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SCHWARTZ, Stuart B – Segredos Internos : engenhos e escravos na sociedade

colonial, 1550-1835 / Stuart B. Schwartz; tradução Laura Teixeira Motta. – São Paulo :
Companhia das Letras, 1988. 474 pág.

Stuart B. Schwartz, famoso historiador estadunidense, conhecido como um


brasilianista de renome, PhD pela Columbia University e professor titular na Yale
University, marcou mais uma vez sua assinatura no universo de estudos sobre a História
do Brasil Colônia com os “Segredos Internos: Engenhos e escravos na sociedade
colonial”, título dado à sua obra Sugar plantations in the formation of Brazilian Society,
Bahia, 1550-1835 , por Laura Teixeira Motta.

Segredos Internos foi um dos muitos trabalhos publicados pelo autor , contudo,
este desejou marcar literalmente a historiografia brasileira ao vislumbrar e detalhar o
contexto de uma nova e profunda visão sobre assuntos que vez por outra esbarram em
consensos, como o cotidiano na colônia, as relações de poder entre senhores, lavradores
e escravos, a metrópole e seu domínio em terras americanas, a formação da sociedade
baiana e por conseguinte a brasileira, o uso e substituição da mão-de-obra escrava
indígena pela africana, a importância dos engenhos e do açúcar como instrumentos de
desenvolvimento para Salvador e na extensa e fértil região do Recôncavo baiano, as
aspirações de uma classe senhorial mal vista pela Coroa portuguesa e subjugada a
preconceitos pelos residentes em Portugal, e os conflitos e frustrações dos cativos , entre
muitas outras coisas.

Schwartz se mostra recatado, e reconhece a dificuldade de compreender


determinados conceitos e modos de se perceber vigentes no contexto brasileiro, pois não
sendo um nativo, demorara a observar sentidos e significados, e nem sempre os
consegue deduzir, talvez isso faça com que sua obra tenha tanto valor e abrangência e
seja reconhecida como quase um clássico por muitos autores, servindo para críticas de
uns e aclamada por outros, em função deste ser um olhar de um estrangeiro a falar sobre
nossa história – e com propriedade – o que pode nos causar certa repulsa e de outra
forma para alguns até estranheza. Contudo, ele não seria o primeiro escritor não nascido
no Brasil a falar sobre nosso passado, aliais, muito pelo contrário, é de conhecimento
geral que após a independência do nosso país foi promovido um concurso para saber
como contar a história do país que “acabara de nascer”, e o vencedor fora um
estrangeiro e posteriormente quem a escreveu também o foi. Entretanto, a busca de
isenção é uma marca no caso deste escritor contemporâneo nascido nos Estados Unidos.

Segredos Internos nos leva a uma viagem no tempo e no espaço, com uma
linguagem simples e momentos de suavidade, porém forte e profunda, vez por outra
beirando às de um romance, nos remete de forma quase que didática ao período anterior
à formação do Brasil colônia, num verdadeiro mergulho no doce sabor do açúcar e sua
importância no mediterrâneo, onde teve início o aprimoramento das técnicas dos
engenhos e posteriormente a sua utilização nas ilhas atlânticas da costa africana, aonde
chegaram pela expansão marítima ibérica, que levou a cultura da cana para outros
lugares no século xv. Foi inclusive lá que os portugueses iniciaram a expansão do seu
império, e o uso mais intensivo de mão-de-obra escrava africana, fazendo com que
desde muito tempo houvesse a associação entre a indústria açucareira e a escravidão,
sobretudo a proveniente da África. Também teve início nestas ilhas o sistema de
capitanias e posteriormente até a tentativa de “embranquecer” a população, algo que iria
ser também experimentado – sem sucesso – em terras brasileiras. Para muitos autores
tudo o que acontecera antes do Brasil, servira como um aperitivo, um experimento que
seria levado mais a sério no novo mundo descoberto, mesmo que isso não fosse
premeditado.

O uso do cultivo da cana como método para iniciar o povoamento de suas novas
colônias é comentado por Schwartz como uma das formas encontradas pela Coroa
portuguesa de expandir o seu império, haja vista as dificuldades encontradas pelos lusos
no oriente. E este autor nos faz lembrar que no Brasil, Pernambuco já despontava como
um grande pólo açucareiro, todavia , a cidade da Bahia (Salvador) fora fundada em
1549, como capital da colônia , e a qual usará a força do açúcar como grande mola
propulsora para o seu desenvolvimento e concomitantemente o restante da região do
Recôncavo. Pois os engenhos eram como fábricas/indústrias com suas peculiaridades,
incertezas, dificuldades de ganhos e possibilidades de ascensão, todavia de uma
complexidade muita além da simples moenda de cana e do fabrico do açúcar, pois toda
a estrutura de uma sociedade dinâmica, porém agrária, estava presente. Senhores de
engenhos, lavradores, escravos, comerciantes, divisões “especializadas” do trabalho,
instituições religiosas, instituições de crédito, atividades relacionadas com o porto e as
embarcações, além das câmaras municipais, o governo da província, as relações com a
metrópole e o restante da Europa, as Leis, os Impostos e por aí segue...

Para Schwartz – que usa como fontes vários registros dos engenhos, anotações
de outros pesquisadores como Antonil, a historiadora Rae Flory e o pintor Franz Post, e
que admiravelmente faz uso de pensamentos de tão diversos ícones como: Adam Smith,
Karl Marx e Engels, não esquecendo de outras dezenas e dezenas de autores e
pesquisadores lidos, de causar inveja e de impressionar a qualquer um – a estrutura da
sociedade brasileira, e em especial a baiana, tendo como alicerce a mão de obra escrava,
fez com que esta se desenvolve-se de forma peculiar. E para explicar ele perpassa o
encontro de mundos tão diversos como o indígena e o europeu, e depois a “preferência”
pela escravidão africana e seu uso intensivo nos engenhos de açúcar, além de nos
lembrar a luta desta com sublevações e resistências na tentativa de busca pela liberdade,
com uma paixão e conhecimento, que vez por outra se torna uma descrição de detalhes
que em certos instantes pode ser enxergada como uma historiografia narrativa
descritiva, um pouco longe de conteúdos ou comentários críticos, mas que nos fazem
estar “presentes” em cada momento do acontecido. Sejam eles as reuniões dos
poderosos produtores e senhores de engenho, com seus Status e patentes, os
questionamentos e tentativas de interferência das Ordens Religiosas, o apadrinhamento
nas câmaras municipais, a constituição das milícias ou as desordens causadas pelas
insurreições dos cativos, causando pânico em certas vilas.
Em Segredos Internos, Stuart Schwartz labuta sobre leis e impostos da época,
registros civis, escrituras oficiais, anotações de engenhos, livros contábeis, registros de
imóveis, tipos e valores correspondentes a moedas, medidas e pesos, dentre uma
vastidão de fontes, as quais são estudadas com afinco para que ao transpassa-las não
levem a raciocínios tendenciosos e que ocasionalmente já trazem consigo embutidas (ou
explicitados) certos pensamentos ou acontecimentos. Para isso procura mergulhar em
um contexto adverso, na tentativa de dominar um pensamento existente em outra época,
construído diante das circunstâncias que hoje não existem mais, numa tentativa de
reviver algo não vivido e extremamente complexo. E insisti em renegar o declínio que
temos em construir o passado por meio de nossos pensamentos atuais, os quais
tendenciam todo e qualquer escrito, pois somos sujeitos e parte do nosso tempo e lugar,
acostumados com nossas visões e pensamentos (outrora construídos) baseados no nosso
modo de ver, deduzir e mensurar, e acordo com nossos pontos de vista, subjugados por
nossa ótica e experiência.

Nesta obra, pode ser notada também uma presença constante de citações ou
estudos feitos por outros autores, o caso de Antonil é um deles, pois este visitou a
época, alguns engenhos no período de seus funcionamentos e foi usado como fonte
constante de pesquisa. Em dado momento exorta o poder do açúcar na sociedade
colonial, o qual não deixou de ser o principal produto de exportação brasileiro, mesmo
no auge da produção aurífera. Em certa altura faz comparações com historiadores
clássicos como Celso Furtado ou Simonsen, contestando números levantados por estes
no tocante aos lucros, despesas e a importância do açúcar para com o desenvolvimento
da sociedade brasileira e em especial a baiana. Assim como confronta seu ponto de vista
com idéias e pensamentos de outros escritores brasileiros, os quais não traduziriam –
insentamente – a realidade correspondente a determinadas épocas.

Enfim, Stuart Schwartz teve como foco central de suas pesquisas neste livro, os
engenhos na região de Salvador e Recôncavo, procurando esquadrinhar, investigar todas
as suas particularidades, traçando com isso um espelho da sociedade baiana que girava
em torno do fabrico do açúcar, e nisso expande esses conceitos para todo o restante da
sociedade brasileira colonial.

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