcerados e libertá-los de seus males. A
natureza incorpórea, ou espiritual, de nosso ser, permite-
nos ir em espírito à presença dos enfermos, dos pecadores
e dos detentos. O que os liberta de sua enfermidade é o
Espírito, e não o nosso corpo físico. Levar nosso corpo
físico até ao doente ou encarcerado não o liberta. Ê o que
está incorporado em nossa consciência, que o liberta. Esta
a razão por que a visita física é o que menos importa. A
visita espiritual é uma ocupação de vinte e quatro horas
por dia.

A EXPANSÃO DA CONSCIÊNCIA
TRAZ A REALIZAÇÃO
Nosso estado de consciência, ou conscientização, é o
que determina a natureza da nossa experiência terrena e
do nôvo ano; a natureza do que temos dentro de nossa
consciência, do que conhecemos conscientemente dentro
de nós, e do que mantemos e conservamos em nossa cons­
ciência e do que estamos perdendo dentro de nós. A ver­
dade que conhecemos tom a-se lei para a nossa experiên­
cia terrena. A verdade que conhecemos torna-se lei para
o nosso próximo. Todo êste conhecimento da verdade re­
presenta aprofundamento e enriquecimento de nossa cons­
cientização individual.
À medida que nossa consciência enriquece, o mundo
também enriquece, porque «Eu, quando Eu fôr levanta­
do»,10 atrairei, até certo ponto, o mundo todo. Eu, como
indivíduo, talvez não possa elevá-lo mais do que um milí­
metro, mas, quando somos cem indivíduos, podemos elevá-
lo cem milímetros, e, quando somos mil, podemos levantá-
lo a uma altura imensurável, e provàvelmente poderemos
até multiplicá-la, graças à nossa unidade ou união das
nossas consciências.
10 - Jo 12:32.

52
Até o ponto que nos puderem fazer crer que alguém
neste mundo tem poder para nos dar ou nos tirar alguma
coisa, nós dependeremos dêsse alguém ou o temeremos.
Mas desde o instante em que compreendemos que somente
a Graça divina nos alimenta, nos cura, supre nossas neces­
sidades, nos perdoa, atingiremos, nessa medida, nossa li­
berdade em Cristo.
A Graça divina garante-nos alimento que o mundo não
conhece. A Graça divina garante-nos nosso pão. Assim
não precisaremos preocupar-nos com a vida enquanto
andamos nesta terra. Se necessário, poderemos, durante
algum tempo, suportar pobreza, ou pecado, ou doença. Po­
rém, sempre, enquanto estamos envolvidos em pecado,
doença ou pobreza, não deixará de existir dentro de nós
êste Filho de Deus, esta Graça divina, e um dia ela rom­
perá nossos grilhões.
Muitos têm tido esta revelação quando enfermos, e
estranharam que seus males não houvessem desaparecido
no dia seguinte. Permanece nesta Palavra, permanece
n’Ela, vive n’Ela: «Uma comida tenho para comer, que vós
não conheceis».11 Esta é a mensagem do Cristo: temos
comida, vinho, água e ressurreição. Temos dentro de nós
uma Presença que foi posta lá por Deus, para que tivésse­
mos vida, e para que a tivéssemos com mais abundância.
Se vivemos desde a manhã até à noite e desde a noite até
à manhã, nesta conscientização, romper-se-â a crosta da de­
monstração humana, e surgirá a demonstração espiritual.
E somente desta form a é que poderemos estar seguros de
um Ano-Nôvo feliz, e permanente e de uma gloriosa expe­
riência terrena.
Cordialmente,
(a) Joel

«O início de um nôvo ano é sempre um desafio. O es­


tudante de «O Caminho do Infinito» sabe que para êle o
ano-nôvo não começa num dia especial assinalado no ca­
lendário. Começa a qualquer momento em que recebe um

11 - Jo 4:32.

53
lampejo da Verdade suficientemente profundo para mu-
dar-lhe a consciência e, com isso, mudar tôda a concepção
da vida. Quando isto acontece, desponta um nôvo ano. Se,
pelo contrário, ò calendário lhe diz que estamos entrando
em «1960», ou em «1970», ou em «1980», é porque êle ainda
está vivendo no ano velho, e seu mundo é o mundo velho e
gasto.»
Com a percepção direta da Verdade, tudo se acelera
e renova. È o Espírito que renova tôdas as coisas. Em
tôdas as horas de meditação, estudo e prática, nossa aten­
ção fixa-se num foco interno, numa apercepção mais pro­
funda das coisas do Espírito, que assume a direção de
nossa vida e transforma a nossa experiência. Estarás por­
ventura concorrendo nesta hora, neste dia, nesta semana,
neste mês e neste ano, com a dedicação necessária para
que se produza tal transform ação? Sòmente tu poderás
responder a esta pergunta. E da tua resposta depende a
harmonia dos dias que te aguardam.

Cordialmente,
(a) Emma

54
VIVENDO ICIIM DOS PIRES
DE DPOSIOS
(D o livro «A Parenthesis In E ternity», págs. 29^-303)

Desde aquêle período da Criação referido no segundo


capítulo do Gênesis, vem o homem vivendo sob a influên­
cia de dois podêres aparentes, vem êle flutuando entre o
bem e o mal, experimentando muitas vêzes mais a influên­
cia do mal que a do bem. Entanto, quando compreende a
idéia da unicidade do Poder, e percebe que não há poder
do bem nem do mal, já não é fascinado pelo bem nem pelo
mal da experiência humana, e deixa de identificar-se com
as sensações provocadas por um ou pelo outro.
Pouco a pouco êle aprende a encarar o mal friamente,
sem emoção, e sem atribuí-lo a ninguém e, poder-se-ia
dizer, .quase sem comiseração. Reconhece a natureza das
aparências e as aceita como tais, isto é, como ilusórias.
Isto nem sempre é fácil. Todavia, é menos difícil iden­
tificar a aparência do mal que a do bem. Fácil ou difícil,
porérri, o homem precisa tomar e manter uma atitude in­
terna que lhes permita estar sempre cônscio de que se o
bem não provier de Deus, será transitório, e nada lhe adi­
antará deleitar-se com êle.
É óbvio que, se por um lado esta atitude tira muitos
dos aspectos agradáveis da vidá humana, por outro nos
poupa de müitas de suas misérias, substituindo as emo­
ções negativas pela convicção interna de que, por detrás
do cenário visível, existe uma realidade espiritual que a
qualquer momento poderá revelar-se totalmente.
Quando nos pedem ajuda, nossa primeira reação é o
desejo de mudar a aparência do mal em aparência do bem.

55
Entretanto, se quisermos viver espiritualmente, precisa^
mo-nos compenetrar de que o objetivo do ministério espi­
ritual não é mudar doença em saúde. A saúde é temporária,
e a que temos hoje poderá converter-se em doença
amanhã, na próxima semana ou no próximo ano. A fina­
lidade do ministério espiritual não é condenar püblica-
mente o mal e tentar fazer o bem. Seu objetivo é, antes
de nada, ensinar-nos a desprezar as aparências boas ou
más e manter-nos atentos ao Caminho do Meio, compe­
netrados de que precisamente onde parece encontrar-se
o bem ou o mal, o que existe é a realidade do Espírito.
A má aparência de hoje poderá converter-se em boa
aparência amanhã e, como bem sabemos, tôda boa apa­
rência pode logo tornar-se má. Um dia de paz na terra
pode ser apenas a pausa momentânea que precede outra
guerra; a saúde perfeita de hoje não passa de uma con­
dição temporária que os micróbios ou o envelhecimento
poderão mudar. Vistos humanamente, estamos como que
num carrossel, sempre a rodar, rodar, rodar. Estamos
sempre a oscilar como um pêndulo, entre a doença e a
saúde, entre a pobreza e a riqueza, entre a guerra e a
paz, para trás e para a frente, sem chegarmos a parte
alguma.
Mas no Meu reino não há pares de opostos. Meu reino
é um reino espiritual, onde nada é tocado por influências
contraditórias. Mèu reino é dirigido e protegido pelo divino
Princípio, ou Deus, que a tudo mantém e sustenta. No Meu
reino não há trevas. Esta declaração parece dar a enten­
der que as trevas sejam alguma coisa má. No entanto,
quando alcançamos o Terceiro Grau, teremos chegado à
estatura espiritual do Salmista, que disse: «as trevas e a
luz são a mesma coisa para Ti».
Trevas e luz são uma coisa só. Aos olhos de Deus não
há diferença entre elas. No reino espiritual não há luz
nem trevas: há somente Espírito, uma Luz que não tem
semelhança alguma com o que conhecemos como luz.
Luz, em sentido espiritual, é consciência iluminada,
não por uma luz, mas pela Sabedoria. A expressão «Eu
era cego, e agora vejo» não se refere à cegueira ou falta de
visão fífíça . Ê qm modo figurado de declarar que estáva­

56
mos na ignorância mas agora alcançamos a Sabedoria.
Freqüentemente se representa a ignorância por trevas e a
sabedoria por luz, mas, na realidade, não há trevas nem
luz para aquêles que vivem acima dos opostos.
Requerem-se meses, e às vêzes anos de experiência
espiritual para se compreender que no Meu reino trevas e
luz são a mesma coisa, e que neste reino não procuramos
mudar as trevas em luz, ou livrar-nos das trevas para
obtermos a luz. Trevas e luz são uma coisa só.
Alcançar esta concepção representa grande salto para
qualquer pesquisador, mas para o ignorante da sabedoria
espiritual e não treinado em metafísica e misticismo, é
salto, ainda maior, - um salto quase impossível - conce­
ber ou aceitar a idéia que doença e saúde são a mesma
coisa. Na realidade, não passam dos extremos opostos da
mesma vara. Quando individualmente podemos afirmar
com convicção que «pelo que me toca, trevas, ou luz, dá
tudo no mesmo. Não estou tentando livrar-me de uma
para obter a outra: estou procurando compreender so­
mente a sabedoria espiritual, a verdade espiritual, a divina
Presença» - então é que começamos a compreender a na­
tureza espiritual dêste Universo.
É quando tentamos livrar-nos de algo ou procuramos
conseguir algo, que abandonamos o mundo espiritual em
troca do mundo das concepções humanas. Nem doença nem
saúde exercem qualquer papel na vida espiritual: tudo o
que existe na vida espiritual é Deus, o Espírito, infinita e
eternamente manifesto como ser individual incorpóreo.
O ser incorpóreo não pode ser conhecido por meio dos
sentidos da vista, da audição, do gôsto, do tato ou do
olfato. Pode ser experimentado somente em nossa cons­
ciência interna, mas quando compreendemos e percebemos
diretamente que trevas e luz são a mesma coisa. E o que é
essa coisa? - Ilusão mortal, maya, aparência. Tudo o que
percebemos através dos sentidos - doença e pobreza hoje,
ou saúde e riqueza amanhã - , é ilusão. Não veremos a
Realidade enquanto não contemplarmos o ser espiritual,
incorpóreo, através de nosso sentido espiritual.
Olhemos para êste mundo e perguntemos a nós mes-
moã: «O qiie lhè têm aproveitado tddas as guerras?» Se a

57
resposta fô r: «Nada» - será porque estaremos começando
a alcançar a meta. espiritual. Em correlação com esta per­
gunta, deverá ocorrer-nos uma outra: «O que têm aprovei­
tado ao mundo todos os dias em que não tem havido
guerra»? - E a resposta deverá ser: «Nada». Espiritual­
mente, o que estamos buscando não é a guerra nem a paz. Ê
o govêrno de Deus, o govêrno espiritual, o govêrno divino.
E onde atuará êsse govêrno? - Em nossa consciência. É
onde êle tem que ser conscientizado.
Não importa quantas soluções se ofereçam aos pro­
blemas do mundo de hoje, porque amanhã êles aparecerão
sob novas form as ainda mais graves. Êste vaivém só aca­
bará quando percebermos a natureza do poder espiritual
e compreendermos que êste nada tem a ver com as boas
condições em que nos sintamos hoje e nem com as más
condições em que estejamos amanhã. A manifestação dês-
te poder, em nós, está relacionada com a compreensão que
tenhamos de que não devemos mudar as condições da ma­
téria, mas compreender que o Espírito é onipresente; que
não devemos tentar converter doença em saúde ou guerra
em paz: o que devemos fazer é buscar o govêrno de Deus,
a revelação e compreensão íntima de Deus como nossa
consciência.
Isto muda completamente nossa maneira de viver.
Sob a velha maneira de viver, o melhor que podíamos es­
perar era substituir alguma coisa má por outra boa, ou
tom ar positiva alguma condição negativa; e mesmo assim
estava sempre presente o mêdo de que a coisa boa ou a con­
dição positiva alcançada não fôsse permanente: estáva­
mos sempre lutando por aquêles momentos de saúde, paz
e harmonia.
A revelação e compreensão da unicidade do Poder
ajuda-nos a alcançar aquêle nível de consciência em que
já não procuramos converter o estado negativo em positi­
vo. Quando nos conscientizamos da existência de um só
poder, cessamos não só de procurar podêres materiais para
prover às nossas necessidades, mas também de andar em
busca de podêres espirituais.
Se existe um só poder, então nada há sôbre o quê,
contra o quê ou a favor do quê, possamos usá-lo. Que

58
quer isto dizer, em essência? Que significa alcançar um
nível de consciência em que se abandona todo desejo de
empregar Deus como uma fôrça? Não será isto liberar a
Deus de responsabilidade? Não será exatamente isto o que
temos que aprender a fazer?
Deus está em permanente atividade. Deus é a influên­
cia criadora, sustentadora e mantenedora do Universo es­
piritual. Deus o governa e governará pela Graça, não a
partir de amanhã ou da próxima semana. A Graça divina
tem estado em ação de eternidade em eternidade, e conti­
nuará de eternidade a eternidade, insubornável e insusce­
tível às influências das nossas orações ou súplicas ou ao
que quer que façamos para persuadi-Lo a fazer Sua obra de
acordo com o nosso parecer. Deus é, e esta afirmação en­
cerra a verdade de que Êle está eternamente ocupado com
Sua tarefa, a tarefa de Ser Deus.
O que_nos incumbe, na oração e meditação, é «çonhe-
cer a verdade» para que a verdade^osTiberte; è conhe­
cer a verdade de que exisfêlãòmenfe üm poder; conhecer a
verdade .de que «Nao teriaS' boder àlsrum sôbre mim, se,
não te fôsse dàdCLfloalto»;1 conhecer a y^p3flde_de^ê7no
reino de Deus, luz e trevas san am esm a coisa- Esta firme"
e constante dedicação àl^rnpreerisãodà verdade, desenvol­
verá um estado de consciência que não oscila entre o bem
e o mal: um estado de consciência que, pelo menos com
certa estabilidade, adere ao caminho e à realização espiri­
tuais.
Deus é, mas, para sabermos espiritualmente que Deus
é, temos que nos elevar acima do tempo e do espaço. O
que Deus é, é de eternidade a eternidade. Portanto, coisa
alguma pode estar fora da jurisdição de Deus; coisa algu­
ma jamais poderá funcionar mal no reino de Deus. Preci­
samos substituir a base material do nosso estado de cons­
ciência, em que esta funciona sob a crença em dois podê-
res, pelo apoio da essência de Deus.
No reino de Deus não há nada de natureza mutável,
coisa alguma de natureza discordante ou desarmoniosa,
nada que precise ser curado ou aperfeiçoado. Em tal estado

1 - Jo 1 9 :1 1 .

59
de consciência, já não somos hipnotizados por aparências,
nem compelidos a tentar insistentemente mudar o mal em
bem, ou a procurar apegar-nos a qualquer coisa de bom
aspecto, seja ela o que fôr. Isto de modo nenhum afeta
nossa vida externa. Quando atingimos esta realização a
nossa vida se tom a mais harmoniosa, já não nos preocupa­
mos com a mutação das aparências«mu£ antes eram más e
agora são boas, e sim com a realidade espiritual que des­
ponta no campo da nossa consciência.
Algumas vêzes os estudantes da ciência espiritual não
se sentem felizes com o desinterêsse pelas coisas do mundo,
que surge quando prosseguem na busca. Sentem-se como
se estivessem perdendo algo de valor. Seus tesouros de
arte, seus animais de estimação e os velhos amigos já não
lhes são tão importantes. Passam a encarar o mundo -
o corpo e mesmo a vida - mais objetivamente. Perdem
muitas das emoções que constituem grande parte da vida
humana.
Enquanto avançam pelo caminho espiritual, são reo-
rientados quanto aos valores humanos, e assim não so­
frem muito com os aspectos negativos da vida humana,
mas também não se alegram tanto com as coisas boas,
como outrora. As emoções ou sentimentos mundanos já
não entram tanto em sua vida de rotina. Em compensação,
há vantagens que ultrapassam em muito as perdas.
Quando nos tornamos espectadores, não olhamos
a vida com ansiedade pelo que esteja para acontecer. Con­
templamos o que Deus está fazendo. No caminho espiri­
tual, ao acordar pela manhã o espectador se compenetra
de que «Êste é o dia de Deus, êste é o dia que o Senhor fêz»,
e pergunta-se a si mesmo: «Que experiências me trará
hoje a atividade de Deus?»
Nesta atitude objetiva, isenta de apêgo a coisas ma­
teriais, passamos o dia inteiro na expectativa de algo
prestes a acontecer, na certeza de que o que quer que acon­
teça nesta hora, na próxima ou depois, terá sido produzido
por Deus, será o efeito da Sua atividade. Começamos então
a conhecer por experiência própria certo estado de har­
monia profunda, imutável, em que os efeitos externos já
não nos interessam como em outros tempos: chegamos

60
àquele nível de consciência que nos permite discernir espi-
ritualmente a natureza ilusória das aparências boas ou
más.
O interêsse pelas aparências favorece e perpetua sua
influência hipnótica. Pela manhã, ao meio-dia e à noite,
precisamos afirmar intimamente nosso equilíbrio espiri­
tual, baseados na compreensão de que no reino de Deus
não existe bem nem mal, mas somente o Espírito, e que o
bem e o mal que aparecem no reino dêste mundo são
igualmente ilusórios. Se desejarmos efetuar uma demons­
tração espiritual da natureza do Cristo, ou seja de natu­
reza cristã, não podemos preocupar-nos com aparências
transitórias, mas precisamos apegar-nos à verdade espi­
ritual, interna.
Embora incorpóreo e invisível à vista humana, o reino
de Deus é real e tangível para aquêles que possuem visão
espiritual para contemplá-lo. A individualidade espiritual,
inerente ao Reino de Deus, não pode ser vista a não ser
pela percepção espiritual, no estado da consciência da
quarta dimensão, a Consciência - Cristo. Não podemos ver
a identidade espiritual com nossos olhos físicos, mas, as­
sim como Deus pode olhar a luz e as trevas e vê-las como
uma só coisa, também os espiritualmente iluminados po­
dem olhar para além das boas ou más condições humanas
e contemplar as qualidades do Cristo.
De acordo com o ensino místico, nós não temos direito
de olhar para um ser humano com o intuito de mudar o mal
em bem, a doença em saúde ou a pobreza em abundância.
O que devemos fazer - e é imperioso que o façamos -
é olhar para além das aparências e nos compenetrarmos
de que:
Embora invisível aos meus olhos humanos, êste é o
Cristo, o filho de Deus. Não pretendo mudá-lo, melho-
rá-lo, reform á-lo. Olho para além da aparência e me
lembro de que embora não possa vê-la, o que aqui está
é identidade espiritual.
Para aquêles que tenham sido treinados para perceber
a irrealidade das aparências errôneas, isso talvez não pare­
ça muito difícil, mas a razão por que a maioria de nós

61
não alcança maior êxito nessas tentativas de ver além
das aparências, é o fato de não aplicarem êste princípio
quando vêem as boas aparências humanas. Por que nos
contentarmos com as aparências de saúde, riqueza, suces­
so e felicidade, se todo o quadro é suscetível de inversão de
um momento para outro?
Não é fácil a qualquer um, nem mesmo ao buscador
espiritual, ser capaz de olhar para si mesmo, para os ami­
gos ou para os parentes, quando êles gozam da melhor
saúde e são ricos e puros, e compenetrar-se de que tudo
isto é aparência, porque a Realidade, o Cristo, o filho espi­
ritual de Deus, é invisível aos olhos dos humanos. Contudo,
quem fôr capaz disto, estará sempre convivendo com a
individualidade espiritual de seus amigos, parentes e estu­
dantes. É o próprio amor divino, fluindo através dêle, o que
lhe estará fechando os olhos às aparências e mostrando-lhe
a Alma de cada pessoa, tanto das boas como das más -
a mesma Alma pura, que é Deus.
 medida que pudermos estar neste mundo sem per­
tencermos a êle - em que pudermos estar nêle e, não
obstante, não sermos fascinados pela identidade humana
das pessoas, e que compreendermos que tôda pessoa é real­
mente a Alma de Deus manifestada nesta terra - estare­
mos vivendo no «Meu reino». Isso exige visão interna de­
senvolvida, capaz de perceber a presença de Deus em cada
pessoa.
É surpreendente como ocorrem milagres quando aban­
donamos tôdas as tentativas de transmutar pessoas más
em boas ou enfêrmas em sadias, e começamos a viver
nesta conscientização:
Senhor, revela-me Tua Individualidade espiritual; re­
vela-me Teu Filho espiritual; mostra-me o filho de
Deus em cada indivíduo.
Com essa visão, começamos a perceber e sentir a filia­
ção espiritual de todos aquêles com quem convivemos, e
êles passam a agir diferentemente com relação a nós, e o
mesmo acontece conosco com relação a êles, porque já não
os tratamos como julgávamos que merecessem ser trata­
dos. A ninguém condenamos, porque então sabemos que

62
o mal que alguém faça será por ignorância quanto à sua
divina filiação. Os crimes contra a sociedade e o indivíduo,
tais como a mentira, o roubo, o embuste, a fraude, só po­
dem sèr cometidos enquanto pensamos que tu és tu e eu
sou eu. Tudo isto cessa no momento em que descobrimos
que somos todos irmãos, filhos do mesmo Pai, que perten­
cémos à mesma família e somos da mesma casa. De ime­
diato isso torna o «mundo» menos real aos nossos olhos, e
mais real o «Meu reino», revelando o universo como um
reino espiritual, onde nada precisa ser conseguido pela
fôrça.
Eis a vida m ística: não nos rejubilamos com a boa
aparência humana, mas olhamos para além do bem e do
mal, para além das aparências humanas, e contemplamos
a natureza do Cristo. Podemos fazer isto. Todos podemos
fazê-lo. Ê verdade que isto requer alguma disciplina, algum
treino, porque o que estamos procurando fazer é superar os
efeitos de centenas de gerações daqueles que nos deixaram
como herança a crença em dois podêres. Estamos pondo
de lado tanto o bem como o mal, para contemplar o que
é o Espírito; estamos pondo de lado a saúde e a doença, a
fim de nos identificarmos com o Cristo - nossa individua­
lidade permanente em Deus.
Somente nossa individualidade espiritual de filhos de
Deus nos permite comer do «manjar» que o mundo não
conhece. Não é por sermos boas criaturas humanas que
qualquer de nós pode proclamar-se «co-herdeiro com Cris­
to», porque as boas qualidades humanas estão tão longe
do céu quanto as más. Os escribas e fariseus eram o que
havia de melhor entre os hebreus, eram os mais religiosos,
os maiores adoradores do Deus único, os maiores proteto­
res do templo. Ser bons, era a sua obsessão. Não obstante,
o Mestre disse aos seus seguidores que a bondade dêles
precisava transcender a dos escribas e fariseus. Isso, hu­
manamente, teria sido quase impossível, porque êstes, prà-
ticamente, já haviam atingido a perfeição.
Verdadeira bondade, depende de nossa capacidade de
compreender que o Reino de Deus nos pertence em vir­
tude de nossa identidade espiritual, e não de nossa bondade
humana. Isso implica em sermos bastante corajosos para

63
lançar fora os pensamentos relacionados com tôdas as
nossas maldades do passado e do presente e, ao mesmo
tempo, todos os pensamentos referentes à nossa bondade
- e não em condenarmos o mal que tenhamos feito e to­
marmos a nosso crédito o bem que tenhamos praticado
e afirmar somente a nossa identidade espiritual em Deus.
Nesta ligação com Deus, descobriremos que somos um
com Êle, que somos co-herdeiros com Cristo de tôdas as
riquezas celestes. Mas enquanto pensarmos que os nossos
maus caminhos estejam nos mantendo afastados dessas
riquezas, ou que o bem que pratiquemos esteja nos aproxi­
mando delas, estaremos em caminho errado.
Tão longe da Luz está o que crê que algum pecado,
alguma desgraça temporária ou algum êrro por ação ou
omissão o separa de Deus, quanto aquêle que acredita que
sua bondade humana lhe esteja granjeando a graça de
Deus. Ninguém alcança a graça de Deus apenas por sua
bondade humana: a graça de Deus se alcança pela realiza­
ção da identidade espiritual. Em reconhecendo nossa iden­
tidade espiritual, seremos espiritualmente bons sob todos
os aspectos. Não há meios de se saber como essa bondade
corresponde à bondade humana, mas a integridade espiri­
tual vem sòmente através de nossa conexão com Deus, não
como conseqüência de nossas boas qualidades ou de nos­
sos sacrifícios ou esforços pessoais.
Nossas experiências humanas do passado e do pre­
sente, tanto boas como más, constituem o sonho mortal,
mas, em nossa Alma, somos o Ser-de-Deus, isto é, somos
criaturas divinas; em nossa Luz interna, somos filhos de
Deus; nas profundezas de nosso ser interno, somos um
com Deus; e temos um «manjar» que, embora possamos
não ter conquistado ou merecido, recebemos por herança
divina.
Sabemos em nosso íntimo que muitos de nós temos re­
cebido ou receberemos mais do que merecemos. E ainda
receberemos muito mais em nossa vida espiritual, quando
virmos a bondade de Deus derramar-se sôbre nós mais
depressa do que podemos reconhecê-la, e compreendermos
que nada em nossa vida nos dá direito a isto, que nos

64
vem como graça de Deus, da qual nem a vida nem a
morte nos pode separar.
Em lugar algum onde possamos ir, estaremos priva­
dos da proteção de Deus, fora de Sua jurisdição, de Sua
vida ou de Sua lei. Tanto faz vivermos neste ou no outro
lado do véu, isso é de importância secundária, exceto para
aquelas poucas pessoas que acharão falta de nossa pre­
sença física. Mas logo que êsse estado emocional desapa­
rece, tudo volta ao normal, porque, na verdade, nada muda,
nada se perde, ninguém foi ferido; pois em Deus, vida e
morte são a mesma coisa. São aparências mortais, ilusões
humanas. A compreensão de que ambas são da mesma
substância, urdidura feita do nada, e que não há diferença
entre uma e outra, nos permite discernir o significado da
imortalidade.
A imortalidade nada tem a ver com vida ou morte fí­
sicas, porque vida e morte são quadros ilusórios, enquanto
que a imortalidade, ou qualidade do que é eterno, incorpó-
reo, é o espiritualmente real. Vida e morte são duas fases
características da ilusão humana, assim como doença e
saúde, pobreza e riqueza, pecado e pureza.
No caminho espiritual, temos que superar o mal e o
bem, e embora seja verdade que em nosso primeiro estágio
procuramos mudar a doença em saúde, à medida que avan­
çamos, nos vamos identificando conscientemente com o
reino e a presença de Deus como Espírito; vamos compre­
endendo que temos de nos elevar acima tanto da doença
quanto da saúde. Para a consciência iluminada, trevas e
luz são a mesma coisa.

65
paz
( Cap. II do livro «Consciousnesa Unfolding» )

Deixo-vos a paz, a minha paz voz doa; não vo-la


dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, '
nem se atemorize. (João 14:27).

Minha paz, a paz de Cristo! Têm-se efetuado mais


curas em absoluto silêncio do que com todos os argumen­
tos elaborados por todos os metafísicos conhecidos na
história do mundo. Quando te pedirem ajuda, senta-te e
fica em paz. Não penses nada; senta-te e espera. Espera.
Espera pacientemente que a paz de Cristo desça sobre ti.
E então, nesse momento de paz, calado, testemunharás a
cura.
O único valor do tratamento consiste em nos elevar a
um nível de consciência que nos permita o desdobramento
da consciência espiritual. Agora, porém, estamos numa po­
sição diferente daquela em que procurávamos curar por
meio de tratamentos. Já atingimos um ponto, em nosso
desenvolvimento, que nos facilita encetar o próximo passo
ascensional. Embora a princípio tivéssemos necessitado de
argumentos mentais, de afirmações e negações, agora não
recorreremos mais a tal método.
Aprende a sentar-te e relaxar os músculos. Não im­
porta se o caso fôr de pecado, doença, morte ou desem­
prego. Senta-te e descontrai os músculos. Não tentes
«resolver» o problema. Não tentes «trabalhar» sôbre êle.
Não tentes «tratar» dêle. Senta-te descontraído e, em si­
lêncio, cria uma espécie de vácuo para que Deus, o Cristo,
Se precipite nêle. Senta-te e abandona a idéia de que a
mente hümana possa curar: o curador é Cristo. A essência

66
de todo o nosso trabalho é esta: Deus ê, Deus está presen­
te; deixemos, pois, que Deus trabalhe em nós e por meio
de nós na execução de Seu plano. A o invés de ficares a
íepetir Deus, Deus, Deus, deixa que Êle realize Sua obra,
visto que Êle é.
«A minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o
mundo».12O mundo pode dar-nos certa espécie de paz. Pode
proporcionar-nos um lugar sem ruídos, um sítio tranqüilo
ou um passeio marítimo. Esta é a paz que o mundo nos
pode oferecer. Aquêles que viajam para lugares distantes,
vão consigo mesmos e regressam a seus lares consigo
mesmos. Não podem fugir de si mesmos. Quem tem pro­
blemas, os leva consigo aonde quer que vá.
Devemos abandonar tais esforços inúteis. A mente
humana não é o Cristo. Há muitos anos que se vêm fa­
zendo esforços mentais em tentativas de curas. Entretanto,
diz a Bíblia: «Os meus pensamentos não são os vossos
pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos».3
O que adianta tudo o que temos pensado? A verdade é que
a mente humana não desempenha nenhum papel na rea­
lização da cura. O trabalho de cura espiritual é feito
exclusivamente por Cristo. Cura espiritual é aquela que
resulta da auto-realização consciente em Cristo, não de
argumentos mentais, nem do emprêgo de meios externos,
como a medicina e a cirurgia. «A minha paz vos dou». Nes­
sa paz «que excede todo o entendimento», nessa quietude,
nesse silêncio é que o poder de Deus se manifesta e executa
o trabalho.
Muitos nos procuram parecendo querer somente «pães
e peixes», ao invés de buscarem a Deus por Deus mesmo.
Não devemos preocupar-nos com isto. Não nos devemos
preocupar com o que parecem querer. Continuemos «can­
tando nossa canção». Os que puderem, a ouvirão; os outros
talvez ainda não estejam aptos a ouvi-la. Constatarás que
sempre se operam mais curas ante um sorriso, ante o
simples reconhecimento da presença de Deus, do que por
esforços mentais. E essas curas são mais autênticas, mais

1 - Jo 1 4 :2 7 .
2 - Is 5 5 :8 .

67
suaves e duradouras, porque resultam da descida do Espí­
rito Santo, ou seja, do próprio Cristo, ao penetrar na
consciência humana e banir as crenças errôneas dos sen­
tidos físicos.

PAZ - ESTADO DE NAO-RESISTÊNCIA AO ÊRRO


Que é o que se requer para «andar sôbre as águas» e
acalmar tempestades? algum argumento mental? alguma
negação? alguma afirm ação? O que Jesus disse à tempes­
tade fo i: «Paz! fica quieta!»3 E fo i o bastante: «Paz! fica
quieta!» Todos aquêles que têm feito trabalhos de cura
sabem que ela se opera quando se experimenta essa sen­
sação de paz, êsse estado de auto-realização em Cristo. O
que talvez não conheçam é o porquê da cura. Permitam-
me explicá-lo: Ê porque nesse estado de consciência, nessa
paz, o curador não luta, não opõe resistência ao êrro ou
falsa crença.
Isto eu aprendi por experiência, no meu primeiro ano
de serviço de cura. Um homem que sofria de tuberculose
fo i levado ao meu gabinete por um amigo. A o atendê-lo,
mencionou sua dificuldade em comer alimentos sólidos, por
sofrer de piorréia, e pediu-me que o curasse disto também.
Assegurei-lhe que sim. Mas esqueci-me completamente da
promessa que fizera. Na manhã seguinte êle me telefonou
e disse: «O que foi que o senhor fêz por mim? Levei cinco
minutos escovando os dentes com uma escôva dura e notei
que já estão todos firm es».
Isto me deu o que pensar. Foi a minha primeira ex­
periência de cura pelo «esquecimento» da doença. E logo
depois tive a segunda, quando uma môça me telefonou
pedindo ajuda para livrar-se de uma forte dor de cabeça.
Achava-se no meu consultório um paciente que, reconhe­
cendo a urgência do caso, levantou-se para sair, mas antes
de chegar à porta, o telefone tocou novamente: era a jo ­
vem, para comunicar que a dor tinha passado. A cura
fôra instantânea.
Tais coisas não ocorrem a ninguém que se dedique a
êste trabalho sem que o leve a pesquisar-lhe a causa, a in­
3 - M c 4 :3 9 .

68
dagar se são acidentais, se acontecem por acaso, ou se
revelam a existência de um princípio que as determine.
Estudando e observando meticulosamente tudo o que pu­
desse contribuir para a descoberta do segredo, aprendí
que a cura espiritual não é produzida pela mente humana,
mas por um estado de consciência crístico. A consciência
crística é o entendimento de que a doença não existe como
realidade e não deve ser combatida. A o «esquecer» a doen­
ça, o curador mostra que não a leva muito a sério.
Aquêle em que a luz de Cristo se evidencia na realiza­
ção de curas não faz do êrro uma realidade, pois não o
combate; pelo contrário, reconhece pacificamente o fato
de que Deus constitui a vida do ser individual, conscienti­
za-se de que a cura não se efetua «por fôrça nem poder,
mas pelo Espírito».45Se iima só pessoa sentada em silêncio
numa sala, em estado de receptividade, pode fazer com
que o silêncio ou paz que ela experimenta seja sentida por
todos os que se encontrem dentro da mesma sala, qual não
será a repercussão do grande poder de silêncio mantido por
todos os pequenos grupos de pessoas que estejam em me­
ditação, espalhados por todo o mundo?
Se a tua consciência estiver permeada pelo silêncio,
pela paz, estará impregnada do poder de cura. A realiza­
ção da cura depende do estado de consciência do curador.
Essa consciência é o que determina a cura daqueles que
recorrem a ti, não que êste poder seja tua propriedade
pessoal. O poder de cura é a presença de Deus, o Espírito,
manifestando-Se como consciência individual. Tu não tens
êste poder, a menos que tua consciência esteja unida ao
Amor divino, à paz «que excede todo o entendimento».8
Se quiseres entrar para o mundo dos negócios, se
quiseres ser bem sucedido comprando e vendendo alguma
coisa ou realizando qualquer espécie de transação, procede
como no trabalho de cura: começa com a consciência em
paz. Não inicies nada com mêdo, dúvida ou preocupações,
pois do contrário, estarás transmitindo tal estado de ser
negativo àqueles com quem negociares, e êles também o

4 - Z c 4 :6 .
5 - F p 4 :7 .

69
sentirão. Vai com êste silêncio em teu coração, vai em
estado de paz. Se necessário, antes de fazeres tua visita
de negócio, isola-te em algum lugar, por um ou dois minu­
tos, senta-te e obtém essa sensação de paz, antes de saíres
de casa. Observa o que essa sensação de paz já fêz por ti,
e atenta no que ainda fará. A paz na consciência é um es­
tado de receptividade.

PA Z: A EXPERIÊNCIA DE DEUS
Finalmente, vamos aprender o maior de todos os
segredos, o segrêdo que até agora muito pouca gente co­
nhece: o que é Deus. Se estudarmos as Escrituras, se
estudarmos as religiões e filosofias do mundo, provàvel-
mente chegaremos à conclusão de que Deus é alguma coisa
que está muito distante de nós, algo com que pouquíssimas
vêzes se toma contato, algo que pouquíssimas vêzes res­
ponde às nossas preces de acôrdo com os nossos desejos,
necessidades e vontades. Por não saber o que é Deus, con­
tinua o homem, geração após geração, orando pela paz
do mundo e não conseguindo paz, orando pela prosperida­
de, pela vida, pela saúde e imortalidade individuais e não
as conseguindo.
Se somos cristãos, devemos saber pelo menos onde
Deus está, porque Jesus nos disse que «o reino de Deus
está dentro de nós».6 Sòmente isso, se o tivéssemos crido,
teria sido uma base maravilhosa para a nossa pesquisa.
Se os nossos pais, avós e outros que nos precederam tives­
sem passado êstes últimos dois mil anos buscando o reino
de Deus dentro de si mesmos, êste já teria sido encontrado
e estaria manifesto. A o invés disto, porém, tôdas as gera­
ções que nos antecederam têm-se voltado para alguns mes­
tres postos em evidência, ou têm volvido os olhos para o
firmamento ou em outra direção qualquer, menos para
onde lhes fôra aconselhado, isto é, para dentro de si mes­
mos. Ê chegada a hora, neste século, de começarmos a
olhar para êsse reino dentro de nosso ser, porque é onde
encontraremos Deus.

6 - L c 1 7 :2 1 .

70
Embora possa falar-te dêsse reino, sòmente tu pode­
rás fazer com que êle se te revele dentro de ti mesmo.
Então saberás realmente que Deus é Vida eterna, Cons­
ciência infinita. E saberás também que essa Consciência
divina, universal, está Se manifestando como tua consciên­
cia individual, para que, finalmente, possas declarar «co­
mo quem tem autoridade»:7 «Eu e o Pai somos um».
Precisamos conhecer a natureza de Deus e sentir-Lhe
a presença. Espero que no próximo decênio não continue­
mos como até agora, apenas a falar acêrca de Deus: já é
chegado o momento em que devemos conhecer a Deus por
experiência. Não devemos passar superficialmente por es­
ta parte do ensino de «O Caminho do Infinito», porque é a
mais importante. Precisamos ver a Deus enquanto ainda
estamos na carne - tu e eu, individualmente, aqui e agora,
sem esperarmos pela morte. Precisamos conhecer a Deus
diretamente em nossos períodos de silêncio, em nossos
momentos de paz.
Sempre que te sentares para meditar, lembra-te da
declaração do Mestre: «Deixo-vos a paz, a minha paz vos
dou»8 - a paz que excede todo o entendimento. Deixa que
esta paz te envolva. Nesta paz encontrarás a presença de
Deus e, nesta presença , o poder, a alegria, domínio, cura -
cura não sòmente para ti mesmo, como também para to­
dos aquêles que entrarem na tua atmosfera mental.
No método de cura metafísica antigo, a primeira coi­
sa que fazíamos, quando alguém nos apresentava um pro­
blema, era «contestá-lo», era formular prontamente um
pensamento sábio, alguma idéia de cunho bíblico ou meta­
físico, afirmativa ou negativa e, com isso, refutar a su­
gestão representada pelo problema. Estávamos sempre ne­
gando algum êrro e afirmando alguma verdade. Mas agora,
adotando êste nôvo método, não vamos negar nem afirmar
coisa alguma. Vamos sentar-nos e ficar tranqüilos, des­
contraídos, permitindo-nos assim sentir uma sensação de
paz profunda, e deixando que êsse senso de paz se encar­
regue do trabalho. Vamos provar que o que cura não é a

7 - M t 7 :2 9 .
8 - Jo 1 4 :2 7 .

71
ação da mente humana. Compreendes o perigo que há em
creres que tuas afirmações e negações sejam necessárias,
ou que precises formular alguma espécie de pensamento?
Tal crença te levaria ao desespêro, quando não estivesses
em condições de pensar. Mas, com a adoção dêste nôvo
método, isso jamais ocorrerá, porque a presença de Deus é
tudo o que se faz necessário para a realização da cura. E
nessa presença, qualquer idéia que se nos revele em nosso
íntimo será completamente diversa dos pensamentos hu­
manos. Será uma revelação divina a anunciar a presença
e poder de Deus. Para isto é que passamos muito tempo
desenvolvendo «a audição interna».
Agora deves começar a mudar tôda a velha base de
tratamento metafísico. Se necessário, fá-lo dràsticamente,
determinando-te a não mais te preocupares. Estou pedindo
que te eleves a um nível de consciência superior ao que se
pode atingir através da ação da mente humana. Vamos
dar um passo para a frente e para o alto, vamos entrar na­
quele estado de consciência em que estaríamos, se fôsse­
mos discípulos de Jesus, quando êle disse: «Não andeis
ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer,
nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de v e s tir...
vosso Pai sabe que necessitais destas coisas. . . Observai
os lírios, como crescem; não fiam nem tecem. Eu, contudo,
vos afirmo que nem Salomão, em tôda a sua glória, se ves­
tiu como qualquer dêles».e
Essa recomendação se aplica a nós outros. Lembremo-
nos de adotar individualmente essa atitude de despreo­
cupação, firmeza e segurança, enchendo-nos, assim, de paz
e poder divinos. Essa consciência é a própria presença e
poder de Deus. Quando não estamos pensando, ou lutando
com pensamentos; quando não estamos combatendo o êrro,
nossa consciência é a presença e poder de Deus. Esta cons­
ciência divina permanece inoperante em nós quando nossa
mente está agitada. Embora nunca te possas afastar da
presença de Deus, em tal estado jamais serás beneficiado
por Êle. Não serás beneficiado senão à medida que a paz
descer sôbre ti.9

9 - L c 1 2 :2 2 ,3 0 ,2 7 .

72
Paulo experimentou essa paz como «a descida do Es­
pírito», isto é, como a descida do Espírito de Deus no
homem. Essa expressão é usada para descrever o que apa­
rece quando estamos pensando, quando nossa consciência
está cheia somente de pensamentos de Deus. Quando esta­
mos em silêncio, Deus enche nossa consciência muito mais
do que quando nossa mente está em atividade. Ê-nos difí­
cil imaginar êsse estado de ser, porque estamos habituados
com a idéia de que precisamos estar sempre pensando, ou
que necessitamos reter algum pensamento. Isto não é ver­
dade. Se pudermos ficar em silêncio por meia hora, mas
em verdadeiro silêncio, estaremos no céu. Silêncio é Deus
em ação. Portanto, quando se nos depare algum problema,
nosso ou de outrem, deveremos ficar em silêncio, deixando
que a solução apareça.
Suponhamos que hoje alguém nos venha com um pro­
blema qualquer, como de desemprêgo, algum vício, alguma
doença. Ao invés de refutar a idéia da existência do pro­
blema, procuremos ver «através» dêle, olhando para
«além» de sua aparência, visto que êle existe somente co­
mo aparência. Ora assim, em atitude de escuta interna:
«Pai, projeta luz sôbre êste problema, para que eu possa
vê-lo como é». E observa o que êste tratamento fará por
ti. Em outras palavras, quando vires os dois trilhos de
uma estrada de ferro se juntarem num ponto, não te per­
guntarás o que devas fazer para separá-los, mas pedirás
ao Pai que te mostre êsses trilhos como êles estão. E não
precisarás mais pensar nisso.
Não tentes melhorar ninguém, nem a sua saúde. Não
aceites em tua consciência o pensamento de que possa
existir alguém com saúde precária. Senta-te e fica em es­
tado de receptividade, relaxado, em silêncio, em paz; deixa
que a paz penetre todo o teu ser e, em chegando a êste
ponto, continua ainda em atitude de escuta interna, obser­
vando como a luz dissipa as trevas, como a inteligência
dissipa a ignorância. E então perceberás que, na verdade,
não és o curador, mas sim uma testemunha que observa
como êsse estado de paz efetua a cura. Deves ser um obser­
vador da atividade de Cristo, ou seja, de Deus. Observa
como Êle trabalha em nós, através de nós e como nós.

73
«Se eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, mas
não tivesse caridade, seria como o bronze que soa, ou como
o símbalo que retine.»10 O que importa é o amor, e não as
palavras, por mais eloqüentes que pareçam, e não as afir­
mações acêrca da verdade, por mais enfáticas e vibrantes
que sejam. Se os sermões, se as afirmações acêrca da ver­
dade não estiverem repassados no senso de união com
Deus, o Infinito Invisível, de nada servirão ao ministério
de cura. O importante não são as palavras em si, ou a
letra da verdade. O que importa é até que ponto o prati­
cante de cura espiritual está cônscio de que Deus é amor e
vida, até que ponto o curador se tornou incapaz de temer,
detestar ou amar o êrro, sob qualquer aspecto que êste
se apresente.
Lemos no Evangelho segundo João: «Não que alguém
tenha visto ao Pai; sòmente quem é de Deus viu ao Pai.»11
Isto é o mais importante. Nenhum mortal, nenhum ser hu­
mano pode ver ou conhecer a Deus. Sòmente o Filho de
Deus, a consciência crística de cada um pode ver ou con­
templar a presença de Deus. Em outras palavras, não é a
nossa mentalidade humana que conhecerá a Deus. Com a
mente humana, jamais veremos, jamais conheceremos a
Deus, a vida espiritual. Mas o Filho de Deus, a consciência
crística, nosso sentido espiritual, pode ver a Deus.

E NECESSÁRIO DESENVOLVER
O SENTIDO ESPIRITUAL
Eis a essência do ensino de Cristo. E nisto que a hu­
manidade não tem conseguido penetrar, porque vem ten­
tando conhecer a Deus através do intelecto, vem tentando
«explicar» Deus. Isto não é possível. Deus não pode ser
percebido senão pelo sentido espiritual. A Verdade e Suas
manifestações - o Universo espiritual - , ninguém pode dis­
cernir senão pelo sentido espiritual desenvolvido. Pode-se
desenvolver êste sentido por vários m eios: pela nossa lei­
tura m etafísica e pelo estudo das Escrituras; ensinando e
aprendendo a viver espiritualmente, associando-se a pes­
10 - 1 C o 1 3 :1 .
11 - Jo 6 :4 6 .

74
soas que seguem pelo mesmo caminho espiritual. Reunin­
do-nos todos com o mesmo objetivo, desenvolvendo êsse
sentido espiritual, chamado «a mente que havia em Cristo
Jesus»12 Paulo referiu-se a isto como «o Cristo que vive
em mim». Trata-se de um sentido sutil, que devemos de­
senvolver conscientemente.
Podes facilitar essa realização divina procurando
conscientizar-te, muitas vêzes durante o dia e uma ou duas
vezes à noite, de que Deus é o centro, a realidade do teu
ser; é a tua mente, a tua Alma, que funciona como teu ser
individual.
Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer
dêste pão viverá etemamente. O pão que eu darei pa­
ra a vida do mundo é a minha carne.13
Êste pão, ou entendimento, é o Verbo que Se fêz carne.
Quando olhas para o teu corpo através da mente humana,
o que vês é apenas um reflexo do conceito mortal e ma­
terial de corpo, e nunca poderás ver outra coisa, servin­
do-te da mente humana. No entanto, com o desenvolvi­
mento dêste senso do «Eu» que «Eu Sou», a Consciência do
Pai-Mãe, a Consciência Crística, aprenderás a olhar para
o universo através do sentido espiritual e, finalmente, co­
meçaras a ver «o templo não feito por mãos, eterno, nos
céus». Esta foi a visão crística que João teve, sua visão
do céu, quando ainda na terra, quando estava aqui, andan­
do, falando, trabalhando entre sua gente. Êle viu o que
olhos humanos jamais tinham visto. Viu o templo não feito
por mãos, viu o universo espiritual, o corpo espiritual. Isso
é o que verás quando, ao invés de recorreres ao emprêgo
de pensamentos, penetrares em ti mesmo, em estado de
silêncio, em estado de paz.
Respondeu-lhes Jesus: «Em verdade, em verdade vos
digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem e
não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós
mesmos.»14

12 - Po 2 :5 .
13 - Jo 6 :5 1 .
14 - Jo 6 :5 3 .

75
A menos que comas dessa carne e bebas dêsse sangue,
a menos que absorvas e assimiles êsse alimento, a menos
que vejas o «templo não feito por mãos,» não terás vida
eterna. Comer e beber significa, neste caso, perceber, acei­
tar, absorver, assimilar, apreender, conscientizar, espiri-
tualmente. Quanto mais olhares para o mundo através da
lógica humana ou do pensamento humano, tanto mais
terás do corpo carnal que deve morrer em algum lugar, en­
tre sessenta e cem anos de idade. Entretanto, quanto mais
assimilares esta verdade do ser, isto é, quanto mais cons­
cientizares a verdade acêrca de Deus e de Sua criação, mais
inteligência e vida manifestarás enquanto usares êste
corpo.
Muitos dos seus discípulos que o tinham ouvido dis­
seram: «Dura é esta linguagem; quem a pode ouvir?»
Sabia Jesus que disto murmuravam seus discípulos;
pelo que lhes disse: «Isto vos é motivo de tropeço?»151 6
A mente humana sempre se ofende com a verdade,
porque esta é contrária a tudo o que ela conhece. Imagina
que insulto, para ela, dizermos que quando está quieta ou
inativa podem realizar-se curas maravilhosas! Imagina
que afronta, para o homem que se orgulha de seus conheci­
mentos intelectuais, dizermos que todo o seu dinamismo
mental não fará tanto por êle quanto o faria um só mo­
mento de silêncio!
«O espírito é que vivifica; a carne nada vale. As pala­
vras que acabo de dizer-vos são espírito e são vida.
Mas há entre vós alguns que não crêem.»18
Em que não acreditavam alguns deles? Que o Espíri­
to vivificasse, e não a carne, isto é, que o silêncio, a paz fi­
zessem realmente o trabalho, e não a ginástica mental, não
o que se aprende em livros ou por meio do intelecto. Nós,
hoje, como outrora os discípulos de Jesus, também não es­
tamos conseguindo muito, não estamos fazendo grande
progresso. Como no tempo de Jesus, a mente humana se
ofende, fica irritada com a idéia de que possa existir um
Espírito que trabalha sem palavras ou pensamentos, ou

15 - Jo 6 :6 0 ,6 1 .
16 - Jo 6 :6 3 ,6 4 .

76
com a idéia de que existe no homem um Espírito que pode
levantá-lo, orientá-lo e acalmar-lhe as tempestades da
vida, sem que para isto necessite pensar, falar ou recorrer
a tratamento.
«Mas há entre vós alguns que não crêem». Ê que Jesus
sabia desde o princípio quem eram os descrentes e
quem o havia de entregar.
E prosseguiu: «Por isso é que vos disse que ninguém
pode vir a mim, se não lhe fôr dado pelo Pai».17
E que foi o que aconteceu?
A partir daí, muitos dos seus discípulos se retiraram
e não andavam mais com êle.18
Acaso é de estranhar que ainda hoje tão poucos pos­
sam alcançar a grande verdade de que o Espírito é que
vivifica, de que há no homem um Espírito que opera pro­
dígios de cura e regeneração? A mente humana se ofende
quando tentamos dispensar seu auxílio.
«A vós não vos pode o mundo achar. A mim, porém,
me odeia, porque eu dou testemunho de que as suas
obras são más».19
O mundo jamais odiará quem usar as armas ou utilize
os métodos de trabalho que êle considera válidos. O mun­
do odeia sòmente aquêles que dizem que tudo o que êle
tanto preza é desnecessário, visto existir um poder mais
alto, o poder do Espírito. Daí a perseguição, embora não
seja inevitável. Atualmente estamos aprendendo a deixar
que o Cristo impessoal absorva tôda a perseguição que nos
movam, ao invés de nos permitirmos tomá-la sôbre nós.
Aceitamos a perseguição, ou tomamo-la sôbre nós, quan­
do cremos que a mensagem que apresentamos seja de
nossa propriedade particular. Cada um de nós deveria, em
vez de aceitar essa perseguição, conscientizar-se do seguin­
te: «Esta verdade não é minha, mas de Cristo. Se alguém
odiar-me por isto, que seu ódio recaia sôbre ela, e não
sôbre mim, porque eu estou apenas mostrando o que o
Mestre ensinou sôbre a presença de Cristo e o poder d’Aqui-

17 - 6 :6 4 ,6 5 .
18 - Jo 6 :6 6 .
19 - Jo 7 :7 .

77
lõ que constitui nosso verdadeiro ser, o Consolador no
íntimo de cada um. Se o. mundo quiser odiar esta verdade,
que a odeie». Êste é o segredo do Mestre, o segrêdo da
«paz que excede todo o entendimento»,20 o segrêdo da
paz que é poder.

O PROFUNDO SIGNIFICADO DA TENTAÇAO


Em seguida, fo i Jesus levado pelo espirito ao deserto,
a fim de ser tentado pelo diabo.
Jejuou quarenta .dias e quarenta noites. Depois teve
fome.
Então se aproximou dêle o tentador e disse-lhe: «Se
és Filho de Deus, manda que estas pedras se conver­
tam em pão».
Respondeu-lhe Jesus: «Está escrito: Nem só de pão
vive o homem, mas de tôda a palavra que sai da bôca
de Deus».21
Vemos aqui o grande e profundo significado da tenta­
ção. Esta passagem mostra o exemplo típico de fidelidade
à essência de todos êstes ensinamentos, ante a tentação
que sentimos de concentrar o pensamento e a atenção nas
coisas dêste mundo, isto é, nas necessidades externas, e
demonstrar o poder de produzir efeitos extraordinários,
como a provisão de alimentos mediante a operação de um
milagre. Jesus sabia que essa não era a maneira de se de­
monstrar a presença de Deus como suprimento de nossas
necessidades. O meio de demonstrá-la consiste em se viver
permanentemente numa atitude interna que se pode tra­
duzir nestes têrmos: «Uma vez que Deus é consciência di­
vina, e que a consciência é a substância e atividade criado­
ra de tôdas as form as, enquanto eu viver, me mover e
tiver o meu ser como consciência espiritual, tôdas as for­
mas de suprimento aparecerão sem que eu me preocupe
com elas». Esta era a resposta de Jesus a tôdas as tenta­
ções.
Esta deve ser também a tua resposta. Em vez de «tra­
balhar», isto é, de fazer trabalho mental, quando se te apre­
2 0 - F1 4 :7 .
2 1 - M t 4 :1 - 4 .

78
sente qualquer problema, lembra-te de que já aceitaste
os dois grandes mandamentos do Mestre: «Não andeis an­
siosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem
pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir»22 e «Bus­
cai, pois, em primeiro lugar, o Reino de Deus e Sua jus­
tiça (Verdade), e estas coisas vos serão dadas de acrés­
cim o».23 Quando te sentires tentado a usar esta verdade
para obter um emprêgo, ou para efetuar uma cura ou fa­
zer alguma coisa no plano externo, dize com o Mestre, a
ti mesmo:
Eu não vivo som ente de pão, mas de tôda a palavra
que procede da bôca de Deus. Não vivo de suprimen­
tos externos. Êstes são coisas recebidas «de acrésci­
m o», que me vêm às mãos espontaneamente, como um
desdobramento natural do meu estado de auto-reáli-
zação em Deus, a Consciência divina, que está sempre
Se manifestando como minha consciência individual.
Ela é a fonte do meu suprim ento; logo, não preciso
fazer magia. Não preciso que o «eu» pessoal se arvore
em demonstrador de poderes. O único EU, o grande
EU SOU, está governando, mantendo e sustendo Sua
própria «imagem e semelhança». Se tentar fazer mi­
lagre, se tentar fazer demonstração de poder, estarei
criando um «eu» separado de Deus, revestindo-me,
assim, de uma personalidade que não ê de Deus. Deus
está sempre mantendo o que é Seu.
Por ceder à tentação de demonstrar podêres é que a
mente humana entra em conflito e cria sofrimentos. Esta
a razão por que criou «o filho pródigo», que não estava sa­
tisfeito em viver só dos bens de seu pai, e por isso, saiu de
casa, partiu para o mundo, com o desejo de abrir seu pró­
prio caminho na vida. E sabes como acabou.
Então o diabo o levou à cidade santa, colocou-o sôbre
o pináculo do templo e disse-lhe:
«Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque
está escrito: Recomendou-te a seus anjos qufrte guar­
dem . . . para qué não tropeces em alguma Tpedra».
2 2 - L c 1 2 :2 2 .
2 3 - L c 1 2 :3 1 .

79
Replicou-lhe Jesus: «Também está escrito: Não ten­
tarás o Senhor, teu Deus».24
Se temos o próprio Deus como nossa consciência, aca­
so precisaremos produzir anjos, alguma espécie de efeitos
extraordinários para nos segurar, amparar e ajudar? Pre­
cisaremos de alguma coisa além de Deus? Não nos torna­
mos idólatras quando recorremos a algo que não seja Deus,
a algo «menos que Deus» para nos manter? Acaso não será
isso pecado contra o nosso próprio senso de vida espiri­
tual? Quando form os tentados a recorrer ao «homem cujo
fôlego está no seu nariz»,2526quando form os tentados a con­
fiar em alguma forma humana de Deus, ainda que nos pa­
reça como um anjo, lembremo-nos da tentação de Jesus.
Perguntemo-nos a nós mesmos: Tenho alguma necessidade
de anjos? Necessito de algum auxílio? Necessito de algu­
ma form a menor de ajuda, mesmo que seja a do pensa­
mento humano?
Ainda o diabo o transportou a um monte muito eleva­
do, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua gló­
ria, e disse-lhe: «Tôdas estas coisas te darei se, pros-
tando-te em terra, me adorares».
Ordenou-lhe Jesus: «Vai para trás, Satã, porque está
escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a êle ser­
virás !»
Então o diabo o deixou, e eis que vieram anjos e o ser­
viram.28
De vez em quando, todos nós somos tentados a dar as
costas ao nosso mais elevado senso de Alma, a fim de me­
lhorar nosso destino neste mundo: somos tentados a me­
lhorar nossa situação descendo da altura espiritual em que
nos sentimos mais ou menos em união com Deus para ado­
tarmos uma form a de tratamento inferior; somos tentados
a confiar em alguma coisa separada e indèpendente de
Deus. E aí é que devemos resistir à tentação e aprender a
ficar em silêncio, nesse estado de paz que não vê podêres
em aparências. Uma vez que Deus é a consciência indivi­

2 4 - M t 5 J f.
2 5 - Is 2 :2 2 .
2 6 - M t 4 :8 -1 1 .

80
dual de cada um, não precisamos de nenhuma form a de
tratamento inferior ao representado por esta certeza; não
precisamos de nenhuma ajuda humana, nem sequer sob
form a mental. Precisamos somente estar sempre seguros
de que Deus é a nossa consciência individual.
Comecei dizendo que devemos todos chegar a um ní­
vel de consciência que nos permita saber o que é DeuS. E
agora volto ao assunto. Deus é o princípio dêste universo,
mas se manifesta como consciência individual. Ê o princí­
pio do teu e do meu universo individual e a lei para a tua
e para a minha vida. Nossa experiência externa é determi­
nada pelo nosso, o teu e o meu grau de auto-realização em
Deus - a Lei, a Vida Divina - , que atua como tua consciên­
cia individual. Isto, porém, não significa que cada um de
nós seja ou tenha um deus separado, mas quer dizer que,
não obstante cada indivíduo possuir consciência, ilimitada,
essa consciência indivisível é o único Deus, o Onipotente.
No entanto, enquanto não soubermos que, como cons­
ciência individual, temos o nosso ser em Deus e que em
Sua eterna presença vivemos e nos movemos, não estare­
mos recebendo Sua orientação e proteção no que esteja­
mos fazendo neste mundo. Para isso, precisamos saber que
Êle é a divina realidade de nosso ser; precisamos seníi-Lo
mais perto que o próprio ar que respiramos. Êste é o se-
grêdo. Não basta saber intelectualmente que Deus é a Vida
eterna. Precisamos estar extremamente conscientizados
disso, como qstava Jesus, quando declarou: «Eu sou a vida
eterna». Nesse estado de ser, êle não disse que Deus era a
vida eterna, nem que Deus era o caminho, mas afirmou:
«Eu sou o caminho». Em outras palavras: «Tudo o que
Deus é, Eu sou; tudo o que Deus tem, Eu tenho, porque Eu
e o Pai somos um».
Compreendes que para podêres ajudar alguém não de­
ves voltar as costas à tua própria consciência, à Consci-
ência-Deus? Antes, pelo contrário, deves permitir que haja
em ti aquela paz e confiança que Jesus demonstrou ao ven­
cer as tentações. Não deves esquecer essa história das ten­
tações no deserto. Lembra-te que Jesus estava no cume
do monte, mas com sua consciência divina. Lembra-te de

81
que êle sabia que sua própria consciência era a fonte de
todo o bem.
Cada um de nós, uma ou outra vez, será solicitado a
ajudar alguém. Alguns serão chamados para ajudar a
muitos. Para isso, nenhuma lição será de maior valor que
esta que te estou dando agora. Começa hoje, neste momen­
to: Lembra-te de que o que atua em benefício da tua fa­
mília, dos teus negócios, de teu lar, do teu corpo, é a tua
consciência, e não um deus distante. Ê a tua própria cons­
ciência individual, quando em silêncio e paz. Tudo o que
tens ou terás de fazer quando fores chamado, será conse­
guir êsse estado de paz.
Não te preocupes em aprender grandes verdades. Pro-
vàvelmente não existem verdades maiores do que as que já
conheces. Há, porém, uma coisa que deves conseguir pela
prática da meditação: um estado de paz interior ligado à
compreensão de que o Cristo que cura é a tua própria cons­
ciência.
Quando houver em ti aquela «mente que havia em
Cristo Jesus», e que é o que cura, tu o saberás. Estarás en­
tão nesse estado de paz que resulta da compreensão espiri­
tual de que o êrro não é poder, porque não é real. E não o
combaterás, não lutarás com êle, não procurarás alge­
má-lo, nem passarás a noite sentado, de vigília, para teres
a certeza de que êle não te vencerá. O que deves fazer é
procurar aprender como encontrar a tua paz.
Quando andares pelo mundo com essa sensação de
paz - com essa paz que só se pode experimentar quando se
compreende que Deus é e que o êrro não é - , quando sen­
tires essa sensação de paz, será porque já terás atingido a
consciência crística, que é a tua consciência individual,
quando já não temes, não odeias nem amas o êrro, qual­
quer que seja seu nome ou natureza.
Não temos feito os trabalhos de cura que deveria­
mos fazer, e em quase todos os casos a razão é sempre
a mesma. É a nossa curiosidade em saber quando a mente
de Deus fará alguma coisa em benefício do paciente, ou
quando o Amor divino começará o trabalho, ou quando en­
traremos em contato com o Amor divino, o Espírito que
cura. Dêste modo, não podemos e nunca faremos o traba­

S2
lho que deveriamos, porque, no caso, a curiosidade implica
em negar a verdade de que a mente de Deus é a nossa men­
te individual, de que o Espírito é o nosso espírito indivi­
dual, e o Am or divino o amor de que estamos impregnados
como consciência individual. E só alcançamos o nível de
consciência que faz o trabalho de cura quando nossa mente
está em paz.
Se alguém te pedir ajuda, estarás no dever de entrar
no estado de «paz que excede todo o entendimento huma­
no», e então êste estado de paz será para tôda crença er­
rônea o que foi a ordem de Jesus para aquela tempestade
no lago Tiberíades.
O praticante de cura espiritual precisa «viver, mo­
ver-se e ter seu ser» nesse estado de paz que produz a cura,
nesse estado de harmonia, bem-estar e confiança, nesse
estado de transparência espiritual.
Nesse èstado de transparência, tua consciência indi­
vidual (e a minha) é Deus! E Deus, a verdadeira consciên­
cia do indivíduo, é o que cura.

83
CARNE E CRRNE
Carta mensal de fevereiro de 1970

Prezado Am igo:
São muito raros os textos de sabedoria espiritual que
não têm duplo significado: o literal e o intuitivo, espiri­
tual ou místico. Muitas passagens bíblicas, palavras e
afirmações, parecem contraditórias, mas diivido que real­
mente o sejam. Poderão parecer contraditórias se inter­
pretadas apenas literalmente, segundo os dicionários. Não
encontrei nenhuma contradição em tôda a Bíblia.
A palavra «carne» é, provàvelmente, a mais discutível
das que se encontram nas Escrituras, porque é empregada
em dois sentidos inteiramente diversos. Não há propria­
mente duas espécies de carne, mas dois diferentes aspectos
da mesma carne. O Espírito é um deles. Ê a substância ori­
ginal. É a Idéia, e quando penetra em nossa consciência é
0 Verbo feito carne. Depois, quando se torna visível, aqui
neste plano, é a carne «que perece»; a carne ou matéria de
que hoje podemos desfrutar. Entanto, não devemos ape­
gar-nos a ela amanhã. Precisamos mudar nossa concepção
acêrca do ser, acêrca do corpo e do suprimento de nossas
necessidades cotidianas. Isaías disse que «Tôda a carne é
erva»,1 e declarou Jesus que «A carne de nada vale».7 Mas
no Evangelho segundo João está escrito: «O Verbo se fêz
carne».13
2
Êste «o Verbo que se fêz carne» pode ser considerado
uma das maiores premissas da doutrina do Mestre, e é
1 - Is 4 0 :6 .
2 - Jo 6 :6 3 .
3 - Jo 1 :1 4 .

84
também o maior postulado do ensino de «O Caminho do
Infinito». A palavra de Deus torna-se visível ou tangível,
manifesta-se dentro de nós: o Verbo torna-se o filho de
Deus. Neste sentido a palavra carne significa form a espi­
ritual, atividade espiritual, realidade espiritual. «O Verbo
se fêz carne e habitou entre nós»: Deus tornou-se visível
como homem. Deus, o Pai, tornou-se visível como o filho,
mas ninguém jamais verá êsse homem através dos olhos
físicos. Êsse homem, êsse filho de Deus, nós só podemos
ver quando atingimos o mais alto grau de percepção es­
piritual.
Nenhum curador espiritual pode curar senão no mo­
mento em que contempla o homem espiritual: o Verbo fei­
to carne. O papel da meditação, ou tratamento, do curador,
consiste somente em conduzi-lo ao estado de consciência
em que o Verbo se torna carne como homem espiritual.
Ainda que de manhã à noite nos dediquemos a refle­
xões e meditemos sôbre cura, se estas não culminarem
proporcionando-nos pelo menos uma fração de segundo de
relaxamento, isto é, de liberdade, alegria e paz, será inútil
esperar que tais meditações produzam cura, ou a restau­
ração da harmonia, porque o que cura não são os pensa­
mentos em que refletimos. O máximo que êles podem fazer
é elevar-nos a um estado de consciência acima do sentido
de vida humano, estado em que, em dado momento de
percepção espiritual, nos ocorre como que um clarão re­
pentino diante de nossos olhos que nos diz: «Eu era cego e
agora vejo».4 Naturalmente pode êle, o curador, não ter
visto, nem ouvido coisa alguma e, não obstante, êle sabe,
êle percebe, e visualiza.
Alguém absorve uma afirmação sôbre a verdade em
sua consciência, medita sôbre a mesma e finahnente chega
ao fim da meditação, senta-se tranqüilamente, receptiva,
expectativa de algo que se desabrocha em nosso íntimo;
ocorre então, êsse momento de iluminação - o vislumbre
de alguma coisa, uma sensação de relaxamento e paz -
como se estivesse sem corpo. Então é que percebemos a
Realidade, Deus, que é invisível, manifestada em form a tan­

4 ■ Jo 9:25.

85
gível, embora não a possamos ver com os olhos nem ouvir
com o ouvido. Sentimo-nos leves, com um profundo senti­
mento de alegria e uma sensação de que se consumou a
cura.
Depois disso, poderá diminuir a febre, desaparecer a
inchação, chegar o suprimento, conseguir-se um emprêgo
ou encontrar-se nova casa para morar, ou surgir a solução
para qualquer outro problema. Tôdas essas coisas são os
resultados da ação do Verbo invisível em nossa experiên­
cia terrena, quando Êle se nos torna palpável como a sen­
sação de uma presença invisível.
Distinguimos no trabalho de cura dois pontos essen­
ciais: primeiro - o Verbo invisível, Deus, o Infinito Invi­
sível, que sabemos estar, aqui e agora, enchendo todo o
espaço dentro e fora de nós; segundo - a manifestação
dêsse Verbo em nossa consciência, o que se nos evidencia
quando vislumbramos o Divino, do que resulta, finalmente,
aquilo a que chamamos cura ou mudança na aparência
externa. Mas não poderá haver nenhuma mudança de apa­
rência externa se não ocorrer antes alguma mudança em
nosso estado de consciência.
O praticante de cura espiritual obtém êsse vislumbre
do Divino, ou percebe êsse clarão instantâneo, no momen­
to em que o Verbo invisível se faz carne, isto é, se torna
perceptível à sua consciência. Depois disso êle continua
entregue às ocupações normais, sem prestar atenção às
aparências, até que chega o momento em que recebe o
comunicado de que a pessoa que lhe pedira ajuda está se
sentindo mèlhor.
Não fixes tua atenção em aparências. Não fiques na
expectativa de mudanças de aparência. «Em minha carne
verei a Deus».5 Podemos ver a Deus enquanto vivemos na
terra, aqui e agora. Não quero dizer que possamos vê-Lo
com os olhos físicos, mas, sim, podemos discerni-Lo, ou
percebê-Lo ao sermos tocados por Êle ou ao tocarmos a
orla do Manto.
Todo praticante de cura espiritual recebeu iluminação
direta ao servir de instrumento de cura, se não por outro

5 - Jó 1 9 :2 6 .

86
meio. Do contrário, não poderia ter havido cura por seu
intermédio. Atualmente, não há ninguém no mundo que
esteja fazendo obras maiores que as do Mestre, Cristo
Jesus. E Êle disse: «Não posso de mim mesmo fazer coisa
alguma».6 Estou convencido de que não podemos fazer
mais do que êle poderia. O Pai, dentro de nós, é que faz
o trabalho, mas somente no momento de nossa iluminação
ou contato com Ele. Daí por diante, após o recebimento da
iluminação, êsse fluxo de luz continua naturalmente, sem
esforço consciente, mas para sentirmos de nôvo êsse di­
vino Impulso, precisamos entrar em silêncio diàriamente,
e dias haverá em que teremos de fazê-lo às vêzes uma dúzia
de vêzes.
Depois de alguns anos de permanência no Caminho,
não precisamos voltar a estabelecer êsse contato com cada
meditação o tratamento dado durante o dia. Virá o tempo
em que sempre estaremos apercebidos de que «vivemos,
nos movemos e temos o nosso ser»7 em Deus, e raramente
estaremos fora dêste estado de consciência. Somente quan­
do sob a tensão desagradável de uma grande emoção, de
alguma tragédia horrível, alguma experiência chocante, é
que poderá, quem viveu neste Caminho durante muitos
anos, decair de seu ritmo de trabalho interno e ver-se fora
temporariamente do reino de Deus. Isto poderá suceder
também aos que já estejam bastante avançados no Cami­
nho, mas não lhes será muito difícil entrar em sintonia e
restabelecer seu contato interno. Todavia, nos nossos pri­
meiros anos nesse trabalho a coisa não é assim. Às vêzes
perdemos êste contato e só depois de dias de luta e difi­
culdades é que conseguimos voltar ao nosso centro espi­
ritual.

A CARNE QUE PERECE


A palavra «carne» é usada em sentido inteiramente
diferente na afirmação: «Tôda a carne é erva». Carne,
neste sentido, é tudo o que percebemos através dos nossos
sentidos físicos, isto é, o que vemos, ouvimos, saboreamos,
6 - Jo 5 :3 0 .
7 - A t 1 7 :2 8 .

87
tocamos e cheiramos. Enquanto estivermos em um estado
de consciência em que demonstração se prende às pessoas,
coisas ou circunstâncias, jamais seremos capazes de entrar
no reino de Deus, o reino do Espírito, do Real.
Nem a posse de um bilhão de dólares possibilitará a
ninguém herdar o reino de Deus, nem o poderá a crença de
que a carne tenha poder para causar dor ou prazer. En­
quanto nossa fé e confiança estiverem postas em efeitos,
não conheceremos a realidade das coisas: conheceremos
somente as form as externas, terrenas. Contudo, quando
mediante estudo e meditação os nossos interesses começam
a transcender a esfera das pessoas, bem como das coisas e
situações materiais, boas ou más, então seremos conduzi­
dos a um plano superior de consciência, no qual, finalmen­
te, veremos a Deus como Êle é e nos sentiremos satisfeitos
com a Sua «imagem e semelhança».
Então é que podemos começar a compreender também
por que é possível amar-nos uns aos outros como seme­
lhantes, como amigos, e não mais como servos. No mundo
material, nós nos vemos como servos, mas quando nos
contemplamos uns aos outros através dessa visão interna,
nós somos amigos. Na verdade, quando nos analisamos
aquij neste plano, somos sêres mortais, materiais e limi­
tados; somos essa carne que seca como a erva; mas,
quando nos contemplamos com visão espiritual, em nossa
verdadeira identidade, somos filhos de Deus. Quando des­
pertamos dêste sonho de vida material, vemos nosso se­
melhante tal como realmente é, e ficam os satisfeitos com
a semelhança que observamos.
Quando te apresentas a um instrutor espiritual com
problemas relativos ao corpo, à bôlsa, a condições morais
ou de família, porque estás prêso à terra, e se êle te con­
templa na luz dêsses aspectos, jamais te ajudará a resolver
teus problemas. Mas a capacidade de permanecer em silên­
cio até que surja aquêle vislumbre da realidade espiritual,
que emana de seu interior, permite ao curador ver-te como
és, e isso revela o Verbo feito carne, o filho de Deus, que
é harmonioso.

88
O VERBO SE REVELA ATRAVÉS DA
MEDITAÇÃO
«O Verbo se fêz carne», o Verbo - não as palavras
de um livro, não as palavras de uma afirmação, mas o
Verbo interno. O Verbo, que é Deus, interno, que ò faz car­
ne, torna-Se visível, audível, conscientemente tangível em
nossa experiência.
É para isto que aos estudantes que iniciam seu estudo
do «O Caminho do Infinito» se recomenda que meditem
durante não menos de três períodos todos os dias. Tais
períodos podem ser de um a três ou quatro minutos. Nos
primeiros dias convém não ultrapassar êsse limite, para
evitar que depois de alguns minutos a meditação se con­
verta num exercício mental, e perca o seu valor.
Com a continuação do estudo, êste número de pe­
ríodos irá aumentando para seis, oito, dez ou doze por dia,
com a duração de um a três, ou a quatro, ou a cinco
minutos cada período. Daí por diante, a duração dos pe­
ríodos de meditação tendem a aumentar, podendo o estu­
dante meditar em qualquer lugar, de dois ou três, a vinte,
ou trinta minutos. Mas quando a meditação se converte
em um exercício mental, jâ não é mais meditação. Quando
chegar o momento em que a pessoa sinta um relaxamento
interno, deve interromper a meditação, e se não conseguir
êsse estado de relaxamento interno, deverá voltar a me­
ditar uma ou duas horas depois.
Não deverá sentar-se para meditar enquanto sua
mente não houver cessado de «trabalhar» para produzir
efeitos ou demonstrar podêres mentais, porque então não
estará meditando, mas, sim, exercendo mentalismo que
não tem poder.
Não quero dizer que devas abandonar a prática de
refletir, analisar, pensar ou meditar sôbre a verdade. Isto é
coisa muito diferente da chamada prática mental. No co-
mêço da meditação, todo estudante - exceto aquêles muito
avançados - , verificará que a mente está agitada, baru­
lhenta, caótica e não há meios de sossegá-la a ponto de
poder ouvir aquela «voz silenciosa e suave».8 Neste caso,
8 - I Rs 19:12

89
é aconselhável refletir sôbre uma passagem das Escritu­
ras ou alguma afirmação da sabedoria espiritual, mas não
deverá ficar a repeti-la, como se esperasse obter algum
benefício pela vã repetição ou por muitas repetições; mas,
sim, ponderar seu significado oculto.
Ao leres esta palavra da verdade, estás lançando uma
semente dentro de ti, a qual se desenvolverá apare­
cendo primeiro como um estado de consciência que, depois,
se manifestará exteriormente, como a saúde do teu corpo,
como a suficiência de tua carteira, como um nôvo livro, ou
como maior suprimento. Assim é como se deve compreen­
der a «carne» em que o Verbo se converte. Essa carne,
assim que ela se manifesta neste plano terreno, se tom ou
supérflua para nós. Sêca como a erva. Não confies nela,
porque isto seria como confiar «em príncipes».9
Afastai-vos do homem cujo fôlego está no seu nariz;
pois em que é êle estimado? (Isaías 2:22).
Se eu não fôr, o Consolador não virá para vós outros.
(João 16:7).
Quando aprenderes a voltar-te para dentro de ti mes­
mo, e a deixar que a palavra da Verdade se expresse em
teu íntimo, constatarás que a Consciência invisível ou
Conscientização da Verdade em teu íntimo tom a-se éx-
teriorizada como forma. Torna-se carne, carne invisível,
form a invisível. Então poderás fazer o que quiseres com
essas form as: poderás usá-las por um dia e depois destruí-
las. Tais formas poderão aparecer como notas de um dólar
ou de mil dólares: faze uso delas, rasga-as, ou passa-as
adiante.
Enquanto conscientizares o Espírito, poderás multipli­
car «pães e peixes». Poderás fazer o que quiseres, porque
não serás tu que o farás; será o espírito da Verdade, o
qual conscientizaste. Êle tomará forma. Mas não te glories
com as formas externas resultantes dessa união interna.
Tem cuidado para não te dares por satisfeito com a
ábundância de suprimento, com um corpo sadio, Ou uma
felicidade cotidiana. Não te contentes com coisa alguma

9 - Sl 146:3.

90
que esteja no plano da carne, da forma, dos efeitos. Não
quero dizer que não devas apreciar estas coisas. O que não
deves é dar-te por satisfeito com elas.
Quando estiveres satisfeito com o suprimento que pos­
suis, não te alegres com isso como se fôsse uma demons­
tração. Rejubila-te no Espírito invisível que o está produ­
zindo. Quando alguém te disser: «estou me sentindo
melhor», toma cuidado para que não te sintas demasiado
feliz. Lembra-te que os efeitos externos produzidos hoje
poderão mudar amanhã. Volta-te para o Espírito que está
interiormente por detrás da personalidade, e sê grato por
ter havido uma percepção consciente do Espírito, pois é a
essa que deves a cima da doença, o emprêgo que apareceu,
a alegria que se manifestou, ou seja o que fôr. .
Cuida para que não te glories na carne em seu sentido
externo, como form a material de manifestação: mas glo­
ria-te no Verbo que se fêz carne. Esta carne é a carne
invisível. Não raro os m etafísicos perdem tôda a sua de­
monstração de harmonia interna porque, no momento em
que suas rendas duplicam, julgam ter feito uma demons­
tração de poder. Na verdade, houve tal demonstração, mas
esta não consistiu na duplicação de rendas e sim na de­
monstração da presença do Espírito, que se manifestou
como aumento de renda.
Os hebreus que estavam com o Mestre, quando da
multiplicação dos pães e peixes, julgaram ter feito uma
demonstração de poder. Mas não fizeram tal demonstração,
porque no dia seguinte estavam novamente com fom e. On­
de estava sua demonstração da presença do Espírito?
Mas o Mestre fêz uma demonstração. Fêz uma de­
monstração da conscientização da presença de Deus, e as­
sim pôde multiplicar pães e peixes qualquer dia da semana
e todos os dias da semana. Êle provou que podia encontrar
ouro na bôca de um peixe. Não era que êle estivesse tentan­
do multiplicar pães e peixes; o que êle fazia era levantar
seus olhos, cônscio de que sua demonstração era a presença
do Espírito de Deus. Sua conscientização da Presença, foi
sua demonstração, e quando fêz tal demonstração, os de­
funtos se levantavam, os pães e peixes se multiplicavam e
se encontrava ouro em bôca de peixe. Por quê? Porque

91
Deus é a substância de tôdas as formas. Mas, se não
tiveres a presença de Deus, não poderás manifestar a
forma externa.
Não te glories com casos de cura. Jamais dês teste­
munhos de cura, a não ser para ilustrar o princípio ou a
idéia espiritual que a produziu. Se hoje tens saúde ou és
rico, é coisa relativamente sem importância. O que importa
é a auto-realização espiritual, a convicção que te dará eter­
na saúde e eterna riqueza.
Nunca te glories com exibições de curas. Nunca te
glories ainda que consigas curar mil cânceres porque se te
vangloriares com efeitos, no dia seguinte poderás te ver
atrapalhado por um resfriado comum. Não te glories na
demonstração de suprimento tanto para ti mesmo como
para teu parente. Alegra-te por teres visto a face de Deus,
por teres testemunhado a presença do Espírito, que por
sua vez tornou-se evidente como cura ou como suprimento
de necessidades.

NAO CONHEÇAS A NINGUÉM SEGUNDO A


£A R N E
«Por isso é que desde agora já não conhecemos a nin­
guém segundo a carne; e, se outrora conhecemos a Cristo
segundo a carne, já agora não o conhecemos deste m odo».10
Até agora, me conheceste segundo a carne, como homem.
Doravante, jâ não me conhecerás mais dêste modo, e sim
como instrutor espiritual, não como juiz da carne. Até
agora, eu te conhecí como ser humano e estudante. A
partir de agora, jamais deverei julgar-te dêste modo, mas
somente como a Cristo, como Espírito, como ser espiritual,
como filho de Deus.
Até agora conheceste a teus amigos, parentes, pacien­
tes e alunos como sêres humanos, alguns bons e outros
maus. De hoje em diante não deverás mais conhecê-los co­
mo bons nem maus; deverás conhecê-los como sêres espi­
rituais. É tão errado conhecer um homem como sendo bom,
quanto conhecê-lo como sendo mau. Ê tão errado conside­
rar um homem rico, quanto considerá-lo pobre. Não deves

10 - 2 Co 5:16.

92
conhecer a nenhuma pessoa como boa ou má, segundo a
carne. Doravante deves conhecê-la como a Cristo.
«E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura;
as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas!»11
Desde o momento em que deixares de julgar bom ou mau,
doente ou são, a ti mesmo ou a outrem, e os conheceres
sòmente segundo o Espírito, então o que era velho passará.
Velhos hábitos, velhas form as da carne, velhos apetites
carnais, a avidez, a luxúria, a ambição, o desejo de saúde,
riqueza, fama - tudo isto passará, e tôdas as coisas se
farão novas.
E neste ponto que a mensagem de «O Caminho do
Infinito» é inflexível. À ninguém devemos contemplar co­
mo carne ou ser humano. Não devemos gloriar-nos em
ninguém como homem, bom ou mau. Precisamos agora
conhecê-lo não segundo a carne, mas segundo o Espírito.
Por conseguinte, se qualquer homem viver em Cristo, se
qualquer homem mantiver a conscientização do seu estado
Crístico, as coisas velhas desaparecerão. Até velho ami­
gos se afastarão dêle. Sentir-se-á entristecido ao vê-los
se afastarem, porque estimava sua companhia, mas não
poderá deixar de ser assim, porque êles já não farão parte
de sua experiência daqui por diante, e não ficarão.
Uma vez estabelecidos em Cristo, muda tôda a nossa
família, mudam tôdas as nossas ligações, todo nosso cir­
culo de relações pessoais. E bem possível que até mudemos
para um outro Estado ou para outro país, porque tôdas as
coisas se tornam novas neste estado superior de consciên­
cia em que «vivemos, nos movemos e temos o nosso ser».
Constatamos, então, que não existem lim itações; não esta­
mos presos a um apartamento, a uma casa ou a uma famí­
lia. Nós os temos, mas, longe ou perto dêles, nos sentimos
livres, isentos de apêgo e preocupações.
Quando nosso estado de consciência se transforma e
conscientizamos a revelação da substância do Espírito,
ainda que em parte, nos apercebemos da presença do Tem­
plo Sagrado, o corpo real. Os outros poderão vê-lo ainda
como esta form a física; nós, porém, sabemos que o verda­

11 - 2 Co 5:17.

93
deiro corpo não é esta form a visível, mas que êste corpo
é o templo do Deus vivo. Certamente que se o pusermos
numa balança, esta nos dirá que êle pesa tantos quilos. No
entanto, não teremos a sensação de pêso, não teremos a
sensação de solidez, não teremos a sensação de possuir
corpo físico.

REVESTINDO-NOS COM UMA NOVA CONCEPÇÃO


DO CORPO
Pois sabemos que, se a nossa casa terrestre se desfizer,
receberemos uma casa eterna nos céus, casa edificada
não por mãos humanas, mas por Deus.
E por isto, neste tabernáculo gememos, aspirando por
ser revestidos da nossa habitação celestial.
Enquanto, pois, continuamos a viver no tabernáculo,
gememos, angustiados, porque desejaríamos não ser
despojados, mas revestidos, para que o que é mortal
seja absorvido pela vida. (2 Coríntios 5:1, 2, 4).
Nosso trabalho, em «O Caminho do Infinito», não é
livrarmo-nos dêste corpo; não é negá-lo; não é ignorá-lo.
Trabalhamos para alcançar uma nova concepção e outra
conscientização do corpo, êsse corpo, ou «casa não feita
por mãos, eterna, nos céus». Não podemos ver êsse corpo
imortal. Cada qual mantém de cada corpo que vê, uma con­
cepção diferente, quando o julga apenas pelas aparências,
baseado em sua própria experiência.
.Êsse corpo é invisível, eterno, imortal, e estará co­
nosco para sempre. Mas êste corpo que vejo mudará de
dia para dia, porque quanto mais elevada fôr minha con­
cepção de Deus, Espírito, tanto melhor aspecto e sensibili­
dade terá meu corpo. A concepção muda, mas o corpo em
si mesmo é im ortal; portanto, nós não nos desfazemos do
corpo nem na m orte: nos desfazemos é de nossa concepção
do corpo. Cedo ou tarde, evoluiremos de tal maneira em
nossa conscientização que nosso conceito do corpo vai mu­
dando, mudando e sempre mudando no decurso de nossa
existência terrena.
Repetidas vêzes tenho afirmado que a maior parte
do tempo estou sob a sensação que não tenho corpo. Só

94
percebo que tenho corpo quando olho para baixo e vejo
minhas mãos se movimentando diante de mim. Então re­
conheço que ainda não aprendí a mantê-las quietas. Mas
meu corpo na verdade me perturba muito pouco, pois é
sòmente durante uma pequenina parte do dia que tenho
percepção consciente dêle como corpo. Percebo-o como ou­
tros percebem seu automóvel quando estão dentro dêle. Não
o percebem, porém, como se fôsse parte do seu ser ou
corpo, da mesma form a como eu não estou consciente do
meu corpo. Ê como se êle andasse em minha companhia
onde quer que eu vá. Algum dia talvez não mais me acom­
panhará.

O VERBO FEITO CARNE Ê UM ESTADO DE


CONSCIÊNCIA
Pode haver pensamento sem form a? O Verbo feito car­
ne não é um pensamento. Ê um estado de consciência, de
percepção, sem pensamento consciente. Não obstante, às
vêzes aparece exteriormente como pensamento consciente.
Primeiro vem o Verbo, Deus, e Se tom a carne. Torna-se
um estado de consciência em que não há form a: não é um
pensamento e não é uma coisa. E, então, dai vem o pen­
samento, a palavra falada, a palavra escrita, o dinheiro
tangível, peixe, pão. Primeiro é a realização de Deus como
substância. Depois o Verbo, a Substância se torna carne.
Torna-se em um estado de percepção, um estado de cons­
ciência que nem sempre toma necesàriamente a form a de
um pensamento.
Qualquer praticante de cura espiritual te dirá que
quando lhe vem o lampejo da inspiração, a sensação de re­
laxamento interno, ela nem sempre traz consigo um pen­
samento específico. Não obstante se produz um resultado,
como se êsse pensamento estivesse presente. Ãs vêzes êsse
pensamento no entanto pode vir depois de form a específica.
Por exem plo: esta manhã, quando meditava, em meu quar­
to, senti o «clique» interno, mas não havia com êle nenhu­
ma palavra, nem pensamento. Foi apenas a realização que
a mensagem para hoje me havia sido dada, e, então, de
repente, me veio a palvra «carne». O estado de consciência
alcançado em meditação manifestou-se como a palavra
95
«carne», e assim fiquei sabendo que a mensagem trataria
dêste tema. Então, com o auxilio da Bíblia e do livro de
concordância, esta lição me foi dada em cinco minutos. É
assim que o processo se desenrola no aspecto externo.
Tudo ocorreu através de um estado de consciência em que,
a princípio, não havia palavras, mas apenas uma sensação
de plenitude. Veio, então, a palavra «carne» e, simultânea­
mente a dupla significação desta, com todo o seu desdo­
bramento, resultando no que está escrito nestas páginas.
Nunca te preocupes e nunca tentes ter um pensa­
mento sôbre coisa alguma. Jamais tentes conhecer coisa
alguma acêrca de Deus através da mente, porque não há
nenhuma verdade que possas conhecer conscientemente
que seja a verdade; não te preocupes pois, a respeito de
ter visões ou ouvir palavras. De outra parte, quando tive­
res visões ou ouvires palavras internamente, não te per­
turbes, porque muitas vêzes elas constituem uma parte
necessária para o teu desenvolvimento.
Assim o foi para mim, na Califórnia, em 1945. A
Voz interna me falou e disse que o ano seguinte seria o
da minha transição. Como não me sentisse preparado para
morrer, dei-me a mim mesmo tratamentos vigorosos por
algum tempo. Então a Voz voltou e disse: «Não é êste o
caso. Não é esse tipo de transição. Trata-se de uma tran­
sição para um outro estado de consciência».
Essa mudança de consciência começou no mês de
julho de 1946 e a transição durou dois meses, no fim dos
quais ficou tudo pronto para esta obra. E a ordem final
que recebi nessa experiência interna foi esta: Ensinarás,
mas não procurarás discípulos; ensinarás os que te forem
enviados, e ensinarás o que te fôr dado ensinar.
Desde aquêle momento tenho sido obediente àquela
ordem. Nunca entrei em salas de aula ou de conferências
com algo preparado prévia e mentalmente sôbre o que eu
iria dizer. Entro na sala, sento e medito um pouco, espe­
rando pela mensagem, ou, talvez alguns minutos antes,
sentado no meu quarto, a mensagem a ser dada me é
revelada, e eu faço alguns apontamentos sôbre o que me
fòi dado. Isto é viver em outro plano de consciência.

96
fiste trabalho de «O Caminho do Infinito» foi real­
mente iniciado com aquêles dois meses de visão real e
auscultação audível. No entanto, essas experiências têm
aido raras, e só as tenho uma vez ou outra. Geralmente a
mensagem vem como veio esta lição, simplesmente como
intuição, ou uma palavra ou uma passagem das Escrituras.
Primeiro recebo a inspiração, depois um pensamento ou
idéia específica e disso emana o resto.
Os estudantes que têm estado comigo durante alguns
anos sabem que vivo a maior parte do tempo num mundo
inteiramente diferente dêste que estamos vendo aqui, ago­
ra. É um outro plano de consciência. É um outro plano de
consciência diferente, onde vivem alguns músicos, alguns
poetas, alguns pintores e, naturalmente, todos os instru­
tores ou reveladores espirituais. As coisas que despontam
na consciência espiritual, tomam-se mais tarde carne na
consciência humana, carne invisível, isto é, tomam form a
como um estado de consciência, e então aparecem exterior­
mente como palavras, escritos e gravações.
Se amanhã eu fôsse prestar atenção a isto que me foi
revelado hoje, estaria contemplando e tentando viver do
maná do passado. Esta espécie de «carne» - palavras,
escritos, gravações - precisa secar como a erva a ser
«lançada no fogo». Mas a carne invisível, como està agora
na minha conscientização, nunca morrerá, e aquilo que tu
absorveres desta Carta, em tua consciência, jamais morre­
rá. O que tu puseres no papel hoje, poderás provàvelmente
destruir amanhã, porque se tentasses vivê-lo estarias vi­
vendo do maná de ontem. O que te estou dando agora é a
semente da verdade que me veio das profundezas do meu
«além interno», como revelação, e está sendo agora plan­
tado na tua consciência. Amanhã poderás fechar os olhos
e constatar que essa verdade está fluindo de volta para ti.
«E o Verbo se fêz carne e habitou entre nós».
Cordialmente,
(a) Joel

Muitos acham difícil atingir êsse estado de* silêncio


interno em que o Verbo se faz carne. A o invés de escutar
97
ò Verbo, aquela «Voz silenciosa e suave», a mente fica a
martelar: «Preciso disto, quero aquilo.. . » Êste desejo de
pessoas e coisas é o que mantém a maioria de nós acor­
rentados. Quando a vida é governada pelo desejo, não pode
haver paz; no fundo, está sempre o mêdo, o que dificulta
a meditação, e às vêzes a torna impossível.
Liberdade implica ausência ou renúncia a todo desejo
de objetos e pessoas. Será isto possível? Sim. Existe um
caminho de nos livrarmos de todo desejo. Êsse caminho
consiste em reconhecermos nossa plenitude em Deus. Nun­
ca nos foi prometida uma parte do Reino, mas todo êle.
«Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que tenho é teu».
Poderá haver necessidade, falta ou desejo de alguma coisa
nessa Plenitude?
Quando surge a sugestão de deficiência, carência ou
necessidade, lembra-te da plenitude do teu Ser. Nessa
abundância infinita nada há a desejar, nada há a obter,
pois que só existe a plenitude da Vida, sempre fluindo
como vida e experiência individual. Reconhece e aceita esta
verdade e, automàticamente, estarás livre das cadeias do
desejo. Que há a desejar, para quem já possui tudo ? Nessa
conscientização, nessa percepção, a mente se aquieta e nes­
se profundo silêncio, terás paz e liberdade.
Cordialmente
(a) Eiüma

DEPARTAMENTO DE GRAVAÇÕES EM FITAS


MAGNÉTICAS (EM INGLÊS)

Preparado pelo editor


(Conferências e aulas, de Joel Goldsmith)
Há muitas gravações esclarecedoras, instrutivas e
estimulantes que tratam do «Verbo feito carne» - que é
um princípio básico de «O Caminho do Infinito». Uma das
gravações clássicas a respeito dêste assunto é a da Pri­
meira Aula para Curadores ministrada em Seattle em 1954.
Esta aula é de existência obrigatória em qualquer biblio­
teca de gravações de «O Caminho do Infinito».

V8
Vamos transcrever um trecho dêsse trabalho, bem co­
mo outros, de importantes gravações referentes ao mesmo
assunto, os quais ajudarão a projetar luzes sôbre o mesmo
e expandir sua compreensão do mesmo.

«O VERBO FEITO CARNE»


Tomada em sentido espiritual, a palavra «carne»
significa incorporação, ou corpo. «O Verbo feito carne»
é Deus tornando-se manifesto como ser individual como
forma, como individualidade [ . . . ] Somos o Verbo feito
carne, mas esta carne é uma forma, uma individualidade
infinita, que é eterna. O que contemplo como carne é uma
projeção física de minha concepção mental. E nunca se
pode conhecer a realidade através da mente humana [ . . . ]
O tu que contemplas em um espelho é a corporificação do
Verbo na «carne», mas o que vês no espelho é a imagem de
concepção humana (do mundo) de corpo e carne, e é mutá­
vel [ . . . ] ■ ■
A carne que vemos através dos sentidos é na verdade
nossa concepção de nossa identidade real. A carne percebi­
da ou conscientizada espiritualmente, através da medita­
ção, é a nossa form a espiritual, não só do corpo, mas tam­
bém do nosso ser [ . . . ] A carne, vista como tua indivi­
dualidade real, eterna, infinita, exteriorizar-se-á ininter­
ruptamente em novas form as e em formas externas de
corpo e funções corpóreas, e essa carne novamente será a
exteriorização do teu estado mais elevado de consciência.
(Joel S. Goldsmith. «Flesh and Flèsh», The 1954 First
Seattle Practitioners’ Class. Reel III, Side 2).

O Verbo invisível, a Verdade, aparece à tua cons­


ciência e manifesta-Se como «carne» [ . . . ] O Verbo e a
«carne» aparecem instantâneamente e simultâneamente e
não um como resultado do outro, o que não é possível.
O Verbo é «carne», mas, o Verbo deve primeiramente ser
realizado para que Se torne «carne». Quando a Verdade se
manifesta em nossa consciência, quando é afirmada e acei­
ta, ela instantâneamente Se faz «carne» e habita entre
nós.
99
(Joel S. Goldsmith. «There Is No Law o f Matter or
Disease, «The 1953 Los Angeles Praetitioners’ Class.
Reel I, side 2).

Confia na promessa de que não precisas preocupar-te


com tua vida, porque Deus é a tua vida. Precisas confiar
na promessa de que se te aparecerem quaisquer «imagens
falsas», estas serão removidas pela palavra de Deus: o
Verbo que se faz carne.
(Joel S. Goldsmith. «The W ord Made Flesh», 1962
Hamburg, Germany, Class. Reel n , side 2).

£ a consciência iluminada que aparece como a saúde


do corpo [ . . . ] Não há uma consciência espiritual que nos
dê estas coisas [ . . . ] A consciência espiritual é a própria
essência, substância e estrutura desta coisa [ . . . ] A cons­
cientização ou percepção e suas formas são uma coisa
só.
(Joel S. Goldsmith. Unillumined and Ulumined Cons-
ciousness. The 1960 Maui W ork. Reel n , side 1).

Tudo de que necessitarei desde agora até o fim dos


tempos já está, agora mesmo, corporificado em minha
consciência: a substância e a lei que a ampara. Esta cons­
ciência onipresente é a substância de tôdas as formas e a
lei para tôdas as formas. É infinita. Infinita em essência,
infinita em expressão, infinita em manifestação. Não é
limitada por nenhuma crença humana; não é agrilhoada
por nenhuma circunstância humana; é a Consciência divi­
na, que flui plena e livremente como minha consciência
individual. E para isto não preciso ir a parte alguma nem
pedir a ninguém, visto que o lugar onde estou é chão
sagrado.
(Joel S. Goldsmith. «The Essence o f The Infinite
W ay», The 1961 San Diego Special Class. Reel I,
side I ) .

100
0 Verbo faz-se carne. Isto quer dizer que a palavra
de Deus dentro de nós torna-se visível ou tangível como
expressão [.*..] O Verbo tom a-se o filho de Deus. Neste
sentido, então, deve-se tomar a «carne» como form a espi­
ritual, atividade espiritual, realidade espiritual. «E o Ver­
bo se fêz carne e habitou entre nós». Deus tornou-se visível
como homem.
(Joel S. Goldsmith. «Flesh and Flesh». The 1954
Firts Portland Practitioners’ Class. Reel I, side 2).

«E o Verbo se fêz carne e habitou entre nós. O Verbo


era Deus. . . o Infinito, mas enviou Seu filho unigênito ao
mundo, à consciência dos homens. O Verbo, Deus, Espíri­
to, Se fêz carne, isto é, tornou-Se o filho de Deus na cons­
ciência dos homens. Mas a consciência da maioria dos ho­
mens estava em trevas, e não pôde receber ou crer no fi­
lho de Deus; no entanto, aquêles que podiam reeebê-Lo,
os que tinham alguma intuição espiritual e podiam perce-
bê-Lo a êsses o filho de Deus veio e foi recebido, surgindo
assim a possibilidade de todos os homens virem a tornar-se
filhos de Deus.
Vejamos agora como isso ocorre individualmente em
tua consciência e na minha. Lembra-te de como eras a
princípio, como ser humano, antes de conheceres uma men­
sagem espiritual, quando ainda pensavas que Deus fôsse
algum ser muito distante de nós, provàvelmente sentado
sôbre uma nuvem ou lá no alto do firm am ento. . . uma
espécie de ser super-humano, um pai super-humano que te
recompensava quando procedias bem - se por acaso Êle
o notasse - , que te punia quando te comportavas mal -
o que Êle sempre n otava...
Nessa mesma época, êste Verbo que se fêz carne, o
filho de Deus, já habitava em ti. Êle estava em ti, mas,
como estavas em trevas, não podias percebê-Lo; não sabias
que Êle estava em ti. Eram trevas espirituais causadas
pela tua ignorância que te impediam de perceber esta ver­
dade. Não sabias que dentro de ti, «mais próximo do que o
ar que respiravas», já estava êste Verbo feito carne, o fi­

101
lho de Deus, a Luz do mundo, o Creador do mundo - do
teu mundo. Em conseqiiência dessa ignorância, lutavas
contigo mesmo, com tôda à sabedoria humana que pos-
suías, com tôda a fôrça ou influência humana de que dis­
punhas.
à medida que te aproximas da revelação espiritual,
te é dito, entre outras coisas: «Não sabes que o filho de
Deus, o Cristo, habita em ti?» As primeiras instruções que
te são impartidas pela sabedoria espiritual revelam que
não mais deves buscar Deus fora de ti ou no firm am ento;
e então, quando ouves esta passagem: «Elevo os olhos
para os montes: de onde me virá o socorro?» - saberás
que «montes» ou «montanhas» se referem a altos estados
de consciência.
Quando te voltas interiormente para a conscientiza­
ção mais elevada do teu Ser, quando te voltas para o
Cristo, que é levantado dentro de ti, para êste «Reino
dentro de ti», estás «levantando os olhos para os mon­
tes. . . » Tua visão agora volta-se para dentro e para cima,
para os altos estados de tua consciência, onde discernirás
e conscientizarás o Verbo que se fêz carne e habita em ti.
Nesse mesmo instante, estará dentro de ti o filho de Deus,
o Cristo, com uma função específica: curar-te, para te res­
suscitar da condição humana, m ortal; para restaurar as
colheitas devastadas pelos gafanhotos; para perdoar qual­
quer pecado que tenhas cometido na ignorância da tua ver­
dadeira identidade; para perdoar-te os pecados por ação
ou por om issão. . . Essa voz está dizendo, dentro de ti
mesmo:
Eu vim para que tenhas a vida e a tenhas em abun­
dância. Relaxa-te! Sereniza-te! Tens-Me buscado, e
Eu estava sempre aqui, mas agora Me encontraste..
Eu sou a ressurreição, e se teu corpo foi destruído
pelo pecado ou pela doença, Eu o reconstruirei. Eu, o
Verbo feito carne, o Cristo, que habito no meio de ti,
estou aqui para levantar teu corpo da sepultura do
pecado, da sepultura da doença e até da sepultura da
velhice. Não te deixes derrotar nem pela idade, porque
Eu sou a ressurreição, e estou aqui para fazer-te res­

102
surgir para fora dêsse velho corpo e reincarnar-te em
um «corpo não feito por m ãos», um corpo espiritual,
«eterno, nos céus».
Para alcançar êste nôvo corpo, não precisas passar
pela m orte física. Basta permaneceres internamente
voltado para Mim, que estou no meio de ti. De manhã,
ao meio-dia e à noite, medita em Mim, pensa em Mim,
permanece em Mim, crê em Mim, confia em Mim.
(Joel S. Goldsmith. «The Secret of the W ord Made
Flesh,» The 1961 Hawaiian Village Open Class.
Reel VI, side 1)

103
DEUS I CONSCIÊNCIA INDIVIDUAL
(D o livro: «Consciousness Unfolding»,
de Joel S. Goldsmith)

O objetivo de «O Caminho do Infinito» é levar-nos a


experimentar o desdobramento da atividade de Deus como
consciência individual. Trata-se de uma revelação dentro
do teu próprio ser, de algo que ocorre dentro de ti.
O Reino de Deus está dentro de ti. Na verdade, tu és
a individualização de tudo o que Deus é: «Filho, tudo o
que é meu é teu.»1
O trabalho de «O Caminho do Infinito» consiste em
revelar o Infinito Invisível dentro de ti, dentro da parte
exterior a que chamamos de ser humano e que, na realida­
de, não é ser humano, e, sim, um ser divino. O mundo in­
terpreta o cenário da vida humana em têrmos humanos.
Mas o que aparece no mundo como se fôsse um ser humano,
isto é, como tu, como eu, receberá, das profundezas de seu
ser, mediante êste trabalho, a revelação da sua verdadeira
natureza.
A revelação que emana dêste trabalho não é como a
que se faz de um a outro intelecto. É a divina Consciência
revelando-Se como ser individual. Para os homens, as
coisas de Deus são tolice, mas, «Se alguém tem ouvidos
para ouvir, ouça.»2 Que esta mensagem se afirme na tua
consciência; que suas palavras circulem na tua consciên­
cia até que possas captar a visão interna do que se contém
nestas páginas. Ijlntão a mensagem será tua. E poderás
transmiti-la, não com as m inhas palavras, com a minha
1 - Lc 15:31.
2 - M c 7 :1 6 .

104
linguagem, ou usando o relato das minhas experiências;
será a tua própria revelação desta mesma verdade.
Em metafísica, não se pode ir muito longe ensinando
apenas a lêtra da verdade. O verdadeiro ensinamento con­
siste na revelação da consciência interna. Se eu te trans­
mitir algo que apenas ouvi, ou li, ou memorizei, não encon­
trará eco em ti. Se o ensinamento não se tiver tornado mi­
nha própria consciência, não poderás assimilá-lo. A única
verdade que receberás na tua consciência, lendo êste livro,
será aquela que fôr parte viva de meu ser. Perceberás a
chama dessa verdade, e ela deitará raiz dentro de ti.
Infelizmente, na prática da metafísica se fazem aos
pacientes muitas afirmações cuja verdade não foi demons­
trada nem se tornou parte da consciência do curador.
Não há verdade mais profunda que a declarada nesta
afirmação: «O êrro não existe.» O universo mortal deveria
entrar totalmente em colapso quando se declarasse esta
verdade, mas apesar do número de vêzes que ela tem sido
afirmada, o mundo continua sempre do mesmo velho modo.
Por quê? Porque a verdade desta afirmação não se tornou
idéia incorporada à consciência e absorvida por ela.
O curador espiritual poderá dizer ao paciente: «Não
existe senão uma vida, e essa vida é Deus. Isto que estás
vendo é sugestão, não é real, não faz parte do teu ser.»
Quando o curador tem convicção e consciência desta verda­
de, muita vez o êrro - a doença, o pecado, ou a carência -
desaparece sem que êle precise fazer afirmações. Entre­
tanto, se o curador estiver simplesmente a repetir o que
viu, o que leu, ou alguma coisa de que se recorde, apenas
desejando e esperando que isto seja verdade, então suas
afirmações não terão poder algum.
As coisas de Deus são tolice, para os homens, e assim
também os assuntos dos homens são tolices, para Deus.
Procura lembrar-te disto quando fôres tentado a levar
qualquer dos teus problemas a Deus. Pensar que Deus cure
um corpo enfêrmo, ou que solucione determinado proble­
ma de desemprêgo, ou que faça com que seja eleito o teu
candidato favorito, é tolice. Os assuntos humanos, os re­
lativos a êste sonho de Adão - êste sonho de existência
material de tôda a humanidade - são desconhecidos de

105
Deus. Isto é o que torna possível a cura. A doença não tem
existência real: é desconhecida de Deus. É por isto que a
doença e a aflição, ao se chocarem com a consciência que
conhece esta verdade, inevitàvelmente se rendem pela im­
potência própria da sua nulidade.
Lembra-te sempre de que, no mundo espiritual, ensi­
nar e aprender são atividades espirituais. Entra na tua
consciência e ora a Deus. Roga a Deus que te seja revelado
o teu mestre e o conhecimento que êle deve impartir. Ora
assim: «Pai, conduze-me a êle; conduze-me ao mestre; con-
duze-me ao meu mestre.»
O objetivo e conseqüência da prática dos ensinamen­
tos de «O Caminho do Infinito» é a expansão das ativida­
des da tua Alma, o desenvolvimento das faculdades da
Alma do teu próprio ser. Precisas escolher um instrutor
espiritual com muito mais cuidado do que o que terias na
escolha de um professor na esfera dos conhecimentos hu­
manos. Para aquêles que transmitem conhecimentos espi­
rituais, o ensino é um ministério sagrado. Um instrutor
deve viver de tal maneira na consciência de Deus, que pos­
sa tornar-se capaz de impartir realidades divinas. Isso só
poderá ser fruto de um estado de consciência de quem pra­
tica e vive esta verdade. Nada é mais sagrado que o en­
sino espiritual. Nada existe que mais contribua para ele­
var-te acima do senso de vida mortal, material, que o
ensino espiritual correto.
Sê, pois, guiado pelo Espírito! Faze desta busca de um
mestre um rito sagrado! Quando receberes alguma instru­
ção, ou a encontrares em algum livro, senta-te silencioso e
medita durante algum tempo: dá-lhe oportunidade de tra­
balhar dentro de ti.

CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
Êste livro trata da expansão das atividades da cons­
ciência, ou seja de auto-revelação ou automanifestação de
Deus, a Consciência infinita, indivisível, que se revela, de­
senvolve e manifesta como consciência individual. Êste
trabalho é, portanto, de natureza individual e deve ser rea­
lizado pelo esfôrço próprio de cada um - pelo teu esfôrçò.

106
E teu êxito se revelará quando alcançares certo grau de
consciência espiritual.
Consciência espiritual é êsse estado de consciência do
qual desapareceram até certo ponto as crenças mundanas.
Consciência espiritual, ou consciência-crística, é êsse es­
tado de consciência que não mais reage às coisas do mundo
externo. Tu és consciência infinita, espiritual. Ês a lei
para a tua vida. Nada do que está fora de ti, nada do que
existe como efeito, pode ter influência ou autoridade sôbre
ti. Ês a lei para todo efeito. Quando amas, odeias ou temes
alguma coisa do mundo externo, é porque estás hipnoti­
zado, num estado de consciência mortal.
O que os sêres humanos mais procuram neste mundo
é ganhar dinheiro - primeiro o dinheiro, depois o sexo.
Estas são as coisas que a humanidade busca com mais em­
penho. A consciência mortal valoriza o dinheiro e diz:
«Isto me ajudará m uito!» Mas a consciência espiritual não
confia nêle. Ela conhece a verdadeira natureza do supri­
mento: «O suprimento é a minha consciência individual; é
a Consciência-Deus individualizada como sendo eu. Seja
lá o que fôr que pareça necessário à minha vida, terá que
vir como revelação da infinitude da minha consciência.
Por isso não me preocupo com a aquisição de um dólar ou
de um iate.»
Esta é a atitude que precisas aprender a tomar, que
precisas praticar até que se torne uma realidade em tua
vida. Humanamente, esta atitude não é natural para os
adultos, mas o é inteiramente para as crianças. A criança,
que ainda não aprendeu a valorizar o dinheiro, é capaz de
lançar fora uma moeda de ouro de vinte dólares. Seu senso
de valor é o afeto, o amor que sente aos pais e o que êstes
têm por ela. Êste amor é o seu suprimento, e ela o sabe.
Enquanto existir êsse afeto entre a criança e seus pais, o
alimento diário, a roupa e o lar se lhe apresentarão natu­
ralmente. O amor é o senso de suprimento da criança. So­
mente quando perde êste senso de amor é que o seu senso
de suprimento muda e passa a representar-lhe cinqüenta
centavos ou um milhão de dólares.
Precisamos voltar a ter essa mesma confiança que tí­
nhamos nos dias de nossa infância. O Mestre nos disse que

107
temos de nos tornar como «uma criança».3 Procuremos,
pois, voltar a êsse estado em que não se toma o dinheiro
por suprimento. Çomecemos a compreender que o nosso
suprimento é o Amor, a Consciência, ou a espiritualidade, e
que enquanto tivermos a presença do Amor, tudo o que
precisarmos chegará até nós por desdobramento natural de
Sua presença. Isso representa uma etapa no desdobra­
mento e revelação de Deus, a divina Consciência, que apa­
rece como amor, suprindo as nossas chamadas necessida­
des humanas. É fácil compreender que por algum tempo
precisas-te lembrar, tôda vez que lidares com dinheiro, de
que êste não é suprimento, mas, sim, o efeito do Amor, o
resultado da presença de Deus, que aparece como tua cons­
ciência. Dêste modo desenvolverás, pouco a pouco, dentro
de ti mesmo, uma atitude na qual não reconhecerás o di­
nheiro como teu verdadeiro suprimento.
Como exemplo disto, cito o caso do casal de hindus que
se iniciou na vida espiritual e se pôs a caminho com suas
tigelas de pedintes. Certo dia, quando andavam por uma
estrada, o marido à frente, e bem perto da mulher, incli­
nou-se e apanhou algo do chão, esfregou-o no manto e
meteu no bôlso. A mulher perguntou-lhe o que havia encon­
trado. Quando êle mostrou um diamante, ela de imediato
o repreendeu com severidade: «Estamos vivendo uma vida
espiritual. Como poderá êsse diamante ter mais valor que
o lôdo que lhe tiraste?» O valor não está no diamante.
O valor está em nossa consciência. O valor é a nossa cons­
ciência, que é a substância, a forma, o princípio e a lei
para o diamante. Enquanto Eu existir - e o «E m» é Deus - ,
serei a lei que produzirá aquilo que eu precisar, sob a for­
ma necessária, seja ela qual fôr.

TODO O PODER ESTÁ NA CONSCIÊNCIA


Vamos supor que alguém te telefone e diga: «Estou
doente. Ajuda-me.» Pois bem: até agora, quando alguém
te dizia: «Não me sinto bem», provàvelmente negarias isso,
mas daqui por diante vamos aprender a não mais negá-lo.
Não vamos levantar uma «parede» diante da doença. A o

3 - Lc - 1 8 :1 7 .

108
invés disto, responderemos: «De que se trata? De algum
poder? De alguma presença? De alguma realidade? Ou
todo o poder está na consciência do indivíduo, que é a lei
da saúde? E êsse tumor, essa dor, ou essa carência, cons­
tituem alguma lei? Não. Naturalmente que não.»
Desde o momento em que comecem a pedir-nos ajuda,
esta deve ser a nossa atitude, a nossa compreensão. Po­
deremos encontrar-nos dizendo a nós mesmos: «E daí?»
ou alguma coisa semelhante que nos ajude a concordar
com o adversário. O princípio de cura é o seguinte: «En­
tra em acordo sem demora com o teu adversário.»4 Não
poderás combater coisa alguma com que estiveres de acor­
do. No momento em que te empenhes em luta ou comba­
tas qualquer afirmação errônea que se te apresente, es­
tarás acirrando o ânimo do teu adversário, ao invés de te
reconciliares com o que se te afigura um êrro mas, na
realidade, não passa de uma ilusão - se é que pode haver
realidade numa ilusão. No instante em que combates ou
atacas qualqúer êrro como algo que precise ser removi­
do, tu o estás ajudando a firmar-se, e então ninguém sabe
quanto tempo a cura levará. As curas instantâneas se rea­
lizam quando o curador está cônscio ou convicto de que
não existe poder ou presença na suposta manifestação do
êrro.
Haverá tal coisa como possibilidade de cura enquanto
estivermos pensando em cura ou tentando curar doenças
ou seja o que fôr? A cura resulta do reconhecimento de
que a consciência individual é Deus, ou que Deus é a cons­
ciência do indivíduo. A consciência do indivíduo é a lei que
determina o estado em que êle se encontra externamente.
Em linguagem bíblica: «maior é aquêle que está em vós do
que aquêle que está no mundo.»5
A Consciência, de Deus - a consciência do indivíduo - ,
é sempre a lei, é sempre a presença, é sempre a realidade.
Tudo o que aparece exteriormente não passa de efeito e,
como tal, não pode ser a lei. Como efeito, não pode ser
causa. Como efeito, não pode ser poder. Nenhum efeito

4 - M t 5 :2 5 .
5 - 1 Jo 4 :4 .

109
pode ter poder sôbre outro efeito. Ê lei espiritual. A Cons­
ciência é todo o poder. Todo poder vem do Alto. Deus deu
domínio ao homem. Em outras palavras: Deus, a Consciên­
cia universal, deu ao homem, isto é, à consciência espiri­
tual individualizada, todo o poder sôbre tôdas as coisas
que existem no reino dos efeitos quer seja uma pequenina
flor ou um planêta, no céu.
No momento em que admitires que alguma coisa do
reino dos efeitos tenha domínio sôbre ti, estarás conver­
tendo-a em lei para ti mesmo, e por isto sofrerás enquanto
não mudares de atitude para com essa coisa, compreenden­
do não ser possível que o Eu, a plenitude de Deus mani­
festa, o Filho infinito de Deus, de quem Deus disse: «Tudo
o que é meu é teu»,6 esteja à mercê de alguma coisa do
mundo externo, à mercê de alguma condição ou de qual­
quer conjuntura externa. Quando te compenetrares de
que Deus, a Consciência divina e mtmíta, constitui a cons­
ciência doindivíduo e é a ~ ÍêT~Dãrà^>5hiverso. tomarás
põ§8p"da-ttrar viaa e teras certo grau de~3omlnio sSBré élã.'
Dcí cuHliáiiu, cuilLlnuarás vítima de certa fôrm a de govêr-
no externo, de certa quantidade de dólares; vítima de ger­
mes, infecções ou contágio. Somente à medida que cons­
cientizares tua unidade com Deus; somente até o ponto em
que sentires realmente que és a própria presença de Deus
atuando como uma lei para o teu universo, somente até
êsse ponto é que serás senhor de tua existência!
Onde está Deus, eu estou, «Eu e o Pai somos um7. ..
o lugar onde estás (onde Eu estou ) é terra santa89. ..
Sé faço a minha cama no mais profundo abismo»8, Eu,
Deus, estou ali. E êsse EU SOU ê uma lei para tudo
o que aparece como sendo o universo externo, ou o
universo do efeito.
O primeiro passo para se atingir a Consciência-Cristo,
consiste em se perder o mêdo seja do que fôr, no mundo do

6 - Lc 1 5 :3 1 .
7 - Jo 1 0 :3 0 .
8 - E x 3 :5 .
9 - SI 1 3 9 :8 .

110
efeito. A Consciência-Cristo hão teme doenças nem pecado,
nem se horroriza dêste, mas limita-se a dizer: «Nem
eu tão pouco te condeno; vai e não peques mais.10
Quem vos impediu?11 Levanta-te, toma o teu leito
e anda.»12 E por quê? Porque dessa maneira ela se
põe de acôrdo com o adversário e reconhece que o
único poder é a consciência do indivíduo. Tôda vez
que vires pecado, carência ou limitação no cenário da vida
externa, em vez de te precipitares a dar tratamento, de­
verás dizer: «Não, tu não me vais fazer de tolo! Tu existes
como uma espécie de efeito. Não passas de uma ilusão co­
mo aquela de que os trilhos de estrada de ferro se encon­
tram num ponto distante de nós. Meus olhos já não me
enganam mais.»
Não dês tratamentos! Não dês tratamentos a Deus e
Seu universo! O tratamento, em si mesmo, não tem valor.
A história da metafísica não conhece ninguém que tenha
alterado alguma condição real por meio de tratamento.
Nunca se melhorou coisa alguma em todo o reino espiritual
por meio de tratamento. O que tem valor é a oração. Ora
sem cessar, porque oração é desdobramento de consciên­
cia. Pela tua oração é que Deus Se manifesta em ti. Em teu
estado de oração é que Deus revela Sua verdade à tua
consciência individual.
Oração é revelação da realidade divina à nossa cons^
ciência individual. O segrêdo que nos permite viver espi­
ritualmente, consiste em nos voltarmos para dentro de nós
mesmo, nos observarmos e estarmos sempre procurando
ouvir a realidade divina. Êste é o segrêdo que nos revela
Deus como o centro de nossa individualidade. Nesta inti­
midade de nosso ser, e somente nela, é que se encontram
a harmonia, a paz, alegria, poder ou domínio.
Ê nessas profundezas de teu ser que o universo espi­
ritual deve revelar-se a ti. Não te deves preocupar ou per­
turbar com o que estiver acontecendo no mundo. Não que­
ro dizer que escondas a cabeça na areia. Continuarás
cuidando dos teus negócios, levando a vida segundo o teu

10 - Jo 8 :1 1 .
11 - G1 5 :7 .
12 - Jo 5 :8 .
111
mais alto senso de retidão. Mas não te interessarás pelo
resultado dos teus esforços, quando viveres conforme êsse
senso de retidão.
Lembra-te: Existe um universo invisível, e tu o estás
procurando. «A carne e o sangue não podem herdar o reino
de Deus.»18 Não se trata de «carne doente e sangue doen­
te». Nada do que existe como form a pode herdar o Reino
de Deus. Nada do que existe para os teus sentidos mortais
poderá ser levado para o Reino de Deus. Agora, não nos
dedicamos a procurar melhorar as condições humanas,
mas à revelação de Deus e do universo espiritual, que se
manifesta como nossa consciência individual. Há um uni­
verso infinito, invisível. Há um mundo de idéias espiri­
tuais, mas êsse mundo não tem relação com o mundo das
coisas que podemos ver, ouvir, apalpar, saborear e chei­
rar. O que percebemos neste mundo dos sentidos é um
panorama deformado da idéia divina, do universo real
que vemos «com o em espelho, obscuramente.»1 14 Aqui mes­
3
mo, justamente onde parece que estamos, está Deus. Mes­
mo em qualquer lugar onde pareça haver um fenômeno
mortal, por mais insignificante e corriqueiro que seja,
também ali está presente o universo espiritual. Nós o con­
templamos «como em espelho», e o chamamos de mortal e
material. Mas, em sua verdadeira essência, êle é espiritual
e divino.

A CONSCIÊNCIA APARECE COMO


«PAES E PEIXES»
Depois disto, passou Jesus para a outra margem do
lago da Galiléia, chamado lago de Tiberíades. Se­
guiu-o grande multidão de povo, porque viam os si­
nais que fazia aos doentes. Subiu então Jesus ao mon­
te, onde se sentou em companhia dos seus discípulos.
Estava próxima a festa pascal dos judeus.
Erguendo os olhos e vendo que numerosa multidão vi­
nha procurá-lo, disse Jesus a Filipe: «Onde comprare­
mos pão, para que a gente tenha o que com er?» Mas
13 - 1 Co 1 5 :5 0 .
1 4 - 1 Co 1 3 :1 2 .

112
isto dizia apenas no intuito de pô-lo à prova; porque
bem sabia o que havia de fazer.
Respondeu-lhe Filipe: «Duzentos denários de pão não
chegariam para que cada um dêles recebesse um bo­
cadinho.»
Ao que lhe observou um dos discípulos, André, irmão
de Simão Pedro: «Está aqui um menino com cinco
pães de cevada e dois peixes; mas que é isto para
tanta gente?»
Disse Jesus: «Mandai esta gente sentar-se.» (Jo
6 : 1- 10 )
Parecia haver carência e limitações materiais. E a
primeira reação da maioria de nós, em tal situação, seria:
«Tenho sòmente cinqüenta centavos, quando necessito de
cinco cruzeiros.» Ê neste ponto que as preocupações ma­
teriais começam a provocar o que o mundo chama de úl­
ceras. Em nosso ensino, fazemos como fêz o Mestre:
imediatamente damos as costas ao quadro. Acaso cinqüen­
ta centavos ou cinco cruzeiros suprem realmente as nossas
necessidades? Será isso o que precisamos para atender
às nossas necessidades? Ou será a presença da Consciên­
cia divina, que aparece como consciência individual? Não
será essa Presença, e nada mais, o que atenderá às nossas
necessidade?
Se te lembrares desta lição, nunca mais procurarás
«pães e peixes» ou moedas e cédulas, nem julgarás a pro­
fundidade e a vastidão do universo de Deus pela tua visão
limitada das coisas. Não descobrimos como multiplicar
«pães e peixes», mas descobrimos a lei do amor.
No afã de prover às necessidades de sua vida, o sen­
tido finito começará, digamos com cem cruzeiros e pen­
sará: «Quando eu tiver um m ilh ão.. . » Mas não importa
quanto aumentes a quantidade de «pães e peixes» - ou
cruzeiros - , porque isto nunca te satisfará. Estarás satis­
feito sòmente quando puderes olhar para o que tens no
mundo externo e dizer: «Isto não é o que eu necessito. O
que eu necessito é reconhecer que dentro de mim está o
reino de Deus; que dentro de minha consciência está o uni­
verso espiritual, e que das profundezas de minha consciên­

113
cia flui a riqueza de meu ser.» E isto nada tem a ver com
«pães e peixes».
Para chegares a êsse estado de consciência, é indis­
pensável praticar meditação, porque freqüentemente se­
rás tentado a olhar para os «pães e peixes» e dizer: «Eu
tenho. . . » ou «tu tens. . . » ou «eu não tenho. . . eu preci­
so.» E então, para não caíres nesta tentação, precisarás
lembrar-te de desprezar os números, quantidades e quali­
dades dessas coisas externas e te compenetrares de que
«Nada preciso do mundo exterior; nenhuma quantidade de
coisas poderá atender às minhas necessidades. Estas só
poderão ser supridas pela minha compreensão da riqueza
de minha própria consciência.» Assim é como cada um de
nós poderá «m orrer» diariamente para o sentido mortal,
material e renascer para o Espírito. Em outras palavras:
o Espírito tornar-se-á, para nós, a substância tangível de
nosso universo; a Consciência se tornará, para nós, subs­
tância tangível, isto é, a form a e quantidade de tôdas as
coisas no reino externo. E porque a Consciência é infinita,
Sua aparência estará infinitamente manifesta.
A Consciência infinita não pode aparecer como ape­
nas uma, duas ou mil idéias. Ela tem que Se manifestar
como tôdas as idéias de que precisares por tôda a eterni­
dade. Não estamos usando a verdade espiritual para mul­
tiplicar alguns pedaços disto ou daquilo. Estamos despre­
zando a crença de que exista presença e poder no mundo
externo e voltando à nossa compreensão de que a Cons­
ciência infinita está aparecendo como nossa consciência
individual.

RECONHECENDO A FONTE
Disse Jesus: «Mandai esta gente sentar-se.» É que
havia muita relva no lugar. Sentaram-se, pois, os ho­
mens em número de uns cinco mil. Tomou Jesus os
pães, deu graças e mandou-os distribuir a todos que
estavam sentados; da mesma forma, os peixes, quan­
to queriam.» (Jo 6:10,11)
Por que deu êle graças? Por que fazia isso parte do
ritual? Sabes que êle não estava obedecendo ordens para

114
dar graças a ninguém. Assim, pois, ao dar graças, sem
dúvida, estava pondo o princípio em ação.
A ação de graças é um reconhecimento da Fonte. Dar
graças é reconhecer a Causa. Por isso, quando dizemos:
«Graças a ti, Pai, eu sou», estamos exprimindo nossa con­
vicção de que o nosso suprimento não se origina de ne­
nhum ser humano, mas, sim, do Pai. Não vem de nossa in­
teligência humana, de nossa engenhosidade ou de nossa
personalidade. Procede do Pai. Dar graças é portanto um
ato de reconhecimento da Fonte de todo suprimento, a qual
é a Consciência. Sem o reconhecimento de que a Consciên­
cia é essa Fonte, não há demonstração da verdade de que
o suprimento vem dessa Fonte como conseqüência natural
de nosso contato com Ela. Quando reconhecemos a Deus,
a Consciência infinita de nosso ser, como fonte de tudo o
que chega até nós, então o nosso «Obrigado, Pai», repre­
senta nosso reconhecimento da nulidade do ego humano e
do esforço humano. É um reconhecimento da presença e
poder de Deus como fonte de tudo o que chega até nós
como suprimento de tôdas as nossas necessidades.
Em cada passagem de tua vida, a gratidão desempe­
nha um papel talvez muito maior do que imaginas. Gra­
tidão não é sentimento relacionado com outra pessoa. É
tua harmonia, teu contato com Deus, tua união com Deus.
Em verdade, nunca precisas dizer «Obrigado» a outrem
que tenha servido de canal para o bem que recebes. Natu­
ralmente que nós o fazemos como uma form a de cortesia.
Entretanto, se essa expressão externa de gratidão não fôr
acompanhada da compreensão interna de que Deus, nossa
consciência, é a fonte daquilo por que somos gratos, esta­
remos agradecendo à fonte errada, e teremos perdido a
essência do verdadeiro sentido de gratidão. A graça que
Jesus rendeu ao Pai, foi o seu reconhecimento silencioso
de que Deus é a causa e o efeito de tôda e qualquer quan­
tidade de «pães e peixes».
Depois de todos fartos, disse a seus discípulos: «Re­
colhei as sobras, para que não se percam.» Recolhe­
ram e encheram doze cestos com os pedaços dos cinco
pães de cevada, que sobraram aos que tinham comido.

115
Vendo o povo o feito poderoso que Jesus acabava de
realizar, exclamou: «Êste é realmente o profeta que
deve vir ao mundo.»
Reparou Jesus que queriam vir e levá-lo à fôrça para
proclamá-lo rei. Pelo que tornou a retirar-se para o
monte, êle sozinho.
A o anoitecer, desceram os discípulos ao lago, embar­
caram e dirigiram-se para a outra margem, rumo a
Cafamaum. Já era escuro, e ainda Jesus não fôra ter
com êles. Iam as vagas empoladas com forte ventania.
Tinham remado uns vinte e cinco a trinta estádios,
quando avistaram Jesus a andar sôbre as águas e
aproximar-se da embarcação. Encheram-se de terror.
Jesus, porém, lhe disse: «Sou eu; não tem ais!» (Jo
6 :12-20).
De que se aterrorizaram êles? De alguma coisa exter­
na? De algum efeito? Da forte ventania? ou das ondas
empoladas? E qual foi a reação de Jesus ante aquela tor­
menta? - «Sou eu; não tem ais!» O Eu é Deus, a Consciên­
cia divina aparecendo como consciência individual. Portan­
to, a tôda «tormenta» com que depares em tua vida, ao
invés de procurares algo com que fazê-la cessar, fica onde
estás e dize: «Sou eu; não tem ais!» Eu, Deus, aparecendo
como consciência individual, tenho que ser a lei para tor­
mentas, ventos, ondas, vulcões e até para bombas atômi­
cas.
Em «O Caminho do Infinito», nós estamos retirando
tôda a confiança que tínhamos no suposto poder e presen­
ça das coisas do mundo externo - quer sejam cruzeiros,
«pães e peixes», tormentas, pecado ou doença - e deposi­
tando nossa fé no verdadeiro e único poder, que é o de
Deus, que aparece como consciência individual em cada
um de nós. Esse Eu, êsse Eu que eu sou, é a lei para tôda
tormenta.
Ora, vendo êles que Jesus e seus discípulos já não es­
tavam lá, embarcaram e foram a Cafarnaum, em bus­
ca de Jesus. Deram com êle na outra margem e per­
guntaram-lhe: «Mestre, quando foi que chegaste
aqui?»

116
Respondeu-lhes Jesus: «Em verdade, em verdade vos
digo: Andais à minha procura, não porque vistes si­
nais, mas porque comestes dos pães e ficastes fartos.»
(Jo 6:24-26).
Sim, êles voltaram pelo pão. Mas teriam visto o mi­
lagre? Não perceberam que o pão fôra produzido pela cons­
ciência? Acaso estavam interessados nisso? - Não. Es­
tavam interessados somente em obter mais pães e peixes.
Sua atenção estava focalizada nas coisas do mundo; es­
tavam presos ao ódio, ao mêdo, ao amor e ao desejo pelas
coisas do mundo.

ESFORÇA-TE POR ALCANÇAR A


CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
Isto nos leva a pensar no preceito: «Não andeis ansio­
sos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem
pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir.»15 De
nada adianta sermos alimentados hoje pelo grande Mestre
para a êle voltarmos amanhã em busca de mais alimento.
Quando presencias uma cura, procuras saber o seu segre­
do? Ou como se operou o milagre, indiferente com os
efeitos?
Por favor, observa êste ponto. Cuida que teus senti­
dos não fiquem hipnotizados pela magnitude da demons­
tração, a ponto de esqueceres de investigar o seu segrêdo,
a sua causa. Precisamos deixar que Deus, a consciência
de nosso ser, seja a medida de nossa demonstração de
cura. Sendo infinita, nossa consciência tem que manifes-
tar-se como uma infinitude de «pães e peixes», como uma
quantidade ilimitada de cruzeiros, como um lar infinito,
como ação ilimitada.
E agora chegamos à essência do nosso trabalho.
Lemos no. evangelho segundo João, pouco depois do
registro desta resposta de Jesus: «Andais à minha pro­
cura, não porque vistes sin a is...» , o seguinte:
«Não vos afadigueis por um manjar perecedor, mas,
sim, pelo manjar que dura para a vida eterna e que o
Filho do homem vos d a rá ... (Jo 6:27).
15 - L c 1 2 :2 2 .

117
Não te afadigues, não estudes, não medites, nem dês
tratamento visando a produzir um efeito. Não vivas no
mundo dos pensamentos e dos objetos. Trabalha por conse­
guir aquêle estado de consciência que produzirá equilíbrio
na tua mente, no teu corpo, na tua bôlsa, no teu lar, na tua
vida familiar, nas tuas relações em geral, bem como nos
negócios nacionais e internacionais.
A consciência espiritual não dá valor à «comida que
perece», mas, sim, àquela consciência que constitui a lei
da vida e que se manifesta na forma de «comida perecível».
Jesus não disse que não devamos ter esta comida. Êle
disse que o Filho do homem nos dará a verdadeira comida
e que é por essa que nos devemos esforçar, isto é, por êsse
estado de consciência.
O objeto desta obra é a revelação de um nôvo tipo de
homem, a revelação, dentro de nosso próprio ser, do ho­
mem espiritual que de fato somos. A maioria de nós não
está satisfeita com o que vê e com o que parece existir.
Nunca estaremos satisfeitos enquanto não nos voltarmos
para o homem que realmente somos. Então é que acabará
a luta de todo momento entre o espírito e a carne. O térmi­
no desta luta e a abertura da consciência ao desenvolvi­
mento espiritual tornaram-se algo mais que uma vaga
esperança quando os instrutores espirituais começaram a
demonstrar que se precisa e como se pode viver realmente
em contato consciente com Deus durante os sete dias da
semana. O mundo está reclamando o aparecimento de um
nôvo tipo de homem, em cuja consciência não haja guerra
nem coisa alguma que provoque hostilidades. E isto é re­
almente um milagre!
Perguntaram-lhe: «Que nos cumpre fazer para prati­
carmos as obras de Deus?»
Respondeu-lhes Jesus: «A obra de Deus está em que
tenhais fé naquele que êle enviou.» (Jó 6:28,29).
Êste é um dos preceitos mais importantes que se en­
contram na Bíblia: « . . .que tenhais fé naquele que êle en­
viou.» Quem foi que êle enviou? A si mesmo, como cons­
ciência de cada um de nós! Deus individualizado como o
Filho! Deus enviou-se a si próprio em se manifestando

118
como cada um de nós. Precisas aprender a confiar na tua
própria consciência como sendo a Consciência de Deus
aparecendo como tua consciência. Assim é como aprende­
rás a fazer as obras de Deus. Está certo fazeres' essas
obras, pois êle disse que poderemos fazê-las. Não fôra as­
sim e êle podería ter dito: «Vós, pobres e pequeninas al­
m as!», mas, pelo contrário, o que êle disse fo i: « . . .que
tenhais fé naquele que êle enviou.» Deves crer que a
Consciência infinita, chamada Deus, foi enviada ao mundo
como tua consciência.
A carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus.
Se não entraste no reino do céu é porque durante tôda a
tua vida tens estado a lidar com a carne e o sangue. Agora
precisas abandonar todo o teu interêsse pela carne e o san­
gue e começar a compreender «aquêle que êle enviou».
Quando começares a crer real e verdadeiramente que Deus
é a tua consciência, que tudo o que necessitas provém da
tua consciência divina, e não de fora, não do mundo dos
efeitos, então estarás na primeira etapa da expansão es­
piritual.
Replicaram-lhe êles: «Que sinal nos dás para que o
vejamos e te demos fé? qual a tua obra? Nossos pais
comeram o maná, no deserto, conforme está escrito:
Do céu lhes deu pão a comer.»
Respondeu-lhes Jesus: «Em verdade, em verdade vos
digo: Não foi Moisés que vos deu o pão do céu; meu
Pai é que vos dará o verdadeiro pão do céu. Porque o
pão de Deus é aquêle que desce do céu e dá a vida ao
mundo.» (Jo 6:30-33).
O que é êsse êle? É um homem, ou é tua consciência?
é a Consciência divina aparecendo como tua consciência
individual a dar vida a teu corpo, a sustentar tua posição
social, teu lar. O pão de Deus é a Consciência divina, in­
finita, que aparece como tua consciência individual: é Deus
a desdobrar-se, revelar-se, manifestar-se como teu ser in­
dividual. Quando souberes isto, poderás realmente crer
n’Êle e esperar tudo o que te fôr necessário na vida: todo
suprimento, tôda paz, todo domínio.

119
Disseram-lhe êles: «Senhor, dá-nos sempre êsse pão.»
Tornou-lhes Jesus: «Eu sou o pão da vida. Quem vem
a mim jamais terá fom e; e quem crê em mim jamais
terá sêde.» (Jo 6:34,35).
O mundo pensa que êsse «mim» representa um homem
chamado Jesus Cristo, que viveu há dois mil anos. Mas
êsse «mim», êsse Eu é Deus, o Ego infinito, que aparece
como ego individual. «Eu sou o pão da vida»; e o lugar
onde estou é terra santa porque Eu estou nêle. Não é isto
algo tremendo?! A Consciência espiritual individualiza-se
como sendo tu! O mundo tem estado a dizer que Jesus
Cristo é ou foi essa Consciência, êsse Eu, mas como nos
poderá tal coisa ajudar, se somente Jesus é essa Consciên­
cia, êsse Eu, e eu não O sou?
« . . .Bem vos dizia eu que não crêdes, ainda que me
tenhais visto. Tudo quanto o Pai me dá vem a mim;
e eu não repelirei a quem vier ter com igo; porque
descí do céu, não para cumprir a minha vontade, mas,
sim, a vontade daquele que me enviou.» (Jo 6:36-38).
Perceber que isto se aplica a nós? que o nosso único
propósito é fazer «a vontade daquele que m e enviou»? Nin­
guém podería ser atraído a uma pessoa agora, ou há dois
mil anos atrás, só por possuir alguma espécie de mensa­
gem pessoal. A menos que percebas, não apenas que eu,
o autor destas palavras, vim a êste mundo para fazer «a
vontade daquele que me enviou», mas que esta é também
a tua missão na vida, não terás alcançado o ponto mais
importante de tôda esta obra.

A FINALIDADE DA VIDA
Eis diante de nós um dos assuntos mais importantes
no mundo. Para que nascemos? Não é possível que tenha­
mos vindo a êste mundo simplesmente para ganhar a vida,
fazer serviços domésticos, escrituração mercantil ou seja
lá o que fôr que o destino nos reserve, apenas pelo privi­
légio de, no final das contas, nos deitarmos para morrer.
Se vivemos a fazer sòmente essas coisas, é porque ainda
não descobrimos nossa verdadeira vocação.

120
Contudo, no momento que identificares a Deus, a
Consciência infinita, como tua consciência individual,
transporás os limites do teu ambiente, por mais fechado
que pareça. Sentirás o impulso insopitável de conhecer a
finalidade da tua vida, porque todos nós temos uma alta
missão a cumprir neste mundo. «Não está escrito na vossa
l ei . .. Vós sois deuses?»16 Sempre o Mestre tentou alçar a
consciência pessoal do homem ao nível que permitisse a
êste o reconhecimento da própria e verdadeira identidade,
Deus - que és, que somos. Jesus simplesmente aconselhou
seu povo a ser o que êle era.
« . . .Ê esta a vontade de quem me enviou: que todo
homem que vir o Filho e crer nêle tenha a vida eter­
na. . . » (Jo 6:40).
Se puderes sentir ou perceber que Deus trabalha
através de alguma pessoa, terás então que reconhecer que
Êle trabalha igualmente através de ti, porque a experiên­
cia dessa pessoa era como a tua, antes que o Espírito a
tocasse. O objetivo do ensino da verdade espiritual é ele­
var o nível de nosso entendimento a ponto de nos poder­
mos aperceber de nossa verdadeira identidade. Se pude­
res crer que notaste um sinal de Consciência espiritual,
ou Consciência-Deus, emanar de algum instrutor espiri­
tual, estarás crendo que «o Filho» está nêle e, nesse mo­
mento, estarás salvo. Serás de tal modo levantado que sa­
berás que o que é verdade a respeito dêle o é também com
relação à tua própria identidade. Se assim não o fôr, será
porque o que notaste nesse instrutor não é real. Deus não
olha a pessoas. Atenta na história da vida de todos os lí­
deres espirituais e descobrirás que, antes de se tornarem
líderes, aconteceu-lhes algo que despertou suas mentes do
mesmerismo dos serviços domésticos ou das atividades de
empregado ou do comércio, permitindo-lhes perceber o fato
de que o Cristo era o próprio ser dêles, o fato de que o
próprio ser dêles era «o Filho».
« . . .É esta a vontade de quem me enviou: que todo o
homem que vir o Filho e crer nêle tenha a vida eterna,
e eu o ressuscite no último dia.» (Jo 6:40).

16 - Jo 10:34.
121
Ao te aperceberes de que «o Filho» está dentro de ti,
o teu ‘p róprio ser será levantado a um nível de consciên­
cia que te permitirá entender que tudo o que tenha sido
verdade em relação aos líderes espirituais do passado, é
verdade também em relação a ti, porque o que aparece
como «tu» e como «eu» é intrinsecamente o mesmo EU.
Murmuraram dêle os judeus por ter dito: «Eu sou o
pão que desceu do céu.» (Jo 6:41).
Como os sêres humanos detestam ouvir isso! Como os
irrita ouvir alguém dizer: «Tenho algo de Deus dentro em
mim. Sou a própria presença de Deus.» Ofendem-se com
isto porque acham que alguém está se colocando acima
dêles, julgando-se maior que êles e pretendendo separar-se
dos demais. Não compreendem que isso é apenas a expres­
são de um princípio que todos devem e podem adotar.
Diziam: «Não é êste, porventura, Jesus, filho de José,
cujo pai e mão conhecemos? como diz, pois: Eu desci
do céu?»
Tornou-lhes Jesus: «Não murmureis entre vós. Nin­
guém pode vir a mim, se não o atrair o Pai que me
enviou; e eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito
nos profetas: Serão todos ensinados por Deus.» (Jo
6:42-45).
Compreendes a mensagem? Jesus coloca-se acima de
si mesmo e glorifica o Cristo, internamente. Depois volta
e diz: «Serão todos ensinados por Deus.»17 Ei-lo, pois, a
reduzir ao mínimo a personalidade humana.
Nosso estudo é para que Deus possa se revelar, como
nossa consciência individual: Eu sou o Verbo que se fêz
carne. O início da sabedoria é quando desviamos nossa
atenção do mundo externo, do mundo dos efeitos ou apa­
rências e começamos a perceber que o poder não se encon­
tra nêle, mas em nós, como indivíduos. É-nos dado indivi­
dualmente todo o poder. Como indivíduos, nós temos do­
mínio sôbre tôdas as coisas que aparecem no mundo dos
efeitos.

17 - Jo 6 :4 5 .

122
Ao invés de darmos tratamentos, vejamos se podemos
sorrir, pelo menos internamente - não abertamente, para
não ofender a ninguém ou não parecer que estejamos fa­
zendo pouco de seus sofrimentos vejamos se podemos
sorrir na atitude de quem dissesse mentalmente: «Sim,
mas eu sei que não há poder em aparências. O poder está
em mim, em ti, em cada um, não importa quem seja êle.
Deus, a consciência de qualquer indivíduo, é o poder. Já
não mais odeio, não amo nem temo aparências externas,
ou o que o homem mortal ou efeitos materiais me possam
fazer.» Não atribuas podêres a números, a «pães e peixes»,
porque êles não têm nenhum poder. «Eu sou o poder».
Deus, a divina Consciência, tem que aparecer como o meu
infinito suprimento espiritual, como o meu corpo espiri­
tual, ilimitado.

A IMPORTÂNCIA DO ESTADO DE CONSCIÊNCIA


DO CURADOR ESPIRITUAL
Quando recorres a um curador espiritual, que é o que
pensas que te vai ajudar? Tens alguma idéia sôbre qual
seja a razão, o modo ou processo por que se dará a cura
que esperas? Será por fé cega, confiança em Deus? Ou re­
conheces que se opera pelo estado de consciência do cura­
dor? Quando pedes auxílio a um curador, êsse auxílio vem
porque êle alcançou um»estado de consciência em que o
mal, ou êrro, seja qual fôr seu nome ou sua natureza, per­
deu seu poder aparente.
Se pedires a ajuda de alguém que crê que a dor seja
alguma coisa que se deva recear, ou que o êrro seja algo
odioso ou temível, não serás curado. Mas quando pedires a
ajuda de um curador que não teme germes, infecções ou
contágio; alguém que sabe que micróbios, infecções e con­
tágio não existem como poder, senão simplesmente como
efeitos - serás curado mui ràpidamente. O que cura é o
estado de consciência do curador espiritual.
Poder-se-á perguntar: «Onde está Deus em tudo is­
so? Na consciência que sabe que não existe nada que lhe
seja oposto. Deus é êsse estado de consciência do curador
que não teme, não odeia nem ama o êrro sob form a algu­

123
ma. Então, e só então, é que o curador é realmente capaz
de curar.
Aquêle que se teme a doença ou sente repugnância por
esta ou aquela form a de pecado, ou que critica ou condena
o alcoólatra ou o libertino, revela não possuir estado de
consciência capaz de curar realmente. O estado de cons­
ciência do curador é agente curativo somente na medida
em que esteja isento de mêdo, aversão ou amor ao êrro,
seja qual fôr o nome ou a natureza dêste. Se tememos
certa doença e acreditamos que tenha o poder de matar,
então não podemos curá-la. Além disso, precisamos com­
preender que não há um Deus sentado perto de nós
aguardando oportunidade para intervir no trabalho a
nosso favor.
Deus é Consciência espiritual infinita, em que não há
pecado, doença nem morte. Na medida em que o curador
reconhecer esta verdade, tal será seu estado de consciên­
cia. Ninguém superou de todo a crença de que existe poder
e presença na matéria. Mas Jesus conseguiu superá-la mais
do que todos os outros.
Há nisto um outro ponto a considerar. Talvez queiras
saber por que será que um dia vais a um curador e és
curado instantâneamente e, depois, em outra época, tens
de voltar a êle quatro ou cinco vêzes antes que se dê a
cura. No primeiro caso, a cura foi instantânea porque
quando pediste o auxílio do curador, êste se achava num
alto estado de consciência, isento de ódio, mêdo e amor às
aparências. No segundo, a cura foi retardada porque as
sugestões hipnóticas do mundo, chegadas através de rádio
e televisão ou de manchetes de jornais, ou devidas a pro­
blemas de família, talvez o tivessem feito descer daquele
alto estado de consciência.
O sistema econômico sob o qual vivemos não é o
mesmo da época de Jesus. Naquele tempo lhe era possível
tomar seu manto branco, subir uma montanha, lá ficar
durante quarenta dias e depois vir curar multidões. Se
hoje pudéssemos fazer isso, nós também poderiamos curar
as multidões. Mas a maioria dos curadores não podem
fazê-lo. Para ser franco, em parte os próprios pacientes
são culpados desta situação. Êles tendem a ficar ressenti­

124
dos com o curador quando não o encontram à sua disposi­
ção. Querem que seja possível comunicar-se com êle duran­
te as vinte e quatro horas de cada dia e os sete dias de
cada semana, e por isso, até certo ponto, ajudam a impe­
dir que se operem curas instantâneas.
Não permitem ao curador permanecer no alto estado
de consciência necessário para produzi-las. O curador faria
melhor trabalho se pudesse ausentar-se freqüentemente
por períodos e dois ou três dias de cada vez.
Não há mistério nem milagre em relação à cura. Esta
resulta diretamente da influência do estado de consciência
daquele a quem se recorre. Ao pedires o auxílio do cura­
dor, entras em contacto com a consciência dêle. Se êle
sempre estivesse num estado de consciência divina, infini­
ta, tôda vez que lhe pedisses ajuda serias curado imedia­
tamente. Se a cura não segue de .imediato ao pedido de
ajuda, é ünicamente porque o curador ainda não alcançou
êsse estado de consciência, ou, se o alcançou, não o man­
tém.
Farás curas à medida que te aperceberes desta ver­
dade: Deus é que é a tua consciência divina, e não a
tua mente pensante.
Quando alguém te pedir ajuda, volta-te, imediatamen­
te e sem hesitar, ao teu mais alto entendimento, sabendo
que o auxílio está chegando na medida de tua percepção de
Deus como consciência individual, consciência que nada
sabe acêrca do êrro e nem toma conhecimento de form a
alguma de êrro e que, por isso mesmo, não o odeia, não o
teme, nem o ama.
Na proporção em que estudares, na medida em que
meditares, Deus, ou a Verdade, Se manifestará e Se reve­
lará como tua consciência individual.

(Do livro CONSCIOUSNESS UNFOLDING)

125
II consciCmcii consagrada
CARTA-MENSAL de janeiro de 1969

Há, na terra, duas espécies de sêres humanos: os vivos


e os mortos ambulantes. Os vivos extraem a vida da
Fonte e, pelo menos de certo modo, se dedicam a algum
ideal; os mortos ambulantes em nada se inspiram, vegetam
drenando a vida de onde quer que ela se encontre, do ar
e dos alimentos.
Ninguém realmente vive enquanto não encontra algo
mais importante do que êle mesmo, algo a que se devote,
se dedique, se consagre. Quando isso acontece, então co­
meça-se a viver.
Há os que se dedicam à causa dos escoteiros, às
Associações Cristãs de Moços (masculinas ou femininas),
e outros que se voltam à assistência infantil, à medicina,
ou ao ministério sacerdotal. Introduzida no substrato da
sociedade está, certamente, a consciência dos que se con­
sagram ao bem, influenciando o exercício dos negócios, da
arte, da indústria e do govêrno em plano mais elevado.
Aquêles que se uniam para colocar um exemplar da Bíblia
em cada quarto de hotel, pelo mundo, encontraram um
propósito em sua vida e dêle derivavam infinito bem.
Se assim é, por que não há maior número de pessoas
de consciência consagrada? Porque a verdadeira consagra­
ção vem como obra da graça divina; ninguém pode buscá-
la, nem lutar por ela. Pode-se somente desejá-la, e é até
aonde se poderá ir.
A Graça sobrevêm quando algo de natureza espiritual
se introduz na consciência do indivíduo e o prepara para
recebê-la. É necessário aprender como abrir a consciência

126
ao influxo do Espírito e fazer disso uma prece incessante
que se exprima como dedicação continua a um propósito
espiritual.
A face mental do homem conservou-se quase desco­
nhecida a muitas gerações que nos precederam, exceto a
alguns poucos artistas, escritores e filósofos. O homem
era considerado um ser essencialmente físico.
Gradativamente, porém, desenvolveu-se uma com­
preensão da natureza da mente e, em conseqüência, sur­
giu uma era plena de invenções e descobertas científicas,
provinda do reino mental. Essa era tem de ser ultrapassa­
da sem abandono do que já foi conseguido, e outra senda
deve ser palmilhada em direção ao Espiritual, pois o ho­
mem só poderá integrar-se quando, além de corpo e mente,
possuir Alma.
O homem não é corpo nem mente. Êle é Alma. A Alma
é o homem. Mente e corpo são instrumentos de que Ela
se vale. Quando a Alma desperta para as suas potenciali­
dades espirituais, usa a mente e o corpo com propósitos
puros. Quando a Alma está ausente, quando há falta de
senso espiritual no homem, só corpo e mente subsistem,
e êstes podem ser tão fàcilmente empregados para a práti­
ca do bem como para a prática do mal. Isso não acontece
com a Alma desperta, com o Espírito realizado! Neste
caso, o homem é incapaz de usar a mente ou o corpo para
fins prejudiciais ou incorretos.
Ê crença comum que o homem pode escolher entre ser
bom e ser mau, entre ser e não ser espiritual. Mas não
depende dêle essa escolha. Enquanto as faculdades de sua
Alma não acordarem, deverá êle viver no reino da mente
e do corpo, e poderá ser bom ou mau, ou um misto de bem
e mal. No entanto, uma vez desperto, uma vez que tenha
recebido ainda que a mínima consagração do Espírito, o
corpo e a mente se tornam instrumentos mais puros, per­
mitindo-lhe empregá-los, mesmo quando em idade muito
avançada, e mais eficazmente do que o fizera em gerações
passadas.
Aqui surge uma dificuldade. Em certo estágio de nos­
so desenvolvimento, lemos palavras como estas, certifica-
mo-nos de sua correção e, compenetrados de seu sentido,

127
decidimos viver o que preceituam. Então, no dia seguinte,
iniciamos nossa atividade normal e achamos isso muito
difícil; ontem, parecia tudo tão simples, tão agradável,
mas hoje, com os parentes, os empregados e tudo o mais
pesando em nossos ombros, a coisa parece impossível.
Aí é que precisamos determinar se a meta é digna de
nossos esforços. Se decidimos favoràvelmente, deveremos
fazer algum esforço no sentido de nossa consagração, o
qual nos conduzirá ao ponto que devemos alcançar para
perceber a inutilidade de nossos esforços em tal sentido,
o que nos permitirá compreender que, se não nos vier
de Deus, nossa consagração durará muito pouco. Cada um
de nós tem de dar êsse passo. Devemos tomar a decisão
de tentar praticar os princípios da vida espiritual, de os
fixarm os conscientemente, e então, com o tempo, essa prá­
tica nos proverá o estado de preparação necessário para
que Deus entre em nossa consciência.

ABRINDO A CONSCIÊNCIA A ORDENAÇAO


DIVINA
A Presença espiritual mantém-Se sempre à porta de
nossa consciência, tentando entrar. Por ignorância espi­
ritual, desconhecemos êsse fato. Temos vivido fora de nós
mesmos, à mercê de tôda sorte de influências externas,
passando por várias experiências, algumas agradáveis,
outras enfadonhas, mesquinhas, pecaminosas. E poderia­
mos tê-las evitado, encontrando o céu na terra! Ninguém
nos havia dito que Deus é a Alma do homem e que essa
Alma está constantemente à porta de sua consciência,
batendo para que se Lhe abram mente e corpo, propondo-
Se viver nossas vidas. Como não sabíamos disso, lutá-
vamos.
Agora, através de revelação espiritual, sabemos que
nosso divino EU está batendo à porta de nossa mente,
tentando entrar para assumir o govêrno de nossa mente,
para consagrar nossa mente e corpo ao serviço d’ÊLE, ao
Seu uso - ao invés de ao nosso, aos nossos prazeres - , e
para tomar conta de nosso lar, de nossos afazeres e con­
sagrá-los ao Seu propósito.

128
Nôvo senso de vida desperta em nós ao descobrirmos
que o corpo é o templo do Deus vivo!
Não deve ficar à nossa disposição, para uso pessoal,
mas deve ser diàriamente consagrado a Deus, para o Seu
uso. Nosso lar deve ser dedicado a Deus para que Êle
o empregue de acôrdo com Seu plano. Nossas aptidões,
sejam quais forem, provêm de Deus. Que diferença fará
na vida de uma pessoa, se ela restituir a Deus suas
aptidões, seu lar, sua mente e seu corpo, para que os
empregue adequadamente como Seus instrumentos?
Algum dia descobriremos que tôdas essas coisas que
usamos para o mal foram determinadas por Deus. Nossas
vias férreas, aviões, telefones, telégrafos e outros dispo­
sitivos mecânicos de uso cotidiano, tudo fo i determinado
por Deus. Cada coisa, com sua form a na Mente divina,
foi projetada na mente humana e concretizada. Egoistica-
mente pensamos que tudo foi feito para nosso uso exclusi­
vo. Por isto nos surpreenderemos quando em nossas
orações diárias começarmos a verificar que Deus prepa­
rou essas coisas para o Seu uso, e então entenderemos por
que Ele as afasta das mãos de algumas das pessoas que
que as controlam, dizendo: «Não as dedicastes à sua ver­
dadeira finalidade; vou empregá-las como convém ao Meu
plano».
Então, cada dispositivo, cada instrumento, cada peça
de mecanismo contribuirá para abençoar a humanidade.
Por quê? Por têrmos pôsto nas mãos de Deus nossa
mente, corpo e negócio, ao abrirmos nossa consciência a
Êle, no período de meditação diária, permitindo-Lhe que
os dedique, que os consagre ao Seu propósito.
Isto nos leva logo a constatar que tôdas essas coisas
são ordenadas por Deus, e que nos devemos considerar g.
nós mesmos como instrumentos de manifestação do amor
divino sôbre a terra.
Devemos, pois, abrir nossa consciência para que possa
Deus entrar e consagrá-la, e então haverá em seu pórtico
invisível esta advertência à mente carnal: «Daqui não
passarás!»

129
Assim dedicado a Deus e por Deus consagrado, «Ne­
nhuma arma forjada contra ti prosperará»1

DEDICAÇAO CONTINUA
Todos os dias devemos dispor de um período em que
possamos fechar os olhos e nos voltar para dentro de nós
mesmos, convidando Deus a entrar.
Em sentido metafísico, porém, Deus não entra nem
sai, pois nada tem de natureza material: não pode liinitar-
Se a ficar dentro nem fora de coisa alguma. Deus é oni­
presente: está sempre e ao mesmo tempo dentro, fora,
acima e abaixo de tudo, e a tudo permeia. Neste sentido,
a palavra «Onipresença» é a única que descreve adequada­
mente a natureza de Deus.
Portanto, se Deus, como Infinidade, é Onipresença, no
momento em que abrimos a porta - e imagino essa porta
como sendo minha mente - , nos apercebemos da presença
da Infinidade a inundar e expandir nossa consciência. Eis-
nos, então, sob a Graça. A graça de Deus é o poder, a
Presença, a sabedoria que «excede todo o entendimento»;
a graça de Deus é o que nos confere, como recompensa
por lhe abrirmos nossa «porta», a auto-realização seguida
de seus frutos.
Para abrir essa «porta», devemos orar assim:
Senhor, sei que estás batendo à porta de minha cons­
ciência, e a estou abrindo. Toma minha mente e meu
corpo! Sê minha Alma, sê minha vida!»
A isso, seguir-se-ão horas durante as quais seremos
guiados, dirigidos, beneficiados, abençoados. Não obstante,
em outro período de reflexão teremos que renovar nossa
dedicação, procurando vivenciar a essência destas pala­
vras:
«Eis que estou à porta, e bato. . . »2 Deus, o Infinito,
o Eterno, o Imortal, o Supremo, enche todo o espaço,
é onipresente, a Presença Infinita. Como abro minha

1 - Is 5 4 :1 7 .
2 - A p 3 :2 0 .

130
consciência a Deus, o Verbo habita em mim e eu
n’Êle, e assim a Consciência divina me permeia. Minha
mente, meu corpo, meu trabalho, meu lar, minha arte,
minhas aptidões são dedicados a Ele. Tudo em mim é
dedicado a Deus, e eu sou um instrumento que Ele
usa para a realização do Seu plano».
Em nos dedicando a Deus, permitindo-Lhe consagrar
aos Seus desígnios nossas mentes, corpos e atividades,
alcançamos um estágio mais elevado; chegamos a saber
realmente o que é consagração e por que algumas pessoas
progridem intensamente em suas atividades espirituais,
enquanto outras, não.
Por ignorarem a natureza da dedicação ou consagra­
ção, consideram-na qualidade humana, pessoal e, julgando-
se altamente dedicadas, esperam grandes resultados espi­
rituais que não podem alcançar, porque se dedicam mais a
si mesmas, à sua glória pessoal, que a Deus.
Isto evidencia que o homem cuja mente e corpo estão
separados da Graça espiritual é um morto ambulante, e
não viverá realmente enquanto o Espírito não entrar nêle.
Só então é que a vida passa a ter um propósito, um signi­
ficado, porque poderá, através do indivíduo, manifestar-se
«aos menores de meus irmãos».
«Em verdade, vos digo, o que fizestes a algum dêstes
meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes».
(Mt 25:40).
Não basta sermos bons para os nossos familiares.
Acho que até as pessoas que vivem no nível animal assim
procedem. A dedicação deve ser de natureza superior à
que se devota apenas à própria família, deve estender-
se a outros, «aos menores de meus irmãos». Precisamos
compreender que a dedicação de caráter pessoal, ou mera
promoção do ego, não é espiritual, não é dedicação a
Deus e, em tais condições, não permite que Ele nos consa­
gre a Si mesmo para que possam ser abençoados todos
aquêles que entrem em contato com a nossa consciência.
Daí por que, para essa consagração de nossa cons­
ciência, geralmente precisamos esforçar-nos por muitos

131
anos, lembrando-nos, diàriamente, ao despertar pela ma­
nhã, antes ou pouco depois de levantar, e ainda muitas
vezes ao dia, de que:
«Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a
minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e
cearei com êle e êle comigo». (Ap. 3:20).
Somente nos primeiros cem anos é que é difícil viver
nessa Consciência. O difícil é apenas êsse período, mas
passa, e passa rápido. Já pensaste no que representa um
século, comparado com os milhões de anos transcorridos
desde que Deus passou a manifestar-Se na terra?! Cem
anos são realmente nadp,!
Ao entrarmos na Idade Espiritual, que já vem des­
pontando, e abrir-nos àquela excelsa Consciência ou
quarta dimensão da vida, acontece-nos algo que muda in­
teiramente nossa natureza. Então já não temos o poder de
usar a mente e o corpo para fins maléficos. Surge Algo
maior do que nossa própria integridade, maior que nossa
educação ou nosso ambiente, Algo que assume a direção
de nossa vida: sentimo-nos governados por uma Influência
superior. Imprimimos em tôdas as nossas atividades o
cunho dessa dedicação de nossa própria consciência. Ainda
que outros possam valer-se de sua arte, de sua profissão,
de sua indústria ou de seus negócios para fins egoísticos ou
maus, nós, uma vez espiritualmente dotados, não podere­
mos empregar coisa alguma senão para o bem.
Eventualmente, porém, deverá chegar um momento
em que já não tratemos de ser bons ou de como ser bons,
de como ser bem sucedidos: é quando predomina em nossa
vida o anseio de preenchimento espiritual; é quando já
estamos realmente fatigados com o lado sombrio da vida;
é quando mesmo o seu lado bom demonstrou não poder
proporcionar-nos as satisfações prometidas.

PERCEBENDO A POTENCIALIDADE INFINITA


Como poderão os sêres humanos libertar-se das cir­
cunstâncias e condições terrenas que ordinàriamente os
governam e limitam, e sôbre as quais êles parecem não

132
ter contrôle? Como poderá o homem colocar-se conscien­
temente sob a proteção de Deus?
Tudo o que nos acontece é devido ao nosso estado de
consciência. Êste é o fundamento de nossa obra. Nada me
pode acontecer se não entrar em minha consciência. O que
não está ligado ao meu estado de consciência não pode afe-
tar-me. Por exemplo: as tentações podem estar à minha
porta ou entrar em meu quarto e não me afetar, se eu não
tiver conhecimento de sua presença ou esta não estiver de
algum modo relacionada com o meu estado de consciência.
As oportunidades de êxito podem estar se aproximando rà-
pidamente de mim, mas, se eu não tiver conhecimento de­
las, nenhum proveito me poderão trazer.
Isto pôsto, respondo às perguntas acima dizendo que
a meditação, ou oração, constitui o meio pelo qual podemos
colocar-nos conscientemente sob a proteção de Deus. Não
a oração tomada em seu velho sentido popular, de rogar a
Deus pelo êxito de nossos empreendimentos ou por algo que
atenda aos nossos desejos. Essa espécie de oração jamais
beneficiou o mundo, nas centenas de anos que tem sido
empregada.
Pela prática da meditação adquirimos a certeza de que
existe outra dimensão de vida, a que o Mestre denominou
«Reino de Deus». Quando o reconhecemos, estamos pron­
tos para dar o próximo passo, isto é, para nos colocarmos
conscientemente sob a direção de Algo espiritual, quadri-
dimensional, que então passa a ordenar nossa vida, inva-
riàvelmente no sentido do bem.
E logo descobrimos que não existe uma só pessoa no
mundo que não possua talento. 99% dos sêres humanos
ainda não desenvolveram suas aptidões inatas, e nunca
saem da trilha da humanidade comum. Não é que sejam
desprovidos de talento, mas porque não se aperceberam de
que o possuem e de sua finalidade, de sua função, de sua
utilidade.
Como poderemos saber que cada um de nós tem um
ou mais dons? Sem dúvida, por dedução. O Mestre nun­
ca foi mais incisivo do que quando afirmou: «A ninguém
sôbre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso

133
Pai, aquêle que está no céu.»8 Logo, não fomos criados
por nós mesmos nem por nossos pais terrenos.
Há um Só Criador, um só Princípio criador, infinito,
divino, que não criaria nada estéril, desnecessário, ou de
natureza morta. Portanto, todo o ser criado à imagem e
semelhança de Deus possui algum talento, alguma voca­
ção outorgada por Deus, algum dom divino.
Certos disto, podemos, pela meditação, descobrir qual
a carreira mais apropriada para nós, tenhamos ou não
ingressado em alguma. Quando reconhecemos essa quar­
ta dimensão da vida, êsse «Reino de Deus» de que falou
Jesus, e a que Paulo denominou «o Cristo», nesse mo­
mento nos abrimos à Sua influência e ficamos aptos a
receber Suas instruções.
A DESCOBERTA DO INFINITO DENTRO DE NÕS
«Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e sua jus­
tiça, e tôdas estas coisas vos serão dadas de acréscimo.»34
Quando fechamos os olhos e nos voltamos para den­
tro, sentimo-nos envoltos em densa escuridão. Neste recin­
to escuro, está a passagem de acesso ao Infinito. A não ser
dentro de nós mesmos, não há outro lugar onde possamos
encontrar o reino de Deus. Dentro de nós, porém, não quer
dizer no coração, na medula espinhal ou no cérebro.
De olhos fechados, nos situamos nesse lugar escuro de
onde parte o caminho que conduz ao reino de Deus, o reino
do Espírito, e o reconhecimento dêste fato nos coloca qua­
se no ponto em que podemos sentir que nossos ouvidos se
abrem como se estivéssemos prontos para receber uma co­
municação. E esta nos vem de dentro, não nos vem de fora,
não vem de nenhum de nós: vem-nos de nosso Ser Interno,
vem de nosso centro para a periferia, das profundezas à
superfície de nosso Ser.
Conseguimo-lo pela introspecção, compenetrando-nos
de que:
«Através da consciência, tenho acesso ao reino de
Deus, ao Infinito.»
3 - M t 2 3:9 .
4 - M t 6 :3 3 .

134
Ao fazê-lo, estamos obedecendo às Escrituras: abri­
mos nossa consciência para que o EU, nosso divino
Ser, a Consciência infinita que realmente somos, possa
entrar. Abrimo-nos à nossa Divindade.
Em tôda criatura humana existem aparentemente
dois «eus»: o humano e o crístico. Nesse momento, o ho­
mem terreno é o que precisa «morrer diàriamente»,5 a fim
de renascer do Espírito; é aquêle que intimamente diz:
«Pai, destrói minha natureza terrena; anula meu senso
pessoal, limitado, que me prende a essa mescla de bem e
mal; consagra-me a Ti. Restabelece em mim aquela pureza
que eu tinha no princípio, quando permanecia em Ti.»
Com esta atitude de rendição, abrimo-nos à divina In­
fluência, para que entre em nossa consciência e nos gover­
ne. Assim, pois, pela prática da meditação entramos em
contato íntimo com êsse Espírito, que passa a permear-nos
a mente e o corpo e começa o processo de purificação que,
eventualmente, nos impedirá, para sempre, de explorar a
outros ou de nos beneficiarmos à sua custa, ou de fazer-
lhes alguma coisa que não quereriamos que nos fizessem.
Isso não será por virtude ou retidão nossa, mas porque
teremos abandonado a mente e o corpo a essa Consciência
quadridimensional, ao divino Ser, que estará agindo atra­
vés de nós.
Da consagração de nossa consciência resulta, no mes­
mo instante, a submissão da mente e do corpo ao govêmo
de nosso EU espiritual, e a conseqüente consagração de
nossas núpcias, nossos lares, nossos negócios, nossa arte,
nossa profissão.
O que aparece como integridade em nosso trabalho
cotidiano é a consciência individual, a consciência imbuída
do Espírito. O músico, que tem consciência musical, sabe
que não pode desenvolver destreza no manejo do instru­
mento independentemente de sua consciência musical, por­
que sem a habilidade desta, não podem as mãos, os pés e
todo o corpo desempenhar seu papel. Em outras palavras:
sem a dedicação da consciência, ninguém pode dedicar-se
a nenhum empreendimento. Verifica-se que quando a cons­

S - 1 Co 15:31.

135
ciência assume o govêrno da mente e do corpo e lhes dirige
as atividades, nada pode impedir seu êxito. Por quê? Por­
que não pode prosperar nenhuma arma forjada contra
Deus, que então Se manifesta como nossa consciência in­
dividual.
Não pode o artista expressar o que esteja acima de
sua consciência artística, nem o músico o que esteja além
do limite de sua consciência musical. Tampouco poderá o
sacerdote, o pastor ou rabino estar vivendo acima de seu
estado de consciência espiritual. O mesmo se pode dizer do
curador metafísico. Por quê? Porque no grau de consa­
gração de sua consciência ao serviço de Deus está a medi­
da dos talentos que o indivíduo manifesta.
Todos os dons estão mais ou menos latentes na cons­
ciência do indivíduo, mas, para se desenvolverem, êste pre­
cisa tornar-se receptivo à sua Fonte espiritual.
Quando nos apercebemos de que Deus, o Infinito, é a
consciência individual, então Êle passa a manifestar-Se
cada vez mais intensamente através de nós: menores se
nos vão tornando os atrativos do humano ou finito, e maior
a paixão pelo espiritual ou divino.
Isto não quer dizer que precise a Divindade apresen-
tar-Se sempre sob a forma de uma atividade espiritual,
como a de um sacerdote, a de um curador metafísico ou a
de um instrutor espiritual. A Divindade pode agir com
a mesma eficiência no campo da indústria, das artes, das
finanças, da filosofia ou de qualquer outra atividade hu­
mana, porque o Espírito infinito funciona sob infinita
variedade de formas. A própria indústria é positivamente
uma atividade derivada da Consciência espiritual, e uma
de suas funções fundamentais é a de prover os meios bási­
cos para o desenvolvimento e divulgação da Ciência e
das artes.
Precisamos compreender a natureza integral do
homem como Espírito, mente e corpo, e saber que, uma vez
tocados pelo Espírito, ou Alma, a mente e o corpo funcio­
narão em qualquer campo de atividade que efetivamente
abençoe o mundo. Êle colocará alguns no exercício do mi­
nistério espiritual, outros, no mundo dos negócios, no mun­

136
do das artes, no mundo das finanças ou onde de algum
modo possam, no momento, servir ao melhor propósito.
Abrindo diàriamente nossa consciência ao influxo do
Espírito, saberemos que nossas atividades estarão sendo
dedicadas à realização de um bom propósito. «Em verdade,
vos digo, o que fizestes a algum dêstes meus irmãos mais
pequeninos, a mim é que o fizestes.»6 Quer o façamos pres­
tando serviço espiritual, quer aliviando o povo da opressão,
contribuindo para sua maior liberdade política, econômica
ou industrial, tudo concorre para o mesmo fim. E a glória
não é do homem, mas d’Aquêle que Se manifesta através
do homem. Seja o que fôr que realizemos na terra, é obra
do Poder supremo que deixamos fluir através de nós.

A CONTINUIDADE DA VIDA
Ninguém pode ver-nos, porque somos incorpóreos, es­
pirituais; somos consciência, consciência imortal.
Algum dia, seja por que fôr, abandonaremos o corpo;
isso, porém, de modo algum fará cessar nossa atividade.
Continuaremos nossa caminhada, trabalhando, abençoan­
do, servindo, simplesmente porque aquilo que somos - o Eu
invisível que contempla o que está além do que vemos
através de nossos olhos físicos - é o nosso Ser eterno.
Percebido isto, compreenderemos a importância de se
considerar a continuidade da vida, visto que a menor par­
tícula de bem que hoje desponte em nossa consciência, nos
será benéfica no próximo plano de existência.
Ao partirmos dêste mundo, deixamos nossos bens ma­
teriais ante o tribunal de sucessões, e levamos conosco os
tesouros armazenados em nossa consciência. Se estivésse­
mos de mudança para outro país, ficaríamos satisfeitos de
encontrar em nós integridade, amor, fidelidade, benevolên­
cia e capacidade de ajudar a outrem, e nos entristecería a
falta dessas qualidades, no início da vida em outra comu­
nidade. O que guardamos em nossa casa espiritual, o que
acumulamos de sabedoria espiritual, constituirá o tesouro
que levaremos conosco quando deixarmos êste corpo.

6 - M t* 2 5 :4 0 .

137
Nos dias de nossa completa imersão nas águas da vida
humana, não passavamos de mortos ambulantes: andava­
mos, comíamos e dormíamos, porém estávamos mortos.
Antes de nossa consciência ser tocada pelo Espírito, não
havia nenhuma radiação de vida em tôrno de nós, nada sa­
bíamos da realidade, da alegria, da paz da vida espiritual.
Quanto maior a receptividade ao Espírito, no presen­
te, tanto mais abundantes os seus frutos, no futuro. No
início de cada ano, é costume trocarem-se Votos de «Feliz
Ano-Nôvo»; todavia, sabemos que êste não será muito
melhor que o anterior, a menos que tenhamos feito algo
diferente do que costumávamos fazer. Logo, se êste ano
assimilarmos algo de espiritual em nossa consciência, algo
que transferir para o ano vindouro, então o Ano-Nôvo
será próspero e feliz.

ABRINDO A PORTA
«EU estou à porta de tua consciência, e bato. Não
venho apenas para que tenhas vida mais abundante,
mas para ficar contigo até o fim do mundo.»
Êste EU de que Jesus falou - nossa Alma - permanece
à porta de nossa consciência, e bate. No momento em que
aprendemos a fechar os olhos e constatar que através da
escuridão interna temos acesso ao Espírito, ao reino de
Deus - às Suas dádivas e riquezas, ao Seu amor e vida - ,
inicia-se um processo de enriquecimento de nossa consciên­
cia, o que, a princípio, não podemos perceber através dos
sentidos físicos, mas, com o correr dos dias, testemunha­
remos seus resultados.
Reconheceremos os seus frutos como mudança de re­
lações que ocorre em nossa vida, modificações de saúde,
aumento de suprimentos, etc., porque essa Influência espi­
ritual animadora, ao entrar na consciência, purifica a
mente e o corpo e os mantém e sustenta como a imagem e
semelhança de Deus, o Espírito.
Mas temos que abrir a porta de nossa consciência ao
Espírito; do contrário, Êle permanecerá fora. Isto respon­
de àquelas perguntas tão freqüentemente formuladas: Por
que foi êste pobre cão atropelado por um automóvel? Por

138
que foi esta inocente criança morta num acidente? Por que
esta boa mulher foi acometida de tão horrível doença? Por
que êstes jovens são enviados aos campos de batalha, onde
perderão a saúde, ou serão feridos ou assassinados?
Ê que «o homem natural»7 não vive sob a Lei de Deus.
O que de bom lhe acontece é, as mais das vêzes, ocasional e
efêmero. Mesmo os que nascem com vocação especial para
alguma coisa, e desejam ardentemente desenvolver seu
talento, nem sempre o conseguem. Há muitas pessoas de
talento que nunca prosperaram; há muitas que merecem
o reconhecimento do mundo e nunca o obtiveram. Grande
parte do êxito humano é acidental, e para nos subtrairmos
a êsse reino do Acaso, precisamos unicamente de uma coi­
sa: nos submetermos à Lei de Deus, de modo que possamos
ser guiados por Êle. E isso, ninguém pode fazer por nós.
Deve ser um ato de nossa própria consciência, e o caminho
a seguir é o da meditação. Assim o aprendi e assim o en­
sino :
No comêço, diàriamente, durante três ou quatro pe­
ríodos de no máximo quatro minutos, ou, algumas
vêzes, de apenas dez ou vinte segundos, procura abs­
trair-te dos ruídos externos, como que abrindo inter­
namente o ouvido para escutar os sons que estejam
além e acima da faixa de sons conhecidos e dize, no
teu íntimo: «Fala, Senhor; teu servo escuta!»8
Isto abre a porta de nossa consciência. É um convite
a Deus. E o Espírito sempre entra, ou de imediato, ou al­
gum tempo depois. Ãs vêzes, antes que tal aconteça, Êle
age de modo a forçar certas mudanças em nossa natureza.
Se estivermos sendo movidos por algum intento egoístico,
poderemos ouvir: «Buscas-me sòmente pelos pães e pelos
peixes. Vai cuidar dos teus negócios: estou cansado de ti.»
Entretanto, se nos voltarmos ao Senhor com o objetivo de
dedicar nossa mente e corpo ao bem espiritual, motivados
por intenções realmente puras e boas, então Êle virá sem
tardança, mais depressa do que O esperemos. E Sua influ­

7 - 1 C o 2 :1 4 .
8 - 1 S m 3 :9 .

139
ência nos conduzirá, finalmente, àquela meta atingida por
Paulo, quando anunciou: «Já não sou eu quem vive, mas
Cristo vive em mim.»8
Gradativamente, à medida que o Espírito entra em
nossa vida, vamos constatando a validade das passagens
bíblicas que dizem:
«Êle cumprirá o que está ordenado a meu respeito.»10
«O que a mim me concerne o Senhor levará a bom
têrmo.»*11
O importante, nestas passagens, é que Êle não faz o
que por nossa vontade teria sido feito. Êle faz em nós e
através de nós o que é de Sua vontade.
Nosso trabalho de oração não é completo enquanto
não inclui dedicação à Fonte pela Fonte mesma. Quando
assim dedicado, verificamos que se realiza em nós, para
nós e através de" nós, e seus frutos não se fazem esperar.
Nossa oração deve ser no sentido de dedicar nossa mente
e corpo a Deus, por amor a Êle e ao nosso próximo, com a
disposição de servir tanto ao menor de nossos irmãos
quanto, se necessário, ao maior dêles.
Assim consagrados ao serviço de Deus, seremos me­
lhores em tudo o que fizermos. Seremos melhores advoga­
dos, melhores comerciantes, melhores banqueiros, melho­
res sacerdotes, melhores escritores, melhores escultores,
enfim, melhores do que tenhamos sido, visto que nossa
mente e corpo estarão sendo usados na manifestação de
dons divinos.
O que nos tem entravado em todos os setores da vida
são os falsos conceitos que vimos alimentando, principal­
mente os falsos conceitos de oração, dedicação e consagra­
ção.
Temos que nos livrar dêsses conceitos e eliminá-los,
precisamos abrir nossa consciência para sermos instruídos
de dentro, não só quanto aos princípios espirituais da vi­
da, mas também sôbre como conduzir nossos negócios,

9 - G1 2 :2 0 .
10 - Jó 2 3 :1 4 .
11 - SI 1 3 8 :8 .

140
nossa arte, nossa profissão. Assim é como nos tornaremos
melhores do que nunca em qualquer dêles, porque teremos
essa Influência espiritual a aperfeiçoá-los.
Aquêles que participam de algum trabalho espiritual,
seja em «O Caminho do Infinito» ou em outra atividade
religiosa, deverão lembrar-se que o que se dedica a êsse
trabalho ou atividade não é o templo, não são os livros
nem os móveis, mas a consciência. E quando essa dedica­
ção da consciência é mantida, as influências consoladoras
e curativas irradiam das próprias paredes do templo. Mas
o que consola e cura não são as paredes, e sim a consciên­
cia consagrada que as permeia.
A oração não poderá ser realmente eficaz enquanto
não fôr para que se cumpra em nós e através de nós essa
divina vontade quadridimensional, e para que ao percebê-la
tenhamos a sabedoria de segui-la. Então é que o Senhor
cumprirá o que está ordenado a nosso respeito, então é que
Êle levará a bom têrmo o que a nós nos concerne.

141
TRAZENDO DEUS PRRII ■ VIDI1
DlàRIB
(Cap. VIII do livro «Our Spirituál Resources)

Não podemos entrar em contato com Deus em nossa


vida individual senão mediante certa atividade de cons­
ciência. Ao estabelecer contato consciente com a nossa
Fonte, entramos em contato com a Fonte espiritual de to­
dos aquêles que nos podem abençoar e de todos aquêles a
quem podemos abençoar: «eu neles e tu em mim, a fim de
que sejam aperfeiçoados no Uno.»1 Entretanto, esta nossa
interligação no Uno não se efetua senão no momento de
nosso contato com a Fonte, porque antes dêsse momento
nós nos sentimos como sêres humanos separados, cada
qual com seus interêsses e objetivos pessoais, cada um com
suas necessidades, e êsse senso de separatividade provà-
velmente não nos permitirá, de modo algum, atender às
necessidades uns dos outros.
Não há circunstância, por insignificante que seja, que
não possa tornar-se importante, com êsse contato. Ainda
que nada mais fôsse que a rotina de fazer compras, o esta­
belecimento dêsse contato, mesmo em questões sem impor­
tância, não só nos pouparia tempo como - o que é mais
importante - criaria em nós o hábito de continuá-lo, de
modo que quando surgisse algum problema, ou quando ti­
véssemos de tomar uma decisão mais vital, não haveria
possibilidade de esquecermos a observância dêsse princí­
pio fundamental, porque nossa reação seria mais ou menos
automática.

1 - Jo 1 7 :2 3 .

142
Para nós, pouco significa se nossas compras monta­
rem a oito dólares ou a oito dólares e sessenta centavos; se
compramos êste ou aquêle pedaço de carne, ou se adquiri­
mos êstes ou aquêles vegetais. O que realmente importa é
que, com êsse contato, estaremos formando mais um elo
em nossa cadeia de interligação, porque estaremos apren­
dendo a não fazer nenhum movimento sem que estejamos
profundamente compenetrados dêsse senso de unidade. Pa­
ra estarmos conscientemente ligados a todos os sêres e
idéias espirituais, precisamos sentir-nos efetivamente em
união com Deus. A mera afirmação mental de que somos
um com Deus, nada adiantará. Mas, se estivermos sempre
lembrados dêsse princípio de união, se nêle meditarmos,
refletirmos, ponderarmos até sentir sua ressonância em
nosso íntimo, então começaremos a demonstrar de fato
nossa união com todos os sêres espirituais.
Nossa vida passará, então, a ser vivida na experiên­
cia dêsse contato com Deus. Antes disso, a verdade não
passará de mero enunciado verbal, e estará muito longe de
ser manifestada. Só quando êsse pronunciamento mental
se converter em sentimento profundo é que saberemos que
a mão de Deus está nos amparando.

ESTABELECENDO CONTATO COM DEUS


Antes de iniciar quálquer das nossas atividades diá­
rias, precisamos estabelecer contato com Deus. Aquêle que
ainda não aprendeu como fazê-lo, a princípio levará algum
tempo. Talvez necessite ler durante alguns minutos, sentar
e meditar alguns minutos mais, tornar a ler e meditar, re­
fletir sôbre alguma verdade e meditar mais uma vez. Pos­
sivelmente levará uma hora para consegui-lo e sentir que
o conseguiu.
Os que sempre estão muito ocupados com as ativida­
des da vida cotidiana e sob a pressão das necessidades dês-
te mundo, poderão perguntar: «Como poderei dispor dessa
hora?» - Isso cada um terá que determinar por si. Cada
um terá que decidir se vale a pena conseguir essa realiza­
ção espiritual levantando uma ou duas horas mais cedo,
ou se é mais importante continuar dormindo.

143
Conscienciosa e honestamente, ninguém pode alegar
não dispor de tempo. Todos dispõem de vinte e quatro ho­
ras por dia. Mesmo se cada um tiver obrigações diárias a
cumprir durante doze horas, poderá, indubitàvelmente, de­
cidir se nas doze horas restantes assistirá a programas de
televisão, ouvirá rádio, irá a um cinema, dormirá ou pas­
sará pelo menos duas .dessas horas tentando sentir-se em
união com Deus. A cada um cabe determinar até que ponto
realmente deseja essa experiência.
Ter contato com Deus não é apenas afirmar mental
ou verbalmente que o temos; é muito mais do que isso: é
sentirmo-nos íntima e efetivamente livres de temores e
preocupações de natureza mundana. Depois dêsse contato,
recebemos maior luz espiritual e opera-se uma mudança
gradativa em nosso corpo, em nossa situação financeira e
em outras circunstâncias de nossa vida. Quando atingimos
êsse estado de efetiva realização, sabemos que estamos
sendo divinamente conduzidos, divinamente protegidos, di­
vinamente instruídos, e que vivemos sempre na presença
de Deus, seja qual fôr a situação em que aparentemente
nos encontremos.
Há um detalhe cujo conhecimento é sobremodo impor­
tante para chegarmos mais ràpidamente a êsse estado de
realização. Ê o seguinte: quanto mais tempo persistirmos
na crença de que Deus cura, de que Deus nos enriquece, ou
nos abastece de alguma coisa, tanto mais tempo seremos
deixados de lado, fora dos domínios da manifestação de
Sua presença. Teremos que chegar a um ponto em que nos
apercebemos de que Deus não é um poder, mas uma pre­
sença. Poder-se-á considerá-Lo como um poder somente no
sentido de princípio creador e sustentador de Sua creação.
Mas Deus não é um poder no sentido que Lhe atribuiría
quem dissesse: «Oh, se eu pudesse entrar em contato com
Deus, Êle curaria a todos, abastecería e protegeria todos
os meus conhecidos.» Em tal sentido, Deus não é um poder.
Deus é uma presença. Mas, por ser uma presença - e
infinita - , não existe nenhuma outra presença. Todo pe­
cado, tôda doença, morte, e tôda carência, desaparecem
ante a presença de Deus. Precisamos, pois, ter muito cui­
dado, quando estamos meditando, para que não acredite­

144
mos que o poder de Deus vá curar alguém, ou que vá pro­
ver suprimento, ou que vá proporcionar emprêgo a alguém.
Êle não opera dessa maneira.

DEUS APARECE COM O...


Deus é «a minha saúde.»2 Se isto é verdade, não de­
vemos andar em busca de um deus que seja um grande
poder para eliminar doenças. Quando nos identificamos
conscientemente com Deus, então Sua Presença, realiza­
da em nós, já é a nossa saúde. Essa Presença não restabe­
lece a saúde, não contribui para a saúde: Ela é saúde.
Deus é saúde, e além d’Êle não há outra saúde. É sempre
inútil tentar obter saúde. Mas, ao entrarmos em contato
com Deus, constatamos que Êle é a nossa saúde.
Apesar de todos os ensinamentos em contrário, Deus
não dá suprimento, não envia suprimento, não traz su­
primento a ninguém: Deus é suprimento. Quando senti­
mos a presença de Deus, estamos em posse de todo o su­
primento que existe, porque não há outro além dessa
Presença. A presença de Deus, que é o verdadeiro supri­
mento, é tudo o que devemos querer ou desejar, porque
quando a sentimos, constatamos que tôdas as coisas estão
nela incluídas. Não há tais coisas como Deus e suprimen­
to. Deus é suprimento e, quando temos Deus, possuímos
suprimento ilimitado.
Jamais devemos crer que Deus irá conseguir uma ca­
sa bonita e confortável para residirmos. Deus é a nossa
morada. Não devemos desejar uma casa ou que Deus a
obtenha para nós. Tudo o que devemos desejar é o próprio
Deus. Constataremos que quando temos Deus teremos on­
de morar, uma casa que, aos olhos dos nossos amigos e vi­
zinhos, aparecerá como uma casa bonita, uma habitação
prática, útil e muito bem situada.
Se estamos tentando achar uma casa separada de
Deus ou tentando encontrar uma casa por meio de Deus,
poderemos ficar surpresos com o longo tempo que teremos
de esperar para consegui-la. Entretanto, quando abandona­
mos o desejo de um lar ou de uma casa e alimentamos só o
2 - S l 4 2 :1 1 .

145
desejo de conhecer a Deus corretamente, nosso lar ou nos­
sa casa aparecerá automàticamente, porque Deus é a nossa
morada. Só existe um lugar onde deveriamos viver, que é
em Deus. Devemos viver, nos mover e ter nosso ser em
Deus, deixando de desejar residir em lugares, casas, cida­
des ou povoações, mas enfocando nossa atenção numa
única coisa:
Deus é a minha habitação. Minha única necessidade é
Deus - não um lugar onde morar, mas Deus. Quando
tenho Deus, não só tenho onde morar, como também
tenho tudo o que é necessário para montar casa e
mantê-la.
Assim é com relação à proteção ou segurança. Pedir
tais coisas a Deus é perder tempo. Deus é o nosso alto re­
fúgio, é a nossa fortaleza. Se orarmos pela nossa identifi­
cação consciente com Deus, ou seja, com a Sua onipresença,
constataremos que mesmo quando andamos pelas ruas,
sem qualquer proteção física, nossa proteção espiritual
não permitirá que nenhum mal dêste mundo se aproxime
de nossa morada. Como podería isso acontecer, se nossa
habitação é em Deus? Sofremos acidentes quando nossa
morada é em outro lugar. Mas, se vivermos consciente­
mente no esconderijo do Altíssimo, se fizermos de Deus
a nossa morada, se fizermos de Deus o nosso alto refú­
gio e fortaleza, se fizermos de Deus o nosso suprimento
e a nossa saúde, então não necessitaremos andar em bus­
ca de nenhum lugar para morar, nem de fortalezas, saúde
ou suprimento, porque Deus é tôdas essas coisas.
Deus não pode enviar saúde, não pode prover supri­
mento, não pode garantir segurança ou proteção, não pode
dar nem mesmo sabedoria: Deus é tudo isso. Desistamos,
pois, de pedir essas coisas ou outras quaisquer a Deus, mas
tratemos de conseguir entrar em contato consciente com
Deus, somente com Deus, conscientizando Sua presença.
Então poderemos constatar que Deus Se revela na vida
prática, a tal ponto que, se estivéssemos numa floresta e
sem nenhum meio de conseguir alimento, como estêve
Elias, os corvos no-lo trariam ou, ao acordarmos, encon­
traríamos pães sendo cozidos sôbre pedras, sob nossas vis-

146
t u ; ou, ainda, se nos encontrássemos num deserto e sem
alimento, como se viu Moisés, cairía maná do céu para nós.
Aliás, nenhuma dessas pessoas jamais se interessou por
outra coisa que não fôsse a sua própria identificação cons­
ciente com a presença de Deus.
A multiplicação dos pães e peixes não foi efetuada
pelo Mestre. Êle nada mais fêz senão voltar-se interior­
mente para o céu. Em outras palavras, compenetrou-se
da presença e da graça de Deus, e então, automàticamente,
os pães e peixes foram multiplicados. Nós não podemos
multiplicar pães e peixes. O próprio Jesus não o fêz. Êle
apenas identificou-se conscientemente com Deus como
Onipresença e Onipotência, e êsse estado de auto-realização
refletia-se naquilo que compreendemos como sendo as coi­
sas práticas da vida cotidiana. Do mesmo modo, nós tam­
bém, se necessitarmos de emprêgo, seremos conduzidos de
forma a encontrá-lo; se necessitarmos de uma casa, sere­
mos levados a encontrar o que parecerá ser o nosso lar; se
necessitarmos de suprimento, de algum modo o teremos;
se necessitarmos de amigos, de parentes, ou de alguém
para nos ajudar, tudo nos será proporcionado.
Não procures Deus por um lado e suprimento por ou­
tro, nem suprimento e Deus; sobretudo, nunca procures
usar Deus como um meio para conseguires uma casa, com­
panhia, ou saúde, porque isto seria pretender fazer de
Deus um servo. Êle nunca poderá ser isso. Jamais poderás
servir-te de Deus, a Verdade; mas Deus, a Verdade, é que
te pode usar. Deus, a Verdade pode manifestar-Se em ti
e através de ti.
O PRINCIPIO DA UNIDADE E A
HABILIDADE DE VENDER
O vendedor que pela manhã toma contato com Deus
e vai para o trabalho sentindo a presença de Deus, está
haturaimente sintonizado em espírito com aquêles que ne­
cessitam do que êle tem para vender, e no decorrer do dia
será conduzido a êles. Na medida da profundidade dêsse
contato e de sua habilidade de escutar, êle será, sem perda
de tempo, levado aos seus clientes e não precisará fazer
dez visitas para efetuar uma venda.

147
Em minha própria vida houve duas conjunturas dife­
rentes em que tive oportunidade de demonstrar êste prin­
cípio. No campo de vendas em que trabalhava, os vende­
dores eram instruídos de que normalmente se fazia, em
média, uma venda em cada vinte visitas, e que o vendedor
que fizesse conscienciosamente vinte visitas em um dia,
efetuaria uma venda, e o que fizesse quarenta visitas diá­
rias efetuaria portanto duas vendas por dia. Esta média
já estava tão bem estabelecida, que os gerentes de vendas
a tomavam por base para determinar o tempo que os ven­
dedores trabalhavam. Mas essa norma perdeu sua valida­
de, quando provei o inverso, isto é, que uma visita poderia
resultar em vinte vendas. Ao tomar contato com o meu
centro espiritual, eu ficava unido não só a Deus como a
todos os sêres e idéias espirituais. Assim é que, usual­
mente, quando fazia minha visita e efetuava uma venda,
surgiam, em decorrência dessa visita, tantos outros pedi­
dos que resultavam em vinte transações.
Mais tarde, nos primeiros tempos da crise econômica,
quando eu praticava a cura espiritual, um homem que ven­
dia determinado serviço e constatara que na época nin­
guém podia comprar aquêle serviço, veio pedir-me auxílio.
Em conseqüência dêsse auxílio, êle teve oportunidade de
demonstrar o mesmo princípio, invertendo a média comum
de vendas, que era de uma venda em cada cinco visitas,
para cinco vendas em cada visita. Além disso, em virtude
de seu grande sucesso com a aplicação dêste princípio, em
menos de um ano foi promovido a gerente de vendas de
sua organização.
Muitas vêzes os vendedores parecem estar sujeitos a
determinada influência ou pressão, porque existe não só o
problema de vender a mercadoria como também o da pos­
sibilidade de sua entrega. E há ainda a considerar na tran­
sação um terceiro fator, que é a absoluta importância do
comprador. Se o vendedor vive meramente como um ser
humano, está competindo não só com os outros vendedores
do mesmo ramo como, também, está dependendo da prefe­
rência do comprador e, por isso, estará competindo com os
demais vendedores de sua própria organização, para que
a entrega da mercadoria vendida seja certa e imediata.

148
Tudo isto pode mudar fácil e ràpidamente desde que
haja uma mudança de consciência do vendedor. Quando
êste é capaz de se colocar acima da mentalidade humana e
compreender que existe somente um poder, somente uma
vida, sòmente uma atividade, e que a limitação, a competi­
ção encarniçada e as frias práticas comerciais nada mais
são que a mente carnal em seu pesadelo, êle então descobre
que existe só um comprador e vendedor, que é Deus, a
manifestar-se como milhares e milhares. Nestas condições,
é a Deus que êle oferece a mercadoria, porque Deus lhe
está aparecendo como ser individual infinito, mas polari­
zado como vendedor e comprador.
Tudo o que se estiver vendendo, quer se trate de má­
quinas, quer de roupas, teve sua origem na Consciência
infinita. Deus é a fonte, o creador e planejador de tudo,
e, certamente, jamais creou mercadoria alguma para ficar
encalhada numa loja ou num armazém. A própria com­
preensão de que Deus é o creador de tôda espécie de mer­
cadoria, deveria constituir garantia suficiente de que Êle
creou também os meios para a sua venda, isto é, a pro­
paganda eficiente, a apresentação adequada do produto
e o comprador certo para êste. Tôda essa atividade está-se
desenvolvendo na consciência de Deus, e não na consciên­
cia do homem.

PRINCÍPIOS e s p i r i t u a i s r e l a c i o n a d o s
COM OS NEGÓCIOS
A apreensão ou tensão causada pelas atividades co­
merciais pode ser trataida mediante os princípios da cura
espiritual, qualquer que seja a situação causadora. Tais
princípios podem reduzir-se ao reconhecimento de que Deus
aparece como ser individual - reconhecimento êsse que
despersonifica e anula qualquer condição desarmoniosa,
limitada ou limitante, e implica na compreensão espiritual
de que existe um só poder - o que faz com que nossas ati­
vidades passem do ritmo da vida humana para o ritmo da
vida de Deus.
Por exemplo: o comerciante que vai para o seu negó­
cio, usualmente tem que fazer face a muitos problemas

149
diferentes durante o dia: sempre há decisões a tomar e
compromissos a cumprir; sempre há que tratar com os
colegas e o público, que constantemente lhe fazem pedidos.
Talvez um de seus primeiros deveres seja o de cuidar
da correspondência, o que lhe poderá tomar muito tempo
ou ser um incômodo. Se, entretanto, antes de sair de casa,
ou depois de chegar ao escritório, tomar uns poucos minu­
tos para comungar com o seu ser interior e encontrar seu
centro de paz, então, ao abrir a correspondência, será
como se houvesse Algo dentro de si lendo-a e dando-lhe as
respostas a qualquer consulta ou a solução para qualquer
problema.
Quando compreendemos que Deus é também a ativi­
dade do negócio, todo o senso de apreensão é aliviado,
porque então estaremos permitindo a êsse Algo invisível
operar e realizar tudo quanto é necessário. Jesus o cha­
mava de o Pai interno que faz o trabalho. E se Deus, o
Pai interno, é quem faz o trabalho, como poderemos ficar
apreensivos com o nosso negócio? Se nos sentimos sobre­
carregados e apreensivos é, quer o admitamos ou não, por­
que estamos tentando assumir a responsabilidade de Deus.
G govêrno está sôbre os Seus ombros, mas, se não o reco­
nhecermos e não confiarmos nisso, então estaremos assu­
mindo uma responsabilidade que não nos cabe.
Se assumíssemos em nosso negócio a atitude interna
de um expectador, observando o desdobramento da ativi­
dade do Infinito Invisível, logo constataríamos o desen­
volvimento de tudo quanto fôsse necessário à sua com-
plementação - como capital, se dêle carecéssemos; como
empregados, como fregueses e, finalmente, como disponi­
bilidade bancária para aquisição de mercadorias.
Em outras palavras: essa atividade seria completa,
porque o preenchimento é próprio da natureza de Deus.
Deus não cria um sistema telefônico sem que haja quem
o utilize; Deus não cria automóveis sem criar o combustí­
vel com que se possa fazê-los rodar. Deus não cria nenhu­
ma atividade em nossa consciência, nem se torna respon­
sável por nenhuma delas sem a completar. Deus, a Cons­
ciência Infinita, o Infinito Invisível, plenifica a Si mesmo
manifestando-Se como atividade individual.

150
O SERVIÇO DEVERIA SER O
MOVEL DE TODO NEGOCIO
A maior parte das organizações comerciais se funda
no desejo de lucro ou para proveito daqueles que aa or­
ganizam ou patrocinam. No entanto, essa mesquinha idéia
não constitui a verdadeira concepção de negócio. Alimen­
tá-la seria tão errôneo como acreditar que o médico deva
pensar que os doentes o procuram para enriquecê-lo. Pou­
cos médicos pensam assim. A atitude do médico em rela­
ção a seus clientes deve ser de gratidão ao Pai pela opor­
tunidade de ajudar essas pessoas. O enriquecimento do
médico, com a prática da medicina, só é legitimo, do nosso
ponto de vista, quando ocorre incidentalmente em relação
aos serviços que êle esteja prestando.
Por que não se deveria manter com relação aos inte-
rêsses comerciais atitude semelhante? Por que não deveria
o freguês, ao entrar numa loja, encontrar uma atmosfera
mental cuja tônica fôsse um pensamento que correspon­
desse a estas palavras: «Obrigado por teres vindo propor­
cionar-nos a oportunidade de te fornecer o que necessitas.
O fato de ganharmos dinheiro com a transação, é de im­
portância secundária, ante a alegria de podermos servir-te.
Estamos aqui para êste fim, e o pagamento que recebemos
corresponde apenas ao serviço que prestamos.»?
Do ponto de vista espiritual, tôda transação que se faz
é para o benefício do público interessado, quer se trate da
venda de uma peça de vestuário, quer de um livro ou de
um nôvo aquecedor. Qualquer que seja a transação, nosso
objetivo no mundo dos negócios deve ser o de atender às
necessidades do cliente e nos sentirmos gratos pela opor­
tunidade que nos dá de abençoá-lo quando entra em nossa
loja. O comerciante que tomar esta atitude nunca precisa­
rá preocupar-se com concordata ou falência. Todo homem
de negócios deveria fazer de sua profissão objeto de tra­
tamento específico, afirmando, em seu íntimo, diàriamen-
tc, ao sair para o trabalho:
«Estou indo para o trabalho a fim de servir à co­
munidade, e não para ganhar dinheiro ou enriquecer.
Portanto, preciso manter a vitrina, a loja e sua en-

151
trada limpas, e tornar o lugar bastante agradável,
para a todos atrair e abençoar.»
Isto poderá não parecer uma maneira muito prática
de encarar aquilo que a maioria considera o duro e insen­
sível mundo moderno da concorrência comercial. Não obs­
tante, muitas firmas notáveis e bem prósperas foram cons­
truídas com base neste princípio de serviço.
O verdadeiro comércio não é frio nem cruel. O comér­
cio só é mercenário quando seus dirigentes ainda não co­
nhecem os princípios espirituais da vida. O homem que
aprendeu êstes princípios deve recordá-los e sobretudo
manter-se compenetrado dêles, apercebendo-se de que to­
dos aqueles que entram pela porta de sua loja estão en­
trando também pela porta de sua consciência e que, por
isso, precisa meditar para ter na loja a presença de Deus,
a fim de que seus clientes e companheiros possam encon­
trá-la ao penetrarem no âmbito de sua consciência. Todo
comerciante deveria meditar antes de sair para o trabalho,
para que todos aquêles que entrassem no âmbito de sua
consciência pudessem encontrar Deus à sua espera, para
saudá-los.
Quando soubermos que nossa união com Deus impli­
ca em união com todos os sêres e idéias espirituais, e apren­
dermos a permanecer firmes nessa união, provaremos lite­
ralmente a existência de Algo que estará vivendo nossa
vida por nós, Algo que andará à nossa frente para aplai­
nar as nossas dificuldades. Então não estaremos vivendo
nossa própria vida, porque dentro de nós haverá Algo que
nos avisará ou nos fará pressentir qual seja o momento de
dar ou de não dar um nôvo passo à frente, poupando-nos
assim de muitos dos problemas que possam ser evitados,
ou encarregando-Se, por nós, prontamente, daqueles que
pareçam inevitáveis.
Ao praticar a Presença e tomar contato com o Espí­
rito interno, nos vemos a nós mesmos movendo-nos em cer­
to ritmo de progresso espiritual; apercebemo-nos da pre­
sença de Algo fluindo dentro e através de nós; compreen­
demos que êste Algo toma sôbre Si a nossa responsabilida­
de, carrega o nôsso fardo, não importa qual seja o seu pêso.
Êle faz o trabalho e nos livra de apreensões, enquanto nós
152
nos convertemos em expectadores, ficando a observar, um
pouco de fora, o desenvolvimento de nossa própria vida.

CONCLUSÃO
Nosso trabalho não seria totalmente bem sucedido
se ao mesmo tempo que atingíssemos o Espírito de Deus
não tentássemos levantar tôda humanidade ao nosso nível
de consciência. É bom lembrar que ao meditarmos ao mes­
mo tempo, ainda que em diferentes partes do mundo, esta­
mos unidos no apercebimento da presença de Deus, de
modo que quando um atinge a realização da Presença, to­
dos os outros são simultâneamente levantados ao mesmo
nível de consciência por êle alcançado.
Aqui, também, se revela o segrêdo do suprimento. Não
podemos receber o suprimento permanente, que é de ori­
gem espiritual, a não ser pela elevação de nossa consciên­
cia a um nível acima daquele que produziu a carência. En-
quando nosso estado de consciência continuar sendo o
mesmo de quem sofre carência, esta perdurará. Nestas
condições, será inútil procurar demonstrar que se possui
tal suprimento. Procuremos, pois, alcançar um estado de
consciência mais elevado, mais profundo, mais rico, divi­
no, e então veremos fluir o verdadeiro suprimento nesse
nível superior de consciência.
Êsse estado de consciência superior se atinge median­
te estudo e prática de princípios espirituais específicos e
vivendo como é aconselhado na literatura inspiradora da
mensagem de «O Caminho do Infinito». Tua meditação te
elevará a ponto de apreenderes a verdade espiritual, e
essa compreensão interna se manifestará exteriormente
como forma de suprimento.
Lembra-te de que nunca estarás meditando sòzinho.
Sempre que meditares, estarás dentro do âmbito da cons­
ciência daqueles estudantes, instrutores e praticantes de
<0 Caminho do Infinito» que ao mesmo tempo se acharem
unidos contigo em meditação, embora possam estar espa­
lhados por todo o mundo. Ao atingires certo grau de rea­
lização espiritual, levantarás aquêles que estiverem medi­
tando contigo. Quando alguém com quem estiveres medi­

153
tando conscientizar a presença de Deus, tu estarás sendo
levantado ao seu nível de consciência - e disso haverá si­
nais que hão de acompanhar aquêles que crêem .. .» 3 Esta
consciência representa o fluxo da graça de Deus como algo
característico de nossa filiação divina.

3 - Mc 16:17.

154
DOMÍNIO CONSCIENTE
Carta mensal de agosto de 1959

Viver a vida espiritual significa abandonar o sentida


pessoal, o conceito de personalidade, e chegar à compreen­
são de que a vida não é nossa, não é nossa propriedade,
mas que a vida que é nossa, é, na realidade a Vida de Deus
expressa como nossa vida ou experiência individual. Essa
é a verdade acerca de nossa vida, mas mais do que isso,
essa é a verdade com relação a cada indivíduo na face da
terra, tanto faz êle saber, como não. Nessa compreensão,
nessa realização reside o princípio que pode ser de imensa
importância nas nossas relações humanas.
Se temos que abandonar o sentido pessoal da vida, te­
mos que aprender a «morrer cada dia» para o homem ve­
lho, êsse «homem velho» que estêve vivendo a sua própria
vida, uma vida vivida estritamente de acôrdo com seus
próprios desejos, e para seus próprios fins e interêsses. Se
bem não existir dúvida que muitas pessoas viveram suas
próprias vidas com propósitos altruístas, não se segue ne-
cessàriamente que essas vidas foram vividas de acôrdo
com a lei espiritual. O seu próprio altruísmo poderá estar
eivado com certo fariseismo ou falso virtuosismo, uma
atitude rígida de «ser bom» humanamente, e fazer o bem
humanamente. A vida espiritual, no entanto, é admitir que
«de mim mesmo nada posso fazer» (João 5:3) e que o ho­
mem, a creatura humana, não tem capacidade de ser tanto
bom como mau.

155
A ATITUDE DO MUNDO PARA CONOSCO Ê O
RESULTADO DE NOSSA REAÇÃO PARA COM
ÊLE
Nas nossas relações com amigos, com a família, e
membros da comunidade, muito cedo passaríamos a notar
a diferença que iria fazer, se em vez de criarmos antipatias
ou abrigarmos ressentimentos porque as pessoas não agem
na forma como nós pensamos que deveríam agir - fôsse­
mos capazes de manter nossa equanimidade e equilíbrio
espiritual, realizando, compreendendo, que o homem não
tem poder de estar certo ou errado, de fazer a coisa certa
ou errada, porque todo o poder reside em Deus, a ALMA
DO HOMEM, A VIDA DO HOMEM.
Se em vez de reagirmos para com os de nossa famí­
lia, que persistentemente tentam tirar proveito de nós,
para com os que são desatenciosos, remissos, ingratos,
frios, desamoráveis e estúpidos, nós nos elevássemos aci­
ma dessas sugestões e compreendéssemos que não há nin­
guém, em nossa casa, que pode dar ou reter o bem - nin­
guém em nossa família que pode negar, recusar, reconhe­
cimento ou cooperação - tôda a situação mudaria.
Ao você aplicar êsse 'principio, você fará a descoberta
de algo que eu aprendi no meu ministério de cura, e que
consiste no seguinte: a atitude do mundo para comigo é o
resultado direto da minha reação para com êle. Em outras
palavras, se eu fôr chamado, e me pedem auxílio para um
caso de doença, e eu a aceitar como uma realidade, e me
deixar dominar pelo mêdo, ou pela dúvida, ou então co­
meçar a trabalhar com afinco para superá-la, a reação
seria tão forte que a cura não se realizaria tão depressa.
De fato, nem haveria cura até que eu pudesse me elevar
acima de qualquer reação ao problema. De outro lado,
quando vem um chamado, se eu me sentir numa posição
suficientemente elevada no meu consciente para enfrentá-
la com uma atitude: «E então! o que é que ela pode fazer!
Ela não tem poder, a não ser aquêle que é recebido de
Deus! Em si mesma, e de si mesma, uma miragem não
tem poder de cobrir a estrada com água, e em si mesma
e de si mesma, uma ilusão não pode fazer algo, nem

156
aer algo» e se êsse estado de consciência (essa-percepção-
da Presença) é minha única reação ao problema, a cura
poderá ser instantânea, ou, pelo menos, será rápida.
Essa é a reação que se deve ter nos casos de injustiça,
desatenção e ingratidão; sempre êsse sentido de «Que di­
ferença faz? Não tem nada que ver comigo. Se há qualquer
injustiça, não está dirigida a mim - está dirigida ao Cristo,
e o Cristo encarregar-se-á dela. Se há uma ingratidão, não
é para comigo - é uma ingratidão para o Cristo, e o Cristo
sabe como lidar com ela».

ELEVAR-SE ACIMA DO SENTIDO DA PERSONA­


LIDADE - DO «EU» PERSONAL (página 151)
Tomar uma atitude dessas, é eliminar o sentido pes­
soal do «eu», «Morrendo diàriamente» ao sentido perso-
nal do ser, você não mais reage, aos mêdos, crenças,
condenações e irritações do mundo; e, por conseguinte,
você se situa muito acima dêles, e êles não se projetam
sôbre você. Qualquer exigência que lhe fôr feita, não é
feita sôbre você, mas sôbre o Cristo do seu ser. Portanto,
você não tem direito de reagir.
Lembre-se sempre que as provações e as tribulações
do mundo nunca chegam perto da morada da pessoa que
«mora no lugar secreto do Altíssimo», que vive, e se move
e tem o seu ser na consciência-de-Deus (na percepção
consciente da Presença de Deus). Estar fixado, estabele­
cido na consciência-de-Deus, significa compreender, em
primeiro lugar, que Deus é a sua consciência, e por con­
seguinte, você nada aceita, nunca, como sendo pessoal,
para você, mas deixa que a consciência-de-Deus tome con­
ta; e, em segundo lugar, significa que Deus é a consciência
de tudo o que existe e, assim, se qualquer discórdia ou
desarmonia parece vir em sua experiência, você compreen­
derá que não parte de qualquer pessoa, mas de um sentido
ilusório daquele a quem chamamos «o homem, cujo alento
está nas narinas».
Atingir um nível, um sentido, mais elevado da vida,
significa superar o sentido personalista da vida. Em ou­
tras palavras, significa elevar-se a um lugar, na consciên­

157
cia, ou no estado-de-consciência, onde «os dardos inflama­
dos do maligno» (Efésio 6:16) já não atingem a você.
Ainda assim, não há garantia de que o mundo deixe de
sua maledicência, ou de espalhar falsos rumôres a seu
respeito, ou que se abstenha de fazer de você o alvo de
suas «armas de fogo». Poderão acontecer tôdas essas coi­
sas, mas a resposta é sempre a mesma: «Que diferença
faz, desde que o «EU» de mim é Deus, e êsse «EU»
jamais poderá ser atingido e ferido?». Enquanto você
vive no sentido de que somente as qualidades e atividades
de Deus podem fluir para fora de você, que importa que o
mundo faça a você, ou a mim?
Tôda a experiência da Crucificação serviu de prova de
que nem mesmo os pregos, a cruz, e a espada tinham
poder. Além disso, provou que nem a oposição, nem o ódio
da igreja organizada, nem a pompa temporal e a glória
de Roma eram poder. A ressurreição celebrada na páscoa
simboliza que o ódio humano contra a verdade não é poder,
que as armas dêste mundo - seus pregos e suas espadas
- não são poder, e que a lei humana não é poder. Essa é
a grande lição a ser-tirada da Crucificação e da Ressurrei­
ção. A Ressurreição provou que qualquer que seja a forma
maléfica que é lançada contra nós, «em três dias», pode­
mos superá-la. Num curto espaço de tempo, podemos so­
brepor-nos acima de tôda e qualquer forma de discórdia
e desarmonia, se, não só nos recusamos a aceitá-la como
um poder real, mas, ainda mais, não a aceitarmos como
se fôsse dirigida a nós, como pessoa, mas realmente diri­
gida ao Cristo do nosso ser, e estivermos, então, dispostos
a contemplar o Cristo aniquilá-la.
Seja onde fôr, ou quando fôr, que haja alguém nutrin­
do ressentimentos contra nós, manifestando inveja, ciúmes,
ou malícia, empenhado em nos fazer uma competição sem
trégua, ou onde quer que haja ameaça do poder temporal,
ou falta de apreciação, ingratidão, diz-que, diz-ques, male­
dicência, ou rumôres, a resposta deve ser sempre a mesma:
«.Nada importa. 0 «homem, cujo alento está nas suas
narinas», não tem poder algum para fazer algo, ou
ser algo! Visto que Deus é a mente do homem, e
todo o poder está cèntralizado, e emana em Deus e de
158
Deus, nenhum doè pilatos dêste mundo tem poder so­
bre mim, a não ser que provenha do Pai que está nos
céus».
. Não seria estranho, ter o poder de Deus, e não obs­
tante, ter mêdo do que o hómem lhe possa fazer? Foi-nos
dito que não devemos temer o que o homem mortal possa
fazer: «O Senhor está ao meu lado; não terei mêdo: que
poderá o homem fazer contra mim?» (Salmos 118:6) Isso
não deverá ser interpretado como significando que esta­
mos sentados aqui com Deus, mas que o inimigo não tem
Deus; não significa que nós temos um Deus aqui para
nos defender de algum poder maléfico, ou alguém, lá fora.
Não. Significa que Deus é o único poder; e com a com­
preensão de Deus como o único poder, Deus torna-se, então,
a única voz que pode ser ouvida.
Não existe no mundo nenhuma maneira pela qual pos­
samos ser convencidos de que o mal não é poder, a não
ser que possamos ver que existe um Deus, que Deus é, e
que êste Deus que é, é o único poder, e que êste Deus é
realmente a lei, o princípio, a substância do ser individual.
Só depois de você reconhecer Deus como ser indivi­
dual, só depois que você possa ver Deus não só como bem
universal, mas o bem universal individualmente manifes­
tado, não só Deus como poder infinito universal, mas o
poder infinito universal individualmente manifestado, só
então poderá você olhar para tôda e qualquer pessoa, e
saber: «o único poder que você tem é o de expressar a
Deus, ou deixar que Deus se manifeste através de você».

OS PUROS DE CORAÇÃO SÃO INSENSÍVEIS AO


MAL
Ninguém pode desafiar a Deus, e mais especialmente
ninguém pode desafiar a Deus uma vez que tenha tido
contacto com alguém que conheça a verdade. É bem ver­
dade que o pecador aparentemente parece prosperar
durante certo tempo, e instituições maléficas parecem
dominar o mundo humano. E por quê? Porque não há com­
preensão dêste princípio. Mas deixe que alguém tente
maquinações maléficas contra uma pessoa de mente pura,

159
e cedo observareis que não só seu poder do mal é destruí­
do, mas que se êle não emendar seus caminhos, destruir-
se-á a si mesmo, ao final. O mal sempre anda às soltas
até o momento em que se choca contra o puro de coração.
Êste ponto está bem ilustrado no caso de um hipno­
tizador que estava tentando divertir os membros de uma
família de metafísicos hipnotizando-os e que constatou que
não só podia hipnotizar nenhuma das pessoas do grupo,
mas que, numa tentativa final de exibir os seus poderes,
êle decidiu hipnotizar a sua própria esposa com quem sem­
pre tinha sido bem sucedido até então, verificou que não
conseguia hipnotizá-la. Tinha êle encontrado no seu ca­
minho os puros de coração - aqueles que conscientemente
se haviam apercebido de que só havia uma mente e um
poder atuando naquela sala. Isso anulou a crença de que
uma pessoa possuía uma mente que ela podia usar para
dominar outra pessoa. Enquanto todos os que estavam na
sala acreditavam que havia duas mentes, o grupo podia ser
hipnotizado; mas quando surgiu uma pessoa que tinha uma
convicção suficientemente forte de que havia só uma mente
na sala, uma mente que não podia destruir-se a si mesma,
o hipnotizador já não podia mais atuar com sucesso.
E assim será na sua existência individual, e na minha,
quando nos tornamos puros de coração, isto é, no momento
em que chegamos à convicção de que Deus é a mente de
cada um de nós, e que nenhum de nós possui qualidades
ou atividades separadas, ou à parte da atividade daquela
uma e única mente, e que nenhuma outra mente está ope­
rando, e nenhuma outra mente pode operar. Sòmente as
qualidades e atividades que emanam da única mente estão
se manifestando, e essas são qualidades de inteligência,
qualidades de amor e vida, qualidades do puro ser. Se sur­
ge, então, alguém em nossa experiência, que se proponha
a nos prejudicar, ou hipnotizar, suas tentativas serão anu­
ladas, e êle não terá nenhum poder sôbre nós.
Tratemos, individualmente, de nos tomarmos puros
de mente, isto é, chegar à compreensão, à realização, de
Deus como mente, vida e Alma individual. Só então as
qualidades de Deus podem fluir para fora de nós, e en­
volver o mundo. Contemplemos o Cristo sentado entre os

160
olhoa de cada indivíduo; contemplemos som ente o Cristo
como a substância e a lei de cada condição; e não haverá,
então, nenhum dualismo em nossa consciência, e nenhum
dualismo pode voltar-se contra nós.
Por meio dessa realização, fazemos de nós mesmos
uma avenida para o fluxo, o escoamento, do bem; e faze­
mos mais do que isso: pela realização da universalidade
dessa Verdade, nós nos precavemos contra a aproximação
de qualquer mal. Em outras palavras, nós anulamos, invali­
damos, a atividade do mal no indivíduo, como fêz Jesus em
Pilatos: «Tu não terias nenhum poder contra mim, exceto
se te fôsse dado de cima» (João 19:11).
Você verificará, que se você, diligentemente, se ocupa
com esta idéia, já não mais se deparará com «o homem que
respira pelas narinas» em coisa alguma. Isso não quer di­
zer que, se você necessita de auxílio, não o peça de um
praticista. Certamente que poderá fazê-lo, mas na reali­
dade você já não estaria esperando auxílio de uma pessoa,
muito embora o esperasse através dêle, como atividade do
amor divino.

NENHUM PODER SEPARADO DE DEUS PODE


ATUAR SÕBRE TI - (página 157)
Seja o que fôr que lhe aconteça no mundo externo,
você reconhecerá e concordará que: «som ente a atividade
da sabedoria divina é poder». Você não pode falar sôbre a
plenitude de Deus, e a plenitude do Poder de Deus, e em
seguida perguntar; «Será que eu vou conseguir esta cura;
que poder estará atuando nesta situação, além do poder
de Deus?; que será que está me detendo». Está vendo a
impossibilidade de uma atitude dessas, depois de captar,
ou perceber conscientemente, a verdade da plenitude de
Deus? Uma mudança, seja como fôr, terá que ocorrer no
seu pensamento e nas suas ações no momento em que
você se convence que não existe poder separado de Deus,
e que o homem não tem poder sôbre você.
Você não pode lançar a culpa nas estréias, e afirmar
que elas têm poder sôbre você, porque Deus fêz as estréias
è os planêtas, portanto elas também têm que sèr avenidas

161
através das quais o bem opera na sua experiência. De nada
adianta atribuir os seus problemas à data do seu nasci­
mento, ao seu horóscopo, ou às linhas da palma de sua
mão. Deus fêz as linhas das palmas de sua mão, e elas
têm que ser avenidas para a expressão do bem. Deus fêz
tudo o que foi feito.
Pouco a pouco, passo a passo, você começa a subtrair
poder do homem, primeiramente, desenvolvendo a sua
habilidade de ver que o homem nada lhe pode dar e nada
lhe pode tirar ou reter. Você se torna receptivo e responsi-
vo unicamente ao govêrno-de-Deus. Só a Mente Una é a
lei do seu ser. Por que, então, lançar a responsabilidade de
suas dificuldades seja sôbre quem fôr? De que adianta
culpar seja quem fôr por ter lhe dado demais, ou por não
lhe ter dado o suficiente, quando a verdade real é que Deus
é a lei do seu ser e Deus é a vida e o amor do seu ser?
Se você estava dependendo de outrem, a culpa é tôda sua.
Você colocou sua fé em «príncipes», por que, então, culpar
a outros, por terem lhe enganado, quando, antes de mais
nada, nem lhe cabia o direito de fazê-lo? Deus, ünicamen-
mente, deveria ser Aquêle em que você deveria ter deposi­
tado sua confiança e sua dependência.
A segunda coisa que passa a ter lugar em sua expe­
riência, é que você começa a eliminar poder de coisas, cir­
cunstâncias, e condições. Coisa alguma externa tem poder
sôbre você ou sôbre os seus assuntos. Por exemplo, se
você estiver guiando um automóvel numa faixa, deveria
compreender que a vida que é Deus, não está à mercê da
estupidez, do desleixo ou da indiferença - nenhuma des­
sas coisas é poder. Admitido, que no nível de consciência
humano existe tal coisa como estupidez; admitido que
existe tal coisa como desleixo, ou descuido, ou motoristas
embriagados - mas mesmo que essas coisas existam, são
elas poder? Podem elas exercer poder sôbre a vida que é
Deus - e existe, por acaso, outra vida qualquer? Podem
elas ter poder sôbre a mente ou o corpo de Deus? Existe
outra mente ou corpo que não seja Deus? Possui qualquer
pessoa outra mente que não seja a de Deus? São essas
qualidades humanas de descaso, ou desleixo, que parecem
estar operando através dela, poder?

162
Êsse princípio você poderá aplicá-lo a qualquer forma
de vida - cobras, tubarões, insetos venenosos. Você pode
aplicá-lo a qualquer coisa que existe no mundo - infecção,
contágio, germes - faça a si mesmo esta pergunta: «Se
Déus fêz tudo o que foi feito, são essas coisas expressões,
ou avenida, de seja o que fôr que não seja Deus?»
Se entretiveste um sentimento maléfico relativo a
alguma pessoa ou condição, neste momento de dedicação,
purifique-se a si mesmo de tais crenças. Em todo êste mun­
do não existe uma só pessoa ou condição maléfica que
tenha dentro de si qualquer poder do mal. Seja qual fôr a
sua natureza, por mais venenosa e m ortífera que sua apa­
rência possa ser neste momento, você removerá o seu agui­
lhão, a sua aparente natureza destrutiva, se puder contem­
plar a pessoa ou condição com esta convicção:
Não tendes podêres maléficos, porque eles não existem .
Rotulei-vos mal, e o mundo rotulou-vos erradamente,
quando afirmou que sois m aléficos, perigosos ou des­
truidores. Sei que isto não é verdade, porque sei que
em todo o universo não existe pessoa, ou coisa, ou
condição que tenha, em si, qualquer qualidade maléfi­
ca, qualquer poder maléfico, ou outro poder qualquer
de destruição. Só existe Deus.
Se eu caminhar «Pelo Vale das Sombras e da M orte,
nada tem erei, de nenhum mal me atemorizarei» (sal­
mos 23:tf), porque não existe o mal nessa situa­
ção. Embora pareça estar eu tomado pela doença,
não mais a tem erei, porque ela não contém, em si,
elemento de destruição, nenhum elem ento de dor. Ê
em si e de si nada, uma vez que todo o poder está em
Deus.
Não julgarei pelas aparências, mas refrearei todo
e qualquer julgamento, tanto quanto ao bem como
quanto ao mal, e permanecerei firm e na realização
de que Deus, unicamente, é bom, é o bem. Mesmo aqui­
lo que tem sido o objeto do meu ódio, não é o mal;
mesmo aquilo que me tem surpreendido do porquê e
como se podería ter intrometido na minha morada, eu

163
agora sei que não é um mal - não tem qualidades do
mal, e êle ou ela, não têm atributos do mal.
Nada é bom, nada é mau: tudo o que é, o que exis­
te, é de Deus, e, portanto é espiritual — está acima
de qualidade e quantidade. No plano divino, na
esfera de Deus, não há nem qualidade nem quantida­
d e: há som ente o infinito, o eterno, a imortalidade -
um estado de «ser» divino que não tem opostos, nem
o bem nem o mal, mas som ente o puro ser espi­
ritual.
A plenitude de Deus, a bondade de Deus e o poder de
Deus, bem como a lei de Deus, me permeiam a mim,
a êste universo, a todo o ser vivo, e a tôdas as con­
dições.
Os milagres da Graça virão para dentro de sua ex­
periência na proporção em que você retirar todos os rótu­
los do mundo dos homens e das mulheres, de condições,
coisas e de circunstâncias, e não mais fizer uso da lingua­
gem das comparações, mas reconhecer Deus como o
Princípio Creativo de tudo, e, por conseguinte, tudo é espi-
ritual.

164
LIBERDADE ESPIRITUAL
CARTA MENSAL de julho de 1959

No cenário humano, a maioria das pessoas se preocupa


em primeiro lugar consigo mesmas, e, depois de cuidar de
si mesmas, com sua família, e depois de sua fam ília com
seus negócios, ou profissão; porém, à medida que elevam
sua consciência espiritual, (seu-estado-consciente-da Rea­
lidade espiritual - N. do T.) também os problemas de sua
comunidade, e os de sua nação tornam-se importantes pa­
ra elas, e quanto mais se elevam espiritualmente, mais
aguçado se torna o seu interesse, e mais se apercebem dos
problemas do mundo. É duvidoso que alguém possa atin­
gir um nível muito elevado de consciência espiritual sem
que isso o torne mais consciente dos problemas do mundo,
pelo menos muito mais do que antes de atingir tal estado
de consciência.
No que reside a verdade que necessàriamente envolve
tal afirm ação? A resposta pode ser encontrada naquela
única palavra «liberdade». Acima de tudo, a pessoa espi-
ritualmente iluminada, entende o significado real da liber­
dade, e, porque êle mesmo a experimentou, ela anseia para
compartilhar essa mesma liberdade com o mundo inteiro.
Fêz ela a descoberta que, na realidade, o único problema
que o mundo enfrenta é «falta de liberdade». A raça hu­
mana nunca foi, e não é, livre. Está escravizada - fisica­
mente, politicamente e economicamente - em primeiro
lugar por si mesma, dentro de si mesma, e no seu próprio
corpo. E ainda mais, está acorrentada pelos hábitos físi­
cos e pelas teorias e crenças políticas e econômicas de
gerações. Por exemplo, contemple você mesmo, a exten­

165
são da escravidão de tôda a raça ao dinheiro. Só o místico
é que está livre 4a crença limitada de que notas de dóla­
res, de libras esterlinas, ou alguma outra form a de moeda
controla o destino das criaturas.
Quanto mais elevada fôr a consciência espiritual que
você alcança, mais compenetradamente perceptivo você
ficará das muitas e muitas formas de escravidão que pren­
dem os homens e as mulheres a uma vida de insatisfação e
de frustração, e, simultâneamente, mais forte será o impul­
so que você passa a sentir, de dentro, de querer vê-los
libertados. Essa é a razão por que algumas pessoas, nos
seus primeiros estágios de crescimento espiritual, se tor­
nam fanáticas, cheias daquele ímpeto que manifestou
Paulo. Querem sair pelo mundo afora a libertar todos os
homens, como queria Paulo, e muitas vêzes terminam com
seus corpos alquebrados, e suas mentes debilitadas, porque
o mundo resiste a tudo e a todos que tentam trazer-lhe
alguma medida de liberdade. O mundo geralmente agracia
com honras e grandes riquezas àqueles que o escravizam,
mas irônicamente resiste aos que desejam vê-lo livre.
Quanto mais você avança e quanto mais progride no
seu desenvolvimento espiritual, mais claramente se desven­
da ante seus olhos o quadro de quanto os homens estão
mentalmente e fisicamente escravizados. Descortina-se a
vastidão panorâmica da tragédia; mas, ao mesmo tempo,
como você também conhece o remédio, nasce dentro de
você o desejo de ajudá-los a conseguir e manter sua liber­
dade. Em última instância, a sabedoria revelará caminhos
que despertarão os homens e as mulheres de sua letargia
e inércia e nêles despertará sua responsabilidade como
cidadãos, dando-lhes ao menos uma parcela de liberdade.

CONSEGUIR LIBERDADE PELA


NÂO-RESISTÊNCIA
O caminho é estreito e apertado e serão poucos os
que o encontram, e muitos dêsses poucos que o encontram,
perdem-no. Sua liberdade individual - e por liberdade não
quero significar liberdade de algo, ou de que quer que
seja, mas uma liberdade na graça - chegará para você na

166
porporção em que você tenha desenvolvido sua consciência
da verdade que lhe possibilitará a enfrentar qualquer êrro
especifico, e não combatê-lo, mas, sim, afastar-se dêle, na
realização de que o agente curador, redentor e libertador,
é o Cristo realizado, ou Deus realizado.
No seu esfôrço para atingir o alvo da liberdade, você
descobrirá que o momento mais difícil de todos, será quan­
do você tentar resolver seus próprios problemas de saúde,
de suprimento, ou os de sua família, de sua comunidade, e
nação, e dissolvê-los no «nada», e verificar, então, que ao
em vez de obter sucesso você está combatendo exatamente
os problemas que intelectualmente você reconheceu como
«nada». O fato é que para resolver (dissolver) êsses pro­
blemas no NADA que êles são, é necessário atingir o lugar
em que você sabe que a batalha não é sua, e que portanto
não há necessidade de você continuar resistindo a êsses
problemas. É a incapacidade de abster-se de manipular seu
problema como «algo» que constitui a verdadeira dificulda­
de.
Quando você tiver que lidar com um problema de
qualquer natureza, será um grande auxílio se o seu pri­
meiro pensamento se fixar em uma das muitas promessas
bíblicas: «Onde o Espírito do Senhor habita, há liberdade»
(II Cor. 3:17), ou «Na Tua presença há plenitude de ale­
gria» (Salmos 16:11). Isso instantâneamente o livrará de
tentar lutar com o problema porque imediatamente o tor­
nará consciente de que o motivo, a finalidade do seu tra­
balho, não consiste em vencer o problema, mas sim alcan­
çar a Consciência-de-Deus (estar consciente, ter consciên­
cia, sentir, perceber a Presença - N. do T .).
Os ensinamentos da ciência mental, psicologia e psi­
quiatria divergem dessa modalidade, visto se dedicarem à
solução de problemas específicos, do ponto de vista hu­
mano, sendo que seu alvo consiste em mudar condições
humanas más em condições humanas boas. O Caminho do
Infinito opera num nível inteiramente diferente, digo, nível-
de-consciência diferente, no qual nós não combatemos, ou
superamos problemas, nem fazemos tentativas de suplan­
tar males humanos com o bem humano, mas nos firmamos

167
na revelação do Mestre, que «Meu Reino não é dêste munT
do» (João 18:36).
O Caminho do Infinito é baseado, fundamentado, na
revelação dêsse Reino espiritual, um universo dirigido-por-
Deus, no qual o homem não vive pela fôrça física ou pelo
poder mental, mas pelo Meu Espírito. Vive pela Palavra
de Deus, que é veloz, aguda, e poderosa - não pelos pensa­
mentos do homem. O Caminho do Infinito está fundamen­
tado não no poder-de-Deus, um poder que é a própria alma
do homem, mas que se serve da mente como um instrumen­
to. Quando você luta com um problema, você o está com­
batendo com sua m ente; e por conseguinte, está fazendo
da mente um poder, em ves de usá-la como um instrumento.
Se você permitir que sua mente seja um instrumento
de sua alma, então, quando um problema se apresenta,
em vez de combatê-lo, ou trabalhar contra êle, você lem-
brar-se-á, antes de mais nada, que onde o Espírito do Se­
nhor está, há liberdade. Nessa certeza, você sentir-se-á
capaz de. abandonar o problema, constatando por essa for­
ma sua receptividade e conformidade à palavra de Deus,
Sua mente, então, se torna - um instrumento através do
qual você pode ouvir a voz silenciosa e sutil - ou pelo
menos ficar em atividade de auscultação - e sua atitude
será de receptividade, uma aceitação, um reconhecimento
de que o único problema que você tem pela frente é alcan­
çar um sentido (experienciar) da Presença de Deus.
Você poderá permitir que se manifeste em seu pen­
samento qualquer das verdades especificas que você co­
nhece (afirm ações), tendo sempre presente que você não
está tentando curar, ou enriquecer, a quem quer que seja,
nem resolver os seus problemas humanos, mas, sim, re­
ceber a Graça de Deus. Meditará, sim, mas unicamente
para deixar que Deus fale, pois quando Sua voz se mani­
festa, a terra se derrete. Portanto - e aí é que está a
dificuldade - pare de lutar contra o problema; pare de
aplicar fôrça física; pare de usar poder mental; e aprenda
a relaxar.
Isso é algo assim como a gente transformar-se num
vácuo, num «vazio», exceto que interiormente você está
mais acordado e mais alerta do que jamais estêve antes.

168
Nessa quietude e nesse silêncio, nessa ausência de tudo o
que você aceitava como poder, o Cristo pode vir até você.
As vêzes vem muito suavemente e mansamente, e outras
vêzes vem como um trovão, surpreendendo-o. Mas quando
file fala, os problemas - pessoal, da comunidade, nacional,
ou internacional - são resolvidos; e a libertação física,
mental, moral, ou financeira, é alcançada - não pela fôrça,
não pelo poder, mas pela Graça de Deus.
A finalidade a ser buscada é a Graça espiritual. A
maneira de alcançá-la é a não-resistência interior, isto é,
nenhuma resistência mental. Procure conscienciar que on­
de o Espírito de Deus está, há liberdade; em Sua Presença
há plenitude de vida; Sua Graça é sua suficiência. Tal
realização, compreensão, o capacita a «desprender-se» da
luta; liberta sua mente do carrossel (círculo vicioso), ainda
que seja só durante dois ou três segundos, de form a que
você poderá devotar-se à consecução da realização (da
percepção consciente) da Presença de Deus, do Espírito do
Senhor; e quando isso ocorre, inundando-o com aquela
graça interior, ou sensação de libertação você verificará
que de uma maneira perfeitamente natural, normal, o pro­
blema externo está resolvido, ou solucionado.
A form a para a solução de um problema, ou a solução
pròpriamente dita, ocorre quando seu pensamento não está
prêso a êle, ou a ela. A solução de um problema não se
manifesta sempre de uma mesma maneira: às vêzes o
problema se dissolve sem deixar um traço sequer, e você
não se dá conta quando isso ocorre, nem porque, nem com o;
outras vêzes você recebe uma resposta específica sôbre o
que deve ser feito, ou o que não deve ser feito, e quando.
A graça de Deus é revelada e manifestada quando o
seu ego humano (sua egoidade - seu sentido pessoal do
«eu») tiver sido silenciado. Daí em diante você não está
mais interessado com problemas, ou com um problema, seja
qual fôr, de natureza pessoal: Você está preocupado com
um só problema, e êste problema consiste no fato de que
o mundo vive em um sentido de separação de Deus, e por­
que Deus não está operando na sua experiência, êle está
prêso, acorrentado, à escravidão. Sua única função é de

169
ser instrumento através do qual a voz de Deus possa falar,
como falou através de Moisés no Monte Sinai.

A ATIVIDADE AMPLIADA DO CAMINHO DO


INFINITO
A presença e o poder de Deus não podem vir através
de uma figura numa nuvem. A presença e o poder de Deus
chegam à terra através da consciência, através da cons­
ciência individual (ser consciente, ter consciência, cons­
cientizar a Presença). N. do T. Há sempre um Moisés,
um Elias, ou Isaías, um Jesus ou João porque a atividade
de Deus não pode estar separada da consciência indivi­
dual. É inútil esperar que Deus venha à consciência coletiva
do mundo ou esperar que o poder do Cristo desça sôbre o
mundo. Êle não virá desta forma. Êle nunca vem separado
ou desligado da consciência: Êle sempre se manifesta
através da consciência individual. Se viesse a cada pessoa
que lê esta carta mensal, e mesmo que todos pudessem es­
tar reunidos nesta sala, ainda assim Êle teria que Se
manifestar a cada um individualmente.
Já presenciei muitas e muitas vêzes, que o Cristo vem
a um, três, cinco, ou seis. Durante uma das aulas, o Cristo
tornou-se manifesto com tanta evidência, que numa sala
onde havia 400 pessoas, 200 testemunharam a experiência,
e milagres de cura tiveram lugar. Os outros 200 estavam
completamente inconscientes de que estivesse ocorrendo
qualquer acontecimento de natureza incomum. Nunca che­
garam a saber que algo havia ocorrido, e, naturalmente,
não experimentaram nenhuma cura, ficando somente sur­
presos quando parei de falar.
A grande maioria dos que vêm ao Caminho do Infinito,
o fazem para solucionar os seus problemas individuais,
mas se estiverem realmente interessados neste trabalho, se
Constituirão numa parcela daqueles poucos que se entre­
garam a uma atividade maior no trato dos problemas do
mundo. Não deveriamos esquecer jamais que estamos em­
penhados numa atividade que se preocupa com problemas
maiores do que a nossa saúde e nosso suprimento indivi-

170
áual, e êste aspecto mais ampliado é a fase seguinte do
trabalho do Caminho do Infinito.
Se você fizer um retrospecto da experiência religiosa
do mundo, observará que apesar de tôda a luz que veio a
nós através de almas iluminadas no decorrer dos séculos, o
mundo encontra-se ainda em escuridão espiritual. Do que
se pode deduzir que nenhuma quantidade de luz oriunda de
um indivíduo, seja quem fôr, é suficiente para elevar o
mundo, por mais luminosa que seja.
A luz deverá vir através de um número maior de in­
divíduos, não só muito maior, mas muitos ao mesmo tem­
po, até que, finalmente, permeie tôdas as consciências
individuais e se torne uma consciência coletiva. Já passou
o tempo quando um só indivíduo por mais iluminado que
seja, ou que venha a ser, possa ser considerado como algo
mais do que um guia apontando o caminho em direção ao
què cada indivíduo possa, ou tenha, que alcançar. Vosso
alvo, e o meu, é a conquista da maior luz que sejamos ca­
pazes de alcançar, e, após, aceitar a responsabilidade de
ensiná-la e torná-la acessível aos outros, a fim de que êstes,
por sua vez, possam ficar inspirados a buscar ou tornarem-
se aquela mesma luz. Não há outra maneira de a liberdade
espiritual se manifestar no mundo.
Se pelo nosso exemplo, e pelas nossas obras, pudésse­
mos superar tôdas as doenças e todos os pecados em qual­
quer determinada cidade hoje, amanhã haveria de ter uma
nova leva de pessoas doentes e de pecadores. Se pudésse­
mos caminhar pelos hospitais, hoje, e curar cada pessoa, e
se pudéssemos entrar em tôdas as prisões e libertar cada
prisioneiro, amanhã essas mesmas prisões e hospitais esta­
riam cheios de outras pessoas. Não importa a altura que
venhamos a alcançar, individualmente, somos nada mais
do que uma parte infinitesimal de uma história com um
final triste, a não ser que pela nossa vida outros fiquem
iluminados.
Isso soa como uma tarefa muito difícil - e, de fato, é.
Parece-nos que as coisas surpreendentes que temos teste­
munhado neste trabalho, durante tantos anos, deveríam
estar despertando o mundo. Mas o mundo continua ador­
mecido - com exceção de um aqui, ou outro ali e mais

171
outro lá. E assim é que nossa função não é simplesmente
receber esta luz, e produzir algumas curas, mas viver de
tal form a que nossas vidas inspirem outros a «irem fazer
o mesmo».
À medida que o Espírito do Senhor, o Cristo, encontra
uma saída através de vossa consciência, Êle toca as vidas
de todos aquêles que se cruzam convosco nos caminhos de
vossa existência.

172
NiO DEVERÍS CRIAR ÍDOLOS
CARTA-MENSAL de março de 1965

Prezado Am igo:
As discórdias «dêste mundo» nos afetam porque não
estamos conscientemente em contato com a Fonte do Bem
infinito. Temos vivido sempre apoiados em conhecimentos
obtidos através da mente, os quais se limitam ao que ve­
mos, ouvimos e lemos. Estamos limitados à nossa própria
fôrça, à nossa própria inteligência. E, neste estado de
separação, aceitamos a crença dominante, de que a auto-
preservação seja a primeira lei da natureza, o que no ver­
náculo atual se traduz nestas palavras: «Ataca antes que
te ataquem!»
Para que Deus possa atuar cònstantemente em tua
experiência e evitar que as desgraças terrenas (guerras,
fome, pobreza, tirania e injustiças) te atinjam, terás que
tomar contato com o Pai, internamente no centro de reali­
zação. Já descobriste que pouco ou nada fizeram por ti
tôdas as palavras e pensamentos que tens usado. Talvez
tenhas andado a repetir, cheio de esperanças: «Sou rico,
sou rico, sou rico» (e continuando p obre); «sou sadio, sou
sadio, sou sadio» (e continuando enfêrm o); «sou espiritual,
sou espiritual, sou espiritual» (e continuando carnal). A
ineficiência dessas afirmações se deve ao fato de que ne­
nhuma delas é a Verdade. São verdades acêrca da Ver­
dade.

PALAVRAS E PENSAMENTOS NÃO SÃO DEUS


Repetir afirmações, ou pensar sôbre Deus, não basta
para nos proporcionar a experiência do contato com Deus.

173
Pode-se pensar em música a vida inteira e não saber dis­
tinguir uma simples nota. O pensar em música não basta
para fazer o musicista. Para isso é preciso desenvolver de
algum modo a consciência ou senso musical.
Assim também as palavras que pronuncies e os teus
pensamentos acêrca de Deus poderão permanecer como
exercício puramente mental, não se concretizando em tua
vida diária enquanto não houveres sentido a presença do
Pai interiormente, enquanto não tiveres alcançado dentro
de ti mesmo a segurança de Sua paz, de Sua graça. Quando
sentires essa segurança, ser-te-á tão sagrada que não fala­
rás dela. Compartilha-la-ás só com aquêles que desejem
conhecer a Deus corretamente.
Procura freqüentemente entrar em comunhão interna
com o Pai, e um dia Sua Luz descerá sôbre ti para ficar.
Poderá não ser no primeiro dia, poderá não ser no primeiro
mês, poderá não ser no primeiro ano de busca. E desde
então, onde quer que estejas, se te voltares para dentro,
ali o encontrarás.
Levei muitos e muitos anos para chegar a sentir essa
Presença interna. Quem poderá saber quanto tempo leva­
rás para passar da especulação acêrca de Deus ao conhe­
cimento direto de Sua presença? Cada um de nós tem o
molde de consciência que lhe é peculiar.
Houve pessoas que passaram a vida inteira a pensar
em Deus, que viveram sempre com a Bíblia na mão e,
entretanto, sempre estiveram astronômicamente afastadas
de Deus. O que tinham em mente não passava de palavras,
e estas não são e nunca serão Deus.
Nenhum conceito, inclusive o têrmo «Deus» e o têrmo
«Cristo», jamais se converterá n’Aquilo que Deus é. Posso
afirmar que Deus não é uma palavra. O conhecimento de
Deus, ou de Cristo, é uma experiência,
Podes sentir a presença de Deus, ou o Cristo, mas
nunca O conhecerás intelectualmente. E como Deus não
pode ser conhecido por meio da mente, para conhecê-Lo
precisas cessar de pensar acêrca d’Êle. O pensar te pro­
porcionará o conhecimento de Deus.
Se, como pode acontecer, surgisse em tua mente algu­
ma figura parecida com a que julgues ser a de Jesus, isso

174
nfto seria o Cristo. Seria uma imagem mental, mas, a me­
nos que fôsse suscitada por uma emoção superior, não
indicaria que estivesses passando por uma experiência
crística. Há, sem dúvida, muitas pessoas que suscitam qua­
dros pictóricos emocionalmente. Na Europa existem pes­
soas que apresentam no corpo os estigmas da crucificação
do Mestre, e essas têm sido, erroneamente, consideradas
como místicas. Em muitos casos trata-se de pessoas neu-
rótico-emotivas que vivem com a mente fixa no quadro da
Paixão, o qual, eventualmente, se exterioriza. Poderías
fazer a mesma coisa, se te sujeitasses a permanecer por
determinado número de anos num estado emocional pro­
vocado pela fixação mental do quadro da Paixão.
Poderás exteriorizar em teu corpo o que quiseres, bas­
tando determinar-te a viver sentindo-o internamente du­
rante o tempo que fô r preciso. Poderás manifestar um
estado de absoluta pureza, em que nenhuma sugestão im­
pura jamais entre em tua mente ou em teu corpo, se
empregares o tempo suficiente para consegui-lo. Por outro
lado, se quiseres encher a mente de pensamentos sensuais,
poderás tornar teu corpo tão lascivo que será um pecado
deixá-lo sôlto pela rua. Tudo o que puseres a vibrar em
tua mente, em qualquer grau de intensidade, manifestar-
se-á em teu corpo, porque a mente e o corpo são unos.
Às vêzes surgem incompreensões sôbre a função da
mente, por se terem feito coisas maravilhosas com a fôrça
do pensamento. No mundo tridimensional, a mente não é
apenas uma grande fôrça, mas é provàvelmente mais pode­
rosa que tôdas as fôrças materiais reunidas.
A mente pode ser usada para nos ajudar, e a outros,
construtivamente, como também pode ser empregada para
destruir todo o mundo, destruindo-se a si mesma junto com
êle.
A fôrça da mente humana pertence ao nível tridimen­
sional. Se restringires a alimentar persistentemente pen­
samentos de natureza correta, amável e caritativa, farás
certo progresso no sentido de melhorar teu caráter. Por
outro lado, se ocupares a mente só com pensamentos obs­
cenos, destrutivos e carnais, sem dúvida dentro de poucos

175
meses tenderás a te converter em algo dessa natureza, que
começará a transparecer em tua fisionomia.
Na vida tridimensional, que é mente e matéria, a
mente é um instrumento que pode ser usado tanto para
o bem como para o mal, por meio de bons ou maus pensa­
mentos, construtivos ou destrutivos. Quando empregada
para o bem, o é impessoalmente, e nunca em benefício de
determinada pessoa em detrimento de outras.

NA QUARTA DIMENSÃO, A MENTE E O CORPO


SE CONVERTEM EM INSTRUMENTOS DO
ESPIRITO
Uma vez tocado o centro de nosso ser, o Espírito é
liberado, e então, em Sua presença, mente e corpo já não
podem mais funcionar de maneira prejudicial à vida de
ninguém. Matéria e mente tornam-se servos ou instrumen­
tos sempre construtivos. O corpo passa a ser governado
pelo Espírito. E a mente, cuja função natural é o pensar,
passa a ser empregada pelo Espírito, o pensador cujos
pensamentos são espirituais e eternos.
A mente, o pensamento e o corpo, se convertem em
instrumentos do Espírito, e assim passas a constituir uma
bênção para o mundo: teus pensamentos e teu corpo serão
uma bênção para todos os que entrarem no teu campo de
ação, porque neste, tudo estará sendo governado pelo Es­
pírito, que foi tocado, conscientemente realizado e liberado,
na meditação.
Sem esta experiência, na meditação, estarás vivendo
de palavras e pensamentos, e não do poder real da Graça.
Sòmente quando experimentamos a verdadeira liberação
do Espírito, que vem pela meditação', é que deixa de ser
para nós mera citação bíblica, tornando-se uma vivência
efetiva, aquilo que Paulo expressou nestas palavras: «Já
não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim».1
A RELIGIÃO É UMA EXPERIÊNCIA
Quantas vêzes terás ouvido estas palavras: «A minha
graça te basta?» Sim, ela está sempre presente em tôdas
1 - G1 2:20.

176
as circunstâncias, e é suficiente para prover a tôda ne­
cessidade de cada momento. Todavia, se observares o que
se passa no mundo, acharás que esta afirmação é absolu­
tamente falsa. Vendo tôdas as pessoas doentes, pecadoras,
agonizantes, encarceradas ou em qualquer outra situação
infeliz, o teu primeiro pensamento será de que tal afir­
mação é uma mentira. Entretanto, ela não quer dizer que
sòmente palavras possam atender às tuas necessidades. A
graça de Deus é que constitui o teu suprimento, e não as
palavras. As palavras são apenas para te informar que se
alcançares a Sua graça, nela encontrarás o suprimento.
Por que muitos não acreditam na Bíblia? Porque le­
ram suas maravilhosas promessas e se vêem forçados a
admitir que não há provas de que se tenham cumprido no
cenário da vida humana. Centenas de pessoas lêem que
«Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente
nas tribulações»,2 mas quando se acham em apuros Deus
não está presente para socorrê-las, e por isto são tentadas
a pensar que a Bíblia mente. Não, a Bíblia não mente. O
mal está em que tais pessoas se apóiam numa passagem
bíblica sôbre Deus, e não em Deus. Pensam que basta de­
corar e recitar o versículo que diz: «Nenhum mal te su­
cederá, praga nenhuma chegará à tua tenda»,3 para que no
dia seguinte já possam gozar dessa proteção. Daí concluí­
rem que a Bíblia esteja completamente errada. Esquecem-
se de ler a primeira parte, que diz: «O que habita no
esconderijo do Altíssim o. . . »4 E por isso não entendem
que os únicos que estão livres dos males dêste mundo são
aqueles que habitam no esconderijo do Altíssimo.
Centenas de pessoas saem diàriamente para o serviço
de comunhão. Bebem vinho, comem um pedacinho de pão
e pensam que comungaram com o Cristo. Talvez o façam
mentalmente, em suá imaginação. Mas a verdadeira comu­
nhão é uma experiência real, algo que acontece quando a
pessoa se encontra face a face com o Cristo. Quando o
Cristo fala, ou Se comunica com alguém, de qualquer ma­

2 - SI 46:1.
3 - SI 91:10.
4 - SI 91:1.

177
neira, isso é comunhão. O serviço de comunhão das igrejas
é um símbolo da verdadeira comunhão. Esta é tomada
como se fôsse a coisa real, mas não o pode ser, porque
ninguém pode recebê-la enquanto não encontrar o Cristo
internamente.
Temos sido induzidos a crer que a crucificação de
Jesus nos salva dos castigos correspondentes aos nossos
pecados. Se assim fôsse, ao nascer já estaríamos autoriza­
dos a gozar a vida pecando à vontade, impunemente, uma
vez que Jesus teria sido crucificado para isso. Isso é ver­
dade simbolicamente, porque quando Cristo ressuscita em
nós, do túmulo onde está sepultado, os nossos pecados são
perdoados, e daí por diante já não existem mais. Mas o
perdão do Cristo é sempre acompanhado destas palavras:
«Não peques mais, para que não te suceda coisa pior.»56E
nunca nos esquecemos completamente disso, porque nos é
dito em tom enérgico. Pode até causar-nos surprêsa, por­
que em geral se considera a Cristo um sér amável. Êle é
amável quando promete: «Os teus pecados te são perdoa­
dos»8, mas o que vem depois é uma admòestação para que
mudemos nossa conduta.
Tudo o que está na Bíblia é verdade, quando experi­
mentado. Poderás ter o Faraó pelas tuas costas e ó Mar
Vermelho pela frente e, não obstante, te saíres sem sequer
um arranhão, se tiveres a Experiência. Mas para isto não
basta ler, citar ou decorar a Bíblia.
Tudo pode acontecer neste mundo, porque é como um
ramo de árvore separado de seu tronco. Mas nada de mal
te poderá suceder após iniciares a experiência de entrega
de tua vida ao Espírito interno, porque então poderás,
guiado e protegido por Êle, cumprir o que te fôr exigido
no mundo externo. Poderá haver enfermeiros, médicos,
advogados, mecânicos, cientistas, ou professores, mas en­
quanto seu trabalho fôr feito sob a graça de Deus, será
harmonioso, bém sucedido, proveitoso, fecundo, e sempre
sobrará o suficiente para distribuir com aquêles que ainda
não despertaram para a Experiência espiritual.

5 - Jo 5 :1 4 .
6 - L c 7 :4 8 .

Í78
Tôda religião autêntica é Experiência espiritual. Ex­
perimentar Buda no Budismo, ou Cristo no Cristianismo,
é a mesma coisa. Significa elevar-se à quarta dimensão da
vida, ao Espirito de Deus, à Consciência-Deus, à presença
de Deus.

VOLTA-TE PARA AS PROFUNDEZAS


DE TEU SER
Talvez já tenhas conhecido enfermidades, privações,
dores, acidentes e desenganos. Por que não esperar tam­
bém as boas 'coisas da vida? Por que não esperar a eli­
minação dêsses males e as manifestações do Bem? A des­
peito de tudo o que tenhas sofrido, a verdade acêrca de
teu ser é a sua identidade com a Fonte de todo o bem,
ainda que não tenhq^ tido contato consciente com essa
Fonte, ainda que não tenhas consciência disso e nem a
confirmação interna dessa verdade.
Agora, entretanto, se fôr realmente verdade que tu e
o Pai sois um, e que o reino de Deus está dentro de ti, e se
estabeleceres contato com êste reino, e receberes confir­
mação de dentro de ti mesmo: algo que te permita sentir a
realidade espiritual indicada com estas palavras bíblicas:
«Meu filho, tu sempre estás com igo»7, ou: «Êste é o meu
Filho amado, em quem me comprazo»8 ou: «A minha graça
te basta»,9 então possuirás todo o segrêdo da vida mística,
e poderás provar que êste Cristo, ou Espírito de Deus, vive
dentro de ti.
Com a segurança da divina Presença dentro de ti, não
precisarás de nada nem de ninguém .neste mundo. Com
esta realização interna, poderás entrar na jaula de um leão
fam into; poderás viajar pelo mundo sem dinheiro e sem
documentos. Com esta segurança de Emanuel, que dife­
rença fará se tiveres o Faraó nas tuas pegadas e o Mar
Vermelho pela frente? De que mais necessitarias, andan­
do de mãos dadas com Déus, sentindo Sua presença, sa­
bendo que «Eu estou sempre contigo» ?
7 - Lc 15:31.
8 - Mt 3:17.
9 - 2 Co 12:9.

179
Esta segurança não é coisa que possas obter de livros,
ou em templos sagrados, em jejuns ou em celebrações re­
ligiosas. Não a conseguirás através de rituais ou sacra­
mentos. Não a conseguirás senão buscando-a no único
lugar onde pode ser encontrada: dentro de ti.
Nunca terás uma prova positiva de que o reino de
Deus está dentro de ti, nem conseguirás uma demonstra­
ção efetiva de unidade, se não meditares sozinho, voltan­
do-te para dentro de ti mesmo e sem proclamar ao mundo
quais sejam as tuas necessidades. Nesse período de iso­
lamento, poderás fazer tua a sabedoria de Jesus, a sabedo­
ria dos místicos ou dos ensinamentos de «O Caminho do
Infinito», porque só então é que provàvelmente estarás
constatando que tu e o Pai sois um. Agora, terás que acei­
tar e provar a verdade de que estás neste Caminho:
«Volto-me para dentro de mim mesmo. Não estou vol­
tado para o firmamento; não estou voltado para lugar
algum fora de meu próprio ser. Não estou à procura
de templos, mestres ou livros sagrados. Estou voltado
para dentro.
Aqui estou. A verdadeira Fonte, a verdadeira morada
de Deus é dentro de mim. Deus está no santuário in­
terno de meu próprio ser. Não estou preocupado com
a minha vida: com o que comerei ou beberei. Não ando
em busca de saúde, emprêgo ou oportunidades de
sucesso. Estou procurando o Teu reino, a Tua graça.
Na realidade, o que estou procurando é certificar-m e
de que «estás mais próximo de mim do que o ar que
respiro, mais perto do que mãos e pés», e que conhe­
ces as minhas necessidades, e que é do Teu agrado
dar-me o Reino.
Assim oro em segrêdo. Não dou a perceber que estou
orando. A ninguém dou a conhecer quais são as coi­
sas de que necessito. Não dependo do «homem cujo
fôlego está no seu nariz».10 Volto-me para dentro: se
êste ensinamento é verdadeiro, Deus está. aqui, e não
preciso sair de onde estou. Basta-me saber que estou

10 - Is 2:22.

180
buscando a Tua graça, para a realização da Tua pre­
sença.
Nesta meditação eü aceito a verdade de que o lugar
em que estou é terrá santa porque Deus está presente.
Aceito a Deus como Onipresença. Aceito a Deus como
Onisciência. Êle sabe do que necessito. Aceito a Deus
como Amor, que se compraz em dar-me Seu reino.»
Este Espírito, com o qual àgora tomaste contato e te
tornaste uno, é a Presença que anda adiante de ti: é
o teu pão, o teu vinho, o maná oculto, o manjar que ó
mundo não conhece.

O MILAGRE
O agente curativo é essa Presença, e não a mente.
Acaso podes compreender que, quando alguém me pede
ajuda, a primeira coisa que me sucede é a paralisação da
mente, que cessa de pensar? Não penso sôbre a Verdade.
Limito-me a escutar, e isto permite que a presença e poder
de Deus penetrem no paciente. Se nesse momento eu pro­
curasse pensar, mesmo que fôsse a Verdade, estaria ten­
tando transformar uma declaração acêrca da Verdade em
um poder. Nenhuma afirmação sôbre a Verdade é poder
de Deus. Sòmente Deus é Poder.
Se desejas a ajuda de Deus, aquieta-te; aquieta-te
para que Êle te possa ajudar. De contrário, estarás permi­
tindo que teu ego interfira e, o que é pior, estarás criando
ídolos. Que diferença haverá entre atribuir poder divino a
uma passagem bíblica ou pensamento e a uma imagem de
escultura? Tudo são imagens feitas pelo homem.
Só não é feito pelo homem aquilo que funciona atra­
vés dêle quando em silêncio. Com isso, êle nada tem a ver.
Assim, pois, quando me pedem auxílio, o pensamento pára
imediatamente, não importa o que eu esteja fazendo. E en­
tão, tudo o que flui através de mim é a influência da pre­
sença e poder de Deus. Algumas vêzes, sei o que é; outras,
vem como uma mensagem, ou por meio de palavras; mas
em 99% das vêzes eu não sei.
Muita vez os estudantes me escrevem dizendo: «Oh,
aconteceu-me isto. . . mas creio que já sabíeis de ante­

181
mão.» Mas, na verdade, eu não o sabia; não estava pen­
sando nêles, nem sôbre qual fôsse a mensagem que Deus
teria para êles. Tudo o que eu fazia era abstrair-me do
corpo, ausentar-me da mente e deixar que o Espirito desem­
penhasse a Sua função: era não tentar fazê-lo por Êle nem
com Ele, mas deixar que Êle o fizesse por Si mesmo. De
contrário, eu estaria criando imagens.
Qualquer palavra, qualquer pensamento acêrca de
Deus, que tiveres na mente, é uma imagem esculpida por
ti. Se quiseres estar ausente do corpo, inclusive do corpo
mental, terás que te abstrair das form as de pensamento, e
então, seja Deus o que fôr, acontecerá algo de um modo
que ao senso humano parecerá milagre. Mas não há mi­
lagre.
Ninguém compreende melhor que eu a verdade des­
tas palavras do Mestre: «Se eu desse testemunho de mim
mesmo, não seria verdadeiro o meu testemunho.»11 Êsse
poder não era dêle nem de ninguém, mas de Deus. Quanto
mais me abstenho de pensar e me torno receptivo, tanto
mais eficaz a fôrça curativa que flui de Sua presença atra­
vés de mim.

ENTREGA TUA MENTE A DEUS


Êste preceito só pode ser ensinado àqueles que com­
preendam que se trata da «pérola de grande valor»,12 para
cuja aquisição precisam sacrificar tudo. Os princípios des­
ta lei, conforme foram dados nas Escrituras e na litera­
tura de «O Caminho do Infinito», precisam ser ensinados
até criarem raízes profundas, de modo que quando aqui
ou ali se encontre um estudante suficientemente apto
para avançar, possa ser conduzido até ao ponto em que lhe
possas dizer, sem escandalizá-lo e sem lhe fazer pensar
que Deus seja um ser humano: «Pára de buscar Deus! Já
O encontraste: estás olhando para Êle.» Jesus não podia
dizer a qualquer um :«Quem me vê, vê Aquêle que me

11 - Jo 5:31.
12 - Mt 13:46.

182
enviou.»111 Teriam dito: «Essa não! Aquêlè rabino anda
dizendo por aí que é Deus!»
Tampouco poderás dizer a quem viveu tôda a sua
vida na mente, no intelecto: «Deus só estará presente
quando tudo isso fôr abandonado.» Mas aquêles, cujo
grau de desenvolvimento lhes permite ler esta Carta, sa­
bem que estou revelando o fruto de pràticamente quarenta
anos de busca espiritual. Tais estudantes estarão muito
mais interessados nos períodos diários de experimentação
de contato com Deus do que no conhecimento intelectual
acêrca de Deus e de «O Caminho do Infinito», submeten­
do-se gradativamente a Êle, ao mesmo tempo que se
apóiam no fundamento da letra da Verdade, ou seja, nos
princípios.
Neste Caminho, cada um está realmente buscando a
Deus para que governe seu corpo a fim de que seja sem­
pre sadio, forte, jovem e conserve as faculdades essenciais.
Devem admitir que essa é a sua esperança, o seu sonho;
mas receio que muito poucos se lembrem de que isso não
será possível enquanto não entreguem a mente ao Espírito.
Não poderão ter a mente sôlta numa direção e o corpo di­
rigido para outra, porque Deus atua através da mente for­
mada como corpo.
Recebe-se a influência de Deus quando a mente não
está condicionada, quando não tem pensamentos pessoais,
egoístas ou maus. E, ao recebê-la, sua harmonia se reflete
no corpo, porque a mente é a substância do corpo. Quan­
do a mente está repleta de Deus, o corpo está pleno dè
harmonia.
«Tu, Senhor, conservarás em perfeita paz aquêle cujo
propósito é firm e; porque êle confia em ti.»1
14 « . . . e
3
não te estribes no teu próprio entendimento. Reco­
nhece-o em tódos os teus caminhos, e êle endireitará
as tuas veredas.»15
Precisas aceitá-Lo em tua mente e em teu corpo. Se
quiseres que Êle te governe o corpo, lembra-te de que terá
13 - Jo 12:45.
14 - Is 26:3.
15 - Pr 3:5,6.
183
de ser através da mente. Quando entrares em meditação,
deverás estar disposto a receber Deus em tua mente. E
não creias que Êle atuará sôbre o teu corpo por outro meio
qüe não seja a tua mente. A não ser através desta, isso não
acontecerá.
Terás que te entregar a Deus em tudo o que fizeres,
pondo tuas aptidões a serviço d’Êle. Não poderás ter o Seu
govêrno sôbre uma parte de tua vida com exclusão do resto.
Certa ocasião fui chamado para tratar da saúde de
uma pessoa que então me disse: «Mas não me trates para
deixar o fumo, pois desejo continuar fumando.» Se de­
pendesse de mim dizer a Deus o que é que o paciente pre­
fere, eu o faria com muito prazer. Não sei se Êle o aten­
dería. Algumas vêzes Êle não me atende.
Entregar-se completamente a Deus não é anular-se
perante a vontade alheia, não é converter-se num autô­
mato, ou coisa semelhante. Entregar-se a Deus é subme­
ter-se à influência da pureza, da harmonia e da Graça sob
todos os aspectos da vida, sem pretender reservar uma
parte da vida para si mesmo. Esta restrição, na entrega,
é uma barreira para muitos. Desejam levar vida religiosa,
mas quando vão para o trabalho e acham que precisam
lograr um pouco aos outros, ou fazer um anúncio um tanto
capcioso, não querem que Déus esteja olhando. Na reali­
dade, isso não dá certo. Ê a causa de muita decepção.
Quase sempre nos reservamos uma área em que não dese­
jamos que Deus interfira. «Dá-me saúde! mas, por favor,
deixa-me em liberdade' para continuar com isto, que me
dá tanto prazer!»
A Deus não importa a tua personalidade, nem a de
ninguém. Deves estar sempre lembrado de que o que bus­
cas é para tôda a humanidade, para todos, indistintamente,
quer sejam amigos ou inimigos. Seria tão impossível cana­
lizar a Graça para dentro de ti, quanto o seria canalizar a
chuva só para o teu jardim. Se quiseres orar para que
Chova, deverás fazê-lo não exclusivamente para o teu jar­
dim ou para o jardim de algum outro, mas para que chova
sôbre todos os jardins, tanto sôbre os das pessoas de quem
gostes quanto sôbre os daquelas de quem não gostes.

184
Se sentires a divina Presença, terás que incluir em
tua prece: «Que a Tua graça esteja sôbre tôda a humani­
dade! Que todos sejam receptivos à Tua presença!» Não
deve importar-te o que os outros sejam. O essencial é que
ao amares o teu próximo como a ti mesmo estás renun­
ciando a interêsses pessoais. Ninguém pode amar seu pró­
ximo como a si próprio vivendo passagens bíblicas apenas
da bôca p’ra fora. Não poderás amar teu próximo como a
ti mesmo senão quando fores capaz de orar tanto pelos
teus amigos e inimigos quanto por ti mesmo.
Em outras palavras: terás de compreender que a
graça de Deus é de natureza universal, e que, por isto, nun­
ca poderá ser canalizada sòmente para os bons, ou só para
protestantes anglo-saxões. Assim ela não funciona. A gra­
ça divina é universal. Quem ama o próximo como a si pró­
prio, ao tomar contato com Deus ora para que tôda a hu­
manidade seja tocada pela Graça. Isso é renunciar a todo
interêsse pessoal. Isso é orar corretamente.
Nunca te esqueças de que deves entregar-te a Deus de
corpo e mente. Nessa entrega, não há escolher entre pen­
samentos humanos certos e pensamentos humanos erra­
dos, ou entre puros e impuros. Deverás abrir-te sòmente
às idéias espirituais, isto é, a tudo o que flui do Reino ou
Consciência Interna, que está além dos limites de tua
mente.
Quando te introverteres para além da mente, estarás
penetrando no âmbito de tua própria consciência, no san­
tuário de teu próprio ser, que é onde realmente vives. Na
realidade, porém, não se trata de tua consciência humana,
mas da divina Consciência que tu és.
E desta Consciência, quando n’Ela penetras, que flui a
Graça espiritual, e não de ídolos físicos ou mentais!

185
■ GRBTIDAO e o dízimo
(D o livro «Expansão de Consciência», pág. 259)

Como já disse, ao falar sôbre o dízimo, quando êle ou


a gratidão são exercidos esperando uma recompensa, isto
constitui uma farsa. Quando a gratidão ou o dízimo tem
que ver com a espera de algum bem futuro, isto não tem
valor. Mas, quando a gratidão é expressada ou o dízimo é
praticado porque uma iluminação foi recebida, um certo
conhecimento foi alcançado ou obtido algum entendimento
através dêle, isto, então, constitui gratidão verdadeira.
Quando uma pessoa separa o dízimo de sua renda, na base
de dez, cinco ou, mesmo, um por cento, impulsionada por
um senso de gratidão pura, oriunda da luz que recebeu e de
sua manifestação na experiência externa, o senso de gra­
tidão, então é de qualidade espiritual. Mas quando a grati­
dão está matizada com um senso de aproveitamento pes­
soal premeditado: «Se eu fôr bastante grato e dar bas­
tante receberei tudo o que é bom», tal gratidão, então, é
uma insensatez e seria melhor se não fôsse expressada.
A gratidão, especialmente aquela expressada pelo
dízimo, possui uma outra significação. Quando uma pessoa
pode separar uma percentagem do seu ordenado e dizer:
«Isto não está vindo de mim; isto é uma parte do que Deus
está empregando para a Sua própria atividade; eu não pas­
so de um mero agente para a sua transferência», então o
senso de dízimo e de gratidão em breve se concretizam
num aumento de salário, oportunidades e renda.
Está se aproximando o dia quando não só daremos
uma parte da nossa renda à organização, grupo ou movi­
mento ao qual estamos filiados, ou à atividade espiritual,

186
sentindo que somos um agente de transferência do auxilio
de Deus à Sua própria atividade, como, também, adotare­
mos esta mesma atitude em cada demanda que nos seja
feita. Se alguma necessidade surgir para o sustento de
nossa família, para a compra de algum presente de ani­
versário, para algum empreendimento caritativo, até mes­
mo para o pagamento do nosso imposto de renda, se pu­
dermos captar a idéia de que esta demanda não é exercida
sôbre nós, como pessoa, ou sôbre a nossa renda, mas sôbre
o Cristo, em prol de Quem estamos agindo como um agente
de transferência, constataremos que a abundância está
fluindo para nós e através de nós, e chegaremos ao ponto
de verificarmos que grande parte do nosso salário está
sobrando no fim do mês. O suprimento aparecerá por
meio de muitos canais, a fim de satisfazer aquelas neces-
sidadés.
Nunca devemos manter a idéia de que qualquer de­
manda está sendo apresentada a nós, como pessoa, assim
como não devemos encarar pessoalmente qualquer solici­
tação de cura. Quando pedimos o restabelecimento de
nossa saúde a um curador, devemos saber que êle nada
está dando de si mesmo. Êle simplesmente confia na sua
compreensão ou estado-de-consciência espiritual, o que se
manifestará como uma cura do corpo ou da mente. Da
mesma maneira, o dinheiro não é menos espiritual do que
a verdade. Uma vez que sintamos que Deus é a substância
subjacente de tudo que está surgindo em nosso estado-de-
consciência, então, tudo o que existe, se manifesta como
uma expansão dêle, surgindo e se revelando em forma
individual. Neste caso, por que não será o dinheiro, igual­
mente, tão infinito e abundante como as folhas das árvo­
res?
O ponto que estamos ressaltando é que Deus é a cons­
ciência do indivíduo, e que ela está expandindo a infinitude
do seu próprio ser como personalidade, lugar ou coisa.
Tudo não passa de vossa própria consciência em expansão.
Se captarmos isto e nada separarmos, dizendo: «isto é ma­
terial» ou «aquilo é material», compreendendo definitiva­
mente que Deus - nossa consciência individual - é infinito,
precisamente tão infinito ao expressar e manifestar di­

187
nheiro, como quando Se manifesta fazendo crescer nossos
jardins, então, na mesma proporção, superaremos qualquer
senso de limitação de nossas finanças. Tratemos de com­
preender bem estas coisas. Procuremos eliminar a crença
de que uma parte do nosso mundo é espiritual e a outra é
material.
Precisamos superar a crença do finito e de quantida­
des numéricas. Em Deus não existem números. Só há um
número. Precisamos perceber o que significa possuir as
formas e variedades infinitas do UNO. Precisamos sentir
a unidade, infinitamente formada. Não devemos ver o cor­
po (ou o dinheiro e o mundo) como uma coisa separada.
Pela meditação, precisamos captar um senso espiritual de
corpo (ou de dinheiro ou do mundo).

188
ín d ic e

Apresenta$ão j 5
O fluxo da luz j 7

A lé m do tempo e do espaço j 24
Expansão da consciência como base para a harmonia do a n o -n ô v o /3 7

Vivendo acima dos pares de opostos [ 55


P az J 6 6

Carne e carne / 84
D eus é consciência individual j 104
A consciência consagrada j 126
Trazendo Deus para a vida diária j 142
Dom ínio consciente J155

Liberdade espiritual j 165


N ã o deverás criar ídolos / 173
A gratidão e o dízimo j 186
em todoe o« Finltoi, n lo compreenderá
estas mensagens eipariai de Qoldsmith,
que primam por uma lógica e proctaCo
matemáticas.
Auto-realização e logoterapia andam de
mãos dadas nas páginas diste precioso
livro. Todo o segrádo está em cons­
cientizar a presença real, permanente,
de Deus em nós.

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