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ISSN: 2525-9571
Eixo TEMÁTICO: Educação e
Vol. 4 | Nº. 1 | Ano 2019 diversidade

Italan Carneiro PREFERÊNCIAS MUSICAIS DOS


Instituto Federal da Paraíba
IFPB ESTUDANTES DO CURSO TÉCNICO
italancarneiro@gmail.com
EM INSTRUMENTO MUSICAL DO
IFPB/JP
PREFERENCIAS MUSICALES DE
LOS ESTUDIANTES DEL CURSO
TÉCNICO EN MÚSICA DEL IFPB/JP

525
Anais da IV Jornada Ibero-Americana de Pesquisas em Políticas Educacionais e Experiências Interdisciplinares na Educação. Anais...Salvador (BA), 2019.
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RESUMO
Este trabalho apresenta e discute as preferências musicais do corpo discente do Curso Técnico
Integrado em Instrumento Musical do Instituto Federal da Paraíba, Campus João Pessoa. A
pesquisa, do tipo censo, abordou a totalidade do corpo discente através da aplicação de
questionários. A partir da questão aberta que interrogou quais os três gêneros musicais favoritos
dos estudantes, foram identificados 65 gêneros, caracterizando assim um cenário de relevante
diversidade cultural. Os dados levantados configuram um rico material que podem subsidiar
importantes intervenções pedagógicas buscando aproximar o currículo escolar do universo
sociocultural dos estudantes.
Palavras-chave: Diversidade Cultural. Educação Musical. Perfil Discente. Gêneros
Musicais.

____________________________________________________________________________________
RESUMEN
Este trabajo presenta y discute las preferencias musicales del alumnado del Curso Técnico
Integrado en Instrumento Musical del Instituto Federal de Paraíba, Campus João Pessoa. La
investigación, del tipo censo, abordó la totalidad del alumnado a través de la aplicación de
cuestionarios. A partir de la cuestión abierta que interrogó cuáles los tres géneros musicales
favoritos de los estudiantes, se identificaron 65 géneros, caracterizando así un escenario de
relevante diversidad cultural. Los datos levantados configuran un rico material que pueden
subsidiar importantes intervenciones pedagógicas buscando aproximar el currículo escolar del
universo sociocultural de los estudiantes.
Palabras Clave: Diversidad cultural. Educación Musical. Perfil Discente. Géneros
musicales.

526
1. INTRODUÇÃO

Anais da IV Jornada Ibero-Americana de Pesquisas em Políticas Educacionais e Experiências Interdisciplinares na Educação. Anais...Salvador (BA), 2019.
Este trabalho apresenta um pequeno recorte da pesquisa de doutorado intitulada “Curso
Técnico Integrado ao Ensino Médio em Instrumento Musical do IFPB: reflexões a partir dos
perfis discente e institucional”1 que definiu como um dos seus objetivos específicos o
delineamento do perfil dos jovens que compõem o atual corpo discente a partir de suas inter-
relações com a música e com a formação técnica-integrada.
O interesse pelo tema justifica-se tendo em vista que o ensino de música realizado no
contexto da Educação Profissional Técnica de Nível Médio, desenvolvida na forma Integrada
ao Ensino Médio, ainda configura um desafio aos gestores e aos educadores musicais do Brasil,
pois se caracteriza como uma espécie de “modelo misto” em que o ensino de conteúdos
musicais voltados para a formação do instrumentista e próprios das escolas especializadas é
realizado na escola regular de Educação Básica. Nesse contexto, o ensino de instrumento
musical adquire uma extensa gama de “funções sociais” ainda mais complexas do que as
comumente encontradas nas escolas especializadas (como os Conservatórios), pois pretende
ser desenvolvido de forma efetivamente integrada à “formação geral” característica do Ensino
Médio propedêutico. Desse modo, com vistas a compreender e refletir acerca das questões que
se apresentam neste recente e peculiar modelo de ensino de música, este texto aborda o perfil
dos estudantes do Curso Integrado em Instrumento Musical do IFPB, Campus João Pessoa, a
partir das suas preferências musicais.

2. IMPORTÂNCIA DA APROXIMAÇÃO INSTITUCIONAL COM O


REPERTÓRIO DISCENTE
Compreendemos que as referências culturais dos alunos precisam ser contempladas sob
as perspectivas histórica, social e cultural, no processo de ensino e aprendizagem musical,
dialogando com os conhecimentos elencados pelos docentes para compor o currículo escolar.
Corroborando com este entendimento, destacamos a reflexão de Requião (2002):

No caso do ensino musical, a escolha do repertório influencia diretamente a


aprendizagem. Na aprendizagem de um instrumento, por exemplo,
dependendo do repertório adotado pelo professor, podemos ter situações de
aprendizagem diversas e até mesmo antagônicas. O que é considerado “certo”

1
Pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Música, subárea Educação Musical, da Universidade
Federal da Paraíba – UFPB, sob a orientação do prof. Dr. Luis Ricardo Silva Queiroz. Disponível em:
<https://www.academia.edu/35060454/Curso_T%C3%A9cnico_Integrado_ao_Ensino_M%C3%A9dio_e
m_Instrumento_Musical_do_IFPB_reflex%C3%B5es_a_partir_dos_perfis_discente_e_institucional>. Acesso em
14/05/2019. 527
em determinado contexto musical pode ser considerado “errado” ou
inadequado em outro: seja a postura de um violonista ao tocar seu
instrumento, a embocadura de um flautista, a emissão sonora de um cantor, a
articulação de um fraseado. (REQUIÃO, 2002, p. 61)

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Nesse sentido, Santos (2010, p. 405) sinaliza que “para o educador musical, conhecer o
repertório do seu aluno é fundamental para que aconteça o diálogo durante as aulas de música,
diálogos que podem ser o início de aulas mais participativas, envolventes e significativas, para
ambos os lados”. Partindo das concepções acima apontadas, investigamos as preferências
musicais do corpo discente do Curso Integrado em Instrumento Musical do IFPB/JP, buscando
coletar dados que promovessem a compreensão do seu perfil sociocultural e pudessem ainda
servir de subsídio para futuras intervenções pedagógicas.

3. DIVERSIDADE CULTURAL DO CURSO TÉCNICO DO IFPB/JP


Para compreender o perfil dos estudantes, optamos pela realização de um survey
(levantamento) cujo universo foi constituído pela totalidade do corpo discente do curso2,
constituindo assim um estudo do tipo censo. Conforme Carvalho (2008, p. 5), o censo pode ser
compreendido como o estudo estatístico que resulta da observação de todos os indivíduos de
uma determinada população relativamente a diferentes atributos pré-definidos. A pesquisa de
campo foi desenvolvida a partir da aplicação de questionário constituído por oito eixos
temáticos3. Com base no segundo eixo temático, foi solicitado aos estudantes, através de
questão aberta, que estes indicassem seus três gêneros musicais favoritos. A partir das respostas
obtidas, encontramos uma pluralidade significativa de gêneros musicais, relacionados em 65
categorias, destacadas no gráfico a seguir:

2
No momento de realização da pesquisa, o corpo discente era composto por 110 estudantes. Desse total, 10
estudantes foram abordados na aplicação-piloto e 100 foram abordados com o questionário definitivo, cujos dados
são apresentados neste texto.
3
Os eixos definidos para compor o questionário foram os seguintes: 1. Influências musicais anteriores ao ingresso
no curso – pessoas e situações; 2. Apreciação musical – escuta cotidiana, gêneros favoritos; 3. Atividades musicais
anteriores ao ingresso no curso – práticas e estudo musical; 4. Relações com o instrumento e teoria musical –
escolha do instrumento, local de estudo, aproximação teoria-prática; 5. Relações com o curso e a instituição –
ingresso, permanência, expectativas, atividades externas; 6. Perspectivas de futuro – atividades musicais, atuação
profissional, formação superior; 7. Perfil socioeconômico – idade, gênero, renda, escolaridade dos pais, etc.; 8.
Sugestões discentes – críticas e comentários ao curso. 528
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Valores em %
GRÁFICO 1 – Gêneros musicais favoritos do corpo discente
A significativa diversidade de gêneros musicais indicados como favoritos pelos
estudantes do curso reforça o entendimento que “o Brasil é reconhecido no cenário mundial,
529
entre outros fatores, pela sua diversidade musical” (DANTAS, 2011, p. 12), contrariando o
argumento acerca da apreciação musical de crianças e adolescentes, encontrado nas Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, que indica que “a linguagem mais

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universal que a maioria deles compartilha é a da música, ainda que, geralmente, a partir de
poucos gêneros musicais” (BRASIL, 2013, p. 111).
Como indicou o Gráfico 1, o gênero “rock” foi apontado como favorito pela maioria dos
estudantes pesquisados, tendo sido mencionado por 49% destes, confirmando uma tendência
apontada em diversos estudos também realizados com adolescentes e jovens que destacaram o
rock como gênero musical favorito. Podemos relacionar essa significativa aproximação dos
jovens ao gênero musical rock a partir de algumas questões, dentre as quais destacamos a
influência cultural norte americana, vinculada sobretudo pela grande mídia. Refletindo nessa
perspectiva, Boron (2007) avalia que:
[...] se nos remetemos ao exame do mundo do pós-guerra, comprovamos que
a reafirmação da supremacia norte-americana significou, simultaneamente, a
universalização do American way of life como modelo ideal de sociedade,
consagrado tanto pelo cinema, pela televisão, os mass-media e pelas ciências
sociais norte-americanas, e como a ideologia global compartilhada, em maior
ou menor medida, pelos atores privados e públicos que formavam parte de seu
império. Isto incluía desde a crença na bondade congênita dos mercados e a
iniciativa privada até a difusão universal dos blue jeans e um tipo de música
cultivado pelos jovens brancos, não os negros, o rock, passando pelo fast-food
e pela crença no destino manifesto que consagrava os Estados Unidos como a
terra da liberdade e como a sociedade profética e messiânica a quem Deus
havia encomendado a tarefa de semear a liberdade e a democracia por todo o
mundo. (BORON, 2007, p. 521)
Os estudantes apontaram ainda outras nove categorias que podem ser classificadas como
subgêneros do rock, sendo estas: rock alternativo, hard rock, indie rock, punk rock, rock 60’s
70’s, rock clássico, rock progressivo. É interessante destacar que estes subgêneros possuem
uma circulação relativamente restrita pelo foco da cultura midiática, o que aponta um interesse
mais específico dos jovens pelos referidos subgêneros. Somando o gênero principal e seus
subgêneros, podemos afirmar que 66% dos estudantes indicam o rock, em suas diversas
vertentes, como um de seus estilos musicais favoritos.
O gênero metal, derivado do rock e intitulado muitas vezes pelo senso comum de “rock
pesado”, também obteve destaque nos seus subgêneros que não circulam pelo foco da cultura
midiática, sendo estes: heavy metal, metal core, metal sinfônico e thrash metal. Sobre a
complexa (sub)divisão do gênero metal, Azevedo (2007, p. 1) aponta que:
Um dos tópicos mais freqüentes em conversas entre fãs de metal gira em torno
das fronteiras deste gênero musical. O debate sobre o que é e o que não é
metal, quais bandas fazem e quais não fazem metal – e, mais recentemente,
530
em que subgênero de metal encaixar-se-iam determinadas bandas – extrapola
a esfera da comunicação pessoal, ocupando espaço em publicações
especializadas, e-zines e fóruns de discussão na Internet, em escala
internacional. (AZEVEDO, 2007, p. 1)

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Debates como o acima destacado remetem-se à presença do movimento constante que
permeia todas as manifestações musicais e que promove a transformação, o surgimento e a
(re)significação de tendências musicais. Nesse sentido, Iazzetta (2001, p. 1) afirma que “a
música se apresenta como estrutura dinâmica e viva que se reconfigura dentro de suas práticas,
dentro da criação e da escuta e como tal deve ser percebida como algo vivo, em constante
mutação e que se atualiza a cada momento de sua realização”.
Discussões semelhantes acerca das fronteiras dos gêneros musicais também são
encontradas em gêneros como o “forró”, que figurou como o representante da cultura
nordestina que obteve maior destaque entre os estudantes. Mencionado por 13% dos jovens,
foi o sexto gênero mais citado. Foram destacados ainda os seguintes subgêneros do forró: forró
pé-de-serra, xote, baião, forró universitário e vanerão. Encontramos nas palavras de um
estudante de contrabaixo do 4o ano a discussão anteriormente destacada em torno das fronteiras
dos gêneros musicais quando este indicou como gêneros favoritos: “MPB, samba e forró (o
forró real!)” (Q 405, 4o ano, masc., 18 anos)4.
As questões que circundam a temática forró vão desde a própria definição do gênero até
as rupturas causadas pelas transformações musicais contemporâneas. A expressão “forró real”,
utilizada pelo estudante, pode ser traduzida como forró “verdadeiro” ou “legítimo” e remete-
se ao embate apontado por Trotta (2009, p. 133) quando o autor afirma que “no cenário atual
do forró no Nordeste, é possível perceber uma cisão entre aqueles se identificam e frequentam
o chamado ‘pé-de-serra’ e outros que adotam sua vertente ‘eletrônica’”.
Questões dessa natureza, constituem um riquíssimo material para ser abordado em sala
de aula a partir de diversos aspectos, como os intrinsecamente musicais (sonoros):
modificações da instrumentação utilizada pelos grupos; transformações das células rítmicas
que caracterizariam os gêneros musicais; tendência de aceleração dos andamentos; mudanças
realizadas nas estruturas harmônicas; fusões com outros estilos (gêneros como o vanerão e o
sertanejo universitário são bons exemplos desse aspecto); dentre diversas outras. Há ainda, por

4
Durante a realização da análise, os questionários foram numerados aleatoriamente, seguindo apenas o padrão de
separação por turma. Desse modo, os questionários da turma ingressante na instituição (1o ano1) iniciam sua
numeração pelo número 0 (ex.: QUESTIONÁRIO [Q] 21 001); os questionários da turma do 1o ano, abordada no
final do ano letivo (1o ano2) são iniciados com pelo número 1 (ex.: Q 101); a turma do 2o ano pelo número 2 (ex.:
Q 201); o 3o ano com o número 3 (ex.: Q 301) e os questionários da turma do 4o ano iniciam-se pelo número 4
(ex.: Q 401). 531
outro lado, os aspectos delineados5, que passam pelas mudanças de temáticas abordadas nas
letras das composições, bem como por toda uma série de questões – como cultura de massa,
funções sociais dos eventos festivos, pirataria, consumo de álcool, questões ligadas à

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sexualidade, dentre diversas outras – que podem problematizar todo um contexto local no qual
os alunos encontram-se diretamente inseridos e, inclusive, perpassar facilmente por diversos
dos temas transversais. Nesse sentido,
[...] os conteúdos dos temas transversais nas disciplinas do ensino fundamental
e médio, contribuem para a formação humanística do jovem, diante da
multiculturalidade, se as situações de aprendizagens forem apreendidas pelos
estudantes. Esse fato se dá quando o docente apropria-se da realidade, do
cotidiano e da leitura de mundo do discente, e os conecta aos temas da
atualidade, estes, presentes nos temas transversais. Atenta-se que, estes são
os eixos geradores de saberes, a partir das experiências dos alunos, assim
como os eixos de conexão entre os conteúdos tradicionais. (GOVERNO DO
ESTADO DE SÃO PAULO, 2012, p. 3, grifos nossos)
Questões relativas aos aspectos delineados da música podem ser abordadas para além do
seu campo específico, visto que se encontram na fronteira com outras disciplinas – como,
filosofia, sociologia, história, língua portuguesa, etc. – configurando-se como excelentes
oportunidades de proporcionar a almejada integração do currículo. Nesta perspectiva,
destacamos o entendimento de Green (1997, p. 35) ao afirmar que seria “benéfico aos
professores estarem cônscios da trama complexa dos significados musicais com os quais
lidamos, e os relacionamentos intrínsecos entre alunos, grupos sociais, suas práticas musicais,
e a abrangência de suas práticas musicais”. Trilhando este caminho, “menos provavelmente
rotularemos nossos alunos de não-musicais, sem primeiro considerarmos as profundas
influências dos fatores sociais na aparência superficial de sua musicalidade” (GREEN, 1997,
p. 35).
A MPB, segundo gênero de maior aceitação pelos estudantes, tendo sido mencionada por
41% destes, também compartilha de algumas das questões destacadas acima. Acerca da
complexa delimitação de suas fronteiras, Ulhôa (2001) reflete:
[…] MPB é um termo problemático, utilizado tanto por um grupo sonoro
restrito que distingue a “linha evolutiva” mencionada acima [samba, ritmos
regionais, bossa nova, tropicalismo, etc.] quanto pela indústria musical, que
incorporou a rubrica para referir-se a um segmento do mercado, de
considerável prestígio apesar do retorno comercial reduzido. (ULHÔA, 2001,
p. 53)

Portanto, podemos afirmar que concepções distintas, e possivelmente até antagônicas,

5
Referindo-se aos conceitos e conotações “não sonoros”, portanto “extramusicais”, que a música carrega, isto é,
suas associações sociais, culturais, religiosas, políticas ou outras, a autora Lucy Green (1988) estabeleceu o termo
“significados delineados” da música. 532
são referidas pelos alunos sob a sigla “MPB”. Assim, embora essa denominação provavelmente
tenha sido utilizada de modo abrangente (com diferentes entendimentos), questões dessa
natureza – envolvendo a problematização da conceituação dos gêneros musicais na perspectiva

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dos estudantes –, não serão abordadas no presente trabalho mas configuram um excelente
material para debates em sala de aula.
A música erudita (clássica) foi apontada por 35% dos estudantes como um dos gêneros
musicais favoritos, situando-se como o terceiro gênero musical mais indicado. Com esse
resultado, a música erudita obteve mais destaque que gêneros de grande difusão midiática como
o pop e o gospel. Para entendermos o expressivo destaque dado a esse repertório, recorremos
às respostas obtidas na questões 28 e 28.16, que possuíam os seguintes enunciados: “O curso
tem influenciado seu gosto musical de alguma forma? Como?”. Dos 35 alunos que citaram a
música erudita como um de seus gêneros favoritos, 30 afirmaram que o curso exerceu
influência no seu gosto musical, e grande parte destes referiu-se exatamente à inclusão da
música erudita em suas preferências musicais, conforme apontam algumas respostas à questão
aberta 28.1, nos trechos destacados abaixo:

Q 104: “Eu tinha um gosto muito preso e único e hoje tenho a visão de quanta música boa existe
por aí e deve ser ouvida. Isso é ser músico, escutar tudo” (1o ano2, masc., 17 anos, guitarrista);
Q 107: “Passei a gostar mais de música erudita e outros estilos” (1o ano2, masc., 16 anos,
violinista);
Q 208: “Eu preciso ouvir os áudios de algumas partituras para ter uma noção de interpretação
e logo vou descobrindo peças mais bonitas” (2o ano, fem., 17 anos, violinista);
Q 209: “Antes não costumava escutar música erudita, apesar de sempre ter achado ‘chique’.
Hoje em dia não vivo sem” (2o ano, masc., 17 anos, violista);
Q 308: “Entender como se toca os violinos me alimenta em conhecer mais a música erudita”
(3o ano, masc., 18 anos, acordeonista);
Q 313: “Passei a gostar mais de música clássica e brasileira” (3o ano, fem., 17 anos, violinista).

Salientamos ainda que a inclusão desse repertório nas preferências dos estudantes
ocorreu, aparentemente, de forma natural e não conflituosa com seus repertórios anteriores ao
ingresso no curso. Como exemplo, destacamos o depoimento de um aluno de teclado do 1o ano
que afirmou que o curso havia exercido influência no seu gosto musical: “aumentando o meu
leque de opções e aumentando meu interesse por música” e destacou como gêneros favoritos,
além da música clássica: “rock, eletrônica, metal, brega, forró pé de serra” (Q 113, 1o ano2,
masc., 16 anos). A ausência de “conflitos” entre o gosto pela música erudita e os diversos

6
O questionário completo pode ser acessado no endereço:
<https://www.academia.edu/35060454/Curso_T%C3%A9cnico_Integrado_ao_Ensino_M%C3%A9dio_e
m_Instrumento_Musical_do_IFPB_reflex%C3%B5es_a_partir_dos_perfis_discente_e_institucional>. Acesso em
14/05/2019. 533
gêneros “populares”, destacada nas palavras do aluno do 1o ano (Q 113), também foi
encontrada nas preferências de diversos outros estudantes:

Q 210: “Clássica, forró e axé” (2o ano, fem., 17 anos, violinista);

Anais da IV Jornada Ibero-Americana de Pesquisas em Políticas Educacionais e Experiências Interdisciplinares na Educação. Anais...Salvador (BA), 2019.
Q 221: “Clássica, forró e rock” (2o ano, fem., 18 anos, violoncelista);
Q 222: “Metal, rock, clássica” (2o ano, fem., 19 anos, tecladista);
Q 302: “Rock, funk (não o carioca pelo amor de Deus!) e erudita” (3o ano, masc., 18 anos,
violonista);
Q 308: “Forró e música erudita” (3o ano, masc., 18 anos, acordeonista);
Q 411: “Erudito, MPB, axé” (4o ano, masc., 20 anos, violinista).
Encontramos ainda diversos alunos que, mesmo não apontando a música erudita como
um dos gêneros favoritos, indicaram que o curso havia influenciado seu gosto musical gerando
uma maior aproximação com o repertório erudito. Desse modo, compreendemos a importância
da oportunidade dada pelo currículo escolar para que os jovens entrem em contato com
conhecimentos das amis variadas diversas naturezas (incluindo os repertórios musicais) que
muitas vezes encontram-se extremamente distantes da sua realidade cotidiana.
O quarto gênero mais indicado pelos estudantes foi o pop, mencionado por 27% destes.
Podemos afirmar que a presença deste gênero nas preferências musicais dos adolescentes é um
fenômeno que ocorre em praticamente todo o mundo ocidental, visto que “as indústrias
culturais têm dirigido a música pop, principalmente, para o público jovem, fazendo uma grande
difusão em rádios, canais de música, shows, além dos CDs vendidos em lojas de discos
consolidadas, sites e pela pirataria: o pop está em toda parte” (NORIEGA, 2011, p. 106-107).
O gênero musical gospel foi mencionado por 13% dos jovens, tendo sido o quinto mais
lembrado. Sobre a gênese do gênero, destacamos que originariamente tratou-se de um tipo de
canção religiosa dos movimentos avivalistas norte-americanos do final do século XIX que,
deixando de pertencer à esfera estritamente musical, hoje designa uma cultura, a cultura gospel
(MENDONÇA, 2008, p. 221). Podemos traçar um paralelo entre os 13% que indicaram o
gospel como um de seus gêneros favoritos e os 27% dos jovens que destacaram a Igreja como
um dos principais fatores que influenciaram seu interesse pela música
Dentro desses 13% que mencionaram o gênero gospel, agrupamos os estudantes em duas
categorias de influência. Apresentamos inicialmente o grupo, minoritário, composto por 2
destes, que apresentou uma relação estritamente vinculada entre suas preferências musicais e
sua prática religiosa, onde se encontra o aluno do 1o ano que citou como gêneros musicais
favoritos: “Gospel: Pop rock, Pentecostal e Adoração” (Q 005, 1o ano1, masc., 20 anos, cantor)
e, de modo semelhante, outro aluno da mesma turma que destacou como preferências: “Gospel,
Gospel e Gospel” (Q 006, 1o ano1, masc., 16 anos, contrabaixo). O segundo grupo, composto
pelos demais 11 estudantes, refere-se àqueles que, além de citar o gospel como um dos seus 534
gêneros favoritos, indicaram também preferência por outros gêneros musicais, onde
destacaram-se a presença do pop e do pop rock, conforme trechos abaixo:

Q 001: “MPB, Gospel e Pop” (1o ano1, fem., 13 anos, teclado);

Anais da IV Jornada Ibero-Americana de Pesquisas em Políticas Educacionais e Experiências Interdisciplinares na Educação. Anais...Salvador (BA), 2019.
Q 021: “Gospel, pop e pop rock” (1o ano1, fem., 15 anos, violino);
Q 215: “Gospel, pop, pop rock e rock clássico” (2o ano, masc., 17 anos, teclado).
Refletindo sobre o contexto contemporâneo, destacadamente marcado por uma
significativa “miscigenação cultural”, apontamos a reflexão de Mendonça (2008) sobre
a aproximação da música gospel com o meio pop:
Como destacado veículo de promoção da renovação religiosa promovida pela
expansão do neopentecostalismo, a canção gospel brasileira parece revelar
também uma bem-sucedida integração com os modelos da canção pop no que
diz respeito às formas semelhantes de elaboração musical, de execução
artística, de difusão comercial e midiática e de recepção pública.
(MENDONÇA, 2008, p. 221)

Conhecendo as preferências musicais dos jovens e compreendendo as inter-relações


desses repertórios com os diversos contextos sociais, econômicos, políticos e culturais, nos
quais os estudantes encontram-se inseridos, os docentes – e a Instituição como um todo –
adquirem condições de promover debates extremamente relevantes envolvendo a cultura
juvenil e os diversos conteúdos e disciplinas presentes no currículo escolar técnico e
propedêutico.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme discussões realizadas ao longo do texto, compreendemos que as relações que
as pessoas estabelecem com a música são desenvolvidas na intercessão da totalidade de
aspectos que compõem suas vidas (históricos, sociais, políticos, econômicos, culturais,
religiosos, etc.). Portanto, ao compreender as múltiplas dimensões que caracterizam a relação
dos estudantes com a música, o professor adquire condições de tornar sua prática docente
contextualizada e significativa para os estudantes, tendo em vista que compartilhamos com
Machado (2006, p. 86) o entendimento que “a realidade imediata é o principal e mais
importante quadro de referência para a concepção, implementação e avaliação das alternativas
de ação didática, com seu momento histórico particular”. Nesse sentido, por fim, refletindo
sobre as possibilidades de diálogo entre as preferências musicais dos estudantes e o currículo
escolar, fazemos coro com o questionamento de Mateiro (2007, p. 150): “por que não oferecer,
então, mais disciplinas específicas para o estudo da música brasileira e latino-americana nos
programas curriculares de formação docente? Ou disciplinas sobre rock, já que este foi o estilo
535
mais apontado pelo grupo de estudantes?”.

5. REFERÊNCIAS

Anais da IV Jornada Ibero-Americana de Pesquisas em Políticas Educacionais e Experiências Interdisciplinares na Educação. Anais...Salvador (BA), 2019.
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