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Universidade de Fortaleza

Curso de Psicologia – CCS


Disciplina: Prática Integrativa I

A PSICOLOGIA JURÍDICA COMO MEDIADORA FAMILIAR E A ÓTICA DO SENSO


COMUM SOBRE O PROFISSIONAL DA PSICOLOGIA.

Ana Leuda Cordeiro / Beatriz Teixeira / Julie Caroline Rebouças.


Prof. Orientador: Ms. Maíra Maia de Moura.

Resumo

Este artigo tenta estabelecer um paralelo entre as diferentes esferas do senso comum e o profissional da Psicologia
sobre o que é Psicologia, seu papel na sociedade e sobre o psicólogo, sobretudo, o psicólogo da área jurídica.
Relacionamos as experiências das pessoas do senso comum e das profissionais em psicologia jurídica para apontar os
problemas que mais foram ressaltados e discorrer sobre a importância de resolvê-los, tanto para melhorar a carga do
profissional nessa área, que tem menos empregados do que o necessário, quanto para melhorar a qualidade de vida da
população mais pobre, possibilitando a essas pessoas uma melhor qualidade de vida, ao ter acesso à psicólogos. Foi
utilizada uma metodologia qualitativa e entrevista semiestruturada.

Palavras-chave: psicologia; jurídica; senso comum; entrevista.

Introdução

O estudo relatado foi realizado em virtude da disciplina Prática Integrativa I, do curso de Psicologia
da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) localizado no Centro de Ciências da Saúde (CCS) sendo
orientado pela professora Ms. Maíra de Maia de Moura e a monitora Jéssica Oliveira. O artigo em
questão tenta estabelecer um paralelo entre as diferentes esferas do senso comum e o profissional
da Psicologia sobre o que é Psicologia, seu papel na sociedade e sobre o psicólogo, sobretudo, o
psicólogo da área jurídica. Foi realizada uma pesquisa qualitativa através de um roteiro e técnica
de entrevista semiestruturada com pessoas de diferentes classes sociais e profissões e mais duas
psicólogas da área jurídica, que até o presente momento atuam em fórum realizando trabalhos na
vara da família.

Acreditamos que é importantíssimo o conhecimento de todas as camadas da sociedade sobre o


trabalho de um psicólogo, e de sua função social pois tão somente com este conhecimento se tem
uma população ciente da importância de sua saúde psíquica para o funcionamento desta,
principalmente com o Brasil sendo o país mais depressivo e ansioso da América Latina com taxas
de 5,8% e 9,3% de pessoas doentes respectivamente. (Fonte: OMS, 2018)

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Serviram de base para orientar o trabalho de campo e a interpretação dos dados colhidos os autores:
Gerhardt e Silveira (2009); Duarte (2004); Bock (2001); Ramos (1994); Oswaldo (2014) e Novo
(2018).

Foi utilizado um modelo qualitativo de pesquisa com instrumento de coleta de dados de entrevista
semiestruturada, onde o roteiro das perguntas foi elaborado em sala de aula e através de nossas
observações foi feita uma análise entre o material coletado, o referencial teórico e a atualidade.

O trabalho está dividido em cinco partes, sendo estas, introdução, onde apresentaremos os aspectos
gerais do trabalho; metodologia, onde apresentaremos os métodos e técnicas; os resultados e
discussões onde traremos nossas análises e por fim as considerações finais e as referências
bibliográficas.

Metodologia

Para a realização desse trabalho de campo foi utilizado o método de pesquisa qualitativo, que
segundo Gerhardt e Silveira (2009),

“Se caracteriza como uma apuração na qual há uma maior preocupação quanta ao
aprofundamento do estudo de um grupo social, em detrimento da representatividade
numérica. De forma direta, pode-se considerar a pesquisa qualitativa como de natureza
mais subjetiva do que a quantitativa. Os pesquisadores que adotam a abordagem
qualitativa, em sua maioria, opõem-se ao pressuposto de que um modelo único de
pesquisa deve ser utilizado para todas as ciências, ao ressaltar que as ciências sociais têm
sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria”. GERHARDT e
SILVEIRA, 2009, p. 32)

O instrumento usado para coleta de dados durante a pesquisa foi a entrevista semiestruturada, na
qual apesar de não existir um roteiro engessado a ser seguido, questões pré-definidas são assinalas
anteriormente, com o intuito de definir uma direção a seguir seguida, sendo essa direção suscetível
a mudanças, visto que o roteiro das entrevistas semiestruturas devem ser adaptados de acordo com
os rumos do diálogo entre entrevistador e o entrevistado. Senão vejamos,

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“Realizar entrevistas, sobretudo semiestruturadas ou abertas, não é uma tarefa banal, pois
propiciar situações de contato, ao mesmo tempo formais e informais, de forma a
“provocar” um discurso mais ou menos livre, mas que atenda aos objetivos da pesquisa e
que seja significativo no contexto investigado é um desafio eminente.” (DUARTE, 2004,
p. 216)

Foram feitas entrevistas com dois psicólogos da área jurídica e duas pessoas do senso comum, as
entrevistas semiabertas realizadas foram gravadas, com a permissão das entrevistadas, e
caracterizadas pela existência de sigilo, assim, a identidade das entrevistadas será sinalizada
apenas a partir das iniciais de seus nomes. Outrossim, posteriormente, foi realizada a transcrição
dessas entrevistas para análise dos dados coletados. Todo trabalho teve supervisão da professora
Maíra Moura e da monitora Jéssica Oliveira no período de fevereiro a junho de 2019.

Resultados e Discussão

Existe um domínio da vida que pode ser entendido como vida por excelência: é a vida do cotidiano. É no
cotidiano que tudo flui, que as coisas acontecem, que nos sentimos vivos, que sentimos a realidade. (Bock,
2001, pg. 16) aqui que se começa a visão da psicologia pelo chamado senso comum, é aqui onde as pessoas
usam do seu cotidiano para tentar explicar ou até ajudar aos outros e a si mesma, a necessidade inerente à
vida em sociedade de que todos estejam bem, ou – como diriam os gestaltistas – congruentes. Há um ditado
que diz “De médico e de louco todo mundo tem um pouco”, e o que seria o psicólogo senão uma
representação literal disso?

Algo que vimos nas duas de nossas entrevistas com as representantes do senso comum foi a questão da
acessibilidade, todas mencionaram como a população precisa de um apoio, um apoio ainda mais incisivo
por conta da questão socioeconômica e estrutural familiar, que geralmente advém da primeira, como disse
a primeira entrevistada “Eu acho que nos bairros, nos colégios, acho que isso necessita muito, porque tem
muita criança que tá com muito problema... a não ser aquelas pessoas que são ricos, que tem dinheiro, que
pode pagar, que a pessoa pode ir na sua casa, mas a não ser né...”.

Não é preciso de muitas referências para se entender que qualquer tipo de atendimento voltado à saúde, ou,
(sendo mais abrangente) qualquer coisa, as elites serão as privilegiadas; a maior parte dos psicólogos muito
qualificados permanece nos bairros nobres, nas clínicas caras, atendendo a pessoas com o que, na internet

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é chamado de “problemas de primeiro mundo” devido à grande quantidade de pessoas que, sim, precisam
de acompanhamento psicológico, mas em contrapartida há uma grande diversidade de opções em alguns
lugares e em outros nem tanto como no caso de nossa entrevistada em questão que alega não ter como ir ao
CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) que é relativamente perto de sua casa. E se trata ainda
somente da assistência social e não do profissional formado em psicologia.

A psicologia da vida pode e deve ser aplicada no dia a dia pois nem tudo precisa ter fundamento científico.
Existem conhecimentos espontâneos, é aquilo que sabemos e ponto. (Oswaldo, 2014). De fato, o senso
comum aplica suas idiossincrasias tão pessoais ao cotidiano em que se vive todos os dias nas mais diversas
situações como quando uma mãe sabe que não deve dar ouvidos às birras do filho em um shopping pois
sabe que se der o que ele (o filho) quer isso irá virar um ciclo infinito de malcriação. Isso é a psicologia
bem na frente de nossos olhos mesmo que essa mãe não saiba fundamentar de maneira científica o motivo
de se comportar assim, faz porque sabe, e ponto.

O campo da psicologia estende também à área jurídica (que é também tema de nosso artigo) área esta que
é pouco divulgada, no fórum onde fizemos as entrevistas com as psicólogas, as duas fizeram concurso ainda
em 2008, sendo efetivadas apenas em 2011, é pouco explorado e pouco visto a atuação do profissional que
em muitos casos ajuda na realização de uma conciliação junto ao juiz, também tendo papel essencial na
compreensão de uma determinada situação no âmbito da família, e quando perguntada, a psicóloga a qual
iremos nos referir como Psicóloga 1 disse que a não difusão da profissão é deveras preocupante devido ao
essencial papel que exerce quando as situações no tribunal saem da alçada do juiz, dos promotores e
advogados.

O objeto de estudo da psicologia jurídica, assim como toda a psicologia, são os


comportamentos que ocorrem ou que possam vir a ocorrer, porém não é todo e qualquer
tipo de comportamento. Ela atua apenas nos casos onde se faz necessário um inter-relação
entre o Direito e a Psicologia, como no caso de adoções, violência doméstica, novas
maneiras de atuar em instituições penitenciarias, entre outros. (NOVO, 2018).

De fato, a psicologia é uma área do conhecimento muito ampla, se ocupando da compreensão do


comportamento humano e das funções mentais dentro de diversas perspectivas e vertentes a serem
aprofundadas. De acordo com Bock (2001), a psicologia está em constante movimento e por conta disso,
está sempre em construção, com novas formas de atuação. Por essa óptica, o trio que realizou a pesquisa
decidiu dar um direcionamento segundo qual houvesse um foco na área da psicologia jurídica, visto que,

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apesar de possibilitar diferentes meios de atuação, e empenhar um papel fundamental na sociedade, o campo
jurídico, no que tange a psicologia, possui pouco reconhecimento, sendo desconhecido por muitos. Desse
modo, foram realizadas entrevistas com duas psicólogas jurídicas, nas quais foram abordadas questões
como os desafios enfrentados nessa área, a formação necessária, a relação estabelecida com outros
profissionais, entre outras. É valido ressaltar que por motivos de sigilo, as entrevistas serão denominadas:
Psicóloga 1 e Psicóloga 2.

Assim, após as duas entrevistas, tornou-se possível a percepção de que ambas as profissionais tinham
vivenciado situações semelhantes ao longo de suas respectivas carreiras. Outrossim, uma questão que foi
pontuada pelas duas diz respeito a falta de informação por parte de muitos indivíduos, que possuem uma
compreensão errônea sobre o papel desempenhado pelo psicólogo jurídico, o que faz com que esses
esperem dessas profissionais condutas semelhantes aquelas observadas na prática do psicólogo clínico, já
que esse é o tido como "padrão" pelo senso comum. Segundo as palavras da psicóloga 2: "A psicologia
jurídica ainda é muito incipiente. É possível observar isso com clareza ao constatar que existem faculdades
que até hoje não apresentam a cadeira de psicologia jurídica, e quando o fazem, essa costuma ser optativa.
Nesse sentido, o maior desafio que temos é construir essa psicologia jurídica, que seja uma interface da lei
com a subjetividade humana". Certamente, a afirmação feita pela entrevista condiz com o que foi dito por
Bock (2001), visto que a autora afirma que a psicologia está em constante construção. Além disso, a
escritora consta que a identidade singular dessa ciência se baseia no foco na subjetividade do ser humano,
inserido nos mais diversos contextos.

Ademais, outra questão que julgamos interessante foi a interdisciplinaridade necessária na prática da
psicologia jurídica. Segundo essa perspectiva, para que haja o exercício do ofício do psicólogo jurídico, a
relação com advogados, assistentes sociais e psicossociais que trabalham nessa área é essencial, existindo
necessariamente um espaço de troca entre eles para verificar o desenvolvimento daquele grupo ou daqueles
indivíduos em questão. De acordo com a experiência da psicóloga número 1, que trabalha com a vara de
família: "Eu costumo atuar em conjunto com assistentes sociais na maioria dos casos. Mas para além disso,
lido com profissionais das mais diversas áreas, desde psicólogos clínicos que possuem envolvimento no
caso que estou avaliando, advogados, juízes, até coordenadores de colégio, pedagogos e educadores em
geral, que me auxiliam para que possa ter uma maior compreensão sobre a situação que estou avaliando".
Nesse sentido, ressalta-se mais uma vez a importância da colaboração entre diferentes partes dentro do
processo jurídico "Promover uma interdisciplinaridade que contribua para a superação de diferenças
substanciais entre diferentes disciplinas quanto aos critérios de saúde, ideologia, linguagem técnica,
modelos de ação, objetivos e enquadres [...]" (Ramos, 1994, p. 40).

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Considerações Finais

Percebemos que existe uma demanda social pelo trabalho do psicólogo pela população de baixa
renda, como foi dito pelas entrevistadas do senso comum, mas que até o dado momento continua sem ser
suprimida por parte do Governo, seja pela contratação de mais profissionais, ou pela divulgação dos
serviços gratuitos que já são oferecidos. Também é destacada a falta de conhecimento acerca da atuação do
psicólogo jurídico, mesmo esta sendo uma ramificação muito importante tanto da psicologia quanto do
direito, além da pequena oferta de empregos, o que não condiz com a necessidade, porque geralmente são
poucos profissionais trabalhando simultaneamente em dezenas de casos, o que dificulta seu trabalho.
A experiência de entrar em contato com pessoas de esferas sociais e experiências de vida tão
diferentes foi muito enriquecedora para nós, principalmente porque percebemos que, apesar dessas grandes
diferenças entre as quatro entrevistadas, até mesmo de idade, todas possuíam reclamações similares.
Também foi muito interessante conhecer a área da psicologia jurídica e entender como é a sua atuação e a
sua importância para o cotidiano da sociedade, já que esta é uma área pouquíssimo conhecida. Portanto,
acreditamos que os objetivos da disciplina foram alcançados com sucesso, ao entrarmos em contato com
diferentes realidades e entendermos mais não só sobre a área que escolhemos, mas também sobre as pessoas,
as suas necessidades, desejos e como suas vivências particulares moldam a sociedade como um todo.

Referências
CHADE, Jamil. Brasil é o país mais depressivo da América Latina, diz OMS. Estadão, São Paulo, 23.02.2017.
Disponível em <https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-e-o-pais-que-mais-sofre-com-depressao-na-
america-latina,70001676638> Acesso em 09.05.2019.

GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo. Métodos de Pesquisa. UFRGS: Rio Grande do Sul, 2009.

DUARTE, Rosália. Entrevistas em Pesquisas Qualitativas. UFPR: Curitiba, 2004.

BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes. Psicologias: uma introdução ao
estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008.

RAMOS, CERQUEIRA, Ana Teresa de Abreu. Interdisciplinaridade e psicologia na área da saúde. Ribeirão Preto.
1994. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
389X1994000300005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 29.05. 2019.

OSWALDO, Yeda. A CIÊNCIA DA PSICOLOGIA E A PSICOLOGIA DO SENSO COMUM. Issi Infinity, São
Paulo, 09.06.2014. Disponível em <https://isiinfinity.com.br/a-ciencia-da-psicologia-e-a-psicologia-do-senso-
comum/> Acesso em 29.05.2019.

NOVO, Benigno Núñez. A importância da psicologia jurídica. JUS. Assunção, 03.2018. Disponível em <
https://jus.com.br/artigos/64532/a-importancia-da-psicologia-juridica> Acesso em 29.05.2019.

Apêndices

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Atividades desenvolvidas Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5
Pesquisa bibliográfica X X X
Elaboração e Entrega do Plano do Trabalho X
Análise dos dados X
Participação em supervisões X
Escrita do Relatório Final X
Entrega do Relatório Final X
Seminários em sala de aula X
Mostra das Práticas e conclusão das atividades X

Anexos
FA, 65, costureira, não possui escolaridade.

“Qual a visão que a Sra. tem da psicologia? ”


FA: Psicologia vixe maria... que é que é mesmo hein? Não sei não (risos). [...] Psicologia é o tratamento da
cabeça, o sistema nervoso, um tipo assim? Pois então eu acho que seja isso né?

“Acha que estuda o que? ”


FA: acho que deve fazer a faculdade para poder chegar aí.

“Para que a Sra. acha que serve a psicologia? ”


FA: Ah acho que a psicologia serve pra um bucado de coisa, serve pra descobrir um bucado de coisa do ser
humano, né? Acho que deve ser isso.

“A pessoa que é um psicólogo o que é que ele vai fazer? ”


FA: Ah vai tratar da cabeça do abestado, do doido (risos) vai cuidar do sistema nervoso de quem não tem
paciência.

“E quando você pensa em um psicólogo, você pensa na pessoa como? ”


FA: Ah eu sei, eu já fui no psicólogo né, inclusive eu tenho depressão, e quando eu entrei em depressão me
mandaram pro psicólogo. E eu cheguei lá e sentei, por sinal a moça muito delicada assim como vocês
ficaram conversando comigo procuraram saber de mim desde quando eu comecei a sentir aquelas coisas e
daí por diante né, e eu tive que buscar até dentro da minha infância. Aí por último veio a morte de um filho
meu que me piorou mais, que eu fiquei em tempo de jogar pedra na lua.

“E como foi essa experiência com essa psicóloga? ”


FA: Foi ótimo, foi boa, ela me passou pra outras pessoas, inclusive eu acho que ela mesmo passou
medicamento pra eu tomar, eu acho que foi, que de lá mesmo eu saí medicada, aí fiquei tomando remédio.

“E ela era legal? ”


FA: Gente fina... gente faz tempo, foi em 94, mas eu me lembro muito bem, ela foi muito boa, lá da
maternidade escola ali de frente.

“E onde que a Sra. acha que o psicólogo pode trabalhar? ”


FA: Eu acho que nos bairros, nos colégios, acho que isso necessita muito, porque tem muita criança que tá
com muito problema... a não ser aquelas pessoas que são ricos, que tem dinheiro, que pode pagar que a
pessoa pode ir na sua casa, mas a não ser né...

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Nos colégios precisa muito, principalmente nos bairros, nas periferias da cidade, tem criança também que
é muito nervosa, tem criança que é tão nervosa, tipo que direcionam a levar pra um psicólogo e às vezes a
mãe não tem como levar, que às vezes falta o dinheiro do ônibus, cada colégio merecia ter. Porque é o
seguinte: perto da minha casa tem um CRAS, mas não fica tão perto que dê , por exemplo, pra pessoa ir à
pé principalmente eu que já tô doente das pernas, pra eu ir pra lá, eu não vou, se eu não tiver transporte já
viu como é que é, e a mãe de família que tem criancinha pequenininha, também muitas e muitas vezes tem
que ou levar a criança ou pagar uma pessoa pra ficar, então acaba não conseguindo ir, já no colégio não,
porque ela vai deixar a criança aí enquanto ela tá deixando a criança ali ela já pode dar uma entradazinha,
conversar... eu penso assim, se eu tivesse condições eu fazia isso porque tem muita mãe cansada,
alvoroçada, briga com marido, briga com filho, é doente aquele negócio todo e serve pras crianças também,
não serve só pra mãe ou só pro pai.

“E a Sra. acha que é qual a importância da psicologia, de um psicólogo pra pessoa, pra família, pra formação
da pessoa”
FA: Eu acho que tem uma importância muito grande porque é um problema de saúde né, é a saúde, porque
vai atingir o sistema nervoso da pessoa, e como é que a pessoa pode conviver com outra pessoa se tá
nervosa, se não tem paciência de falar com outra pessoa?

“Quais as características que um psicólogo deve ter, como ele deve agir? ”
FA: Ah pois é, do jeito que já vi, muito calmo, muito lento, bem paciente, deixa a pessoa conversar, buscar
lá no eu dela, na aura, pra poder ir jogando aquilo fora, eu acho que tem que ser assim.

“O que a Sra. acha que faz um psicólogo ser bom? Além de ser tranquilo e calmo? ”
FA: Ter estudado direitinho, conhecer o tipo da coisa porque tem deles que estudou, mas de repente não
conhece o problema da pessoa, não conhece como é que vai conversar pra fazer o tratamento daquela
pessoa, explicar praquela pessoa?

“O que você acha que a pessoa precisa fazer para se tornar um psicólogo? ”
FA: Estudar bastante né, porque se não estudar não chega lá (risos), primeiramente vem à vontade, se você
tem aquela simpatia por aquela coisa que você está pensando em fazer, e com estudo você vai longe.

“E o que a Sra. acha que justifica buscar um psicólogo? ”


FA: Exatamente pela saúde né, porque ela tá precisando, ela tá necessitando, ela tá com um problema,
ninguém pode viver no sistema nervoso dentro de casa quebrando as panela; eu quebro as panelas, eu...
olha uma vez eu peguei foi a televisão papoquei a televisão no chão, me abracei com a televisão... quer
dizer eu tenho problema de depressão né e aí nesse dia eu tava tão aflita, tão assim, ansiosa, que aí eu não
tenho paciência, eu se eu tiver qualquer coisa na mão e começar a falar com os meninos (se referindo aos
filhos), eu pá! É um pedaço de pau, é uma pedra, é o que tiver, então eu não posso deixar de tomar meus
medicamentos, não posso, seja quem for, se começa a roubar minha paciência demais eu não conto duas
vezes, eu espapoco o que eu tiver na mão e é assim.

“E a Sra. conhece alguém que já tem alguma experiência com psicólogo ou quer falar mais da sua
experiência? ”
FA: Tem a minha nora, já foi justamente com o meu neto de 15 anos o pai dele tá preso, ele entrou em
depressão, ele tá em depressão, ele não estuda mais, quando a mãe dele vai buscar ele pra ir estudar pra ele
ir pro colégio, ele sai correndo, correndo, correndo, a gente tem medo dele fugir de casa, aí a gente tem
mais que se recolher, se acalmar porque ele pode fugir né, aí vai ser pior pra gente, ninguém quer isso pra
ele né, mas só depois que o pai dele foi preso.

“E a Sra. está sentindo uma diferença nele agora que ele tá no psicólogo? ”

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FA: Não ele não foi pro psicólogo, ela fez uma ficha pra ele ir, mas é o que eu terminei de dizer, como é
longe e ela não tinha o dinheiro da passagem dele, não foi, nunca foi, por isso que eu digo nos colégios é
bom porque aí acontece isso.

“A Sra. conhece alguém que trabalha nessa área ou tem curiosidade pra saber mais?”
FA: Ah curiosidade eu tenho muita né, porque além de eu não saber ler... então como eu não sei ler eu gosto
de procurar conhecer as coisas, as pessoas, qual a sua profissão, a sua função, eu gosto de saber né, porque
é bom a gente tá sempre atualizada, aí eu não sei ler mas eu sou inteligente assim um pouquinho, gosto de
procurar, puxar assunto, conversar, que assim eu vou sabendo por exemplo, o jornal eu não perco o jornal
eu assisto as novelas mas meu negócio é o jornal, se não como é que eu vou saber né?

EA, 46, cabeleireira e agente da cidadania na prefeitura de fortaleza, ensino médio completo.

“Qual é a sua visão da psicologia? “


EA: Eu acho interessante porque é uma coisa que você se preocupa com a comunidade, com o outro, pensa,
ainda mais agora hoje em dia que tem muito essa violência, e as pessoas precisam demais de psicologia
porque agora que vem essa fase assim, por exemplo a gente está aqui num local que muitas pessoas precisam
mesmo, porque tem família que tem filhos presos, marido preso, e tudo isso elas precisam, eu às vezes eu
falo, até aqui mesmo, aqui era para ter uma sala que pudesse atender essas famílias né, porque muitas vezes
a mãe não tem culpa do que os filhos fazem, e a principal quem sofre é a mãe, o pai, o irmão, que se culpam
e às vezes também ela passa por um processo que precisa de cuidado psicológico, é muito difícil ter essa
parte que as pessoas precisam e também para o próprio preso porque eu acho assim, não é porque eles estão
presos lá (a gente não tira por todos), mas tem uns que foi maria vai com as outras, tem outros que fizeram
para estar ali, tem outros que não tiveram a chance, porque que nós não trabalhamos lá dentro do presídio?
De ter curso, de ter um trabalho para eles, porque às vezes eu fico revoltada que tem muito preso que tá lá
dentro que quer uma oportunidade e não tem, porque o próprio governo do estado não dá oportunidade para
eles, só botam lá e acabou-se. Então aqueles que entraram ali por coisa errada, que erraram, que querem
mudar, como é que vão mudar botando tudo ali junto? Eu vejo muito isso pelas famílias, de mãe porque eu
lidero muito ali pela comunidade e muitas mães procuram a gente e a gente ajuda muito essas mães, porque
eu acho assim, às vezes eu falo assim se eu tivesse a chance de ser uma vereadora eu ía trabalhar vendo
essa parte aí porque eu acho que as pessoas esquece mesmo essa parte, até o próprio governo eu acho que
eles só botam mesmo termo de segurança, segurança, segurança e o principal que é educação, o social...
você só sabe quando você sente, porque como a gente trabalha com essas mães a gente sente na pele porque
elas chegam para gente chorando.

“Como é o trabalho que vocês realizam lá?”


EA: Eu venho da luta da moradia, esses projetos de sorteio de casa, o prefeito assinou com a gente que eu
sou presidente da CA a central das associações, eu cuido de muitas associações daqui de Fortaleza e a gente
aprende muito esse lado do ser humano, que às vezes a pessoa só agride com palavras mas não quer entender
o lado do outro e quando eu comecei a fazer esse curso eu vim entender esse lado mais social dessas pessoas,
porque eles estão preso lá dentro por exemplo quando eles pega uma pena pequena para sair por que que
ele não sai dali com um trabalho para dar uma chance pra ele, aquele presidiário? Porque eu acho assim,
que merece porque falam tanto do social, mas não existe, não existe e não sai do papel então é isso, uma
coisa que eu gostaria muito para pessoas repensassem estudassem mais principalmente os governantes se
isso existisse diminuía mais a violência.

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“A senhora sente vontade de trabalhar com alguma coisa de política? ”
EA: Eu sinto, para ajudar as pessoas, tô plantando, se Deus me colocar aonde eu quero chegar, essa parte
que eu quero trabalhar.

“E a senhora se interessa na parte da psicologia? “


EA: Eu me interesso.

“Tem curiosidade? ”
EA: Eu tenho
.
“Tem curiosidade de que? ”
EA: Assim de aprender mais né, de entender melhor porque como a gente trabalha muito com o social a
gente precisa dessa parte.

“E se a Sra. fosse definir o que é psicologia, o que a senhora diria que é? ”


EA: Entender né o emocional do outro, da pessoa como você acabou de falar só entende, só sente quando
você tem alguém, da família, por exemplo, eu tenho alguém da família que é minha tia que tem o meu
primo preso, eu vejo o que ela sofre, ela queria aquele mal para o filho? Não. Ele tinha estudo, mas foi uma
fraqueza por influência de amizade, errou né. A gente vê o sofrimento da pessoa, a gente sente.

“Qual a finalidade da psicologia, para que que serve? ”


EA: Eu acho que é para entender, saber se realmente aquela pessoa é, vamos dizer como um preso, para
você entender porque que ele fez aquele aquilo dali você tem que conversar e aí, naquela conversa você vai
entender se ele realmente se arrependeu mais ou menos ou ele foi aquela pessoa realmente fria por que só
em conversar dá para entender.

“Como a senhora vê um psicólogo quais as características que ele deve ter? ”


EA: Primeiro eu acho que ele tem que ser humano, principalmente amar né, é igual como o social, a gente
tem esse papel, eu pelo menos amo o que eu faço, eu trabalho muito voluntário, por que a pessoa tem de se
doar né e eu acho que a psicologia faz a mesma coisa, como vocês; eu tenho certeza que vocês não estão
ganhando nada pra tá estudando, pra tá fazendo esse trabalho, vocês fazem porque vocês gostam e foi um
ato que vocês escolheram entender a pessoa e é isso, como às vezes a pessoa diz assim para mim “Dona E.
a senhora tem muita paciência com as pessoas e a senhora não ganha nada com isso, o que a senhora ganha
com isso?” Sabe o que que eu digo? Eu digo isso ”A recompensa maior vem de Deus, eu gosto do que eu
faço, eu amo as pessoas e o que eu puder fazer para ajudar eu faço. ” É como eu digo a uma pessoa que
vem me pedir uma ajuda, eu digo: “Eu vou tentar lhe ajudar, eu vou correr atrás. ” Mas eu vou lutar por
aquilo ali.

“Onde é que a senhora acha que o psicólogo trabalha? Ou deveria ou poderia trabalhar? ”
EA: Aqui como eu acabei de falar, aqui era pra ter uma sala específica para aquelas famílias que precisam
se procurassem, porque tem muita família que necessita, não procura porque no posto de saúde é difícil de
ter, tem mais é particular e nem toda família tem condições de pagar então é que como é um local que
muitas pessoas carentes procuram defensor era para ter uma sala que uma ou duas salas até você mesmo
independente de tá estagiando ouvindo aquelas famílias.

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“E o que que a senhora acha que precisa fazer para ser um psicólogo? ”
EA: Estudar né entender a pessoa porque não é estudando que você vai sabendo as partes né, o que que é
para ser feito o que que é para ser perguntado o que que você tem que ver naquela pessoa.

“E o que que a senhora acha que motiva a busca de um psicólogo? A pessoa procurar um psicólogo”
EA: É como eu lhe disse a pessoa fica muito assim depressiva né, fica nervosa, como eu vejo muita mãe
quando sabe que filho foi preso fica desesperada dá logo aquele desânimo, tem mãe que cai doente tem
problema de coração porque elas não têm uma pessoa ali para tá dando um apoio para poder levantar a
autoestima dela porque nessas horas assim só aparece pessoas para criticar derrubar e naquela hora mesmo
do apoio é difícil

“E a senhora já tem alguma experiência se já foi em algum psicólogo ou conhece alguém que já foi? ”
EA: Não eu nunca fui não, mas eu conheço algumas pessoas que já foram.

“E essas pessoas que foram a senhora sentiu alguma diferença nelas? ”


EA: Senti, teve pessoas que melhorou muito, eu conheci uma mulher que até eu que consegui uma consulta
para ela no sus mesmo, a outra eu consegui pela Unichristus eu gosto muito do trabalho da Unichristus eu
indico muito a comunidade, aí ela foi ela tava com depressão e hoje graças a Deus ela tá bem melhor, ela
vivia trancada dentro de casa sabe e eu também sou evangélica, e eu ia muito pregar a palavra para ela né,
de Deus porque a gente também, a gente só vem dar a palavra de Deus e é também como se fosse a
psicologia né, que deus é o melhor remédio, então eu sempre ía lá e ela sempre estava de porta fechada e
fiquei conversando com ela foi até depois que mataram o filho dela sabe ela se trancou ali, quando eu
chegava lá tava trancado e eu começava a conversar com ela e ela já estava entrando em depressão, então
eu consegui uma consulta para ela, consegui que a doutora fosse até lá e foi bom e hoje graças a Deus ela
tá bem melhor porque é isso, a psicologia é muito boa para isso também porque tem pessoa que se tranca
mesmo ali e da lista ninguém se importar com ela, ela vai até o suicídio.

“E a senhora conhece alguém que trabalha nessa área? ”


EA: Não, só conheço a doutora lá do posto de saúde, e assim, muito conhecimento não.

“A senhora tem curiosidade? ”


EA: Eu tenho.

EM, 35, Ensino Superior, Psicóloga 1.


“Nós queríamos saber qual a sua formação profissional, o que te motivou a procurar a psicologia e se
especializar na área jurídica, e saber qual a abordagem que você escolheu. ”
E.M: Eu sempre gostei da psicologia, sempre me identifiquei, então pra mim não tinha outra opção de curso.
E aí quando a gente entra, a gente vai conhecendo as opções, e eu particularmente sempre tive mais
afinidade com a Psicologia Organizacional, tanto que eu atuei na área, mas eu também tinha uma
paixãozinha pela Psicologia Jurídica, tanto que lá eu fiz a disciplina de Psicologia Jurídica e fui caçando
como trabalhar nesse campo, e aí quando eu me formei eu fiz... eu estava atuando ainda em Organizacional,
fiz especialização em Organizacional e já estava começando a estudar pra concurso, que realmente meu
objetivo era conseguir entrar na psicologia jurídica, e aí eu consegui passar no concurso aqui do tribunal...
infelizmente, foi o único concurso que teve para o psicólogo no tribunal de justiça do estado do Ceará, que
foi o concurso de 2008, e eu fui chamada em 2011, comecei a trabalhar aqui em 2011, e nesse meio-termo
eu fiz um mestrado... eu sou da Unifor, minha graduação é da Unifor, e aí eu fiz o mestrado em Psicologia
Social e do Trabalho lá na Ufc, e aí depois vim pra cá e aí assim... eu particularmente já tô desde 2011 aqui
e eu só trabalhei no núcleo de psicologia, que aqui no Fórum existem outros campos de atuação pro
psicólogo jurídico, não sei se vocês tiveram conhecimento ainda, mas aqui tem um trabalho de adoção, que

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são os psicólogos que atuam na vara da infância, adoção, ato infracional, medidas socioeducativas, também
tem outros campos de atuação, mas eu, especificamente, trabalho aqui, e a gente trabalha aqui com as varas
de família. Nós fazemos perícia psicológica para as varas de família, isso significa que a gente lida com
questões relacionadas especificamente com temas de família: guarda, divórcio litigioso pra definir guarda
compartilhada, visita, convivência, suspeita de alienação parental, suspeita de abuso sexual, caso de
negatória de paternidade, que hoje é um tema muito em voga dentro dos tribunais, ou seja, a criança até os
5 anos, ele tava com o pai, daí de repente descobriu-se que aquele não era o pai, e aí a justiça quer analisar
se existe um vínculo afetivo entre aquela criança e o pai que o registrou, são vários temas novos, mas todos
relacionados à família.

“Quando você estava na faculdade, qual era a abordagem que você mais se identificava?”
E.M: Bom... eu conheci várias, me abri pra todas pra ver com qual eu mais me identificava, e realmente
acabei ficando pelo Humanismo, gostei um pouco de Psicanálise e tudo, mas não me identifiquei. Porém,
aqui, a gente não utiliza, porque o nosso trabalho é de avaliação psicológica, a gente tá muito mais pra um
psicodiagnóstico do que propriamente pra um trabalho clínico, então assim, tenho uns colegas que o olhar,
muitas vezes, ele perpassa por uma abordagem, mas não é 100%, não na nossa atuação.

“Você fez algum estágio ou especialização na área? Ou intercâmbio?”


E.M: Não... e todos os meus estágios foram na área Organizacional, desde o segundo semestre.

“O que te motivou a sair da área Organizacional e vir para a Jurídica?”


E.M: É porque eu achava muito desafiadora, como ainda acho, o pouco do que eu vi e li a respeito, desde
que eu fiz a disciplina, que foi me encantando e eu fui estudando, eu sabia que era uma área muito
importante e que dava uma contribuição social muito grande, e realmente hoje eu percebo que sim, eu
percebo que é uma atuação muito importante, muito reconhecida pelos profissionais, pelo operador do
direito, então isso foi o que realmente me motivou. E a Organizacional eu gosto, também, mas às vezes a
gente fica num papel muito parecido com o do administrador, e aqui é basicamente psicologia mesmo. Foi
o tipo do trabalho que realmente me motivou.

E: Sobre as abordagens teóricas, como é a relação delas com a prática nessa área, de uma maneira mais
direta?
E.M: Como eu te falei, aqui a gente não atua muito com base nas abordagens teóricas, porque a gente
costuma dizer que precisamos ter o cuidado de não entrar numa área clínica, tanto que muitas vezes a gente
ouve as partes aqui, onde vocês estão sentadas, e naturalmente as pessoas estão falando das vidas delas,
então muitas vezes é natural que a pessoa sinta que está numa psicoterapia, e dizem que é muito bom
conversar com um psicólogo, que não esperavam que seria tão bom falar sobre, e nós temos que ter esse
cuidado pra não entrar no viés clínico, que não é essa a nossa ideia. Quando a gente percebe, quase na
maioria dos casos, a gente faz um encaminhamento pra clínica, que a pessoa precisa de psicologia, nós
percebemos que tem demanda, e nós encaminhamos, mas realmente no nosso trabalho a gente tem que ter
o cuidado de não usar. O que a abordagem faz diferença pra gente é no olhar, que muitas vezes, numa
conversa com um colega, a gente percebe que um tem um olhar mais psicanalista, ou um viés mais pra
Gestalt, então assim, é mais o olhar de cada um, mas que não deixamos interferir. De fato, existe uma
separação aqui.
“Quais você acha que são as dificuldades de trabalhar nessa área, de se encontrar aqui?”
E.M: Eu confesso a vocês que as dificuldades que temos hoje não são as mesmas de quando eu entrei, as
dificuldades que eu tinha quando eu entrei eram mais relacionadas a me familiarizar com o meio jurídico,
com os termos jurídicos, termos muito mesmo “jurisdiquês”, como chamam. E a questão também da
hierarquia... juiz, promotor, então assim, me familiarizar com isso foi um desafio. Mas hoje a coisa mudou
completamente, isso já foi superado, a gente vai se familiarizando no dia a dia, vai estudando muito, o
tempo todo, e hoje o nosso maior desafio é a cobrança da sociedade por uma celeridade da justiça, e a gente
tem esse impacto da cobrança da celeridade, que precisamos entregar um trabalho muito rápido e não temos

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profissionais pra isso, além de ser necessário tempo para fazermos um trabalho de qualidade, que o nosso
trabalho é muito específico, então eu preciso de um tempo para reunir tudo, fazer meu relatório, encaminhar
e seguir, e são muitos processos. Infelizmente hoje existe uma judicialização da vida contemporânea, então
qualquer problema, uma briga, uma dúvida de como vai ser o sábado da criança, a pessoa já entra com
processo, então são muitos processos pra gente dar conta hoje, pra pouquíssimos profissionais. Muitos aqui
pediram pra sair por conta da delicadeza do nosso trabalho, quando eu falo delicadeza eu digo que alguns
profissionais já foram processados, inclusive, pelas partes, porque, quando fazemos um relatório, muitas
vezes agradamos um lado e o outro fica revoltado com o que foi colocado no laudo e entra no CRP, e temos
o desgaste de ter que explicar o nosso trabalho, até porque aqui somos imparciais, queremos o melhor pra
criança que tá envolvida naquele processo, então não é fácil... não é fácil lidar com abuso sexual, com
questões muito delicadas, e ainda lidar com essa pressão de fazer tudo isso “pra ontem”.

“E quais são as dificuldades para entrar nessa área?”


E.M: A dificuldade é o concurso, né... realmente abre portas. Eu sou a única aqui do grupo que sou
concursada, todos os meus colegas entraram através de cargos em comissão, pela via da indicação, mas
como eu falei pra vocês, o último e único concurso que teve pra psicóloga foi em 2008, mesmo havendo
muita carência, mesmo os juízes reconhecendo que precisa, mas os cortes no orçamento são grandes.

“Qual a imagem e as expectativas que as pessoas têm de um psicólogo jurídico?”


E.M: O pessoal acha que a gente lida com crime... mas a maior parte eu acho que traz muito a questão do
abuso sexual, perguntam muito como é o trabalho nesse sentido, mas existe um desconhecimento muito
grande, inclusive entre os psicólogos. Eu costumo dizer que tanto os profissionais que se formam, os
psicólogos que estão na clínica, quanto os estudantes, poucos sabem da psicologia jurídica, que é um grande
absurdo, porque quando vão trabalhar na clínica, muitos dizem que não querem saber da área jurídica, daí
vão trabalhar com crianças, aí chega lá a mãe da criança e pede um relatório dizendo que a filha vai pra
visita com o pai e volta muito estranha, que ela não está mais querendo ir, daí muitas vezes o psicólogo, de
forma precipitada, dá esse relatório, que vai pra dentro do processo e isso dá uma confusão enorme, e ele
acaba muitas vezes sendo processado no CRP pelo que foi colocado no relatório.

“Qual a sua relação com outros profissionais?”


E.M: Aqui o nosso núcleo é de Psicologia e Serviços Sociais, então do outro lado da parede são assistentes
sociais, e aí a gente sempre troca. Nós geralmente fazemos nosso trabalho de maneira independente, mas
trocamos muito entre colegas. Hoje pela manhã eu fiz um atendimento junto com uma assistente social, nós
fizemos uma entrevista, uma conversa, com uma das partes que ela também estava atendendo e fizemos
juntas, mas o comum é a gente fazer cada um e depois nós conversamos sobre o que cada uma achou. Nós
da área jurídica fazemos muitas visitas, tendemos a nos aprofundar bastante, então vamos num psicólogo
clínico, no hospital, na escola, em vários lugares, então estamos sempre nos relacionando com diversos
profissionais.

“Qual é a finalidade do trabalho de vocês?”


E.M: Nós procuramos, sobretudo, ajudar as pessoas nas suas relações familiares envolvendo crianças. Então
o que acontece, a pessoa está lá com um problema, no caso ela se divorciou, e começa aquela disputa de
guarda, com quem vai ficar a criança, briga de pensão, enfim, esse processo chega na vara de família e lá o
juiz, na dúvida, geralmente envia os casos mais complicados pra gente, porque os mais fáceis eles resolvem
sem a ajuda do psicólogo, mas os mais difíceis, quando tem alguma suspeita de alienação parental, ou algo
nesse sentido, ele pede a ajuda à equipe técnica, que são os universitários, ao psicólogo e ao assistente
social, ou apenas ao psicólogo. Daí o processo vem pra cá e assim começa o nosso trabalho. O nosso
trabalho é ler o processo, estudar o processo, saber do que se trata, o que o juiz quer, e assim iniciamos o
nosso trabalho. Isso significa fazer visitas, entrevistas, ouvimos as partes e as crianças, vemos a dinâmica
familiar e qual seria a melhor opção pra vida dessa criança, se existe algum histórico ou possibilidade de
abuso. Daí criamos nossas hipóteses e assim criamos o relatório com nossas percepções, sem dizer o que

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deve ser feito, para que a decisão seja do juiz, mas colocamos o que foi observado e algumas sugestões.
Enviamos o relatório para a vara e é assim que funciona.

“Você está satisfeita com a sua profissão?”


E.M: Sim... eu confesso que a gente tem passado por períodos difíceis, sobretudo nessa questão dos poucos
profissionais, como eu falei, alguns profissionais pediram pra sair porque não aguentaram, já que a natureza
do trabalho é bem delicada, então realmente não é fácil, mas eu, particularmente, amo muito.

“Você pode nos contar sobre algum caso que te marcou muito e como você lidou com ele?”
E.M: Nossa, teve tantos, já teve tantos casos que me marcaram, mas assim, é... Me lembro de um caso, de
uma menina que ela já tinha seus 14 anos né, e aí era um processo aparentemente muito simples né, de uma
avó pedindo a guarda da neta e não tinha nem muita coisa dentro do processo. E eu digo "não, esse processo
aqui vai ser tranquilinho né, show de bola né", a gente pega tanto abacaxi que quando vem um assim mais
tranquilo dá aquela "hum pera aí, calma, esse daqui vai ser um tranquilo pra mesclar com aquele que é mais
complicado e tal" e daí no primeiro atendimento que fiz com a adolescente, a gente já teve uma vinculação
interessante, bacana e já nesse primeiro atendimento a menina começou a chorar, chorar, chorar e ai veio
me relatar em detalhes os abusos sofridos por um padrasto. Ela sofreu durante cinco anos, esses abusos e
até então ela nunca tinha conseguido verbalizar, que eu achei mais interessante, quando a avó veio, ela veio
pra mim com um discurso que "eu acho que aconteceu alguma coisa, eu acho que tem alguma coisa estranha,
mas eu não sei o que é porque ela não fala, ela só fala que não quer ir mais pra lá de jeito nenhum, então
por isso que eu quero a guarda minha neta, realmente eu noto que a mãe não vai sair do cara e tal" aí, então
eu não tinha muito elemento disso, e foi um atendimento muito difícil pra mim. Assim, pessoalmente me
tocou, sabe, o desespero daquela adolescente, de assim, "eu não posso voltar a conviver com essa pessoa"
e principalmente eu acho que o desabafo, porque realmente eu acho que eles tinham uma situação financeira
muito precária, eu acho que até então ela não tinha tido oportunidade nem espaço de ser ouvida, de falar
sobre isso, de sentir uma confiança, a gente fez um atendimento, e logo em seguida, ela me relatou toda a
história né, e quando ela me relatou eu fiquei bem preocupada, porque eu realmente não imaginava que a
situação era tão grave, eu imaginava que a avó queria e tudo, mas não imaginava que existia um risco tão
grande dela ficar na companhia dessa mãe. Daí eu fui conversar com o juiz, pra que ele aguardasse, porque
tudo muito rápido né, o processo, e ai eu corri com o processo de fazer o procedimento, ouvir essa mãe,
ouvir o padrasto, ouvir a outra filha, que ainda morava com a mãe, ouvir alguns familiares dela, a avó, uma
tia, fui na escola, é, enfim. Corri com o processo pra terminar o quanto antes e entrei em contato com o juiz
pra que ele entendesse o teor da coisa, porque quando você vê no processo já uma suspeita de abuso, você
já vai ali, mas esse pra mim foi muito novo, e ai assim, a gente precisou realmente, fazer o relatório, expor
essa situação, e logo foi deferido a guarda pra essa avó, inclusive o ministério público, que é o promotor,
pediu que a outra criança que estava no poder dessa mãe, passasse a conviver com essa avó, até que se
resolvesse essa situação, fosse investigado na vara específica do crime, um suposto abuso né. Então assim,
você vê que, poxa, leram teu relatório, viram que essa criança realmente sofreu abuso, que ela precisa de
um cuidado, de um acompanhamento psicológico e precisa sair do convívio desse suposto abusador.

“Como é que você lida com seu trabalho? Porque é algo que mexe muito com você, se você vai para um
psicólogo, alguma coisa assim.”
E.M: Sim, sim, eu fiz psicoterapia um tempo, até que minha psicoterapeuta viajou, e nessa ela ficou de me
encaminhar algumas pessoas e ai eu estou procurando ver uma outra, mas a gente tem que ir mesmo, porque
assim, é uma carga muito pesada mesmo que a gente leva, e, assim, eu já cheguei a ter supervisão no
começo, logo no começo quando eu cheguei, fiz supervisão com uma psicóloga também muito boa que já
tinha atuado aqui, mas hoje eu trabalho mais com a psicoterapia pra poder lidar direitinho, e não levar tanto
trabalho pra casa, mas a gente leva, é inevitável.

“E como faz, por exemplo, pegando por esse caso que você já falou da menina, quando ela te conta esse
tipo de coisa, como acontece de ela estar aqui e falar tudo isso pra você? Pra não se emocionar demais ou

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então por exemplo, você disse que falou com o padrasto, como faz pra.. porque por mesmo que seja uma
questão ainda, você sabe que a pessoa já fez aquele negócio de errado, você tem certeza, dá pra ver. E como
é que lida com isso pra não, sei lá, ficar com raiva na hora. Como é que você consegue ser imparcial com
ele?”
E.M: É tratar bem, é ouvir o que ele tem pra dizer, até porque todo mundo tem né, direito de defesa, contar
sua versão, mas realmente eu confesso que você, não tem como você ser cem por cento imparcial, você
tenta ali fazer uma entrevista normal, tanto que quando eu fui fazer a entrevista com ele, eu trazia só alguns
pontos né, que ele andava de cueca, aí eu trazia pra ele se colocar, e ele dizia que andar de cueca era normal,
em casa era assim mesmo, enfim, eu ia tentando fazer perguntas que iam me ajudar dentro do processo,
mas tentando o mais imparcial possível né, que realmente a gente precisa ser, de fato, agora em relação a
não se emocionar, também é outra coisa difícil, mas, assim, realmente o ideal é que você não chore junto,
e eu acho que talvez a experiência vai ajudando nisso, mas as vezes a gente tem as estratégias. Eu
particularmente, eu digo pras meninas, "gente quando a mulher começou a falar aquele negócio ali, que eu
vi que ia mexer comigo, eu começo a escrever né, pra aproveitar o que ela tá falando, porque se eu vou
olhar a mulher desabando em lágrima, eu choro junto com ela né". Mas as vezes acontece, tem muitos casos
que a gente pega que é chocante, emocionante, mas assim, a experiência eu acho que também me ajuda
nisso, a tentar de alguma forma pra poder fazer o trabalho, entendeu, não querendo banalizar o sentido da
pessoa, mas no sentido de você tentar ser o mais racional possível né, ser o mais racional possível pra poder
fazer o trabalho, desenvolver o trabalho.

“Quais suas orientações para os estudantes?“


E.M: Eu digo que é maravilhosa, eu digo que é uma área que inspira né, realmente é psicologia, tem muitas
vezes que a gente vai pra psicologia e você acaba fazendo alguma coisa que não é psicologia, e aqui você
acaba fazendo verdadeiramente psicologia, então vale muito a pena procurar mercado, procurar crescer
nessa área, e o que eu tenho a dizer para os alunos, estudantes, que procurem estudar psicologia jurídica,
procurem fazer a disciplina de psicologia jurídica, porque ainda que vocês não trabalhem com psicologia
jurídica que muitas vezes é realmente um funil né, poucos são os profissionais que de fato vão trabalhar
nesse mercado, mas os temas referentes a psicologia jurídica, eles passam várias áreas, então assim, pra
quem tem interesse de ir pra clínica, precisa ter noções básicas do que a gente vê aqui, de guarda, de
alienação parental, de suspeita de falsas acusações de abusos sexual, você precisa lidar com esses temas de
família, que a gente lida aqui dentro do judiciário, precisam estar atentos ao relatórios que emitem. E a
gente, pelo nosso fazer, sempre temos muito cuidado aqui, com o documento que a gente vai elaborar, então
o que eu peço, é que você não saiam da academia sem conhecer a psicologia jurídica, primeiro precisam se
apaixonar né, porque é realmente encantador, mas também porque vai ter um potencial na vida profissional
de vocês, quer queira ou quer não, hoje em dia falar de pessoas é o que a gente faz e falar de famílias
emitidas, disputa... é algo que perpassa, e não necessariamente a gente tá aqui pra falar só de briga, existe
hoje um pensamento que tá crescendo, muito lentamente, que é de botar mais pra uma conciliação, pra uma
resolução pacífica da coisa, e a gente quanto psicólogo, tanto na clínica, na escola, e aqui dentro você pode
ser um agente pacificador do conflito, mais uma pessoa a conhecer e ajudar nesse processo de que as pessoas
possam resolver, é, consensualmente os conflitos da vida diária.

DL. 52, Ensino Superior, Psicóloga 2.


DL: Eu me formei em 99, aí já fiz várias coisas desde então, fiz um mestrado em Saúde Pública, já fiz
especialização, vários cursos de especialização né, em Psicoterapia breve, Gestalt terapia, sistêmica - vários
cursos focados na área jurídica mesmo, bem mesmo específico para a minha área de atuação, que é a adoção
“E com todas essas formações eu te pergunto; o que te motivou a fazer o curso de psicologia, e se dedicar
então a área jurídica?”
DL: Eu, desde mais nova, desenvolvi interesse e uma certa curiosidade por essa área. Na realidade, minha
curiosidade inicialmente era pela área relacionada a “humanas” de uma maneira mais ampla. A forma como

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as pessoas se relaciona sempre chamou minha atenção, de tal modo que sentia interesse em compreender
melhor a forma como as pessoas se conectam e formam relacionamentos. Por isso já fui me encaminhando
para a Psicologia. Ai depois de formada, em 2008, eu participei de um concurso para prática jurídica, passei,
e foi só aí que eu mergulhei mesmo nos temas relacionados a essa área. Na época não tinha nem optativa
de psicologia jurídica na faculdade... quando eu conseguia encontrar algum curso sobre o assunto logo me
inscrevia, mas a verdade é que eram poucas as oportunidades de se aprofundar no assunto, então apesar de
sentir muito interesse eu simplesmente não conhecia meios de atuar na área jurídica.

“Em relação a sua graduação de forma mais direta, além dos cursos de formação, tem mais alguma coisa
que você gostaria de ressaltar? Durante esse processo você realizou algum tipo de intercâmbio ou algo do
gênero?”
DL: Então, assim, a psicologia jurídica lida geralmente com esse tipo de troca cultural, inclusive entre
diferentes estados dentro do Brasil mesmo. Isso é algo comum dentro da perspectiva dessa área. Até mesmo
por que existe uma necessidade de compreender como um mesmo processo se da em diferentes espaços.
“E quanto a sua área de atuação, você realizou mais trabalhos dentro da própria psicologia jurídica ou se
dedicou a alguma outra área anteriormente?”
DL: Eu passei dois anos trabalhando em um hospital público, como psicóloga hospitalar no caso. Trabalhei
também na área organizacional durante um certo tempo, em empresa mesmo, e durante quatro anos
trabalhei para plano de saúde como psicóloga. Já trabalhei com pericia aqui no Fórum, tratando da área
familiar, que já é uma área completamente diferente da de adoção – área que eu atuo hoje em dia-, apesar
das duas pertencerem ao mesmo meio por assim dizer.

“A senhora já realizou algum mestrado?”


DL: Sim, em saúde pública.
“A quanto tempo a senhora trabalha aqui no Fórum dentro da perspectiva da psicologia jurídica?”
DL: Eu trabalho aqui desde 2010, então já são nove anos.

“E atualmente a senhora trabalha apenas nessa área, ou continua atuando na área hospitalar ou
organizacional?”
DL: Hoje em dia eu trabalho apenas aqui no Fórum mesmo.

“Agora eu vou perguntar uma dúvida minha, que surgiu mais por curiosidade mesmo. Qual abordagem a
senhora costumava se identificar mais durante a faculdade?”
DL: Bom, durante minha graduação busquei me manter a mais aberta possível sobre todas as abordagens,
até por que psicologia não foi minha primeira graduação, então eu já entrei no curso com uma mentalidade
diferente, tinha total intenção de aprender o máximo possível sobre os mais diversos pontos de vista. Mas
assim, logo que eu me formei comecei minha especialização em psicoterapia breve e gestalt terapia. Sempre
gostei muito de fenomenologia também, que se relaciona com essa linha de pensamento. Já a Psicoterapia
breve eu busquei aplicar durante o período em que me dediquei a área hospitalar. Estudei um pouco também
de psicologia analítica, pois, mesmo definindo certas preferencias com o passar dos anos, busquei priorizar,
ainda assim, a abertura a diferentes opiniões e perspectivas acima de qualquer coisa. Estou sempre aberta a
mudar de opinião, aprender mais, me surpreender. E, como eu já disse, minha segunda formação foi em
sistêmica. Quando eu realizei minha especialização em neuropsicologia, na época em que eu trabalhava por
plano de saúde, busquei muito embasamento na teoria cognitiva comportamental. Então assim, de leitura
pra mim é algo bem amplo, apesar de que especialização - de forma mais aprofundada – eu realizei apenas
em gestalt terapia e sistêmica.

“E quanto aos desafios relacionados a psicologia jurídica, o que você acha que é importante ressaltar?”
DL: Eu acho que atualmente a questão da psicologia jurídica ainda é muito incipiente, então assim, existem
universidades que nem ao menos disponibilizam essa cadeira para ser realizada durante o curso, e quando
disponibilizam é, na maioria dos casos, como uma cadeira optativa. Por isso, muitos formandos não entram

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em contato previamente com essa área, que é bastante ampla. Então esse é um desafio muito grande, por
que é necessário que a gente se atualize, em termo de método de trabalho mesmo, modernize essa
metodologia de ensino. Esse é um processo de criação na realidade né, pois a identidade dessa área ainda
está sendo construída. Só a partir disso a gente vai conseguir suprir essa demanda, que diz respeito a
interface da lei com o sujeito, em toda sua subjetividade.

“E qual é a expectativa que você sente por parte de outras pessoas quando você diz para elas que trabalha
com psicologia jurídica?”
DL: Nossa, essa é uma pergunta inusitada pra mim por que nunca parei para perguntar isso para ninguém.
Mas o que eu mais sinto por parte das pessoas quando elas chegam até mim é uma curiosidade mesmo por
como funciona todo esse processo, pois existe um grande desconhecimento e desinformação por assim dizer
sobre essa área, exatamente por ela ser tão incipiente. Percebo uma certa confusão quanto a distância
existente entre o modo de conduta da psicologia clínica em detrimento da jurídica, muitas pessoas ficam
buscando encontrar semelhanças nas duas e enquadrar o meio jurídico em uma perspectiva completamente
diferente da sua. Para lidar com questões legais por exemplo, se perguntam como fica o sujeito dentro desse
meio. E falando ainda da diferenciação dessa área em detrimento da clínica, pode-se citar a ineficácia do
uso do trabalho de um psicólogo especializado nessa área dentro de um contexto de alienação parental,
visto que é necessário um conhecimento prévio sobre essa temática para que seja possível lidar com essa
problemática da forma mais coerente possível, da mesma forma que o campo de atuação de um psicólogo
jurídico não pode ser confundido com o de um psicólogo hospitalar, e assim por diante.

“Acontece muita confusão por parte de outras pessoas para compreender até que ponto você atua na parte
psicológica e até que ponto participa da área jurídica? Existe muita dificuldade para realizar a
diferenciação?”
DL: Sim, ao mesmo tempo que ocorre de pessoas acreditarem que eu estou mais “para o lado” do direito,
também tem gente que acredita que eu possuo apenas propriedade para falar de questões referentes a
psicologia, então esse ainda é um campo bem conflituoso para muitas pessoas, exatamente pela falta de
informação existente.

“Então por parte do senso comum essa diferenciação ainda é muito precária?”
DL: Assim, existem pessoas do senso comum que nos veem como advogados. Já outros nos assimilam
automaticamente como psicólogos clínicos. Mas essa relação depende muito também da área de atuação
dentro da própria psicologia jurídica, já que existe um amplo campo de trabalho, que vai desde a área
criminológica até a área cívica.

“Essa pergunta geralmente seria feita mais relacionada aos psicólogos clínicos, mas eu decidi colocar aqui
para você também. Como é a sua relação com outros profissionais, com psicólogos por exemplo.”
DL: O psicólogo jurídico é como um assessor do juiz. Quando o juiz apresenta dificuldade em compreender
alguma questão por que foge a sua esfera de conhecimento – em sua grande maioria, subjetiva – ele busca
o auxílio do psicólogo jurídico que, por possuir uma maior base teórica nesse âmbito, lhe guia nesse meio.
Então existe uma relação de fato bem restrita entre esses dois profissionais. O juiz pede um estudo
psicológico quando ele quer tomar uma decisão que diz respeito a dinâmica do sujeito e ele não está
compreendendo as questões psicológicas, que estão por vezes embaralhadas as questões legais. Existe uma
parceria, não no sentido de o psicólogo entregar ao juiz apenas aquilo que ele gostaria de receber, no sentido
do psicólogo não estar subordinado a essa figura, tendo total autonomia para utilizar dos métodos que ele
julgar mais coerentes dentro do processo realizado.

“Então pode-se dizer que essas são as maiores demandas que você recebe? Quais seriam elas de forma mais
específica?”
DL: No meu caso, como eu trabalho especificamente com a área da adoção, eu costumo ter como principal
demanda a avaliação de famílias pretendentes, que estariam dispostas a realizar a adoção de crianças ou

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adolescentes, além da avaliação desses indivíduos de forma particular para analise durante o processo de
adaptação, de recolhimento, entre outros casos.

“Durante esse tempo que você passou trabalhando nessa área, houve algum caso que lhe marcou de forma
mais específica?”
DL: Já faz um bom tempo que eu venho trabalhando com essa área né, então na realidade é até difícil para
mim conseguir destacar apenas um caso, por que a gente entra em contato aqui com muitas histórias
impactantes. Mas, para citar um caso em específico, eu posso explicitar uma situação relacionada a
alienação parental que eu já vi se repetir algumas vezes, mas que me choca bastante sempre que volta a se
repetir. Em casos de abuso sexual por parte de um dos genitores em relação a criança, este deve ser afastado
imediatamente. Assim, acontece em certos casos, de um dos genitores acusar o outro de forma falaciosa,
até mesmo manipulando o filho a acreditar que o fato ocorreu, apenas para que possa possuir a guarda do
filho unicamente para si. Sempre que isso ocorre me impressiono com o estado de desespero do ser humano,
que está disposto a afetar a saúde de psíquica do filho de forma irresponsável a este ponto, além de fazer
uma falsa acusação seríssima que poderia ocasionar em uma prisão injusta. Isso faz com que eu me
pergunte o que deve ser feito para que a saúde mental dessas pessoas seja conservada anteriormente, de tal
modo que elas não vejam a realizar tais atos.

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