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PERGUNIE
E
RESPONDEREMOS
ON-LlNE
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....
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ANO XX 119240
Sumá r io
Um 11.,'0 "revolllcloni,lo":
"ENFOQUES MATERlA,L!STAS DA BIBlIA" por Michel Clévenol 502
Enfoque no,o ;
"0 EVANGELHO A LUZ DA PSICANÁLISE" por Fra nçoiS9 00110 5lot
• • •
NO PRóXIMO NOMERD :
Mais do que o próprio Filho, o Pai não podia ter dado aos
homens. E o Pai O deu como servidor pobre e humilçte, para
derramar a riqueza de Deus dentro da miséria do homem
ou a eternidade dentro da temporalidade da criatura.
Esse dom de Deus põe termo a longo período de expecta-
tiva da parte dos homens. Desde o século V. o povo de Deus
nlo tinha profetas; o céu parecia ter-se fechado; a história de
Israel era austera, marcada pela presença do estrangeiro domi·
nadar (persas: 538-331; macedõnios : 331·323; egípcios:
323·200; srrios: 200-63; romanos: 63 a.C. - 135 d,C.), Sobre
este pano de fundo o Natal toma todo o seu significado:
ocorre como um sorriso de Deus; o Filho é a graça ou o sem·
blante benévolo do Amor de Deus (cf. 2Cor. 13,13), Que
rompe o silêncio e a penumbra da história para dizer aos povos
grandes verdades: os homens são filhos de Deus, e nio apenas
criaturas biológicas; são chamados a comungar na vida do Pai
e a herdar a vida eterna; as realidades pequenas e pobres da
existência humana são "vasos de argila nos quais se coloca
inestimável tesouro" (cf. 2Cor. 4,7) , Tudo é grande, tudo li
divinizado pelo fato de que Deus toca o que li do homem,
vivendo com os homens e como os homens.
A doação de que fal a o Apóstolo em Rm 8 ,32, é ilustrada
no Antigo Testamento pela imagem das núpcias. Estas implicam
sempre a mútua doação de esposo c esposa. Ora, segundo os
profetas, Deus quis fazer-se esposo da filha de Sioo; quis dar·se
a ela como um esposo se dá à esposa. Mais íntima união não
poderia ser concebida: o Pai deu o Filho à humanidade num en-
lace matrimonial, como, aliás, insinuam as parábolas do Evan·
gelho (cf. Mt 22. 2·4; Lc 14, 16·24'1
Esta abordagem de Natal sugere duas conclusões:
O O Apbstolo. de imediato, propõe a primeira: "Se Ele
entregou o próprio Filho. como não nos terá dado tudo com
Ele?" (Rm 8,32) , Em outros termos: como ainda julgar que
Deus possa alguma vez esquecer os seus filhos ou possa ser
omisso para com eles7 A tentação de assim pensarmos nas ho·
ras diffceis e amargas dissipa-se diante do raciocínio de São Pau·
lo, raciocínio, aliás, que já enc.ontrava seus ecos antecipadas nu·
ma passagem do profeta Isa(as:
"Sian diit;lI ; '0 Senhor lbandonou'me, o Senhor t$ql,.leçeu-se d.
miml
AclSo pode uma mulh.er nquec:er-se do menino que amamenta,
I nio ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela o esqueces·
se, eu nunca te esqueceria. Eis que te gra\lei nas palmas das minhas mias"
(ls 49,14-16) .
Que a consciéncia desta verdade, tão coerente com a
mensagem de Na1al, nunca se apague na mente do cristão
máxime nos momentos obscuros, em que o desãnimo tende a
sobrepujar a fé e a esperança! Quando o Pai entregava o seu
Filho aos homens no seio da Virgem, Ele já previa cada uma
das nossas situações amargas e de antemão se comprometia
a fazer de nossos males bens ainda maiores. Aliás, com muito
acerto dizia S. Agostinho: "Deus nunca permitiria o mal se,
em sua sabedoria, Ele não tivesse recursos para tirar do mal
bens ainda maiores". Seria absurdo ou i16gico, da parte do cris-
tão, pensar diversamente; seria, sim, conceber Deus à guisa de
um Senhor grande e poderoso, mas limitado e deficiente,
como sio os homens.
2) O dom de Deus aos homens, testemunhado mais uma
vez pelo Natal, suscita com vigor novo o dom dos homens a
Deus. Se Ele quis correr o risco de se dar à criatura, esta pode·se
daI' ao Criador sem correr algum risco. Para entender devida·
mente o que significa o dom de Natal, basta lembrar o que
pensavam os fil6sofos gregos pré-cristãos: Platão, por exemplo,
admitia que o homem tivesse amor .à Divindade, pois esta é
perfeita. mas não podia conceber Que a Divindade amasse
o homem, visto que este nada tem a lhe dar, por ser imper-
feito. Aristóteles, discípulo de Platão. chegava mesmo a dizer
que a Divindade não conhece o homem, pois, se o conhecesse.
teria a imperfeição em sua mentel E precisamente sobre este
pano de fundo que ressoa. de maneira contrastante, a mensa·
gem de Natal:
"Ele 050 poupou o próprio FilhO, mas O entregou por todos n6s.
E, com EI., d.~nos tudo o mlb".
Eis O que o Natal está mais uma vez a recordar . Seja 8 ceie·
braçlo de 1979 penhor de revlgoramento da fé e da esperança
nos cristlos 8 provoque em todos a única resposta condigna:
a de um amor mais vivo e coerente não somente a Deus, mas.
também 8 todos os homens. Possam estes, através do nosso
testemunho, chegar 8 conhecer o grande dom de Deus
leI. Jo 4,10)1
E. B.
«PERCiUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XX - Nl? 240 - Dezembro de I 979
- 48H-
.A IGREJA E SEUS MODELOSt 5
Como quer que seja. a teologia se vê obrigada a conceber
modelos para falar da profunda realidade da Igreja. Em conse-
qüência, A. Oulles julga poder distinguir cinco modelos princi·
pais na Eclesiologia contemporânea. Expõe-nos, apresentando
seus pontos positivos e negativos:
- 489-
6 MPERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 2401l9i9
l1'\li que se distingue de- toelu 8$ sociedades humanas. e palra sobre elas",
-490 -
t:A IGREJA E SEUS MODELOS. 7
- 491-
8 , PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 240/1919
Igreja, o jesu rta belga Emile Merscn contribuiu para restaurar a
noção de Corpo M(stico mediante estudos que se tornaram fa-
mosos. Pio XII em 1943, por sua vez, publicou a sua enc(clica
sobre o Corpo M(stico. O eoncmo do Vaticano II (1962-1965)
quis apresentar a Igreja como povo de Deus, enfatizando assim
os aspectos de comunhlo de vida, caridade e verdade.
2 Que dizer desse modelo de Igreja?
a) Não há duvida , a noção de comunhão atinge muito mais
o âmago da Igreia do Que a da instituição jurídica. Tem sólida
fundamentação b(blica e patrfstica; além do que, corresponde
melhor às aspirações do homem contemporâneo, Que estima as
relações interpessoais e comunitárias,
b) E preciso, porém, que não se exagere o valor do .aspec:to
íntimo e os bens meramente espirituais da vida cristã a ponto de
menosprezar o aspecto vis{vel e instituc ional da Igreja, como
tem acontecido princioalmente nos chamados grupos de " Igreja
subterrânea" (Underground Church) ' e, quiçá, em algumas co·
munidades eclesiais de base: em tais grupos, a aversão a qualquer
norma ou institu ição tem favorecido o subjetivismo e a arbitra-
riedade nas formu lações da fé e nas celebrações da liturgia, cau-
sando perplexidade em seus membros e levando ao cisma ou à
ruptura da Igreja - o que é de todo lamentável. As normas obje·
tivas são indispensáveis para evitar o subjetivismo desenfreado e
destruidor de " pro1etas carismáticos".
Passemos ao modelo subseqüente:
1,1.3. A Igreja como sacramento
- 492-
cA IGREJA E SEUS MODELOS. 9
marias Ela comunica a vida do pr6prio Deus. A Igreja nA'o é s0-
ciedade meramente humana, mas em moldes humanos. Ela traz
e comunica tesouros da vida divina. O aspecto institucional e ex-
terno da Igreja ~ essencial, porque, sem ele, a Igreja não seria si·
nal; nlo falaria aos homens, que são naturalmente feitos para a
linguagem sensível. Todavia o aspecto estrutural não ê suficien·
te para constituir a Igreja; para ser sacramento, esta deve ser
portadora e transmissora da graça ou dos dons transcendentais
que enriquecem os cristãos.
2. Que dizer de tal esquema?
a) !: realmente apto para unir em síntese o modelo instituo
cional e o modelo mrstico da Igreja. Serve tamb~m para relacio-
nar a Igreja com o mistério da Encarnação e os sete sacramentos
comunicadores da graça; Cristo, Igreja e os sete sinais rituais
aparecem assim como etapas do SACRAMENTO ou da comuni·
caç!o de Deus aos homens mediante realidad~ sensrveis.
Esta concepção dá margem também aos anseios de purifi·
cação e conversão que de\lem caracterizar os membros da Igreja,
pois é certo que a Igreja se há de tornar sempre mais eloqüente
sinal de Cristo.
Estes thulos positivos explicam tenha o Concilio do Vati-
cano II apresentado a Igreja como "sacramento da Intima uniRa
com Deus e da unidade de todos os homens entre si " (cf. Consto
" Lumen Gentium " n~ 1.9.48; "Gaudium et Soes" n~ 42; "Sa-
crosanctum Concilium" n!> 26; "Ad gentes" n951 .
b) Contra tal modelo, porém, há quem objete Que não põe
su ficiente ênfase sobre a missão ou o serviço que toca â Igreja
prestar neste mundo. Pode levar a uma atitude de esteticismo
narcisista, que dificilmente se concilia com o pleno compromis·
so do cristão em favor dos valores éticos e sociais.
Examinaremos agora outro modelo :
. - 493 -
10 - 1'i':JtGUNT~: E RI:..~PONIJ}o; H~MaS<> 240/1979
que ouviu e aCfedita . A fé e a pregação são assim mais valoriza-
das do que a comunhão mfstica, que o segundo modelo põe em
relevo.
O principal proponente deste tipo de eclesiologia no séc.
XX é o te610go calvinista Karl Barth, que se inspira em S. Paulo
e Lutero: o que constitui a Igreja, afirma, é ser a Palavra procla-
mada e fielmente ouvida. A B(blia, segundo ele, julga a Igreja,
concitando·a ao arrependimento e à reforma. Ham Küng, te610·
go católico, segue de perto a eclesiologia de Barth: a Igreja, diz
ele, não é algo que esteja fundado uma vez por todas , mas ela se
faz em cada assembléia que se congrega para ouvir a Palavra de
Deus e adorar o Senhor. Rudolf Bultmann, por sua vez, adota
estas concepcões: para ele, é a Palavra que constitui a Igreia
(.. ekklesia, convocação), reunindo os homens e formando a
congregação. A Igreja está comp{eta em cada congregação local;
a Igreja não depende, para existir, de estruturas universais.
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12 ~ PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 240/1979
teresses de todos os povos: assim como Cristo veio 80 mundo
nlo para ser servido, mas para servir, a Igreja há de procurar ser·
vir ao mundo, fomentando a fraternidade entre os homens
IGS n~ 31.
2, Que pensar desta eclesiologia de serviço?
ai Por certo, procura dar à Igreja um relevo e uma missão
que a põem em diálogo com todos os homens. Se muitos se afas·
taram do Catolicismo por julgarem-no alienado e ultrapassado,
voltam a considerá-lo com respeito e simpatia por verem·no in·
teressado em colaborar na solução dos grandes problemas da hu·
manidade. Mais: o esforço dos fiéis cat6licos por sair de si e ser·
vir altruistamente os pobres e oprimidos há de beneficiar os pró-
prios cat61icos servidores dos seus semelhantes.
b) Todavia pode-se observar que tal modelo carece de sóli·
da fundamentação blblica . Embora o Novo Testamento se refira
freqüentemente àsdiakonlai ou serviços que se prestam nas co-
munidades cristãs, verifica-se que os escritos neotestamentários
dão pouca atenção ã ordem temporal; não se preocupam com as
estruturas da sociedade, talvez por causa da expectativa de prb-
ximo fim do mundo que prevalecia nas primeiras gerações cris-
tãs. No Novo Testamento o serviço a ser prestado pelos cristãos
é principal mente de caráter pessoal.
Dado, porém, que a Igreja como tal deva contribuir para a
instauração de uma ordem sócio-econômico-polhica mais huma·
na, é preciso não identificar toda a missão da Igreja com esse ob-
jetivo temporal. Mesmo que a Igreja nio consiga debelar os ma-
les f(sicos que acometem a humanidade, a sua missão nlo est41
fracassada, pois esta compreende, antes do mais., o anúncio de
Jesus Cristo, que, at ..avés da cruz e da morte, abriu aos homens
o caminho para a casa do Pai. A salvaçJo que a Igreja tem para
oferecer ao mundo, não consiste em valores impessoais, mas é,
em primeiro lugar. o próprio Cristo. que, conforme 1 Cor 1, 30,
se fez "sabedoria, justiça, saniificaçlo e redenção" para os ho-
mens.
Uma vez exponos ao cinco modelos da Igreja, A, Dulles
aborda as concepçaes de escatologia, ministérios e revelação di·
vina mais freqüentes na teologia contemporânea, pois cada uma
destas contribui, do seu modo, pera completar os diversos mo-
- 496-
4A IGREJA E SEUS MODELOS. 13
delas de Igreja propostos anteriormente.
A explanação das cinco eclesiologias suscita as perguntas
capitais: afinal, qual o genuíno modelo de Igreja? E onde se en·
contra a verdadeira Igreja de Cristo?
Vejamos como A. Oulles responde sucessivamente a estas
interrogações.
-497-
14 cPERCUN'I'E E RESPONDEREMOS" 240/1979
"Para Incorporar os vllorH Ixlstentes nos viri05 modelos, o tipo li·
cramental de ecteslologil t_m, I meu Vir, mérito especial. Preservlo valor
dOI alimentos Institucionais porque I estruturl oficial da Igreja lhe confl'
ra contornos cllros e vidvels, de sorte que podl ser um sinal v(vido, Preser·
VI o vllor comunitirlo porQUI, se • Igreja nlo fosse uma comunhlo de
.mor, nIo pod"ia ler um sinal autintico de Cristo. Preserva a d imensfo da
prodamaçlo porque, 56 confiando em O'ilto e rendendo-Jhe testemunho,
quer seja a mensagem bem acolhida, quer nlo, pode a Igreja apontar eficaz·
mente m1 Cristo o portador di graça redentora di Oeus. Preserva este mo·
dela, final".nt •. I d imenslo do sen'iço secular, porque sem ele nio pode·
ria a Igreja ser um sinal da Cristo, o servidor" (p, 2251 .
n981.
Logo a seguir, cont inua o te xto conciliar:
" Eua é • única Igreja de Crino que no Símbolo confessamos una,
sa nta, católica e apost61ica e que nosso Salvador depois de sua res.surreiçio
entregou a Pedro para apascentar (Jo 21,171, confiando'a a ele e aos de·
mais apóstolos para a propagarem e regerem (cf. Mt 28. t 855) , levantllndo·a
para sempre como coluna e fundamento da verdade (1 Tim 3,15). Esta
Igreja. constituidil I! organilildil nHte mundo como uma sociedade, subsis-
te n. Igreja Católica, governilldil pelo sucessor de Pedro I! pelos Bispos em
comunh'o com e le, embora fora de sua vis(vel eitrU1Ufil se encontrem vj.
rios . Iementos de santifieaçio e verdade. Estes elementos como dons pro·
pr ios i Igreja de Cristo, impelem' unidade catolica " Ob.J.
Os comentadores deste texto - e Dulles com eles - obser-
vam o emprego propositado do termo " subsiste na Igreja Cat6li-
ca", em lugar de "é a Igreja Católica". Note-se que o verba é se
encontrava nas redações iniciais desta passagem, tendo sido in-
tencionalmente substituldo por "subsiste na Igreja Católica",
-499
16 · j')o;ltt; UNTt: ..: 1(fo;SI'ON IJI!:Jt~M(ll;j. 2-l0/ 197!.1
o verbo subsiste , no caso, indica que a Igreja de Cristo se realiza
na Igreja Cat61ica Romana (governada pelo sucessor de Pedro)
e, ao mesmo tempo, permite dizer que, fOra da Igreja Católica
Romana, se encontram elementos da ver'dadeira Igreja de Cristo.
Com outras palavras: a verdadeira Igreja se realiza plenamente
na Igreja Cat6lica Romana e parcial ou incompletamente em ca·
da denominação cristã (protestante ou ortodoxa) que contenha
algum ou alguns dos elemen.tos constitutivos da Igreja de Cristo.
Vê-se. pois, que o modelo da Igreja de Cristo se realiza dentro
dos moldes das comunidades cristãs em graus diversos: dentro
da própria Igreja Católica Romana , se existem todos os elemen·
tos divinos constitutivos da Igreja , pode haver maior ou menor
fidelidade dos católicos a esses elementos divinos; pode haver,
sim , uma face humana ora mais ora menos fiel à santidade in·
trrnseca ou divina da Igreja de Cristo. Assim a própria Igreja Ca·
tólica Romana é chamada a renovar constantemente o seu sem·
blante humano. a fim de não trair a presença de Cristo que ela
deve transmitir ao mundo.
Eis, em grandes linhas, as teses do livro de Avery Dulles
que nos propusemos apresentar. Resta dizer uma palavra de re·
fledo sobre os méritos dessa obra.
2. Avaliando a obra•..
o estudo de Dulles nos sugere três considerações principais:
1) O autor goza de notável capacidade de esquematizar ou
de compreender elementos múltiplos e diversos em síntese har-
moniosa. Isto torna a leitura do livro profícua e esclarecedora.
Precisamos de s(nteses. que relacionem entre si elementos dos
quais vamos tomando conhecimento isoladamente, sem perce·
ber de imediato o fio condutor que os perpassa.
Verdade é que toda esquematização corre o risco de ser ar·
tificial ou de enquadrar violentamente em modelos realidades
que ultrapassam os termos desses modelos. O pr6prio Dulles re·
conhece que a Igreja é um mistério ou que ela transcende, pela
riqueza de sua vida e de seu potencial, os limites de qualquer es·
quema dentro do qual a queiramos emoldurar. - E por isso que
se deve ler o livro de Dulles de modo a nlo isolar as respectivas
frases ou seçções; antes, tenha ·se sempre em vista a coneluslo
final do autor (cap. 12: Avaliação dos modelos, pp. 216·231),
Que, aliás, vai enfatizada nas linhas abaixo.
- 500-
. h IGREJA E SEUS MODELOS_ 11
2) O autor propõe a combinação dos diversos modelos
da Igreja entre si, dando-se prevalência ao modelo " Igreja, sacra-
mento" (p. 2251.
Ora julgamos que Dulles10i um tanto tlmido 80 propor es-
ta afirmativa, Ela podia ser mais acentuada no decorrer da obra,
pois inegavelmente a Igreja é o sacramento que prolonga a en-
carnação do Verbo; por seu aspecto humano, Ela continua a fa-
ce humana de Jesus de Nazaré, face através da qual se exprimia
e comunicava a realidade divina do mesmo Senhor Jesus: assim
também pelas estruturas sensfveis da Igreja (no que estas têm de
essencial). transmite-se a graça, que santifica os homens. - Por
sua vez, o sacramento da Igreja atinge todo e qualquer homem
mediante os sete ritos sacramentais; na sua insignificância ou po-
breza aparente (água, pio, vj nho, óleo, palavras) , estes expri-
m~.m e infundem valores transcendentais ou divinos.
"iI.
tn di Srblia" fu IÇO lO de Fernando Belo: Ltçtur4111ll16ri.linedel'Eviln-
d. Marc. Pa"e da premisSll (não provada, mas gratuitamente a firmad.)
d. que toda a história é movida por fator" econômicos, pol hicos e ideoló·
gicos; portanto, também. a hist6ria sagrlda I a de Jesus. O autor considera
"mitoI6gicas" todu as paSSlgens da B(bUa que se refiram ao transcenden-
tal; ele 11 elimina como , ct6scimos tardios p'ta poder detectar o cerne da
hist6ria do Antigo Testamento e de Jesus, que seria o jogo de fatores mate·
rialista1- Assim a figura de Jesus é redulida a de um I(der revolucionirio,
que foi morto como zelota; Jesus ter' deiXJdo nlo Uml doutrina, mlS uma
prjxis, que rontinua Itravés da ação revolucionária de seUl disc(pulo5.
O livro de Cl6venot nlo pode ser tido como obra objetiva e científi-
ca, pois paJ].e de prflConceitos. alimentados durante todo o dtcOfrtf do es·
tudo apresentado. O autor nio conheCI iI bibliografia referente a S. Mucos
nlm mesmo estudou suficientemente a que se refere aos livros do Antigo
Testamento. Na verdade, o primeiro cuidado de qualquer int4rprete de
dlterminado teltto "' de ser o de reconst ituir o ambiente e a mentalld.de
dois) respectivobl autores. Se não proeedeassim, o Htudioso faz do texto
em pauta um mero prHexto pua expor as SUiS idéias pes.soais. .: o que 51
d6 no caso de M. Oévenot.
All m do mais, observamos Que o livro em foco est' mal traduzido,
revelindo desconheçimenlO da tem;ltica por parte do tradutor e certa des·
C150 por parte da Editora.
• • •
Comentário: As correntes de pensamento moderno têm-se
projetado sobre as Escrituras Sagradas, procurando enfocá·las a
partir de novas e novas premissas... Da( a crescente bibliografia
co.ntemporânea que propõe enfoques estruturalistas, psicanalis·
tas, materialistas da B iblia .. . Ora o livro de Michel Clévenot 1
pretende fazer eco ao de Fernando Belo: Le<:ture matérialiste de
pretende fazer eco 80 de Fernando Belo: Lecture mat'rialirte de
l'Evangile de Marc ( Ed . du Cerf. Paris 1975). No prefácio. F.
nando Belo é austera e difícil, desconcertante pelo seu ecleticis'
mo metodol6gico (cf. p . 14); por isto diz que Miehel Clévenot
tencion,a propor um,a apresentação breve, simples e acessível do
enfoque materialista da Biblia.
1 MICHEL. CLt!VfNOT, EnloqlfH n'I • • .,I.UIIII d. Sibila. Ed. PaI. TIN •.
RIDde J.n'iro '919, 140.208 mm, 164 pp.
- 502
~ ENFOQUES MATERIAUSTAS DA BIBUA _ 19
o livro de M. Clévenot tem·se difundido nos meios estu·
dantis teológicos do Brasil. Por ser pioneiro em nossa bibliogra-
fia, tem despertado a atenção. Eis por que lhe dedicaremos as
páginas subseqüentes, resumindo o conteúdo da obra e adicio·
nando alguns comentários.
- 503-
20 ·PIi:IH.iUNTI!: lo': H.ESPONOEHEMQSM 240/ 1979
Mais precisamente diz Clévenot: os redatores dos escritos
iniciais da B(blia compuseram sob Salomão o código dito Javis·
ta (jeovist8, segundo o tradutor brasileiro do livrol ou J. Este
código procurou harmonizar as facções dos israelistas do Norte
{oriundas de José e Efraim) com as facções do Sul de Israel (ori·
undas de Judá); em vista disto, esmeraram·se por mostrar artifi·
ciosa ou forçadamente que todas tinham os mesmos ancestrais
(Abraão terá sido um persongem lendário 1), com direito ã posse
da mesma terra e ao cumprimento das mesmas promessas; terão
experimentado a mesma libertação do Egito, cuhuando o mes·
mo Deus e segu indo uma mesma política . . . (cf. pp. 40·441 .
O código E, escrito no reino do Norte após a mone de Sa·
lomão e o cisma das dez tribos 1930 a,C,), exprime a mentalida·
de antidav(dica da população da Samaria e exalta os persona·
gens tlpicos das tribos setentrionais (José, Efraim, Manassés,
Elias... 1.
o c6digo deuteronômico O (ot 12-26) deve ter sido pro·
duzido na região do Norte de Israel, mais ou menos na mesma
época que o documento E. Visto que teve origem em ambiente
de camponeses, exprime a consciência de que a chuva e o sol são
uma dádiva . A própria vida é, antes de mais nada, uma dádiva;
em conseqüência, a vida social ou a possibilidade de vida pacata
entre os clãs se baseia na dádiva reciproca. Introduziu-se assim a
filosofia da dádiva em Israel, que Clévenot opõe à fil osofia capi·
talista da troca ou da venda.
Finalmente o documento P (sacerdotal) se deve aos sacer·
dotes que reelaboraram as tradições de Israel durante o exUio
(587-538 a.C.) e depois. Esses autores acentuaram fortemente a
idéia de pureza ritual e exprimiram uma concepção mágica do
universo; a vida e a morte estariam ligadas às potências misterio'
sas que governam o mundo.
Quase todos os demais escritos bíblicos e ap6crifos de Isra·
el ter·se-ão formado em época posterior ao exílio, dando expan·
são aos sentimentos do povo de Israel submetido ao jugo de do·
minadores estrangeiros. Os sacerdotes, que estavam no poder em
Israel após o exílio, transformara m os escritos hist6ricos e legis·
lativos de Israel em " lei de Deus." ou palavra sagrada, caída do
1 AlLrr1'llçlo gr. tui1l, nlo comprovld •.
504 -
(ENFOQUES MATERIAUSTAS DA BJBUA :o 21
céu . - Ora a leitura "idealista" da B(blia aceita esta suposição.
propalada pelos sacerdotes. A leitura materialista, porém, remo-
ve tal hipótese: ela afirma que os escritos de Israel não são mais
do que o testemunho de grupos sociais que pugnavam entre si
numa luta de classes. Portanto, através da leitura da B fblia
desembaraçada das explicações dadas pela classe dominante dos
sacerdotes e idealistas, o estud ioso descobre a real e autentica
hist6ria de Israel nos seus n(veis econômico. pai itico e ideol6gi·
co (cf. pp. 29,.1.
Afirma Clévenot :
" Uma dlS metas do nosso trabalho 1& desarmar a leitura idealista da
B(blia. Nós o fazemos a partir de lugares Imaterialinas) de luta atuais. 8 SO·
bretudo con1fa O oi parelho polCtico eclesiAnico" (p. 301.
2 OMnDt julga QU' nJei epi16diot $lo ml,glógic05 por ClU" d. flgUrl di
Jgfg «no
Bltinl .,.1.
das,rlo. YI'I11do d •
1........101- Inftmo)" . nO qu".,..ec.m de ce"""o••• , • POr QUSI do
O EIp1rll0 . os 80'110. I Sul.
nqu"".
" cfu-
- 506 --
_ENFOQUES MATERIALlST AS DA BIBLIM 23
- 507 -
24 • PEUGUNTE E HESPONOF.Rf':r.1OS'; 24011979
reição em Me significam apenas que, após a morte, "o corpo au-
sente de Jesus continuará a transmitir sua força através do relato
de sua prática, continuando pelos discípulos entre os pagãos"
(p. 130).
" Por c:onlevul,n., Un'III Ilit urII m.ttrllh... nunu pocMo _ lesar'" d. UmII
ctrt. p~tka «on6ml~ , polita li~ .... E n. ft'IIIdldl Im qui Iutlmol poli"
luprimir I 1Od1dld. de c l _ li I 'JCptor.çSo dO halMm pelo hei",,", qUI 'ImoS
VOnlldt di reflr lind. hgJ, I m dia uns I... tos OM' velo • lU! um destlo QUI foi
IUfid."ttmentt fo". poIIrl , fron llr. mon." lp. '431,
- 509-
26 l'E llta:N n : E HES I'()rJl)l::!tp UJS :.!·11)/ 191\.1
poucos descoberta. O cientista tem que considerar o seu tema
de estudo com a mente destituídade qualquer tese preconcebida.
Ora não é o que se dá no caso de M. Clévenot. Este se volta
para o Evangelho e para as Escrituras e m geral no intuito de en·
quadrar os escritos sagrados dentro de categorias "pré-fabrica-
das", Com efeito; segundo a escola materialista, toda a história é
o resultado da luta de classes, movida por fatores econôm icos,
pai iticos e ideológicos : " T oda sociedade (ou formação social) é
um sistema complexo de trocas a três níveis : econõmico·políti·
co-ideológico" Cp. 34) ,
Ora tais premissas não são demonstradas pelo autor (pode-
riam mesmo ser contestadas por outros), mas são assumidas por
Clévenot de maneira dogmática e rígida para interpretar as Es·
crituras.
Uma tendência hermenêutica bfbl ica procura, antes do
mais, entender o texto sagrado a part ir da mentalidade dos auto-
res que o compuseram , Orã os escritores bíblicos t inham não 50'
mente interesses econômicos e polhicos, mas possuíam também
concepções d e fé e de religião muito vivas, Sabe-se que todos os
povos na antigüidade eram dotados de profundo espírito religio-
so (embora, por veles, aberrante ou ma l orientado) . Especial-
mente o povo de Israel, através de todos os tempos, se mostra
como povo religioso. Com efeito; Israel era uma nação pequena,
destituída de poderio mil ita r ou científico na era pré·cristã; não
obstante, desempenh ou papel importantíssimo na hist6ria ante-
rior a Cristo, porque foi o baluarte do monoteísmo em meio a
povos politeístas ou pagãos; o que fez a ide ntidade e a grandeza
de Israel no mundo pagão, foram as suas elevadas concepções de
Deus, de ~rovidência , de salvação. de história, etc .1 Foi também
po r causa das suas crenças religiosas que Israel cultivou a histo·
riografia como nenhum outro povo do Oriente antigo; <I histo·
riografia de Israel, relativamente concatenada e fiel, exprimia a
consciência israelita de que a hist6 ri a é o cenário de longa inter-
venção de Deus neste mundo,
Quem não compreende isto, arrisca·se a passar ao lado dos
escritas sagrados de Israel sem penetrar no seu àmago.
1 Aliás . !)Ode'se d iur Que Ilé hojl t a rel igilo QUI mlll nltm I ,,~el n, Sul id.n.
I;d..:ll inconfundlvol: d ispI ..OI pilo mundO Inui,o. fal.rodo • I fr>gu lI d o pollO com O
qual vivem. OI judeus co nse,vl m iI conse i/mci. de lu. I;ngu la ridadl po, cau.. do pll'
t,imbl"llo religioso flu e. e~pl lciu ou impl ici tilfTlll"". ,tel estimam I cultuam.
- 5 10 -
· ENFOQU ES MATERIALISTAS DA BIBUA . 27
2.3. Bibliografia
Os dizeres acima são corroborados pelo exame da biblio·
grafia aduzida pelo autor. Este pretende tornar mais acesslvel o
pensamento de Fernando Belo, pioneiro dos estudos materialis-
tas sobre S. Marcos. Cita, n30 raro, Marx e Engels; parece, po-
rém, desconhecer, por completo, os estudiosos Que se consagra-
ram na exegese de Marcos, entre os quais sobressai V. Taylor na
obra The Gospel According to St. Mark . . London 1955. Aliás,
Clévenot pretende ter descoberto S. Marcos; por isto se desliga
de todos os estudos anteriormente feitos sobre o assunto. Tal
- 511 -
28 - I'EIV:I/N'I'E J.: RESI 'VNPEIlI:.:MOS. 2.fOIl!)??
posição resulta de um "8 priori", que, como dito. não é cientifi·
co.
2.4. Pontos particulares
Convém ainda mencionar a forma como o livro é apresen·
tado em português. Oir·se- ia Que o tradutor não conhecia o as·
sunto em pauta, de modo Que entregou ao público um livro mal
apresentado. Tenham-se em vista os seguintes tópicos ;
P.49: "Crianças de Israel" traduz "enfants d'!srael" • fi·
lhos de Israel.
P.9S: o corpo de Jesus foi untado , quando, na verdade, se
diria ungido.
P.78: o autor não traduziu diacres (. diáconos), mas dei-
xou este vocábulo estranho no texto portugues.
P.77 : os filipenses ('" habitantes de Filipos) são apresenta-
dos como filipinos (adeptos do rei Filipel_
P.78: lê-se "presbíteros, de onde vem a palavra padre". Na
realidade, de presb)tteros faz·se a palavra prAta francesa, não
porém, padre. O vocábulo padre vem do latim peter.
P.78: Flavia Domicilia aparece em lugar de ... Domitila.
P.71: lê-se "reino de Nero" em lugar de "reinado de Nero",
visto que o francês s6 tem o vocábulo régnepara significar reino
e reinado.
P.54: Cirus, em lugar de Ciro.
P.57: Titu'S, em lugar de Tito.
Verdade é que estas minúcias não afetam o conteúdo da
obra, mas são ind ício de que o tradutor e os editores não se im-
ponaram com o caráter científico dessa publicação; n30 tiveram
a preoc upação de torná·la uma obra de peso, mas a entregaram
ao público como um I ivro barato de vulgarização mal editado.
Um estudioso sério tem o direito de exigir que as obras que pre·
tendam merecer atenção, sejam devidamente apresentadas.
2.5. Visão de fê
Por último, observamos ser inconcebrvel para um fiel catb-
lico uma leitura materialista do Evangelho ou da Bíblia. O mate·
rialismo nega Deus e os valores da fé, relegando-os à categoria de
mitos e ideologia (- explicações subjetivas produzidas por popu·
lações ignorantes) . Ora, para o cristão, a existência e a revelação
de Deus são as primeiras de todas as premissas; por conseguinte,
- 512 -
_____. -''~E~
N~"~
O~(I~lI~.~~·~'~I~A~
'r~"~It~IA~I~
-I~
S~T~A~
S~I~)A~I~II~"~L~IA
~'______~29
..
se Quiser optar por uma leitura materialista da Siblia. ou deixa-
rá de ser cristão ou não estará sendo um "leitor materialista" ,
Mais: para o cristão. a Bíblia só tem sentido na medida em
Que é a Palavra de Deus. Gue manifesta aos homens o seu des"g·
nio de salvação. O cristão que não se disponha a descobrir i$1o
na Siblia. não precisa de ler as Escrituras. Diríamos mesmo:
... não de"eria ler as Escrituras. caso tencionasse fazê·las um
manual de praxis marxista .
Esta pode ser arquitetada sobre premissas pr6prias. de mo·
do a não necessitar do subsíd io das Escrituras; estas são violen-
tadas e deterioradas, se o estud ioso as analisa em conte xto mate-
rialista.
São estas algumas ponderações que nos ocorrem a propós.i·
to do livro de M. Clévenot, que carece das. mínimas. condições
para poder fazer frente aos grandes comentârios bíblicos até ho·
je publicados.
Bibliografia :
BOF F, CI., Foi Jesus revolucionário? in REB 31, 1971 ,
97 ·118 ..
CULLMANN, O., Jesus e os revolucionários do seu tempo.
- Ed . Vozes, Petr6polis, 1972.
DE LA CALLE, FR ., A Teologia de Marcos. - Ed . Pauli·
nas, São Paulo 1978.
DE VAUX , R., Les institutionsde l'Ancien Testament •. 2
vais. - Ed . du Cerf, Paris 1958.
GONÇALVES, O. L., Cristo ea contestação polltica.
Ed . Vozes. Petrópolis 1974.
GRELOT, P.• Introduçio à 8fblia. - Ed . Paulinas, São
Paulo 1971.
HENGEL. M., Foi Jesus Revolucion~rio7 - Ed. Vozes, Pe·
tr6polis 1971.
KIPPER, J.B., Atuação poUtica e revolucionAria de Jesus?
in Perspectiva TeolÕQ.ica., ano X, nC? 21. maio·agosto 1978. pp.
275·306,
LAPPLE . A.• Mensagem b(blica para o nosso tempo. Ed .
Paulistas, Lisboa 1968.
TAYLOR , V., The Gospel According to St. Mark. London
1952.
TROCME. A., Jesus Cristo e 8 revolução nio·violenta.
Ed. Vozes, Petrópolis 1973.
-513 -
Enfoque novo:
1 Ali'I, algo d • ..."lllutnl1 11m IICOnlld d o nll "":: 01., "\lII' r l.Ull" I ,,"U 1U'
'''''111, como SI podl" d"P_der do anlgo d. PR tobre "Enloqu.. ITIIIt .... i.lln.. da
n.,,,
Slbll." 'IElculo.
- 514 -
.. Q ":VANGELHO A LU?, pA PSICANÁLl!:>Jo;- 3\
1. Ponderações gerais
Gérard Séverin apresentou a Françoise Dolto alguns episó·
dias do Evangelho a ser focalizados à luz da psicanálise. a saber:
A Sagrada Família fLc 1.26-38; Mt 1.18·25). o encontro de Je·
su.$ no Templo aos doze anos (Lc 2.42-52), o modelo dos peque·
ninos{Mc 10,14$; Mt 19,45). as bodas de caná (Jo 2.1·11),
Jesus pregado à cruz (Jo 19,33·37; Mt 27,45-501. a ressurrei-
ção do filho da viúva de Naím (Lc 7,11·16) , a ressurreição da
filha de Jairo (Mc 5.21·34). a ressurreição de Lázaro (Jo 11.1-44),
<l unção de Jesus em Betânia {Jo 11.45·53; 12.1 ·81 eo Bom Sa·
maritano (Lc 10.25-37) .
Quem lê as explanações de Françoise OOlto, tem a impres-
são de que o texto do Evangelho se torna. para essa autora.
pretexto .... pretexto para desenvolver considerações p$icana-
liticas. Na verdade, Françoise Dolto e Gérard Sévérin, em nota
preliminar (p.51, declaram que não tencionam pronuneiar·se
sobre a historicidade das narrações do Evangelho. Apenas se
interessam pelas cenas do Evangelho na medida em que estas
parecem propor simbolicamente situações psicológicas, que
Françoise Dolto enquadra dentro das teses da psicanálise.
A autora não se preocupa com as in tenções dos evangelistas,
nem com a problemâtica dos leitores imediatos ou as
circunstâncias de origem dos relatos evangélicos.... elementos
estes indispensáveis para que se possa entender o Evangelho;
a sadia interpretação de textos ou hermenêutica tem, como
primeira norma, a de se reconstruir o ambiente Que deu origem
ao texto em foco. Visto que Françoise Dolto não o fa z. deve-se
dizer que as suas considerações nada têm que ver com o conteú'
do dos Evangelhos. Um estudioso d igno deste nome jamais
dirá que as reflexões da autora constituem a exegese ou o
comentário do texto sagrado. Tais reflexões derivam·se de
teses freudianas e têm como base o pansexualismo ou o
pressuposto de que todas as expressões do ser humano são
motivadas por impulsos sex.uais. Ora ma tese é arbitrária e fal-
sa. pois no ser humano há, sem dúvida, tendências que não são
erotizantes ou libidinosas nem mesmo indiretamente (embora
tudo o que a pessoa humana faz. tenha o ca ráter da respectiva
masculinidade ou feminilidad~) .
- 515
32 I'J-:IlO UNTt: l:: IU;SPONIJEItEMOS .. 240/1979
Compreende-se, pois, que o texto do Evangelho. lido a
partir de premissas a ele estranhas venha desfigurado.
Para ilustrar o trabalho de Fr. Dolto, tomamos a liberdade
de lembrar o seguinte :
Sabe-se que muitas pessoas simplórias interp retam deter-
minados textos como se tivessem sido redigidos de acordo
com as suas categorias de pensa mento pessoais. Assim pro-
cedem, por exemplo,
- aquele qu e, lendo bois ' '" bosques~ num texto frances.
julgu e tratar-se de bois em português;
- aquele que traduza o vocábulo italiano guardare
l-olhar) por guardar;
- ... ou subire f-sofrer) por subír,
- ." ou saUre (- subir) por sair,
- ou apposta( .. exatament e) por aposta,
.'0
- 516 -
. 0 EVANGELHO À LUZ DA PSICANÁLISE" 33
quistar seu destino fecundador. Ora , diz Fr. Oolto, "Jesus reve·
la c dá a esse jovem, através de seu apelo imperativo e público,
a estatura de homem livre, estimulando:o a construir uma nova
vida num sociedade perplexa ...
Desperta esse coração abortado para a sua virilidade cor·
poral. Todo jovem tem esse conhecimento, que é o próprio
testemunho de seu sexo, pois o sexo é visível e se ergue na sua
carne. Mas que fazer quando nenhum homem o inici a na lei da
carne?" (p.87) .
Se O jovem de Naím fosse sadio. ele devia ter fugido e
abandonado a mãe, em vez de se tornar o seu arrimo ou o bácu·
lo da sua velhice (cf. p. 93 e 85) .
Não discutiremos o conteúdo das afirmações de Fr. Dolto.
Interessa apenas salientar que a interpretação da autora está
longe de traduzir o genuíno significado do Evangelho, como a
tradução guardar está longe de exprimir o significado do italiano
guardare.
- 517 -
34 · PERGUNTl: E RESPONDEREMOS.\) 240/ 1979
- 518 -
.0 F.:VANCELHO A LUZ DA PSICANA LISE_ 35
3, Conclusão
Não há necessidade de comentários para evidenciar quão
despropositada é tal hermenêutica , A psicanálise lida com sim-
bolos. Por isto Françoise Dolto faz do Evangelho um repert6rio
de símbolos psicanalíticos... Melhor fora que se servisse de ou·
tro livro para tal fiml
Todos os capítulos do livro desenvolvem-se no mesmo es'
tilo... Principal mente o cap o 1!', que trata da Sagrada Família.
se presta a estranhas e obscuras d ivagações da parte da autora.
Em srntese. o livro poderá parecer interessante aos culto·
res da psicanálise por causa da criatividade e originalidade
que ele exprime, Objetivamente falando. porém, é obra que,
embora trate dos Evangelhos. nada significa para a compreen·
são e a exegese do texto sagrado. Achamos, pois. estranhas as
afirmações encontradas nas orelhas da obra em foco :
519 -
Um. reformul.çio hist6rica:
• •
- 520-
, WAOE MtDlA : o QUE NÁO NOS ENSINARA!\'" _37 _
linhas mais características desse estudo, acC'mpanhadas de con-
clusão final.
- 521 -
38 I'I.;j{C;UNTJ:o.: ...:: Il(O;SPONIJJ:o.:Ht:MOS~ 240/ 1919
- 522 -
Jl)A!)": M!=:IlIA : o QUE NÁO NOS ENSINARAM ~
2. 1. Familias reais
- 523-
40 . PI!:RGUNTE J:: RESPONDEREMOS, 240/ 1979
dos reis. A última rainha a ser coroada foi Maria de Médícis na
véspera do assassinato do seu marido Henrique IV. No século
XVII a rainha desaparece literalmente da cena em proveito da
"favorita"l
Em sua época, Eleonora de Aquitânia (t 1204) e Branca de
Castela (+ 1252) exerceram autoridade sem contestação nos ca-
sos de ausência do rei, doente ou morto; tiveram suas chancela-
rias, suas alfândegas e seus setores de atividade pessoal.
A primeira disposição que afastava a mulher da sucessão
ao trono foi tomada por Filipe IV, o Belo (1285 - 1314), sob
a influência de juristas romanos. Na verdade, o Direito Romano
não era favorável ã mulher nem à criança; era um Direito mo-
nárquico, que exalte:va o patariamilias, pai, proprietário, chefe
da fam ília com poderes sagrados, $em limites no tocante aos
filhos (tinha sobre estes direito de vida e de morte) e â esposa.
Note·se ainda a propósito que somente a partir de fins
do século XVII a mulher toma obrigatoriamente o nome do ma-
rido.
2.2. A Igreja e a mulher
- 525-
· PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 240/ 1979
e
nores relativos li vida cotidiana da mulher medieval. surpreen·
dente o quadro que se delineia a partir da concatenação desses
dados.
Assim, por exemplo, as mulheres votavam. Por ocasião
dos Estados Gerais de 1308 as mulheres são explicitamente cita·
das entre as votantes em diversas partes do territ6rio francês,
sem que isto venha apresentado como usO particular do lugar.
e conhecido o caso de Gaillardine de Fréchou, que, diante de
um arrendamento proposto aos habitantes de Cauterets nos
Pireneus pela abadia de Saint·Savin, foi a única a votar NÃO,
quando todo o resto da população votou SIM.
Nas atas de tabelia~s é muito freqüente ver uma mulher
casada agir por si mesma: abre. por exemplo. uma loja ou uma
venda, sem ser obrigada a apresentar autorização do marido.
Os registros de impostos. desde que foram conservados (como
em Paris, a partir de fins do século XII H, mostram multidlo de
mulheres a exercer as funções de professora, médica, boticá·
ria, estucadora, tintureira, copista, miniaturista, encadernadora,
etc.
Somente no fim do século XVI , por decreto do Parlamento
francês datado de 1593, a mulher foi explicitamente afastada de
toda função do Estado. A influência crescente do Direito Roma-
no finalmente confinou a mulher às suas tarefas peculiares de
cuidar da casa e educar os filhos. No século XIX, mediante o
Código de Napoleão, o processo de despojamento da mulher
deu novo passo: deixou de ser reconhecida como senhora dos
seus próprios bens. e, em casa mesmo, passou a exercer papel
subalterno.
A reação a tal estado de coisas tem ocorrido nos últimos
tempos, ... mas de maneira decepcionante, pois a mulher parece
preocupada exclusivamente na conquista de equiparação ao ho-
mem: quer imitar o homem, exercer as mesmas funções que es·
te, adotar os hábitos do seu parceiro. sem se questionar a respei·
to do que ela reproduz, ou sem pensar em salvar a sua própria
identidade e originalidade I Ora isto prejudica n50 só a mulher,
mas também a própria sociedade , pois esta precisa de valores
peculiares da mulher e da feminilidadel
Passemos a outro caphulo do livro em foco.
-526 -
cIDADE Mr:DIA: O QUE NAO NOS ENSINARAM, 43
3. O se",. da globo
Tal tema é abordado no caphulo V, que traz o título
"Rãs e Homens".
Fala·se da escravidão vigente na Idade Média. sem levar em
conta que a escravidão existente no Império Romano foi desa-
parecendo a partir do skulo I V; cedeu a um regime diverso do
da escravidão antiga. Infelizmente, foi restaurada no século
XVI. na5Colônias da América.
A instituição medieval do servo da gleba nio pode ser com·
parada à escravatura dos tempos romanos e coloniais, pois ela
respeitava o servo (servus) 1 como pessoa, reconhecendo·lhe
direitos. A origem de tal regime é a seguinte:
Na época das invasões bárbaras. muitos pequenos eampo-
neses viam-se constantemente ameaçados em suas terras. Dal o
contrato que faziam com grandes senhores aptos a defendê-Ios
mediante tropas e armas. Os camponeses se obrigavam a morar
na propriedade do senhor e a cultivá·la. Era-lhes proibido deixar
a terra, como também era vetado ao senhor expulsá·los. Assim
os pequenos lavradores usufruiam de certa segurança, num pe--
rlodo de instabilidade; eram·lhes reconhecidos os direitos de
se casar e fundar famflia. de transmitir a terra a seus filhos
depois da morte, assim como os bens que pudessem adquirir ...
O senhor feudal tinha conseqüentemente suas obrigações para
com o servo; não era proprietário no sentido do Direito Roma·
no, que reconhecia aos senhore-s o direito de usar e abusar
(jus utendi et abutendi). Donde se vê que o regime medieval
diferia essencialmente da escravatura, que feria a dignidade da
pessoa humana, pois o escravo era tratado como coisa, $Ujeita
a ser comprada e vendida a critério do patrão .
O estudo dos cólrtulários e arquivos medievais empreendido
por JaCClues Broussard 2 permitiu reconstruir a história de ai·
guns servos da gleba. entre os quais Constant Le Roux. que
passamos a apresentar:
1 Nlo poucos historiadores traduzlm ...... 1.11 por escravo nos 1extO$
do seculo XII - o que reyela e gera grave mal·entendido.
2 l a vl •• n AnJou du IX·.u Xliii tJkle, Im LI MOVln Ate, 1. LVI, 1950, W- ~ea.
- 527-
44 , PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 240/1979
Constant era servo do sennor de Chantoceaux (Anjou)
nos últimos anos do século XI. Trabalhava com afinco. As Reli-
giosas do mosteiro de Ronceray lhe confiaram a guarda de um
celeiro perto da igreja de Saint-Evroult e de vinhedos no lugar
chamado Doutre. Depois a condessa de Anjou o presenteou
com outro celeiro, peno das muralhas de Angers. As monjas de
Aocenray, tendo recebido como legado uma casa, forno e
vinhedos situados perto do celeiro de Constant. resolveram en·
carregá-lo do conjunto , a titulo de renda vitalícia; pouco depois.
aumentaram-lhe o lote. juntando-lhe as terras do Espan.
- Constant casou·se; cansado de ser trabalhador meeiro. acabou
por fazer um acordo com as Religiosas. segundo o qual as terras
lhe seriam arrendadas. Aumentou ainda seu campo de trabalno,
ertendendo·Q a um vinhedo em Beaumont e duas jeiras de prado
na Roche--de·Chanzé. Mais tarde, não tendo filhos, conseguiu
das monjas que suas terras foss.em herdadas por seu sobrinho
Gauthier, ao passo que sua sobrinha Isolda se cas3ria com o
guardador do celeiro da Abadia, Rohot. Por fim, como aconte'
cia nio raro na época, Constant se fez monge na Abadia de
Saint·Aubin e sua mulher entrou como religiosa na de
Aoncerav.
A pesquisa dos cartulãrios revela Que o caso de Constant
não foi isolado nem singular. Existe, por exemplo, uma certidão
do fim do século XI (1089 - 1095) que refere como dois ~ervos,
chamados Auberede e Aomelde, compraram sua liberdade em
troca de uma casa que pO$$uiam em Beauvrais, no lugar do mero
cado. Este fato dá a ver que os servos tinham a possibilidade de
possuir bens próprios.
Compreende-se , porém, que a condição de servo da gleba,
vantajosa na época t:Je sua origem, se tenha defasado com o
decorrer dos séculos. O camponês podia considerar válido o fato
de viver em propriedade da qual não o poderiam expulsar; mas,
desde que encontrasse meios de garantir sua própria subsistência
com autonomia, preteriria a plena liberdade; esta lhe permitiria
percorrer estradas e fazer comércio. Foi o que aconteceu princi·
palmente na época da expansão urbana (século XI). Os canu·
16rios apresentam numerosas certidões de libertação , que chega·
vam a beneficiar centenas de servos de uma só vez.
A propósito observa 1-1. Pernoud :
- 528-
~ IDADE MeDIA: o QUE NAO NOS !o":NSINARAl\h 45
''Ti .... ocasião d. recolher as confidçencias de um velho operário
agrfcola a quem a idade nio permitia mais trabalhar e que ia acabar ~us
dias num asilo: 'Trabalhei esta terra toda a minha ... ida sem ter um metro
quadrado de meu'. Comparando-o lO sel"Jo medilNal, sua sorte pareceria
infinitamente pior. ServO do senhor, em uma propriedade ele teria assegu·
rado o direito de Ir t.rmirtar I SUl ... ida; nada lhe pertencia propriamente,
mas o usufruto nio lhe podia ser retirado ___ Ele tinha com a terra a mesma
relação que o própriO senhor : eue nunea possuia a propriedade plen • .
como n6s a entendemos Itualment$:'" : ele nlo pode vender ou alienar
senio os bens secundários Que recebeu por hennça pe5soal. mas sobre o
bem de raiz só lem usufruto" (p. 71 !1 .
Foi no século XVI que infelizmente se restaurou o regime
da escravatura romana, que a Idade Média não conheceu, e que
persistiu até o século passado ape5ar dos protestos de frades do·
minicanos como Bartolomeu de Las Casas e Vit6ria .. .
Vê-se, pois, que, sob o aspecto focalizado, a Idade Média
está longe de ter side obscurantista ...
Vem agora a Questão de
4. Heresias e Inquisição Medieval
("O Index Acusador", c, VII)
o tribunal da Inquisição vem a ser outro motivo de acusa·
ção aos medieva is.
Régine Pernoud , sem deixar de reconhecer fraquezas hu-
manas então verificadas, pOe em foco alguns pontos importantes
para se avaliar O fato da Inquisição.
Os medievais estimavam acima de tud:l (ao menos em teo·
ria) os yalores da fé, coloca ndo-os mesmo acima dos valores fí·
sicos. Além disto. con jugavam entre si os valores profanos e os
sagrados, de tal modo que os desvios doutrinários ganhavam
extrema importância mesmo no andamento da vida civil.
Por co nseguinte. as heresias, na Idad e Média , eram considera·
das como ofensas não só à reta fé , mas também aos interesses
da sociedade em geral.
Ora no século XI começou a aparecer no sul da França e
no norte da Itália uma heresia dita dos cátaros (- puros), que
professava o dualismo; o universo material seria obra de um
Deus mau; somente 05 espíritos teriam sido criados pc r um
- 529-
46 ·Pt-;Rl;UNTE E RESPONDEREMOS~ 240/1979
Deus bom. Em conseqüência, condenavam tudo que se relaciona
com a procriação. a começar pela casamento; os mais autênticOS
dos cátaros viam no suicídio a perfeição suprema .
Os primeiros a combater a heresia catara foram 05 prín·
cipes, 05 nobres e o próprio povo fiel. Assim em 1022 o Rei
Roberto, o Piedoso. mandou queimar em Orléans hereges.
Em 1077 um herege professou seus erros dia nte do bispo de
Cambraia; a multidão de populares então lançou·se sobre ele,
sem esperar o julgamento; encerraram·no numa cabana. à qual
atearam fogo! Em 1144 na cidade de Lião o povo quis punir
violentamente um grupo de inovadores que ai se reunira; o ele ·
ro. porém, os salvou, desejando a sua conversão, e não a sua
morte. En trementes as autoridades eclesiásticas limitavam·se a
impor penas espirituais (excomunhão. interdito ... ) aos cátaros.
pois até então nenhuma das muitas heresias conhecidas havia
sido combatida por violência física. S. Bernardo (+ 1153) dizia:
"Sejam os hereges conquistados não pelas armas, mas pelos
argumentos" (In canto serm o64). -
Era, porém. inevitável que os bispos tomassem parte na
represália aos C.;Iaros. Po r isto em 1184 o Papa Lucia 111. em
Verona, instituiu a Inquisiçiio episcopal , que atribui a aos bispos
a faculd ade de inquir ir os hereges nas paróquias suspeitas;
ajuda·los·iam nessa ta refa os condes, barões e as demais autori ·
dades civis. Em 1231 tal inStituição se tornou mais ampla,
pois o Papa Gregório IX confiou aos frades dominicanos a mis·
são de Inqu isidores: haveria doravante. para cada nação ou
distrito inquisitorial, um In<luisidor.mor, que trabalharia com;;!
assistencia de numerosos oficiais suba lternos. em geral indepen ·
dentemente do bispo em cuja diocese estivesse instalado.
Os efeitos da Inquisição tem sido descritos em termos
imaginiltivos e exagerados... Na verdade, as penas aplicadas
eram a de prisão ou, com mais freqüência ainda, a condenação
a peregrinações ou ao uso de uma cruz de fazenda pregada à
roupa. Nos lugares onde se oncontraram r~istros da Inquisição,
verificou·se que não foram tão numerosas as execuções cepitais
como se poderia crer. Em Tolosa, por exemplo, de 1308 li 1323
o Inquisidor Bernardo de Gui proferiu 930 sentenças, das quais
- :>'10 -
cIDADE MtDIA : O QUE: NAO NOS ENSINARAM. 47
42 eram capitais - o que equivale à proporção de 1/22.
Régine Pernoud observa muito sabiamente que a Inquisi·
ção foi alimentada pela ingerência do poder civil em que$tões
religiosas, Sem querer dncutpar os clérigos que se hajam exce·
dido na repressão da heresia, deve·se registrar a forte influência
do poder régio na conduta severa dos tribunais da Inquisição.
"Era, talvez, inevitávII que Hn qualquer momento fonem insti-
tuídos tribunais regulares, mas esses tribunais foram marcados por uma
dureza particular, em ratão do renascimento do Oireito Romano: as
constituições de Justiniano, realmentl!, mandavam col'ldenar os hereges
à morte. E t para fazê·lo reviver que Frederico li, tornado imperador da
Alemanha, promulga, Im 1224, novai constituições imperiais, que, pela
primeira vez, estipulam, expressamente, a pena da fogue-ira cor'ttta hereges
empedernidos. Assim se ve que a Inquisiçio, no que ela tem de mlls
é frulo de disposi~es tomadas, de in(cio. por um imperador em quem ~
pode encontrar o prot6tipo do "monarca esclarecido", apesar de ter sido,
ele próprio, um c6tico I logo excomungado.
Resta notar qUI, adota ndo a pena de fogo e instituindo como pro'
cedimento legal o recurso ao "braço secular" para os relapsos, o Papa
acentuava ainda o efeito da lagillaçio im~erial e recol'lhecia, oficialmente,
os direitos do poder temporal 1'1111 I'lerstguiçlo Js heresias. Sempre sob a
influência da Legislaç30 imperial, a tortura seri.a aulorizôlda, oficialmente,
no começo do úculo XIII - desde que houvesse o aparecimento de
provas" (p. 102).
Ora as concessões feita s petos Papas aos reis voltaram ·se
contra a própria Igreja. Com efeito, nota R. Pernoud :
"Ora, todo este aparelhamentO de legislaçlo contra a heresia nlo
demorada em ser dirigido pelo próprio poder tampOl'al contra o poder
espirittal do Papa. Sob Filipe, o Belo, iU acusaçCles contra 80nil6cio
VIII, cOl'ltra Bef'nard Saisset, contra os Templários, contra Guicha,d
de TroVH apolim·se neste poder reconhecido no rei para persé9\lir os
hereges. Mais do que num:., • conludo entre espiritual e temporal ;aga
a lavor deste r..1timo. S6 precisemos recordar aqui as conseqüEncias mais
grav": a InquisiçSo do skulo XVI , a panir deste momento s6 nas mias
dos reis e imperadores. iria Ilur um numero de vflimas sem comparaç50
com as do século XIII . Na Espanha, chegar-se·;t ti utilização da Inquisiçlo
contra os Judeus ou mouros, o que equivalia a deturpar por completo
seus objetiVOS" (p. 102) ,
Régine Perncud tem razão ao mostrar que a Inquisiçio n.lo
- 531-
48 · !'!::rtuUNTt: r~ Itl::Sl"ÜNIJEHJ::i\tOS. 210/1979
foi um tribunal meramente eclesiástico. Na verdade, ela teve
origem por convergência do poder eclesiástico com o poder
civil na repressão das heresias; mas nesta aliança o poder régio
foi, aos poucos, sobrepujando o eclesiástico , chegando a mani-
pular a Inquisição para atingir Objetivos políticos.
A autora encerra o capítulo lembrando um fato de sua
experiência:
" Em 1970, uma tranJmisslo de televisão foi consagrada" Cruz
Vermelha Internacional e a suas comissões de investigação nos campos de
concentração. Sw representante foi interrogado por divenos interlocuto-
rH, entre eles um jornalista, Que lhe propôs I seguinte pergunta: ' Nilo po-
demos obrigar os pa(su I aceitarem a comissão de invest igação da O'uz
Vermelha?'
E, como o representante da instituição destacasse que 8S comis·
s6es de investigaçlo não d ispunham de nent1Um meio par. que suas obser·
v.çau fouem registradas, Ob$eTVldas ou sancionadas, que antes essas
pr6prlas comiulies nlo dispunham de nenhum direito de visita formalmen ·
te admitido ou reconhecido por todos, a mesma jornalista replicou: 'Não
se poderiam banir das naçlScs civilizadas as que recuum as comissões de
in\lestigaç&'ol'
Escutando ISU dililogo, com referência li Hist6ria, poder·se·ia
dizer que, em sua ind ignaçl"o, por certo compreens!vel. esta jornalista
acabava de inventlr sucessivamente a inquisição. a excomunhfo e a in·
terdiçlo - porQuI ela as aplicava no dom(nio em Que a concordlincia se
tu unânime, o da proteç'o aos prisioneiros e internados polhicos"
Ip. 107,).
Acrescenta, porém, R. pernoud que não é necessário pro-
curar comparãções de tal t ipo. Em nossos dias, observa a autora,
aplica·se a InQuisicão não aos delitos contra a fé. mas às dissi ·
dencias em relação ã opinião pai itica predominante. " Todas as
interdições. todos os castigos. todas as hecatombes parecem jus·
tificadas em nossos tempos para punir ou prevenir os desvios
e erros quanto à linha polftica . adotada pelos poderes em
exercício. E. na maior parte dos casos. não basta banir quem
sucumbe li heresia pol ltica; importa convencer. Por isto ocorrem
as lavagens cerebrais e os internamentos intermináveis que esgo·
tam. no homem, a capacidade de resistência interior" (p . 1081.
E conclui a a utora:
"Quando se pensa no desperd(cio insensa10 de vidas humanas...
- 532-
. IDADE MEDIA : O QUE NÁO NOS ENSINARAM. 49
pelo qual SI consoliebram as rll'loluç&s sucessivas e o castigo dos deli-
to.s de oplnilo em nosso Hculo XX, pode-se perguntar se ... B noçlo de
progresso nIo se encontra posta em Keque. Para o historiador do ano
3.000, onde estar' o fanatismo? Onde I opresslo do homem pelo homem?
No século XIII ou no século XX?" Ip. 108) .
As ponderações de R. Pernoud merecem atenção... Se
os medievais exorbitaram nas expressões do seu amor às verda-
des da fé, os contemporâneos que os criticam, não têm menos
motivos para se horrorizar do Que em nossos dias vem sendo
cometido em nome dos interesses políticos.
5. A arte medieval
(c. 11 : "oefo rmados e Desajustados")
O termo "Renascimento" (Rinaseita, em italiano' foi uti·
lizado, pela primeira vez, por Vasari em meados do século
XVI . Significava que "as artes e as letras, que pareciam haver
morrido no mesmo naufrágio que a sociedade romana, pereciam
Ireflorescer e, depois de dez séculos de trevas, brilhar com novo
fulgor" (Oictionnaire général des tenres, por Bachelet e Jezo-
bry. Paris 18721.
Assim se manifestava um conceito pejorativo referente ãs
artes e letras medievais. Estas nada mais teriam sido do que
"deformações" e " falta de jeito".
Ora tal juízo não leva em conta objetiva a realidade dos
fatos. Com efeito,
- "o simples bom senso basta para fazer compreender
que o Renascimento n30 teria sido possível se os teKtos antigos
não houvessem sido conse-rvados em manuscritos recopiados
durante os séculos medievais" (p. 19' ... " Para eit~r um exem·
pio, a biblioteca do Monte Saint-Michel , no século XII , continha
textos de Catão, o Timeu de Platão (em tradução latina', diver·
sas obras de Arist6teles, de Cfcero, trechos de Virgílio e de
Horácio" fib) .
- As al1es renascentistas reproduziam e imitavam 0$ mo-
delos antigos numa atitude muito pouco criativa. Os antigos
pareciam ter realizado obras perfeitas, atingindo a Beleza
integral.
- 533 -
Eis, porém, que no setor da ane a admiração nunca de-
ve levar a repetir formalmente o que se admira; a imitação nun·
ca pode ser transformada em lei.
"A vido chhsica que H impôs ao Ocidente, ... nlo admitia outro
esquema. outro critério que nJo fOSH a antigüidade cldsslca. Mais uma
vez, presumlr·se-ia que a Beleza perfeita tinha sido atingida durante o sku·
lo de Péricles e que. por isso, quanto mais nos aproxim6Mmos das obras
daquelil época, melkar atingirramO$ a P.rfeiçSo" (p. 221 .
Em contra'posição, observe-se que "o nome do poeta nos
tempos feudais era trovador, o que encontra, encontrador, ou
seja, inventor. O termo inventar adquire aqui sentido fone, .. .
Inventar é pôr em jogo, ao mesmo tempo, a imaginação e a bus·
ca, é o início de toda criação an ística ou poética. Para as gera-
ÇÕM de hoje, isto parece evidente. Resta saber Que, durante qua·
tro sécu los, O postulado oposto é que se impunha com evidência
semelhante" (p. 26).
A arte medieval , de modo geral, 10.i criativa. Basta lembrar
as magn(ficas catedrais români cas e góticas Que a caracteriza·
vam ... Mas é suficiente também apontar os manuscritos medie·
vais : um simples mapa da época revela a capacidade de criação
do art ista (perfeição da escrita. distribuição de página, selo
de autenticação ... ). Uma letra ornamentada (iluminura) mani·
festa outrossim a criatividade do desenhista ...
5. Conclusão
O livro de Régine Pernoud, embo ra tenha antecessores,
vem em hora oportuna provocar uma revisão do conceito co-
mumente propagada de Idade Média .
Esta é mal entendida, em parte porque a historiografia é
O setor do estudo em que mais dificilmente os pesquisadores
mantêm neutralidade cientlfica. A partir do século XVI certas
correntes de pensamento anticat6licas e anticristãs tiveram in·
teresse em denegrir a Idade Média. Esta difamação nem sempre
fo i objetiva (embora não fosse de todo injustificada , pois tudo
o que é humano, é falho), mas baseou·se fre qüe ntemente em
preconceitos. Seria pa ra desejar que os estudiosos contempo·
râneos se livrassem destes e procurassem apontar outrossim tu·
do que de grande, belo e nubre caracteriZa a Idade Média.
Estêvão Bettencourt O. S. B.
- 53.1
íNDICE 1979
ERGUNTE
e
Responderemos
CONFRONTO
INOICE 1979
(Os nu meros à dirl!lla Indicam respect ivamente Casciculo.
ano de edição e pagina)
c
• CAUCE,. - canção dl' , Chico Buarque .. .. ... . 233/ 1979. p. 217 .
CASAMENTO E REL.AÇO~ PRE - MATRIi\lQ-
NIA I S .................................. . . . 230/ 1979, p . 71 .
CATOLlCIDADE DA ICREJA: como entendê-Ia? 231/ 1979. p. 128.
CATOLICOS CASAOOS APENAS NO FORO
CIVIL .. . ..................... . ...... . ... . 236 / 1979, p. 325.
ctU: qu e é? ......... , ................... . ... . 239/ 1979, p . 46l.
Cle:NCIA, dom do EsplrUo Santo . .. . . . . . .. . . . . 237/ 1979, p.3G9.
CIRURGIA PLÁSTICA E T RANSEXUALIS!\rO 232/ 1"979, p . 155.
CLÊVEN'OT, r.1.: _ENFOQUES MATERIALIS-
TAS DA BlBLIA. . .. ... ..... . . .. . . .. . . .. . . 240/ 1979, p. 502 .
"'COISAS DA VIDA. O NOVO TEST AME NTO
VIVO EM LINGUAGEM ATUALIZADA,. . . 235/1979. p . 256 .
- 536-
INDICE DE 1919 53
o
DECLARACAO DOS BISPOS CHILENOS SOBRE
O SACRAMENTO 00 MATHIMONIO .... . 23211919, p. 169 .
DESQUlTE E FILJ-IOS . ........... ........... . 230 / 1979, p. 82 .
DIALDGO ENTRE A IGREJA CATOUCA E AS
COMUNIDADES ECLESIAIS NAO CATO~
L1CAS .... , .............................. . 231/1919, p, 125 .
DIREITOS DA CRIANÇA : quais sAo? ...... , .. 237/1979, p. 355.
DISCOS VOADORES: existem? . .... ... ... . . . . . 229/1979, p. 32.
DIVORCIADOS QUE CONTRAEM N O V A S
NúPClAS .... , ....... .. . .... . .. . ......... . 236/1919, p. 321.
DOCUMENTO DE PUEBLA : conteUdo ., ..... . 232/ 1979, p, 232.
DOLTO, FR. : .0 EVANGELHO À LUZ DA
PSICANÁLISE. . . .. .... .... ...... ....... . . 240/ 1979. p. 514 .
OONS DO ESPIIUTO SANiO ; qUI! são ? .. . .. . 23711979, p. 3li5 .
PRETERNATURAIS : qUI! sil o ? ..... ... . 238/ 1979, p.414 .
DUt..LES, A: cA ICREJA E SEUS MODELOS:> 240/ 1979, p. 487 .
-537 -
54 tNDICE DE 1979
- 538-
JNDICE DE 1979
- 539-
fNDlCE DE 197D
"
LIBERTAÇAO, TEOLOGIA DA .. ,., ..... " ... , 229/1979, p. 3,
LINGUAGEM OOS ANIMAIS .. "............. 232119'79, p. 135 .
LUTA OE CLASSES E CRtS1'lANISMO: conel -
Uoun-se?' ........... . ..• . ....... . ......... .. 239/ 1979, p. 443 .
o
ÓBULO DE SAO PEDRO ,................. ... 233/ 1979. p. 203 .
ORACAO E PENITENCIA : mcnsalrcm de lodas
.s aparlç6es ....... .. ...................... 237/ 1979, p. 386.
ORACOES ",TODO_PODEROSAS_ . . . ..... . ,. .. . 239/ 1979, p. 478.
OVNl - OBJETO VOADOR NÃO IDENTIFI-
CJl.DO ........ . .... . .•.•...... . .. , ....... ,. 229/ 1979, p. 33 .
-540 -
INmCE DE 197!)
Q
cQUESTA.O IA) HOMOSSEXUA1.1> - livro de
Marc Oralson ... . ....... .. ... .......... . 236/1979. p.333.
R
REENCARNA CAO E CULTOS ÁFRO-BRASI_
LEIROS . .... .......... .... . . . .......... .. . 230/ 1979, (.. 66.
RELACOES SEXUAIS PRt-MATRIMQNIAIS :
debate .... ...... •...... , .... .. •........... . 2,JO/ l9'1!), p. 11 .
RE LIGIÃO: renomcno tipicamente humano ..... 231 / 1979. p . 91.
RENOVAÇAO DA PASTORAL MATRIMONIAL 236/ 1979, p. 328.
RESSURREIÇÃO 00 FILHO DA VIOVA DE
NAiM .. ......... .... .. . . ... . 240/ 1979, p. 516;
DA FILHA DE JAIRO ..... . 240/1979, p, 517;
DE I...ÁZARO ...... .. .... .. . 240/1979, p. 518:
DOS MORTOS - documento
de Roma ................ . 238/ 1979, p. 399;
E CONSUMACÃO UNIVER-
SAL ... . ................ . 239/ 1979. p. 459;
LOGO APOS A MORTE? .. . 23!t/ Hrm, p . 456.
REVELAÇOES PARTICULARES : Sim ou não'!' 237/ 1!l79. P. 387.
nOS A-CRUZ: que l!! ....... ....... .......... .. 235/ l079, p. 307 .
• ROSTO 101 MATERNO DE DEUS. - livro de
L.eonardo Borr .. ........ .. ..... .... .. ... . . . 236/ 1979. p. 311.
RÓ$SIA E ESPIONAGEM .. .. ... . .. . .. .. .... .. 230/ 1979. p. 407;
235/ 1919, p. 279.
5
SABEDORIA. dom do Esplrlto Santo .. . . . .. .. . 231/ 1979, p. 372.
SACRAMENTOS DA RECONCILIAÇÃO E DA
EUCARISTIA E OS DIVORCIA OOS QUE
SE CASAM NOVAMENTE ............ 236/ 1979, p. 322.
-541-
INDICE DE 1919
"
SANTA SÊ ENTRE ARGENTINA E CHILE 23<J/I979, p. 223.
SAúDE MENTAL . . •..•. . ........ • ... . ... •. .. . 230/1919, p. 52.
SEGREDO DE FATIMA ............ . ..... .. .. . 23711979, p. 383.
SENHORA DE TODOS OS POVOS. MENSA-
GEM DA ..•.. . .•. . . . .•. • ..• • ...... .. . • .. .. 231/ 1979, p. 385.
SEPARAÇAQ CONSENSUAL E FILHOS . . . .. . 230/ 1919, p. 82 .
SERVO DA GLEBA ....... . : .... . . ....... _. . . . 240/ 1979, p. 527 .
SEXO ANTES DO MATRIMONIO .. . .. ... . . .. . 23011979, p. 71.
I ESPIONAGEM _ livro de David Lcwis 235/ 1979, p. 279 .
SUDANESES E REUCIÓES AFRO-BRASI-
LEIRAS o ••••• 0 .0 ••••• • • 0 ••••• • •• 0 . 0 •• o ••• • 230/ 1979, p. 59 .
SUFRAGIO PELOS MORTOS : sisnillcado . . . . . . 239/ 1979, p. 463 .
SUICIDI0 COLETIVO N~\ GU iA NA ...... . ... . 23111919, I', 100.
SUPI::RS'l'IÇAO E COIUU':NTI::.:S DE QRAÇOl:."'S 23'J/ I979. I" 480 .
v
VATICANO, FINANCAS DO . .. .... . . . ..... . .. . 23311979. p. 194.
VERDADE SO~RE JESUS CRISTO . .. .. . . . .. . 234/ 1979. p. 237:
O HOMEM .. . ..... .. •.. .. . 234 / 1979, p. 240;
A IGREJA . ..... .. . . .. . . . . 234/1979, p. 238.
. VlDA APóS A VIDA •... . . . .. . . .. .... . .. . .... 237/1979. p . 392;
CONSAGRADA .... . ...... . .. .... .. 234/1979, p. 250;
DA IGREJA ........... .. ... . ... ... .. . . 23611979. p.322:
RELIGIOSA .. . .. . . .. . . .. . . . .......... . 238/1979, p. 425 .
VIRCINDADE DE MARIA ~ declaraçDo dos bis-
pos esplnhols ... ..... . . . .. . .. . . . .. . ....... . 2311l979, p. 113.
-542 -
fNDICE DE 1!l7!l
EDITORIAIS
A IGREJA E O MOMENTO NACIONAL .. . . .. . 238/1979, p. 397 .
AS PREVlSOES PARA A D.t:CADA DE 80 ... . 236/ 1979, p. 309 .
cCOMO NJ..O NOS TERÁ DADO TUDO COM
ELE? .... , . .. .... . . : .. . . ........ . ... " .. 240/ 1979, p, -:185 ,
cCREJO NA RESSURREIÇAO OOS MORTOS . 2J7/ 1979, p. 353.
",DEUS EM ASCENSAO,. ... , ............. . .. . 234/ 1979, 11. 221.
FEUClDADE, ONDE AIORAS? . .... .. . .... . 230/1979, p. 45.
FINALMENTE, PUEBLA~ ....... ........ .... .. 231 / 1979. p. 89 .
cMINHA SENHORA DONA ...• ... .....• • ..•.. 229/ 1979, p. 1.
OLJiAR PARA O HOMEM COi\-l O OLHAR
DE CRl!:n'o ...... ...... ..... ... .. ....... . 231/1979, JI, 177.
UM O1SCUW:iO A 'I'O/.)QS O~ POVO~ ... . . . 2J!J/ 1!J7!J, l'. 411 .
UM UDER. Ui\·IA ~PI::KANÇA ......... .. . 23511!J79, p. 2ijS .
VIDA E MORTE EM DUElD .... ..... ...... .. 232/ 1979, p. 133 .
LIVROS APRECIADOS
ARCHANJO, José Luis _ Tcllhard de Chll.rdln:
Mundo, Homem e Deus .. . , .. , .......... . 23211979, 3' capa.
BATrlSTlNI, Fr. - Corno falar com Deus ... . 232/ 1979. 3' capa .
A l"reJ" do DClL"õ Vh'o,
C\l..rso blbllCCl popula.r .obre
n "erdadelra lereJa ..... . 229/ 1979 , 4' capa .
1l0FF, L. li! outros _ Put'blll: AnAlise, l·cr81K.'C-
1'l!cth ·II!I. IIIWrru&,l.It'h!$ ..........•... .. . . . . 238 / 1079,3' capn .
BQROS, Ladlslaus - O Detlll l)r4xlmo ..... . . 236/ 1979,3' capa .
O ser do cristão ..... . . 236/ 1979 , 4' capa .
CALLE, Francisco de la - A Teolo~1a de ~larCOI mI19i9. 4' capa. .
A 'l'eologta do quurto
~"lulG"dho . .. . .. , .. . 229/ HI7!1, ·1' capa .
CNBB _ rucbln. A c\õlllG"cllu(".4D no Ilrt::ltlll~
c no rulm'o dA AIIICrl1.'a LaUna ...•. 237/1979, p . 396 .
DALLEGRA VE, Geraldo E. - Reencarna("io .. "232/ 1979, p . liGo
DA TTLER, Frroerlco - RelIenç:lo. Bibllil " Teo-
10,111. tia. JJbertuçi10 ... ....... . ..... . 230/ 1979, p . 88 .
I)(H>!>, C. 11. _.. A IIH:IIsagcm (Jc Sii.o l'aull)
l:.J.r.n. o hOlllclII (Jc huJc ..... . .... . 23GII979, 4 ' capa .
!>ULLES, A...ery - A IgnJa e li~IIS mlxM9S.
AIlrft'llItilo c rlt k-.. da l(1't Ja NOb IodO!'! os
IM:U~ aspectos ..•..... •. .................•. 23G/ 1979 , p . 352.
HAERING, Bernhard - LlnN e Jlêls em Cristo.
Teol ..S""I~ moral para 5.:l.eenlotes e leigos -
Vol. I , ... . ... ........... .... ..•.. ...... , . 238 / 1979, p. 439 .
LANCELLO'ITl, A. e BOCCALl. G. - Comrn-
Urlo ao E\'ancelho de Lu.cas ... . .... , •.. .. 238/1979, p . 438 .
LEPARGNEUR, Hubert. _ O deseompauo da
teoria com li. pntlca: Unu lndapçAo nas
rabes dII moral .. ....... .. . . , ........... . 237/1979, p. 3901.
LOHFINK, Norbert _ Profetas ontem q hoje 237/1979, p. 395.
- 543-
60 !NOICE DE 1979
- 544-
AOS NOSSOS LEITORES E ASSINANTES
CARO(A) AMIGO(A),
A DIREÇÃO DE PA