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A disciplina
Nesta disciplina vamos estudar uma das áreas dos estudos da linguagem que mais tem crescido e
acolhido pesquisadores e professores no Brasil desde sua chegada aqui na década de 1970. Trata-se da
Linguística de Texto ou Linguística Textual (LT).
Vamos conhecer um pouco de suas origens, de seu objeto específico de investigação e principalmente
vamos descobrir como a LT pode ser aplicada no dia a dia do professor e do aluno de Língua Portuguesa.
Vamos saber como esta área de estudo da linguagem pode ajudar de modo mais eficiente no ensino e na
aprendizagem da escrita e da leitura de textos orais e escritos e até de hipertextos (a mistura de textos
verbais, visuais e sonoros presentes no computador on-line).
(NEHTE/UFPE)
Ementa
Entender e aprender a utilizar os principais recursos e princípios de organização textual e sua função na
construção dos sentidos em textos orais, escritos e hipertextos.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Versão provisória em PDF do conteúdo da disciplina. O autor é o titular dos direitos autorais desta obra. Reprodução não autorizada. Uso
estritamente pessoal. Para outra utilização, solicitar autorização prévia do titular dos direitos autorais.
Linguística de Texto – Prof. Antonio Carlos Xavier
OBJETIVOS
O objetivo geral deste módulo é fazer você conhecer a nomenclatura técnica e ajudá-lo a utilizar
corretamente os recursos da linguagem envolvidos na produção e na compreensão de textos escritos,
falados e digitalizados.
● Saber como se deu o nascimento e a evolução dos estudos relativos ao texto, enquanto materialidade
linguística, por meio de uma reconstrução da sua trajetória ao longo da história dos estudos da
linguagem;
● Refletir sobre quais são e como funcionam os recursos linguísticos mobilizados pelos usuários da língua
no momento em que produz e compreende textos a que acessam;
● Aprender a dominar os mecanismos sutis da linguagem verbal de modo a adequar a modalidade de uso
da língua e o gênero textual a serem produzidos aos propósitos comunicativos que se pretende atingir;
● Escrever e ler com mais proficiência textos em diferentes graus de formalidade e ancorados em
diferentes suportes de leitura e de escrita;
Referências bibliográficas
Bibliografia básica para o curso
BENTES, A. C. A Linguística textual. In: Mussalin & Bentes: Introdução à Linguística. Domínios e
Fronteiras, São Paulo: Cortez, 2001.
Koch, Ingedore G. Vilaça & ELIAS, M. Vanda. Ler e Escrever. Estratégias de produção textual. São
Paulo: Editora Contexto, 2009.
MARCUSCHI, Luiz A. Produção textual, análise de gênero e compreensão. São Paulo: Parábola
Editorial, 2008.
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Linguística de Texto – Prof. Antonio Carlos Xavier
Referências bibliográficas
BAKHTIN, M.. Os gêneros do discurso. In: Estética da Criação Verbal, São Paulo, Martins Fontes,
1992.
BARZEMAN, Charles. Gêneros textuais, tipificação e interação. Trad. Ângela Paiva Dionísio e Judith
Hoffnagel. São Paulo: Cortez, 2005.
BENTES, A . C. A Linguística textual. In: Mussalin & Bentes: Introdução à Linguística. Domínios e
Fronteiras, São Paulo: Cortez, 2001.
BROWN, G. & Yule. G.. Discourse Analysis. Cambridge University Press, 1983.
KOCH, Ingedore G. V.. A inter-ação pela linguagem. São Paulo : Contexto, 1992.
________. Linguística Textual: Quo Vadis? DELTA, vol. 17, no. especial, p. 11-24. 2001.
________. & Luiz C. Travaglia. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990
________. & ELIAS, M. Vanda. Ler e Escrever. Estratégias de produção textual. São Paulo: Editora
Contexto, 2009.
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Linguística de Texto – Prof. Antonio Carlos Xavier
MARCUSCHI, Luiz A. Produção textual, análise de gênero e compreensão. São Paulo: Parábola
Editorial, 2008.
Sumário
1. A interação verbal
2. O que faz a Linguística Textual
3. Histórico da Linguística Textual
3.1 Concepções de língua em Saussure
3.2 Estruturalismo: Saussure e Chomsky
3.3 Funcionalismo e sua relação com LT
3.4 Críticas de Bakhtin ao “Pai da Lingüística Moderna”
4. Texto como ponto de partida para a LT
4.1 Definições de texto
5. Textura: relações co(n)textuais
5.1 Coerência textual
5.1.1 Fatores de coerência
5.2 Princípios de Textualidade
5.3 Articulação textual: coesão referencial e sequencial
5.3.1 Coesão sequencial
5.3.2 Coesão referencial
5.4 Referenciação: conceito e estratégias
6. Gêneros textuais e digitais: conceitos, características e suportes
6.1 Distinções importantes: gênero textual, tipo textual e domínio discursivo
6.2 Gênero textual e suporte
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Linguística de Texto – Prof. Antonio Carlos Xavier
1. A interação verbal
Em geral, o processo de interação mediado pela linguagem verbal acontece quando um autor/falante
produz um texto e o direciona a um leitor/ouvinte. Para isso, o primeiro mobiliza seus conhecimentos da
língua e de mundo para fazer o segundo compreender seu projeto de dizer a quem cabe perseguir as
pistas textuais deixadas para decifrar tal projeto de dizer manifesto no texto.
O esquema abaixo busca ilustrar o processo da interação verbal apresentando seus principais
constituintes, a saber:
Atente para a bidirecionalidade das setas significando que interação pressupõe uma troca de papéis, ou
seja, a interação verbal é uma via de mão dupla em que todos os participantes são sujeitos do processo e
constroem conjuntamente o texto, resultado da interação entre os envolvidos.
O esquema abaixo amplia um pouco mais essa perspectiva sobre o funcionamento do processo
interacional visualizado pelos estudiosos da LT contemporânea.
Interação Verbal
Autor/Falante Texto Leitor/Ouvinte
(Enunciador) (Coenunciador)
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São mais de 2.500 anos de estudos sobre a linguagem verbal realizados tanto por filósofos e gramáticos
quanto por religiosos. O mais antigo estudo sobre a linguagem de que temos registro foi o do gramático
indiano Panini. Trata-se de uma análise completa sobre sistema gramatical do Sânscrito.
Foi também no Século XIX que Humboldt apresentou a tese de que a língua é energeia, ou seja, é
energia, um fenômeno dinâmico, uma atividade em sim mesma, e não ergon, ou seja, não é um mero
produto das atividades humanas.
Outra idéia interessante de Humboldt foi a distinção entre forma interna e forma externa da língua. Esta
distinção foi muito bem acolhida por Saussure em seus estudos, pois sua grande marca foi organizar
conceitos dicotomicamente.
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Um dos méritos das idéias saussureanas foi fazer eclodir a linguística enquanto ciência ao romper com o
modo histórico-comparativista de estudar os fenômenos da linguagem e explicitar com clareza seu objeto
de estudo, a língua, e seu método de investigação preferencialmente sincrônico e não diacrônico.
Embora não neguem a importância, nem Saussure nem Chomsky se interessaram pelos aspectos social e
histórico da língua; eles não consideravam esses aspectos essenciais para para estudo científico da
linguagem verbal. Enquanto Saussure centrou suas investigações nos sintagmas ou nos elementos
lexicais da língua, Chomsky tomava frases artificialmente construídas como sua unidade de observação.
Ambos os teóricos acreditavam que a língua poderia ser analisada como um objeto autônomo, cuja
estrutura formal não dependeria da sua função nem necessariamente do contexto.
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É inegável a influência das idéias estruturalistas de Saussure e Chomsky sobre os muitos dos campos de
estudos da linguagem que existem hoje. O surgimento da perspectiva funcionalista, por exemplo, é
sem dúvida uma tentativa de resposta à vertente formalista chomsky-suassureana.
Assim, a segunda metade do Século passado conviveu com duas grandes correntes fortes e influentes
nas ciências humanas em especial na Linguística e na Literatura. Graças ao Funcionalismo, considera-se
fundamental atualmente nos estudos da linguagem incluir os fatores relativos aos usuários, seus papéis
sociais, gêneros, etnias e os aspectos contextuais (quando e onde) e situacionais tais como condições
históricas e sociais em que ocorre o acontecimento linguístico para compreendê-lo com mais precisão.
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A B C
Se, por um lado, os estudos da linguagem receberam e ainda recebem forte influência do formalismo
estruturalista chomsky-saussureano, por outro, percebemos que não houve uma aceitação tácita e
tranquila deste como paradigma científico. O surgimento do funcionalismo é prova clara desta resistência
à predominância daquele grande modelo teórico na ciência da linguagem.
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Pela proximidade das idéias de Chomsky às de Saussure, alguns analistas afirmam que a crítica de
Bakhtin aplica-se também a Chomsky, pois este baseou suas análises na produção de um “falante ideal”,
fora da história do mundo real. O projeto científico chomskyano buscava explicar os “universais
linguísticos” no aparelho psicofísico inato a todo homem. Esta espécie de órgão de linguagem seria imune
à ideologia, à política, ao inconsciente, entre outros aspectos que o constitui como ser humano habitante
de uma comunidade e submetido às regras, valores éticos e morais e tradições culturais que vigoram em
uma dada sociedade.
Outra observação negativa de Bakhtin contra Saussure foi ao que chamou de “objetivismo abstrato”,
conceito que advogava a concepção de língua como sistema de regras descritíveis. Esse conceito de
língua conserva os procedimentos filológicos que o estruturalismo tentou negar, pois se concentrava num
constructo teórico abstrato, supostamente homogêneo e de difícil verificação empírica, a langue.
Pela ótica bakhtiniana, Saussure acertou ao considerar a língua um fato social. Essa consideração sobre a
língua, aventada, mas não bem desenvolvida pelo mestre genebrino, foi bastante enfatizava por Bakhtin.
Para este, a língua é uma atividade social cuja função central é comunicar. E nesse processo, há um
conjunto de elementos que envolvem a língua tais como a enunciação, próprio do processo linguageiro, a
ideologia, inerente a todo signo linguístico e a variação de estilo ou registro, reflexo das mudanças sociais
que resvalam no léxico e formatam a língua.
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Dos pensamentos bakhtinianos legados e reaproveitados pelos linguistas, talvez a tese do dialogismo
seja sua contribuição mais significativa. Sendo a língua um trabalho de parceria entre interlocutores que
se alternam no papel de enunciador e coenunciador, ambos enunciam, trocam, dialogam. Em outras
palavras, a linguagem seria, no entender de Bakhtin, essencialmente dialógica. Todo ouvinte, ao buscar
um sentido para determinado enunciado, adota uma postura responsiva ativa: concorda, discorda ou
completa o que ouve. O ato de o ouvinte planejar mentalmente uma resposta a um falante que proferiu
um enunciado verbal evidencia o dialogismo da linguagem que subjaz a todas as formas interativas e
comunicacionais, ainda que seja um monólogo, enunciados pronunciados por um único falante. Este, por
sua vez, sempre espera obter do ouvinte uma compreensão responsiva ativa que pode ocorrer tanto
através de uma resposta fônica quanto por meio de uma ação concreta, gesto ou execução de uma
ordem.
Nos anos 1950 e 1960 surge uma série de áreas de estudo que tomam a linguagem como objeto central
de investigação perpassada por diferentes vieses de outros domínios do saber. Certamente todas essas
novas áreas guardam um compromisso com a necessária e propalada interdisciplinaridade, mas muito
pouco praticada pelos diversos campos da ciência. Em cena aparecem a Sociolinguística, Psicolinguística,
Análise do Discurso, Análise da Conversação e a Linguística de Texto, entre outras.
ATIVIDADE 1
ATIVIDADE 2
Linguística de Texto – Prof. Antonio Carlos Xavier
ATIVIDADE 3
Vimos, então, que a Linguística de Texto nasceu da perspectiva funcionalista e dentro de um contexto em
que os estudos voltados para o uso e funcionamento comunicativo da língua ganharam força. Logo, a
preocupação desta nova disciplina foi e continua sendo conhecer como os usuários da língua produzem e
entendem enunciados inseridos em texto e como eles poderiam produzir melhor tais textos ao conhecer e
dominar os diversos recursos e mecanismos da linguagem.
O surgimento da LT marca uma mudança significativa nos estudos da linguagem, pois até a Teoria
Gerativa Transformacional de Chomsky, estudavam-se apenas palavras ou frases soltas, todas elas fora
de um contexto real muitas delas criadas pelo teórico-pesquisador . O texto, nas modalidades oral e
escrita da língua, passou a ser a unidade de análise do linguista.
NOTA
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Segundo Marchuschi (2008), não haveria limite para a exploração de qualquer tipo de problema
linguístico se tomássemos a categoria texto, em ambas as modalidades, como ponto de partida para o
estudo da linguagem sob diferentes perspectivas teóricas. Para ele, com base em textos, é possível
trabalhar temas como:
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O autor ressalta que esta lista não é completa nem exaustiva, mas indica toda a potencialidade e
diversidade de pesquisas linguísticas a serem feitas a partir de textos.
5. Texto como discurso “congelado”, produto acabado de uma ação discursiva - de base discursivo-
pragmática;
6. Texto como meio específico de realização da comunicação verbal - com inspiração comunicativa;
Como você pode notar, cada uma das definições de texto acima está ligada a diferentes áreas dos
estudos da linguagem, por isso há pouco consenso quanto à escolha de uma única definição do que seja
texto que satisfaça a todas as áreas para as quais ele é essencial.
No início dos estudos da Linguística Textual, a maioria dos estudiosos fazia análise transfrásica e
esforçava-se para elaborar uma “Gramática do Texto”, tomando, para isso, a coesão como fenômeno
central a ser investigado. Coesão se confundia com coerência e ambas eram consideradas propriedades
essenciais para caracterizar um conjunto de palavras como um texto de boa qualidade.
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Na década de 1980, o foco dos estudos da LT foi o fenômeno da coerência que não foi mais tomada
como uma qualidade ou propriedade do texto propriamente dita. A coerência seria um fenômeno maior e
deveria ser construída por cada leitor de acordo com o contexto de interação e em razão de vários
fatores de natureza não só linguística, mas também cognitiva, social, cultural e interacional.
Publicações posteriores admitiram que coesão e coerência são tão importantes nos textos como os
demais fatores que constituem a textualidade tais como: informatividade, situacionalidade,
intencionalidade, intertextualidade, aceitabilidade, contextualização, focalização, consistência e
relevância.
Já na década de 1990, a ênfase dos estudos do texto recaiu sobre o aspecto sócio-cognitivo cujos
trabalhos de Van Dijk, Kintsch, Beaugrande, Koch e Marcuschi acentuaram essa tendência.
Esses temas serão tratados com mais detalhes ainda neste módulo. Por hora, vamos voltar a uma
questão importante nos estudos da LT que é a definição de texto.
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A mais recente definição de texto e que tem sido bastante adotada pelos estudiosos da LT tem sido a que
consta na obra Novos Fundamentos para uma Ciência do Texto e do Discurso: Cognição, Comunicação e
Liberdade de Acesso ao Conhecimento e à Sociedade, de Robert de Beaugrande. O livro, publicado em
1997, entre outras questões, destacou dois fatos sobre os estudos textuais: de um lado, a ratificação do
aspecto cognitivo e sua relevância no processamento textual, e de outro, um abandono inicial dos
princípios de textualização como critérios necessários a todo texto propostos pelo mesmo autor nos idos
de 1981 contidos na obra Introdução à Lingüística Textual.
Ele vai mais além quando diz que “um texto não
existe como texto a menos que alguém o processe
como tal”.
Adotamos doravante essa definição de texto de Beaugrande por acreditarmos ser ela a que mais
contempla as descobertas recentes da Ciência da Linguagem como um todo e dos estudos do texto até o
momento.
Além disso, definir texto com um evento comunicativo põe em relevo os objetivos da aprendizagem da
produção e das formas de interpretação de texto na escola. Parece consenso entre os professores de
Língua Portuguesa que os objetivos principais desta disciplina seja: desenvolver a competência
comunicativa no sujeito-aprendiz.
Do mesmo modo, parece aceito pelos docentes que lecionam esta disciplina, afinados com a perspectiva
científica da Linguística, que os objetivos específicos para ela sejam:
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Certamente, para que isso aconteça, será preciso que as aulas de Língua Portuguesa sejam menos
normativas e mais reflexivas. Mas essa é uma questão para ser discutida em outra disciplina como a
disciplina de Prática de Ensino de Português, umas das últimas do curso de Licenciatura em Letras,
quando deveria ser uma das primeiras.
ATIVIDADE 4
ATIVIDADE 5
ATIVIDADE 6
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Linguística de Texto – Prof. Antonio Carlos Xavier
Aqui voltaremos nossa atenção ao estudo do texto em si e de suas características internas e externas, a
fim de conhecê-lo com mais profundidade e dominar os recursos linguísticos que os constituem.
O objetivo deste item é pensarmos sobre a importância de garantir a presença dos Princípios de
Textualidade que, no início dos estudos da LT, foram definidos como imprescindíveis a qualquer porção
de linguagem que aspirasse ao estatuto de texto. Dentre eles, havia dois Princípios de Textualidade que
eram tomados como elementos imprescindíveis a todo texto aos quais já nos referimos antes. Alguns
estudiosos diziam até que a ausência deles impediria que uma porção de linguagem verbal pudesse ser
classificado como texto. Trata-se dos fenômenos linguísticos: Coesão e da Coerência.
O gráfico a seguir, extraído de Marcuschi (2008, p. 88), ilustra bem a relação entre texto e Princípios de
Textualidade de uma maneira bem sistemática.
Textura
situacionais específicas)
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A textura comporta dois tipos de relação: uma cotextual, ou seja, as relações internas entre as palavras
que compõem uma frase dentro de um texto, e outra, de natureza mais abrangente, contexto, que
transcende ao limite textual por envolver informações da cultura e da sociedade evocadas ou
pressupostas pelo autor/produtor/enunciador.
A coerência não está exclusivamente no texto, não depende somente do autor/produtor/enunciador; ela
é construída pelo leitor/coproudutor/coenunciador a partir das marcas linguísticas presentes no texto.
Cabe ao leitor, portanto, reconhecer as pistas, interpretá-las e amarrá-las a fim de dar sentido possível e
plausível ao que vai ler.
A coerência de um texto não repousa só na sua estrutura linguística nem apenas na clareza das idéias e
raciocínios construídos pelo autor, mas depende fundamentalmente de processos que têm muito a ver
com o leitor, tais como:
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Em geral, quando lemos enunciados contraditórios, que dificultam imediatamente nossa compreensão,
dizemos que houve uma incoerência, semelhantemente ao podemos identificar no enunciado a seguir,
quando alguém diz:
Essa frase seria verdadeira ou falsa? Se for verdadeira, não merece crédito, mas se for falsa, será ao
mesmo tempo verdadeira, logo digna de crédito.
Essa frase seria falsa ou verdadeira? Será falsa, se verdadeira, e verdadeira, se falsa. Complicado, não é?
Para ilustrar essa possibilidade, vejamos o que ocorre com as recomendações e cuidados na escrita de
uma redação no vestibular fornecidos por um dos manuais de cursinhos preparatórios para concursos
vestibulares:
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Antes de julgarmos as frases 1, 2 e 3 como contraditórias, já que, como você deve ter percebido, elas
transgridem às próprias regras que anunciam, poderemos entendê-las como exemplos da própria
recomendação. Assim, seriam incoerências propositais que, neste caso, devem ser percebidas pelo
leitor como estratégias de autoexplicação.
Certas piadas também são bons exemplos de como a quebra da lógica ou da expectativa leva-nos à
compreensão do gracejo pela identificação da incoerência própria deste gênero textual.
Ora, ao cometer o primeiro suicídio, a paciente já teria morrido, portanto, não poderia estar na terapia ou
responder a qualquer pergunta. Se a locução verbal utilizada pelo terapeuta fosse “tentou cometer”,
poderia ainda haver possibilidade de aquela senhora responder a pergunta, pois poderia ter tentado
suicídio e não ter conseguido. No caso, o verbo empregado foi “cometeu”, que encerra uma ação. Por
isso, não há qualquer coerência neste diálogo. Mas é exatamente a incoerência que constitui a “lógica” de
funcionamento da linguagem na maioria das piadas.
Por outro lado, o excesso de informação sobre determinados fatos também pode levar o leitor a
estranhar e a buscar o sentido pretendido pelo autor quando este verbaliza uma obviedade. O exemplo
que segue mostra bem isso.
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- Este é o senhor?
- Sim, meritíssimo!
- O senhor estava presente nesta cena quando a foto foi tirada, certo?
A confirmação do depoente de que é ele mesmo que está na fotografia mostrada pelo juiz evidentemente
dispensaria a pergunta seguinte elaborada pelo magistrado, não é verdade?
Por esses exemplos, podemos perceber quanto é importante para o autor deixar organizadas as pistas
linguísticas e interacionais tão necessárias para que sua intenção comunicativa seja “pescada” pelo leitor.
A este cabe a responsabilidade maior de recuperar a intenção daquele. O leitor deve ainda:
Sem acionar esse complexo processamento cognitivo, será impossível para o leitor enxergar coerência no
texto e muito menos entendê-lo em sua totalidade.
É comum pessoas fora de sua área de atuação profissional terem muita dificuldade de entender certos
jargões técnicos ou acompanhar o estilo e a forma de registro próprias de outra área com a qual não tem
afinidade. Em geral, o estranhamento das palavras usadas e das formas de elaboração é bem natural
pela falta de costume com aquele conjunto de conhecimentos, por isso a sensação de que a leitura de
certos textos soam incoerentes. Logo, não é o texto em si que está incoerente, mas o leitor é que não
domina o assunto abordado e a terminologia nele utilizada.
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Sabemos que há alguns fatores que colaboram para a percepção da coerência de um texto pelo leitor que
devem ser cuidadosamente empregados pelo autor no momento em que elabora sua produção verbal.
São eles:
a) Elementos Linguísticos
As palavras selecionadas para o texto acionam conhecimentos e oferecem pistas que ajudam o leitor a
captar o sentido pretendido pelo autor, sua linha argumentativa e sua conclusão. A escolha de palavras
do mesmo campo semântico e a posição dela no enunciado podem gerar interpretações curiosas como as
seguintes:
E4: Seleção com (novas) atletas (novas) ganhou (boas) jogadoras (boas).
(posições do adjetivo)
Em E2, as palavras que fazem parte do campo semântico do futebol, tais como Ronaldinho, coletivo e
seleção, facilitam o sentido pretendido com a utilização das palavras brilha e coletivo. O verbo Brilhar
está aqui significando destacar-se, enquanto coletivo se refere a um tipo de treino realizado com todos os
jogadores simulando uma partida real de futebol. Descartamos, portanto, o sentido de ‘reluzir’ para
brilhar e o sinônimo ‘ônibus’ possível para coletivo. Tais sentidos “literais” passam a ser eliminados pelo
cotexto, ou seja, pelas palavras adjacentes que estão apontando para o domínio de conhecimento da
prática esportiva do futebol.
Já em E4, a posição dos adjetivos em relação aos substantivos a que se referem muda o sentido da frase.
Antecedendo o substantivo, o adjetivo ‘novas’ enfatiza o aspecto subjetivo a ser referido pelo autor para
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a palavra “atletas”. Se colocado depois do substantivo, a ênfase recai no aspecto mais objetivo, concreto
do adjetivo. O mesmo acontece com o adjetivo ‘boas’ em relação ao substantivo “jogadoras”.
Fica clara, assim, a importância de usar palavras do mesmo campo semântico e escolher o melhor
posicionamento de cada uma delas no enunciado a fim de facilitar a compreensão do leitor ao acessar a
informação no texto, evitando interpretações indesejadas.
b) Conhecimento de Mundo
Todas as informações que recebemos pelos órgãos do sentido (visão, audição, olfato, gustação e tato)
são armazenadas na nossa memória e compõem nossa enciclopédia mental. As experiências vividas,
textos lidos, filmes vistos e músicas ouvidas são arquivadas em nossa mente, de modo que, ao lermos
um texto, sua compreensão dependerá da recuperação das informações lá guardadas e dessa forma
estabelecermos relações com o que já sabemos sobre o tema.
não romanos, incivilizados sem fé cristã
E5: “O repúdio aos bárbaros, bem como o escárnio aos mouros “infiéis” são a gênese dos sentimentos
que hoje explodem em “skinheads”...”
Grupo de neonazistas
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Vemos, portanto, a relevância de nós, produtores e leitores de texto, nos mantermos informados sobre
os fatos passados na história e os acontecimentos contemporâneos, a fim de encontrarmos sentido nas
palavras usadas em um determinado texto, e, dessa forma, extrairmos dele tanto um prazer intelectual
de reconhecer a riqueza vocabular que faz emanar a bagagem cultural do autor, quanto o prazer estético
de ler enunciados bem construídos que saem do trivial, do “lugar comum”.
c) Conhecimento Partilhado
As pessoas que vivem em um mesmo contexto social, político, econômico e cultural tendem a
compartilhar um conjunto de saberes e valores. Assim, para que haja interação e compreensão entre dois
interlocutores, por meio de um texto, ambos devem partilhar alguns desses conhecimentos.
Outra coisa muito importante no momento da produção de um texto é o autor saber equilibrar as
informações partilhadas com as informações novas, a fim de evitar que o texto se torne repetitivo e
circular ou até incompreensível para o leitor.
As palavras destacadas em E5 (bárbaros, mouros e skinheads) não são explicadas pelo autor, mas há
sinônimos ao seu lado, logo ele pressupõe já serem conhecidas ou partilhadas por seu possível leitor em
razão do tema, do contexto e do seu provável nível cultural. Contudo, se as mesmas palavras de E5
fossem dirigidas a leitores sem conhecimentos prévios adquiridos na família, escola, meios de
comunicação, livros, internet etc., ser-lhes-iam tais palavras de difícil compreensão e o texto lhe
pareceria incoerente.
Assim, o autor deve antever e idealizar quem será seu leitor, quais os saberes necessários para se
entender as expressões e referências a fatos históricos e acontecimentos atuais que constaram do texto.
Ponderar a qualidade da seleção vocabular e informacional do texto em função do nível de escolaridade,
do gênero do leitor - se masculino ou feminino -, da faixa etária e das tradições e valores morais do
leitor. Tudo isso pode ajudá-lo a obter o desejado sucesso da interpretação exatamente como esperada.
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Para todo produtor de texto, esse talvez seja o cálculo mais difícil de equacionar em razão das muitas
variáveis a controlar e da heterogeneidade de leitores que se interessarão pelo tema do texto em
diferentes momentos e lugares do planeta aos quais o texto possa chegar. Se pensarmos em hipertexto
então essa equação se complexifica muito mais.
d) Inferências
Como vimos antes, todo leitor deve estar atento o tempo inteiro para relacionar as informações que
veicula a fim de fazer o leitor chegar a uma conclusão razoável, levando em consideração quem, quando,
onde, como e por que disse o que falou ou escreveu. Um autor nunca consegue dizer tudo o que deveria
ser dito para ser compreendido sem equívoco. Se tentasse explicitar tudo, possivelmente seu texto ficaria
muito previsível e chato de ser lido, correndo o risco de ser abandonado pelo leitor antes que chegue ao
fim da leitura. Logo, é desejável que os textos tenham “lacunas”. São elas que permitem ao leitor fazer
inferências, vinculações, ilações. Veja o exemplo abaixo.
E6: Apesar de existirem severas leis brasileiras contra o preconceito, ele continua ocorrendo
de forma velada em nossa sociedade.
A pergunta imediata que o leitor busca responder é: o que esse enunciado quer dizer em suas
entrelinhas? Em outras palavras, quais inferências devem e podem ser feitas a partir da leitura deste
enunciado? Vejamos algumas delas:
1» Há preconceito no Brasil.
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As inferências 1, 2 e 3 são baseadas no que está dito claramente no enunciado, pois requer apenas que o
leitor reconheça as informações e as relacione para chegar às conclusões evidentes. No entanto, a
inferência 4 é possível ser feita, mas não é necessária, já que o enunciado não explicita que o
preconceito deve ser eliminado. Esse é o ideal de uma sociedade humana democrática, mas não foi
evidenciado na elaboração linguística do seu autor, ficando, por conseguinte, a cargo do leitor que com
esta tese venha a se identificar.
ATIVIDADE 7
ATIVIDADE 8
Quais fatores contribuem para a coerência textual e como eles fazem esse
trabalho? Use até linhas para sua resposta.
ATIVIDADE 9
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ATIVIDADE 10
a) “Há quem argumente (e com razão) que a meta estabelecida para 2007 era
baixa. Com isso, se dificultou o pulo para 2009.”
ATIVIDADE 11
Apresente duas inferências que podem ser extraídas com base no seguinte
fragmento considerando a totalidade do texto 01 (ver abaixo).
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ATIVIDADE 12
TEXTO 1
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Os Princípios de textualidade hoje não são mais considerados essenciais para caracterizar uma porção
linguística como texto tais como foram no passado (Beaugrande 1981). Não são mais tomados como
regras rígidas, necessárias e suficientes para a boa formação de um texto. Agora Beaugrande postula tais
Princípios funcionando como critérios de acesso à produção de sentido, sendo uns mais relevantes que
outros e alguns até mesmo redundantes.
Sabemos que, juntamente com os recursos de explicitação da coerência e dos mecanismos que
constroem a coesão, tais princípios são recomendáveis em um texto, pois evidenciam o ponto de vista do
autor e podem facilitar a inteligibilidade do texto para o leitor.
Dessa forma, percebemos que esses elementos estão presentes no texto e devem ser recuperados pelo
leitor. Alguns estudiosos da linguagem chamam tecnicamente esses fenômenos contidos nos textos de
Princípios de Textualidade. São eles:
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1. INTENCIONALIDADE
Todo texto tem uma intenção, um objetivo, uma motivação. O autor deixa pistas verbais com a intenção
que o motivou a fazer aquela produção textual. Cabe ao leitor acessar as pistas deixadas e encontrar a
intenção do autor. Assim, toda leitura passa a ser uma operação de “caça ao sentido” pretendido pelo
autor, como já bem disse Dascal (apud Koch, 2002).
Em geral, quem escreve o faz com alguma finalidade seja ela fazer-crer, fazer-agir, fazer-pensar, fazer
sorrir, ensinar, emocionar, desabafar entre outras. Nas linhas ou nas entrelinhas do texto, as razões que
motivaram sua escrita devem ser inseridas pelo autor e necessariamente recuperadas pelo leitor. Por
exemplo, você já percebeu qual o objetivo desta nossa disciplina? Certamente você já deve ter sacado
que buscamos fazer você compreender o que é, o que faz e como a Lingüística Textual pode melhorar
seu comportamento verbal e o de seus futuros na prática de produção e compreensão de textos.
2. ACEITABILIDADE
Este princípio de textualidade tem a ver com a verdade e qualidade das informações presentes ao texto.
Todo autor deveria sempre dizer a verdade, a fim de que a adesão às idéias e fatos mencionados ocorra
sem resistência ou questionamentos. O leitor normalmente concede um “crédito de confiança” ao autor,
desde que este não afirme coisas inaceitáveis como, por exemplo, “A Terra é quadrada” ou “O sol nasce
no oeste”.
Afirmações que beiram ao absurdo lógico do funcionamento natural do mundo em gêneros textuais não
ficcionais marcam negativamente o texto e consequentemente o autor. A falta de credibilidade ameaça a
continuidade da leitura e pode levar até seu abandono completo por parte do leitor e isso é tudo que o
autor teme.
3. SITUACIONALIDADE
Refere-se à pertinência e à adequação do texto ao contexto. Este princípio textual tem a ver com
elementos como:
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● Registro ou estilo (simples ou sofisticado) empregado na elaboração do texto, tendo em vista o gênero
textual construído, o nível intelectual do interlocutor, sua posição social, sua faixa etária e seu gênero
sexual.
Em outras palavras, cada situação exige de todos nós falantes uma “roupagem” linguística específica e
adequada. Em geral não se costuma usar traje de banho para ir à colação de grau universitária, nem se
veste smoking para tomar banho de sol em praia ou beira de piscina.
Se alguém concorrer a uma vaga para professor de Português em uma escola, o nível de linguagem
esperado do candidato para esta função, na entrevista e na aula de seleção, certamente deverá ser o
formal culto, em variante padrão e com estilo sofisticado. Ele precisa demonstrar seus conhecimentos
linguísticos necessários a lecionar a língua materna. Além disso, todo professor de Português é visto
como um guardião, um modelo para os alunos, colegas e funcionários da instituição escolar de como
utilizar a língua materna em contexto formal. O curioso é que muitos esperam que o professor de
Português fale dentro da norma padrão até nas situações mais descontraídas de uso da língua.
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nem recomendada a este profissional ou a qualquer outro usuário da Língua Portuguesa que queira
preservar sua boa imagem diante das pessoas que o cercam.
4. INFORMATIVIDADE
Ela tem a ver com a quantidade das informações distribuídas no texto, principalmente as informações
novas. Um texto será mais informativo quanto mais imprevisível for para o leitor. Do mesmo modo, será
menos informativo, quanto mais conhecido se mostrar a ele. Logo, convém ao autor balancear sempre as
informações velhas (conhecidas) com novas ao elaborar seu texto; as primeiras situam o leitor no
universo criado ou sugerido pelo autor, enquanto que os dados novos despertam no leitor mais interesse
em continuar a leitura pelo desafio da descoberta de fatos inéditos.
No texto acima, o autor busca apresentar uma definição de língua e para isso utiliza termos como
“trabalho social e histórico”, “sistematização” e “instrumentos”, cujos conceitos são bem específicos para
a área dos estudos da linguagem. O autor, então, joga com esses termos repetindo-os a fim de
esclarecer seu ponto de vista aparentemente controverso, pois estabilidade e instabilidade aplicados ao
mesmo fenômeno levariam o leitor a identificar uma possível contradição. Mas o que ele ressalta é o fato
de a língua se constituir exatamente por essa dupla característica que a faz assumir a função de
instrumento e resultado da atuação do usuário sobre ela. Observamos, portanto, que o autor do texto
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acima revela tentar equilibrar dados velhos sobre um determinado termo com uma nova maneira de
concebê-los. Só um leitor familiarizado com a discussão sobre a definição de língua teria condições de
acompanhar a linha de raciocínio desenvolvida pelo autor neste trecho da entrevista.
Outro exemplo sobre a presença do princípio textual da informatividade pode ser observado facilmente
no fragmento abaixo de um artigo científico publicado em revista da área de economia.
Este artigo tem por objetivo analisar a natureza aleatória dos índices de
preços. Considerando particularmente a categoria dos Índices de
Preços ao Consumidor (IPC), parte-se do conceito teórico de Índice de Custo
de Vida, do IPC e de uma aproximação, para destacar os aspectos que tornam o
índice intrinsecamente estocástico. Além disso, o IPC está sujeito a imprecisões
decorrentes das diversas etapas de amostragem que o seu cálculo efetivo
requer. Utilizando dados do IPC-Fipe para o período de janeiro de 2006 a
dezembro de 2007, avalia-se o impacto do erro associado a amostragem de
informantes de preços sobre a precisão do índice.
As palavras sublinhadas e com negrito no texto exigem um conhecimento específico do leitor sobre as
características de um artigo científico, gênero acadêmico que deve revelar resultados de uma pesquisa
científica, a qual se realiza conforme critérios determinados pela academia. Por outro lado, o texto se
insere no campo da ciência econômica e, por isso, apresenta termos e conceitos próprios deste universo.
A expressão “índices de preços”, as siglas “IPC” e “IPC- FIPE” e a palavra “estocástico” evidenciam o
domínio de conhecimento a que o autor e seu texto se vinculam. Dirigindo-se a seus pares cientistas, o
autor preocupa-se em usar um vocabulário conhecido por eles e informá-los sobre a conclusão de sua
análise, fato que justificaria a leitura do texto, ou seja, saber mais sobre o tema.
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5. INTERTEXTUALIDADE
Refere-se à relação explícita que um texto estabelece com outros textos (clássicos e de domínio público)
que trataram do mesmo tema. Esse diálogo com textos conhecidos e consagrados fortalece a composição
geral do texto garantindo consistência às idéias apresentadas pelo autor.
Esse princípio é praticamente inevitável, pois não há texto totalmente inédito, uma vez que as vozes dos
autores sempre se encontram e se fortalecem nos novos textos que são produzidos. A intertextualidade
articula a rede de afinidades temáticas, teóricas e até práticas que subjaz às idéias e desejos humanos
entre si.
Um dos textos brasileiros que mais recebeu intertextualidade foi o poema “Canção do Exílio” do poeta
Gonçalves Dias. Veja quantos outros poetas o citaram indiretamente ou simplesmente parodiaram os
versos saudosos de um brasileiro em terras lusitanas.
Minha terra tem palmeiras Nas palmeiras que não há. E o progresso de São Paulo.
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Sem que desfrutem os primores Os meus lares, Vou voltar para o meu lugar
Meus amores ficam lá! Foi lá e ainda lá
Que não encontro cá;
- Onde canta nos retiros Que eu hei de ouvir cantar
Sem qu’inda aviste as palmeiras, Seus suspiros, Uma sabiá, cantar uma sabiá.
Onde canta o sabiá. Suspiros o sabiá!
É exatamente a presença de trechos inteiros de outros textos ou até mesmo a inserção de conceitos ou
ideias já publicadas em um texto e agora recuperadas em outro é que caracteriza a intertextualidade.
Todo texto é intertextual, pois não há grau zero de originalidade na produção de texto em qualquer
gênero.
A partir daqui, vamos conhecer mais de perto como o texto pode ser articulado internamente, ou seja,
quais são os mecanismos disponíveis na língua que nos ajudam a concatenar as partes do texto de modo
e torná-lo coeso e fluente para o leitor.
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Características da Coesão:
Leiamos o texto abaixo observando especificamente os recursos linguísticos utilizados pelo autor para
fazer a articulação referencial entre as partes dos períodos e parágrafos.
ATENÇÃO
Infância Furtada
O trabalho infantil representa o furto da perspectiva de progresso e (Conjunção que realiza uma
justaposição de ações entre as informações sobre o referente central ‘O trabalho infantil’) da infância no Brasil. São
condições miseráveis, conseqüência de fortes desigualdades sociais, que (Pronome relativo que retoma a
expressão ‘condições miseráveis’) propiciam a migração de crianças da escola para o trabalho
(Expressão nominal definida que se refere o referente, tema central do texto, posta em seu início, qual seja: ‘O
trabalho infantil’).
Essa exploração pueril (Retoma o referente central do texto recategorizando-o, isto é, adicionando-lhe
um conceito negativo “exploração”.) aniquila a educação e (Desta vez a conjunção ‘e’ justapõe duas ações
representadas pelo mesmo verbo ‘aniquila’, explícito no primeiro período e oculto ou elíptico no segundo; Ө é o
símbolo que representa essa elipse), por conseguinte (A conjunção ‘por conseguinte’ enseja a conseqüência
estabelecida entre duas ações, sendo a segunda (aniquilação da oportunidade de trabalho) efeito direto da primeira
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(Essa exploração pueril)), a oportunidade de progredir (Aponta para a consequência da ‘educação’, seu
referente anterior na cadeia textual); rouba o presente e o futuro de crianças que (Pronome relativo que se
refere a ‘crianças”) se vêem fadadas à mesma vida miserável de seus pais, causando não só (Operador
argumentativo que anuncia a existência de mais de um elemento a compor o quadro enunciativo desenhado pelo autor
que se complementa com o ‘mas também’) um grave ciclo de infortúnios, mas também problemas no
desenvolvimento físico e social desses adultos precoces (Expressão nominal definida que recategoriza o
referente ‘crianças’).
Só (Operador organizador do discurso que enfatiza o argumento defendido levando o leitor a considerar com
atenção a informação que será apresentada) um real crescimento econômico, aliado à dignificação das
condições trabalhistas e do salário-mínimo, seria capaz de suprimir a utilização criminosa de mão-de-
obra infantil (Outra expressão nominal definida que reclassifica o referente central do texto ‘trabalho infantil’).
Enquanto (Operador argumentativo que explicita a relação entre dois acontecimentos: ‘a espera por um milagre’ e a
‘participação no programa bolsa-escola’) esperam por este milagre, as famílias mais carentes participam de
programas como o “Bolsa-escola”, ajuda de custo às famílias dos estudantes; uma prática solução
(Expressão nominal indefinida que se remete à ‘Bolsa-escola’, manifestando a opinião do autor resumida pela escolha
do substantivo ‘solução’ e do adjetivo ‘prática’, formando o sintagma ‘prática solução’) que visa aliar a necessidade
A infância furtada pelo trabalho precoce (Expressão nominal definida que se refere ao ‘trabalho
infantil’ reclassificando-o) retarda o desenvolvimento do país e a esperança de um progresso igualitário. O
“país do futuro” (Remete-se ao termo ‘país’ posto anteriormente) extermina seu (Pronome possessivo que se
vincula a ‘país’) próprio amanhã, ao (Encerra a idéia de causa; se trocarmos a preposição ‘ao’ pela preposição ‘por’
(“por fechar os olhos para o presente de suas crianças, o país do futuro extermina seu próprio amanhã”),
perceberemos claramente que se trata de uma relação causal e não temporal, como poderíamos pensar
primeiramente) fechar os olhos para o presente de suas (Outro pronome possessivo que articula a relação entre
o país que permite que a infância (de suas crianças) seja furtada, como está indicado no título) crianças.
Fonte: Lucas Santos. Como se faz um texto: a construção da dissertação argumentativa. Catanduva: Rêspel, 2006, p. 55.
Observemos agora os destaques dos recursos linguísticos utilizados que realizam a articulação
sequencial entre as partes dos períodos e parágrafos.
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E1: Muitas crianças brasileiras trabalham, quando elas deveriam apenas estudar.
Em E1, o pronome (elas) substitui a expressão nominal inteira (muitas crianças brasileiras), evitando,
desse modo, a repetição de toda a expressão na segunda oração.
Já em E2, a economia linguística é ainda maior. A coesão é feita pela Elipse, ou seja, pela ocultação do
elemento linguístico sem que haja prejuízo à compreensão do enunciado.
E3: O “país do futuro” extermina seu próprio amanhã, porque fecha os olhos para o presente de suas
crianças.
Entre as duas orações, há a conjunção porque que ali tem valor explicativo, apresentando a razão que
justificaria a afirmação do autor na primeira oração. Esse “operador argumentativo”, como tem sido
tecnicamente denominado, fundamenta o raciocínio apresentado, neutralizando um possível
questionamento do leitor que venha a discordar da afirmação contida na primeira oração.
E4: O “país do futuro” fecha os olhos para o presente de suas crianças, por conseguinte extermina seu
próprio amanhã.
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A conjunção por conseguinte veicula a informação da relação de consequência direta entre a primeira
sobre a segunda oração. Joga com a idéia de efeito entre as ações expressas em E4. Assim, elas são
articuladas para expor e defender o ponto de vista do autor, cabendo ao leitor percebê-lo e aceitá-lo.
Como vemos, a coesão pode funcionar tanto para costurar os termos no interior do enunciado mantendo
dessa forma o sentido do referente principal destacado pelo autor, como também pode funcionar
argumentando em defesa das idéias dele. Em outras palavras, os elementos coesivos povoam
estrategicamente a superfície do texto construindo sequencialmente a argumentação e encadeando
referencialmente os termos que o compõem.
Relaciona dois termos entre si, como observamos em E1 e podemos constatar novamente em E5:
E5: O trabalho infantil é uma atrocidade. Esse crime tem que ser eliminado do Brasil.
Neste exemplo, temos um caso de ANÁFORA, em que a expressão definida (esse crime) remete-se à
expressão já posta (o trabalho infantil), levando o leitor a fazer um movimento referencial
retrospectivo, ou seja, para trás da cadeia textual.
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Entretanto, há também na linguagem outro fenômeno similar de direção inversa pelo qual o leitor é
levado a fazer um movimento referencial prospectivo, isto é, para frente da cadeia textual, buscando o
elemento-âncora mais próximo do fim do enunciado. A isto chamamos CATÁFORA, como podemos
verificar nos casos abaixo:
E7: Ele deveria ser erradicado do nosso país imediatamente, o trabalho infantil.
É possível também colocar um termo com função coesiva no lugar de outro ou de um enunciado inteiro já
posto na cadeia textual. Damos a este mecanismo de articulação textual o nome de SUBSTITUIÇÃO.
Vejamos os exemplos abaixo:
E8: Estudar deve ser uma das atividades primordiais de toda criança; brincar, outra.
E9: Certas ONGs lutam contra o trabalho infantil. O governo deveria fazer o mesmo.
Note que, no caso de E8, o pronome outra substitui toda a expressão (uma das atividades
primordiais) posta no enunciado anterior. Em E9, um único pronome (mesmo) substitui um enunciado
inteiro (lutam contra o trabalho infantil). Em E10, o advérbio (também) toma o lugar de uma frase
nominal (é crime). Portanto, a substituição funciona tanto como um recurso coesivo quanto como um
mecanismo de economia linguística que garante a “amarração semântica” entre as partes internas do
texto.
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Há outras maneiras de fazer a coesão referencial, como as que são feitas através do uso de:
E11: Devemos tomar uma atitude contra o trabalho infantil. A atitude imediata deve ser denunciar
judicialmente as empresas que exploram as crianças.
E12: Medidas urgentes devem ser tomadas a favor das crianças. A primeira medida é eliminar o
trabalho infantil.
E13: Crianças não devem trabalhar. Seus compromissos devem ser com o estudo e o lazer.
● ADVÉRBIOS com função pronominal, isto é, substituindo nomes (aqui, ali, lá, onde):
E14: O Estatuto da Criança é claro. Lá está escrito: “É proibido qualquer trabalho a menores de 14
anos, salvo na condição de aprendiz” (Capítulo V, Art.60.).
● EXPRESSÕES ADVERBIAIS tais como acima, abaixo, assim, desse modo, a seguir etc.:
● EXPRESSÕES NOMINAIS (são aquelas que têm como núcleo um nome ou palavra substantivada pelo
artigo definido ou indefinido):
E16: O trabalho infantil é um atentado às crianças. Hoje essa exploração pueril ainda acontece em
várias regiões do mundo.
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● NOMINALIZAÇÕES (trata-se do processo linguístico que transforma geralmente uma ação verbal em
um nome):
E17: Usar o trabalho das crianças tem sido comum em muitos lugares. O uso da mão-de-obra infantil
deve ser denunciado imediatamente.
● SINÔNIMOS (são termos semanticamente equivalentes, haja vista que não há sinônimos perfeitos):
E18: Às crianças cabe a brincadeira. Não se deve reservar o trabalho aos infantes.
● HIPERÔNIMOS (são termos de conteúdo geral que indicam uma classe ampla. Geralmente usados
como sinônimos na segunda posição de um texto):
E19: O Estatuto da Criança vigora desde 1990. Basta que se aplique a lei aos infratores.
● NOMES GENÉRICOS (São os nomes que representam conjuntos gerais, tais como: coisa, negócio,
trem, problema, pessoa, fato, fenômeno etc.):
IMPORTANTE
E21: Não podemos mais tolerar o trabalho infantil. Temos que acabar com
esse absurdo.
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LEMBRETE
COESÃO REFERENCIAL
Advérbios Elipses
ATIVIDADE 13
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ATIVIDADE 14
ATIVIDADE 15
ATIVIDADE 16
ATIVIDADE 17
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João conseguiu se eleger. Essa eleição foi ideal para dar início a sua carreira
política.
ATIVIDADE 18
Una os enunciados abaixo, usando o único pronome relativo que, neste caso,
ao concordar com o seu antecedente, dispensa o uso da preposição:
São os conectores da superfície textual que encadeiam enunciados por meio de operadores (conjunções,
advérbios e expressões de ligação) que estabelecem vários tipos de relações de sentido. A esses
elementos de articulação que carregam em si uma determinada orientação argumentativa chamamos de
OPERADORES ARGUMENTATIVOS.
a) JUNÇÃO
Acrescenta argumentos em favor de uma mesma conclusão, sendo os mais comuns: e, e nem, e
também, como também, mas também, tanto... como, além de, além disso, ainda etc.
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E1: O trabalho infantil representa o furto da perspectiva de progresso e (Conjunção que realiza uma
justaposição de ações entre as informações sobre o referente central ‘O trabalho infantil’) da infância no Brasil.
E2: Devemos denunciar o trabalho infantil, além disso (ou como também, mas também etc.) o governo
precisa oferecer educação de qualidade às crianças.
b) OPOSIÇÃO
Relaciona enunciados com orientações argumentativas opostas. Pode ocorrer por meio de dois processos:
coordenação adversativa e subordinação concessiva.
E3a: ONGs alertam contra o trabalho infantil. Mas o governo ignora o alerta.
E3b: ONGs alertam contra o trabalho infantil. O governo, porém (ou contudo, entretanto etc.), ignora o
alerta.
c) CAUSA
c.1) Conjunções ou locuções conjuntivas – porque, pois, como, por isso que, já que, visto que,
uma vez que etc.
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E5: Devemos denunciar o trabalho infantil, porque (ou já que, visto que etc.) ele aniquila o futuro das
crianças trabalhadoras.
c.2) Preposições ou locuções prepositivas – por, por causa de, por motivo de, por razões de,
em virtude de, em vista de, devido a, em conseqüência de etc.
E6: Devemos denunciar o trabalho infantil, em virtude de (ou em razão de, devido a etc.) ele aniquilar o
futuro das crianças trabalhadoras.
E7: Em virtude de aniquilar o futuro das crianças trabalhadoras, devemos denunciar o trabalho infantil.
d) CONDIÇÃO
Introduz um enunciado como sendo a condição para a ocorrência de outro, constituindo a relação lógica
se-então. Os operadores com essa função são: se, caso, desde que, contanto que, a menos que, a
não ser que.
E9: A menos que (ou desde que, caso etc.) você denuncie, o trabalho infantil acabará.
e) COMPARAÇÃO
E10: A denúncia contra o trabalho infantil é tão necessária para o país quanto o crescimento social o é.
E11: Proteger nossas crianças é mais importante do que obter progresso desordenado.
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f) FINALIDADE
E12: As crianças devem estudar para ser um cidadão na sociedade em que vive.
g) CONCLUSÃO
E14: A criança é o futuro de uma nação, portanto (ou logo, então etc.), protegê-la é preservar a própria
existência da nação.
LEMBRETE
COESÃO SEQUENCIAL
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(em primeiro lugar, em segundo lugar, Condição (se, caso, a menos que etc.)
como veremos, aqui na 1a parte etc.) Conclusão (logo, assim, portanto etc.)
(isto é, por outro lado, com base nisso, Comparação (tanto quanto, menos,
quer dizer, por exemplo, segundo fulano etc.) do que, mais do que)
ATIVIDADE 19
Explique com suas palavras o que é coesão referencial e cite dois exemplos.
ATIVIDADE 20
ATIVIDADE 21
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ATIVIDADE 22
Escreva um texto com dez linhas cujo tema seja: “A PAZ MUNDIAL”. No texto
você deverá apresentar argumentos mostrando ideias de: condição,
comparação, oposição e finalidade.
Em termos gerais, podemos dizer que a linguagem é um meio de relacionar signos a coisas reais ou
virtuais. Quando usamos a palavra oral ou escrita, estabelecemos uma relação entre um conjunto de
símbolos e algo concreto ou abstrato que desejamos comunicar a outro.
Ao dizermos, “O dia está lindo”, selecionamos uma coisa do mundo “dia” e caracterizamo-la de “lindo”,
cujo interlocutor será levado a percebê-lo dessa forma naquele momento. Podemos, então, nos
questionar se existe mesmo algo chamado “dia”? Este algo (dia) estaria mesmo com a qualidade de ser
“lindo” no instante em que a linguagem foi utilizada para se referir ao dia?
A realidade descrita pela linguagem é verdadeira? Ou a realidade seria fabricada pela linguagem? O
referente indicado na linguagem é real ou produto da percepção cognitiva do usuário da linguagem?
Segundo Ogden & Richard (1923), referente é a coisa extralinguística apontada pelo signo verbal, que se
distingue de referência que é o significado linguístico representado pelo signo.
Autores como Marcuschi (1998) e Koch (1999) acreditam que a escolha do referente pelo sujeito locutor
é uma atividade social, cognitiva e discursiva. Ou seja, é uma ação influenciada por sua percepção
interpretativa dos objetos aos quais o sujeito se refere pela linguagem. Tais autores partem do
pressuposto defendido por Mondada & Dubois (1995) de que a linguagem não é uma mera representação
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de referentes do mundo extramental. Além disso, postulam que a relação entre as palavras e as coisas é
essencialmente instável.
A escolha de um ou outro substantivo para nos referirmos a um determinado ser nunca é aleatória.
Manifestamos nossa visão sobre o homem que se aproxima e no momento exerce uma função
administrativa de liderança em uma organização empresarial. A característica comum a ambos os termos
(ditador e diretor) é ordenar.
Em E1, a escolha da palavra “ditador” não é casual, mas reveladora da imagem negativa que o sujeito
tem do gerente da instituição. Enquanto que designar de “diretor”, como em E2, mostra uma imagem
menos negativa ou mais neutra sobre o gestor em pauta.
Portanto, a realidade é uma construção feita pelo sujeito locutor que enxerga e recorta o real como lhe
parece. Esse recorte da realidade se expressa na forma de nomear as coisas, na escolha que faz das
palavras para representar os objetos do mundo (ditador ou diretor). Isso significa dizer que as entidades
que designamos na linguagem não são objetos do mundo, mas criações do sujeito locutor construídas no
discurso, também chamadas de objetos-de-discurso.
Com isso não queremos dizer que os objetos a que o sujeito quando usa a linguagem faz referência não
existam no mundo ou fora da mente daquele. Na verdade, defendemos que a nossa maneira de ver e
dizer as coisas reais do mundo não coincidem com a realidade. Como dizem Marcuschi e Koch (1998,
p.05) sobre o que faz nosso cérebro:
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A interpretação de uma anáfora, seja nominal ou pronominal, não se constitui em uma mera localização
do antecedente que se refira a um determinado objeto do mundo, mas passa a apontar um vínculo com
alguma informação armazenada na memória discursiva do autor.
Um sujeito que utilizar a linguagem para textualizar o mundo não está apenas reunindo e dispondo um
conjunto de informações a serem processadas pelo outro; ele está antes (re)construindo uma parte da
realidade, conforme se lhe parece. A escolha de uma dada forma linguística (palavra ou expressão)
demonstra a visão que ele tem da realidade. Por essa razão, Mondada e Dubois (1995) sugerem a
substituição da noção de referência pela de referenciação.
Acompanhe a análise do texto Infância Furtada na qual receberão especial destaque os referentes
“trabalho infantil” e “crianças que trabalham”.
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INFÂNCIA FURTADA
Um estudante
Como já vimos, a escolha das palavras para referir o que intencionamos dizer não é aleatória. Ela segue
critérios que tem a ver com nossa visão de mundo e imagem dos referentes que foram construídas ao
longo da nossa história e vivência em diversas instituições tais como família, igreja, sindicato, associação,
empresa, ciclo de amigos etc.
Ao ser proposto o tema “A questão do trabalho realizado por crianças no Brasil”, o autor do texto acima
desenvolveu seu raciocínio a partir de um ponto de vista crítico e contrário à existência desse fenômeno
em terras brasileiras nos dias atuais.
A primeira referência ao tema se apresenta de forma “neutra” pela expressão definida “o trabalho
infantil”. Ainda no mesmo parágrafo, a forma linguística escolhida para retomar o tema foi “a migração
de crianças da escola para o trabalho”, revelando que elas deixam a escola para trabalhar.
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O autor abre o segundo parágrafo com a expressão definida “Essa exploração pueril”, marcando
claramente sua posição de aversão a essa prática, uma vez que denomina de “exploração” a participação
de meninos e meninas em ações laborais.
Pela expressão nominal definida “a utilização criminosa de mão de obra infantil”, o autor demonstra
sua indignação com o fato, pois insere o adjetivo “criminosa” no interior da expressão para explicitar seu
ponto de vista.
No quarto e último parágrafo, o autor remete-se ao tema do texto como “trabalho precoce”,
manifestando mais uma vez seu desacordo sobre o fato de pessoas de menoridade entrar no mercado de
trabalho. Fica implícito para o leitor que haveria o momento certo para as crianças participarem da vida
economicamente ativa do seu país.
Com relação ao referente “crianças que trabalham”, podemos dizer que o autor embute o mesmo
ponto de vista contrário a que elas assumam essa responsabilidade com tão pouca idade. Para isso, ele
se utiliza da repetição da palavra “crianças” e de termos sinônimos “adultos precoces” e
“estudantes”.
Na repetição do vocábulo “criança”, o autor evoca a idéia de fragilidade de um ser ainda em maturação,
bem como ressalta sua ingenuidade e fraqueza diante de uma situação em que exige esforço físico e
mental de concentração. O termo correlato selecionado para retomar o referente principal do texto, no
fim do segundo parágrafo, foi “adultos precoces”, que leva o leitor a pensar na urgência desnecessária
de fazer com que os pequenos sejam transformados à força em mão de obra fora do tempo.
Já com relação à remissão anafórica do antecedente central do tema, o autor usou a palavra
“estudantes”. Com isso, ele enfatiza a função do ser humano em sua fase de aprendizagem sobre as
coisas da vida. Na maioria das sociedades democráticas, frequentar escola desde cedo é um imperativo
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da lei do país (Brasil), cabendo até punição civil para os pais que desobedecerem a essa norma. Ele
lembra que o Programa Bolsa-Família ajuda a manter a criança na escola em troca de uma ajuda de
custo do governo federal. Elogia o programa, mas deixa claro que por si só ele não resolve o grave
problema do trabalho das crianças.
A fora os argumentos que compõem o texto, o processo de referenciação realizado pelo autor leva o
leitor a identificar qual a posição daquele sobre o tema em tela. Refazer, no processamento da leitura, o
percurso traçado pelo autor a partir das formas linguísticas escolhidas para tratar referentes essenciais
de um texto permite ao leitor acompanhar a progressão referencial e tópica, bem como analisar a
coerência do ponto de vista defendido no texto.
Agora que você já viu como é feita a análise da coerência temática de um texto observando o tratamento
dado pelo autor aos referentes centrais, percebe a importância de observar as expressões linguísticas
escolhidas pelo autor para retomar tema e sujeitos-chave do texto.
Esperamos que, daqui para frente, estejamos alerta para a construção do processo de referenciação
como estratégia do autor para imprimir suas posições sobre quem, o que, onde e como o fato ocorreu.
Assim, nós, enquanto leitores, poderemos identificar e reconhecer a posição do autor se atentarmos para
detalhes de elaboração do texto, que certamente nos ajuda a saborear a forma ao mesmo tempo em que
vamos nos inteirando do conteúdo.
ATIVIDADE 23
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ATIVIDADE 24
a) “... três pessoas que faziam parte da comissão e não pertenciam aos quadros
do governo...”
b) “... houve má utilização do dinheiro público, já que a viagem poderia ter sido
feita em avião comercial...”
ATIVIDADE 25
Nos enunciados a seguir, faça a substituição dos nomes próprios por descrições
definidas correspondentes:
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ATIVIDADE 26
TEXTO 02
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TEXTO 03
Mauro Halfeld
Comentário em podcast na Rádio CBN – http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas
/mauro-halfeld/2008/04/03/CONCENTRE-SE-EM-ATIVIDADES-EM-QUE-VOCE-TEM-
VANTAGENS-COMPARATIVAS.htm Acesso: 03/04/2008
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● Para que devemos conhecer e aprender a utilizar diferentes gêneros textuais que circulam na sociedade
atual?
Essas são as questões cujas respostas tentaremos apontar neste item da nossa disciplina Linguística
Textual. Vamos juntos encontrar as possíveis respostas a tais dúvidas sobre Gênero Textual.
Os primeiros autores a estudarem os gêneros foram Platão e Aristóteles há mais de 2.500 anos. O
primeiro enfatiza a perspectiva poética dos gêneros literários, enquanto que o segundo, o aspecto
retórico dos gêneros literários e não-literários. Mais recentemente estudiosos da linguagem retomaram a
questão dos gêneros sobre o enfoque das práticas discursivas na sociedade de um modo geral e,
principalmente, como objeto de aprendizagem a ser trabalhado sistematicamente pela escola.
O termo “gênero” foi durante muito tempo apenas vinculado aos gêneros da literatura tal como
descreveu Aristóteles em sua Poética. De Aristóteles ao Renascimento, passando pela Idade Média, o
termo guardava sempre uma relação com as diversas formas de produção e veiculação da imaginação
literária. Porém, Swales (1990:33) afirma que atualmente esta noção também tem sido usada para
“referir uma categoria distintiva de discurso de qualquer tipo, falado ou escrito...”
Diversas áreas têm se apropriado da noção de gênero, tais como a etnografia, sociologia, antropologia,
retórica, educação, mas contemporaneamente a Linguística é a área que mais tem se interessado pelos
estudos dos gêneros textuais. Certamente será sob o enfoque desta última que faremos nossas
observações, uma vez que estamos estudando a Linguística de Texto.
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Uma boa definição de gênero na perspectiva dos estudos da linguagem foi apresentada por Carolyn Miller
(1994) quando caracterizou o gênero textual como sendo:
Considerando o gênero como forma de ação social, podemos dizer que, de uma certa forma, os gêneros
textuais ajudam seus usuários a organizar o funcionamento de sociedades letradas. O seja, ele permite
que os usuários da língua formalizem em textos específicos suas intenções de comunicação de modo a
ser compreendido mais facilmente.
As sociedades em geral estão organizadas em torno de instituições. Elas desenvolvem ações e eventos
específicos que vão constituir seu modo de funcionamento recorrente que passam a caracterizá-la. Essas
práticas se realizam por meio da linguagem oral e escrita. Por ser a modalidade escrita mais permanente
em relação à fala, são criados formatos de texto que ganham, pelo uso, uma padronização gerando mais
agilidade e rapidez na realização de uma atividade no interior de uma instituição.
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O quadro abaixo sintetiza a correlação entre as práticas socioinstitucionais e os gêneros textuais que as
configuram:
Para cada uma dessas ações, cerimônias e rituais foi desenvolvido ao longo do tempo um gênero textual
correspondente cuja circulação fora da instituição soa inadequada. Logo, a criação desses gêneros
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textuais ligados às atividades ali realizadas diariamente tanto organizam a tal instituição como também
ajudam a ordenar a sociedade de um modo geral.
Em uma instituição empresarial, podemos constatar que o mesmo acontece. Pedidos de compra e venda,
produção de recibos, notas fiscais, promissórias, contratos, formulários de impostos, memorando,
comunicação interna e publicidades diversas são alguns dos gêneros textuais que poderemos encontrar
transitando pelas salas, corredores e sobretudo por meio de computadores hoje em dia. Inclusive, muitos
desses textos nem são mais impressos, povoam as caixas de endereços eletrônicos ou ficam hospedados
em arquivos virtuais. Isso é o que acontece com envio do formulário de declaração anual do Imposto de
Renda Pessoa Física ou Jurídica à Secretaria da Receita Federal brasileira.
Por essa razão, devemos conceber os gêneros como entidades dinâmicas e não como estruturas rígidas,
pois, em todo momento, estão sendo criados novos gêneros sempre a partir dos existentes. Seu uso
constante provoca modificações nos gêneros, já que seus usuários são livres e criativos ao se
apropriarem da linguagem para se comunicar.
São muitas as perspectivas e objetivos teóricos e práticos para o estudo dos gêneros textuais. Conforme
Marcuschi (2008: 152-153), há várias tendências para o tratamento dos gêneros textuais. Quase todas
as abordagens toma as categorias e visão macroanalítica propostas por Bakhtin. Abaixo reproduziremos o
esquema elaborado por Marcuschi que resume bem as diversas perspectivas de estudo dos gêneros
textuais atualmente em âmbito internacional:
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Salientamos que essas abordagens do estudo dos gêneros textuais não são rígidas nem absolutas, elas
atendem a diferentes propósitos de compreensão da linguagem enquanto fenômeno comunicativo, social
e político.
Toda comunicação verbal humana só ocorre por meio de um gênero textual no qual figuram
predominantemente certas sequências frasais em meio a uma atmosfera que permite a circulação de
algumas idéias e discursos. Por isso, é necessário explicitarmos determinados conceitos de fatos
linguísticos diferentes que às vezes são tomados indistintamente.
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● GÊNERO TEXTUAL
Refere-se aos textos que concretizam eventos de comunicação e interação social. Em geral, os gêneros
textuais se apresentam com um padrão de características que nos permite usá-los e reconhecê-los
quando alguém os usa. Eles seguem critérios relacionados a propósitos comunicativos dos seus
produtores que elaboram estruturas enunciativas que obedecem a seu estilo de selecionar e organizar
palavras e expressões verbais. Trata-se de manifestações empíricas que se manifestam em textos como,
por exemplo:
● TIPO TEXTUAL
Refere-se aos aspectos linguísticos dos enunciados, seus elementos lexicais, sintáticos, tempos verbais
que caracterizam as sequências como pertencentes a um tipo de texto específico como: narrativo,
descritivo, injuntivo, expositivo e argumentativo. Costumam-se chamar tais estruturais típicas de um
texto como sequências retóricas. A predominância de tais sequências retóricas em um texto
identificam-no como sendo de um tipo ou de outro.
Assim, fica fácil identificar as sequências linguísticas abaixo como pertencentes aos tipos textuais
narrativo, descritivo, injuntivo, expositivo e argumentativo respectivamente.
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Era uma vez uma princesa que vivia num castelo no meio da floresta. O
rei havia prometido a mão da princesa em casamento ao príncipe do
castelo vizinho... Certo dia o príncipe foi conhecer a princesa com quem
pretendia se casar. Ambos então se conheceram e foi amor à primeira
vista... Porém, nem tudo eram flores. O príncipe sofria de uma doença
rara e precisa se tratar em uma aldeia muito distante dali. O casamento
só poderia acontecer depois que o príncipe ficasse curado da
enfermidade...
Destacamos apenas os adjetivos do texto do tipo descritivo acima, todavia podemos perceber a
presença de expressões que remetem à caracterização do espaço em tela cuja imagem retratada, de
acordo com a visão de quem descreve, é a mais agradável e positiva possível. Retratar espaço e pessoa
física e psicologicamente é a intenção de quem lança mão das sequências descritoras. O objetivo de um
texto com este formato é fazer-ver por meio das palavras.
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CARREGAR A BATERIA
Para reconhecer o tipo de texto acima basta observar o modo verbal usado. Todos os verbos destacados
foram empregados no modo imperativo. Essa é a principal característica linguística do modo textual
injuntivo. Há outras como o tom de ordem, advertência, conselho, sugestão. O objetivo de um texto
com este formato é o fazer-fazer, ou seja, levar o interlocutor a agir, a sair da inércia e resolver uma
situação.
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Há outras possibilidades de uso para a palavra “ponto” que poderiam serem acrescentadas a essas, mas
acreditamos suficientes as que aí estão para mostrar o tipo textual expositivo. O objetivo deste tipo é
fazer-conhecer os detalhes de um objeto ou de um tema. Busca responder às questões: o que é? Como
é? Quando surgiu? Para que serve? Logo, cabe a este formato textual ordenar informações, sequenciar
passos, parafrasear, mostrar características, histórico e precursores, além de apresentar exemplos que
materializem o objeto/tema abordado.
Sem muita dificuldade, é possível perceber um conjunto de dados que substanciam os argumentos em
defesa do ponto de vista apresentado pelo sujeito só ao final do texto. Qual seria sua tese? “O governo
precisa tomar providências para evitar um caos na economia brasileira”. A referência aos números
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americanos e os dados em relação à economia brasileira são argumentos para levar o leitor a concluir
com o autor que o governo precisa agir o quanto antes para proteger os interesses brasileiros. Estas são,
pois, estruturas linguísticas próprias do formato textual argumentativo, cujo objetivo central é fazer-
crer que o ponto de vista do autor deve ser adotado.
Lembre-se de que as sequências linguísticas que compõem cada um dos tipos textuais acima são
construções teóricas que indicam o modo de organização do texto, mas a materialização empírica só
acontece quando tais sequências são inseridas em um gênero textual específico para atender ao
propósito comunicativo do sujeito usuário da linguagem. Por essa razão, os PCN sugerem que o ensino da
produção textual na escola seja feito a partir do trabalho com os gêneros e não com os tipos textuais.
São os gêneros os objetos de aprendizagem ainda que sejam trabalhados em situações simuladas, pois
nem sempre é possível viver uma situação real que demande o uso de um gênero textual.
Outro ponto importante a destacar refere-se ao fato de que essas sequências linguísticas não
pertencerem exclusivamente a um tipo textual. Elas podem ocorrer mescladamente em textos de tipos
diversos. Todavia, o que nos permitirá distinguir um tipo textual de outro será a predominância dessas
marcas. Alguns autores chamam essa mistura de tipos textuais de Intertextualidade tipológica.
O mesmo acontece com os gêneros, pois eles podem trazer, além das próprias marcas, traços
característicos de outros gêneros textuais, o que tem sido denominado de Intergenericidade. Para ilustrar
isso, basta observar atentamente os exemplos de tipo textual expositivo e argumentativo. O primeiro
pode tranquilamente pertencer ao gênero aula expositiva oral ou conferência oralizada. O segundo pode
se tratar de um texto do gênero artigo de opinião, ensaio acadêmico ou ser um fragmento de uma
dissertação de mestrado. Em ambos há muita informação que levam o leitor na direção interpretativa do
autor, no entanto, o ponto de vista deste aparece com mais evidência, além da organização dos
argumentos com objetivo claro de convencer/persuadir aquele sobre a verdade e a consequente
aceitação da tese defendida no texto.
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Vale apena salientar ainda o jogo de encaixe que há necessariamente entre texto, gênero e tipo textual,
tal como uma boneca russa. Em outras palavras, todo texto realiza um gênero que utiliza essencialmente
sequências linguísticas para expressar uma intenção comunicativa.
● DOMÍNIO DISCURSIVO
Utilizando as palavras de Bakhtin, diria que se trata de “uma esfera de atividade humana”. Uma espécie
de espaço abstratamente delimitado em que circulam os discursos produzidos por sujeitos que pertencem
a uma “instância discursiva” (discurso acadêmico, jurídico, jornalístico, religioso, sindicalista etc.). Nas
instituições em geral são produzidos gêneros diversos originalmente criados por elas ou transmutados de
outras instituições. Estas práticas discursivas dos sujeitos institucionais revelam a rotina e a natureza das
atividades ali realizadas.
Para exemplificar a circulação de gêneros textuais diversos em uma instituição específica, tomemos a
universidade e sua gama de diferentes textos que mostram a grandiosidade de suas atividades
cotidianas. Afora os comuns a outras instituições como os textos dos gêneros requerimento,
comunicação circular, minuta, contrato, ata, há os que são tipicamente universitários como:
artigo científico, ensaio, relatório de pesquisa, protocolo de investigação,
monografia, dissertação, tese, conferência, anais, gêneros estes que são de uso e
validação exclusivos da instância acadêmica universitária. Produzi-los, reconhecê-los e legitimá-los
cabem somente aos membros pertencentes a tal instituição.
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É comum confundirmos o gênero com seu suporte de realização. O gênero digital E-mail, por exemplo, é
motivo de confusão, pois ele pode assumir ao mesmo tempo o papel de um gênero textual com
características específicas, bem como servir de base para enviar outros gêneros. Facilmente ouvimos
alguém dizer que vai enviar um e-mail e outras vezes o mesmo sujeito diz que vai enviar algum
documento (texto, foto, música, vídeo) por e-mail.
Assim, podemos dizer que suporte é a superfície material ou virtual, o locus, o ambiente por onde o
gênero textual se fixa e se realiza como texto. No suporte, o autor do texto pode ancorar o gênero e dar
acesso da sua obra aos potenciais leitores.
a) convencionais – livro, jornal, revista (científica, semanal), rádio, televisão, telefone, quadro de
avisos, outdoor, encarte, folder, faixas, fnternet, home-page etc..
Entretanto, alguns serviços que divulgam atividades comunicativas são confundidos com suportes, mas
na verdade não são mais do que viabilizadores de ações de linguagem. São eles:
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ATIVIDADE 27
ATIVIDADE 28
ATIVIDADE 29
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