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Entenda logo, que acessibilidade é um direito e não um favor!

Zeneide Cordeiro1
Professora como a senhora avalia seus alunos? Professora como é a sua prova?
Como a senhora coloca a nota de seus alunos? E etc. Etc. Etc. Etc. e... Essas são algumas
das centenas de perguntas que fui obrigada a responder para todas as funcionárias da
coordenação e gestão da escola que trabalho. Fazendo um grande esforço emocional e
psicológico para ser gentil e não perder as estribeiras enquanto, ouvia pessoas vomitarem
desconfiança e preconceito.
Ontem, quando estava ministrando a minha quinta aula do dia, alguém, bateu na
porta da sala de aula, para me avisar que eu deveria comparecer na direção. Confesso,
que fiquei curiosa, pensei que finalmente, as pessoas da gestão da escola teriam percebido
que o ambiente escolar precisava se tornado minimamente acessível para eu realizar meu
trabalho com autonomia e segurança.
Ao chegar na sala da direção, a realidade manifestou-se nua e crua, mais uma vez,
logo no instante, em que pensei que não faltava mais ouvir nenhum absurdo, recebi a
seguinte proposta: professora, encontrei uma solução para a senhora corrigir sua prova,
será assim: a senhora vai para sala aplicar sua prova e quando os alunos terminarem a
senhora dá o gabarito para que elas, depois a senhora pede para a líder de sala contar os
pontos de cada pessoa da turma, aí, depois ela lhe passa a nota.
Ouvi e ouvi frases do tipo, estou fazendo isso somente para ajudar a senhora,
porque, sei que a senhora precisa de ajuda... cerca de trinta minutos. Enquanto, sentia um
reboliço no meu corpo todo, me indignei e pensei que aquilo teria que acabar, busquei
forças para responder, tantas barbaridades, ao lembrar que quando chegasse em casa
poderia chorar no ombro do meu companheiro e que a noite seria recebida com aplausos
pelos deuses do teatro durante meu ensaio e que dormiria linda e leve, cheia de bênçãos
dos céus.
Calmamente, respondi, desculpa, mas, não posso fazer uma coisa dessa. Esse não
é um trabalho para alunos, quem faz isso, é o docente, mas, no meu caso, como sou cega,

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Zeneide Pereira Cordeiro - Mestra em Políticas Públicas pelo Programa de Pós-Graduação em Políticas
Públicas da Universidade Federal do Maranhão. Especialista em Gestão e Docência no Ensino Superior.
Graduada em Artes Visuais na Universidade Federal do Maranhão. Graduanda em Ciências Econômicas
na Universidade Federal do Maranhão. Professora da rede pública do Estado do Maranhão, Arte-educadora,
Atriz, Escritora, Ativista dos Direitos Humanos, Integrante do grupo de pesquisa Estado Multicultural e
Políticas Públicas da UFMA, Idealizadora e Fundadora do projeto Resista como uma mulher cega!
não tenho como corrigir uma prova impressa em papel, então, quem deve fazer é uma
funcionária (o) da escola.
Meio desajeitada, senti que a senhora olhava na minha direção, sua voz mudou e
com um tom meigo e sem noção, me disse: professora encontrei essa solução para ajudar
a senhora, já tenho muito trabalho e, não posso assumir o compromisso de corrigir sua
prova. Estou fazendo isso, porque é para a senhora, somente para a senhora, para lhe
ajudar... porque gosto da senhora e, sei que tens muita dificuldade...
Respirei profundo, calma e segura do que iria falar, respondi, não, a senhora
precisa entender, que o fato de uma pessoa corrigir minhas provas, porque, eu não enxergo
e, portanto, não tenho condições, para fazer, não é um favor e nem uma caridade, isso é
um direito, um direito inalienável para mim e para toda pessoa com deficiência.
Acessibilidade é um dos principais direitos universais, a partir dele é garantido todos os
outros direitos, inclusive, o direito à vida. Por isso, não abro mão de pelo menos um
mínimo de acessibilidade no meu ambiente trabalho.
Por acaso, se a senhora não puder corrigir minhas provas, alguém vai ter que
corrigir e, quem precisa resolver isso são vocês, as responsáveis pela gestão da escola,
por se tratar de um direito básico, não existe nenhum acordo da minha parte para que ele
não se efetive.
Bom, esta conversa não parou por aí, a senhora insistiu em me convencer que sua
proposta era uma atitude solidária e que ela não podia assumir uma tarefa a mais. E como
se não bastasse, ainda, precisei repetir meu discurso muitas outras vezes, porque, se há
uma coisa que funciona na escola que trabalho é a falta de comunicação entre as pessoas.
Infelizmente, essas trabalhadoras da área da educação, ainda, não compreenderam que,
acessibilidade não é um favor e nem uma caridade é um direito.

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