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Prezado A m igo:
O estado de consciência primitivo, original, é puro,
harmonioso e absolutamente bom. Esta é a consciência do
ser individual. Quando nos separamos, ou somos separa
dos, dêsse estado de consciência divina, e creamos nossa
própria mente e nossa própria vida, passamos a viver fora
da lei de Deus, e então a vida se torna uma questão de pro
babilidades, objeto de cálculos estatísticos: algumas vêzes,
boa; outras, má; porém as mais das vêzes má. Resta-nos,
todavia, a esperança de podermos recuperar a harmonia
perdida e voltar à casa do Pai, unindo-nos conscientemente
com Êle.
Felizmente, isto não depende de nós. O que nos leva
de volta a Deus não são os nossos esforços. O que nos está
abrindo o caminho é a graça de Deus. Espero que nenhum
de vós jamais acredite que tenha por virtude própria che
gado a praticar determinados ensinamentos espirituais, ou
que tenha, graças a seus próprios méritos, conseguido per
manecer no Caminho espiritual ou fazer algum progresso
espiritual na Anda, pois isso lhe destruiría tôdas as opor
tunidades de verdadeiro progresso.
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êste ponto não foi pelos nossos méritos e nem porque te
nhamos, nós próprios, preferido voltar para Deus. Crer
que escolhemos o Caminho espiritual seria, em última aná
lise, egoísmo. Se estamos neste caminho é porque Deus
nos escolheu. E se o dedo de Deus nos tocou, não foi por
que nos tenhamos tornado merecedores ou por sermos me
lhores que o resto da humanidade, mas por razões que re
montam a um passado muito distante, anterior à nossa
atual existência na terra, o qual está relacionado com o
estado de consciência que tivemos num passado ainda mais
remoto e que sempre produz seus frutos no devido tempo.
«Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo con
trário, eu vos escolhi a vós outros, e vos d esignei... Eu
vos escolhi do mundo, por isso o mundo vos odeia.»1 Isto
quer dizer que à medida que evoluímos de um a outro es
tado de consciência, vamos retornando para onde está
vamos no comêço, com tôda a glória que possuíamos com
Deus, antes que houvesse êste senso humano de existência
do mundo. O que nos atrai de volta para o reino de Deus
não são os nossos esforços, mas a Substância primordial,
ou Consciência.
De certo modo, isto se pode comparar ao que acon
tece quando jogam os lôdo dentro de uma vasilha que con
tém água limpa: o lôdo não pode remover-se por si mes
mo, mas, eventualmente, êle assentará no fundo da vasilha,
e deixará a água tão pura como antes. A perfeição da
Consciência que somos, e dentro da qual foi, por assim di
zer, lançado o lôdo adâmico, isto é, o lôdo representado por
assassínios, escravidão e a crença na existência de dois
podêres, não fo i alterada, mas apenas encoberta: essa
Consciência continua como uma chama viva, a queimar e
extinguir as impurezas da consciência humana. Apesar de
nossa maior ou menor mesquinhez ou egoísmo atual, a ver
dade é que desde o comêço, quando nos afastamos daquele
nosso primitivo estado de consciência puro, há uma Fôrça
que vem operando em nós e através de nós e dissipando
pouco a pouco nossa mesquinhez ou egoísmo. E assim, no
curso dos séculos, irá removendo todos os resquícios dêsse
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mal ou corrupção, até chegar o dia em que nos sentiremos
mais perto do que éramos no princípio.
Não somos nós que escolhemos Deus; não somos nós
que escolhemos a vida espiritual; não somos nós que esco
lhemos a senda espiritual, porque o ser humano é incapaz
de tal escolha. O ser humano é uma criatura separada de
Deus, mas, a certa altura de sua evolução, é tocado inte
riormente pela Luz, que o coloca no Caminho. Não deve
mos presumir que nos caiba algum mérito por tudo isto,
porque, como sêres humanos, nunca seríamos outra coisa
senão sêres humanos.
Existe uma consciência evolutiva, uma consciência es
piritual que se projeta dentro e através da consciência
humana, levando-nos para a frente, passo a passo. Ê ine
vitável que uns poucos se encontrem à frente dos demais,
e isto é porque a graça de Deus toca êsses poucos antes
de alcançar a humanidade em massa, que ainda não está
suficientemente avançada e, por isso, talvez tenha que
viver mais uma, duas, três, cinco, sete ou mais vidas antes
de ser tocada e estar apta a reconhecer a Graça já estabe
lecida internamente.
Hoje, mais do que nunca, se clama por independência
ou liberdade sôbre a terra, e não é de estranhar que as
fôrças contrárias à liberdade também gritem, e ainda mais
alto, porque, no cenário da vida humana, há sempre os
pares de opostos, o bem e o mal em contenda um com o
outro. Mas, como a Consciência está se expandindo no
sentido de Sua plena realização na terra, serão esmagados
todos aquêles que barram o caminho da liberdade, inde
pendência, justiça e fraternidade. Isto será inevitável, pois
não se trata de uma luta contra o homem, mas contra
Deus. A liberdade, a independência, a justiça, a igualdade,
a paternidade divina e o amor ao próximo são qualidades
inerentes a Deus, e não às criaturas humanas, e consti
tuem objeto das atividades de Deus. Lutar contra isso é
lutar contra Deus; contra a evolução ou expansão da cons
ciência espiritual.
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O TOQUE DE DEUS E A ATITUDE DE ESCUTA
Embora o progresso espiritual resulte de um ato de
Deus, deve haver uma atitude de auscultação da parte
do homem. Aquêles que desenvolvem a capacidade de re
flexão interna, contemplação e meditação; aquêles que
aprenderam que orar é realmente escutar e não falar com
Deus, são os primeiros a receber a palavra de Deus - e
recebem orientação e proteção em todos os seus caminhos.
Em Deus, tudo é divino. Não há n’Êle mal nenhum.
Deus é Amor, Inteligência infinita, onisciente. Além disso,
é onipresente. Sua presença e poder estão sempre ao al
cance da humanidade. Mas, para receber o toque de Sua
presença e poder, o homem precisa estar em atitude de
escuta, sutilmente atento, internamente tranquilo e silen
cioso. Ninguém é suficientemente sábio para poder ensi
nar alguma coisa a Deus, aconselhá-Lo òu influenciá-Lo.
Ninguém tem sabedoria para saber como orar.
Não obstante, há aquêles que ainda vão a Deus para
dizer-Lhe quais as suas necessidades ou de seu país, como
se realmente as conhecessem.
Não sabem mais acêrca de suas necessidades do que
certa pessoa que em 1900 escreveu um artigo dizendo da
grande necessidade de maior número de cavalos. Estivesse
ela escutando, procurando ouvir a Voz de Deus, ao invés
de estar refletindo sôbre o maná do passado, e poderia ter
recebido a informação antecipada de que Deus tinha em
vista algo nôvo no horizonte.
O mesmo acontece conosco. A razão de acreditarmos
saber o que é bom para nós, é a lembrança do maná de on
tem, isto é, das coisas de que gostamos em nosso passado
e que^gostaríamos de possuir mais, esquecidos, como esta
mos; de que todo momento de cada dia é um nôvo comêço.
Para iniciar o estabelecimento dessa atitude de escuta em
nossa consciência, não necessitamos aguardar o nascer do
sol, amanhã, e nem sequer precisamos esperar para daqui
a uma hora. Sempre podemos mudar do passado para o
presente a qualquer momento e, se dentro de uma hora
após essa mudança, viermos a fracassar, retornando ao
passado, poderemos recomeçar tudo de nôvo.
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Para isso, o que se precisa é escutar, escutar aquela
«voz tranqüila e suave».7 Isso nada tem a ver com nossas
crenças ou convicções. Nada tem que ver com nossas neces
sidades ou com as necessidades de nossa nação. «A pala
vra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante do que
qualquer espada de dois gumes.»8 « . . .êle faz ouvir a sua
voz e a terra se dissolve.»2
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3
Essas passagens contêm a chave da prece, que é o
único meio de sermos governados por Deus. Ê o segredo
da liberdade, independência, justiça e igualdade sob o go-
vêm o de Deus. Isso não se obtém em virtude daquilo que
um grupo de homens gostaria de nos dar ou do que outro
grupo gostaria de nos tirar. Nosso destino nada tem a ver
com homens. Nosso destino depende de Deus. Mas não
haverá meio de nos valermos de Deus ou de Seu govêrno
enquanto insistirmos em falar com Êle, em contar-Lhe as
nossas desditas ou procurar influenciá-Lo em nosso favor.
A prece é uma abertura de nossa consciência e o reconhe
cimento da natureza e da presença de Deus.
Quando reconhecemos que Deus é a Inteligência infi
nita dêste universo, e que essa Inteligência é responsável
pelo fato de os pêssegos serem oriundos de pessegueiros, e
os tomates, de tomateiros; quando compreendemos que o
sol, a lua e as estréias não funcionam senão de acôrdo
com o plano dessa divina Inteligência, então estamos em
condições de abandonar nossa absurda pretensão de falar
com Deus ou pedir-Lhe coisas que julgamos necessitar;
só então é que podemos iniciar o estabelecimento, em nos
so íntimo, de uma verdadeira atitude de oração, confiando
em que Deus conhece de antemão as coisas que necessita
mos.
Quando reconhecemos a natureza de Deus como amor,
e vemos como êste opera através de todos os processos da
Natureza que contemplamos, só então é que estamos pre
parados para confiar no govêrno de Deus. Essa confiança
significa que nós, por nós mesmos, nada sabemos sôbre o
2 - 1 R s 19: 12.
3 - H b 4 : 12.
4 - SI 4 6 : 6.
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dia de amanhã: não sabemos onde estaremos e o que ire
mos fazer. Sabemos apenas que existe uma Inteligência
divina, ilimitada, muito superior a tudo o que qualquer ser
humano possa conhecer; que existe uma presença e poder
do Amor divino que Se compraz em dar-nos o Seu reino, e
passamos a reconhecer que tudo isso está dentro de nós.
Agora, podemos deixar que a graça de Deus frutifique ou
manifeste Seu bem. Portanto, nunca devemos voltar-nos
para Deus com o intuito de receber alguma coisa, mas sim,
unicamente, com o propósito de reconhecer Sua onipre
sença e de escutá-Lo. Isto implica em um estado de recep
tividade interna, é como se soubéssemos, sem qualquer
sombra de dúvida, que o reino de Deus está dentro de nós.
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comigo. Estou sempre alerta para receber tudo quanto Ele
tem para me comunicar.
Com isso, poderemos descansar, confiantes em que
deixamos aberto dentro de nós um ponto bem desperto pa
ra receber qualquer comunicação necessária para o nosso
bem. Não podemos permitir-nos excluir Deus de nossa
vida das dez da noite às sete da manhã, ou da meia-noite
às seis. Necessitamos de Deus quando dormimos, senão
mais, pelo menos tanto como quando estamos acordados.
Por isso não devemos esquecer Sua presença quando vamos
dormir. Devemos lembrar-nos conscientemente de que so
mos um com o Pai, dia e noite. Isto nos torna receptivos
e suscetíveis àquela Palavra que é viva, penetrante e eficaz.
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poderá não ser uma palavra falada, mas, na realidade,
será algo que nos dá a certeza da presença de Deus, da.
Sua graça. Algumas vêzes, chega em palavras e pensa
mentos; outras vêzes, como impressões, ou apenas como
uma sensação interna de relaxamento ou liberdade. Âs
vêzes nossa face expressa um sorriso. Parece não ter sig
nificação, mas há nêle uma sensação de paz.
No momento em que nos sentimos uma confirmação
interna, estamos recebendo uma resposta à nossa prece.
Daí por diante, bastar-nos-â ficar atentos ao desabrocha-
mento da harmonia em nossa experiência, o que poderá
levar um dia, uma semana, um mês ou um ano. Tudo de
pende de quanta macega precisa ser capinada ou de quan
tas florestas devam ser derrubadas. Muitos de nós
estamos perdidos em espêssas florestas de superstição,
florestas de ignorância quanto à natureza de Deus e à
maneira como Êle trabalha. Quando estas coisas são vis
tas com clareza e superadas, verificam os que a harmonia
começa a manifestar-se em nossa vida.
Temos acesso a Deus, a Consciência divina, que é a
nossa consciência individual, somente pela nossa auscul-
tação interna, por meio da meditação, convidando-a a der
ramar-se em nós e através de nós. Não temos acesso a
Deus através de nossa mente. Só podemos alcançar a Deus
através de nosso aparelho auditivo interno, e não pelo ou
vido externo.
Temos olhos e não vem os? Temos ouvidos e não ou
vim os? O Mestre não se referia aos olhos e ouvidos ma
teriais, mas à capacidade interna da Alma. Acaso possuí
mos essa faculdade de perceber Deus e não O estamos
percebendo, ouvindo ou vendo? Acaso sabemos que Deus
nos deu a possibilidade interna de nos unirmos a Êle e de
recebermos tudo quanto Êle tem e sermos tudo o que Êle
é? Será que fazemos uso suficiente dessa capacidade ou
torgada por Deus? As faculdades de nossa Alma são a
vista e a audição internas, o que nos permite permanecer
intemamente em paz.
Para isso, tem que haver a efetiva, real presença de
Deus, temos que sentir-Lhe a presença. Então teremos
algo em que confiar. Precisamos confiar na certeza que
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provém da realização e demonstração da presença dé
Deus - o que torna possível tôdas as coisas. Graças à pre
sença de Deus podemos aprender a amar nossos inimigos.
Pela graça de Deus, e não por quaisquer de nossas virtu
des, é que podemos orar por aquêles que nos odeiam e
caluniam. Se realmente quisermos orar pelos nossos ini
migos, se realmente quisermos perdoá-los, precisaremos,
antes de tudo, conscientizar a realidade da presença de
Deus e, então, por meio dessa Presença, poderemos fazer
tôdas as coisas. Uma vez identificados conscientemente
com a presença de Deus, a Consciência primária, podere
mos caminhar através das chamas ou entrar na cova dos
leões.
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se preocupam com a influência disso na mente é na alma
da humanidade.
Quando êsses homens e mulheres que participam da
referida campanha houverem realizado seu intento, as
guerras serão pràticamente eliminadas da face da terra.
E isso graças, tão-sòmente, a êsse ato de revelação à cons
ciência humana do horror que representa tirar a vida,
mesmo quando em nome da lei. Acaso não será natural que
depois dêsse passo nos sintamos culpados de assassínio
legal quando mandamos nossos filhos para a guerra para
matarem e para serem mortos, cônscios de que não saíram
para lutar por uma causa nobre? O máximo que se pode
dizer é que êsses jovens de dezoito, dezenove e vinte anos
são enviados para a morte a fim de que os homens de qua
renta, cinqüenta ou sessenta permaneçam em casa, pros
perem e vivam em paz. Quão forte é a influência hipnótica
no mundo, a ponto de os pais pensarem que é nobre man
dar os filhos para a guerra!
Ê preciso uma espécie de choque, para que o homem
desperte dêste sonho horrendo. E êle tem recebido tal cho
que. Nos últimos tempos tem havido várias guerras que
lhe devem dar o que pensar. São notórios os massacres
atômicos de Nagasaki e Hiroshima, os bombardeios de
Berlim, Leipzig, Dresden e Londres, e ainda outros con
flitos mais recentes, em que devemos refletir. Se a mente
do homem já reflete sôbre estas coisas, é porque tem tido
acesso a conhecimentos que até aqui lhe vinham sendo ne
gados. A luz da verdade espiritual está irrompendo na
consciência do homem através de muitos e diferentes ca
nais, transmitindo-lhe um senso de vida mais elevado, o
qual estamos agora vendo manifestar-se sôbre a terra.
A primitiva idéia de segurança social foi uma dessas
manifestações humanas da idéia divina. Ê verdade que se
tem usado e abusado disto como recurso demagógico. Co
mo em tudo, sempre vamos de um extremo a outro - desde
a falta de cuidado para com aquêles que o necessitam, até
à prestação de assistência mesmo a milionários. Tais coi
sas, porém, são problemas temporários. Chegará o dia do
reajustamento. A segurança social voltará a corresponder
à sua idéia original. Servirá, então, à sua finalidade, que
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é a manifestação externa no homem do amor ao seu pró
ximo como a si mesmo. Essa idéia não será sempre explo
rada como recurso demagógico ou ferramenta política.
Muito do que estamos vendo acontecer no mundo
atual é fruto dessa exploração. Tem-se abusado de mui
tas form as de legislação social progressista, mas tais
abusos serão corrigidos pela lei de reajustamento, o que
inevitàvelmente ocorrerá graças ao esclarecimento do
homem.
Tôdas as formas de legislação social progressista re
sultam de nossa consciência individual, que está apare
cendo como manifestação, expressão e demonstração da
Consciência divina, para que tôdas as avenidas conduzam
ao mesmo objetivo - o Bem, a fim de que nos seja revelada
a natureza divina da vida e de sua formação.
A Consciência abre caminho e aparece como uma Bí
blia; a Consciência abre caminho aparecendo como idéias
de sindicatos, de segurança social, Liga das' Nações ou
Organização das Nações Unidas.
Tôdas essas provas externas de um nôvo estado de
consciência, mesmo que pareçam ineficientes, como a Liga
das Nações, ou fracas, como as Nações Unidas, não dei
xam de ser, entretanto, manifestações da Consciência di
vina procurando abrir caminho. Finalmente, o ideal que
estêve encarnado na Liga das Nações, e está se manifes
tando nas Nações Unidas, sairá triunfante e atuará em
sentido prático para o bem universal. Então veremos que
nada ocorreu aqui antes que inrrompesse algo do Invisível
para transmitir-nos as idéias e os ideais mais elevados.
Não nos enganemos com as aparências, acreditando
que todos êsses esforços para o bem, tôdas essas evidências
de maior esclarecimento e suas manifestações externas se
jam produto do acaso, ou que não passam de meras cria
ções dos homens. Atrás de cada uma delas está a consciên
cia espiritual do homem procurando abrir caminho. E é
por isto que se pode predizer, sem mêdo de errar, que já
está mais próximo do que pensamos o advento da paz uni
versal, da fraternidade universal entre os homens - a rea
lização do ideal de paz sôbre a terra e a boa vontade entre
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os homens. Tudo isso é o reflexo de uma atividade espi
ritual manifestada em uma atividade humana.
Essa minoria, êsses poucos que recebem essas idéias
divinas e sacrificam sua própria vida pessoal para trazer
essas idéias e ideais de bem universal e espiritual ao co
nhecimento da humanidade, acabarão fazendo surgir uma
nova civilização.
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de assumir a responsabilidade de cuidar daqueles que não
podem cuidar dé si mesmos.
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«O homem velho»,6 que tem de «morrer diàriamen-
te»,7 deseja apegar-se à vida. Êsse apêgo ao maná de
ontem é um instinto humano que vem de muito antes de
Moisés. Ê natural apegar-se à vida aquilo que deve
«m orrer».
Foi-nos dito que o mais elevado instinto humano é o
de autopreservação. Entretanto, êste é o maior inimigo de
nosso desenvolvimento espiritual. O instinto humano mais
profundo, o mais forte, é ao mesmo tempo o mais feroz
inimigo de nossa evolução espiritual. Por quê? Que é o
que sempre queremos conservar de nossa personalidade,
senão o que julgamos bom para nós? Se isso não é o que
nos convém, então, que é o que constitui o apogeu do pro
gresso espiritual? - É não só a «m orte» para o «eu», mas
também a perda do senso humano da vida. O instinto hu
mano diz: «preserva-te!» O impulso de desenvolvimento
espiritual diz: «perde tua vida!» Ambos estão sempre em
luta um com o outro.
Esta é a razão por que a sociedade combatia os sindi
catos, se opunha às instituições de previdência social, à
Organização das Nações Unidas e tenta embargar a distri
buição de alimentos para as nações que dêles carecem. Por
trás dessa resistência está a idéia da autopreservação. Por
que dar nosso dinheiro para aquelas, famílias pobres que
estão além de nossas fronteiras? Por que contribuir para
os fundos de assistência destinados a pessoas da Ãsia, a
pessoas que nem conhecemos? Por que enviar nosso ali
mento e nosso dinheiro a nações inamistosas?
Na realidade, não existem nações inamistosas. Pode
haver pessoas pouco amáveis em algum govêrno estrangei
ro, mas não há nações inamistosas. O que cria os obstá
culos à boa convivência é a idéia da autopreservação. Por
que não conservamos para nós mesmos o que tem os? -
Onde? Em armazéns que precisarão ser queimados?
A idéia da autopreservação persiste, é o inimigo do
progresso espiritual, que nos diz: «Dá, reparte, sacrifica,
ajuda; se necessário, morre até pelo teu amigo. Não há
6 - E f 4 : 22.
7 - 1 C o 1 5: 3 1 .
20
maior demonstração espiritual do que esta.» Os maiores
inimigos de nosso progresso espiritual somos nós mesmos,
tu e eu, porque insistimos em apegar-nos a essas idéias do
passado. Apegamo-nos ao desejo de autopreservação e,
com isso, creamos oposição dentro de nós próprios indivi
dualmente e coletivamente.
Isto não é dito como julgamento, crítica ou condena
ção a ninguém, mas para mostrar aquilo que está dentro
de nós e que retarda e até impede a nossa própria expan
são espiritual, a paz e a prosperidade de todo o mundo.
É dito com a intenção de alertar-nos para que não perca
mos a paciência com nós mesmos e não esperemos alcan
çar a Utopia, aquêle estado de perfeição ideal, logo no dia
seguinte, porque dentro de cada um de nós estão êsses
inimigos que ainda precisam ser derrotados: a autopre
servação e o senso pessoal de «eu» ou «ego» e cada uma de
suas múltiplas manifestações.
Ê evidente que nós não podemos vencê-los, mas, à me
dida que nos expomos à luz da verdade, absorvendo-nos na
leitura dos escritos místicos e espirituais que existem no
mundo - os quais lemos porque a Luz, que é Deus, já nos
tocou a alma e a mente,8 - essas leituras inspiradas vão
despertando em nosso íntimo algo que lhes responde:
«Sim, sim, sim, é isto mesmo». Então vamos entrando em
sintonia com elas, e sua essência se vai transfundindo em
nós e modificando nossa maneira de sentir.
Esta é a garantia de que fom os tocados pela Consciên
cia divina, infinita, a qual, pacientemente, está abrindo
caminho e estabelecendo o cêrco decisivo para a vitória
sôbre os nossos inimigos internos. Ela destruirá, por nós,
aquilo que dentro de nós se apega ao maná de ontem, às
idéias e ideais do passado, e extirpará a crença em nós en
raizada de que a autopreservação é a primeira lei da Na
tureza, permitindo-nos, assim, compreender que, pelo con
trário, a mais importante lei da expansão espiritual é o
auto-sacrifício, isto é, o sacrifício do interêsse particular,
pessoal, pelo universal, divino, que é o da fraternidade.
21
O Mestre revelou que de nada nos aproveita orar, pe
dir, para nós mesmos. Para sermos filhos de Deus, para
que essa Consciência divina efetivamente se expresse em
nós, precisamos orar pelos nossos inimigos. Em outras pa
lavras: o «eu», o «ego» humano precisa esvaziar-se a tal
ponto que a dedicação do nosso tempo e de nossas orações,
exclusivamente em favor de nós mesmos e de nossos ami
gos, se amplie e converta num estado de consciência em
que haja o verdadeiro amor-ao-próximo.
A CONSCIÊNCIA EXPRESSANDO-SE
COMO AMOR
Podemos aquilatar até que ponto a Consciência divina
se converteu em nossa consciência individual se observar
mos em que medida nosso interesse começa a incluir o
mundo, tornando-se menos pessoal, menos restrito à nossa
família e amigos.
Por isso é que aos estudantes que. contribuem re
gularmente para as atividades de «O Caminho do Infinito»
sempre se recomenda que não reservem todos os seus fun
dos dè beneficência, qualquer que seja o montante de seus
dízimos, sòmente para o «O Caminho do Infinito», mas
que se lembrem também de distribuir uma parte com as
atividades de outras comunidades de âmbito nacional ou
internacional, o que prova que nossa obra é espiritual e es
tende-se a tôda a humanidade.9 A Consciência divina, que
aparece como nossa consciência individual, não pode dei
xar de se mostrar através de nosso interêsse por tudo o
que contribua para a liberdade, a justiça, a equanimidade
e a igualdade para o gênero humano e para todo êste
mundo.
Da mesma maneira, aquêles de nós que estamos em
penhados numa atividade religiosa que inclui a cura espi
ritual, estamos contribuindo para o advento de uma nova
civilização. Uns poucos milhares de pessoas podem mudar
a história do mundo inteiro, e transformar o estado de
consciência humana em Consciência divina. A espiritua-
22
lização da consciência humana será conseguida através de
uma minoria que conhece a verdade, estuda como aplicá-la,
vive-a e observa sua influência exercendo-se primeiro em
caráter individual e, mais tarde, em escala ampla e co
letiva.
Por trás do mundo físico, ou visível, está aquilo a que
chamamos Deus, ou Consciência divina infinita, fazendo
por se expressar como consciência; individual, que traz à
luz, o amor de Deus e o amor ao próximo. Essa Consciên
cia primeva infinita, divina, surge sempre onde existe re
ceptividade. Quando a consciência individual se impregna
com esta Consciência divina, ela se torna divina, e a cons
ciência humana começa a desaparecer, de modo que o que
resta é sòmente a Consciência divina. Então, finalmente,
alguns, talvez uns «dez»,10 poderão atingir a plenitude da
Consciência divina e levantar o mundo inteiro.
Quando um indivíduo, que vive sua vida de rotina,
como a conhecemos, por qualquer razão se volta para a
vida espiritual, à busca de Deus, não é que êle esteja pro
curando a Luz, mas a Luz, dentro dêle e sempre ao seu
alcance, é que lhe está atraindo a atenção, ao procurar
irromper em sua consciência, pelo fato de, de uma form á
ou outra, já estar êle preparado para receber seu influxo.
O mesmo acontece em escala coletiva. Esta luz do Sèr
espiritual está abrindo caminho através da consciência
humana de tal form a que, de geração em geração, o estado
de consciência da humanidade vai se tornando cada vez
mais uma transparência, através da qual esta Luz pode
manifestar-se.
(a) Joel
10 - G n 1 8; 3 0.
23
ILÉM DO 1EDPO E DO ESPIÇO
Do livro «A Parenthesis in E ternity»
24
que terá no próximo ano e no outro, e garantindo o que
possuirá num porvir ainda mais distante.
Edificam os nossa vida na consciência, segundo a na
tureza dos nossos pensamentos. Aquilo que neste momento
incorporamos à nossa consciência, projeta-se com ela atra
vés do tempo e do espaço, levando consigo a qualidade da
quilo que lhe infundimos neste minuto.
Se constantemente conscientizarmos de que Deus é
Lei e é Espírito, e que portanto a Lei é espiritual (e somos
governados por le i), isso se converterá em lei para a nossa
vida neste presente momento e para o futuro, porque a
nossa vivência dêste minuto estender-se-â através do tem
po e do espaço. Tudo o que existe na vida é nossa cons
ciência desdobrando-se no tempo e no espaço. Se ela, nossa
consciência, cessasse de funcionar, não existiríam para nós
o tempo e o espaço.
O fator tempo não participa das atividades de Deus.
No Reino espiritual não existe tempo, há somente o agora,
êste momento atemporal, contínuo. Graças à continuidade
dêste momento, tudo o que acontece agora acontecerá no
chamado futuro. Se no próximo mês a folhagem das árvo
res do parque ficar amarela, marrom ou vermelha, será
devido ao processo que neste momento está se operando
nessas árvores. A queda das folhas, no outono, se deve ao
que ocorreu nas árvores antes dessa estação. O que sucede
na consciência de alguém neste momento, determina quais
serão as suas condições daqui a uma hora, um dia ou uma
semana. Deus está operando neste minuto, e por isto acon
tecerá algo no minuto seguinte, pois êste minuto é sempre
a continuação do minuto anterior.
Qualquer que seja a atividade do Espírito que esteja
se processando agora, ela determina a atividade que have
rá no universo daqui a um segundo. Deus não pode iniciar
uma ação. Não pode fazer agora com que duas vêzes dois^
sejam quatro, e ainda que quisesse, não podería fazer com'
que fôssem cinco também. O que é duas-vêzes-dois, está
determinado desde o comêço dos tempos.
Deus é , e a única vez que Êle é, é agora. Deus é sem
pre agora, e êste «ser» de Deus é incessante, na continui
dade do agora. O reino de Deus é sempre agora: não há,
25
nêle, «antes» nem «depois»; não há, por ex., quinze minu
tos «antes» nem quinze minutos «depois».
Todo momento que desperdiçamos a viver no passado,
é um momento de vida sem Deus. Deus nada pode fazer
quanto ao passado, porque Deus não está no passado:
Deus está aqui, Deus ê agora. O lugar onde estou é terra
santa - agora. Se ocorrer alguma coisa no que chamamos
«futuro», terá que ser como uma continuação da presença
de Deus agora. O único meio de nos colocarmos sob a lei
de Deus, é abandonar tanto o passado quanto o futuro e
nos harmonizarmos com Deus aqui e agora, pela compre
ensão espiritual de que Êle é a única Presença, a única
Ação, o único Ser.
Viver assim, é viver conscientemente em «terra santa».
Se em algum momento nossa falta de compreensão
disso nos conduzir ao cárcere ou a um hospital, ou nos
induzir ao pecado, à doença ou à miséria, então o remé
dio será, no mesmo instante em que isso ocorrer, procurar
mos atualizar-nos com Deus, conscientizando-nos de Sua
onipresença.
Nada sabemos do amanhã, nem podemos fazer sequer
a mais pálida idéia do que acontecerá amanhã. Se julga
mos sabê-lo, estamos limitando nosso amanhã ao que co
nhecemos do ontem e do hoje - e não estamos abertos ao
conhecimento direto de Deus.
Deus não opera amanhã. Mas a influência de Deus so
bre o amanhã do homem depende da ação de Deus agora,
porque Deus age sòmente nesta fração infinitesimal de se
gundo, e Sua influência se estende a tôdas as frações de
segundo que se seguem a esta. Mesmo Deus não pode fazer
com que um botão de rosa desabroche plenamente em pou
cos minutos. Deus trabalha agora. Nós, como somos parte
do funcionamento de Deus no agora, nos desdobramos de
acordo com a natureza de nosso ser, mas não podemos
fazê-lo sem Deus. Não podemos conseguir que Deus faça
isto ontem nem amanhã. O «amanhã» de Deus é o desdo
bramento do agora. Deus é Deus agora. Deus é eterno.
Opera sempre agora, nunca no passado nem no futuro.
Quando vivemos no futuro, estamos vivendo uma vida tão
sem Deus como se estivéssemos a viver no passado.
26
Todavia, se estivermos vivendo a vida mística, tere
mos um período de ação de graças, quando nos recolher
mos, à noite, agradecendo a Deus pela form a como Êle «di
rigiu» êste universo nas últimas vinte e quatro horas,
permitindo que o sol e a lua despontassem nas horas certas,
e as chuvas e os dias ensolarados viessem nas estações
próprias, e as marés chegassem e se fôssem no devido
tempo. Por tamanha exatidão e equilíbrio, merece Êle um
pequeno crédito nosso. Podemos, pois, confiantes no ama
nhã, dormir tranqüilos, na certeza de que o Senhor con
tinuará cuidando de tudo.
E quando acordarmos, pela manhã, não tentaremos no
vamente arcar com tôda a responsabilidade na direção
dêste universo. Lembrando-nos de que Deus, o Senhor, fêz
tudo com precisão no dia anterior, sem nossa ajuda, dei
xaremos ao Seu cuidado o nôvo dia.
O místico não se preocupa com o que possa acontecer
a êste mundo. Êle contempla a vida e observa Deus em
ação. Se quer apreciar o nascimento do sol, levanta cedo,
e sabe que está testemunhando uma das atividades do
Princípio que governa êste universo.
Quando nos convertemos em expectadores e observa
mos o que Deus faz a cada hora, superamos a crença
egoística de que êste mundo é nosso e que somos responsá
veis por êle. Então já não tememos «o homem cujo fôlego
está no seu nariz»,1 com a mesma confiança com que fo
mos dormir à noite, e entregamos também o nôvo dia aos
Seus cuidados. E aprendemos a manter-nos um pouquinho
à direita de nós mesmos, observando quão maravilhosa
mente Deus dirige êste universo e como provê, de antemão,
a tôda necessidade. Percebemos a glória dêste universo
quando contemplamos a atividade de Deus, Deus em ação.
Isto é ser testemunha. A testemunha não toma parte
ativa no que vê. Testemunha é aquele que presencia e
observa algum acontecimento. Isto é o que som os: teste
munhas de Deus. No comêço, é difícil praticar êste prin
cípio. Habituar-nos a confiar a Deus nossos dias com a
mesma fé com que Lhe confiamos nossas noites - leva tem
1 - Is 2 :2 2 .
27
po! Alguns não confiam suas noites a Deus a não ser quan
do o cansaço não lhes permite ficar acordados!
Aqueles dentre nós que meditam muito durante a
noite, e comungam com Deus nessas ocasiões, não o fazem
com o propósito de ajudar a Deus. Meditamos porque gos
tamos de contemplar as atividades de Deus, mesmo em
meio à noite, pois file faz tantas coisas maravilhosas du
rante a noite como durante o dia.
«Agora é o dia da salvação».2 Agora é o único tempo,
agora é o tempo perfeito. Agora Eu sou. «Amados, agora
somos filhos de Deus.»3 Agora - não amanhã, não quando
estivermos mortos, mas agora! Agora vivemos, nos move
mos e temos nosso ser na Consciência-Cristo.
Tôda a vida se afirma no agora. Enquanto vivermos
no nível da vida humana, a lei de o-que-sem eares-isso-co-
Iherás atuará sôbre nossa vida, o que quer dizer que co
lheremos aquilo que estivermos semeando agora.
A natureza da sementeira determina a natureza da
safra, mas a safra do futuro não poderá ser mais harmo
niosa que a semeadura do presente. O fruto espiritual que
colhermos amanhã, será o produto da semeadura espiri
tual dêste momento, e se agora não semearmos espiritual
mente, mais tarde não haverá frutos espirituais. Todos os
efeitos cármicos podem ser anulados a qualquer momento,
porque êles só podem perdurar enquanto as sementes cár-
micas operam. Logo que saímos da esfera da consciência
material, em que semeamos materialmente, deixa de haver
colheita material, porque não estando nessa esfera, já
estamos «m ortos» para ela.
No instante em que «morremos» para o passado, re
nascemos para êste eterno agora. Em nosso renascimento
para o Espírito, nada levamos do passado. Somos como a
borboleta, que nada mais tem da lagarta que foi. Após
construir seu casulo e nêle passar longo período de quie
tude, isolada do mundo exterior, a lagarta morre e nasce
a borboleta, completamente esquecida do estado de larva
por que passou.
2 - Co 6: 2.
3 - Jo 3 : 2.
28
No momento em que nos identificarmos consciente
mente com a presença de Deus, estaremos «m ortos» para
o nosso materialismo. O nascimento de Cristo é um fato
que pode ocorrer muitas vêzes por dia em nossa meditação,
e cada vez que isto aconteça, será varrida de nossa cons
ciência alguma parte do passado humano que se tenha
introduzido nela.
Precisamos dispor de períodos em que possamos viver
conscientemente como se estivéssemos olhando uma longa
linha reta como que formada pelo alongamento dêste
agora, dêste momento atemporal, sem nada vermos do
passado e sem nos interessarmos pelo futuro, mas em
união consciente com o Pai.
Quando sentimos a confirmação desta união em nosso
silêncio, é porque o Pai está trabalhando conosco, e então
poderemos seguir avante em Sua obra e fazer, se neces
sário, planos para a próxima semana ou para o próximo
ano, ou ainda para daqui a dez anos, se após a meditação
nos fôr dado fazê-los. Êsse planejar, porém, não cria
preocupações com o futuro: é uma ação do presente que
se estende naturalmente ao porvir.
Em certo sentido, é verdade que nós não fazemos pla
nos, mas em outros, não. Quando me vem, por exemplo, a
intuição de que devo dar aulas ou proferir palestras em
várias partes do mundo, esta idéia está se apresentando à
minha consciência em dado momento presente, e sua rea
lização pode ser considerada numa continuação dêsse
presente, embora envolva o futuro. Neste caso, poderei
elaborar planos que incluam as providências necessárias.
Em tal sentido é que fazemos planos para o futuro, mas
tais planos resultam do trabalho de Deus em nós, no
agora, ao revelar-nos o que devemos fazer aqui ou ali em
determinada época. Logo que nos vem essa convicção
interna, fazemos todos os planos, mas isto não é planeja
mento humano: são meras providências humanas tomadas
em obediência ao plano divino que nos foi revelado.
Preocupar-se com o passado, afligir-se ou condenar-se
pelo que se tenha feito, é desperdício de tempo, porque
Deus não está no passado. E se Deus não está no passado,
nós também podemos afastar-nos do passado. Além disso,
29
não precisamos interessar-nos pelo futuro, salvo no que
respeita aos planos que rèsultem naturalmente das idéias
que nos tenham sido espiritualmente inspiradas sôbre o
que deverá ser feito.
Quando dominamos e vivemos o princípio do viver
sempre no eterno agora, todo momento de nossa vida se
reveste de vital importância para nós. Depois que apren
dermos esta lição, jamais ligaremos importância aos dias
que passaram. Mesmo que já tenhamos realizado alguma
coisa muito importante, não ficarem os descansados e sa
tisfeitos com isso porque o futuro nada nos trará senão em
conseqüência do que fizermos hoje. No presente é que se
constrói o futuro. O passado é passado, e nada se pode
fazer com êle. Mas se pode fazer muito no presente ime
diato, que governa tudo o que chamamos futuro.
Uma realização espiritual neste momento produz har
monia que poderá manifestar-se amanhã ou no próximo
ano; poderá movimentar fôrças capazes de produzir efeitos
tangíveis daqui a um ano. A verdade realizada neste ins
tante está preparando o caminho para a nossa próxima
encarnação e determinando em que plano, ou nível, será.
Se estivermos satisfeitos com tudo o que conseguimos
durante nossos anos de vida neste mundo; se nos interes
samos por coisa alguma que esteja além dos limites desta
existência, ou se estivermos convencidos de que a vida se
reduz a êste breve período que passamos na terra, não
precisamos prestar atenção a tudo o que aqui foi dito.
Entretanto, se nosso estudo da sabedoria espiritual,
nossa meditação e contemplação nos convenceram de que
a vida não começa com o nascimento e não terminará com
a chamada morte, então deveremos, necessàriamente, nos
interessar tanto pela vida que teremos daqui a um século
quanto pela que levaremos no próximo ano. É por esta
razão que precisamos chegar a viver sempre plenamente
cônscios da tremenda importância do agora na vida, por
que não poderemos moldar sequer o nosso próximo ano
de vida, a não ser na base do que estivermos «moldando»
neste momento, pela nossa conscientização.
A vida, ou consciência, é uma experiência contínua, e
aquilo com que nos identificamos agora é o que determina
30
a natureza, o estado e o grau de nossa consciência em
todos os amanhas com que possamos sonhar. Nunca vive
mos em outro tempo senão neste momento, neste agora.
Todos os momentos de nossa vida têm sido «êste momen
to». Não podemos viver antes nem depois «dêste momento».
Temos que viver a partir dêste momento. Quando compre
endermos que a profundidade da nossa consciência e a
altura da nossa realização espiritual são a medida da nossa
paz enquanto repousamos e dormimos durante a noite,
bem como a medida da saúde e harmonia que gozaremos
amanhã, então nos sentiremos na obrigação de viver a
todo momento na conscientização do agora, e a percepção
consciente dêste agora, determinará todos os «apora» fu
turos.
A harmonia de nossa vida neste mês é o resultado
da profundidade da nossa visão espiritual no ano passado,
de nossas horas, dias, semanas e meses de estudo, medita
ção e preparação. Todos os nossos momentos de prepara
ção no ano passado resultaram na harmonia que estamos
experimentando êste ano. E êste processo continuará para
sempre, eternamente, - não sòmente durante esta vida,
mas no decurso de tôdas as vidas que hão de vir.
Foi para demonstrar que a vida é eterna e imortal,
que o Mestre apareceu a seus discípulos após a Crucifica
ção. Sua vida, após a Crucificação, era a resultante de to
dos os momentos da vida que levara na terra. Êle levou
consigo tudo o que havia alcançado na terra. A grande
lição da Ressurreição quanto ao que concerne a nós, foi
a prova de que a vida continua no além-túmulo.
Resta a pergunta: qual será a natureza da vida no
além-túmulo? - Isso, para o mundo, é problema muito
sério, para o qual êle não tem resposta. Ninguém sabe
qual a form a que a vida assumirá no próximo plano de
experiência. Não obstante, os místicos revelam que nossa
vida após a transição chamada morte será o resultado do
que era antes dessa transição, e que o grau de consciên
cia espiritual com que iniciaremos nossa nova experiên
cia no além será o resultante de cada parcela de conheci
mento espiritual que tenhamos assimilado em nossa exis
tência terrena.
31
O estudante que passe com notas excelentes no 2?
Ciclo do Curso Colegial, não precisará consultar um adivi
nho para saber qual será o seu aproveitamento no Curso
Superior. Provàvelmente será de alta ordem, porque o co
nhecimento e os hábitos de estudo adquiridos no Curso Se
cundário lhe servirão de base para dominar conhecimentos
superiores. Do mesmo modo, o grau de consciência espi
ritual já alcançado é o que levamos conosco no curso dos
tempos, de ano a ano e, eventualmente, para além do mo
mento dé nossa transição dêste plano para o seguinte.
Poderemos reconhecer a verdade disto sòmente se
compreendermos que o grau de realização consciente em
que nos encontramos é conseqüência do estudo e meditação
que fizem os nos anos anteriores. Graças à nossa disposi
ção de trocar alguns dos nossos prazeres e proveitos ma
teriais pelo desenvolvimento de nossa Alma - conservando
nosso pensamento fixo em Deus e habitando no esconderi
jo do Altíssimo - , é que tem havido pelo menos um certo
desenvolvimento em nossa consciência. E êste desenvolvi
mento é responsável pelo nível de harmonia, paz, felicida
de e abundância que agora estivermos manifestando e des
frutando. Pela graça de Deus nos foi dado alcançar maior
luz espiritual, e agora nos encontramos em um estado de
consciência que produz alguns frutos espirituais.
Será sempre assim. A saúde, o sucesso e os frutos que
teremos êste ano ou no próximo, podem ser medidos pelo
degrau de atenção que estamos prestando ao nosso desen
volvimento espirítual|Que insensato seria pensar que tudo
o que estamos fazendjo seja apenas tornar a vida um pouco
mais confortável poi^ dez, vinte ou trinta anos, e que isso
acabará na sepultura, que tudo isso um dia se destroçará
de encontro a um túmulo. Se dermos guarida a tal pensa
mento, isso será o que estaremos atraindo sôbre nós. *
Agora, agora, agora somos filhos de Deus, não ontem
nem amanhã, sòmente agora! Agora, «Eu e o Pai somos
um», e êste agora que estamos vivendo é uma experiência
contínua, porque o que quer que sejamos agora, o seremos
infinita e eternamente, e se somos um com o Pai agora, e
se tudo o que o Pai tem é nosso, agora, temos que viver
exclusivamente neste agora.
32
Segundo o relógio, faz mais ou menos dez minutos que
começamos a considerar todo êste assunto - «o agora».
Estamos vivendo dez minutos atrás ou estamos vivendo
agora? Não é êsse agora de dez minutos atrás o mesmo que
continua até êste momento? e não estamos agora num
grau de consciência superior àquele em que estávamos dez
minutos atrás? Dez minutos de vivência no agora do Es
pírito têm que produzir um estado de consciência mais
profundo e mais rico. Entretanto, se êsse viver consciente
não houvesse começado agora de dez minutos antes, onde
estaríamos nós dez minutos depois? Estaríamos no mesmo
nível de consciência onde estávamos dez minutos atrás;
mas não estamos. Temos mais verdade, estamos mais des
pertos, mais conscientemente vigilantes internamente, por
que começamos com o que tínhamos em casa (isto é, em
nossa consciência) dez minutos atrás e construímos sôbre
essa base.
Que foi o que construímos sôbre essa base? - O inces
sante A gora! A lembrança consciente do que somos agora,
de quem somos agora; a lembrança consciente, agora, da
natureza da vida e da lei e do Espírito.
O que nos ajuda em todos os setores de nossa exis
tência, é essa compreensão da natureza da consciência, a
compreensão de que a consciência só é consciente neste
agora, neste momento fora do que chamamos tempo. Quan
do contemplamos as árvores, verificam os que elas vivem no
agora, e não podem viver no ontem. Se houver um amanhã
para elas, êste tem que ser uma continuação do agora.
Portanto, só existe uma próxima vida para alguém oü para
alguma coisa como uma continuação do agora.
«Estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem
anjos, nem potestades, nem coisas presentes, nem futu
ras, nem potências, nem o que há nas alturas, nem nas
profundezas, nem criatura alguma será capaz de nos sepa
rar do amor de Deus, que está em Cristo, nosso Senhor.»
(Romanos 8:38,39)
Nem a vida nem a morte podem separar-nos da cons
ciência do viver no agora, na eternidade dêste momento
«vivo» ou «vivente», que é o único que devemos desejar
viver. O viver agora é uma experiência contínua que se
33
estende além dos confins da carne. A Vida Se manifesta
agora. Isso afasta de nossa consciência o senso de separa-
tividade expresso nas palavras «eu», «tu», «você», «êle»
ou «ela», e permite nos trasladarmos do finito e mortal
para o Infinito e Eterno. Quando usamos êstes pronomes
pessoais, quer consciente, subconsciente ou inconsciente
mente, nosso pensamento volta ao espaço entre o berço e a
tumba, aos dias que medeiam entre o nascimento e a mor
te, e ficamos presos às aparências finitas - mas, se viver
mos apercebidos do fato de que precisamente onde se nos
apresentam tais aparências existe somente a Consciência,
que está sempre Se expressando a Si mesma, a Vida que
está sempre Se manifestando e vivendo a Si mesma, então
teremos transcendido as form as finitas e estaremos cons
cientemente integrados no Infinito e no Eterno.
Enquanto pensarmos em nossa vida, em nosso corpo e
em nossos negócios, e em como poderemos m odificá-los ou
melhorá-los, estaremos vivendo dentro dos limites do pa
rêntese, do finito. Mas no momento que percebemos o
círculo na sua integridade, deixamos de confinar a Vida
num parêntese. Ê possível que, nesse momento, estejamos
contemplando a Vida desde o ângulo dêsse parêntese,
mas, pelo menos, estaremos testemunhando a manifesta
ção da Vida que não tem comêço e não terá fim, e assim
estamos desfazendo êste parêntese.
Nenhuma verdade espiritual correspondente à vida é
autêntica, real quando vivida dentro dêsse parêntese. Te
mos, pois, que ultrapassar essa limitação, para compre
ender que em todo momento a Consciência está se
revelando como forma. Se pensarmos na Vida como for
ma, estaremos dentro do parêntese, mas se virmos a
form a como expressão da Vida, teremos que admitir que
a Vida continua indefinidamente, e perdurará por tôda a
eternidade, mesmo que tenha de crear novas formas de
hora em hora.
Se tu, e eu, ainda pensarmos que estamos expressan
do amor, estaremos ainda nos mantendo dentro do pa
rêntese. Se, pelo contrário, compreendermos que o Amor
está Se expressando, que a Vida está Se manifestando e
formando a Si mesma, que a Consciência está desabro-
U
chando e Se revelando numa infinita multiplicidade de for
mas, então estaremos sendo levantados e removidos para
fora do parêntese, para dentro da Eternidade. A Eter
nidade nunca termina. Na Eternidade não há passado nem
futuro: A Eternidade é um contínuo agora.
Através da meditação é que devemos voltar para a
Eternidade, porque quando meditamos, abrimo-nos ao In
finito, atentos e receptivos à Sua manifestação, ao apareci
mento da Consciência a expressar-Se como forma, seja
qual fôr a form a como Se nos apresente no momento.
Quando em meditação, ainda nos achamos dentro do pa
rêntese das nossas limitações, mas, na verdade, já as es
tamos ultrapassando, atingindo as profundezas de nossa
Consciência, de onde podemos expandi-la em mais e maior
Vida, Amor, e Verdade manifestados no que parece ser
o parêntese mas que está quebrando ràpidamente os im
pedimentos dêsse parêntese. Situados, assim, no que
parece finito, estamos voltando a viver conscientemente no
Infinito, no Eterno. Êsse Eterno está funcionando sempre
agora; vivendo sempre nesse agora é que podemos estar
voltando para a Eternidade, e êste voltar-se para a Eterni
dade favorece-nos o viver na continuidade do agora.
à medida que apanhamos a verdadeira significação do
agora, e passamos a viver nêle, então repentinamente des
pertamos e compreendemos que o que havíamos estado
tentando fazer, antes disso, era viver três vidas ao mesmo
tempo - a passada, a presente e a futura. Tínhamos estado
pensando nas coisas boas do passado, e em conseguir mais
no presente e no futuro. Pudemos constatar que tudo isso
não passa de um meio de nos separarmos de Deus. So
mente vivendo no agora é que somos filhos de Deus; so
mente no agora é que o EU está conosco, e êsse EU nunca
nos deixará nem nos desamparará. O EU é o pão da vida
agora.
Então tudo volta à eternidade do agora, vivendo no
agora, e já não mais procurando prender-nos aos trapos
com que vestíamos ontem. Se pudermos desinteressar-nos
dos nossos ontens e despreocupar-nos dos nossos amanhãs
para vivermos no agora, em meditação, uma experiência
espiritual, e então continuarmos a viver na compreensão
35
de que a graça de Deus está operando agora, sempre agora,
converter-nos-emos no fermento que irá levedando a mas
sa da consciência humana até iniciar nela um processo de
crescimento consciente capaz de conduzi-la para fora do
parêntese.
36
EXPANSÃO DA CONSCIÊNCIA COMO BASE
PARA A HARMONIA DO ANO-NÔVO
37
que se acham no caminho. Há sempre a crença de que exis
te um Deus para cada religião, e cada qual considera seu
Deus o único verdadeiro. Entretanto, quando 38% das
pessoas entrevistadas nos EE.UU. estão acordes em que
existe sòmente um Deus, é porque as prevenções, o fana
tismo e as querelas religiosas já estão sendo eliminadas,
restando apenas a questão da form a do culto: se deve
entrar no templo com chapéu ou sem chapéu, se com
sapatos ou sem sapatos. Coisa sem importância. O que
importa é o reconhecimento d% que, quer sejamos ociden
tais ou orientais, brancos ou negros, judeus ou gentios, o
nosso Deus é o mesmo. Então teremos universalismo.
A compreensão de que existe sòmente um Deus muda
rá a natureza do indivíduo, mudará a natureza das nossas
relações, uma vez que terá sido eliminada a causa da
maior divergência entre os homens - a crença de que tu
tens um Deus e eu tenho outro.
As previsões de paz, para serem dignas de fé, deve
rão estar baseadas no reconhecimento de uma mudança no
estado de consciência da humanidade. Se não houver mu
dança de consciência, não poderá haver mudança efetiva
nas condições externas de nossa vida. Se na entrada de
um nôvo ano a nossa consciência continuar a mesma que
tínhamos no anterior, poderemos estar certos da repetição
das mesmas experiências dêsse ano; mas, se nossa cons
ciência se tiver aprofundado e enriquecido, então o nôvo
ano será mais rico.
38
consciência, o que equivale à declaração do Mestre, de que
« 0 reino de Deus está dentro de vós» ?* Imediatamente co
meço a perder a fé em pessoas ou coisas externas, começo
a perder meu senso de dependência em relação a elas.
Começo a compreender que todo e qualquer poder que
possa ser exercido em benefício de minha vida tem que
fluir de dentro de mim mesmo.
Até certo ponto meu olhar se volta, agora, do mundo
para o reino de Deus, para o poder, o amor e a Graça, que
sempre estão dentro de mim. Ao mesmo tempo, meu mêdo
do mundo externo - m icróbios, maus pensamentos e tôda
a sorte de forças de fora - diminui. Mesmo que estivesse
em meio a uma guerra, eu me sentiría em segurança,
porque o reino de Deus, o reino do verdadeiro poder, está
dentro de mim, e sei que ainda que caíssem mil à minha
esquerda e dez mil à minha direita, isso não podería atingir
minha morada, porque, me encontro identificado com a
realidade de Deus, que é Onipresença, Onipotência, Onis-
ciência e nela descanso, aqui onde me encontro. Na guerra
ou na paz, enfêrmo ou com saúde, em quaisquer circunstân
cias, eu estaria ancorado na presença e poder de Deus, que
constitui meu verdadeiro ser.
Estabelecido nesta consciência, ou conscientização, eu
podería profetizar que o meu ano-nôvo seria de menos con
flitos ou desavenças com o meu próximo, menos pecados
ou vícios, menos doenças, porque vivendo neste estado de
consciência, apercebido da presença e poder de Deus, o
mal não me podería influenciar. Em Sua presença, há ple
nitude de vida, há integridade e perfeição. Portanto, minha
consciência determinaria a natureza do meu ano-nôvo ou
ano-bom - não em cem por cento, porque ainda não atingi
cem por cento da Conscientização da Presença de Deus,
mas até o ponto em que atingi essa Consciência, ela pro
duzirá paz e harmonia em minha vida.
40
unindo na verdade de que Deus é o único Poder que se deve
reconhecer na existência humana.
Até o presente século, Deus tem sido apresentado prin
cipalmente como um poder existente no além. Existe a
opinião de que o bem que Deus não nos dá neste mundo
certamente nos será dado no outro. Mas a aceitação da
interferência específica de Deus em questões de saúde e
suprimento e. em nossas relações como próximo em nossa
vida de cada dia, ou*nas relações internacionais, surgiu no
século passado, e continua no atual, o que é outra evidên
cia de uma união de consciências e do reconhecimento de
que existe Deus na terra como existe Deus no céu.
Quanto mais a humanidade reconhecer que não exis
tem coisas tais como um Deus batista, um Deus episcopal,
um Deus presbiteriano, um Deus metafísico ou um Deus
ortodoxo, senão um só Deus, então mais nos aproximare
mos da união da consciência.
Quanto mais unidos nos tornarmos na compreensão
de que, por estar o reino de Deus dentro de nós, está Êle
mais próximo de nós que o próprio ar que respiramos, e
que para encontrá-Lo não precisamos ir a cidades santas,
a templos sagrados ou mesmo a homens santos, tanto
maior é o grau de consciência divina que se liberta sôbre
a terra.
41
Se Deus fôsse humano ou tivesse emoções humanas,
isso podería não ser verdade, mas o fato é que, a menos
que o indivíduo humanamente bom sinta contato com
Deus, Deus não estará mais ativo na sua vida do que na
vida de uma pessoa má. Aperceba-se o pecador de que
está na presença de Deus, e eis que desaparecerão de sua
consciência os pecados, os vícios, os males. Em outras pa
lavras: deixem-se as trevas tocar pela luz, e eis que não
haverá mais trevas. Deixem-se os males da consciência
humana tocar pelo reino de Deus, ou toquem êles êste
reino, e eis que cessarão de existir nessa consciência. Per
petuar a crença de que o mal na consciência de alguém
esteja impedindo a atividade de Deus, é realmente protelar
o dia da salvação.
O sacerdócio do Mestre não era um simples serviço de
cura de enfermos. Dedicava-se igualmente ao perdão dos
pecadores, não após séculos de castigo no inferno ou em
alguma de suas antecâmaras, nem após séculos de sofri
mento sob o jugo da lei do karma, mas no mesmo instante
em que êles se voltavam para o alto. Todo o seu ministério
era mostrar que somos salvos no momento em que nos
voltamos a Cristo, no momento que o aceitamos, que rece
bemos a Graça espiritual. Esta é a parte da nova consciên
cia que é mais difícil de atingir, porque se acha arraigada
em nós a crença de que precisamos sofrer pelos nossos pe
cados.
Esta crença faz parte do êrro da justiça estabelecida
pelo homem, o qual não poderá ser superado senão me
diante a espiritualização da consciência humana. Os cri
minosos são castigados com prisão e depois postos em li
berdade para cometerem os mesmos crimes, sem que se
procure saber se houve ínudança em sua consciência. Ê
evidente que o detento, pôsto em liberdade quando con
tinua no mesmo estado de consciência, está propenso a re
petir seus crimes.
Tempo virá em que os encarcerados não serão soltos
enquanto não tenham evidenciado acharem-se realmente
em um nôvo estado de consciência. Então não haverá peri
go em soltá-los. Enquanto isso não acontecer, sua liberda
42
de servirá, sem dúvida, para que continuem a cometer sem
pre os mesmos crimes, inúmeras vêzes.
Tudo o que nos acontece corresponde ao nosso estado
de consciência. Os 38% da população a que nos referimos,
que alcançaram o conhecimento da unicidade de Deus, ago
ra mesmo estão contribuindo efetivamente para o advento
da paz.
43
profetizar que ela não virá enquanto os buscadores da
verdade, os protestantes e os católicos não se unirem em
oração uns pelos outros. Não poderemos ter paz na terra
enquanto as seitas cristãs não puderem orar umas pelas
outras ou entenderem-se. Falamos de cristianismo, fala
mos de Cristo, da verdade e do amor e, não obstante, re
velamos ciúme, inveja e rivalidade entre nós.
A vida mística não conhece denominações, ou coisas
tais como congregações eclesiásticas, seitas e religiões.
O Espírito do Senhor Deus ou está sôbre ti ou não está.
Se está, está, quer sejas católico, protestante, judeu, mu
çulmano ou o que quer que sejas.
No Cairo, no Egito, eu tenho um amigo muçulmano
muitíssimo devoto. Certa vez êle me mandou um belíssimo
rosário de âmbar, que fôra abençoado em Meca. Nenhum
devoto sente maior amor que êste demonstrado pelo meu
amigo, ao dar essas pérolas que haviam recebido aquela
santa bênção. Nós nos compreendemos e somos de fato
bons amigos.
Eu tinha o seu enderêço comercial, mas não tinha o
de sua residência. Um domingo, cheguei ao Cairo às três
horas da madrugada. Era um daqueles dias esplêndidos,
uma das coisas a que o Cairo deve sua fama. Levantei-me
às oito horas da manhã, tomei minha primeira refeição e,
como ignorasse o enderêço da residência do amigo, não po
dería ir visitá-lo. Então, sem nada o que fazer durante
todo aquêle dia, saí a andar sem rumo e fui levado a uma
praça circular de onde partiam ruas em tôdas as direções.
Sem saber qual o caminho que deveria tomar, passei em
frente ao comêço de uma rua e entrei noutra, e ali estava
o meu amigo, de pé, encostado numa parede, orando com
um rosário de pérolas nas mãos. Dirigi-me a êle:
- Abdula!
- Goldsmith! estou orando por você.
- Que é que você quer dizer com isso de estar orando
por mim?
- Esta manhã eu disse a minha mulher que não podia
mais esperar, e que você teria que vir, porque eu estava
precisando muito de você e que eu ia a alguma parte, ia
orar para que você viesse ao Cairo.
44
Eu havia chegado precisamente àquele lugar onde êle
estava orando. Tenho a impressão de que ao meu desejo
de ir aonde quer que Deus queira me conduzir - desejo de
quem segue «O Caminho do Infinito» - associou-se espon
tâneamente a sua oração muçulmana! E nos encontramos.
É essa a natureza dessa unidade de consciência, dessa
consciência mística. Misticismo é união consciente com
Deus, o que dá a habilidade de receber comunicações dire
tamente de Deus. Em misticismo não se menciona coisa
alguma a respeito de demonstrações pessoais, raças, reli
giões, côr da pele, climas, credos. Mas não poderás cum
prir a missão expressa na mensagem do Mestre, de restau
rar a vida, e de restaurá-la mais abundantementej ou seja,
levar a qualquer um a cura e o suprimento, isto é, a ilumi
nação espiritual, se em ti próprio não tiveres êsse Algo,
êsse Cristo, que cura, redime, salva, ressuscita os mortos,
alimenta as multidões.
45
nossos atos. Se pusermos a mão no fogo, ela será queima
da. Se tomarmos veneno suficiente para nos matar, êle nos
matará. Por quê? Porque cremos que o fogo queima e que
o veneno mata, e assim colhemos os frutos de nossas cren
ças.
Deus não nos aflige com doenças. Se Deus nos casti
gasse com doenças, então nem médico, nem medicina,
nem oração, nem cirurgia jamais poderíam curar-nos. A
possibilidade de cura nos planos físico, mental e espiritual
se deve exclusivamente ao fato de a doença não ser orde
nada por Deus.
A missão do Cristo precisa ser bem compreendida, pri
meiro por nós e, então, mostrada aos outros pelo nosso
exemplo, para que o mundo pergunte: «Como se faz isto,
se nem as pessoas mais religiosas puderam fazer estas
obras?» E nossa resposta será: «Quando o Espírito do
Senhor Deus está sôbre nós, nós podemos fazer estas obras
através dêsse Espírito, porque então êsse Espírito faz as
obras através de nós.»
46
manece bem junto de ti. «Reconhecerás esta Presença, e
conhecerás o Seu poder - senti-la-ás, ouvirás a Sua voz
silenciosa e suave.»8 E então poderás dizer:
«O Espírito do Senhor Deus está sobre mim.»6 7 Agora
estou ordenado: não pelo meu intelecto, pela minha
sabedoria, pela minha fôrça, pelo meu conhecimento
ou pelo meu zelo. Agora sou um soldado sob ordens.
Tenho sôbre mim a armadura do Espírito do Senhor -
a qual é a Palavra de Deus - , não as palavras de um
livro, mas a Palavra de Deus, a qual é vida e amor.
Então saberás que podes entrar nas casas do enfêrmo,
do pobre, do moribundo ou do morto, e levar consolo, cura,
ressurreição, suprimento, ou levar-lhes tôdas as coisas de
qúe necessitem.
Jamais cometas o pecado de crer que a dor ou qual
quer circunstância seja obstáculo à busca de Deus. Ainda
que sintas dor ou discórdia de qualquer natureza, busca a
Deus - mesmo na tua dor ou através da tua dor e quan
do houveres alcançado a Consciência divina, a dor te dei
xará, e a discórdia, e a doença. Quanto mais pobre fores,
e maior a tua necessidade, mais precisarás de encontrar
Deus. Busca a Deus em primeiro lugar, e te sentirás livre.
Se tentares obter a tua liberdade em primeiro lugar, ja
mais chegarás a Deus.
Existem aqueles que não querem sacrificar uma ou
duas horas de sono. Existem aquêles que não querem re
servar dez minutos de cada hora do dia para estudo e me
ditação. Mas isso nem por um momento quer dizer que
haja alguém sincera e honestamente na busca da experiên
cia espiritual, que não possa alcançá-la. Ê bem verdade,
não poderá consegui-lo em um dia; não poderá consegui-lo
em cinco anos ou mesmo em dez anos. Isto demanda devo
ção e consagração; isto exige seriedade.
E qual é a meta que deves atingir? Certamente não é
nome ou fama, porque mesmo que tivesses tal coisa, esta
rias demasidamente ocupado para utilizá-la. A meta a al
6 - 1 R s 1 9:12.
7 - Is 6 1 :1 .
47
cançar é êste Espírito do Senhor Deus, esta Consciência.
Esta Consciência é a ,única meta da vida espiritual.
O que o Espírito do Senhor fará contigo depois que o
atingires, isso é lá com Êle. Tudo o que fizeres com o
Espírito do Senhor trabalhando em ti, o farás bem. Tudo
quanto fizeres quando o Espírito do Senhor estiver sôbre
ti, o farás melhor do que o faria qualquer outro que não
tivesse êsse Espírito sôbre si.
Não podes saber qual será o teu campo de atividade;
não podes ter a ambição de vir a ser alguma coisa extraor
dinária,' e, se a tiveres, deverás estar preparado para mu
dar a qualquer momento, porque não tens idéia do que o
Espírito do Senhor te fará quando descer sôbre ti.
Quando fui tocado até o ponto em que me foi dado
escrever e publicar pela primeira vez «O Caminho do Infi
nito», eu havia feito um bonito plano de vida: algumas
horas por dia no meu gabinete de trabalho, e os longos fins
de semana para estudo e meditação. Era maravilhoso, e de
fato aconteceu - durante três semanas! Felizmente sou
flexível. Se não o fôsse, o Espírito me havería quebrado,
pois com Êle, ou vai, ou racha. Se trabalhas com Êle, Êle
te sustenta, mas se vais contra Êle, Êle te arrebenta.
Não se exige mais do que uma única demonstração
daqueles que desejam tornar-se discípulos: a demonstra
ção da Presença. Procura sentir essa Presença dentro, ao
redor ou perto de ti.
E então, quando a tiveres contigo, estarás seguindo
espontaneamente esta recomendação do Mestre: «Não an
deis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de co
mer, nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de ves
tir.»8 De modo algum te preocuparás com a tua vida nem
com coisa alguma. O Espírito, atuando sôbre ti, tornar-se-á
o teu pão de cada dia, a oportunidade para os teus negócios,
o teu talento, a tua capacidade, a tua habilidade, o teu vi
gor físico. Existe sòmente Êle, e êsse «Êle» é a tua de
monstração. Esta é a tua meta.
Êsse Cristo - Essência ou Substância de tôdas as for
mas - revela-se com tudo o que é necessário em tua expe
8 - Jo 8:58.
48
riência, quer seja um lar, meios de transportes, saúde ou
seja o que fôr.
Isto é misticismo. É a plenitude do Ser em Deus. O
Cristo de Deus, o Espírito de Deus dentro de ti, e o Espírito
Santo, constituem o elo entre o Pai e o Filho.
Vida mística é vida edificada no Espírito de Deus.
A vida do aspirante à espiritualidade é uma vida devotada
ao estudo, à meditação e à comunhão com aquêles que lhe
passaram à frente na senda, à comunhão com aquêles
através dos quais poderá receber esclarecimentos até que
chegue o momento em que o Espírito do Senhor Deus entre
nêle, e êle então se veja ordenado. Daí por diante, cada
um dependerá de si mesmo exclusivamente.
Com isto por fundação' é que edificamos a consciência
que nos permitirá viver as vinte e quatro horas de cada
dia e os sete dias de cada semana apercebidos da presença
da Divindade: o divino Poder, a divina Graça, dentro de
nosso próprio ser. Isto é o que finalmente irá libertar o
mundo, e não uma doutrina, uma religião ou um mestre.
Não tenhas dúvida de que se algum mestre pudesse liber
tar o mundo, Buda ou Jesus, um ou outro, ou ambos, já
o teriam libertado há muito tempo, mas nem um nem
outro o libertou, e nenhum mestre jamais o libertará.
49
Posso libertar-vos pela compreensão de que o reino da
Graça está operando dentro de cada um de vós. Quer o
saibas, ou não, neste momento estou afirmando, conscien
temente, em vosso benefício, a verdade de que o reino da
Graça está operando dentro de vós. Ela não permitirá que
mal algum se aproxime de vossa morada. Ela não permiti
rá que se aproxime de vós o pecado, o vício, a doença ou
a desumanidade do homem para com o homem.»
Ao invés de nos sentirmos responsáveis pelas pessoas
do mundo, no sentido de nos tornarmos caridosos, nós
olhamos para êste mundo com um sorriso, murmurando
silenciosamente: «Obrigado, Pai, por me haveres revelado
que o reino da Graça está operando na consciência de ca
da indivíduo.» Assim como me tornei consciente de que o
reino da Graça está operando dentro de mim, cada indi
víduo, por sua vez, se aperceberá de que o reino da Graça
está operando dentro dêle.
Assim é como se pode assegurar a realização de um
ano nôvo, pleno de esperanças. Nada mais o conseguirá.
Jamais virá a paz sôbre a terra através de armamen
tos e guerras; a paz nunca virá por meio de pactos entre
nações, pois sempre tem havido acordos entre nações
«desde antes que Abraão existisse.»9 Nenhuma nação os
respeitou, mesmo na época atual, senão somente até o mo
mento em que serviram aos seus desígnios. Tôdas as na
ções têm rompido acôrdos que assinaram quando corres
pondiam aos seus interêsses. Jamais haverá paz na base
de pactos. A paz virá quando houver amor nos corações
dos homens. Mas somente uma coisa trará essa paz ao
coração da humanidade: é o viver pela Graça divina, que
opera dentro de cada um.
A paz não virá pela gratidão. Nenhuma nação será
grata pelo auxílio que outra lhe der. Não, as nações nunca
tiveram e jamais terão o verdadeiro sentimento de grati
dão, da mesma form a como é muito raro encontrar-se êsse
sentimento naqueles a quem ajudamos do ponto de vista
humano, e se houver, será de curta duração. Só poderá
haver paz pela compreensão de uma Graça divina que
opera dentro da consciência de cada um de nós. Esta
Graça te trará paz na medida em que a perceberes dentro
50
de ti; e, quando começamos a perceber sua atuação na
consciência da humanidade, começaremos proporcional
mente em nós a despertar o Espírito-Crístico na huma
nidade.
51
os homens do mundo parecem julgar necessárias. Conhe
cendo-se apenas como sêres físicos, êles não sabem como
se pode visitar um enfêrmo ou um prisioneiro a não ser
pessoalmente. No entanto, compreendendo a natureza da
Graça, podemos, sem sair de casa, visitar os pecadores, os
doentes e os encarcerados e libertá-los de seus males. A
natureza incorpórea, ou espiritual, de nosso ser, permite-
nos ir em espírito à presença dos enfermos, dos pecadores
e dos detentos. O que os liberta de sua enfermidade é o
Espírito, e não o nosso corpo físico. Levar nosso corpo
físico até ao doente ou encarcerado não o liberta. Ê o que
está incorporado em nossa consciência, que o liberta. Esta
a razão por que a visita física é o que menos importa. A
visita espiritual é uma ocupação de vinte e quatro horas
por dia.
A EXPANSÃO DA CONSCIÊNCIA
TRAZ A REALIZAÇÃO
Nosso estado de consciência, ou conscientização, é o
que determina a natureza da nossa experiência terrena e
do nôvo ano; a natureza do que temos dentro de nossa
consciência, do que conhecemos conscientemente dentro
de nós, e do que mantemos e conservamos em nossa cons
ciência e do que estamos perdendo dentro de nós. A ver
dade que conhecemos tom a-se lei para a nossa experiên
cia terrena. A verdade que conhecemos torna-se lei para
o nosso próximo. Todo êste conhecimento da verdade re
presenta aprofundamento e enriquecimento de nossa cons
cientização individual.
À medida que nossa consciência enriquece, o mundo
também enriquece, porque «Eu, quando Eu fôr levanta
do»,10 atrairei, até certo ponto, o mundo todo. Eu, como
indivíduo, talvez não possa elevá-lo mais do que um milí
metro, mas, quando somos cem indivíduos, podemos elevá-
lo cem milímetros, e, quando somos mil, podemos levantá-
lo a uma altura imensurável, e provàvelmente poderemos
até multiplicá-la, graças à nossa unidade ou união das
nossas consciências.
10 - Jo 12:32.
52
Até o ponto que nos puderem fazer crer que alguém
neste mundo tem poder para nos dar ou nos tirar alguma
coisa, nós dependeremos dêsse alguém ou o temeremos.
Mas desde o instante em que compreendemos que somente
a Graça divina nos alimenta, nos cura, supre nossas neces
sidades, nos perdoa, atingiremos, nessa medida, nossa li
berdade em Cristo.
A Graça divina garante-nos alimento que o mundo não
conhece. A Graça divina garante-nos nosso pão. Assim
não precisaremos preocupar-nos com a vida enquanto
andamos nesta terra. Se necessário, poderemos, durante
algum tempo, suportar pobreza, ou pecado, ou doença. Po
rém, sempre, enquanto estamos envolvidos em pecado,
doença ou pobreza, não deixará de existir dentro de nós
êste Filho de Deus, esta Graça divina, e um dia ela rom
perá nossos grilhões.
Muitos têm tido esta revelação quando enfermos, e
estranharam que seus males não houvessem desaparecido
no dia seguinte. Permanece nesta Palavra, permanece
n’Ela, vive n’Ela: «Uma comida tenho para comer, que vós
não conheceis».11 Esta é a mensagem do Cristo: temos
comida, vinho, água e ressurreição. Temos dentro de nós
uma Presença que foi posta lá por Deus, para que tivésse
mos vida, e para que a tivéssemos com mais abundância.
Se vivemos desde a manhã até à noite e desde a noite até
à manhã, nesta conscientização, romper-se-â a crosta da de
monstração humana, e surgirá a demonstração espiritual.
E somente desta form a é que poderemos estar seguros de
um Ano-Nôvo feliz, e permanente e de uma gloriosa expe
riência terrena.
Cordialmente,
(a) Joel
11 - Jo 4:32.
53
lampejo da Verdade suficientemente profundo para mu-
dar-lhe a consciência e, com isso, mudar tôda a concepção
da vida. Quando isto acontece, desponta um nôvo ano. Se,
pelo contrário, ò calendário lhe diz que estamos entrando
em «1960», ou em «1970», ou em «1980», é porque êle ainda
está vivendo no ano velho, e seu mundo é o mundo velho e
gasto.»
Com a percepção direta da Verdade, tudo se acelera
e renova. È o Espírito que renova tôdas as coisas. Em
tôdas as horas de meditação, estudo e prática, nossa aten
ção fixa-se num foco interno, numa apercepção mais pro
funda das coisas do Espírito, que assume a direção de
nossa vida e transforma a nossa experiência. Estarás por
ventura concorrendo nesta hora, neste dia, nesta semana,
neste mês e neste ano, com a dedicação necessária para
que se produza tal transform ação? Sòmente tu poderás
responder a esta pergunta. E da tua resposta depende a
harmonia dos dias que te aguardam.
Cordialmente,
(a) Emma
54
VIVENDO ICIIM DOS PIRES
DE DPOSIOS
(D o livro «A Parenthesis In E ternity», págs. 29^-303)
55
Entretanto, se quisermos viver espiritualmente, precisa^
mo-nos compenetrar de que o objetivo do ministério espi
ritual não é mudar doença em saúde. A saúde é temporária,
e a que temos hoje poderá converter-se em doença
amanhã, na próxima semana ou no próximo ano. A fina
lidade do ministério espiritual não é condenar püblica-
mente o mal e tentar fazer o bem. Seu objetivo é, antes
de nada, ensinar-nos a desprezar as aparências boas ou
más e manter-nos atentos ao Caminho do Meio, compe
netrados de que precisamente onde parece encontrar-se
o bem ou o mal, o que existe é a realidade do Espírito.
A má aparência de hoje poderá converter-se em boa
aparência amanhã e, como bem sabemos, tôda boa apa
rência pode logo tornar-se má. Um dia de paz na terra
pode ser apenas a pausa momentânea que precede outra
guerra; a saúde perfeita de hoje não passa de uma con
dição temporária que os micróbios ou o envelhecimento
poderão mudar. Vistos humanamente, estamos como que
num carrossel, sempre a rodar, rodar, rodar. Estamos
sempre a oscilar como um pêndulo, entre a doença e a
saúde, entre a pobreza e a riqueza, entre a guerra e a
paz, para trás e para a frente, sem chegarmos a parte
alguma.
Mas no Meu reino não há pares de opostos. Meu reino
é um reino espiritual, onde nada é tocado por influências
contraditórias. Mèu reino é dirigido e protegido pelo divino
Princípio, ou Deus, que a tudo mantém e sustenta. No Meu
reino não há trevas. Esta declaração parece dar a enten
der que as trevas sejam alguma coisa má. No entanto,
quando alcançamos o Terceiro Grau, teremos chegado à
estatura espiritual do Salmista, que disse: «as trevas e a
luz são a mesma coisa para Ti».
Trevas e luz são uma coisa só. Aos olhos de Deus não
há diferença entre elas. No reino espiritual não há luz
nem trevas: há somente Espírito, uma Luz que não tem
semelhança alguma com o que conhecemos como luz.
Luz, em sentido espiritual, é consciência iluminada,
não por uma luz, mas pela Sabedoria. A expressão «Eu
era cego, e agora vejo» não se refere à cegueira ou falta de
visão fífíça . Ê qm modo figurado de declarar que estáva
56
mos na ignorância mas agora alcançamos a Sabedoria.
Freqüentemente se representa a ignorância por trevas e a
sabedoria por luz, mas, na realidade, não há trevas nem
luz para aquêles que vivem acima dos opostos.
Requerem-se meses, e às vêzes anos de experiência
espiritual para se compreender que no Meu reino trevas e
luz são a mesma coisa, e que neste reino não procuramos
mudar as trevas em luz, ou livrar-nos das trevas para
obtermos a luz. Trevas e luz são uma coisa só.
Alcançar esta concepção representa grande salto para
qualquer pesquisador, mas para o ignorante da sabedoria
espiritual e não treinado em metafísica e misticismo, é
salto, ainda maior, - um salto quase impossível - conce
ber ou aceitar a idéia que doença e saúde são a mesma
coisa. Na realidade, não passam dos extremos opostos da
mesma vara. Quando individualmente podemos afirmar
com convicção que «pelo que me toca, trevas, ou luz, dá
tudo no mesmo. Não estou tentando livrar-me de uma
para obter a outra: estou procurando compreender so
mente a sabedoria espiritual, a verdade espiritual, a divina
Presença» - então é que começamos a compreender a na
tureza espiritual dêste Universo.
É quando tentamos livrar-nos de algo ou procuramos
conseguir algo, que abandonamos o mundo espiritual em
troca do mundo das concepções humanas. Nem doença nem
saúde exercem qualquer papel na vida espiritual: tudo o
que existe na vida espiritual é Deus, o Espírito, infinita e
eternamente manifesto como ser individual incorpóreo.
O ser incorpóreo não pode ser conhecido por meio dos
sentidos da vista, da audição, do gôsto, do tato ou do
olfato. Pode ser experimentado somente em nossa cons
ciência interna, mas quando compreendemos e percebemos
diretamente que trevas e luz são a mesma coisa. E o que é
essa coisa? - Ilusão mortal, maya, aparência. Tudo o que
percebemos através dos sentidos - doença e pobreza hoje,
ou saúde e riqueza amanhã - , é ilusão. Não veremos a
Realidade enquanto não contemplarmos o ser espiritual,
incorpóreo, através de nosso sentido espiritual.
Olhemos para êste mundo e perguntemos a nós mes-
moã: «O qiie lhè têm aproveitado tddas as guerras?» Se a
57
resposta fô r: «Nada» - será porque estaremos começando
a alcançar a meta. espiritual. Em correlação com esta per
gunta, deverá ocorrer-nos uma outra: «O que têm aprovei
tado ao mundo todos os dias em que não tem havido
guerra»? - E a resposta deverá ser: «Nada». Espiritual
mente, o que estamos buscando não é a guerra nem a paz. Ê
o govêrno de Deus, o govêrno espiritual, o govêrno divino.
E onde atuará êsse govêrno? - Em nossa consciência. É
onde êle tem que ser conscientizado.
Não importa quantas soluções se ofereçam aos pro
blemas do mundo de hoje, porque amanhã êles aparecerão
sob novas form as ainda mais graves. Êste vaivém só aca
bará quando percebermos a natureza do poder espiritual
e compreendermos que êste nada tem a ver com as boas
condições em que nos sintamos hoje e nem com as más
condições em que estejamos amanhã. A manifestação dês-
te poder, em nós, está relacionada com a compreensão que
tenhamos de que não devemos mudar as condições da ma
téria, mas compreender que o Espírito é onipresente; que
não devemos tentar converter doença em saúde ou guerra
em paz: o que devemos fazer é buscar o govêrno de Deus,
a revelação e compreensão íntima de Deus como nossa
consciência.
Isto muda completamente nossa maneira de viver.
Sob a velha maneira de viver, o melhor que podíamos es
perar era substituir alguma coisa má por outra boa, ou
tom ar positiva alguma condição negativa; e mesmo assim
estava sempre presente o mêdo de que a coisa boa ou a con
dição positiva alcançada não fôsse permanente: estáva
mos sempre lutando por aquêles momentos de saúde, paz
e harmonia.
A revelação e compreensão da unicidade do Poder
ajuda-nos a alcançar aquêle nível de consciência em que
já não procuramos converter o estado negativo em positi
vo. Quando nos conscientizamos da existência de um só
poder, cessamos não só de procurar podêres materiais para
prover às nossas necessidades, mas também de andar em
busca de podêres espirituais.
Se existe um só poder, então nada há sôbre o quê,
contra o quê ou a favor do quê, possamos usá-lo. Que
58
quer isto dizer, em essência? Que significa alcançar um
nível de consciência em que se abandona todo desejo de
empregar Deus como uma fôrça? Não será isto liberar a
Deus de responsabilidade? Não será exatamente isto o que
temos que aprender a fazer?
Deus está em permanente atividade. Deus é a influên
cia criadora, sustentadora e mantenedora do Universo es
piritual. Deus o governa e governará pela Graça, não a
partir de amanhã ou da próxima semana. A Graça divina
tem estado em ação de eternidade em eternidade, e conti
nuará de eternidade a eternidade, insubornável e insusce
tível às influências das nossas orações ou súplicas ou ao
que quer que façamos para persuadi-Lo a fazer Sua obra de
acordo com o nosso parecer. Deus é, e esta afirmação en
cerra a verdade de que Êle está eternamente ocupado com
Sua tarefa, a tarefa de Ser Deus.
O que_nos incumbe, na oração e meditação, é «çonhe-
cer a verdade» para que a verdade^osTiberte; è conhe
cer a verdade de que exisfêlãòmenfe üm poder; conhecer a
verdade .de que «Nao teriaS' boder àlsrum sôbre mim, se,
não te fôsse dàdCLfloalto»;1 conhecer a y^p3flde_de^ê7no
reino de Deus, luz e trevas san am esm a coisa- Esta firme"
e constante dedicação àl^rnpreerisãodà verdade, desenvol
verá um estado de consciência que não oscila entre o bem
e o mal: um estado de consciência que, pelo menos com
certa estabilidade, adere ao caminho e à realização espiri
tuais.
Deus é, mas, para sabermos espiritualmente que Deus
é, temos que nos elevar acima do tempo e do espaço. O
que Deus é, é de eternidade a eternidade. Portanto, coisa
alguma pode estar fora da jurisdição de Deus; coisa algu
ma jamais poderá funcionar mal no reino de Deus. Preci
samos substituir a base material do nosso estado de cons
ciência, em que esta funciona sob a crença em dois podê-
res, pelo apoio da essência de Deus.
No reino de Deus não há nada de natureza mutável,
coisa alguma de natureza discordante ou desarmoniosa,
nada que precise ser curado ou aperfeiçoado. Em tal estado
1 - Jo 1 9 :1 1 .
59
de consciência, já não somos hipnotizados por aparências,
nem compelidos a tentar insistentemente mudar o mal em
bem, ou a procurar apegar-nos a qualquer coisa de bom
aspecto, seja ela o que fôr. Isto de modo nenhum afeta
nossa vida externa. Quando atingimos esta realização a
nossa vida se tom a mais harmoniosa, já não nos preocupa
mos com a mutação das aparências«mu£ antes eram más e
agora são boas, e sim com a realidade espiritual que des
ponta no campo da nossa consciência.
Algumas vêzes os estudantes da ciência espiritual não
se sentem felizes com o desinterêsse pelas coisas do mundo,
que surge quando prosseguem na busca. Sentem-se como
se estivessem perdendo algo de valor. Seus tesouros de
arte, seus animais de estimação e os velhos amigos já não
lhes são tão importantes. Passam a encarar o mundo -
o corpo e mesmo a vida - mais objetivamente. Perdem
muitas das emoções que constituem grande parte da vida
humana.
Enquanto avançam pelo caminho espiritual, são reo-
rientados quanto aos valores humanos, e assim não so
frem muito com os aspectos negativos da vida humana,
mas também não se alegram tanto com as coisas boas,
como outrora. As emoções ou sentimentos mundanos já
não entram tanto em sua vida de rotina. Em compensação,
há vantagens que ultrapassam em muito as perdas.
Quando nos tornamos espectadores, não olhamos
a vida com ansiedade pelo que esteja para acontecer. Con
templamos o que Deus está fazendo. No caminho espiri
tual, ao acordar pela manhã o espectador se compenetra
de que «Êste é o dia de Deus, êste é o dia que o Senhor fêz»,
e pergunta-se a si mesmo: «Que experiências me trará
hoje a atividade de Deus?»
Nesta atitude objetiva, isenta de apêgo a coisas ma
teriais, passamos o dia inteiro na expectativa de algo
prestes a acontecer, na certeza de que o que quer que acon
teça nesta hora, na próxima ou depois, terá sido produzido
por Deus, será o efeito da Sua atividade. Começamos então
a conhecer por experiência própria certo estado de har
monia profunda, imutável, em que os efeitos externos já
não nos interessam como em outros tempos: chegamos
60
àquele nível de consciência que nos permite discernir espi-
ritualmente a natureza ilusória das aparências boas ou
más.
O interêsse pelas aparências favorece e perpetua sua
influência hipnótica. Pela manhã, ao meio-dia e à noite,
precisamos afirmar intimamente nosso equilíbrio espiri
tual, baseados na compreensão de que no reino de Deus
não existe bem nem mal, mas somente o Espírito, e que o
bem e o mal que aparecem no reino dêste mundo são
igualmente ilusórios. Se desejarmos efetuar uma demons
tração espiritual da natureza do Cristo, ou seja de natu
reza cristã, não podemos preocupar-nos com aparências
transitórias, mas precisamos apegar-nos à verdade espi
ritual, interna.
Embora incorpóreo e invisível à vista humana, o reino
de Deus é real e tangível para aquêles que possuem visão
espiritual para contemplá-lo. A individualidade espiritual,
inerente ao Reino de Deus, não pode ser vista a não ser
pela percepção espiritual, no estado da consciência da
quarta dimensão, a Consciência - Cristo. Não podemos ver
a identidade espiritual com nossos olhos físicos, mas, as
sim como Deus pode olhar a luz e as trevas e vê-las como
uma só coisa, também os espiritualmente iluminados po
dem olhar para além das boas ou más condições humanas
e contemplar as qualidades do Cristo.
De acordo com o ensino místico, nós não temos direito
de olhar para um ser humano com o intuito de mudar o mal
em bem, a doença em saúde ou a pobreza em abundância.
O que devemos fazer - e é imperioso que o façamos -
é olhar para além das aparências e nos compenetrarmos
de que:
Embora invisível aos meus olhos humanos, êste é o
Cristo, o filho de Deus. Não pretendo mudá-lo, melho-
rá-lo, reform á-lo. Olho para além da aparência e me
lembro de que embora não possa vê-la, o que aqui está
é identidade espiritual.
Para aquêles que tenham sido treinados para perceber
a irrealidade das aparências errôneas, isso talvez não pare
ça muito difícil, mas a razão por que a maioria de nós
61
não alcança maior êxito nessas tentativas de ver além
das aparências, é o fato de não aplicarem êste princípio
quando vêem as boas aparências humanas. Por que nos
contentarmos com as aparências de saúde, riqueza, suces
so e felicidade, se todo o quadro é suscetível de inversão de
um momento para outro?
Não é fácil a qualquer um, nem mesmo ao buscador
espiritual, ser capaz de olhar para si mesmo, para os ami
gos ou para os parentes, quando êles gozam da melhor
saúde e são ricos e puros, e compenetrar-se de que tudo
isto é aparência, porque a Realidade, o Cristo, o filho espi
ritual de Deus, é invisível aos olhos dos humanos. Contudo,
quem fôr capaz disto, estará sempre convivendo com a
individualidade espiritual de seus amigos, parentes e estu
dantes. É o próprio amor divino, fluindo através dêle, o que
lhe estará fechando os olhos às aparências e mostrando-lhe
a Alma de cada pessoa, tanto das boas como das más -
a mesma Alma pura, que é Deus.
 medida que pudermos estar neste mundo sem per
tencermos a êle - em que pudermos estar nêle e, não
obstante, não sermos fascinados pela identidade humana
das pessoas, e que compreendermos que tôda pessoa é real
mente a Alma de Deus manifestada nesta terra - estare
mos vivendo no «Meu reino». Isso exige visão interna de
senvolvida, capaz de perceber a presença de Deus em cada
pessoa.
É surpreendente como ocorrem milagres quando aban
donamos tôdas as tentativas de transmutar pessoas más
em boas ou enfêrmas em sadias, e começamos a viver
nesta conscientização:
Senhor, revela-me Tua Individualidade espiritual; re
vela-me Teu Filho espiritual; mostra-me o filho de
Deus em cada indivíduo.
Com essa visão, começamos a perceber e sentir a filia
ção espiritual de todos aquêles com quem convivemos, e
êles passam a agir diferentemente com relação a nós, e o
mesmo acontece conosco com relação a êles, porque já não
os tratamos como julgávamos que merecessem ser trata
dos. A ninguém condenamos, porque então sabemos que
62
o mal que alguém faça será por ignorância quanto à sua
divina filiação. Os crimes contra a sociedade e o indivíduo,
tais como a mentira, o roubo, o embuste, a fraude, só po
dem sèr cometidos enquanto pensamos que tu és tu e eu
sou eu. Tudo isto cessa no momento em que descobrimos
que somos todos irmãos, filhos do mesmo Pai, que perten
cémos à mesma família e somos da mesma casa. De ime
diato isso torna o «mundo» menos real aos nossos olhos, e
mais real o «Meu reino», revelando o universo como um
reino espiritual, onde nada precisa ser conseguido pela
fôrça.
Eis a vida m ística: não nos rejubilamos com a boa
aparência humana, mas olhamos para além do bem e do
mal, para além das aparências humanas, e contemplamos
a natureza do Cristo. Podemos fazer isto. Todos podemos
fazê-lo. Ê verdade que isto requer alguma disciplina, algum
treino, porque o que estamos procurando fazer é superar os
efeitos de centenas de gerações daqueles que nos deixaram
como herança a crença em dois podêres. Estamos pondo
de lado tanto o bem como o mal, para contemplar o que
é o Espírito; estamos pondo de lado a saúde e a doença, a
fim de nos identificarmos com o Cristo - nossa individua
lidade permanente em Deus.
Somente nossa individualidade espiritual de filhos de
Deus nos permite comer do «manjar» que o mundo não
conhece. Não é por sermos boas criaturas humanas que
qualquer de nós pode proclamar-se «co-herdeiro com Cris
to», porque as boas qualidades humanas estão tão longe
do céu quanto as más. Os escribas e fariseus eram o que
havia de melhor entre os hebreus, eram os mais religiosos,
os maiores adoradores do Deus único, os maiores proteto
res do templo. Ser bons, era a sua obsessão. Não obstante,
o Mestre disse aos seus seguidores que a bondade dêles
precisava transcender a dos escribas e fariseus. Isso, hu
manamente, teria sido quase impossível, porque êstes, prà-
ticamente, já haviam atingido a perfeição.
Verdadeira bondade, depende de nossa capacidade de
compreender que o Reino de Deus nos pertence em vir
tude de nossa identidade espiritual, e não de nossa bondade
humana. Isso implica em sermos bastante corajosos para
63
lançar fora os pensamentos relacionados com tôdas as
nossas maldades do passado e do presente e, ao mesmo
tempo, todos os pensamentos referentes à nossa bondade
- e não em condenarmos o mal que tenhamos feito e to
marmos a nosso crédito o bem que tenhamos praticado
e afirmar somente a nossa identidade espiritual em Deus.
Nesta ligação com Deus, descobriremos que somos um
com Êle, que somos co-herdeiros com Cristo de tôdas as
riquezas celestes. Mas enquanto pensarmos que os nossos
maus caminhos estejam nos mantendo afastados dessas
riquezas, ou que o bem que pratiquemos esteja nos aproxi
mando delas, estaremos em caminho errado.
Tão longe da Luz está o que crê que algum pecado,
alguma desgraça temporária ou algum êrro por ação ou
omissão o separa de Deus, quanto aquêle que acredita que
sua bondade humana lhe esteja granjeando a graça de
Deus. Ninguém alcança a graça de Deus apenas por sua
bondade humana: a graça de Deus se alcança pela realiza
ção da identidade espiritual. Em reconhecendo nossa iden
tidade espiritual, seremos espiritualmente bons sob todos
os aspectos. Não há meios de se saber como essa bondade
corresponde à bondade humana, mas a integridade espiri
tual vem sòmente através de nossa conexão com Deus, não
como conseqüência de nossas boas qualidades ou de nos
sos sacrifícios ou esforços pessoais.
Nossas experiências humanas do passado e do pre
sente, tanto boas como más, constituem o sonho mortal,
mas, em nossa Alma, somos o Ser-de-Deus, isto é, somos
criaturas divinas; em nossa Luz interna, somos filhos de
Deus; nas profundezas de nosso ser interno, somos um
com Deus; e temos um «manjar» que, embora possamos
não ter conquistado ou merecido, recebemos por herança
divina.
Sabemos em nosso íntimo que muitos de nós temos re
cebido ou receberemos mais do que merecemos. E ainda
receberemos muito mais em nossa vida espiritual, quando
virmos a bondade de Deus derramar-se sôbre nós mais
depressa do que podemos reconhecê-la, e compreendermos
que nada em nossa vida nos dá direito a isto, que nos
64
vem como graça de Deus, da qual nem a vida nem a
morte nos pode separar.
Em lugar algum onde possamos ir, estaremos priva
dos da proteção de Deus, fora de Sua jurisdição, de Sua
vida ou de Sua lei. Tanto faz vivermos neste ou no outro
lado do véu, isso é de importância secundária, exceto para
aquelas poucas pessoas que acharão falta de nossa pre
sença física. Mas logo que êsse estado emocional desapa
rece, tudo volta ao normal, porque, na verdade, nada muda,
nada se perde, ninguém foi ferido; pois em Deus, vida e
morte são a mesma coisa. São aparências mortais, ilusões
humanas. A compreensão de que ambas são da mesma
substância, urdidura feita do nada, e que não há diferença
entre uma e outra, nos permite discernir o significado da
imortalidade.
A imortalidade nada tem a ver com vida ou morte fí
sicas, porque vida e morte são quadros ilusórios, enquanto
que a imortalidade, ou qualidade do que é eterno, incorpó-
reo, é o espiritualmente real. Vida e morte são duas fases
características da ilusão humana, assim como doença e
saúde, pobreza e riqueza, pecado e pureza.
No caminho espiritual, temos que superar o mal e o
bem, e embora seja verdade que em nosso primeiro estágio
procuramos mudar a doença em saúde, à medida que avan
çamos, nos vamos identificando conscientemente com o
reino e a presença de Deus como Espírito; vamos compre
endendo que temos de nos elevar acima tanto da doença
quanto da saúde. Para a consciência iluminada, trevas e
luz são a mesma coisa.
65
paz
( Cap. II do livro «Consciousnesa Unfolding» )
66
de todo o nosso trabalho é esta: Deus ê, Deus está presen
te; deixemos, pois, que Deus trabalhe em nós e por meio
de nós na execução de Seu plano. A o invés de ficares a
íepetir Deus, Deus, Deus, deixa que Êle realize Sua obra,
visto que Êle é.
«A minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o
mundo».12O mundo pode dar-nos certa espécie de paz. Pode
proporcionar-nos um lugar sem ruídos, um sítio tranqüilo
ou um passeio marítimo. Esta é a paz que o mundo nos
pode oferecer. Aquêles que viajam para lugares distantes,
vão consigo mesmos e regressam a seus lares consigo
mesmos. Não podem fugir de si mesmos. Quem tem pro
blemas, os leva consigo aonde quer que vá.
Devemos abandonar tais esforços inúteis. A mente
humana não é o Cristo. Há muitos anos que se vêm fa
zendo esforços mentais em tentativas de curas. Entretanto,
diz a Bíblia: «Os meus pensamentos não são os vossos
pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos».3
O que adianta tudo o que temos pensado? A verdade é que
a mente humana não desempenha nenhum papel na rea
lização da cura. O trabalho de cura espiritual é feito
exclusivamente por Cristo. Cura espiritual é aquela que
resulta da auto-realização consciente em Cristo, não de
argumentos mentais, nem do emprêgo de meios externos,
como a medicina e a cirurgia. «A minha paz vos dou». Nes
sa paz «que excede todo o entendimento», nessa quietude,
nesse silêncio é que o poder de Deus se manifesta e executa
o trabalho.
Muitos nos procuram parecendo querer somente «pães
e peixes», ao invés de buscarem a Deus por Deus mesmo.
Não devemos preocupar-nos com isto. Não nos devemos
preocupar com o que parecem querer. Continuemos «can
tando nossa canção». Os que puderem, a ouvirão; os outros
talvez ainda não estejam aptos a ouvi-la. Constatarás que
sempre se operam mais curas ante um sorriso, ante o
simples reconhecimento da presença de Deus, do que por
esforços mentais. E essas curas são mais autênticas, mais
1 - Jo 1 4 :2 7 .
2 - Is 5 5 :8 .
67
suaves e duradouras, porque resultam da descida do Espí
rito Santo, ou seja, do próprio Cristo, ao penetrar na
consciência humana e banir as crenças errôneas dos sen
tidos físicos.
68
dagar se são acidentais, se acontecem por acaso, ou se
revelam a existência de um princípio que as determine.
Estudando e observando meticulosamente tudo o que pu
desse contribuir para a descoberta do segredo, aprendí
que a cura espiritual não é produzida pela mente humana,
mas por um estado de consciência crístico. A consciência
crística é o entendimento de que a doença não existe como
realidade e não deve ser combatida. A o «esquecer» a doen
ça, o curador mostra que não a leva muito a sério.
Aquêle em que a luz de Cristo se evidencia na realiza
ção de curas não faz do êrro uma realidade, pois não o
combate; pelo contrário, reconhece pacificamente o fato
de que Deus constitui a vida do ser individual, conscienti
za-se de que a cura não se efetua «por fôrça nem poder,
mas pelo Espírito».45Se iima só pessoa sentada em silêncio
numa sala, em estado de receptividade, pode fazer com
que o silêncio ou paz que ela experimenta seja sentida por
todos os que se encontrem dentro da mesma sala, qual não
será a repercussão do grande poder de silêncio mantido por
todos os pequenos grupos de pessoas que estejam em me
ditação, espalhados por todo o mundo?
Se a tua consciência estiver permeada pelo silêncio,
pela paz, estará impregnada do poder de cura. A realiza
ção da cura depende do estado de consciência do curador.
Essa consciência é o que determina a cura daqueles que
recorrem a ti, não que êste poder seja tua propriedade
pessoal. O poder de cura é a presença de Deus, o Espírito,
manifestando-Se como consciência individual. Tu não tens
êste poder, a menos que tua consciência esteja unida ao
Amor divino, à paz «que excede todo o entendimento».8
Se quiseres entrar para o mundo dos negócios, se
quiseres ser bem sucedido comprando e vendendo alguma
coisa ou realizando qualquer espécie de transação, procede
como no trabalho de cura: começa com a consciência em
paz. Não inicies nada com mêdo, dúvida ou preocupações,
pois do contrário, estarás transmitindo tal estado de ser
negativo àqueles com quem negociares, e êles também o
4 - Z c 4 :6 .
5 - F p 4 :7 .
69
sentirão. Vai com êste silêncio em teu coração, vai em
estado de paz. Se necessário, antes de fazeres tua visita
de negócio, isola-te em algum lugar, por um ou dois minu
tos, senta-te e obtém essa sensação de paz, antes de saíres
de casa. Observa o que essa sensação de paz já fêz por ti,
e atenta no que ainda fará. A paz na consciência é um es
tado de receptividade.
PA Z: A EXPERIÊNCIA DE DEUS
Finalmente, vamos aprender o maior de todos os
segredos, o segrêdo que até agora muito pouca gente co
nhece: o que é Deus. Se estudarmos as Escrituras, se
estudarmos as religiões e filosofias do mundo, provàvel-
mente chegaremos à conclusão de que Deus é alguma coisa
que está muito distante de nós, algo com que pouquíssimas
vêzes se toma contato, algo que pouquíssimas vêzes res
ponde às nossas preces de acôrdo com os nossos desejos,
necessidades e vontades. Por não saber o que é Deus, con
tinua o homem, geração após geração, orando pela paz
do mundo e não conseguindo paz, orando pela prosperida
de, pela vida, pela saúde e imortalidade individuais e não
as conseguindo.
Se somos cristãos, devemos saber pelo menos onde
Deus está, porque Jesus nos disse que «o reino de Deus
está dentro de nós».6 Sòmente isso, se o tivéssemos crido,
teria sido uma base maravilhosa para a nossa pesquisa.
Se os nossos pais, avós e outros que nos precederam tives
sem passado êstes últimos dois mil anos buscando o reino
de Deus dentro de si mesmos, êste já teria sido encontrado
e estaria manifesto. A o invés disto, porém, tôdas as gera
ções que nos antecederam têm-se voltado para alguns mes
tres postos em evidência, ou têm volvido os olhos para o
firmamento ou em outra direção qualquer, menos para
onde lhes fôra aconselhado, isto é, para dentro de si mes
mos. Ê chegada a hora, neste século, de começarmos a
olhar para êsse reino dentro de nosso ser, porque é onde
encontraremos Deus.
6 - L c 1 7 :2 1 .
70
Embora possa falar-te dêsse reino, sòmente tu pode
rás fazer com que êle se te revele dentro de ti mesmo.
Então saberás realmente que Deus é Vida eterna, Cons
ciência infinita. E saberás também que essa Consciência
divina, universal, está Se manifestando como tua consciên
cia individual, para que, finalmente, possas declarar «co
mo quem tem autoridade»:7 «Eu e o Pai somos um».
Precisamos conhecer a natureza de Deus e sentir-Lhe
a presença. Espero que no próximo decênio não continue
mos como até agora, apenas a falar acêrca de Deus: já é
chegado o momento em que devemos conhecer a Deus por
experiência. Não devemos passar superficialmente por es
ta parte do ensino de «O Caminho do Infinito», porque é a
mais importante. Precisamos ver a Deus enquanto ainda
estamos na carne - tu e eu, individualmente, aqui e agora,
sem esperarmos pela morte. Precisamos conhecer a Deus
diretamente em nossos períodos de silêncio, em nossos
momentos de paz.
Sempre que te sentares para meditar, lembra-te da
declaração do Mestre: «Deixo-vos a paz, a minha paz vos
dou»8 - a paz que excede todo o entendimento. Deixa que
esta paz te envolva. Nesta paz encontrarás a presença de
Deus e, nesta presença , o poder, a alegria, domínio, cura -
cura não sòmente para ti mesmo, como também para to
dos aquêles que entrarem na tua atmosfera mental.
No método de cura metafísica antigo, a primeira coi
sa que fazíamos, quando alguém nos apresentava um pro
blema, era «contestá-lo», era formular prontamente um
pensamento sábio, alguma idéia de cunho bíblico ou meta
físico, afirmativa ou negativa e, com isso, refutar a su
gestão representada pelo problema. Estávamos sempre ne
gando algum êrro e afirmando alguma verdade. Mas agora,
adotando êste nôvo método, não vamos negar nem afirmar
coisa alguma. Vamos sentar-nos e ficar tranqüilos, des
contraídos, permitindo-nos assim sentir uma sensação de
paz profunda, e deixando que êsse senso de paz se encar
regue do trabalho. Vamos provar que o que cura não é a
7 - M t 7 :2 9 .
8 - Jo 1 4 :2 7 .
71
ação da mente humana. Compreendes o perigo que há em
creres que tuas afirmações e negações sejam necessárias,
ou que precises formular alguma espécie de pensamento?
Tal crença te levaria ao desespêro, quando não estivesses
em condições de pensar. Mas, com a adoção dêste nôvo
método, isso jamais ocorrerá, porque a presença de Deus é
tudo o que se faz necessário para a realização da cura. E
nessa presença, qualquer idéia que se nos revele em nosso
íntimo será completamente diversa dos pensamentos hu
manos. Será uma revelação divina a anunciar a presença
e poder de Deus. Para isto é que passamos muito tempo
desenvolvendo «a audição interna».
Agora deves começar a mudar tôda a velha base de
tratamento metafísico. Se necessário, fá-lo dràsticamente,
determinando-te a não mais te preocupares. Estou pedindo
que te eleves a um nível de consciência superior ao que se
pode atingir através da ação da mente humana. Vamos
dar um passo para a frente e para o alto, vamos entrar na
quele estado de consciência em que estaríamos, se fôsse
mos discípulos de Jesus, quando êle disse: «Não andeis
ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer,
nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de v e s tir...
vosso Pai sabe que necessitais destas coisas. . . Observai
os lírios, como crescem; não fiam nem tecem. Eu, contudo,
vos afirmo que nem Salomão, em tôda a sua glória, se ves
tiu como qualquer dêles».e
Essa recomendação se aplica a nós outros. Lembremo-
nos de adotar individualmente essa atitude de despreo
cupação, firmeza e segurança, enchendo-nos, assim, de paz
e poder divinos. Essa consciência é a própria presença e
poder de Deus. Quando não estamos pensando, ou lutando
com pensamentos; quando não estamos combatendo o êrro,
nossa consciência é a presença e poder de Deus. Esta cons
ciência divina permanece inoperante em nós quando nossa
mente está agitada. Embora nunca te possas afastar da
presença de Deus, em tal estado jamais serás beneficiado
por Êle. Não serás beneficiado senão à medida que a paz
descer sôbre ti.9
9 - L c 1 2 :2 2 ,3 0 ,2 7 .
72
Paulo experimentou essa paz como «a descida do Es
pírito», isto é, como a descida do Espírito de Deus no
homem. Essa expressão é usada para descrever o que apa
rece quando estamos pensando, quando nossa consciência
está cheia somente de pensamentos de Deus. Quando esta
mos em silêncio, Deus enche nossa consciência muito mais
do que quando nossa mente está em atividade. Ê-nos difí
cil imaginar êsse estado de ser, porque estamos habituados
com a idéia de que precisamos estar sempre pensando, ou
que necessitamos reter algum pensamento. Isto não é ver
dade. Se pudermos ficar em silêncio por meia hora, mas
em verdadeiro silêncio, estaremos no céu. Silêncio é Deus
em ação. Portanto, quando se nos depare algum problema,
nosso ou de outrem, deveremos ficar em silêncio, deixando
que a solução apareça.
Suponhamos que hoje alguém nos venha com um pro
blema qualquer, como de desemprêgo, algum vício, alguma
doença. Ao invés de refutar a idéia da existência do pro
blema, procuremos ver «através» dêle, olhando para
«além» de sua aparência, visto que êle existe somente co
mo aparência. Ora assim, em atitude de escuta interna:
«Pai, projeta luz sôbre êste problema, para que eu possa
vê-lo como é». E observa o que êste tratamento fará por
ti. Em outras palavras, quando vires os dois trilhos de
uma estrada de ferro se juntarem num ponto, não te per
guntarás o que devas fazer para separá-los, mas pedirás
ao Pai que te mostre êsses trilhos como êles estão. E não
precisarás mais pensar nisso.
Não tentes melhorar ninguém, nem a sua saúde. Não
aceites em tua consciência o pensamento de que possa
existir alguém com saúde precária. Senta-te e fica em es
tado de receptividade, relaxado, em silêncio, em paz; deixa
que a paz penetre todo o teu ser e, em chegando a êste
ponto, continua ainda em atitude de escuta interna, obser
vando como a luz dissipa as trevas, como a inteligência
dissipa a ignorância. E então perceberás que, na verdade,
não és o curador, mas sim uma testemunha que observa
como êsse estado de paz efetua a cura. Deves ser um obser
vador da atividade de Cristo, ou seja, de Deus. Observa
como Êle trabalha em nós, através de nós e como nós.
73
«Se eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, mas
não tivesse caridade, seria como o bronze que soa, ou como
o símbalo que retine.»10 O que importa é o amor, e não as
palavras, por mais eloqüentes que pareçam, e não as afir
mações acêrca da verdade, por mais enfáticas e vibrantes
que sejam. Se os sermões, se as afirmações acêrca da ver
dade não estiverem repassados no senso de união com
Deus, o Infinito Invisível, de nada servirão ao ministério
de cura. O importante não são as palavras em si, ou a
letra da verdade. O que importa é até que ponto o prati
cante de cura espiritual está cônscio de que Deus é amor e
vida, até que ponto o curador se tornou incapaz de temer,
detestar ou amar o êrro, sob qualquer aspecto que êste
se apresente.
Lemos no Evangelho segundo João: «Não que alguém
tenha visto ao Pai; sòmente quem é de Deus viu ao Pai.»11
Isto é o mais importante. Nenhum mortal, nenhum ser hu
mano pode ver ou conhecer a Deus. Sòmente o Filho de
Deus, a consciência crística de cada um pode ver ou con
templar a presença de Deus. Em outras palavras, não é a
nossa mentalidade humana que conhecerá a Deus. Com a
mente humana, jamais veremos, jamais conheceremos a
Deus, a vida espiritual. Mas o Filho de Deus, a consciência
crística, nosso sentido espiritual, pode ver a Deus.
E NECESSÁRIO DESENVOLVER
O SENTIDO ESPIRITUAL
Eis a essência do ensino de Cristo. E nisto que a hu
manidade não tem conseguido penetrar, porque vem ten
tando conhecer a Deus através do intelecto, vem tentando
«explicar» Deus. Isto não é possível. Deus não pode ser
percebido senão pelo sentido espiritual. A Verdade e Suas
manifestações - o Universo espiritual - , ninguém pode dis
cernir senão pelo sentido espiritual desenvolvido. Pode-se
desenvolver êste sentido por vários m eios: pela nossa lei
tura m etafísica e pelo estudo das Escrituras; ensinando e
aprendendo a viver espiritualmente, associando-se a pes
10 - 1 C o 1 3 :1 .
11 - Jo 6 :4 6 .
74
soas que seguem pelo mesmo caminho espiritual. Reunin
do-nos todos com o mesmo objetivo, desenvolvendo êsse
sentido espiritual, chamado «a mente que havia em Cristo
Jesus»12 Paulo referiu-se a isto como «o Cristo que vive
em mim». Trata-se de um sentido sutil, que devemos de
senvolver conscientemente.
Podes facilitar essa realização divina procurando
conscientizar-te, muitas vêzes durante o dia e uma ou duas
vezes à noite, de que Deus é o centro, a realidade do teu
ser; é a tua mente, a tua Alma, que funciona como teu ser
individual.
Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer
dêste pão viverá etemamente. O pão que eu darei pa
ra a vida do mundo é a minha carne.13
Êste pão, ou entendimento, é o Verbo que Se fêz carne.
Quando olhas para o teu corpo através da mente humana,
o que vês é apenas um reflexo do conceito mortal e ma
terial de corpo, e nunca poderás ver outra coisa, servin
do-te da mente humana. No entanto, com o desenvolvi
mento dêste senso do «Eu» que «Eu Sou», a Consciência do
Pai-Mãe, a Consciência Crística, aprenderás a olhar para
o universo através do sentido espiritual e, finalmente, co
meçaras a ver «o templo não feito por mãos, eterno, nos
céus». Esta foi a visão crística que João teve, sua visão
do céu, quando ainda na terra, quando estava aqui, andan
do, falando, trabalhando entre sua gente. Êle viu o que
olhos humanos jamais tinham visto. Viu o templo não feito
por mãos, viu o universo espiritual, o corpo espiritual. Isso
é o que verás quando, ao invés de recorreres ao emprêgo
de pensamentos, penetrares em ti mesmo, em estado de
silêncio, em estado de paz.
Respondeu-lhes Jesus: «Em verdade, em verdade vos
digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem e
não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós
mesmos.»14
12 - Po 2 :5 .
13 - Jo 6 :5 1 .
14 - Jo 6 :5 3 .
75
A menos que comas dessa carne e bebas dêsse sangue,
a menos que absorvas e assimiles êsse alimento, a menos
que vejas o «templo não feito por mãos,» não terás vida
eterna. Comer e beber significa, neste caso, perceber, acei
tar, absorver, assimilar, apreender, conscientizar, espiri-
tualmente. Quanto mais olhares para o mundo através da
lógica humana ou do pensamento humano, tanto mais
terás do corpo carnal que deve morrer em algum lugar, en
tre sessenta e cem anos de idade. Entretanto, quanto mais
assimilares esta verdade do ser, isto é, quanto mais cons
cientizares a verdade acêrca de Deus e de Sua criação, mais
inteligência e vida manifestarás enquanto usares êste
corpo.
Muitos dos seus discípulos que o tinham ouvido dis
seram: «Dura é esta linguagem; quem a pode ouvir?»
Sabia Jesus que disto murmuravam seus discípulos;
pelo que lhes disse: «Isto vos é motivo de tropeço?»151 6
A mente humana sempre se ofende com a verdade,
porque esta é contrária a tudo o que ela conhece. Imagina
que insulto, para ela, dizermos que quando está quieta ou
inativa podem realizar-se curas maravilhosas! Imagina
que afronta, para o homem que se orgulha de seus conheci
mentos intelectuais, dizermos que todo o seu dinamismo
mental não fará tanto por êle quanto o faria um só mo
mento de silêncio!
«O espírito é que vivifica; a carne nada vale. As pala
vras que acabo de dizer-vos são espírito e são vida.
Mas há entre vós alguns que não crêem.»18
Em que não acreditavam alguns deles? Que o Espíri
to vivificasse, e não a carne, isto é, que o silêncio, a paz fi
zessem realmente o trabalho, e não a ginástica mental, não
o que se aprende em livros ou por meio do intelecto. Nós,
hoje, como outrora os discípulos de Jesus, também não es
tamos conseguindo muito, não estamos fazendo grande
progresso. Como no tempo de Jesus, a mente humana se
ofende, fica irritada com a idéia de que possa existir um
Espírito que trabalha sem palavras ou pensamentos, ou
15 - Jo 6 :6 0 ,6 1 .
16 - Jo 6 :6 3 ,6 4 .
76
com a idéia de que existe no homem um Espírito que pode
levantá-lo, orientá-lo e acalmar-lhe as tempestades da
vida, sem que para isto necessite pensar, falar ou recorrer
a tratamento.
«Mas há entre vós alguns que não crêem». Ê que Jesus
sabia desde o princípio quem eram os descrentes e
quem o havia de entregar.
E prosseguiu: «Por isso é que vos disse que ninguém
pode vir a mim, se não lhe fôr dado pelo Pai».17
E que foi o que aconteceu?
A partir daí, muitos dos seus discípulos se retiraram
e não andavam mais com êle.18
Acaso é de estranhar que ainda hoje tão poucos pos
sam alcançar a grande verdade de que o Espírito é que
vivifica, de que há no homem um Espírito que opera pro
dígios de cura e regeneração? A mente humana se ofende
quando tentamos dispensar seu auxílio.
«A vós não vos pode o mundo achar. A mim, porém,
me odeia, porque eu dou testemunho de que as suas
obras são más».19
O mundo jamais odiará quem usar as armas ou utilize
os métodos de trabalho que êle considera válidos. O mun
do odeia sòmente aquêles que dizem que tudo o que êle
tanto preza é desnecessário, visto existir um poder mais
alto, o poder do Espírito. Daí a perseguição, embora não
seja inevitável. Atualmente estamos aprendendo a deixar
que o Cristo impessoal absorva tôda a perseguição que nos
movam, ao invés de nos permitirmos tomá-la sôbre nós.
Aceitamos a perseguição, ou tomamo-la sôbre nós, quan
do cremos que a mensagem que apresentamos seja de
nossa propriedade particular. Cada um de nós deveria, em
vez de aceitar essa perseguição, conscientizar-se do seguin
te: «Esta verdade não é minha, mas de Cristo. Se alguém
odiar-me por isto, que seu ódio recaia sôbre ela, e não
sôbre mim, porque eu estou apenas mostrando o que o
Mestre ensinou sôbre a presença de Cristo e o poder d’Aqui-
17 - 6 :6 4 ,6 5 .
18 - Jo 6 :6 6 .
19 - Jo 7 :7 .
77
lõ que constitui nosso verdadeiro ser, o Consolador no
íntimo de cada um. Se o. mundo quiser odiar esta verdade,
que a odeie». Êste é o segredo do Mestre, o segrêdo da
«paz que excede todo o entendimento»,20 o segrêdo da
paz que é poder.
78
sente qualquer problema, lembra-te de que já aceitaste
os dois grandes mandamentos do Mestre: «Não andeis an
siosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem
pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir»22 e «Bus
cai, pois, em primeiro lugar, o Reino de Deus e Sua jus
tiça (Verdade), e estas coisas vos serão dadas de acrés
cim o».23 Quando te sentires tentado a usar esta verdade
para obter um emprêgo, ou para efetuar uma cura ou fa
zer alguma coisa no plano externo, dize com o Mestre, a
ti mesmo:
Eu não vivo som ente de pão, mas de tôda a palavra
que procede da bôca de Deus. Não vivo de suprimen
tos externos. Êstes são coisas recebidas «de acrésci
m o», que me vêm às mãos espontaneamente, como um
desdobramento natural do meu estado de auto-reáli-
zação em Deus, a Consciência divina, que está sempre
Se manifestando como minha consciência individual.
Ela é a fonte do meu suprim ento; logo, não preciso
fazer magia. Não preciso que o «eu» pessoal se arvore
em demonstrador de poderes. O único EU, o grande
EU SOU, está governando, mantendo e sustendo Sua
própria «imagem e semelhança». Se tentar fazer mi
lagre, se tentar fazer demonstração de poder, estarei
criando um «eu» separado de Deus, revestindo-me,
assim, de uma personalidade que não ê de Deus. Deus
está sempre mantendo o que é Seu.
Por ceder à tentação de demonstrar podêres é que a
mente humana entra em conflito e cria sofrimentos. Esta
a razão por que criou «o filho pródigo», que não estava sa
tisfeito em viver só dos bens de seu pai, e por isso, saiu de
casa, partiu para o mundo, com o desejo de abrir seu pró
prio caminho na vida. E sabes como acabou.
Então o diabo o levou à cidade santa, colocou-o sôbre
o pináculo do templo e disse-lhe:
«Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque
está escrito: Recomendou-te a seus anjos qufrte guar
dem . . . para qué não tropeces em alguma Tpedra».
2 2 - L c 1 2 :2 2 .
2 3 - L c 1 2 :3 1 .
79
Replicou-lhe Jesus: «Também está escrito: Não ten
tarás o Senhor, teu Deus».24
Se temos o próprio Deus como nossa consciência, aca
so precisaremos produzir anjos, alguma espécie de efeitos
extraordinários para nos segurar, amparar e ajudar? Pre
cisaremos de alguma coisa além de Deus? Não nos torna
mos idólatras quando recorremos a algo que não seja Deus,
a algo «menos que Deus» para nos manter? Acaso não será
isso pecado contra o nosso próprio senso de vida espiri
tual? Quando form os tentados a recorrer ao «homem cujo
fôlego está no seu nariz»,2526quando form os tentados a con
fiar em alguma forma humana de Deus, ainda que nos pa
reça como um anjo, lembremo-nos da tentação de Jesus.
Perguntemo-nos a nós mesmos: Tenho alguma necessidade
de anjos? Necessito de algum auxílio? Necessito de algu
ma form a menor de ajuda, mesmo que seja a do pensa
mento humano?
Ainda o diabo o transportou a um monte muito eleva
do, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua gló
ria, e disse-lhe: «Tôdas estas coisas te darei se, pros-
tando-te em terra, me adorares».
Ordenou-lhe Jesus: «Vai para trás, Satã, porque está
escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a êle ser
virás !»
Então o diabo o deixou, e eis que vieram anjos e o ser
viram.28
De vez em quando, todos nós somos tentados a dar as
costas ao nosso mais elevado senso de Alma, a fim de me
lhorar nosso destino neste mundo: somos tentados a me
lhorar nossa situação descendo da altura espiritual em que
nos sentimos mais ou menos em união com Deus para ado
tarmos uma form a de tratamento inferior; somos tentados
a confiar em alguma coisa separada e indèpendente de
Deus. E aí é que devemos resistir à tentação e aprender a
ficar em silêncio, nesse estado de paz que não vê podêres
em aparências. Uma vez que Deus é a consciência indivi
2 4 - M t 5 J f.
2 5 - Is 2 :2 2 .
2 6 - M t 4 :8 -1 1 .
80
dual de cada um, não precisamos de nenhuma form a de
tratamento inferior ao representado por esta certeza; não
precisamos de nenhuma ajuda humana, nem sequer sob
form a mental. Precisamos somente estar sempre seguros
de que Deus é a nossa consciência individual.
Comecei dizendo que devemos todos chegar a um ní
vel de consciência que nos permita saber o que é DeuS. E
agora volto ao assunto. Deus é o princípio dêste universo,
mas se manifesta como consciência individual. Ê o princí
pio do teu e do meu universo individual e a lei para a tua
e para a minha vida. Nossa experiência externa é determi
nada pelo nosso, o teu e o meu grau de auto-realização em
Deus - a Lei, a Vida Divina - , que atua como tua consciên
cia individual. Isto, porém, não significa que cada um de
nós seja ou tenha um deus separado, mas quer dizer que,
não obstante cada indivíduo possuir consciência, ilimitada,
essa consciência indivisível é o único Deus, o Onipotente.
No entanto, enquanto não soubermos que, como cons
ciência individual, temos o nosso ser em Deus e que em
Sua eterna presença vivemos e nos movemos, não estare
mos recebendo Sua orientação e proteção no que esteja
mos fazendo neste mundo. Para isso, precisamos saber que
Êle é a divina realidade de nosso ser; precisamos seníi-Lo
mais perto que o próprio ar que respiramos. Êste é o se-
grêdo. Não basta saber intelectualmente que Deus é a Vida
eterna. Precisamos estar extremamente conscientizados
disso, como qstava Jesus, quando declarou: «Eu sou a vida
eterna». Nesse estado de ser, êle não disse que Deus era a
vida eterna, nem que Deus era o caminho, mas afirmou:
«Eu sou o caminho». Em outras palavras: «Tudo o que
Deus é, Eu sou; tudo o que Deus tem, Eu tenho, porque Eu
e o Pai somos um».
Compreendes que para podêres ajudar alguém não de
ves voltar as costas à tua própria consciência, à Consci-
ência-Deus? Antes, pelo contrário, deves permitir que haja
em ti aquela paz e confiança que Jesus demonstrou ao ven
cer as tentações. Não deves esquecer essa história das ten
tações no deserto. Lembra-te que Jesus estava no cume
do monte, mas com sua consciência divina. Lembra-te de
81
que êle sabia que sua própria consciência era a fonte de
todo o bem.
Cada um de nós, uma ou outra vez, será solicitado a
ajudar alguém. Alguns serão chamados para ajudar a
muitos. Para isso, nenhuma lição será de maior valor que
esta que te estou dando agora. Começa hoje, neste momen
to: Lembra-te de que o que atua em benefício da tua fa
mília, dos teus negócios, de teu lar, do teu corpo, é a tua
consciência, e não um deus distante. Ê a tua própria cons
ciência individual, quando em silêncio e paz. Tudo o que
tens ou terás de fazer quando fores chamado, será conse
guir êsse estado de paz.
Não te preocupes em aprender grandes verdades. Pro-
vàvelmente não existem verdades maiores do que as que já
conheces. Há, porém, uma coisa que deves conseguir pela
prática da meditação: um estado de paz interior ligado à
compreensão de que o Cristo que cura é a tua própria cons
ciência.
Quando houver em ti aquela «mente que havia em
Cristo Jesus», e que é o que cura, tu o saberás. Estarás en
tão nesse estado de paz que resulta da compreensão espiri
tual de que o êrro não é poder, porque não é real. E não o
combaterás, não lutarás com êle, não procurarás alge
má-lo, nem passarás a noite sentado, de vigília, para teres
a certeza de que êle não te vencerá. O que deves fazer é
procurar aprender como encontrar a tua paz.
Quando andares pelo mundo com essa sensação de
paz - com essa paz que só se pode experimentar quando se
compreende que Deus é e que o êrro não é - , quando sen
tires essa sensação de paz, será porque já terás atingido a
consciência crística, que é a tua consciência individual,
quando já não temes, não odeias nem amas o êrro, qual
quer que seja seu nome ou natureza.
Não temos feito os trabalhos de cura que deveria
mos fazer, e em quase todos os casos a razão é sempre
a mesma. É a nossa curiosidade em saber quando a mente
de Deus fará alguma coisa em benefício do paciente, ou
quando o Amor divino começará o trabalho, ou quando en
traremos em contato com o Amor divino, o Espírito que
cura. Dêste modo, não podemos e nunca faremos o traba
S2
lho que deveriamos, porque, no caso, a curiosidade implica
em negar a verdade de que a mente de Deus é a nossa men
te individual, de que o Espírito é o nosso espírito indivi
dual, e o Am or divino o amor de que estamos impregnados
como consciência individual. E só alcançamos o nível de
consciência que faz o trabalho de cura quando nossa mente
está em paz.
Se alguém te pedir ajuda, estarás no dever de entrar
no estado de «paz que excede todo o entendimento huma
no», e então êste estado de paz será para tôda crença er
rônea o que foi a ordem de Jesus para aquela tempestade
no lago Tiberíades.
O praticante de cura espiritual precisa «viver, mo
ver-se e ter seu ser» nesse estado de paz que produz a cura,
nesse estado de harmonia, bem-estar e confiança, nesse
estado de transparência espiritual.
Nesse èstado de transparência, tua consciência indi
vidual (e a minha) é Deus! E Deus, a verdadeira consciên
cia do indivíduo, é o que cura.
83
CARNE E CRRNE
Carta mensal de fevereiro de 1970
Prezado Am igo:
São muito raros os textos de sabedoria espiritual que
não têm duplo significado: o literal e o intuitivo, espiri
tual ou místico. Muitas passagens bíblicas, palavras e
afirmações, parecem contraditórias, mas diivido que real
mente o sejam. Poderão parecer contraditórias se inter
pretadas apenas literalmente, segundo os dicionários. Não
encontrei nenhuma contradição em tôda a Bíblia.
A palavra «carne» é, provàvelmente, a mais discutível
das que se encontram nas Escrituras, porque é empregada
em dois sentidos inteiramente diversos. Não há propria
mente duas espécies de carne, mas dois diferentes aspectos
da mesma carne. O Espírito é um deles. Ê a substância ori
ginal. É a Idéia, e quando penetra em nossa consciência é
0 Verbo feito carne. Depois, quando se torna visível, aqui
neste plano, é a carne «que perece»; a carne ou matéria de
que hoje podemos desfrutar. Entanto, não devemos ape
gar-nos a ela amanhã. Precisamos mudar nossa concepção
acêrca do ser, acêrca do corpo e do suprimento de nossas
necessidades cotidianas. Isaías disse que «Tôda a carne é
erva»,1 e declarou Jesus que «A carne de nada vale».7 Mas
no Evangelho segundo João está escrito: «O Verbo se fêz
carne».13
2
Êste «o Verbo que se fêz carne» pode ser considerado
uma das maiores premissas da doutrina do Mestre, e é
1 - Is 4 0 :6 .
2 - Jo 6 :6 3 .
3 - Jo 1 :1 4 .
84
também o maior postulado do ensino de «O Caminho do
Infinito». A palavra de Deus torna-se visível ou tangível,
manifesta-se dentro de nós: o Verbo torna-se o filho de
Deus. Neste sentido a palavra carne significa form a espi
ritual, atividade espiritual, realidade espiritual. «O Verbo
se fêz carne e habitou entre nós»: Deus tornou-se visível
como homem. Deus, o Pai, tornou-se visível como o filho,
mas ninguém jamais verá êsse homem através dos olhos
físicos. Êsse homem, êsse filho de Deus, nós só podemos
ver quando atingimos o mais alto grau de percepção es
piritual.
Nenhum curador espiritual pode curar senão no mo
mento em que contempla o homem espiritual: o Verbo fei
to carne. O papel da meditação, ou tratamento, do curador,
consiste somente em conduzi-lo ao estado de consciência
em que o Verbo se torna carne como homem espiritual.
Ainda que de manhã à noite nos dediquemos a refle
xões e meditemos sôbre cura, se estas não culminarem
proporcionando-nos pelo menos uma fração de segundo de
relaxamento, isto é, de liberdade, alegria e paz, será inútil
esperar que tais meditações produzam cura, ou a restau
ração da harmonia, porque o que cura não são os pensa
mentos em que refletimos. O máximo que êles podem fazer
é elevar-nos a um estado de consciência acima do sentido
de vida humano, estado em que, em dado momento de
percepção espiritual, nos ocorre como que um clarão re
pentino diante de nossos olhos que nos diz: «Eu era cego e
agora vejo».4 Naturalmente pode êle, o curador, não ter
visto, nem ouvido coisa alguma e, não obstante, êle sabe,
êle percebe, e visualiza.
Alguém absorve uma afirmação sôbre a verdade em
sua consciência, medita sôbre a mesma e finahnente chega
ao fim da meditação, senta-se tranqüilamente, receptiva,
expectativa de algo que se desabrocha em nosso íntimo;
ocorre então, êsse momento de iluminação - o vislumbre
de alguma coisa, uma sensação de relaxamento e paz -
como se estivesse sem corpo. Então é que percebemos a
Realidade, Deus, que é invisível, manifestada em form a tan
4 ■ Jo 9:25.
85
gível, embora não a possamos ver com os olhos nem ouvir
com o ouvido. Sentimo-nos leves, com um profundo senti
mento de alegria e uma sensação de que se consumou a
cura.
Depois disso, poderá diminuir a febre, desaparecer a
inchação, chegar o suprimento, conseguir-se um emprêgo
ou encontrar-se nova casa para morar, ou surgir a solução
para qualquer outro problema. Tôdas essas coisas são os
resultados da ação do Verbo invisível em nossa experiên
cia terrena, quando Êle se nos torna palpável como a sen
sação de uma presença invisível.
Distinguimos no trabalho de cura dois pontos essen
ciais: primeiro - o Verbo invisível, Deus, o Infinito Invi
sível, que sabemos estar, aqui e agora, enchendo todo o
espaço dentro e fora de nós; segundo - a manifestação
dêsse Verbo em nossa consciência, o que se nos evidencia
quando vislumbramos o Divino, do que resulta, finalmente,
aquilo a que chamamos cura ou mudança na aparência
externa. Mas não poderá haver nenhuma mudança de apa
rência externa se não ocorrer antes alguma mudança em
nosso estado de consciência.
O praticante de cura espiritual obtém êsse vislumbre
do Divino, ou percebe êsse clarão instantâneo, no momen
to em que o Verbo invisível se faz carne, isto é, se torna
perceptível à sua consciência. Depois disso êle continua
entregue às ocupações normais, sem prestar atenção às
aparências, até que chega o momento em que recebe o
comunicado de que a pessoa que lhe pedira ajuda está se
sentindo mèlhor.
Não fixes tua atenção em aparências. Não fiques na
expectativa de mudanças de aparência. «Em minha carne
verei a Deus».5 Podemos ver a Deus enquanto vivemos na
terra, aqui e agora. Não quero dizer que possamos vê-Lo
com os olhos físicos, mas, sim, podemos discerni-Lo, ou
percebê-Lo ao sermos tocados por Êle ou ao tocarmos a
orla do Manto.
Todo praticante de cura espiritual recebeu iluminação
direta ao servir de instrumento de cura, se não por outro
5 - Jó 1 9 :2 6 .
86
meio. Do contrário, não poderia ter havido cura por seu
intermédio. Atualmente, não há ninguém no mundo que
esteja fazendo obras maiores que as do Mestre, Cristo
Jesus. E Êle disse: «Não posso de mim mesmo fazer coisa
alguma».6 Estou convencido de que não podemos fazer
mais do que êle poderia. O Pai, dentro de nós, é que faz
o trabalho, mas somente no momento de nossa iluminação
ou contato com Ele. Daí por diante, após o recebimento da
iluminação, êsse fluxo de luz continua naturalmente, sem
esforço consciente, mas para sentirmos de nôvo êsse di
vino Impulso, precisamos entrar em silêncio diàriamente,
e dias haverá em que teremos de fazê-lo às vêzes uma dúzia
de vêzes.
Depois de alguns anos de permanência no Caminho,
não precisamos voltar a estabelecer êsse contato com cada
meditação o tratamento dado durante o dia. Virá o tempo
em que sempre estaremos apercebidos de que «vivemos,
nos movemos e temos o nosso ser»7 em Deus, e raramente
estaremos fora dêste estado de consciência. Somente quan
do sob a tensão desagradável de uma grande emoção, de
alguma tragédia horrível, alguma experiência chocante, é
que poderá, quem viveu neste Caminho durante muitos
anos, decair de seu ritmo de trabalho interno e ver-se fora
temporariamente do reino de Deus. Isto poderá suceder
também aos que já estejam bastante avançados no Cami
nho, mas não lhes será muito difícil entrar em sintonia e
restabelecer seu contato interno. Todavia, nos nossos pri
meiros anos nesse trabalho a coisa não é assim. Às vêzes
perdemos êste contato e só depois de dias de luta e difi
culdades é que conseguimos voltar ao nosso centro espi
ritual.
87
tocamos e cheiramos. Enquanto estivermos em um estado
de consciência em que demonstração se prende às pessoas,
coisas ou circunstâncias, jamais seremos capazes de entrar
no reino de Deus, o reino do Espírito, do Real.
Nem a posse de um bilhão de dólares possibilitará a
ninguém herdar o reino de Deus, nem o poderá a crença de
que a carne tenha poder para causar dor ou prazer. En
quanto nossa fé e confiança estiverem postas em efeitos,
não conheceremos a realidade das coisas: conheceremos
somente as form as externas, terrenas. Contudo, quando
mediante estudo e meditação os nossos interesses começam
a transcender a esfera das pessoas, bem como das coisas e
situações materiais, boas ou más, então seremos conduzi
dos a um plano superior de consciência, no qual, finalmen
te, veremos a Deus como Êle é e nos sentiremos satisfeitos
com a Sua «imagem e semelhança».
Então é que podemos começar a compreender também
por que é possível amar-nos uns aos outros como seme
lhantes, como amigos, e não mais como servos. No mundo
material, nós nos vemos como servos, mas quando nos
contemplamos uns aos outros através dessa visão interna,
nós somos amigos. Na verdade, quando nos analisamos
aquij neste plano, somos sêres mortais, materiais e limi
tados; somos essa carne que seca como a erva; mas,
quando nos contemplamos com visão espiritual, em nossa
verdadeira identidade, somos filhos de Deus. Quando des
pertamos dêste sonho de vida material, vemos nosso se
melhante tal como realmente é, e ficam os satisfeitos com
a semelhança que observamos.
Quando te apresentas a um instrutor espiritual com
problemas relativos ao corpo, à bôlsa, a condições morais
ou de família, porque estás prêso à terra, e se êle te con
templa na luz dêsses aspectos, jamais te ajudará a resolver
teus problemas. Mas a capacidade de permanecer em silên
cio até que surja aquêle vislumbre da realidade espiritual,
que emana de seu interior, permite ao curador ver-te como
és, e isso revela o Verbo feito carne, o filho de Deus, que
é harmonioso.
88
O VERBO SE REVELA ATRAVÉS DA
MEDITAÇÃO
«O Verbo se fêz carne», o Verbo - não as palavras
de um livro, não as palavras de uma afirmação, mas o
Verbo interno. O Verbo, que é Deus, interno, que ò faz car
ne, torna-Se visível, audível, conscientemente tangível em
nossa experiência.
É para isto que aos estudantes que iniciam seu estudo
do «O Caminho do Infinito» se recomenda que meditem
durante não menos de três períodos todos os dias. Tais
períodos podem ser de um a três ou quatro minutos. Nos
primeiros dias convém não ultrapassar êsse limite, para
evitar que depois de alguns minutos a meditação se con
verta num exercício mental, e perca o seu valor.
Com a continuação do estudo, êste número de pe
ríodos irá aumentando para seis, oito, dez ou doze por dia,
com a duração de um a três, ou a quatro, ou a cinco
minutos cada período. Daí por diante, a duração dos pe
ríodos de meditação tendem a aumentar, podendo o estu
dante meditar em qualquer lugar, de dois ou três, a vinte,
ou trinta minutos. Mas quando a meditação se converte
em um exercício mental, jâ não é mais meditação. Quando
chegar o momento em que a pessoa sinta um relaxamento
interno, deve interromper a meditação, e se não conseguir
êsse estado de relaxamento interno, deverá voltar a me
ditar uma ou duas horas depois.
Não deverá sentar-se para meditar enquanto sua
mente não houver cessado de «trabalhar» para produzir
efeitos ou demonstrar podêres mentais, porque então não
estará meditando, mas, sim, exercendo mentalismo que
não tem poder.
Não quero dizer que devas abandonar a prática de
refletir, analisar, pensar ou meditar sôbre a verdade. Isto é
coisa muito diferente da chamada prática mental. No co-
mêço da meditação, todo estudante - exceto aquêles muito
avançados - , verificará que a mente está agitada, baru
lhenta, caótica e não há meios de sossegá-la a ponto de
poder ouvir aquela «voz silenciosa e suave».8 Neste caso,
8 - I Rs 19:12
89
é aconselhável refletir sôbre uma passagem das Escritu
ras ou alguma afirmação da sabedoria espiritual, mas não
deverá ficar a repeti-la, como se esperasse obter algum
benefício pela vã repetição ou por muitas repetições; mas,
sim, ponderar seu significado oculto.
Ao leres esta palavra da verdade, estás lançando uma
semente dentro de ti, a qual se desenvolverá apare
cendo primeiro como um estado de consciência que, depois,
se manifestará exteriormente, como a saúde do teu corpo,
como a suficiência de tua carteira, como um nôvo livro, ou
como maior suprimento. Assim é como se deve compreen
der a «carne» em que o Verbo se converte. Essa carne,
assim que ela se manifesta neste plano terreno, se tom ou
supérflua para nós. Sêca como a erva. Não confies nela,
porque isto seria como confiar «em príncipes».9
Afastai-vos do homem cujo fôlego está no seu nariz;
pois em que é êle estimado? (Isaías 2:22).
Se eu não fôr, o Consolador não virá para vós outros.
(João 16:7).
Quando aprenderes a voltar-te para dentro de ti mes
mo, e a deixar que a palavra da Verdade se expresse em
teu íntimo, constatarás que a Consciência invisível ou
Conscientização da Verdade em teu íntimo tom a-se éx-
teriorizada como forma. Torna-se carne, carne invisível,
form a invisível. Então poderás fazer o que quiseres com
essas form as: poderás usá-las por um dia e depois destruí-
las. Tais formas poderão aparecer como notas de um dólar
ou de mil dólares: faze uso delas, rasga-as, ou passa-as
adiante.
Enquanto conscientizares o Espírito, poderás multipli
car «pães e peixes». Poderás fazer o que quiseres, porque
não serás tu que o farás; será o espírito da Verdade, o
qual conscientizaste. Êle tomará forma. Mas não te glories
com as formas externas resultantes dessa união interna.
Tem cuidado para não te dares por satisfeito com a
ábundância de suprimento, com um corpo sadio, Ou uma
felicidade cotidiana. Não te contentes com coisa alguma
9 - Sl 146:3.
90
que esteja no plano da carne, da forma, dos efeitos. Não
quero dizer que não devas apreciar estas coisas. O que não
deves é dar-te por satisfeito com elas.
Quando estiveres satisfeito com o suprimento que pos
suis, não te alegres com isso como se fôsse uma demons
tração. Rejubila-te no Espírito invisível que o está produ
zindo. Quando alguém te disser: «estou me sentindo
melhor», toma cuidado para que não te sintas demasiado
feliz. Lembra-te que os efeitos externos produzidos hoje
poderão mudar amanhã. Volta-te para o Espírito que está
interiormente por detrás da personalidade, e sê grato por
ter havido uma percepção consciente do Espírito, pois é a
essa que deves a cima da doença, o emprêgo que apareceu,
a alegria que se manifestou, ou seja o que fôr. .
Cuida para que não te glories na carne em seu sentido
externo, como form a material de manifestação: mas glo
ria-te no Verbo que se fêz carne. Esta carne é a carne
invisível. Não raro os m etafísicos perdem tôda a sua de
monstração de harmonia interna porque, no momento em
que suas rendas duplicam, julgam ter feito uma demons
tração de poder. Na verdade, houve tal demonstração, mas
esta não consistiu na duplicação de rendas e sim na de
monstração da presença do Espírito, que se manifestou
como aumento de renda.
Os hebreus que estavam com o Mestre, quando da
multiplicação dos pães e peixes, julgaram ter feito uma
demonstração de poder. Mas não fizeram tal demonstração,
porque no dia seguinte estavam novamente com fom e. On
de estava sua demonstração da presença do Espírito?
Mas o Mestre fêz uma demonstração. Fêz uma de
monstração da conscientização da presença de Deus, e as
sim pôde multiplicar pães e peixes qualquer dia da semana
e todos os dias da semana. Êle provou que podia encontrar
ouro na bôca de um peixe. Não era que êle estivesse tentan
do multiplicar pães e peixes; o que êle fazia era levantar
seus olhos, cônscio de que sua demonstração era a presença
do Espírito de Deus. Sua conscientização da Presença, foi
sua demonstração, e quando fêz tal demonstração, os de
funtos se levantavam, os pães e peixes se multiplicavam e
se encontrava ouro em bôca de peixe. Por quê? Porque
91
Deus é a substância de tôdas as formas. Mas, se não
tiveres a presença de Deus, não poderás manifestar a
forma externa.
Não te glories com casos de cura. Jamais dês teste
munhos de cura, a não ser para ilustrar o princípio ou a
idéia espiritual que a produziu. Se hoje tens saúde ou és
rico, é coisa relativamente sem importância. O que importa
é a auto-realização espiritual, a convicção que te dará eter
na saúde e eterna riqueza.
Nunca te glories com exibições de curas. Nunca te
glories ainda que consigas curar mil cânceres porque se te
vangloriares com efeitos, no dia seguinte poderás te ver
atrapalhado por um resfriado comum. Não te glories na
demonstração de suprimento tanto para ti mesmo como
para teu parente. Alegra-te por teres visto a face de Deus,
por teres testemunhado a presença do Espírito, que por
sua vez tornou-se evidente como cura ou como suprimento
de necessidades.
10 - 2 Co 5:16.
92
conhecer a nenhuma pessoa como boa ou má, segundo a
carne. Doravante deves conhecê-la como a Cristo.
«E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura;
as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas!»11
Desde o momento em que deixares de julgar bom ou mau,
doente ou são, a ti mesmo ou a outrem, e os conheceres
sòmente segundo o Espírito, então o que era velho passará.
Velhos hábitos, velhas form as da carne, velhos apetites
carnais, a avidez, a luxúria, a ambição, o desejo de saúde,
riqueza, fama - tudo isto passará, e tôdas as coisas se
farão novas.
E neste ponto que a mensagem de «O Caminho do
Infinito» é inflexível. À ninguém devemos contemplar co
mo carne ou ser humano. Não devemos gloriar-nos em
ninguém como homem, bom ou mau. Precisamos agora
conhecê-lo não segundo a carne, mas segundo o Espírito.
Por conseguinte, se qualquer homem viver em Cristo, se
qualquer homem mantiver a conscientização do seu estado
Crístico, as coisas velhas desaparecerão. Até velho ami
gos se afastarão dêle. Sentir-se-á entristecido ao vê-los
se afastarem, porque estimava sua companhia, mas não
poderá deixar de ser assim, porque êles já não farão parte
de sua experiência daqui por diante, e não ficarão.
Uma vez estabelecidos em Cristo, muda tôda a nossa
família, mudam tôdas as nossas ligações, todo nosso cir
culo de relações pessoais. E bem possível que até mudemos
para um outro Estado ou para outro país, porque tôdas as
coisas se tornam novas neste estado superior de consciên
cia em que «vivemos, nos movemos e temos o nosso ser».
Constatamos, então, que não existem lim itações; não esta
mos presos a um apartamento, a uma casa ou a uma famí
lia. Nós os temos, mas, longe ou perto dêles, nos sentimos
livres, isentos de apêgo e preocupações.
Quando nosso estado de consciência se transforma e
conscientizamos a revelação da substância do Espírito,
ainda que em parte, nos apercebemos da presença do Tem
plo Sagrado, o corpo real. Os outros poderão vê-lo ainda
como esta form a física; nós, porém, sabemos que o verda
11 - 2 Co 5:17.
93
deiro corpo não é esta form a visível, mas que êste corpo
é o templo do Deus vivo. Certamente que se o pusermos
numa balança, esta nos dirá que êle pesa tantos quilos. No
entanto, não teremos a sensação de pêso, não teremos a
sensação de solidez, não teremos a sensação de possuir
corpo físico.
94
percebo que tenho corpo quando olho para baixo e vejo
minhas mãos se movimentando diante de mim. Então re
conheço que ainda não aprendí a mantê-las quietas. Mas
meu corpo na verdade me perturba muito pouco, pois é
sòmente durante uma pequenina parte do dia que tenho
percepção consciente dêle como corpo. Percebo-o como ou
tros percebem seu automóvel quando estão dentro dêle. Não
o percebem, porém, como se fôsse parte do seu ser ou
corpo, da mesma form a como eu não estou consciente do
meu corpo. Ê como se êle andasse em minha companhia
onde quer que eu vá. Algum dia talvez não mais me acom
panhará.
96
fiste trabalho de «O Caminho do Infinito» foi real
mente iniciado com aquêles dois meses de visão real e
auscultação audível. No entanto, essas experiências têm
aido raras, e só as tenho uma vez ou outra. Geralmente a
mensagem vem como veio esta lição, simplesmente como
intuição, ou uma palavra ou uma passagem das Escrituras.
Primeiro recebo a inspiração, depois um pensamento ou
idéia específica e disso emana o resto.
Os estudantes que têm estado comigo durante alguns
anos sabem que vivo a maior parte do tempo num mundo
inteiramente diferente dêste que estamos vendo aqui, ago
ra. É um outro plano de consciência. É um outro plano de
consciência diferente, onde vivem alguns músicos, alguns
poetas, alguns pintores e, naturalmente, todos os instru
tores ou reveladores espirituais. As coisas que despontam
na consciência espiritual, tomam-se mais tarde carne na
consciência humana, carne invisível, isto é, tomam form a
como um estado de consciência, e então aparecem exterior
mente como palavras, escritos e gravações.
Se amanhã eu fôsse prestar atenção a isto que me foi
revelado hoje, estaria contemplando e tentando viver do
maná do passado. Esta espécie de «carne» - palavras,
escritos, gravações - precisa secar como a erva a ser
«lançada no fogo». Mas a carne invisível, como està agora
na minha conscientização, nunca morrerá, e aquilo que tu
absorveres desta Carta, em tua consciência, jamais morre
rá. O que tu puseres no papel hoje, poderás provàvelmente
destruir amanhã, porque se tentasses vivê-lo estarias vi
vendo do maná de ontem. O que te estou dando agora é a
semente da verdade que me veio das profundezas do meu
«além interno», como revelação, e está sendo agora plan
tado na tua consciência. Amanhã poderás fechar os olhos
e constatar que essa verdade está fluindo de volta para ti.
«E o Verbo se fêz carne e habitou entre nós».
Cordialmente,
(a) Joel
V8
Vamos transcrever um trecho dêsse trabalho, bem co
mo outros, de importantes gravações referentes ao mesmo
assunto, os quais ajudarão a projetar luzes sôbre o mesmo
e expandir sua compreensão do mesmo.
100
0 Verbo faz-se carne. Isto quer dizer que a palavra
de Deus dentro de nós torna-se visível ou tangível como
expressão [.*..] O Verbo tom a-se o filho de Deus. Neste
sentido, então, deve-se tomar a «carne» como form a espi
ritual, atividade espiritual, realidade espiritual. «E o Ver
bo se fêz carne e habitou entre nós». Deus tornou-se visível
como homem.
(Joel S. Goldsmith. «Flesh and Flesh». The 1954
Firts Portland Practitioners’ Class. Reel I, side 2).
101
lho de Deus, a Luz do mundo, o Creador do mundo - do
teu mundo. Em conseqiiência dessa ignorância, lutavas
contigo mesmo, com tôda à sabedoria humana que pos-
suías, com tôda a fôrça ou influência humana de que dis
punhas.
à medida que te aproximas da revelação espiritual,
te é dito, entre outras coisas: «Não sabes que o filho de
Deus, o Cristo, habita em ti?» As primeiras instruções que
te são impartidas pela sabedoria espiritual revelam que
não mais deves buscar Deus fora de ti ou no firm am ento;
e então, quando ouves esta passagem: «Elevo os olhos
para os montes: de onde me virá o socorro?» - saberás
que «montes» ou «montanhas» se referem a altos estados
de consciência.
Quando te voltas interiormente para a conscientiza
ção mais elevada do teu Ser, quando te voltas para o
Cristo, que é levantado dentro de ti, para êste «Reino
dentro de ti», estás «levantando os olhos para os mon
tes. . . » Tua visão agora volta-se para dentro e para cima,
para os altos estados de tua consciência, onde discernirás
e conscientizarás o Verbo que se fêz carne e habita em ti.
Nesse mesmo instante, estará dentro de ti o filho de Deus,
o Cristo, com uma função específica: curar-te, para te res
suscitar da condição humana, m ortal; para restaurar as
colheitas devastadas pelos gafanhotos; para perdoar qual
quer pecado que tenhas cometido na ignorância da tua ver
dadeira identidade; para perdoar-te os pecados por ação
ou por om issão. . . Essa voz está dizendo, dentro de ti
mesmo:
Eu vim para que tenhas a vida e a tenhas em abun
dância. Relaxa-te! Sereniza-te! Tens-Me buscado, e
Eu estava sempre aqui, mas agora Me encontraste..
Eu sou a ressurreição, e se teu corpo foi destruído
pelo pecado ou pela doença, Eu o reconstruirei. Eu, o
Verbo feito carne, o Cristo, que habito no meio de ti,
estou aqui para levantar teu corpo da sepultura do
pecado, da sepultura da doença e até da sepultura da
velhice. Não te deixes derrotar nem pela idade, porque
Eu sou a ressurreição, e estou aqui para fazer-te res
102
surgir para fora dêsse velho corpo e reincarnar-te em
um «corpo não feito por m ãos», um corpo espiritual,
«eterno, nos céus».
Para alcançar êste nôvo corpo, não precisas passar
pela m orte física. Basta permaneceres internamente
voltado para Mim, que estou no meio de ti. De manhã,
ao meio-dia e à noite, medita em Mim, pensa em Mim,
permanece em Mim, crê em Mim, confia em Mim.
(Joel S. Goldsmith. «The Secret of the W ord Made
Flesh,» The 1961 Hawaiian Village Open Class.
Reel VI, side 1)
103
DEUS I CONSCIÊNCIA INDIVIDUAL
(D o livro: «Consciousness Unfolding»,
de Joel S. Goldsmith)
104
linguagem, ou usando o relato das minhas experiências;
será a tua própria revelação desta mesma verdade.
Em metafísica, não se pode ir muito longe ensinando
apenas a lêtra da verdade. O verdadeiro ensinamento con
siste na revelação da consciência interna. Se eu te trans
mitir algo que apenas ouvi, ou li, ou memorizei, não encon
trará eco em ti. Se o ensinamento não se tiver tornado mi
nha própria consciência, não poderás assimilá-lo. A única
verdade que receberás na tua consciência, lendo êste livro,
será aquela que fôr parte viva de meu ser. Perceberás a
chama dessa verdade, e ela deitará raiz dentro de ti.
Infelizmente, na prática da metafísica se fazem aos
pacientes muitas afirmações cuja verdade não foi demons
trada nem se tornou parte da consciência do curador.
Não há verdade mais profunda que a declarada nesta
afirmação: «O êrro não existe.» O universo mortal deveria
entrar totalmente em colapso quando se declarasse esta
verdade, mas apesar do número de vêzes que ela tem sido
afirmada, o mundo continua sempre do mesmo velho modo.
Por quê? Porque a verdade desta afirmação não se tornou
idéia incorporada à consciência e absorvida por ela.
O curador espiritual poderá dizer ao paciente: «Não
existe senão uma vida, e essa vida é Deus. Isto que estás
vendo é sugestão, não é real, não faz parte do teu ser.»
Quando o curador tem convicção e consciência desta verda
de, muita vez o êrro - a doença, o pecado, ou a carência -
desaparece sem que êle precise fazer afirmações. Entre
tanto, se o curador estiver simplesmente a repetir o que
viu, o que leu, ou alguma coisa de que se recorde, apenas
desejando e esperando que isto seja verdade, então suas
afirmações não terão poder algum.
As coisas de Deus são tolice, para os homens, e assim
também os assuntos dos homens são tolices, para Deus.
Procura lembrar-te disto quando fôres tentado a levar
qualquer dos teus problemas a Deus. Pensar que Deus cure
um corpo enfêrmo, ou que solucione determinado proble
ma de desemprêgo, ou que faça com que seja eleito o teu
candidato favorito, é tolice. Os assuntos humanos, os re
lativos a êste sonho de Adão - êste sonho de existência
material de tôda a humanidade - são desconhecidos de
105
Deus. Isto é o que torna possível a cura. A doença não tem
existência real: é desconhecida de Deus. É por isto que a
doença e a aflição, ao se chocarem com a consciência que
conhece esta verdade, inevitàvelmente se rendem pela im
potência própria da sua nulidade.
Lembra-te sempre de que, no mundo espiritual, ensi
nar e aprender são atividades espirituais. Entra na tua
consciência e ora a Deus. Roga a Deus que te seja revelado
o teu mestre e o conhecimento que êle deve impartir. Ora
assim: «Pai, conduze-me a êle; conduze-me ao mestre; con-
duze-me ao meu mestre.»
O objetivo e conseqüência da prática dos ensinamen
tos de «O Caminho do Infinito» é a expansão das ativida
des da tua Alma, o desenvolvimento das faculdades da
Alma do teu próprio ser. Precisas escolher um instrutor
espiritual com muito mais cuidado do que o que terias na
escolha de um professor na esfera dos conhecimentos hu
manos. Para aquêles que transmitem conhecimentos espi
rituais, o ensino é um ministério sagrado. Um instrutor
deve viver de tal maneira na consciência de Deus, que pos
sa tornar-se capaz de impartir realidades divinas. Isso só
poderá ser fruto de um estado de consciência de quem pra
tica e vive esta verdade. Nada é mais sagrado que o en
sino espiritual. Nada existe que mais contribua para ele
var-te acima do senso de vida mortal, material, que o
ensino espiritual correto.
Sê, pois, guiado pelo Espírito! Faze desta busca de um
mestre um rito sagrado! Quando receberes alguma instru
ção, ou a encontrares em algum livro, senta-te silencioso e
medita durante algum tempo: dá-lhe oportunidade de tra
balhar dentro de ti.
CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
Êste livro trata da expansão das atividades da cons
ciência, ou seja de auto-revelação ou automanifestação de
Deus, a Consciência infinita, indivisível, que se revela, de
senvolve e manifesta como consciência individual. Êste
trabalho é, portanto, de natureza individual e deve ser rea
lizado pelo esfôrço próprio de cada um - pelo teu esfôrçò.
106
E teu êxito se revelará quando alcançares certo grau de
consciência espiritual.
Consciência espiritual é êsse estado de consciência do
qual desapareceram até certo ponto as crenças mundanas.
Consciência espiritual, ou consciência-crística, é êsse es
tado de consciência que não mais reage às coisas do mundo
externo. Tu és consciência infinita, espiritual. Ês a lei
para a tua vida. Nada do que está fora de ti, nada do que
existe como efeito, pode ter influência ou autoridade sôbre
ti. Ês a lei para todo efeito. Quando amas, odeias ou temes
alguma coisa do mundo externo, é porque estás hipnoti
zado, num estado de consciência mortal.
O que os sêres humanos mais procuram neste mundo
é ganhar dinheiro - primeiro o dinheiro, depois o sexo.
Estas são as coisas que a humanidade busca com mais em
penho. A consciência mortal valoriza o dinheiro e diz:
«Isto me ajudará m uito!» Mas a consciência espiritual não
confia nêle. Ela conhece a verdadeira natureza do supri
mento: «O suprimento é a minha consciência individual; é
a Consciência-Deus individualizada como sendo eu. Seja
lá o que fôr que pareça necessário à minha vida, terá que
vir como revelação da infinitude da minha consciência.
Por isso não me preocupo com a aquisição de um dólar ou
de um iate.»
Esta é a atitude que precisas aprender a tomar, que
precisas praticar até que se torne uma realidade em tua
vida. Humanamente, esta atitude não é natural para os
adultos, mas o é inteiramente para as crianças. A criança,
que ainda não aprendeu a valorizar o dinheiro, é capaz de
lançar fora uma moeda de ouro de vinte dólares. Seu senso
de valor é o afeto, o amor que sente aos pais e o que êstes
têm por ela. Êste amor é o seu suprimento, e ela o sabe.
Enquanto existir êsse afeto entre a criança e seus pais, o
alimento diário, a roupa e o lar se lhe apresentarão natu
ralmente. O amor é o senso de suprimento da criança. So
mente quando perde êste senso de amor é que o seu senso
de suprimento muda e passa a representar-lhe cinqüenta
centavos ou um milhão de dólares.
Precisamos voltar a ter essa mesma confiança que tí
nhamos nos dias de nossa infância. O Mestre nos disse que
107
temos de nos tornar como «uma criança».3 Procuremos,
pois, voltar a êsse estado em que não se toma o dinheiro
por suprimento. Çomecemos a compreender que o nosso
suprimento é o Amor, a Consciência, ou a espiritualidade, e
que enquanto tivermos a presença do Amor, tudo o que
precisarmos chegará até nós por desdobramento natural de
Sua presença. Isso representa uma etapa no desdobra
mento e revelação de Deus, a divina Consciência, que apa
rece como amor, suprindo as nossas chamadas necessida
des humanas. É fácil compreender que por algum tempo
precisas-te lembrar, tôda vez que lidares com dinheiro, de
que êste não é suprimento, mas, sim, o efeito do Amor, o
resultado da presença de Deus, que aparece como tua cons
ciência. Dêste modo desenvolverás, pouco a pouco, dentro
de ti mesmo, uma atitude na qual não reconhecerás o di
nheiro como teu verdadeiro suprimento.
Como exemplo disto, cito o caso do casal de hindus que
se iniciou na vida espiritual e se pôs a caminho com suas
tigelas de pedintes. Certo dia, quando andavam por uma
estrada, o marido à frente, e bem perto da mulher, incli
nou-se e apanhou algo do chão, esfregou-o no manto e
meteu no bôlso. A mulher perguntou-lhe o que havia encon
trado. Quando êle mostrou um diamante, ela de imediato
o repreendeu com severidade: «Estamos vivendo uma vida
espiritual. Como poderá êsse diamante ter mais valor que
o lôdo que lhe tiraste?» O valor não está no diamante.
O valor está em nossa consciência. O valor é a nossa cons
ciência, que é a substância, a forma, o princípio e a lei
para o diamante. Enquanto Eu existir - e o «E m» é Deus - ,
serei a lei que produzirá aquilo que eu precisar, sob a for
ma necessária, seja ela qual fôr.
3 - Lc - 1 8 :1 7 .
108
invés disto, responderemos: «De que se trata? De algum
poder? De alguma presença? De alguma realidade? Ou
todo o poder está na consciência do indivíduo, que é a lei
da saúde? E êsse tumor, essa dor, ou essa carência, cons
tituem alguma lei? Não. Naturalmente que não.»
Desde o momento em que comecem a pedir-nos ajuda,
esta deve ser a nossa atitude, a nossa compreensão. Po
deremos encontrar-nos dizendo a nós mesmos: «E daí?»
ou alguma coisa semelhante que nos ajude a concordar
com o adversário. O princípio de cura é o seguinte: «En
tra em acordo sem demora com o teu adversário.»4 Não
poderás combater coisa alguma com que estiveres de acor
do. No momento em que te empenhes em luta ou comba
tas qualquer afirmação errônea que se te apresente, es
tarás acirrando o ânimo do teu adversário, ao invés de te
reconciliares com o que se te afigura um êrro mas, na
realidade, não passa de uma ilusão - se é que pode haver
realidade numa ilusão. No instante em que combates ou
atacas qualqúer êrro como algo que precise ser removi
do, tu o estás ajudando a firmar-se, e então ninguém sabe
quanto tempo a cura levará. As curas instantâneas se rea
lizam quando o curador está cônscio ou convicto de que
não existe poder ou presença na suposta manifestação do
êrro.
Haverá tal coisa como possibilidade de cura enquanto
estivermos pensando em cura ou tentando curar doenças
ou seja o que fôr? A cura resulta do reconhecimento de
que a consciência individual é Deus, ou que Deus é a cons
ciência do indivíduo. A consciência do indivíduo é a lei que
determina o estado em que êle se encontra externamente.
Em linguagem bíblica: «maior é aquêle que está em vós do
que aquêle que está no mundo.»5
A Consciência, de Deus - a consciência do indivíduo - ,
é sempre a lei, é sempre a presença, é sempre a realidade.
Tudo o que aparece exteriormente não passa de efeito e,
como tal, não pode ser a lei. Como efeito, não pode ser
causa. Como efeito, não pode ser poder. Nenhum efeito
4 - M t 5 :2 5 .
5 - 1 Jo 4 :4 .
109
pode ter poder sôbre outro efeito. Ê lei espiritual. A Cons
ciência é todo o poder. Todo poder vem do Alto. Deus deu
domínio ao homem. Em outras palavras: Deus, a Consciên
cia universal, deu ao homem, isto é, à consciência espiri
tual individualizada, todo o poder sôbre tôdas as coisas
que existem no reino dos efeitos quer seja uma pequenina
flor ou um planêta, no céu.
No momento em que admitires que alguma coisa do
reino dos efeitos tenha domínio sôbre ti, estarás conver
tendo-a em lei para ti mesmo, e por isto sofrerás enquanto
não mudares de atitude para com essa coisa, compreenden
do não ser possível que o Eu, a plenitude de Deus mani
festa, o Filho infinito de Deus, de quem Deus disse: «Tudo
o que é meu é teu»,6 esteja à mercê de alguma coisa do
mundo externo, à mercê de alguma condição ou de qual
quer conjuntura externa. Quando te compenetrares de
que Deus, a Consciência divina e mtmíta, constitui a cons
ciência doindivíduo e é a ~ ÍêT~Dãrà^>5hiverso. tomarás
põ§8p"da-ttrar viaa e teras certo grau de~3omlnio sSBré élã.'
Dcí cuHliáiiu, cuilLlnuarás vítima de certa fôrm a de govêr-
no externo, de certa quantidade de dólares; vítima de ger
mes, infecções ou contágio. Somente à medida que cons
cientizares tua unidade com Deus; somente até o ponto em
que sentires realmente que és a própria presença de Deus
atuando como uma lei para o teu universo, somente até
êsse ponto é que serás senhor de tua existência!
Onde está Deus, eu estou, «Eu e o Pai somos um7. ..
o lugar onde estás (onde Eu estou ) é terra santa89. ..
Sé faço a minha cama no mais profundo abismo»8, Eu,
Deus, estou ali. E êsse EU SOU ê uma lei para tudo
o que aparece como sendo o universo externo, ou o
universo do efeito.
O primeiro passo para se atingir a Consciência-Cristo,
consiste em se perder o mêdo seja do que fôr, no mundo do
6 - Lc 1 5 :3 1 .
7 - Jo 1 0 :3 0 .
8 - E x 3 :5 .
9 - SI 1 3 9 :8 .
110
efeito. A Consciência-Cristo hão teme doenças nem pecado,
nem se horroriza dêste, mas limita-se a dizer: «Nem
eu tão pouco te condeno; vai e não peques mais.10
Quem vos impediu?11 Levanta-te, toma o teu leito
e anda.»12 E por quê? Porque dessa maneira ela se
põe de acôrdo com o adversário e reconhece que o
único poder é a consciência do indivíduo. Tôda vez
que vires pecado, carência ou limitação no cenário da vida
externa, em vez de te precipitares a dar tratamento, de
verás dizer: «Não, tu não me vais fazer de tolo! Tu existes
como uma espécie de efeito. Não passas de uma ilusão co
mo aquela de que os trilhos de estrada de ferro se encon
tram num ponto distante de nós. Meus olhos já não me
enganam mais.»
Não dês tratamentos! Não dês tratamentos a Deus e
Seu universo! O tratamento, em si mesmo, não tem valor.
A história da metafísica não conhece ninguém que tenha
alterado alguma condição real por meio de tratamento.
Nunca se melhorou coisa alguma em todo o reino espiritual
por meio de tratamento. O que tem valor é a oração. Ora
sem cessar, porque oração é desdobramento de consciên
cia. Pela tua oração é que Deus Se manifesta em ti. Em teu
estado de oração é que Deus revela Sua verdade à tua
consciência individual.
Oração é revelação da realidade divina à nossa cons^
ciência individual. O segrêdo que nos permite viver espi
ritualmente, consiste em nos voltarmos para dentro de nós
mesmo, nos observarmos e estarmos sempre procurando
ouvir a realidade divina. Êste é o segrêdo que nos revela
Deus como o centro de nossa individualidade. Nesta inti
midade de nosso ser, e somente nela, é que se encontram
a harmonia, a paz, alegria, poder ou domínio.
Ê nessas profundezas de teu ser que o universo espi
ritual deve revelar-se a ti. Não te deves preocupar ou per
turbar com o que estiver acontecendo no mundo. Não que
ro dizer que escondas a cabeça na areia. Continuarás
cuidando dos teus negócios, levando a vida segundo o teu
10 - Jo 8 :1 1 .
11 - G1 5 :7 .
12 - Jo 5 :8 .
111
mais alto senso de retidão. Mas não te interessarás pelo
resultado dos teus esforços, quando viveres conforme êsse
senso de retidão.
Lembra-te: Existe um universo invisível, e tu o estás
procurando. «A carne e o sangue não podem herdar o reino
de Deus.»18 Não se trata de «carne doente e sangue doen
te». Nada do que existe como form a pode herdar o Reino
de Deus. Nada do que existe para os teus sentidos mortais
poderá ser levado para o Reino de Deus. Agora, não nos
dedicamos a procurar melhorar as condições humanas,
mas à revelação de Deus e do universo espiritual, que se
manifesta como nossa consciência individual. Há um uni
verso infinito, invisível. Há um mundo de idéias espiri
tuais, mas êsse mundo não tem relação com o mundo das
coisas que podemos ver, ouvir, apalpar, saborear e chei
rar. O que percebemos neste mundo dos sentidos é um
panorama deformado da idéia divina, do universo real
que vemos «com o em espelho, obscuramente.»1 14 Aqui mes
3
mo, justamente onde parece que estamos, está Deus. Mes
mo em qualquer lugar onde pareça haver um fenômeno
mortal, por mais insignificante e corriqueiro que seja,
também ali está presente o universo espiritual. Nós o con
templamos «como em espelho», e o chamamos de mortal e
material. Mas, em sua verdadeira essência, êle é espiritual
e divino.
112
isto dizia apenas no intuito de pô-lo à prova; porque
bem sabia o que havia de fazer.
Respondeu-lhe Filipe: «Duzentos denários de pão não
chegariam para que cada um dêles recebesse um bo
cadinho.»
Ao que lhe observou um dos discípulos, André, irmão
de Simão Pedro: «Está aqui um menino com cinco
pães de cevada e dois peixes; mas que é isto para
tanta gente?»
Disse Jesus: «Mandai esta gente sentar-se.» (Jo
6 : 1- 10 )
Parecia haver carência e limitações materiais. E a
primeira reação da maioria de nós, em tal situação, seria:
«Tenho sòmente cinqüenta centavos, quando necessito de
cinco cruzeiros.» Ê neste ponto que as preocupações ma
teriais começam a provocar o que o mundo chama de úl
ceras. Em nosso ensino, fazemos como fêz o Mestre:
imediatamente damos as costas ao quadro. Acaso cinqüen
ta centavos ou cinco cruzeiros suprem realmente as nossas
necessidades? Será isso o que precisamos para atender
às nossas necessidades? Ou será a presença da Consciên
cia divina, que aparece como consciência individual? Não
será essa Presença, e nada mais, o que atenderá às nossas
necessidade?
Se te lembrares desta lição, nunca mais procurarás
«pães e peixes» ou moedas e cédulas, nem julgarás a pro
fundidade e a vastidão do universo de Deus pela tua visão
limitada das coisas. Não descobrimos como multiplicar
«pães e peixes», mas descobrimos a lei do amor.
No afã de prover às necessidades de sua vida, o sen
tido finito começará, digamos com cem cruzeiros e pen
sará: «Quando eu tiver um m ilh ão.. . » Mas não importa
quanto aumentes a quantidade de «pães e peixes» - ou
cruzeiros - , porque isto nunca te satisfará. Estarás satis
feito sòmente quando puderes olhar para o que tens no
mundo externo e dizer: «Isto não é o que eu necessito. O
que eu necessito é reconhecer que dentro de mim está o
reino de Deus; que dentro de minha consciência está o uni
verso espiritual, e que das profundezas de minha consciên
113
cia flui a riqueza de meu ser.» E isto nada tem a ver com
«pães e peixes».
Para chegares a êsse estado de consciência, é indis
pensável praticar meditação, porque freqüentemente se
rás tentado a olhar para os «pães e peixes» e dizer: «Eu
tenho. . . » ou «tu tens. . . » ou «eu não tenho. . . eu preci
so.» E então, para não caíres nesta tentação, precisarás
lembrar-te de desprezar os números, quantidades e quali
dades dessas coisas externas e te compenetrares de que
«Nada preciso do mundo exterior; nenhuma quantidade de
coisas poderá atender às minhas necessidades. Estas só
poderão ser supridas pela minha compreensão da riqueza
de minha própria consciência.» Assim é como cada um de
nós poderá «m orrer» diariamente para o sentido mortal,
material e renascer para o Espírito. Em outras palavras:
o Espírito tornar-se-á, para nós, a substância tangível de
nosso universo; a Consciência se tornará, para nós, subs
tância tangível, isto é, a form a e quantidade de tôdas as
coisas no reino externo. E porque a Consciência é infinita,
Sua aparência estará infinitamente manifesta.
A Consciência infinita não pode aparecer como ape
nas uma, duas ou mil idéias. Ela tem que Se manifestar
como tôdas as idéias de que precisares por tôda a eterni
dade. Não estamos usando a verdade espiritual para mul
tiplicar alguns pedaços disto ou daquilo. Estamos despre
zando a crença de que exista presença e poder no mundo
externo e voltando à nossa compreensão de que a Cons
ciência infinita está aparecendo como nossa consciência
individual.
RECONHECENDO A FONTE
Disse Jesus: «Mandai esta gente sentar-se.» É que
havia muita relva no lugar. Sentaram-se, pois, os ho
mens em número de uns cinco mil. Tomou Jesus os
pães, deu graças e mandou-os distribuir a todos que
estavam sentados; da mesma forma, os peixes, quan
to queriam.» (Jo 6:10,11)
Por que deu êle graças? Por que fazia isso parte do
ritual? Sabes que êle não estava obedecendo ordens para
114
dar graças a ninguém. Assim, pois, ao dar graças, sem
dúvida, estava pondo o princípio em ação.
A ação de graças é um reconhecimento da Fonte. Dar
graças é reconhecer a Causa. Por isso, quando dizemos:
«Graças a ti, Pai, eu sou», estamos exprimindo nossa con
vicção de que o nosso suprimento não se origina de ne
nhum ser humano, mas, sim, do Pai. Não vem de nossa in
teligência humana, de nossa engenhosidade ou de nossa
personalidade. Procede do Pai. Dar graças é portanto um
ato de reconhecimento da Fonte de todo suprimento, a qual
é a Consciência. Sem o reconhecimento de que a Consciên
cia é essa Fonte, não há demonstração da verdade de que
o suprimento vem dessa Fonte como conseqüência natural
de nosso contato com Ela. Quando reconhecemos a Deus,
a Consciência infinita de nosso ser, como fonte de tudo o
que chega até nós, então o nosso «Obrigado, Pai», repre
senta nosso reconhecimento da nulidade do ego humano e
do esforço humano. É um reconhecimento da presença e
poder de Deus como fonte de tudo o que chega até nós
como suprimento de tôdas as nossas necessidades.
Em cada passagem de tua vida, a gratidão desempe
nha um papel talvez muito maior do que imaginas. Gra
tidão não é sentimento relacionado com outra pessoa. É
tua harmonia, teu contato com Deus, tua união com Deus.
Em verdade, nunca precisas dizer «Obrigado» a outrem
que tenha servido de canal para o bem que recebes. Natu
ralmente que nós o fazemos como uma form a de cortesia.
Entretanto, se essa expressão externa de gratidão não fôr
acompanhada da compreensão interna de que Deus, nossa
consciência, é a fonte daquilo por que somos gratos, esta
remos agradecendo à fonte errada, e teremos perdido a
essência do verdadeiro sentido de gratidão. A graça que
Jesus rendeu ao Pai, foi o seu reconhecimento silencioso
de que Deus é a causa e o efeito de tôda e qualquer quan
tidade de «pães e peixes».
Depois de todos fartos, disse a seus discípulos: «Re
colhei as sobras, para que não se percam.» Recolhe
ram e encheram doze cestos com os pedaços dos cinco
pães de cevada, que sobraram aos que tinham comido.
115
Vendo o povo o feito poderoso que Jesus acabava de
realizar, exclamou: «Êste é realmente o profeta que
deve vir ao mundo.»
Reparou Jesus que queriam vir e levá-lo à fôrça para
proclamá-lo rei. Pelo que tornou a retirar-se para o
monte, êle sozinho.
A o anoitecer, desceram os discípulos ao lago, embar
caram e dirigiram-se para a outra margem, rumo a
Cafamaum. Já era escuro, e ainda Jesus não fôra ter
com êles. Iam as vagas empoladas com forte ventania.
Tinham remado uns vinte e cinco a trinta estádios,
quando avistaram Jesus a andar sôbre as águas e
aproximar-se da embarcação. Encheram-se de terror.
Jesus, porém, lhe disse: «Sou eu; não tem ais!» (Jo
6 :12-20).
De que se aterrorizaram êles? De alguma coisa exter
na? De algum efeito? Da forte ventania? ou das ondas
empoladas? E qual foi a reação de Jesus ante aquela tor
menta? - «Sou eu; não tem ais!» O Eu é Deus, a Consciên
cia divina aparecendo como consciência individual. Portan
to, a tôda «tormenta» com que depares em tua vida, ao
invés de procurares algo com que fazê-la cessar, fica onde
estás e dize: «Sou eu; não tem ais!» Eu, Deus, aparecendo
como consciência individual, tenho que ser a lei para tor
mentas, ventos, ondas, vulcões e até para bombas atômi
cas.
Em «O Caminho do Infinito», nós estamos retirando
tôda a confiança que tínhamos no suposto poder e presen
ça das coisas do mundo externo - quer sejam cruzeiros,
«pães e peixes», tormentas, pecado ou doença - e deposi
tando nossa fé no verdadeiro e único poder, que é o de
Deus, que aparece como consciência individual em cada
um de nós. Esse Eu, êsse Eu que eu sou, é a lei para tôda
tormenta.
Ora, vendo êles que Jesus e seus discípulos já não es
tavam lá, embarcaram e foram a Cafarnaum, em bus
ca de Jesus. Deram com êle na outra margem e per
guntaram-lhe: «Mestre, quando foi que chegaste
aqui?»
116
Respondeu-lhes Jesus: «Em verdade, em verdade vos
digo: Andais à minha procura, não porque vistes si
nais, mas porque comestes dos pães e ficastes fartos.»
(Jo 6:24-26).
Sim, êles voltaram pelo pão. Mas teriam visto o mi
lagre? Não perceberam que o pão fôra produzido pela cons
ciência? Acaso estavam interessados nisso? - Não. Es
tavam interessados somente em obter mais pães e peixes.
Sua atenção estava focalizada nas coisas do mundo; es
tavam presos ao ódio, ao mêdo, ao amor e ao desejo pelas
coisas do mundo.
117
Não te afadigues, não estudes, não medites, nem dês
tratamento visando a produzir um efeito. Não vivas no
mundo dos pensamentos e dos objetos. Trabalha por conse
guir aquêle estado de consciência que produzirá equilíbrio
na tua mente, no teu corpo, na tua bôlsa, no teu lar, na tua
vida familiar, nas tuas relações em geral, bem como nos
negócios nacionais e internacionais.
A consciência espiritual não dá valor à «comida que
perece», mas, sim, àquela consciência que constitui a lei
da vida e que se manifesta na forma de «comida perecível».
Jesus não disse que não devamos ter esta comida. Êle
disse que o Filho do homem nos dará a verdadeira comida
e que é por essa que nos devemos esforçar, isto é, por êsse
estado de consciência.
O objeto desta obra é a revelação de um nôvo tipo de
homem, a revelação, dentro de nosso próprio ser, do ho
mem espiritual que de fato somos. A maioria de nós não
está satisfeita com o que vê e com o que parece existir.
Nunca estaremos satisfeitos enquanto não nos voltarmos
para o homem que realmente somos. Então é que acabará
a luta de todo momento entre o espírito e a carne. O térmi
no desta luta e a abertura da consciência ao desenvolvi
mento espiritual tornaram-se algo mais que uma vaga
esperança quando os instrutores espirituais começaram a
demonstrar que se precisa e como se pode viver realmente
em contato consciente com Deus durante os sete dias da
semana. O mundo está reclamando o aparecimento de um
nôvo tipo de homem, em cuja consciência não haja guerra
nem coisa alguma que provoque hostilidades. E isto é re
almente um milagre!
Perguntaram-lhe: «Que nos cumpre fazer para prati
carmos as obras de Deus?»
Respondeu-lhes Jesus: «A obra de Deus está em que
tenhais fé naquele que êle enviou.» (Jó 6:28,29).
Êste é um dos preceitos mais importantes que se en
contram na Bíblia: « . . .que tenhais fé naquele que êle en
viou.» Quem foi que êle enviou? A si mesmo, como cons
ciência de cada um de nós! Deus individualizado como o
Filho! Deus enviou-se a si próprio em se manifestando
118
como cada um de nós. Precisas aprender a confiar na tua
própria consciência como sendo a Consciência de Deus
aparecendo como tua consciência. Assim é como aprende
rás a fazer as obras de Deus. Está certo fazeres' essas
obras, pois êle disse que poderemos fazê-las. Não fôra as
sim e êle podería ter dito: «Vós, pobres e pequeninas al
m as!», mas, pelo contrário, o que êle disse fo i: « . . .que
tenhais fé naquele que êle enviou.» Deves crer que a
Consciência infinita, chamada Deus, foi enviada ao mundo
como tua consciência.
A carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus.
Se não entraste no reino do céu é porque durante tôda a
tua vida tens estado a lidar com a carne e o sangue. Agora
precisas abandonar todo o teu interêsse pela carne e o san
gue e começar a compreender «aquêle que êle enviou».
Quando começares a crer real e verdadeiramente que Deus
é a tua consciência, que tudo o que necessitas provém da
tua consciência divina, e não de fora, não do mundo dos
efeitos, então estarás na primeira etapa da expansão es
piritual.
Replicaram-lhe êles: «Que sinal nos dás para que o
vejamos e te demos fé? qual a tua obra? Nossos pais
comeram o maná, no deserto, conforme está escrito:
Do céu lhes deu pão a comer.»
Respondeu-lhes Jesus: «Em verdade, em verdade vos
digo: Não foi Moisés que vos deu o pão do céu; meu
Pai é que vos dará o verdadeiro pão do céu. Porque o
pão de Deus é aquêle que desce do céu e dá a vida ao
mundo.» (Jo 6:30-33).
O que é êsse êle? É um homem, ou é tua consciência?
é a Consciência divina aparecendo como tua consciência
individual a dar vida a teu corpo, a sustentar tua posição
social, teu lar. O pão de Deus é a Consciência divina, in
finita, que aparece como tua consciência individual: é Deus
a desdobrar-se, revelar-se, manifestar-se como teu ser in
dividual. Quando souberes isto, poderás realmente crer
n’Êle e esperar tudo o que te fôr necessário na vida: todo
suprimento, tôda paz, todo domínio.
119
Disseram-lhe êles: «Senhor, dá-nos sempre êsse pão.»
Tornou-lhes Jesus: «Eu sou o pão da vida. Quem vem
a mim jamais terá fom e; e quem crê em mim jamais
terá sêde.» (Jo 6:34,35).
O mundo pensa que êsse «mim» representa um homem
chamado Jesus Cristo, que viveu há dois mil anos. Mas
êsse «mim», êsse Eu é Deus, o Ego infinito, que aparece
como ego individual. «Eu sou o pão da vida»; e o lugar
onde estou é terra santa porque Eu estou nêle. Não é isto
algo tremendo?! A Consciência espiritual individualiza-se
como sendo tu! O mundo tem estado a dizer que Jesus
Cristo é ou foi essa Consciência, êsse Eu, mas como nos
poderá tal coisa ajudar, se somente Jesus é essa Consciên
cia, êsse Eu, e eu não O sou?
« . . .Bem vos dizia eu que não crêdes, ainda que me
tenhais visto. Tudo quanto o Pai me dá vem a mim;
e eu não repelirei a quem vier ter com igo; porque
descí do céu, não para cumprir a minha vontade, mas,
sim, a vontade daquele que me enviou.» (Jo 6:36-38).
Perceber que isto se aplica a nós? que o nosso único
propósito é fazer «a vontade daquele que m e enviou»? Nin
guém podería ser atraído a uma pessoa agora, ou há dois
mil anos atrás, só por possuir alguma espécie de mensa
gem pessoal. A menos que percebas, não apenas que eu,
o autor destas palavras, vim a êste mundo para fazer «a
vontade daquele que me enviou», mas que esta é também
a tua missão na vida, não terás alcançado o ponto mais
importante de tôda esta obra.
A FINALIDADE DA VIDA
Eis diante de nós um dos assuntos mais importantes
no mundo. Para que nascemos? Não é possível que tenha
mos vindo a êste mundo simplesmente para ganhar a vida,
fazer serviços domésticos, escrituração mercantil ou seja
lá o que fôr que o destino nos reserve, apenas pelo privi
légio de, no final das contas, nos deitarmos para morrer.
Se vivemos a fazer sòmente essas coisas, é porque ainda
não descobrimos nossa verdadeira vocação.
120
Contudo, no momento que identificares a Deus, a
Consciência infinita, como tua consciência individual,
transporás os limites do teu ambiente, por mais fechado
que pareça. Sentirás o impulso insopitável de conhecer a
finalidade da tua vida, porque todos nós temos uma alta
missão a cumprir neste mundo. «Não está escrito na vossa
l ei . .. Vós sois deuses?»16 Sempre o Mestre tentou alçar a
consciência pessoal do homem ao nível que permitisse a
êste o reconhecimento da própria e verdadeira identidade,
Deus - que és, que somos. Jesus simplesmente aconselhou
seu povo a ser o que êle era.
« . . .Ê esta a vontade de quem me enviou: que todo
homem que vir o Filho e crer nêle tenha a vida eter
na. . . » (Jo 6:40).
Se puderes sentir ou perceber que Deus trabalha
através de alguma pessoa, terás então que reconhecer que
Êle trabalha igualmente através de ti, porque a experiên
cia dessa pessoa era como a tua, antes que o Espírito a
tocasse. O objetivo do ensino da verdade espiritual é ele
var o nível de nosso entendimento a ponto de nos poder
mos aperceber de nossa verdadeira identidade. Se pude
res crer que notaste um sinal de Consciência espiritual,
ou Consciência-Deus, emanar de algum instrutor espiri
tual, estarás crendo que «o Filho» está nêle e, nesse mo
mento, estarás salvo. Serás de tal modo levantado que sa
berás que o que é verdade a respeito dêle o é também com
relação à tua própria identidade. Se assim não o fôr, será
porque o que notaste nesse instrutor não é real. Deus não
olha a pessoas. Atenta na história da vida de todos os lí
deres espirituais e descobrirás que, antes de se tornarem
líderes, aconteceu-lhes algo que despertou suas mentes do
mesmerismo dos serviços domésticos ou das atividades de
empregado ou do comércio, permitindo-lhes perceber o fato
de que o Cristo era o próprio ser dêles, o fato de que o
próprio ser dêles era «o Filho».
« . . .É esta a vontade de quem me enviou: que todo o
homem que vir o Filho e crer nêle tenha a vida eterna,
e eu o ressuscite no último dia.» (Jo 6:40).
16 - Jo 10:34.
121
Ao te aperceberes de que «o Filho» está dentro de ti,
o teu ‘p róprio ser será levantado a um nível de consciên
cia que te permitirá entender que tudo o que tenha sido
verdade em relação aos líderes espirituais do passado, é
verdade também em relação a ti, porque o que aparece
como «tu» e como «eu» é intrinsecamente o mesmo EU.
Murmuraram dêle os judeus por ter dito: «Eu sou o
pão que desceu do céu.» (Jo 6:41).
Como os sêres humanos detestam ouvir isso! Como os
irrita ouvir alguém dizer: «Tenho algo de Deus dentro em
mim. Sou a própria presença de Deus.» Ofendem-se com
isto porque acham que alguém está se colocando acima
dêles, julgando-se maior que êles e pretendendo separar-se
dos demais. Não compreendem que isso é apenas a expres
são de um princípio que todos devem e podem adotar.
Diziam: «Não é êste, porventura, Jesus, filho de José,
cujo pai e mão conhecemos? como diz, pois: Eu desci
do céu?»
Tornou-lhes Jesus: «Não murmureis entre vós. Nin
guém pode vir a mim, se não o atrair o Pai que me
enviou; e eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito
nos profetas: Serão todos ensinados por Deus.» (Jo
6:42-45).
Compreendes a mensagem? Jesus coloca-se acima de
si mesmo e glorifica o Cristo, internamente. Depois volta
e diz: «Serão todos ensinados por Deus.»17 Ei-lo, pois, a
reduzir ao mínimo a personalidade humana.
Nosso estudo é para que Deus possa se revelar, como
nossa consciência individual: Eu sou o Verbo que se fêz
carne. O início da sabedoria é quando desviamos nossa
atenção do mundo externo, do mundo dos efeitos ou apa
rências e começamos a perceber que o poder não se encon
tra nêle, mas em nós, como indivíduos. É-nos dado indivi
dualmente todo o poder. Como indivíduos, nós temos do
mínio sôbre tôdas as coisas que aparecem no mundo dos
efeitos.
17 - Jo 6 :4 5 .
122
Ao invés de darmos tratamentos, vejamos se podemos
sorrir, pelo menos internamente - não abertamente, para
não ofender a ninguém ou não parecer que estejamos fa
zendo pouco de seus sofrimentos vejamos se podemos
sorrir na atitude de quem dissesse mentalmente: «Sim,
mas eu sei que não há poder em aparências. O poder está
em mim, em ti, em cada um, não importa quem seja êle.
Deus, a consciência de qualquer indivíduo, é o poder. Já
não mais odeio, não amo nem temo aparências externas,
ou o que o homem mortal ou efeitos materiais me possam
fazer.» Não atribuas podêres a números, a «pães e peixes»,
porque êles não têm nenhum poder. «Eu sou o poder».
Deus, a divina Consciência, tem que aparecer como o meu
infinito suprimento espiritual, como o meu corpo espiri
tual, ilimitado.
123
ma. Então, e só então, é que o curador é realmente capaz
de curar.
Aquêle que se teme a doença ou sente repugnância por
esta ou aquela form a de pecado, ou que critica ou condena
o alcoólatra ou o libertino, revela não possuir estado de
consciência capaz de curar realmente. O estado de cons
ciência do curador é agente curativo somente na medida
em que esteja isento de mêdo, aversão ou amor ao êrro,
seja qual fôr o nome ou a natureza dêste. Se tememos
certa doença e acreditamos que tenha o poder de matar,
então não podemos curá-la. Além disso, precisamos com
preender que não há um Deus sentado perto de nós
aguardando oportunidade para intervir no trabalho a
nosso favor.
Deus é Consciência espiritual infinita, em que não há
pecado, doença nem morte. Na medida em que o curador
reconhecer esta verdade, tal será seu estado de consciên
cia. Ninguém superou de todo a crença de que existe poder
e presença na matéria. Mas Jesus conseguiu superá-la mais
do que todos os outros.
Há nisto um outro ponto a considerar. Talvez queiras
saber por que será que um dia vais a um curador e és
curado instantâneamente e, depois, em outra época, tens
de voltar a êle quatro ou cinco vêzes antes que se dê a
cura. No primeiro caso, a cura foi instantânea porque
quando pediste o auxílio do curador, êste se achava num
alto estado de consciência, isento de ódio, mêdo e amor às
aparências. No segundo, a cura foi retardada porque as
sugestões hipnóticas do mundo, chegadas através de rádio
e televisão ou de manchetes de jornais, ou devidas a pro
blemas de família, talvez o tivessem feito descer daquele
alto estado de consciência.
O sistema econômico sob o qual vivemos não é o
mesmo da época de Jesus. Naquele tempo lhe era possível
tomar seu manto branco, subir uma montanha, lá ficar
durante quarenta dias e depois vir curar multidões. Se
hoje pudéssemos fazer isso, nós também poderiamos curar
as multidões. Mas a maioria dos curadores não podem
fazê-lo. Para ser franco, em parte os próprios pacientes
são culpados desta situação. Êles tendem a ficar ressenti
124
dos com o curador quando não o encontram à sua disposi
ção. Querem que seja possível comunicar-se com êle duran
te as vinte e quatro horas de cada dia e os sete dias de
cada semana, e por isso, até certo ponto, ajudam a impe
dir que se operem curas instantâneas.
Não permitem ao curador permanecer no alto estado
de consciência necessário para produzi-las. O curador faria
melhor trabalho se pudesse ausentar-se freqüentemente
por períodos e dois ou três dias de cada vez.
Não há mistério nem milagre em relação à cura. Esta
resulta diretamente da influência do estado de consciência
daquele a quem se recorre. Ao pedires o auxílio do cura
dor, entras em contacto com a consciência dêle. Se êle
sempre estivesse num estado de consciência divina, infini
ta, tôda vez que lhe pedisses ajuda serias curado imedia
tamente. Se a cura não segue de .imediato ao pedido de
ajuda, é ünicamente porque o curador ainda não alcançou
êsse estado de consciência, ou, se o alcançou, não o man
tém.
Farás curas à medida que te aperceberes desta ver
dade: Deus é que é a tua consciência divina, e não a
tua mente pensante.
Quando alguém te pedir ajuda, volta-te, imediatamen
te e sem hesitar, ao teu mais alto entendimento, sabendo
que o auxílio está chegando na medida de tua percepção de
Deus como consciência individual, consciência que nada
sabe acêrca do êrro e nem toma conhecimento de form a
alguma de êrro e que, por isso mesmo, não o odeia, não o
teme, nem o ama.
Na proporção em que estudares, na medida em que
meditares, Deus, ou a Verdade, Se manifestará e Se reve
lará como tua consciência individual.
125
II consciCmcii consagrada
CARTA-MENSAL de janeiro de 1969
126
ao influxo do Espírito e fazer disso uma prece incessante
que se exprima como dedicação continua a um propósito
espiritual.
A face mental do homem conservou-se quase desco
nhecida a muitas gerações que nos precederam, exceto a
alguns poucos artistas, escritores e filósofos. O homem
era considerado um ser essencialmente físico.
Gradativamente, porém, desenvolveu-se uma com
preensão da natureza da mente e, em conseqüência, sur
giu uma era plena de invenções e descobertas científicas,
provinda do reino mental. Essa era tem de ser ultrapassa
da sem abandono do que já foi conseguido, e outra senda
deve ser palmilhada em direção ao Espiritual, pois o ho
mem só poderá integrar-se quando, além de corpo e mente,
possuir Alma.
O homem não é corpo nem mente. Êle é Alma. A Alma
é o homem. Mente e corpo são instrumentos de que Ela
se vale. Quando a Alma desperta para as suas potenciali
dades espirituais, usa a mente e o corpo com propósitos
puros. Quando a Alma está ausente, quando há falta de
senso espiritual no homem, só corpo e mente subsistem,
e êstes podem ser tão fàcilmente empregados para a práti
ca do bem como para a prática do mal. Isso não acontece
com a Alma desperta, com o Espírito realizado! Neste
caso, o homem é incapaz de usar a mente ou o corpo para
fins prejudiciais ou incorretos.
Ê crença comum que o homem pode escolher entre ser
bom e ser mau, entre ser e não ser espiritual. Mas não
depende dêle essa escolha. Enquanto as faculdades de sua
Alma não acordarem, deverá êle viver no reino da mente
e do corpo, e poderá ser bom ou mau, ou um misto de bem
e mal. No entanto, uma vez desperto, uma vez que tenha
recebido ainda que a mínima consagração do Espírito, o
corpo e a mente se tornam instrumentos mais puros, per
mitindo-lhe empregá-los, mesmo quando em idade muito
avançada, e mais eficazmente do que o fizera em gerações
passadas.
Aqui surge uma dificuldade. Em certo estágio de nos
so desenvolvimento, lemos palavras como estas, certifica-
mo-nos de sua correção e, compenetrados de seu sentido,
127
decidimos viver o que preceituam. Então, no dia seguinte,
iniciamos nossa atividade normal e achamos isso muito
difícil; ontem, parecia tudo tão simples, tão agradável,
mas hoje, com os parentes, os empregados e tudo o mais
pesando em nossos ombros, a coisa parece impossível.
Aí é que precisamos determinar se a meta é digna de
nossos esforços. Se decidimos favoràvelmente, deveremos
fazer algum esforço no sentido de nossa consagração, o
qual nos conduzirá ao ponto que devemos alcançar para
perceber a inutilidade de nossos esforços em tal sentido,
o que nos permitirá compreender que, se não nos vier
de Deus, nossa consagração durará muito pouco. Cada um
de nós tem de dar êsse passo. Devemos tomar a decisão
de tentar praticar os princípios da vida espiritual, de os
fixarm os conscientemente, e então, com o tempo, essa prá
tica nos proverá o estado de preparação necessário para
que Deus entre em nossa consciência.
128
Nôvo senso de vida desperta em nós ao descobrirmos
que o corpo é o templo do Deus vivo!
Não deve ficar à nossa disposição, para uso pessoal,
mas deve ser diàriamente consagrado a Deus, para o Seu
uso. Nosso lar deve ser dedicado a Deus para que Êle
o empregue de acôrdo com Seu plano. Nossas aptidões,
sejam quais forem, provêm de Deus. Que diferença fará
na vida de uma pessoa, se ela restituir a Deus suas
aptidões, seu lar, sua mente e seu corpo, para que os
empregue adequadamente como Seus instrumentos?
Algum dia descobriremos que tôdas essas coisas que
usamos para o mal foram determinadas por Deus. Nossas
vias férreas, aviões, telefones, telégrafos e outros dispo
sitivos mecânicos de uso cotidiano, tudo fo i determinado
por Deus. Cada coisa, com sua form a na Mente divina,
foi projetada na mente humana e concretizada. Egoistica-
mente pensamos que tudo foi feito para nosso uso exclusi
vo. Por isto nos surpreenderemos quando em nossas
orações diárias começarmos a verificar que Deus prepa
rou essas coisas para o Seu uso, e então entenderemos por
que Ele as afasta das mãos de algumas das pessoas que
que as controlam, dizendo: «Não as dedicastes à sua ver
dadeira finalidade; vou empregá-las como convém ao Meu
plano».
Então, cada dispositivo, cada instrumento, cada peça
de mecanismo contribuirá para abençoar a humanidade.
Por quê? Por têrmos pôsto nas mãos de Deus nossa
mente, corpo e negócio, ao abrirmos nossa consciência a
Êle, no período de meditação diária, permitindo-Lhe que
os dedique, que os consagre ao Seu propósito.
Isto nos leva logo a constatar que tôdas essas coisas
são ordenadas por Deus, e que nos devemos considerar g.
nós mesmos como instrumentos de manifestação do amor
divino sôbre a terra.
Devemos, pois, abrir nossa consciência para que possa
Deus entrar e consagrá-la, e então haverá em seu pórtico
invisível esta advertência à mente carnal: «Daqui não
passarás!»
129
Assim dedicado a Deus e por Deus consagrado, «Ne
nhuma arma forjada contra ti prosperará»1
DEDICAÇAO CONTINUA
Todos os dias devemos dispor de um período em que
possamos fechar os olhos e nos voltar para dentro de nós
mesmos, convidando Deus a entrar.
Em sentido metafísico, porém, Deus não entra nem
sai, pois nada tem de natureza material: não pode liinitar-
Se a ficar dentro nem fora de coisa alguma. Deus é oni
presente: está sempre e ao mesmo tempo dentro, fora,
acima e abaixo de tudo, e a tudo permeia. Neste sentido,
a palavra «Onipresença» é a única que descreve adequada
mente a natureza de Deus.
Portanto, se Deus, como Infinidade, é Onipresença, no
momento em que abrimos a porta - e imagino essa porta
como sendo minha mente - , nos apercebemos da presença
da Infinidade a inundar e expandir nossa consciência. Eis-
nos, então, sob a Graça. A graça de Deus é o poder, a
Presença, a sabedoria que «excede todo o entendimento»;
a graça de Deus é o que nos confere, como recompensa
por lhe abrirmos nossa «porta», a auto-realização seguida
de seus frutos.
Para abrir essa «porta», devemos orar assim:
Senhor, sei que estás batendo à porta de minha cons
ciência, e a estou abrindo. Toma minha mente e meu
corpo! Sê minha Alma, sê minha vida!»
A isso, seguir-se-ão horas durante as quais seremos
guiados, dirigidos, beneficiados, abençoados. Não obstante,
em outro período de reflexão teremos que renovar nossa
dedicação, procurando vivenciar a essência destas pala
vras:
«Eis que estou à porta, e bato. . . »2 Deus, o Infinito,
o Eterno, o Imortal, o Supremo, enche todo o espaço,
é onipresente, a Presença Infinita. Como abro minha
1 - Is 5 4 :1 7 .
2 - A p 3 :2 0 .
130
consciência a Deus, o Verbo habita em mim e eu
n’Êle, e assim a Consciência divina me permeia. Minha
mente, meu corpo, meu trabalho, meu lar, minha arte,
minhas aptidões são dedicados a Ele. Tudo em mim é
dedicado a Deus, e eu sou um instrumento que Ele
usa para a realização do Seu plano».
Em nos dedicando a Deus, permitindo-Lhe consagrar
aos Seus desígnios nossas mentes, corpos e atividades,
alcançamos um estágio mais elevado; chegamos a saber
realmente o que é consagração e por que algumas pessoas
progridem intensamente em suas atividades espirituais,
enquanto outras, não.
Por ignorarem a natureza da dedicação ou consagra
ção, consideram-na qualidade humana, pessoal e, julgando-
se altamente dedicadas, esperam grandes resultados espi
rituais que não podem alcançar, porque se dedicam mais a
si mesmas, à sua glória pessoal, que a Deus.
Isto evidencia que o homem cuja mente e corpo estão
separados da Graça espiritual é um morto ambulante, e
não viverá realmente enquanto o Espírito não entrar nêle.
Só então é que a vida passa a ter um propósito, um signi
ficado, porque poderá, através do indivíduo, manifestar-se
«aos menores de meus irmãos».
«Em verdade, vos digo, o que fizestes a algum dêstes
meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes».
(Mt 25:40).
Não basta sermos bons para os nossos familiares.
Acho que até as pessoas que vivem no nível animal assim
procedem. A dedicação deve ser de natureza superior à
que se devota apenas à própria família, deve estender-
se a outros, «aos menores de meus irmãos». Precisamos
compreender que a dedicação de caráter pessoal, ou mera
promoção do ego, não é espiritual, não é dedicação a
Deus e, em tais condições, não permite que Ele nos consa
gre a Si mesmo para que possam ser abençoados todos
aquêles que entrem em contato com a nossa consciência.
Daí por que, para essa consagração de nossa cons
ciência, geralmente precisamos esforçar-nos por muitos
131
anos, lembrando-nos, diàriamente, ao despertar pela ma
nhã, antes ou pouco depois de levantar, e ainda muitas
vezes ao dia, de que:
«Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a
minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e
cearei com êle e êle comigo». (Ap. 3:20).
Somente nos primeiros cem anos é que é difícil viver
nessa Consciência. O difícil é apenas êsse período, mas
passa, e passa rápido. Já pensaste no que representa um
século, comparado com os milhões de anos transcorridos
desde que Deus passou a manifestar-Se na terra?! Cem
anos são realmente nadp,!
Ao entrarmos na Idade Espiritual, que já vem des
pontando, e abrir-nos àquela excelsa Consciência ou
quarta dimensão da vida, acontece-nos algo que muda in
teiramente nossa natureza. Então já não temos o poder de
usar a mente e o corpo para fins maléficos. Surge Algo
maior do que nossa própria integridade, maior que nossa
educação ou nosso ambiente, Algo que assume a direção
de nossa vida: sentimo-nos governados por uma Influência
superior. Imprimimos em tôdas as nossas atividades o
cunho dessa dedicação de nossa própria consciência. Ainda
que outros possam valer-se de sua arte, de sua profissão,
de sua indústria ou de seus negócios para fins egoísticos ou
maus, nós, uma vez espiritualmente dotados, não podere
mos empregar coisa alguma senão para o bem.
Eventualmente, porém, deverá chegar um momento
em que já não tratemos de ser bons ou de como ser bons,
de como ser bem sucedidos: é quando predomina em nossa
vida o anseio de preenchimento espiritual; é quando já
estamos realmente fatigados com o lado sombrio da vida;
é quando mesmo o seu lado bom demonstrou não poder
proporcionar-nos as satisfações prometidas.
132
ter contrôle? Como poderá o homem colocar-se conscien
temente sob a proteção de Deus?
Tudo o que nos acontece é devido ao nosso estado de
consciência. Êste é o fundamento de nossa obra. Nada me
pode acontecer se não entrar em minha consciência. O que
não está ligado ao meu estado de consciência não pode afe-
tar-me. Por exemplo: as tentações podem estar à minha
porta ou entrar em meu quarto e não me afetar, se eu não
tiver conhecimento de sua presença ou esta não estiver de
algum modo relacionada com o meu estado de consciência.
As oportunidades de êxito podem estar se aproximando rà-
pidamente de mim, mas, se eu não tiver conhecimento de
las, nenhum proveito me poderão trazer.
Isto pôsto, respondo às perguntas acima dizendo que
a meditação, ou oração, constitui o meio pelo qual podemos
colocar-nos conscientemente sob a proteção de Deus. Não
a oração tomada em seu velho sentido popular, de rogar a
Deus pelo êxito de nossos empreendimentos ou por algo que
atenda aos nossos desejos. Essa espécie de oração jamais
beneficiou o mundo, nas centenas de anos que tem sido
empregada.
Pela prática da meditação adquirimos a certeza de que
existe outra dimensão de vida, a que o Mestre denominou
«Reino de Deus». Quando o reconhecemos, estamos pron
tos para dar o próximo passo, isto é, para nos colocarmos
conscientemente sob a direção de Algo espiritual, quadri-
dimensional, que então passa a ordenar nossa vida, inva-
riàvelmente no sentido do bem.
E logo descobrimos que não existe uma só pessoa no
mundo que não possua talento. 99% dos sêres humanos
ainda não desenvolveram suas aptidões inatas, e nunca
saem da trilha da humanidade comum. Não é que sejam
desprovidos de talento, mas porque não se aperceberam de
que o possuem e de sua finalidade, de sua função, de sua
utilidade.
Como poderemos saber que cada um de nós tem um
ou mais dons? Sem dúvida, por dedução. O Mestre nun
ca foi mais incisivo do que quando afirmou: «A ninguém
sôbre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso
133
Pai, aquêle que está no céu.»8 Logo, não fomos criados
por nós mesmos nem por nossos pais terrenos.
Há um Só Criador, um só Princípio criador, infinito,
divino, que não criaria nada estéril, desnecessário, ou de
natureza morta. Portanto, todo o ser criado à imagem e
semelhança de Deus possui algum talento, alguma voca
ção outorgada por Deus, algum dom divino.
Certos disto, podemos, pela meditação, descobrir qual
a carreira mais apropriada para nós, tenhamos ou não
ingressado em alguma. Quando reconhecemos essa quar
ta dimensão da vida, êsse «Reino de Deus» de que falou
Jesus, e a que Paulo denominou «o Cristo», nesse mo
mento nos abrimos à Sua influência e ficamos aptos a
receber Suas instruções.
A DESCOBERTA DO INFINITO DENTRO DE NÕS
«Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e sua jus
tiça, e tôdas estas coisas vos serão dadas de acréscimo.»34
Quando fechamos os olhos e nos voltamos para den
tro, sentimo-nos envoltos em densa escuridão. Neste recin
to escuro, está a passagem de acesso ao Infinito. A não ser
dentro de nós mesmos, não há outro lugar onde possamos
encontrar o reino de Deus. Dentro de nós, porém, não quer
dizer no coração, na medula espinhal ou no cérebro.
De olhos fechados, nos situamos nesse lugar escuro de
onde parte o caminho que conduz ao reino de Deus, o reino
do Espírito, e o reconhecimento dêste fato nos coloca qua
se no ponto em que podemos sentir que nossos ouvidos se
abrem como se estivéssemos prontos para receber uma co
municação. E esta nos vem de dentro, não nos vem de fora,
não vem de nenhum de nós: vem-nos de nosso Ser Interno,
vem de nosso centro para a periferia, das profundezas à
superfície de nosso Ser.
Conseguimo-lo pela introspecção, compenetrando-nos
de que:
«Através da consciência, tenho acesso ao reino de
Deus, ao Infinito.»
3 - M t 2 3:9 .
4 - M t 6 :3 3 .
134
Ao fazê-lo, estamos obedecendo às Escrituras: abri
mos nossa consciência para que o EU, nosso divino
Ser, a Consciência infinita que realmente somos, possa
entrar. Abrimo-nos à nossa Divindade.
Em tôda criatura humana existem aparentemente
dois «eus»: o humano e o crístico. Nesse momento, o ho
mem terreno é o que precisa «morrer diàriamente»,5 a fim
de renascer do Espírito; é aquêle que intimamente diz:
«Pai, destrói minha natureza terrena; anula meu senso
pessoal, limitado, que me prende a essa mescla de bem e
mal; consagra-me a Ti. Restabelece em mim aquela pureza
que eu tinha no princípio, quando permanecia em Ti.»
Com esta atitude de rendição, abrimo-nos à divina In
fluência, para que entre em nossa consciência e nos gover
ne. Assim, pois, pela prática da meditação entramos em
contato íntimo com êsse Espírito, que passa a permear-nos
a mente e o corpo e começa o processo de purificação que,
eventualmente, nos impedirá, para sempre, de explorar a
outros ou de nos beneficiarmos à sua custa, ou de fazer-
lhes alguma coisa que não quereriamos que nos fizessem.
Isso não será por virtude ou retidão nossa, mas porque
teremos abandonado a mente e o corpo a essa Consciência
quadridimensional, ao divino Ser, que estará agindo atra
vés de nós.
Da consagração de nossa consciência resulta, no mes
mo instante, a submissão da mente e do corpo ao govêmo
de nosso EU espiritual, e a conseqüente consagração de
nossas núpcias, nossos lares, nossos negócios, nossa arte,
nossa profissão.
O que aparece como integridade em nosso trabalho
cotidiano é a consciência individual, a consciência imbuída
do Espírito. O músico, que tem consciência musical, sabe
que não pode desenvolver destreza no manejo do instru
mento independentemente de sua consciência musical, por
que sem a habilidade desta, não podem as mãos, os pés e
todo o corpo desempenhar seu papel. Em outras palavras:
sem a dedicação da consciência, ninguém pode dedicar-se
a nenhum empreendimento. Verifica-se que quando a cons
S - 1 Co 15:31.
135
ciência assume o govêrno da mente e do corpo e lhes dirige
as atividades, nada pode impedir seu êxito. Por quê? Por
que não pode prosperar nenhuma arma forjada contra
Deus, que então Se manifesta como nossa consciência in
dividual.
Não pode o artista expressar o que esteja acima de
sua consciência artística, nem o músico o que esteja além
do limite de sua consciência musical. Tampouco poderá o
sacerdote, o pastor ou rabino estar vivendo acima de seu
estado de consciência espiritual. O mesmo se pode dizer do
curador metafísico. Por quê? Porque no grau de consa
gração de sua consciência ao serviço de Deus está a medi
da dos talentos que o indivíduo manifesta.
Todos os dons estão mais ou menos latentes na cons
ciência do indivíduo, mas, para se desenvolverem, êste pre
cisa tornar-se receptivo à sua Fonte espiritual.
Quando nos apercebemos de que Deus, o Infinito, é a
consciência individual, então Êle passa a manifestar-Se
cada vez mais intensamente através de nós: menores se
nos vão tornando os atrativos do humano ou finito, e maior
a paixão pelo espiritual ou divino.
Isto não quer dizer que precise a Divindade apresen-
tar-Se sempre sob a forma de uma atividade espiritual,
como a de um sacerdote, a de um curador metafísico ou a
de um instrutor espiritual. A Divindade pode agir com
a mesma eficiência no campo da indústria, das artes, das
finanças, da filosofia ou de qualquer outra atividade hu
mana, porque o Espírito infinito funciona sob infinita
variedade de formas. A própria indústria é positivamente
uma atividade derivada da Consciência espiritual, e uma
de suas funções fundamentais é a de prover os meios bási
cos para o desenvolvimento e divulgação da Ciência e
das artes.
Precisamos compreender a natureza integral do
homem como Espírito, mente e corpo, e saber que, uma vez
tocados pelo Espírito, ou Alma, a mente e o corpo funcio
narão em qualquer campo de atividade que efetivamente
abençoe o mundo. Êle colocará alguns no exercício do mi
nistério espiritual, outros, no mundo dos negócios, no mun
136
do das artes, no mundo das finanças ou onde de algum
modo possam, no momento, servir ao melhor propósito.
Abrindo diàriamente nossa consciência ao influxo do
Espírito, saberemos que nossas atividades estarão sendo
dedicadas à realização de um bom propósito. «Em verdade,
vos digo, o que fizestes a algum dêstes meus irmãos mais
pequeninos, a mim é que o fizestes.»6 Quer o façamos pres
tando serviço espiritual, quer aliviando o povo da opressão,
contribuindo para sua maior liberdade política, econômica
ou industrial, tudo concorre para o mesmo fim. E a glória
não é do homem, mas d’Aquêle que Se manifesta através
do homem. Seja o que fôr que realizemos na terra, é obra
do Poder supremo que deixamos fluir através de nós.
A CONTINUIDADE DA VIDA
Ninguém pode ver-nos, porque somos incorpóreos, es
pirituais; somos consciência, consciência imortal.
Algum dia, seja por que fôr, abandonaremos o corpo;
isso, porém, de modo algum fará cessar nossa atividade.
Continuaremos nossa caminhada, trabalhando, abençoan
do, servindo, simplesmente porque aquilo que somos - o Eu
invisível que contempla o que está além do que vemos
através de nossos olhos físicos - é o nosso Ser eterno.
Percebido isto, compreenderemos a importância de se
considerar a continuidade da vida, visto que a menor par
tícula de bem que hoje desponte em nossa consciência, nos
será benéfica no próximo plano de existência.
Ao partirmos dêste mundo, deixamos nossos bens ma
teriais ante o tribunal de sucessões, e levamos conosco os
tesouros armazenados em nossa consciência. Se estivésse
mos de mudança para outro país, ficaríamos satisfeitos de
encontrar em nós integridade, amor, fidelidade, benevolên
cia e capacidade de ajudar a outrem, e nos entristecería a
falta dessas qualidades, no início da vida em outra comu
nidade. O que guardamos em nossa casa espiritual, o que
acumulamos de sabedoria espiritual, constituirá o tesouro
que levaremos conosco quando deixarmos êste corpo.
6 - M t* 2 5 :4 0 .
137
Nos dias de nossa completa imersão nas águas da vida
humana, não passavamos de mortos ambulantes: andava
mos, comíamos e dormíamos, porém estávamos mortos.
Antes de nossa consciência ser tocada pelo Espírito, não
havia nenhuma radiação de vida em tôrno de nós, nada sa
bíamos da realidade, da alegria, da paz da vida espiritual.
Quanto maior a receptividade ao Espírito, no presen
te, tanto mais abundantes os seus frutos, no futuro. No
início de cada ano, é costume trocarem-se Votos de «Feliz
Ano-Nôvo»; todavia, sabemos que êste não será muito
melhor que o anterior, a menos que tenhamos feito algo
diferente do que costumávamos fazer. Logo, se êste ano
assimilarmos algo de espiritual em nossa consciência, algo
que transferir para o ano vindouro, então o Ano-Nôvo
será próspero e feliz.
ABRINDO A PORTA
«EU estou à porta de tua consciência, e bato. Não
venho apenas para que tenhas vida mais abundante,
mas para ficar contigo até o fim do mundo.»
Êste EU de que Jesus falou - nossa Alma - permanece
à porta de nossa consciência, e bate. No momento em que
aprendemos a fechar os olhos e constatar que através da
escuridão interna temos acesso ao Espírito, ao reino de
Deus - às Suas dádivas e riquezas, ao Seu amor e vida - ,
inicia-se um processo de enriquecimento de nossa consciên
cia, o que, a princípio, não podemos perceber através dos
sentidos físicos, mas, com o correr dos dias, testemunha
remos seus resultados.
Reconheceremos os seus frutos como mudança de re
lações que ocorre em nossa vida, modificações de saúde,
aumento de suprimentos, etc., porque essa Influência espi
ritual animadora, ao entrar na consciência, purifica a
mente e o corpo e os mantém e sustenta como a imagem e
semelhança de Deus, o Espírito.
Mas temos que abrir a porta de nossa consciência ao
Espírito; do contrário, Êle permanecerá fora. Isto respon
de àquelas perguntas tão freqüentemente formuladas: Por
que foi êste pobre cão atropelado por um automóvel? Por
138
que foi esta inocente criança morta num acidente? Por que
esta boa mulher foi acometida de tão horrível doença? Por
que êstes jovens são enviados aos campos de batalha, onde
perderão a saúde, ou serão feridos ou assassinados?
Ê que «o homem natural»7 não vive sob a Lei de Deus.
O que de bom lhe acontece é, as mais das vêzes, ocasional e
efêmero. Mesmo os que nascem com vocação especial para
alguma coisa, e desejam ardentemente desenvolver seu
talento, nem sempre o conseguem. Há muitas pessoas de
talento que nunca prosperaram; há muitas que merecem
o reconhecimento do mundo e nunca o obtiveram. Grande
parte do êxito humano é acidental, e para nos subtrairmos
a êsse reino do Acaso, precisamos unicamente de uma coi
sa: nos submetermos à Lei de Deus, de modo que possamos
ser guiados por Êle. E isso, ninguém pode fazer por nós.
Deve ser um ato de nossa própria consciência, e o caminho
a seguir é o da meditação. Assim o aprendi e assim o en
sino :
No comêço, diàriamente, durante três ou quatro pe
ríodos de no máximo quatro minutos, ou, algumas
vêzes, de apenas dez ou vinte segundos, procura abs
trair-te dos ruídos externos, como que abrindo inter
namente o ouvido para escutar os sons que estejam
além e acima da faixa de sons conhecidos e dize, no
teu íntimo: «Fala, Senhor; teu servo escuta!»8
Isto abre a porta de nossa consciência. É um convite
a Deus. E o Espírito sempre entra, ou de imediato, ou al
gum tempo depois. Ãs vêzes, antes que tal aconteça, Êle
age de modo a forçar certas mudanças em nossa natureza.
Se estivermos sendo movidos por algum intento egoístico,
poderemos ouvir: «Buscas-me sòmente pelos pães e pelos
peixes. Vai cuidar dos teus negócios: estou cansado de ti.»
Entretanto, se nos voltarmos ao Senhor com o objetivo de
dedicar nossa mente e corpo ao bem espiritual, motivados
por intenções realmente puras e boas, então Êle virá sem
tardança, mais depressa do que O esperemos. E Sua influ
7 - 1 C o 2 :1 4 .
8 - 1 S m 3 :9 .
139
ência nos conduzirá, finalmente, àquela meta atingida por
Paulo, quando anunciou: «Já não sou eu quem vive, mas
Cristo vive em mim.»8
Gradativamente, à medida que o Espírito entra em
nossa vida, vamos constatando a validade das passagens
bíblicas que dizem:
«Êle cumprirá o que está ordenado a meu respeito.»10
«O que a mim me concerne o Senhor levará a bom
têrmo.»*11
O importante, nestas passagens, é que Êle não faz o
que por nossa vontade teria sido feito. Êle faz em nós e
através de nós o que é de Sua vontade.
Nosso trabalho de oração não é completo enquanto
não inclui dedicação à Fonte pela Fonte mesma. Quando
assim dedicado, verificamos que se realiza em nós, para
nós e através de" nós, e seus frutos não se fazem esperar.
Nossa oração deve ser no sentido de dedicar nossa mente
e corpo a Deus, por amor a Êle e ao nosso próximo, com a
disposição de servir tanto ao menor de nossos irmãos
quanto, se necessário, ao maior dêles.
Assim consagrados ao serviço de Deus, seremos me
lhores em tudo o que fizermos. Seremos melhores advoga
dos, melhores comerciantes, melhores banqueiros, melho
res sacerdotes, melhores escritores, melhores escultores,
enfim, melhores do que tenhamos sido, visto que nossa
mente e corpo estarão sendo usados na manifestação de
dons divinos.
O que nos tem entravado em todos os setores da vida
são os falsos conceitos que vimos alimentando, principal
mente os falsos conceitos de oração, dedicação e consagra
ção.
Temos que nos livrar dêsses conceitos e eliminá-los,
precisamos abrir nossa consciência para sermos instruídos
de dentro, não só quanto aos princípios espirituais da vi
da, mas também sôbre como conduzir nossos negócios,
9 - G1 2 :2 0 .
10 - Jó 2 3 :1 4 .
11 - SI 1 3 8 :8 .
140
nossa arte, nossa profissão. Assim é como nos tornaremos
melhores do que nunca em qualquer dêles, porque teremos
essa Influência espiritual a aperfeiçoá-los.
Aquêles que participam de algum trabalho espiritual,
seja em «O Caminho do Infinito» ou em outra atividade
religiosa, deverão lembrar-se que o que se dedica a êsse
trabalho ou atividade não é o templo, não são os livros
nem os móveis, mas a consciência. E quando essa dedica
ção da consciência é mantida, as influências consoladoras
e curativas irradiam das próprias paredes do templo. Mas
o que consola e cura não são as paredes, e sim a consciên
cia consagrada que as permeia.
A oração não poderá ser realmente eficaz enquanto
não fôr para que se cumpra em nós e através de nós essa
divina vontade quadridimensional, e para que ao percebê-la
tenhamos a sabedoria de segui-la. Então é que o Senhor
cumprirá o que está ordenado a nosso respeito, então é que
Êle levará a bom têrmo o que a nós nos concerne.
141
TRAZENDO DEUS PRRII ■ VIDI1
DlàRIB
(Cap. VIII do livro «Our Spirituál Resources)
1 - Jo 1 7 :2 3 .
142
Para nós, pouco significa se nossas compras monta
rem a oito dólares ou a oito dólares e sessenta centavos; se
compramos êste ou aquêle pedaço de carne, ou se adquiri
mos êstes ou aquêles vegetais. O que realmente importa é
que, com êsse contato, estaremos formando mais um elo
em nossa cadeia de interligação, porque estaremos apren
dendo a não fazer nenhum movimento sem que estejamos
profundamente compenetrados dêsse senso de unidade. Pa
ra estarmos conscientemente ligados a todos os sêres e
idéias espirituais, precisamos sentir-nos efetivamente em
união com Deus. A mera afirmação mental de que somos
um com Deus, nada adiantará. Mas, se estivermos sempre
lembrados dêsse princípio de união, se nêle meditarmos,
refletirmos, ponderarmos até sentir sua ressonância em
nosso íntimo, então começaremos a demonstrar de fato
nossa união com todos os sêres espirituais.
Nossa vida passará, então, a ser vivida na experiên
cia dêsse contato com Deus. Antes disso, a verdade não
passará de mero enunciado verbal, e estará muito longe de
ser manifestada. Só quando êsse pronunciamento mental
se converter em sentimento profundo é que saberemos que
a mão de Deus está nos amparando.
143
Conscienciosa e honestamente, ninguém pode alegar
não dispor de tempo. Todos dispõem de vinte e quatro ho
ras por dia. Mesmo se cada um tiver obrigações diárias a
cumprir durante doze horas, poderá, indubitàvelmente, de
cidir se nas doze horas restantes assistirá a programas de
televisão, ouvirá rádio, irá a um cinema, dormirá ou pas
sará pelo menos duas .dessas horas tentando sentir-se em
união com Deus. A cada um cabe determinar até que ponto
realmente deseja essa experiência.
Ter contato com Deus não é apenas afirmar mental
ou verbalmente que o temos; é muito mais do que isso: é
sentirmo-nos íntima e efetivamente livres de temores e
preocupações de natureza mundana. Depois dêsse contato,
recebemos maior luz espiritual e opera-se uma mudança
gradativa em nosso corpo, em nossa situação financeira e
em outras circunstâncias de nossa vida. Quando atingimos
êsse estado de efetiva realização, sabemos que estamos
sendo divinamente conduzidos, divinamente protegidos, di
vinamente instruídos, e que vivemos sempre na presença
de Deus, seja qual fôr a situação em que aparentemente
nos encontremos.
Há um detalhe cujo conhecimento é sobremodo impor
tante para chegarmos mais ràpidamente a êsse estado de
realização. Ê o seguinte: quanto mais tempo persistirmos
na crença de que Deus cura, de que Deus nos enriquece, ou
nos abastece de alguma coisa, tanto mais tempo seremos
deixados de lado, fora dos domínios da manifestação de
Sua presença. Teremos que chegar a um ponto em que nos
apercebemos de que Deus não é um poder, mas uma pre
sença. Poder-se-á considerá-Lo como um poder somente no
sentido de princípio creador e sustentador de Sua creação.
Mas Deus não é um poder no sentido que Lhe atribuiría
quem dissesse: «Oh, se eu pudesse entrar em contato com
Deus, Êle curaria a todos, abastecería e protegeria todos
os meus conhecidos.» Em tal sentido, Deus não é um poder.
Deus é uma presença. Mas, por ser uma presença - e
infinita - , não existe nenhuma outra presença. Todo pe
cado, tôda doença, morte, e tôda carência, desaparecem
ante a presença de Deus. Precisamos, pois, ter muito cui
dado, quando estamos meditando, para que não acredite
144
mos que o poder de Deus vá curar alguém, ou que vá pro
ver suprimento, ou que vá proporcionar emprêgo a alguém.
Êle não opera dessa maneira.
145
desejo de conhecer a Deus corretamente, nosso lar ou nos
sa casa aparecerá automàticamente, porque Deus é a nossa
morada. Só existe um lugar onde deveriamos viver, que é
em Deus. Devemos viver, nos mover e ter nosso ser em
Deus, deixando de desejar residir em lugares, casas, cida
des ou povoações, mas enfocando nossa atenção numa
única coisa:
Deus é a minha habitação. Minha única necessidade é
Deus - não um lugar onde morar, mas Deus. Quando
tenho Deus, não só tenho onde morar, como também
tenho tudo o que é necessário para montar casa e
mantê-la.
Assim é com relação à proteção ou segurança. Pedir
tais coisas a Deus é perder tempo. Deus é o nosso alto re
fúgio, é a nossa fortaleza. Se orarmos pela nossa identifi
cação consciente com Deus, ou seja, com a Sua onipresença,
constataremos que mesmo quando andamos pelas ruas,
sem qualquer proteção física, nossa proteção espiritual
não permitirá que nenhum mal dêste mundo se aproxime
de nossa morada. Como podería isso acontecer, se nossa
habitação é em Deus? Sofremos acidentes quando nossa
morada é em outro lugar. Mas, se vivermos consciente
mente no esconderijo do Altíssimo, se fizermos de Deus
a nossa morada, se fizermos de Deus o nosso alto refú
gio e fortaleza, se fizermos de Deus o nosso suprimento
e a nossa saúde, então não necessitaremos andar em bus
ca de nenhum lugar para morar, nem de fortalezas, saúde
ou suprimento, porque Deus é tôdas essas coisas.
Deus não pode enviar saúde, não pode prover supri
mento, não pode garantir segurança ou proteção, não pode
dar nem mesmo sabedoria: Deus é tudo isso. Desistamos,
pois, de pedir essas coisas ou outras quaisquer a Deus, mas
tratemos de conseguir entrar em contato consciente com
Deus, somente com Deus, conscientizando Sua presença.
Então poderemos constatar que Deus Se revela na vida
prática, a tal ponto que, se estivéssemos numa floresta e
sem nenhum meio de conseguir alimento, como estêve
Elias, os corvos no-lo trariam ou, ao acordarmos, encon
traríamos pães sendo cozidos sôbre pedras, sob nossas vis-
146
t u ; ou, ainda, se nos encontrássemos num deserto e sem
alimento, como se viu Moisés, cairía maná do céu para nós.
Aliás, nenhuma dessas pessoas jamais se interessou por
outra coisa que não fôsse a sua própria identificação cons
ciente com a presença de Deus.
A multiplicação dos pães e peixes não foi efetuada
pelo Mestre. Êle nada mais fêz senão voltar-se interior
mente para o céu. Em outras palavras, compenetrou-se
da presença e da graça de Deus, e então, automàticamente,
os pães e peixes foram multiplicados. Nós não podemos
multiplicar pães e peixes. O próprio Jesus não o fêz. Êle
apenas identificou-se conscientemente com Deus como
Onipresença e Onipotência, e êsse estado de auto-realização
refletia-se naquilo que compreendemos como sendo as coi
sas práticas da vida cotidiana. Do mesmo modo, nós tam
bém, se necessitarmos de emprêgo, seremos conduzidos de
forma a encontrá-lo; se necessitarmos de uma casa, sere
mos levados a encontrar o que parecerá ser o nosso lar; se
necessitarmos de suprimento, de algum modo o teremos;
se necessitarmos de amigos, de parentes, ou de alguém
para nos ajudar, tudo nos será proporcionado.
Não procures Deus por um lado e suprimento por ou
tro, nem suprimento e Deus; sobretudo, nunca procures
usar Deus como um meio para conseguires uma casa, com
panhia, ou saúde, porque isto seria pretender fazer de
Deus um servo. Êle nunca poderá ser isso. Jamais poderás
servir-te de Deus, a Verdade; mas Deus, a Verdade, é que
te pode usar. Deus, a Verdade pode manifestar-Se em ti
e através de ti.
O PRINCIPIO DA UNIDADE E A
HABILIDADE DE VENDER
O vendedor que pela manhã toma contato com Deus
e vai para o trabalho sentindo a presença de Deus, está
haturaimente sintonizado em espírito com aquêles que ne
cessitam do que êle tem para vender, e no decorrer do dia
será conduzido a êles. Na medida da profundidade dêsse
contato e de sua habilidade de escutar, êle será, sem perda
de tempo, levado aos seus clientes e não precisará fazer
dez visitas para efetuar uma venda.
147
Em minha própria vida houve duas conjunturas dife
rentes em que tive oportunidade de demonstrar êste prin
cípio. No campo de vendas em que trabalhava, os vende
dores eram instruídos de que normalmente se fazia, em
média, uma venda em cada vinte visitas, e que o vendedor
que fizesse conscienciosamente vinte visitas em um dia,
efetuaria uma venda, e o que fizesse quarenta visitas diá
rias efetuaria portanto duas vendas por dia. Esta média
já estava tão bem estabelecida, que os gerentes de vendas
a tomavam por base para determinar o tempo que os ven
dedores trabalhavam. Mas essa norma perdeu sua valida
de, quando provei o inverso, isto é, que uma visita poderia
resultar em vinte vendas. Ao tomar contato com o meu
centro espiritual, eu ficava unido não só a Deus como a
todos os sêres e idéias espirituais. Assim é que, usual
mente, quando fazia minha visita e efetuava uma venda,
surgiam, em decorrência dessa visita, tantos outros pedi
dos que resultavam em vinte transações.
Mais tarde, nos primeiros tempos da crise econômica,
quando eu praticava a cura espiritual, um homem que ven
dia determinado serviço e constatara que na época nin
guém podia comprar aquêle serviço, veio pedir-me auxílio.
Em conseqüência dêsse auxílio, êle teve oportunidade de
demonstrar o mesmo princípio, invertendo a média comum
de vendas, que era de uma venda em cada cinco visitas,
para cinco vendas em cada visita. Além disso, em virtude
de seu grande sucesso com a aplicação dêste princípio, em
menos de um ano foi promovido a gerente de vendas de
sua organização.
Muitas vêzes os vendedores parecem estar sujeitos a
determinada influência ou pressão, porque existe não só o
problema de vender a mercadoria como também o da pos
sibilidade de sua entrega. E há ainda a considerar na tran
sação um terceiro fator, que é a absoluta importância do
comprador. Se o vendedor vive meramente como um ser
humano, está competindo não só com os outros vendedores
do mesmo ramo como, também, está dependendo da prefe
rência do comprador e, por isso, estará competindo com os
demais vendedores de sua própria organização, para que
a entrega da mercadoria vendida seja certa e imediata.
148
Tudo isto pode mudar fácil e ràpidamente desde que
haja uma mudança de consciência do vendedor. Quando
êste é capaz de se colocar acima da mentalidade humana e
compreender que existe somente um poder, somente uma
vida, sòmente uma atividade, e que a limitação, a competi
ção encarniçada e as frias práticas comerciais nada mais
são que a mente carnal em seu pesadelo, êle então descobre
que existe só um comprador e vendedor, que é Deus, a
manifestar-se como milhares e milhares. Nestas condições,
é a Deus que êle oferece a mercadoria, porque Deus lhe
está aparecendo como ser individual infinito, mas polari
zado como vendedor e comprador.
Tudo o que se estiver vendendo, quer se trate de má
quinas, quer de roupas, teve sua origem na Consciência
infinita. Deus é a fonte, o creador e planejador de tudo,
e, certamente, jamais creou mercadoria alguma para ficar
encalhada numa loja ou num armazém. A própria com
preensão de que Deus é o creador de tôda espécie de mer
cadoria, deveria constituir garantia suficiente de que Êle
creou também os meios para a sua venda, isto é, a pro
paganda eficiente, a apresentação adequada do produto
e o comprador certo para êste. Tôda essa atividade está-se
desenvolvendo na consciência de Deus, e não na consciên
cia do homem.
PRINCÍPIOS e s p i r i t u a i s r e l a c i o n a d o s
COM OS NEGÓCIOS
A apreensão ou tensão causada pelas atividades co
merciais pode ser trataida mediante os princípios da cura
espiritual, qualquer que seja a situação causadora. Tais
princípios podem reduzir-se ao reconhecimento de que Deus
aparece como ser individual - reconhecimento êsse que
despersonifica e anula qualquer condição desarmoniosa,
limitada ou limitante, e implica na compreensão espiritual
de que existe um só poder - o que faz com que nossas ati
vidades passem do ritmo da vida humana para o ritmo da
vida de Deus.
Por exemplo: o comerciante que vai para o seu negó
cio, usualmente tem que fazer face a muitos problemas
149
diferentes durante o dia: sempre há decisões a tomar e
compromissos a cumprir; sempre há que tratar com os
colegas e o público, que constantemente lhe fazem pedidos.
Talvez um de seus primeiros deveres seja o de cuidar
da correspondência, o que lhe poderá tomar muito tempo
ou ser um incômodo. Se, entretanto, antes de sair de casa,
ou depois de chegar ao escritório, tomar uns poucos minu
tos para comungar com o seu ser interior e encontrar seu
centro de paz, então, ao abrir a correspondência, será
como se houvesse Algo dentro de si lendo-a e dando-lhe as
respostas a qualquer consulta ou a solução para qualquer
problema.
Quando compreendemos que Deus é também a ativi
dade do negócio, todo o senso de apreensão é aliviado,
porque então estaremos permitindo a êsse Algo invisível
operar e realizar tudo quanto é necessário. Jesus o cha
mava de o Pai interno que faz o trabalho. E se Deus, o
Pai interno, é quem faz o trabalho, como poderemos ficar
apreensivos com o nosso negócio? Se nos sentimos sobre
carregados e apreensivos é, quer o admitamos ou não, por
que estamos tentando assumir a responsabilidade de Deus.
G govêrno está sôbre os Seus ombros, mas, se não o reco
nhecermos e não confiarmos nisso, então estaremos assu
mindo uma responsabilidade que não nos cabe.
Se assumíssemos em nosso negócio a atitude interna
de um expectador, observando o desdobramento da ativi
dade do Infinito Invisível, logo constataríamos o desen
volvimento de tudo quanto fôsse necessário à sua com-
plementação - como capital, se dêle carecéssemos; como
empregados, como fregueses e, finalmente, como disponi
bilidade bancária para aquisição de mercadorias.
Em outras palavras: essa atividade seria completa,
porque o preenchimento é próprio da natureza de Deus.
Deus não cria um sistema telefônico sem que haja quem
o utilize; Deus não cria automóveis sem criar o combustí
vel com que se possa fazê-los rodar. Deus não cria nenhu
ma atividade em nossa consciência, nem se torna respon
sável por nenhuma delas sem a completar. Deus, a Cons
ciência Infinita, o Infinito Invisível, plenifica a Si mesmo
manifestando-Se como atividade individual.
150
O SERVIÇO DEVERIA SER O
MOVEL DE TODO NEGOCIO
A maior parte das organizações comerciais se funda
no desejo de lucro ou para proveito daqueles que aa or
ganizam ou patrocinam. No entanto, essa mesquinha idéia
não constitui a verdadeira concepção de negócio. Alimen
tá-la seria tão errôneo como acreditar que o médico deva
pensar que os doentes o procuram para enriquecê-lo. Pou
cos médicos pensam assim. A atitude do médico em rela
ção a seus clientes deve ser de gratidão ao Pai pela opor
tunidade de ajudar essas pessoas. O enriquecimento do
médico, com a prática da medicina, só é legitimo, do nosso
ponto de vista, quando ocorre incidentalmente em relação
aos serviços que êle esteja prestando.
Por que não se deveria manter com relação aos inte-
rêsses comerciais atitude semelhante? Por que não deveria
o freguês, ao entrar numa loja, encontrar uma atmosfera
mental cuja tônica fôsse um pensamento que correspon
desse a estas palavras: «Obrigado por teres vindo propor
cionar-nos a oportunidade de te fornecer o que necessitas.
O fato de ganharmos dinheiro com a transação, é de im
portância secundária, ante a alegria de podermos servir-te.
Estamos aqui para êste fim, e o pagamento que recebemos
corresponde apenas ao serviço que prestamos.»?
Do ponto de vista espiritual, tôda transação que se faz
é para o benefício do público interessado, quer se trate da
venda de uma peça de vestuário, quer de um livro ou de
um nôvo aquecedor. Qualquer que seja a transação, nosso
objetivo no mundo dos negócios deve ser o de atender às
necessidades do cliente e nos sentirmos gratos pela opor
tunidade que nos dá de abençoá-lo quando entra em nossa
loja. O comerciante que tomar esta atitude nunca precisa
rá preocupar-se com concordata ou falência. Todo homem
de negócios deveria fazer de sua profissão objeto de tra
tamento específico, afirmando, em seu íntimo, diàriamen-
tc, ao sair para o trabalho:
«Estou indo para o trabalho a fim de servir à co
munidade, e não para ganhar dinheiro ou enriquecer.
Portanto, preciso manter a vitrina, a loja e sua en-
151
trada limpas, e tornar o lugar bastante agradável,
para a todos atrair e abençoar.»
Isto poderá não parecer uma maneira muito prática
de encarar aquilo que a maioria considera o duro e insen
sível mundo moderno da concorrência comercial. Não obs
tante, muitas firmas notáveis e bem prósperas foram cons
truídas com base neste princípio de serviço.
O verdadeiro comércio não é frio nem cruel. O comér
cio só é mercenário quando seus dirigentes ainda não co
nhecem os princípios espirituais da vida. O homem que
aprendeu êstes princípios deve recordá-los e sobretudo
manter-se compenetrado dêles, apercebendo-se de que to
dos aqueles que entram pela porta de sua loja estão en
trando também pela porta de sua consciência e que, por
isso, precisa meditar para ter na loja a presença de Deus,
a fim de que seus clientes e companheiros possam encon
trá-la ao penetrarem no âmbito de sua consciência. Todo
comerciante deveria meditar antes de sair para o trabalho,
para que todos aquêles que entrassem no âmbito de sua
consciência pudessem encontrar Deus à sua espera, para
saudá-los.
Quando soubermos que nossa união com Deus impli
ca em união com todos os sêres e idéias espirituais, e apren
dermos a permanecer firmes nessa união, provaremos lite
ralmente a existência de Algo que estará vivendo nossa
vida por nós, Algo que andará à nossa frente para aplai
nar as nossas dificuldades. Então não estaremos vivendo
nossa própria vida, porque dentro de nós haverá Algo que
nos avisará ou nos fará pressentir qual seja o momento de
dar ou de não dar um nôvo passo à frente, poupando-nos
assim de muitos dos problemas que possam ser evitados,
ou encarregando-Se, por nós, prontamente, daqueles que
pareçam inevitáveis.
Ao praticar a Presença e tomar contato com o Espí
rito interno, nos vemos a nós mesmos movendo-nos em cer
to ritmo de progresso espiritual; apercebemo-nos da pre
sença de Algo fluindo dentro e através de nós; compreen
demos que êste Algo toma sôbre Si a nossa responsabilida
de, carrega o nôsso fardo, não importa qual seja o seu pêso.
Êle faz o trabalho e nos livra de apreensões, enquanto nós
152
nos convertemos em expectadores, ficando a observar, um
pouco de fora, o desenvolvimento de nossa própria vida.
CONCLUSÃO
Nosso trabalho não seria totalmente bem sucedido
se ao mesmo tempo que atingíssemos o Espírito de Deus
não tentássemos levantar tôda humanidade ao nosso nível
de consciência. É bom lembrar que ao meditarmos ao mes
mo tempo, ainda que em diferentes partes do mundo, esta
mos unidos no apercebimento da presença de Deus, de
modo que quando um atinge a realização da Presença, to
dos os outros são simultâneamente levantados ao mesmo
nível de consciência por êle alcançado.
Aqui, também, se revela o segrêdo do suprimento. Não
podemos receber o suprimento permanente, que é de ori
gem espiritual, a não ser pela elevação de nossa consciên
cia a um nível acima daquele que produziu a carência. En-
quando nosso estado de consciência continuar sendo o
mesmo de quem sofre carência, esta perdurará. Nestas
condições, será inútil procurar demonstrar que se possui
tal suprimento. Procuremos, pois, alcançar um estado de
consciência mais elevado, mais profundo, mais rico, divi
no, e então veremos fluir o verdadeiro suprimento nesse
nível superior de consciência.
Êsse estado de consciência superior se atinge median
te estudo e prática de princípios espirituais específicos e
vivendo como é aconselhado na literatura inspiradora da
mensagem de «O Caminho do Infinito». Tua meditação te
elevará a ponto de apreenderes a verdade espiritual, e
essa compreensão interna se manifestará exteriormente
como forma de suprimento.
Lembra-te de que nunca estarás meditando sòzinho.
Sempre que meditares, estarás dentro do âmbito da cons
ciência daqueles estudantes, instrutores e praticantes de
<0 Caminho do Infinito» que ao mesmo tempo se acharem
unidos contigo em meditação, embora possam estar espa
lhados por todo o mundo. Ao atingires certo grau de rea
lização espiritual, levantarás aquêles que estiverem medi
tando contigo. Quando alguém com quem estiveres medi
153
tando conscientizar a presença de Deus, tu estarás sendo
levantado ao seu nível de consciência - e disso haverá si
nais que hão de acompanhar aquêles que crêem .. .» 3 Esta
consciência representa o fluxo da graça de Deus como algo
característico de nossa filiação divina.
3 - Mc 16:17.
154
DOMÍNIO CONSCIENTE
Carta mensal de agosto de 1959
155
A ATITUDE DO MUNDO PARA CONOSCO Ê O
RESULTADO DE NOSSA REAÇÃO PARA COM
ÊLE
Nas nossas relações com amigos, com a família, e
membros da comunidade, muito cedo passaríamos a notar
a diferença que iria fazer, se em vez de criarmos antipatias
ou abrigarmos ressentimentos porque as pessoas não agem
na forma como nós pensamos que deveríam agir - fôsse
mos capazes de manter nossa equanimidade e equilíbrio
espiritual, realizando, compreendendo, que o homem não
tem poder de estar certo ou errado, de fazer a coisa certa
ou errada, porque todo o poder reside em Deus, a ALMA
DO HOMEM, A VIDA DO HOMEM.
Se em vez de reagirmos para com os de nossa famí
lia, que persistentemente tentam tirar proveito de nós,
para com os que são desatenciosos, remissos, ingratos,
frios, desamoráveis e estúpidos, nós nos elevássemos aci
ma dessas sugestões e compreendéssemos que não há nin
guém, em nossa casa, que pode dar ou reter o bem - nin
guém em nossa família que pode negar, recusar, reconhe
cimento ou cooperação - tôda a situação mudaria.
Ao você aplicar êsse 'principio, você fará a descoberta
de algo que eu aprendi no meu ministério de cura, e que
consiste no seguinte: a atitude do mundo para comigo é o
resultado direto da minha reação para com êle. Em outras
palavras, se eu fôr chamado, e me pedem auxílio para um
caso de doença, e eu a aceitar como uma realidade, e me
deixar dominar pelo mêdo, ou pela dúvida, ou então co
meçar a trabalhar com afinco para superá-la, a reação
seria tão forte que a cura não se realizaria tão depressa.
De fato, nem haveria cura até que eu pudesse me elevar
acima de qualquer reação ao problema. De outro lado,
quando vem um chamado, se eu me sentir numa posição
suficientemente elevada no meu consciente para enfrentá-
la com uma atitude: «E então! o que é que ela pode fazer!
Ela não tem poder, a não ser aquêle que é recebido de
Deus! Em si mesma, e de si mesma, uma miragem não
tem poder de cobrir a estrada com água, e em si mesma
e de si mesma, uma ilusão não pode fazer algo, nem
156
aer algo» e se êsse estado de consciência (essa-percepção-
da Presença) é minha única reação ao problema, a cura
poderá ser instantânea, ou, pelo menos, será rápida.
Essa é a reação que se deve ter nos casos de injustiça,
desatenção e ingratidão; sempre êsse sentido de «Que di
ferença faz? Não tem nada que ver comigo. Se há qualquer
injustiça, não está dirigida a mim - está dirigida ao Cristo,
e o Cristo encarregar-se-á dela. Se há uma ingratidão, não
é para comigo - é uma ingratidão para o Cristo, e o Cristo
sabe como lidar com ela».
157
cia, ou no estado-de-consciência, onde «os dardos inflama
dos do maligno» (Efésio 6:16) já não atingem a você.
Ainda assim, não há garantia de que o mundo deixe de
sua maledicência, ou de espalhar falsos rumôres a seu
respeito, ou que se abstenha de fazer de você o alvo de
suas «armas de fogo». Poderão acontecer tôdas essas coi
sas, mas a resposta é sempre a mesma: «Que diferença
faz, desde que o «EU» de mim é Deus, e êsse «EU»
jamais poderá ser atingido e ferido?». Enquanto você
vive no sentido de que somente as qualidades e atividades
de Deus podem fluir para fora de você, que importa que o
mundo faça a você, ou a mim?
Tôda a experiência da Crucificação serviu de prova de
que nem mesmo os pregos, a cruz, e a espada tinham
poder. Além disso, provou que nem a oposição, nem o ódio
da igreja organizada, nem a pompa temporal e a glória
de Roma eram poder. A ressurreição celebrada na páscoa
simboliza que o ódio humano contra a verdade não é poder,
que as armas dêste mundo - seus pregos e suas espadas
- não são poder, e que a lei humana não é poder. Essa é
a grande lição a ser-tirada da Crucificação e da Ressurrei
ção. A Ressurreição provou que qualquer que seja a forma
maléfica que é lançada contra nós, «em três dias», pode
mos superá-la. Num curto espaço de tempo, podemos so
brepor-nos acima de tôda e qualquer forma de discórdia
e desarmonia, se, não só nos recusamos a aceitá-la como
um poder real, mas, ainda mais, não a aceitarmos como
se fôsse dirigida a nós, como pessoa, mas realmente diri
gida ao Cristo do nosso ser, e estivermos, então, dispostos
a contemplar o Cristo aniquilá-la.
Seja onde fôr, ou quando fôr, que haja alguém nutrin
do ressentimentos contra nós, manifestando inveja, ciúmes,
ou malícia, empenhado em nos fazer uma competição sem
trégua, ou onde quer que haja ameaça do poder temporal,
ou falta de apreciação, ingratidão, diz-que, diz-ques, male
dicência, ou rumôres, a resposta deve ser sempre a mesma:
«.Nada importa. 0 «homem, cujo alento está nas suas
narinas», não tem poder algum para fazer algo, ou
ser algo! Visto que Deus é a mente do homem, e
todo o poder está cèntralizado, e emana em Deus e de
158
Deus, nenhum doè pilatos dêste mundo tem poder so
bre mim, a não ser que provenha do Pai que está nos
céus».
. Não seria estranho, ter o poder de Deus, e não obs
tante, ter mêdo do que o hómem lhe possa fazer? Foi-nos
dito que não devemos temer o que o homem mortal possa
fazer: «O Senhor está ao meu lado; não terei mêdo: que
poderá o homem fazer contra mim?» (Salmos 118:6) Isso
não deverá ser interpretado como significando que esta
mos sentados aqui com Deus, mas que o inimigo não tem
Deus; não significa que nós temos um Deus aqui para
nos defender de algum poder maléfico, ou alguém, lá fora.
Não. Significa que Deus é o único poder; e com a com
preensão de Deus como o único poder, Deus torna-se, então,
a única voz que pode ser ouvida.
Não existe no mundo nenhuma maneira pela qual pos
samos ser convencidos de que o mal não é poder, a não
ser que possamos ver que existe um Deus, que Deus é, e
que êste Deus que é, é o único poder, e que êste Deus é
realmente a lei, o princípio, a substância do ser individual.
Só depois de você reconhecer Deus como ser indivi
dual, só depois que você possa ver Deus não só como bem
universal, mas o bem universal individualmente manifes
tado, não só Deus como poder infinito universal, mas o
poder infinito universal individualmente manifestado, só
então poderá você olhar para tôda e qualquer pessoa, e
saber: «o único poder que você tem é o de expressar a
Deus, ou deixar que Deus se manifeste através de você».
159
e cedo observareis que não só seu poder do mal é destruí
do, mas que se êle não emendar seus caminhos, destruir-
se-á a si mesmo, ao final. O mal sempre anda às soltas
até o momento em que se choca contra o puro de coração.
Êste ponto está bem ilustrado no caso de um hipno
tizador que estava tentando divertir os membros de uma
família de metafísicos hipnotizando-os e que constatou que
não só podia hipnotizar nenhuma das pessoas do grupo,
mas que, numa tentativa final de exibir os seus poderes,
êle decidiu hipnotizar a sua própria esposa com quem sem
pre tinha sido bem sucedido até então, verificou que não
conseguia hipnotizá-la. Tinha êle encontrado no seu ca
minho os puros de coração - aqueles que conscientemente
se haviam apercebido de que só havia uma mente e um
poder atuando naquela sala. Isso anulou a crença de que
uma pessoa possuía uma mente que ela podia usar para
dominar outra pessoa. Enquanto todos os que estavam na
sala acreditavam que havia duas mentes, o grupo podia ser
hipnotizado; mas quando surgiu uma pessoa que tinha uma
convicção suficientemente forte de que havia só uma mente
na sala, uma mente que não podia destruir-se a si mesma,
o hipnotizador já não podia mais atuar com sucesso.
E assim será na sua existência individual, e na minha,
quando nos tornamos puros de coração, isto é, no momento
em que chegamos à convicção de que Deus é a mente de
cada um de nós, e que nenhum de nós possui qualidades
ou atividades separadas, ou à parte da atividade daquela
uma e única mente, e que nenhuma outra mente está ope
rando, e nenhuma outra mente pode operar. Sòmente as
qualidades e atividades que emanam da única mente estão
se manifestando, e essas são qualidades de inteligência,
qualidades de amor e vida, qualidades do puro ser. Se sur
ge, então, alguém em nossa experiência, que se proponha
a nos prejudicar, ou hipnotizar, suas tentativas serão anu
ladas, e êle não terá nenhum poder sôbre nós.
Tratemos, individualmente, de nos tomarmos puros
de mente, isto é, chegar à compreensão, à realização, de
Deus como mente, vida e Alma individual. Só então as
qualidades de Deus podem fluir para fora de nós, e en
volver o mundo. Contemplemos o Cristo sentado entre os
160
olhoa de cada indivíduo; contemplemos som ente o Cristo
como a substância e a lei de cada condição; e não haverá,
então, nenhum dualismo em nossa consciência, e nenhum
dualismo pode voltar-se contra nós.
Por meio dessa realização, fazemos de nós mesmos
uma avenida para o fluxo, o escoamento, do bem; e faze
mos mais do que isso: pela realização da universalidade
dessa Verdade, nós nos precavemos contra a aproximação
de qualquer mal. Em outras palavras, nós anulamos, invali
damos, a atividade do mal no indivíduo, como fêz Jesus em
Pilatos: «Tu não terias nenhum poder contra mim, exceto
se te fôsse dado de cima» (João 19:11).
Você verificará, que se você, diligentemente, se ocupa
com esta idéia, já não mais se deparará com «o homem que
respira pelas narinas» em coisa alguma. Isso não quer di
zer que, se você necessita de auxílio, não o peça de um
praticista. Certamente que poderá fazê-lo, mas na reali
dade você já não estaria esperando auxílio de uma pessoa,
muito embora o esperasse através dêle, como atividade do
amor divino.
161
através das quais o bem opera na sua experiência. De nada
adianta atribuir os seus problemas à data do seu nasci
mento, ao seu horóscopo, ou às linhas da palma de sua
mão. Deus fêz as linhas das palmas de sua mão, e elas
têm que ser avenidas para a expressão do bem. Deus fêz
tudo o que foi feito.
Pouco a pouco, passo a passo, você começa a subtrair
poder do homem, primeiramente, desenvolvendo a sua
habilidade de ver que o homem nada lhe pode dar e nada
lhe pode tirar ou reter. Você se torna receptivo e responsi-
vo unicamente ao govêrno-de-Deus. Só a Mente Una é a
lei do seu ser. Por que, então, lançar a responsabilidade de
suas dificuldades seja sôbre quem fôr? De que adianta
culpar seja quem fôr por ter lhe dado demais, ou por não
lhe ter dado o suficiente, quando a verdade real é que Deus
é a lei do seu ser e Deus é a vida e o amor do seu ser?
Se você estava dependendo de outrem, a culpa é tôda sua.
Você colocou sua fé em «príncipes», por que, então, culpar
a outros, por terem lhe enganado, quando, antes de mais
nada, nem lhe cabia o direito de fazê-lo? Deus, ünicamen-
mente, deveria ser Aquêle em que você deveria ter deposi
tado sua confiança e sua dependência.
A segunda coisa que passa a ter lugar em sua expe
riência, é que você começa a eliminar poder de coisas, cir
cunstâncias, e condições. Coisa alguma externa tem poder
sôbre você ou sôbre os seus assuntos. Por exemplo, se
você estiver guiando um automóvel numa faixa, deveria
compreender que a vida que é Deus, não está à mercê da
estupidez, do desleixo ou da indiferença - nenhuma des
sas coisas é poder. Admitido, que no nível de consciência
humano existe tal coisa como estupidez; admitido que
existe tal coisa como desleixo, ou descuido, ou motoristas
embriagados - mas mesmo que essas coisas existam, são
elas poder? Podem elas exercer poder sôbre a vida que é
Deus - e existe, por acaso, outra vida qualquer? Podem
elas ter poder sôbre a mente ou o corpo de Deus? Existe
outra mente ou corpo que não seja Deus? Possui qualquer
pessoa outra mente que não seja a de Deus? São essas
qualidades humanas de descaso, ou desleixo, que parecem
estar operando através dela, poder?
162
Êsse princípio você poderá aplicá-lo a qualquer forma
de vida - cobras, tubarões, insetos venenosos. Você pode
aplicá-lo a qualquer coisa que existe no mundo - infecção,
contágio, germes - faça a si mesmo esta pergunta: «Se
Déus fêz tudo o que foi feito, são essas coisas expressões,
ou avenida, de seja o que fôr que não seja Deus?»
Se entretiveste um sentimento maléfico relativo a
alguma pessoa ou condição, neste momento de dedicação,
purifique-se a si mesmo de tais crenças. Em todo êste mun
do não existe uma só pessoa ou condição maléfica que
tenha dentro de si qualquer poder do mal. Seja qual fôr a
sua natureza, por mais venenosa e m ortífera que sua apa
rência possa ser neste momento, você removerá o seu agui
lhão, a sua aparente natureza destrutiva, se puder contem
plar a pessoa ou condição com esta convicção:
Não tendes podêres maléficos, porque eles não existem .
Rotulei-vos mal, e o mundo rotulou-vos erradamente,
quando afirmou que sois m aléficos, perigosos ou des
truidores. Sei que isto não é verdade, porque sei que
em todo o universo não existe pessoa, ou coisa, ou
condição que tenha, em si, qualquer qualidade maléfi
ca, qualquer poder maléfico, ou outro poder qualquer
de destruição. Só existe Deus.
Se eu caminhar «Pelo Vale das Sombras e da M orte,
nada tem erei, de nenhum mal me atemorizarei» (sal
mos 23:tf), porque não existe o mal nessa situa
ção. Embora pareça estar eu tomado pela doença,
não mais a tem erei, porque ela não contém, em si,
elemento de destruição, nenhum elem ento de dor. Ê
em si e de si nada, uma vez que todo o poder está em
Deus.
Não julgarei pelas aparências, mas refrearei todo
e qualquer julgamento, tanto quanto ao bem como
quanto ao mal, e permanecerei firm e na realização
de que Deus, unicamente, é bom, é o bem. Mesmo aqui
lo que tem sido o objeto do meu ódio, não é o mal;
mesmo aquilo que me tem surpreendido do porquê e
como se podería ter intrometido na minha morada, eu
163
agora sei que não é um mal - não tem qualidades do
mal, e êle ou ela, não têm atributos do mal.
Nada é bom, nada é mau: tudo o que é, o que exis
te, é de Deus, e, portanto é espiritual — está acima
de qualidade e quantidade. No plano divino, na
esfera de Deus, não há nem qualidade nem quantida
d e: há som ente o infinito, o eterno, a imortalidade -
um estado de «ser» divino que não tem opostos, nem
o bem nem o mal, mas som ente o puro ser espi
ritual.
A plenitude de Deus, a bondade de Deus e o poder de
Deus, bem como a lei de Deus, me permeiam a mim,
a êste universo, a todo o ser vivo, e a tôdas as con
dições.
Os milagres da Graça virão para dentro de sua ex
periência na proporção em que você retirar todos os rótu
los do mundo dos homens e das mulheres, de condições,
coisas e de circunstâncias, e não mais fizer uso da lingua
gem das comparações, mas reconhecer Deus como o
Princípio Creativo de tudo, e, por conseguinte, tudo é espi-
ritual.
164
LIBERDADE ESPIRITUAL
CARTA MENSAL de julho de 1959
165
são da escravidão de tôda a raça ao dinheiro. Só o místico
é que está livre 4a crença limitada de que notas de dóla
res, de libras esterlinas, ou alguma outra form a de moeda
controla o destino das criaturas.
Quanto mais elevada fôr a consciência espiritual que
você alcança, mais compenetradamente perceptivo você
ficará das muitas e muitas formas de escravidão que pren
dem os homens e as mulheres a uma vida de insatisfação e
de frustração, e, simultâneamente, mais forte será o impul
so que você passa a sentir, de dentro, de querer vê-los
libertados. Essa é a razão por que algumas pessoas, nos
seus primeiros estágios de crescimento espiritual, se tor
nam fanáticas, cheias daquele ímpeto que manifestou
Paulo. Querem sair pelo mundo afora a libertar todos os
homens, como queria Paulo, e muitas vêzes terminam com
seus corpos alquebrados, e suas mentes debilitadas, porque
o mundo resiste a tudo e a todos que tentam trazer-lhe
alguma medida de liberdade. O mundo geralmente agracia
com honras e grandes riquezas àqueles que o escravizam,
mas irônicamente resiste aos que desejam vê-lo livre.
Quanto mais você avança e quanto mais progride no
seu desenvolvimento espiritual, mais claramente se desven
da ante seus olhos o quadro de quanto os homens estão
mentalmente e fisicamente escravizados. Descortina-se a
vastidão panorâmica da tragédia; mas, ao mesmo tempo,
como você também conhece o remédio, nasce dentro de
você o desejo de ajudá-los a conseguir e manter sua liber
dade. Em última instância, a sabedoria revelará caminhos
que despertarão os homens e as mulheres de sua letargia
e inércia e nêles despertará sua responsabilidade como
cidadãos, dando-lhes ao menos uma parcela de liberdade.
166
porporção em que você tenha desenvolvido sua consciência
da verdade que lhe possibilitará a enfrentar qualquer êrro
especifico, e não combatê-lo, mas, sim, afastar-se dêle, na
realização de que o agente curador, redentor e libertador,
é o Cristo realizado, ou Deus realizado.
No seu esfôrço para atingir o alvo da liberdade, você
descobrirá que o momento mais difícil de todos, será quan
do você tentar resolver seus próprios problemas de saúde,
de suprimento, ou os de sua família, de sua comunidade, e
nação, e dissolvê-los no «nada», e verificar, então, que ao
em vez de obter sucesso você está combatendo exatamente
os problemas que intelectualmente você reconheceu como
«nada». O fato é que para resolver (dissolver) êsses pro
blemas no NADA que êles são, é necessário atingir o lugar
em que você sabe que a batalha não é sua, e que portanto
não há necessidade de você continuar resistindo a êsses
problemas. É a incapacidade de abster-se de manipular seu
problema como «algo» que constitui a verdadeira dificulda
de.
Quando você tiver que lidar com um problema de
qualquer natureza, será um grande auxílio se o seu pri
meiro pensamento se fixar em uma das muitas promessas
bíblicas: «Onde o Espírito do Senhor habita, há liberdade»
(II Cor. 3:17), ou «Na Tua presença há plenitude de ale
gria» (Salmos 16:11). Isso instantâneamente o livrará de
tentar lutar com o problema porque imediatamente o tor
nará consciente de que o motivo, a finalidade do seu tra
balho, não consiste em vencer o problema, mas sim alcan
çar a Consciência-de-Deus (estar consciente, ter consciên
cia, sentir, perceber a Presença - N. do T .).
Os ensinamentos da ciência mental, psicologia e psi
quiatria divergem dessa modalidade, visto se dedicarem à
solução de problemas específicos, do ponto de vista hu
mano, sendo que seu alvo consiste em mudar condições
humanas más em condições humanas boas. O Caminho do
Infinito opera num nível inteiramente diferente, digo, nível-
de-consciência diferente, no qual nós não combatemos, ou
superamos problemas, nem fazemos tentativas de suplan
tar males humanos com o bem humano, mas nos firmamos
167
na revelação do Mestre, que «Meu Reino não é dêste munT
do» (João 18:36).
O Caminho do Infinito é baseado, fundamentado, na
revelação dêsse Reino espiritual, um universo dirigido-por-
Deus, no qual o homem não vive pela fôrça física ou pelo
poder mental, mas pelo Meu Espírito. Vive pela Palavra
de Deus, que é veloz, aguda, e poderosa - não pelos pensa
mentos do homem. O Caminho do Infinito está fundamen
tado não no poder-de-Deus, um poder que é a própria alma
do homem, mas que se serve da mente como um instrumen
to. Quando você luta com um problema, você o está com
batendo com sua m ente; e por conseguinte, está fazendo
da mente um poder, em ves de usá-la como um instrumento.
Se você permitir que sua mente seja um instrumento
de sua alma, então, quando um problema se apresenta,
em vez de combatê-lo, ou trabalhar contra êle, você lem-
brar-se-á, antes de mais nada, que onde o Espírito do Se
nhor está, há liberdade. Nessa certeza, você sentir-se-á
capaz de. abandonar o problema, constatando por essa for
ma sua receptividade e conformidade à palavra de Deus,
Sua mente, então, se torna - um instrumento através do
qual você pode ouvir a voz silenciosa e sutil - ou pelo
menos ficar em atividade de auscultação - e sua atitude
será de receptividade, uma aceitação, um reconhecimento
de que o único problema que você tem pela frente é alcan
çar um sentido (experienciar) da Presença de Deus.
Você poderá permitir que se manifeste em seu pen
samento qualquer das verdades especificas que você co
nhece (afirm ações), tendo sempre presente que você não
está tentando curar, ou enriquecer, a quem quer que seja,
nem resolver os seus problemas humanos, mas, sim, re
ceber a Graça de Deus. Meditará, sim, mas unicamente
para deixar que Deus fale, pois quando Sua voz se mani
festa, a terra se derrete. Portanto - e aí é que está a
dificuldade - pare de lutar contra o problema; pare de
aplicar fôrça física; pare de usar poder mental; e aprenda
a relaxar.
Isso é algo assim como a gente transformar-se num
vácuo, num «vazio», exceto que interiormente você está
mais acordado e mais alerta do que jamais estêve antes.
168
Nessa quietude e nesse silêncio, nessa ausência de tudo o
que você aceitava como poder, o Cristo pode vir até você.
As vêzes vem muito suavemente e mansamente, e outras
vêzes vem como um trovão, surpreendendo-o. Mas quando
file fala, os problemas - pessoal, da comunidade, nacional,
ou internacional - são resolvidos; e a libertação física,
mental, moral, ou financeira, é alcançada - não pela fôrça,
não pelo poder, mas pela Graça de Deus.
A finalidade a ser buscada é a Graça espiritual. A
maneira de alcançá-la é a não-resistência interior, isto é,
nenhuma resistência mental. Procure conscienciar que on
de o Espírito de Deus está, há liberdade; em Sua Presença
há plenitude de vida; Sua Graça é sua suficiência. Tal
realização, compreensão, o capacita a «desprender-se» da
luta; liberta sua mente do carrossel (círculo vicioso), ainda
que seja só durante dois ou três segundos, de form a que
você poderá devotar-se à consecução da realização (da
percepção consciente) da Presença de Deus, do Espírito do
Senhor; e quando isso ocorre, inundando-o com aquela
graça interior, ou sensação de libertação você verificará
que de uma maneira perfeitamente natural, normal, o pro
blema externo está resolvido, ou solucionado.
A form a para a solução de um problema, ou a solução
pròpriamente dita, ocorre quando seu pensamento não está
prêso a êle, ou a ela. A solução de um problema não se
manifesta sempre de uma mesma maneira: às vêzes o
problema se dissolve sem deixar um traço sequer, e você
não se dá conta quando isso ocorre, nem porque, nem com o;
outras vêzes você recebe uma resposta específica sôbre o
que deve ser feito, ou o que não deve ser feito, e quando.
A graça de Deus é revelada e manifestada quando o
seu ego humano (sua egoidade - seu sentido pessoal do
«eu») tiver sido silenciado. Daí em diante você não está
mais interessado com problemas, ou com um problema, seja
qual fôr, de natureza pessoal: Você está preocupado com
um só problema, e êste problema consiste no fato de que
o mundo vive em um sentido de separação de Deus, e por
que Deus não está operando na sua experiência, êle está
prêso, acorrentado, à escravidão. Sua única função é de
169
ser instrumento através do qual a voz de Deus possa falar,
como falou através de Moisés no Monte Sinai.
170
áual, e êste aspecto mais ampliado é a fase seguinte do
trabalho do Caminho do Infinito.
Se você fizer um retrospecto da experiência religiosa
do mundo, observará que apesar de tôda a luz que veio a
nós através de almas iluminadas no decorrer dos séculos, o
mundo encontra-se ainda em escuridão espiritual. Do que
se pode deduzir que nenhuma quantidade de luz oriunda de
um indivíduo, seja quem fôr, é suficiente para elevar o
mundo, por mais luminosa que seja.
A luz deverá vir através de um número maior de in
divíduos, não só muito maior, mas muitos ao mesmo tem
po, até que, finalmente, permeie tôdas as consciências
individuais e se torne uma consciência coletiva. Já passou
o tempo quando um só indivíduo por mais iluminado que
seja, ou que venha a ser, possa ser considerado como algo
mais do que um guia apontando o caminho em direção ao
què cada indivíduo possa, ou tenha, que alcançar. Vosso
alvo, e o meu, é a conquista da maior luz que sejamos ca
pazes de alcançar, e, após, aceitar a responsabilidade de
ensiná-la e torná-la acessível aos outros, a fim de que êstes,
por sua vez, possam ficar inspirados a buscar ou tornarem-
se aquela mesma luz. Não há outra maneira de a liberdade
espiritual se manifestar no mundo.
Se pelo nosso exemplo, e pelas nossas obras, pudésse
mos superar tôdas as doenças e todos os pecados em qual
quer determinada cidade hoje, amanhã haveria de ter uma
nova leva de pessoas doentes e de pecadores. Se pudésse
mos caminhar pelos hospitais, hoje, e curar cada pessoa, e
se pudéssemos entrar em tôdas as prisões e libertar cada
prisioneiro, amanhã essas mesmas prisões e hospitais esta
riam cheios de outras pessoas. Não importa a altura que
venhamos a alcançar, individualmente, somos nada mais
do que uma parte infinitesimal de uma história com um
final triste, a não ser que pela nossa vida outros fiquem
iluminados.
Isso soa como uma tarefa muito difícil - e, de fato, é.
Parece-nos que as coisas surpreendentes que temos teste
munhado neste trabalho, durante tantos anos, deveríam
estar despertando o mundo. Mas o mundo continua ador
mecido - com exceção de um aqui, ou outro ali e mais
171
outro lá. E assim é que nossa função não é simplesmente
receber esta luz, e produzir algumas curas, mas viver de
tal form a que nossas vidas inspirem outros a «irem fazer
o mesmo».
À medida que o Espírito do Senhor, o Cristo, encontra
uma saída através de vossa consciência, Êle toca as vidas
de todos aquêles que se cruzam convosco nos caminhos de
vossa existência.
172
NiO DEVERÍS CRIAR ÍDOLOS
CARTA-MENSAL de março de 1965
Prezado Am igo:
As discórdias «dêste mundo» nos afetam porque não
estamos conscientemente em contato com a Fonte do Bem
infinito. Temos vivido sempre apoiados em conhecimentos
obtidos através da mente, os quais se limitam ao que ve
mos, ouvimos e lemos. Estamos limitados à nossa própria
fôrça, à nossa própria inteligência. E, neste estado de
separação, aceitamos a crença dominante, de que a auto-
preservação seja a primeira lei da natureza, o que no ver
náculo atual se traduz nestas palavras: «Ataca antes que
te ataquem!»
Para que Deus possa atuar cònstantemente em tua
experiência e evitar que as desgraças terrenas (guerras,
fome, pobreza, tirania e injustiças) te atinjam, terás que
tomar contato com o Pai, internamente no centro de reali
zação. Já descobriste que pouco ou nada fizeram por ti
tôdas as palavras e pensamentos que tens usado. Talvez
tenhas andado a repetir, cheio de esperanças: «Sou rico,
sou rico, sou rico» (e continuando p obre); «sou sadio, sou
sadio, sou sadio» (e continuando enfêrm o); «sou espiritual,
sou espiritual, sou espiritual» (e continuando carnal). A
ineficiência dessas afirmações se deve ao fato de que ne
nhuma delas é a Verdade. São verdades acêrca da Ver
dade.
173
Pode-se pensar em música a vida inteira e não saber dis
tinguir uma simples nota. O pensar em música não basta
para fazer o musicista. Para isso é preciso desenvolver de
algum modo a consciência ou senso musical.
Assim também as palavras que pronuncies e os teus
pensamentos acêrca de Deus poderão permanecer como
exercício puramente mental, não se concretizando em tua
vida diária enquanto não houveres sentido a presença do
Pai interiormente, enquanto não tiveres alcançado dentro
de ti mesmo a segurança de Sua paz, de Sua graça. Quando
sentires essa segurança, ser-te-á tão sagrada que não fala
rás dela. Compartilha-la-ás só com aquêles que desejem
conhecer a Deus corretamente.
Procura freqüentemente entrar em comunhão interna
com o Pai, e um dia Sua Luz descerá sôbre ti para ficar.
Poderá não ser no primeiro dia, poderá não ser no primeiro
mês, poderá não ser no primeiro ano de busca. E desde
então, onde quer que estejas, se te voltares para dentro,
ali o encontrarás.
Levei muitos e muitos anos para chegar a sentir essa
Presença interna. Quem poderá saber quanto tempo leva
rás para passar da especulação acêrca de Deus ao conhe
cimento direto de Sua presença? Cada um de nós tem o
molde de consciência que lhe é peculiar.
Houve pessoas que passaram a vida inteira a pensar
em Deus, que viveram sempre com a Bíblia na mão e,
entretanto, sempre estiveram astronômicamente afastadas
de Deus. O que tinham em mente não passava de palavras,
e estas não são e nunca serão Deus.
Nenhum conceito, inclusive o têrmo «Deus» e o têrmo
«Cristo», jamais se converterá n’Aquilo que Deus é. Posso
afirmar que Deus não é uma palavra. O conhecimento de
Deus, ou de Cristo, é uma experiência,
Podes sentir a presença de Deus, ou o Cristo, mas
nunca O conhecerás intelectualmente. E como Deus não
pode ser conhecido por meio da mente, para conhecê-Lo
precisas cessar de pensar acêrca d’Êle. O pensar te pro
porcionará o conhecimento de Deus.
Se, como pode acontecer, surgisse em tua mente algu
ma figura parecida com a que julgues ser a de Jesus, isso
174
nfto seria o Cristo. Seria uma imagem mental, mas, a me
nos que fôsse suscitada por uma emoção superior, não
indicaria que estivesses passando por uma experiência
crística. Há, sem dúvida, muitas pessoas que suscitam qua
dros pictóricos emocionalmente. Na Europa existem pes
soas que apresentam no corpo os estigmas da crucificação
do Mestre, e essas têm sido, erroneamente, consideradas
como místicas. Em muitos casos trata-se de pessoas neu-
rótico-emotivas que vivem com a mente fixa no quadro da
Paixão, o qual, eventualmente, se exterioriza. Poderías
fazer a mesma coisa, se te sujeitasses a permanecer por
determinado número de anos num estado emocional pro
vocado pela fixação mental do quadro da Paixão.
Poderás exteriorizar em teu corpo o que quiseres, bas
tando determinar-te a viver sentindo-o internamente du
rante o tempo que fô r preciso. Poderás manifestar um
estado de absoluta pureza, em que nenhuma sugestão im
pura jamais entre em tua mente ou em teu corpo, se
empregares o tempo suficiente para consegui-lo. Por outro
lado, se quiseres encher a mente de pensamentos sensuais,
poderás tornar teu corpo tão lascivo que será um pecado
deixá-lo sôlto pela rua. Tudo o que puseres a vibrar em
tua mente, em qualquer grau de intensidade, manifestar-
se-á em teu corpo, porque a mente e o corpo são unos.
Às vêzes surgem incompreensões sôbre a função da
mente, por se terem feito coisas maravilhosas com a fôrça
do pensamento. No mundo tridimensional, a mente não é
apenas uma grande fôrça, mas é provàvelmente mais pode
rosa que tôdas as fôrças materiais reunidas.
A mente pode ser usada para nos ajudar, e a outros,
construtivamente, como também pode ser empregada para
destruir todo o mundo, destruindo-se a si mesma junto com
êle.
A fôrça da mente humana pertence ao nível tridimen
sional. Se restringires a alimentar persistentemente pen
samentos de natureza correta, amável e caritativa, farás
certo progresso no sentido de melhorar teu caráter. Por
outro lado, se ocupares a mente só com pensamentos obs
cenos, destrutivos e carnais, sem dúvida dentro de poucos
175
meses tenderás a te converter em algo dessa natureza, que
começará a transparecer em tua fisionomia.
Na vida tridimensional, que é mente e matéria, a
mente é um instrumento que pode ser usado tanto para
o bem como para o mal, por meio de bons ou maus pensa
mentos, construtivos ou destrutivos. Quando empregada
para o bem, o é impessoalmente, e nunca em benefício de
determinada pessoa em detrimento de outras.
176
as circunstâncias, e é suficiente para prover a tôda ne
cessidade de cada momento. Todavia, se observares o que
se passa no mundo, acharás que esta afirmação é absolu
tamente falsa. Vendo tôdas as pessoas doentes, pecadoras,
agonizantes, encarceradas ou em qualquer outra situação
infeliz, o teu primeiro pensamento será de que tal afir
mação é uma mentira. Entretanto, ela não quer dizer que
sòmente palavras possam atender às tuas necessidades. A
graça de Deus é que constitui o teu suprimento, e não as
palavras. As palavras são apenas para te informar que se
alcançares a Sua graça, nela encontrarás o suprimento.
Por que muitos não acreditam na Bíblia? Porque le
ram suas maravilhosas promessas e se vêem forçados a
admitir que não há provas de que se tenham cumprido no
cenário da vida humana. Centenas de pessoas lêem que
«Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente
nas tribulações»,2 mas quando se acham em apuros Deus
não está presente para socorrê-las, e por isto são tentadas
a pensar que a Bíblia mente. Não, a Bíblia não mente. O
mal está em que tais pessoas se apóiam numa passagem
bíblica sôbre Deus, e não em Deus. Pensam que basta de
corar e recitar o versículo que diz: «Nenhum mal te su
cederá, praga nenhuma chegará à tua tenda»,3 para que no
dia seguinte já possam gozar dessa proteção. Daí concluí
rem que a Bíblia esteja completamente errada. Esquecem-
se de ler a primeira parte, que diz: «O que habita no
esconderijo do Altíssim o. . . »4 E por isso não entendem
que os únicos que estão livres dos males dêste mundo são
aqueles que habitam no esconderijo do Altíssimo.
Centenas de pessoas saem diàriamente para o serviço
de comunhão. Bebem vinho, comem um pedacinho de pão
e pensam que comungaram com o Cristo. Talvez o façam
mentalmente, em suá imaginação. Mas a verdadeira comu
nhão é uma experiência real, algo que acontece quando a
pessoa se encontra face a face com o Cristo. Quando o
Cristo fala, ou Se comunica com alguém, de qualquer ma
2 - SI 46:1.
3 - SI 91:10.
4 - SI 91:1.
177
neira, isso é comunhão. O serviço de comunhão das igrejas
é um símbolo da verdadeira comunhão. Esta é tomada
como se fôsse a coisa real, mas não o pode ser, porque
ninguém pode recebê-la enquanto não encontrar o Cristo
internamente.
Temos sido induzidos a crer que a crucificação de
Jesus nos salva dos castigos correspondentes aos nossos
pecados. Se assim fôsse, ao nascer já estaríamos autoriza
dos a gozar a vida pecando à vontade, impunemente, uma
vez que Jesus teria sido crucificado para isso. Isso é ver
dade simbolicamente, porque quando Cristo ressuscita em
nós, do túmulo onde está sepultado, os nossos pecados são
perdoados, e daí por diante já não existem mais. Mas o
perdão do Cristo é sempre acompanhado destas palavras:
«Não peques mais, para que não te suceda coisa pior.»56E
nunca nos esquecemos completamente disso, porque nos é
dito em tom enérgico. Pode até causar-nos surprêsa, por
que em geral se considera a Cristo um sér amável. Êle é
amável quando promete: «Os teus pecados te são perdoa
dos»8, mas o que vem depois é uma admòestação para que
mudemos nossa conduta.
Tudo o que está na Bíblia é verdade, quando experi
mentado. Poderás ter o Faraó pelas tuas costas e ó Mar
Vermelho pela frente e, não obstante, te saíres sem sequer
um arranhão, se tiveres a Experiência. Mas para isto não
basta ler, citar ou decorar a Bíblia.
Tudo pode acontecer neste mundo, porque é como um
ramo de árvore separado de seu tronco. Mas nada de mal
te poderá suceder após iniciares a experiência de entrega
de tua vida ao Espírito interno, porque então poderás,
guiado e protegido por Êle, cumprir o que te fôr exigido
no mundo externo. Poderá haver enfermeiros, médicos,
advogados, mecânicos, cientistas, ou professores, mas en
quanto seu trabalho fôr feito sob a graça de Deus, será
harmonioso, bém sucedido, proveitoso, fecundo, e sempre
sobrará o suficiente para distribuir com aquêles que ainda
não despertaram para a Experiência espiritual.
5 - Jo 5 :1 4 .
6 - L c 7 :4 8 .
Í78
Tôda religião autêntica é Experiência espiritual. Ex
perimentar Buda no Budismo, ou Cristo no Cristianismo,
é a mesma coisa. Significa elevar-se à quarta dimensão da
vida, ao Espirito de Deus, à Consciência-Deus, à presença
de Deus.
179
Esta segurança não é coisa que possas obter de livros,
ou em templos sagrados, em jejuns ou em celebrações re
ligiosas. Não a conseguirás através de rituais ou sacra
mentos. Não a conseguirás senão buscando-a no único
lugar onde pode ser encontrada: dentro de ti.
Nunca terás uma prova positiva de que o reino de
Deus está dentro de ti, nem conseguirás uma demonstra
ção efetiva de unidade, se não meditares sozinho, voltan
do-te para dentro de ti mesmo e sem proclamar ao mundo
quais sejam as tuas necessidades. Nesse período de iso
lamento, poderás fazer tua a sabedoria de Jesus, a sabedo
ria dos místicos ou dos ensinamentos de «O Caminho do
Infinito», porque só então é que provàvelmente estarás
constatando que tu e o Pai sois um. Agora, terás que acei
tar e provar a verdade de que estás neste Caminho:
«Volto-me para dentro de mim mesmo. Não estou vol
tado para o firmamento; não estou voltado para lugar
algum fora de meu próprio ser. Não estou à procura
de templos, mestres ou livros sagrados. Estou voltado
para dentro.
Aqui estou. A verdadeira Fonte, a verdadeira morada
de Deus é dentro de mim. Deus está no santuário in
terno de meu próprio ser. Não estou preocupado com
a minha vida: com o que comerei ou beberei. Não ando
em busca de saúde, emprêgo ou oportunidades de
sucesso. Estou procurando o Teu reino, a Tua graça.
Na realidade, o que estou procurando é certificar-m e
de que «estás mais próximo de mim do que o ar que
respiro, mais perto do que mãos e pés», e que conhe
ces as minhas necessidades, e que é do Teu agrado
dar-me o Reino.
Assim oro em segrêdo. Não dou a perceber que estou
orando. A ninguém dou a conhecer quais são as coi
sas de que necessito. Não dependo do «homem cujo
fôlego está no seu nariz».10 Volto-me para dentro: se
êste ensinamento é verdadeiro, Deus está. aqui, e não
preciso sair de onde estou. Basta-me saber que estou
10 - Is 2:22.
180
buscando a Tua graça, para a realização da Tua pre
sença.
Nesta meditação eü aceito a verdade de que o lugar
em que estou é terrá santa porque Deus está presente.
Aceito a Deus como Onipresença. Aceito a Deus como
Onisciência. Êle sabe do que necessito. Aceito a Deus
como Amor, que se compraz em dar-me Seu reino.»
Este Espírito, com o qual àgora tomaste contato e te
tornaste uno, é a Presença que anda adiante de ti: é
o teu pão, o teu vinho, o maná oculto, o manjar que ó
mundo não conhece.
O MILAGRE
O agente curativo é essa Presença, e não a mente.
Acaso podes compreender que, quando alguém me pede
ajuda, a primeira coisa que me sucede é a paralisação da
mente, que cessa de pensar? Não penso sôbre a Verdade.
Limito-me a escutar, e isto permite que a presença e poder
de Deus penetrem no paciente. Se nesse momento eu pro
curasse pensar, mesmo que fôsse a Verdade, estaria ten
tando transformar uma declaração acêrca da Verdade em
um poder. Nenhuma afirmação sôbre a Verdade é poder
de Deus. Sòmente Deus é Poder.
Se desejas a ajuda de Deus, aquieta-te; aquieta-te
para que Êle te possa ajudar. De contrário, estarás permi
tindo que teu ego interfira e, o que é pior, estarás criando
ídolos. Que diferença haverá entre atribuir poder divino a
uma passagem bíblica ou pensamento e a uma imagem de
escultura? Tudo são imagens feitas pelo homem.
Só não é feito pelo homem aquilo que funciona atra
vés dêle quando em silêncio. Com isso, êle nada tem a ver.
Assim, pois, quando me pedem auxílio, o pensamento pára
imediatamente, não importa o que eu esteja fazendo. E en
tão, tudo o que flui através de mim é a influência da pre
sença e poder de Deus. Algumas vêzes, sei o que é; outras,
vem como uma mensagem, ou por meio de palavras; mas
em 99% das vêzes eu não sei.
Muita vez os estudantes me escrevem dizendo: «Oh,
aconteceu-me isto. . . mas creio que já sabíeis de ante
181
mão.» Mas, na verdade, eu não o sabia; não estava pen
sando nêles, nem sôbre qual fôsse a mensagem que Deus
teria para êles. Tudo o que eu fazia era abstrair-me do
corpo, ausentar-me da mente e deixar que o Espirito desem
penhasse a Sua função: era não tentar fazê-lo por Êle nem
com Ele, mas deixar que Êle o fizesse por Si mesmo. De
contrário, eu estaria criando imagens.
Qualquer palavra, qualquer pensamento acêrca de
Deus, que tiveres na mente, é uma imagem esculpida por
ti. Se quiseres estar ausente do corpo, inclusive do corpo
mental, terás que te abstrair das form as de pensamento, e
então, seja Deus o que fôr, acontecerá algo de um modo
que ao senso humano parecerá milagre. Mas não há mi
lagre.
Ninguém compreende melhor que eu a verdade des
tas palavras do Mestre: «Se eu desse testemunho de mim
mesmo, não seria verdadeiro o meu testemunho.»11 Êsse
poder não era dêle nem de ninguém, mas de Deus. Quanto
mais me abstenho de pensar e me torno receptivo, tanto
mais eficaz a fôrça curativa que flui de Sua presença atra
vés de mim.
11 - Jo 5:31.
12 - Mt 13:46.
182
enviou.»111 Teriam dito: «Essa não! Aquêlè rabino anda
dizendo por aí que é Deus!»
Tampouco poderás dizer a quem viveu tôda a sua
vida na mente, no intelecto: «Deus só estará presente
quando tudo isso fôr abandonado.» Mas aquêles, cujo
grau de desenvolvimento lhes permite ler esta Carta, sa
bem que estou revelando o fruto de pràticamente quarenta
anos de busca espiritual. Tais estudantes estarão muito
mais interessados nos períodos diários de experimentação
de contato com Deus do que no conhecimento intelectual
acêrca de Deus e de «O Caminho do Infinito», submeten
do-se gradativamente a Êle, ao mesmo tempo que se
apóiam no fundamento da letra da Verdade, ou seja, nos
princípios.
Neste Caminho, cada um está realmente buscando a
Deus para que governe seu corpo a fim de que seja sem
pre sadio, forte, jovem e conserve as faculdades essenciais.
Devem admitir que essa é a sua esperança, o seu sonho;
mas receio que muito poucos se lembrem de que isso não
será possível enquanto não entreguem a mente ao Espírito.
Não poderão ter a mente sôlta numa direção e o corpo di
rigido para outra, porque Deus atua através da mente for
mada como corpo.
Recebe-se a influência de Deus quando a mente não
está condicionada, quando não tem pensamentos pessoais,
egoístas ou maus. E, ao recebê-la, sua harmonia se reflete
no corpo, porque a mente é a substância do corpo. Quan
do a mente está repleta de Deus, o corpo está pleno dè
harmonia.
«Tu, Senhor, conservarás em perfeita paz aquêle cujo
propósito é firm e; porque êle confia em ti.»1
14 « . . . e
3
não te estribes no teu próprio entendimento. Reco
nhece-o em tódos os teus caminhos, e êle endireitará
as tuas veredas.»15
Precisas aceitá-Lo em tua mente e em teu corpo. Se
quiseres que Êle te governe o corpo, lembra-te de que terá
13 - Jo 12:45.
14 - Is 26:3.
15 - Pr 3:5,6.
183
de ser através da mente. Quando entrares em meditação,
deverás estar disposto a receber Deus em tua mente. E
não creias que Êle atuará sôbre o teu corpo por outro meio
qüe não seja a tua mente. A não ser através desta, isso não
acontecerá.
Terás que te entregar a Deus em tudo o que fizeres,
pondo tuas aptidões a serviço d’Êle. Não poderás ter o Seu
govêrno sôbre uma parte de tua vida com exclusão do resto.
Certa ocasião fui chamado para tratar da saúde de
uma pessoa que então me disse: «Mas não me trates para
deixar o fumo, pois desejo continuar fumando.» Se de
pendesse de mim dizer a Deus o que é que o paciente pre
fere, eu o faria com muito prazer. Não sei se Êle o aten
dería. Algumas vêzes Êle não me atende.
Entregar-se completamente a Deus não é anular-se
perante a vontade alheia, não é converter-se num autô
mato, ou coisa semelhante. Entregar-se a Deus é subme
ter-se à influência da pureza, da harmonia e da Graça sob
todos os aspectos da vida, sem pretender reservar uma
parte da vida para si mesmo. Esta restrição, na entrega,
é uma barreira para muitos. Desejam levar vida religiosa,
mas quando vão para o trabalho e acham que precisam
lograr um pouco aos outros, ou fazer um anúncio um tanto
capcioso, não querem que Déus esteja olhando. Na reali
dade, isso não dá certo. Ê a causa de muita decepção.
Quase sempre nos reservamos uma área em que não dese
jamos que Deus interfira. «Dá-me saúde! mas, por favor,
deixa-me em liberdade' para continuar com isto, que me
dá tanto prazer!»
A Deus não importa a tua personalidade, nem a de
ninguém. Deves estar sempre lembrado de que o que bus
cas é para tôda a humanidade, para todos, indistintamente,
quer sejam amigos ou inimigos. Seria tão impossível cana
lizar a Graça para dentro de ti, quanto o seria canalizar a
chuva só para o teu jardim. Se quiseres orar para que
Chova, deverás fazê-lo não exclusivamente para o teu jar
dim ou para o jardim de algum outro, mas para que chova
sôbre todos os jardins, tanto sôbre os das pessoas de quem
gostes quanto sôbre os daquelas de quem não gostes.
184
Se sentires a divina Presença, terás que incluir em
tua prece: «Que a Tua graça esteja sôbre tôda a humani
dade! Que todos sejam receptivos à Tua presença!» Não
deve importar-te o que os outros sejam. O essencial é que
ao amares o teu próximo como a ti mesmo estás renun
ciando a interêsses pessoais. Ninguém pode amar seu pró
ximo como a si próprio vivendo passagens bíblicas apenas
da bôca p’ra fora. Não poderás amar teu próximo como a
ti mesmo senão quando fores capaz de orar tanto pelos
teus amigos e inimigos quanto por ti mesmo.
Em outras palavras: terás de compreender que a
graça de Deus é de natureza universal, e que, por isto, nun
ca poderá ser canalizada sòmente para os bons, ou só para
protestantes anglo-saxões. Assim ela não funciona. A gra
ça divina é universal. Quem ama o próximo como a si pró
prio, ao tomar contato com Deus ora para que tôda a hu
manidade seja tocada pela Graça. Isso é renunciar a todo
interêsse pessoal. Isso é orar corretamente.
Nunca te esqueças de que deves entregar-te a Deus de
corpo e mente. Nessa entrega, não há escolher entre pen
samentos humanos certos e pensamentos humanos erra
dos, ou entre puros e impuros. Deverás abrir-te sòmente
às idéias espirituais, isto é, a tudo o que flui do Reino ou
Consciência Interna, que está além dos limites de tua
mente.
Quando te introverteres para além da mente, estarás
penetrando no âmbito de tua própria consciência, no san
tuário de teu próprio ser, que é onde realmente vives. Na
realidade, porém, não se trata de tua consciência humana,
mas da divina Consciência que tu és.
E desta Consciência, quando n’Ela penetras, que flui a
Graça espiritual, e não de ídolos físicos ou mentais!
185
■ GRBTIDAO e o dízimo
(D o livro «Expansão de Consciência», pág. 259)
186
sentindo que somos um agente de transferência do auxilio
de Deus à Sua própria atividade, como, também, adotare
mos esta mesma atitude em cada demanda que nos seja
feita. Se alguma necessidade surgir para o sustento de
nossa família, para a compra de algum presente de ani
versário, para algum empreendimento caritativo, até mes
mo para o pagamento do nosso imposto de renda, se pu
dermos captar a idéia de que esta demanda não é exercida
sôbre nós, como pessoa, ou sôbre a nossa renda, mas sôbre
o Cristo, em prol de Quem estamos agindo como um agente
de transferência, constataremos que a abundância está
fluindo para nós e através de nós, e chegaremos ao ponto
de verificarmos que grande parte do nosso salário está
sobrando no fim do mês. O suprimento aparecerá por
meio de muitos canais, a fim de satisfazer aquelas neces-
sidadés.
Nunca devemos manter a idéia de que qualquer de
manda está sendo apresentada a nós, como pessoa, assim
como não devemos encarar pessoalmente qualquer solici
tação de cura. Quando pedimos o restabelecimento de
nossa saúde a um curador, devemos saber que êle nada
está dando de si mesmo. Êle simplesmente confia na sua
compreensão ou estado-de-consciência espiritual, o que se
manifestará como uma cura do corpo ou da mente. Da
mesma maneira, o dinheiro não é menos espiritual do que
a verdade. Uma vez que sintamos que Deus é a substância
subjacente de tudo que está surgindo em nosso estado-de-
consciência, então, tudo o que existe, se manifesta como
uma expansão dêle, surgindo e se revelando em forma
individual. Neste caso, por que não será o dinheiro, igual
mente, tão infinito e abundante como as folhas das árvo
res?
O ponto que estamos ressaltando é que Deus é a cons
ciência do indivíduo, e que ela está expandindo a infinitude
do seu próprio ser como personalidade, lugar ou coisa.
Tudo não passa de vossa própria consciência em expansão.
Se captarmos isto e nada separarmos, dizendo: «isto é ma
terial» ou «aquilo é material», compreendendo definitiva
mente que Deus - nossa consciência individual - é infinito,
precisamente tão infinito ao expressar e manifestar di
187
nheiro, como quando Se manifesta fazendo crescer nossos
jardins, então, na mesma proporção, superaremos qualquer
senso de limitação de nossas finanças. Tratemos de com
preender bem estas coisas. Procuremos eliminar a crença
de que uma parte do nosso mundo é espiritual e a outra é
material.
Precisamos superar a crença do finito e de quantida
des numéricas. Em Deus não existem números. Só há um
número. Precisamos perceber o que significa possuir as
formas e variedades infinitas do UNO. Precisamos sentir
a unidade, infinitamente formada. Não devemos ver o cor
po (ou o dinheiro e o mundo) como uma coisa separada.
Pela meditação, precisamos captar um senso espiritual de
corpo (ou de dinheiro ou do mundo).
188
ín d ic e
Apresenta$ão j 5
O fluxo da luz j 7
A lé m do tempo e do espaço j 24
Expansão da consciência como base para a harmonia do a n o -n ô v o /3 7
Carne e carne / 84
D eus é consciência individual j 104
A consciência consagrada j 126
Trazendo Deus para a vida diária j 142
Dom ínio consciente J155