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O Direito Penal possui a função de proteger bens jurídicos e o faz aplicando as sanções mais
graves e legalmente admissíveis. Sua aplicação é através do Estado, que possui o monopólio
do poder punitivo, o jus puniendi. O pressuposto para isso acontecer é que o Direito Penal se
caracteriza sendo um mecanismo de controle social formalizado (positivo) do Estado.
O Direito Penal regula a convivência humana pelo pretexto de proteger os bens jurídicos e o
faz através da prevenção geral e especial (veremos logo em seguida).
Nesse contexto surge uma pergunta: o Direito Penal está legitimado a regular moralmente os
indivíduos? A resposta é não, pois não cabe a ele impor uma determinada ordem moral.
De acordo com Liszt: “proteger bens jurídicos por meio da lesão de bens jurídicos”.
FUNDAMENTO
INTERVENÇÃO DO
DIREITO PENAL
LIMITE
▪ Se sanciona porque se viola/lesiona um bem jurídico (fundamento).
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Gabriel Marucci
O crime tem como consequência jurídica a sanção penal, que pode ser:
O termo mais preciso seria Direito Criminal pois a pena não é a única forma de sanção penal
estabelecida. A Medida de Segurança é uma sanção regulada pelo mesmo código e pode ser
aplicada a um mesmo fato assim como a pena.
Os princípios têm como objetivo o controle do jus puniendi estatal para evitar abuso e erro
decorrente da intervenção penal e se desdobram em três funções: delimitar a interpretação
do Poder Judiciário, estabelecer a forma de execução do Poder Executivo e orientar a criação
de leis penais pelo Poder Legislativo.
Os princípios admitem graduações: quanto mais forem aplicados e efetivados, mais próximos
estaremos de um Estado social e democrático de direitos, respeitoso dos Direitos Humanos.
A fórmula em latim nullum crimen, nulla poena sine lege praevia traduz o conceito primordial
deste Princípio. Não poderá haver crime nem pena sem que haja lei prévia ou anterior ao fato.
Somente através da lei uma conduta será considerada criminosa e uma pena será estabe-
lecida. O Código Penal traz a seguinte leitura sobre este princípio:
Anterioridade da Lei
Este princípio constitui uma real limitação ao poder estatal de interferir na esfera das liber-
dades individuais. Cada indivíduo tem garantia de proteção contra o Estado, e este não poderá
infringir dano pois o princípio o impossibilitará.
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Gabriel Marucci
Dois exemplos podem esclarecer melhor esse princípio: uma lei A, já revogada,
estabelece pena de 8 anos e uma lei B, vigente, de 12 anos. Esta última não
retroagirá pois não trará benefício ao réu; uma lei A, já revogada, estabelece
pena de 12 anos e uma lei B, vigente, de 4 anos. Esta última retroagirá.
PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
Este princípio estabelece que deve haver uma razão entre a gravidade do delito (relaciona-se
à conduta socialmente não aceita), a pena cominada em abstrato (relaciona-se a tipicidade)
e a sanção imposta em concreto (relaciona-se a culpabilidade). Para Alberto Silva Franco:
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PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE
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se manter atrelado a duas hipóteses. Deverá no fato haver dolo (vontade) ou,
pelo menos, a própria culpa (negligência, imperícia ou imprudência). Portanto,
ninguém poderá ser punido senão pelas consequências dolosas ou culposas dos
seus próprios atos.
PRINCÍPIO DA RESSOCIALIZAÇÃO
Primeiramente, é importante frisar que existe uma diferença terminológica entre a palavra
ressocializar e reintegrar. Enquanto a primeira se resume a uma remodelagem, reforma do
indivíduo para, só assim, este estar apto a participar da sociedade, o segundo traz a ideia de
ajudar e tratar o indivíduo para que este, com suas diferenças, integre uma sociedade plural.
É de conhecimento geral que a prisão é o meio menos idôneo para reintegrar alguém à socie-
dade. Dessa forma, este princípio traz a ideia de que a lei penal deve ter efeito de tratar o
indivíduo da melhor maneira possível e com o menor risco de causalidades.
Este princípio, um dos mais importantes, descreve elementos importantíssimos para um Estado
Democrático e Social de Direito. Ele traz o devido processo legal, a ideia de juiz prévio e
natural, o estado de inocência, a igualdade, a oportunidade, a não incriminação e vários outros
que se encontram, em sua maioria, no artigo 5º da Constituição Federal de 1988.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Este princípio preconiza que para uma conduta ser considerada criminosa a priori são neces-
sárias análises detalhadas acerca da adequação do fato ao tipo descrito em lei, e uma análise
em relação à lesão significativa a bens jurídicos relevantes da sociedade.
Caso a conduta venha a lesar de modo desprezível o bem jurídico protegido, não há que se
falar em tipicidade material, o que transforma o comportamento em atípico, ou seja, indife-
rente ao Direito Penal e incapaz de gerar condenação ou mesmo de dar início à persecução
penal. O Princípio da Insignificância, em outras palavras, afasta a tipicidade material.
No entendimento do STF, para que este princípio se faça valer, há a necessidade dos seguin-
tes elementos: a mínima ofensividade da conduta, o baixo grau de reprovabilidade do com-
portamento, a inexpressividade da lesão ao bem jurídico e a ausência de periculosidade da
ação para a sociedade. Por fim, Nilo Batista e Carlos Vico Mañas dizem:
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FINALIDADES DA PENA
Para o Professor Dr. Alexis Couto de Brito, “definir quais são os fins da pena significa revelar
a legitimação do direito penal e descobrir se a pena que se pretende impor é socialmente útil”.
▪ Teorias Absolutas
Nesta teoria a pena possui finalidade de expiar (purificar) o crime, retribuindo ao indivíduo o
mal cometido com um novo mal com o intuito de reequilibrar a balança da justiça. Nela pune-
se porque é pecado: o foco está no passado e, portanto, pune-se porque alguém errou, repri-
mindo o fato delituoso. Porém, observando este conceito surge a seguinte pergunta: esta te-
oria representa a justiça ou a vingança?
Como exemplos seguiremos duas situações: eu vou à uma padaria, furto uma senhora e como
consequência cortam a minha mão; ou, eu vou à uma padaria, furto a mesma senhora e sou
condenado a indenizá-la por dano material. A primeira situação, de retribuição dos danos cau-
sados, traz nela um sentido de vingança. A outra traz para perto o sentido de justiça e se
afasta desta teoria. Dessa forma, através desse processo lógico, a resposta para a pergunta
feita no parágrafo acima seria de que esta teoria está mais conectada à vingança do que com
a justiça propriamente dita.
Caminhando para o lado histórico desta teoria, um dos principais autores dela foi Immanuel
Kant que trazia com ele, além da lógica cristã, o binômio “castigo e retributividade”. Ele di-
zia por exemplo:
Novamente, como exemplos, seguiremos duas situações: eu vou à uma praia, furto um banhista
e ele me furta também em revés; ou, eu vou à uma praia, furto o mesmo banhista e dou de
volta a ele o bem que furtei. A primeira situação, de retribuição, traz consigo um sentido de
vingança. A outra traz para perto o sentido de justiça e se afasta desta teoria.
Entende-se disso que o sustento histórico para a pena retributiva é a moral cristã: o crime
como pecado e a pena como purificação e reequilíbrio divino dos danos causados. Somente
pela penitência o indivíduo estaria livre de culpa. O processo penal, portanto, se estrutura
para a retributividade e não para que a vítima alcance a reparação de seus bens.
▪ Teorias Relativas
Esta teoria defende que a pena deve ser útil para a sociedade e basear-se em uma eficácia
futura, tendo uma finalidade próxima e prática, a qual evite que não se cometa fatos crimi-
nosos no futuro. Fundamentadas pelo Utilitarismo, as ideias preventivas surgem em 1801 com
Ludwig Feuerbach e se baseiam em uma coação psicológica para prevenção.
Outro estudioso, Franz von Liszt, diz que “A pena correta, isto é, a pena justa, é a pena
necessária. [...] A pena é, em nosso juízo, meio para um fim...”. Ele prevê que a pena e o
direito penal sejam uma espada de dois gumes pois ao proteger um bem jurídico se lesiona
outro.
Apesar de estar conectada diretamente com o ideário de justiça, esta teoria de prevenção
através da eficácia da pena não foi comprovada e, portanto, só existe uma expectativa de que
isso possa de fato ocorrer na sociedade. Para um melhor entendimento, a teoria se divide em
dois grupos de tipos de prevenção, ambos com aspectos positivos e negativos.
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Nesta teoria cada fase necessita de uma justificação em separado e tem uma finalidade espe-
cífica. Elas são três:
Como já sabemos, o Direito Penal se estrutura em torno de um conjunto de normas que asso-
ciam as consequências jurídicas previstas em lei a um comportamento humano. Essas conse-
quências são entendidas como sanções penais.
A Sanção Penal é, de acordo com o Professor Dr. Alexis de Couto Brito, “a perda total ou
parcial de determinados bens jurídicos ou direitos, ou seja, a mais grave das consequências
jurídicas que o Estado pode impor”. Agora iremos ver todos os tipos de sanções.
PENA
Ao observar o artigo 5º da Constituição Federal, pode-se entender que existe uma relação com
o texto do artigo 32 do Código Penal. A pena de privação ou restrição da liberdade claramente
se refere ao aprisionamento, enquanto que a perda de bens, a prestação social alternativa e
a suspenção ou interdição de direitos se referem as restrições de direitos. Iremos estudar uma
espécie por vez.
É importante fazer um parêntesis para falar sobre a pena mínima e a pena máxima:
Ademais, fazer um para falar sobre a diferença entre pena de prisão e pena provisória e sua
construção histórica. Antigamente, a prisão não era uma pena em si, mas uma custódia de
presos provisórios, isto é, um lugar onde os indivíduos ficavam encarcerados até o momento
do julgamento, ocasião em que receberiam suas penas. Posteriormente, evoluiu-se do “modelo
de cárcere de custódia” para o “modelo de cárcere de cumprimento” e, com isso, a assunção
de um caráter punitivo, o qual a prisão não possuía até então.
Além da pena de caráter penal, existe a modalidade de pena civil, para devedores de alimen-
tos, administrativa, relacionada ao contexto militar quando se inflige alguma norma discipli-
nar, e processual, quando há flagrante por exemplo.
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Apesar do texto trazer uma diferença entre detenção e reclusão, na prática ela não
existe para os imputáveis. Somente os inimputáveis que estarão sujeitos a diferencia-
ção.
I - prestação pecuniária;
II - perda de bens e valores;
III - (VETADO)
IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades pú-
blicas;
V - interdição temporária de direitos;
VI - limitação de fim de semana.
qual o autor do fato, possuindo bons antecedentes, aceita cumprir uma pena
antecipada em favor da sociedade, resolvendo seu caso com a justiça sem sequer
a necessidade de instauração de um processo. O artigo 45 do Código Penal traz
texto sobre a prestação pecuniária:
▪ Perda de bens e valores: esta pena tem como principal objetivo a restituição
do prejuízo causado pelo infrator, a fim de satisfazer os anseios da sociedade
e do Estado, encontrando uma efetiva sanção para os crimes contra a economia
popular, o sistema financeiro, e principalmente os crimes de “colarinho branco”.
Recai sobre os bens licitamente obtidos pelo autor do delito. Está elencada no
§3º do artigo 45 do Código Penal:
Art. 45.
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Ao observar este tipo de pena pode surgir a seguinte pergunta: como a compa-
tibilizar com a proibição constitucional acerca das penas de trabalho forçado? A
resposta é simples. Cabe ao condenado, mediante questionamento, decidir se
ele aceita ou não este tipo de pena. Infelizmente, na prática isto não acontece.
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i. Juiz fixa a quantidade de dias-multa para cada réu (entre 10 e 360 dias-multa);
ii. Juiz determina o valor de cada unidade de dia-multa (entre 1/30 e 5 vezes o
salário mínimo vigente ao tempo do fato).
A pena de multa pode ser cumulativa, como prevê, por exemplo, o artigo 155 do Código
Penal que trata sobre o furto. Acontece quando é previsto o cumprimento desta pena
atrelada a outra. Em segundo ponto, pode ser também alternativa, como prevê o artigo
163 que trata sobre dano. Nesta é previsto o cumprimento da pena privativa de liber-
dade ou do pagamento de multa.
a) aplicada isoladamente;
b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de direi-
tos;
c) concedida a suspensão condicional da pena.
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O artigo 60 traz critérios especiais da pena de multa e texto sobre multa substitutiva:
Multa substitutiva
2º - A pena privativa de liberdade aplicada, não superior a
6 (seis) meses, pode ser substituída pela de multa, observa-
dos os critérios dos incisos II e III do art. 44 deste Código.
MEDIDA DE SEGURANÇA
[...]
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Muito criticada pela doutrina, a semi-imputabilidade surge como meio termo nas definições
de capacidade e incapacidade do sujeito penal. O artigo 26, parágrafo único, traz a redução
de pena para estes citados acima:
O artigo 98 do Código Penal traz a ideia, em conformidade com o artigo acima, de substituição
da pena por medida de segurança ao semi-imputável:
É importante fazer uma ressalva à construção histórica do sistema de aplicação penal no Brasil.
Existe, primeiramente, o sistema monista que prevê que a consequência jurídica do crime é
sempre única: ou pena ou medida de segurança. Em segundo, existe a o sistema dualista que
prevê duas respostas penais possíveis: a pena e a medida de segurança. Nesta se dividem ainda
o modo de aplicação em alternativo, no qual há a intercalação das duas, e em sucessivo
(duplo binário), no qual se aplica uma e em seguida outra. No Brasil, na vigência do Código
Penal de 1940, previa-se a aplicação do sistema monista. Com a reforma penal de 1984 muda-
se a aplicação para o sistema dualista alternativo, existindo, portanto, a possibilidade de
aplicação de ambos artigos 26 e 98. A tabela abaixo exemplifica melhor esta questão.
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Imputável Inimputável
Pena Medida de Segurança
Caráter retributivo-preventivo Caráter preventivo (especial)
Fundamento; culpabilidade Fundamento; periculosidade
Penas: Privativas de Liberdade ou Restritivas Internação ou Tratamento Ambulatorial
de Direitos
Por tempo indeterminado – proporcional à Por tempo indeterminado – até cessação de
gravidade do delito periculosidade
Presídios Hospitais de custódia e tratamento psiquiá-
trico
Referente aos prazos da medida de segurança, sua duração é por tempo indeterminado, ou
seja, é subjetivo e cabe ao juiz decidir quando a questão da periculosidade cessou e, portanto,
o indivíduo se encontra livre. A duração mínima prevista está no artigo 97, § 1º, enquanto que
a duração máxima se encontra pela jurisprudência do STJ, em sua súmula 527 que diz: “O
tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena
abstratamente cominada ao delito praticado (Súmula 527, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
13/05/2015, DJe 18/05/2015).” Segue o artigo citado:
A perícia médica, também suscetível aos prazos, se encontra no artigo 97, § 2º do Código
Penal. O § 3º trata da desinternação ou liberação condicional, enquanto que o § 4º trata sobre
o tratamento curativo.
A respeito dos internados e das pessoas portadoras de transtorno mental, têm-se o artigo 99
do Código Civil e a Lei 10.216/2001 que dispõe “sobre a proteção e os direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental”. Veja
o artigo citado acima e os artigos 2º, parágrafo único, I à IX, e 5º desta lei.
DOSIMETRIA
Por exemplo: tendo um indivíduo optado por qualquer uma das infrações elencadas no Código
Penal, tendo partido do plano abstrato (fase de cominação), chega-se ao segundo momento
de individualização da pena, de competência do julgador. No plano concreto (fase de aplica-
ção) cabe ao juiz aplicar àquele que praticou ato típico, ilícito e culpável, uma sanção penal
que seja necessária e suficiente para a reprovação e prevenção do crime.
A lei penal, portanto, traça uma série de etapas que, devendo ser seguidas obrigatoriamente
pelo juiz, o irão auxiliar na aplicação da pena. Aquele que a aplica têm por objetivo sempre
estar de acordo com a reinserção do indivíduo na sociedade (teoria preventiva especial posi-
tiva). Os artigos 59, I à IV, e 68, parágrafo único, do Código Penal botam a termo as fases e
características da aplicação.
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Assim, o juiz deverá, de acordo com o artigo 59, atender “à culpabilidade, aos antecedentes,
à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências
do crime, bem como ao comportamento da vítima” em um primeiro momento. Em seguida,
de acordo com o artigo 68, “serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes” e
“por último, as causas de diminuição e de aumento”. Dito isso, entendemos que o sistema
brasileiro é o trifásico. Partiremos então para a primeira fase da dosimetria.
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Circunstâncias são dados periféricos que gravitam ao redor da figura típica e têm por finalidade
diminuir ou aumentar a pena aplicada ao sentenciado. A ausência ou a presença de uma cir-
cunstância não interfere na definição do tipo penal. É importante ressaltar que a lei não define
a quantidade que será retirada ou aplicada à pena pelo juiz. Este deve, por meio da razoabi-
lidade, determinar esta colocação (a doutrina, por outro lado, acredita que a quantidade má-
xima não poderia ultrapassar 1/6). O Princípio do non bis in idem prevê que, uma vez estas
circunstâncias aplicadas, não poderão ocorrer novamente.
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I – a reincidência;
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II – o desconhecimento da lei;
Visto, portanto, estas duas circunstâncias, abre-se espaço para entendimento do artigo 67 do
Código Penal, que trata do concurso destas quanto na aplicação. Vejamos:
A realidade prática aponta que, no momento de vislumbre deste artigo, magistrados decidem
de forma abertamente discricionária. Isso pode-nos levar a questionar quais são os limites para
tal agravo ou atenuação.
Estas causas podem implicar em um aumento ou diminuição da pena muito mais significa-
tivo se comparada à fase anterior. Permitem que a pena aplicada ultrapasse os marcos
mínimos e máximos cominados em abstrato.
Elas estão previstas em ambas as partes do Código Penal, sendo que às que estão previstas
na parte Geral não se admite compensação entre elas e, às Especiais, podem ser compen-
sadas entre si. A compensação, termo criado pela doutrina e jurisprudência, teve influência
do artigo 68, parágrafo único, do Código Penal, já mencionado aqui:
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Em uma análise de um tipo penal, no qual haja causas de aumento ou diminuição, atribuído
a elas o mesmo valor, uma irá compensar pela outra e se manterá assim. A diminuição por
tentativa (artigo 14, parágrafo único) e por arrependimento posterior (artigo 16) são exem-
plos de causas na Parte Geral. Vejamos:
[...]
Quando o legislador coloca uma pena cominada em abstrato, o faz pressupondo que a pena
será aplicada para os crimes que foram consumados, quando houve a lesão completa ao
bem jurídico. Se o crime for tentado, por exemplo, não pode receber a pena mínima comi-
nada em abstrato de um crime consumado. Existe aqui relação com o Princípio da Propor-
cionalidade.
Olhando pela Parte Especial do Código Penal, são exemplos de causas de aumento quando
houver, no crime de homicídio (artigo 121), as seguintes características:
[...]
REGIMES DE CUMPRIMENTO
Após passar pelo sistema trifásico da dosimetria e, sendo a pena aplicada, o indivíduo conde-
nado estará sujeito ao cumprimento dela em um dos três regimes previstos em lei: o aberto,
o semiaberto e o fechado. De acordo com o artigo 33 do Código Penal, no qual o critério
quantitativo foi o escolhido para garantir a definição do regime, estabelece-se os conceitos
para tais. Vejamos:
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§ 1º Considera-se:
• Regime Fechado: As regras para este regime estão previstas no artigo 34 do Código
Penal:
• Regime Semiaberto: As regras para este regime estão previstas no artigo 35 do Código
Penal:
• Regime Aberto: As regras para este regime estão previstas no artigo 36 do Código Penal:
• Regime Especial: A regra para este regime, que possui exclusividade de aplicação, es-
tão previstas no artigo 37 do Código Penal:
Se o sentenciado estiver no regime fechado e tiver direito ao semiaberto, mas não houver vaga,
deverá aguardar no regime aberto, assim como diz a Súmula Vinculante 56: “a falta de esta-
belecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado com regime prisional
mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS”.
A tabela a seguir, em conformidade com o artigo 33, § 3º, do Código Penal, esclarece a fixação:
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Reclusão Detenção
• Fixação de regime inicial mais grave que o indicado pela regra geral (quantidade da
pena)
O artigo foca a atenção nesses critérios como circunstâncias excepcionais: “...à cul-
pabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos mo-
tivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da
vítima...”.
• Reincidência:
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• Crimes Hediondos:
A lei penal impõe regime fechado para crimes hediondos e equiparados (práticas de
tortura, drogas e terrorismo). Entretanto a Execução Penal é muito mais dura do que
deveria ser, possuindo parâmetros mais rígidos do que os razoáveis. A lei 8.072/90
(Lei de Crimes Hediondos) traz em seu artigo 2º, § 1º, suposta afronta à princípio
legal. Vejamos:
[...]
• Detração:
[...]
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SUBSTITUIÇÃO DA PENA
Entende-se que as penas podem ser principais ou substitutivas. As primeiras são, em via de
regra, as penas privativas de liberdade e a multa. As segundas são aquelas que substituem as
principais, quando podem, da seguinte forma: penas privativas de liberdade, não superiores
à 6 meses, se convertem em pena de multa (artigo 60, § 2º); penas privativas de liberdade,
não superiores à 4 anos nos crimes dolosos ou, em qualquer caso, a pena dos crimes culposos,
desde que não haja, sobretudo, violência e grave ameaça, se convertem em pena restritivas
de direitos (artigo 44 do Código Penal). Vejamos agora esmiuçadamente o artigo 59, IV, do
Código Penal:
[...]
Dito isso, vejamos em seguida o artigo 44 do Código Penal que estabelece a substituição e os
requisitos para esta (incisos I à III):
A suspenção condicional da pena tem por finalidade evitar o aprisionamento daqueles que
foram condenados a penas de curta duração, evitando-se, com isso, o convívio degradante do
aprisionamento. Os artigos 77 e 78 do Código Penal lecionam tanto o conceito quanto os re-
quisitos para que isto aconteça:
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CONCURSO DE CRIMES
• Cúmulo Material: As penas são somadas nesse caso. Embora pareça simples, esta soma
frequentemente leva a resultados exagerados. Por exemplo: um crime como furto, que
possui uma pena relativamente pequena, se for cometido 20 vezes, a pena final seria
de 20 anos, sendo até mesmo maior do que a do crime de homicídio. Na prática, este
tipo permite que pessoas que cometeram crimes menos graves permaneçam no cárcere
pelo mesmo tempo daquelas que cometeram um crime mais grave.
• Absorção: Nesta a pena de um crime irá absolver a outra, sempre que a segunda for
exagerada ou desnecessária para os fins do Direito Penal. Aplica-se apenas em relação
ao concurso aparente de leis penais.
• Exasperação: Nesta aplica-se a pena do crime mais grave, aumentando-se uma fração
estipulada em lei. Aumenta a pena por conta de alguns crimes, mas a fração de aumento
representa o crime que o sujeito cometeu adjunto.
Sobre o tema de concurso de crimes, o artigo 69 do Código Penal traz lucidamente texto:
A aplicação da pena no concurso formal perfeito será pela exasperação, usando como
base a pena do crime mais grave, aumentando-se de 1/6 até 1/2. A aplicação no formal
imperfeito será por cúmulo material.
A aplicação da pena neste caso será por exasperação, ou seja, a pena de um só dos
crimes ou a mais grave será usada, aumentando-se, em qualquer das hipóteses, de 1/6
até 2/3. No caso do parágrafo único aplica-se a pena mais grave aumentando-se em até
três vezes.
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Este caso foi discutido pelo STJ a fim de se desenvolver entendimento sobre a possibi-
lidade de, a partir deste artigo, abranger também o caso de concurso de crimes. A
Súmula 243 do STJ diz: “o benefício da suspensão do processo não é aplicável em rela-
ção às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continui-
dade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidên-
cia da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano”.
PUNIBILIDADE
A Punibilidade se caracteriza como uma categoria na qual se amontoa diversos elementos he-
terogêneos. Difícil de ser conceituada e identificar seu conteúdo, muitos autores doutrinários
acabam por ignora-la. A tese do injusto culpável se faz como pressuposto indispensável no
Direito Penal, mas não suficiente. Há de se ter algo a mais. A pena não deve ser somente
merecida, mas sim necessária. Dessa forma, utilizando-se de critérios objetivos político-crimi-
nais, a punibilidade ganha sentido permitindo que, em alguns casos, o agente seja isento da
sanção. Vejamos, portanto, as causas de extinção da punibilidade.
• Anistia: Ocorre a renúncia ao jus puniendi estatal. Pode ser do tipo Própria,
quando há perdão parlamentar materializado por uma lei geral que declara a
irresponsabilidade penal para certas pessoas e fatos sobre os quais não há con-
denação com trânsito julgado (decisões que condenam e não se pode mais ques-
tionar pois não cabe recurso algum), ou Imprópria, quando há exoneração da
pena imposta (pressupõe uma sentença penal condenatória com trânsito julgado).
Faz desaparecer todos os efeitos da condenação.
• Abolitio criminis: Nesta o crime foi abolido. Ocorre quando uma lei penal revoga
um tipo incriminador, afastando todos os efeitos desta em benefício do agente.
A exceção é o Princípio da Irretroatividade, que se encontra no artigo 5º, XL, da
Constituição Federal de 1988 e no artigo 2º, do Código Penal:
Art. 5º [...]
Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior
deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a exe-
cução e os efeitos penais da sentença condenatória.
• Perdão do ofendido: Ato pelo qual o ofendido (ou seu representante legal) de-
siste do procedimento. Acontece posteriormente à propositura da queixa, mas
antes do trânsito em julgado. Os efeitos desta dependem de aceitação do perdão
pelo ofendido (ato jurídico bilateral). Somente ocorrerá em ações penais privadas,
exceto as do tipo subsidiárias. Deve ser feita de forma expressa ou tácita. Veja-
mos os artigos 105 e 106 do Código Penal:
• Perdão judicial: É cabível em casos bem mais graves, quando os agente são pro-
cessados mediante ação penal pública incondicionada. É a possibilidade de o juiz
deixar de aplicar a pena nas hipóteses previstas em lei.
[...]
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PRESCRIÇÃO PENAL
A prescrição é uma das situações em que o Estado, em virtude do decurso de certo espaço de
tempo, perde seu jus puniendi. Embora exista alguma controvérsia doutrinaria, entendemos
que com a prescrição existe a perda da pretensão punitiva, e não a renuncia ao direito de
punir por parte do Estado. A prescrição é o instituto jurídico mediante o qual o Estado, por
não ter tido capacidade de fazer valer o seu jus puniendi, faz com que ocorra a extinção da
punibilidade. A lei penal prevê duas espécies de prescrição: a prescrição da pretensão punitiva
e a prescrição da pretensão executória. Antes, porém, de adentrarmos nestas duas, veremos
como se faz a contagem de prazo pelos artigos 10, 11 e 109 do Código Penal:
A tabela a seguir irá exemplificar melhor como se faz a contagem de prazos no Direito Penal:
Pena Prazo
Maior que 12 anos 20 anos
Entre 8 e12 anos 16 anos
Entre 4 e 8 anos 12 anos
Entre 2 e 4 anos 8 anos
Entre 1 e 2 anos 4 anos
Menor que 1 ano 3 anos*
(*) nos crimes praticados até 5 de maio de 2010, o prazo é de 2 anos.
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É a perda do poder de punir do Estado quando este não conseguiu, no prazo determinado
em lei, determinar a certeza da culpa do agente. Regula-se pela pena máxima cominada
em abstrato (regra geral). Considera-se nesta pena as qualificadoras, as causas de aumento
(com aumento máximo) e as causas de diminuição (com a diminuição mínima).
A conclusão pela prescrição punitiva terá repercussões importantíssimas para o réu, pois
este ainda continuará a gozar do status de primário e não poderá ver maculado seus ante-
cedentes penais, como se não tivesse praticado infração penal nenhuma.
• Termo Inicial:
O artigo 111 do Código Penal traz a questão do termo inicial da prescrição nos casos
no quais ainda não se transitou em julgado a sentença final:
• Causas Suspensivas:
Causas suspensivas da prescrição são aquelas que suspendem o curso do prazo pres-
cricional, que começa a correr pelo tempo restante, após cessadas as causas que a
determinaram. Dessa forma, o tempo anterior é somado ao tempo posterior à ces-
sação da causa que determinou a suspensão do curso do prazo. O artigo 116 do Có-
digo Penal discorre que:
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• Causas Interruptivas:
Esta acontece a partir da consumação (do ato ilícito), como regra, passa pelo
recebimento da denúncia ou da queixa, pela publicação da sentença conde-
natória recorrível (marcos interruptivos) e chega até o trânsito julgado da
condenação. Regula-se pela pena máxima cominada em abstrato. Ocorre a
qualquer tempo até o trânsito julgado (pois maior do que a máxima não po-
derá ser aplicada).
É a perda do poder de punir do Estado que não consegue, no prazo determinado em lei,
tornar efetiva a pena já certa para a acusação (dando início ao cumprimento da pena im-
posta). Começa a correr do trânsito julgado para a acusação. Regula-se sempre pela pena
em abstrato. O condenado que vier a praticar outro crime será considerado reincidente. O
artigo 110 do Código Penal diz:
As causas suspensivas e as interruptivas se baseiam nos mesmos artigos citados acima (116,
caput, e 117, V e VI). O termo inicial se encontra no artigo 112 do Código Penal e diz:
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Gabriel Marucci
Regula-se pela pena que resta a cumprir. O artigo 113 do Código Penal traz o seguinte
texto:
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