Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
CONTEXTOS
POR FÁBIO LEITE
A crise exílica
A crise pós-exílica
A queda do império babilônico diante dos persas sob a liderança de Ciro, em 539 a.C.,
ofereceu a oportunidade do reestabelecimento da comunidade judaica em Judá e em
Jerusalém. Era vantajoso para a administração central persa, contar com um regime local
amigável e cooperativo local estrategicamente importante como a Palestina, localizada na
distante extremidade oeste do império. Assim, o regente persa Ciro, promulgou um
decreto que encorajava os grupos de judeus à voltar a sua terra natal e a reconstruir a
cidade de Jerusalém e seu templo ao Deus de Israel, Javé.
Em março de 515 a.C., o novo templo foi dedicado e iniciou-se a realização regular do
culto regular. A restauração do templo e do ritual sacrificial regular exerceu um forte
efeito sobre a comunidade judaica, não só em Judá mais em todo o mundo
Mediterrâneo. Os judeus, embora habitassem em grande número de lugares distantes de
Judá e de Jerusalém, agora tinham um centro comum para o qual podiam voltar, um
símbolo de esperança no futuro e de um maior restabelecimento.
Mas repare que a batalha do povo pela sobrevivência e pela recriação de sua identidade
como Israel acelerou a produção de documentos escritos durante o exílio e depois dele.
A história da monarquia foi contada na história Deuteronômica, os sete livros que vão de
Deuteronômio a 2 Reis. Essa segunda edição, completou-se em algum momento entre a
morte do Rei Josias em 609 e o começo do exílio em 587 a.C. Durante o próprio exílio,
esse documento foi revisado para fins de inclusão de eventos históricos ulteriores.
Surgiram outros escritos neste período pós-exílio, incluindo os escritos chamados
sapienciais do Antigo Testamento, a lei e os profetas e trata de maneira mais direta das
preocupações comunitárias articulação da identidade do grupo, sua origem e o modo de
vida em específico e o caracterizava. Esses escritos sapienciais por sua vez, tratam de
questões familiares e preocupações individuais, tomados em conjunto esses escritos
sapienciais não representam totalmente, todo um conjunto de “estratégias de
sobrevivência” em meio ao confuso e desafiador mundo pós-exílio. Mais do que isso,
eles oferecem um modo de um indivíduo “sábio” levar uma vida gratificante e satisfatória
de amor de lealdade ao Deus da Aliança de Israel, Uma “espiritualidade” para lidar com
as pressões e desafios da vida cotidiana como judeu fiel. Neste ponto, Rossi, ao contrário
de Ceresko, vai tratar deste período específico, nesse momento em que esse povo vivia
como um período pesado tenebroso, obscuro em termos de economia da vida social
familiar e religiosa. Rossi vai olhar mais para o foco do problema dessa comunidade,
para ele, a teologia vigente era de que aquela parte da nobreza que assistia junto ao
império era considerado pura, porquê tinha uma vida melhor, ao passo que os pobres
eram considerados impuros. Ele está falando da teologia do puro e do impuro. Antes, a
benção de Deus era vista pela posse da terra como em Gênesis 12, agora, a crença de que
a riqueza era um sinal irrevogável da benção de Deus por que um grupo de nobres
prosperava. Nessa teologia, os mais puros seriam os mais ricos, e os pobres doentes. Para
Rossi, os 40 capítulos dos discursos do livro de Jó, são um eco das mulheres do capítulo
5 de Neemias.
Mas vamos voltar ao que Ceresko chama de desordem econômica e social.
Repare alguma familiaridade com as medidas sociais, e especialmente econômicas,
impostas aos povos subjugados pelos sucessivos regimes imperiais, pode lançar luz sobre
os desafios específicos que os judeus enfrentaram na vida cotidiana do período pós-exílio.
Repare a organização econômica. Cada família ampliada possui uma “casa” ou porção
de terra, um “legado”, que era passado de geração para geração e que garantiria o acesso
aos recursos básicos necessários a providência. Essa “propriedade ancestral” devia
permanecer nas mãos da família e não se esperava que fosse vendida ou hipotecada.
O sistema de “ajuda mútua” foi instituído com o fim de assistir famílias em crise
financeira, por causa da seca ou da perda da lavoura por exemplo. Esse sistema exigia
dos membros de um clã ou tribo o oferecimento de empréstimos a juros baixo, ou doações
diretas a família em crise para que estas não se vissem obrigadas a vender ou a hipotecar
sua “casa”. No curso da monarquia, essa economia comunitária entrou em conflito com
as exigências dos Reis de Israel e da Judeia, de tributos na forma de pagamento de
impostos ou de trabalhos forçados. Essa imposição de medidas tributárias de um governo
monárquico centralizado, enfraqueceu mas não destruiu a ordem comunitária e isenta de
tributos profundamente arraigado herdada dos primeiros momentos de cada confederação
tribal. Nos períodos exílio e pós-exílio, tanto os judeus que permaneceram na Palestina,
como aqueles que fugiram, ou que foram deportados, recorreram a valores e práticas
comunitárias para sobreviver enquanto povo.
Não obstante, a crise socioeconômica se aprofundou e ameaçou mais essas tradições.
Quando assumiram o poder, os persas impuseram novo sistema de cobrança de impostos.
A partir do reinado de Dário 522- 486 a.C., exigia-se dos judeus que pagassem os
impostos não mais como uma porcentagem de sua produção agrícola, mas sem dinheiro.
Em outras palavras, eles precisavam antes vender a produção e depois, com o dinheiro
obtido na venda desses produtos, pagar uma soma fixa às autoridades persas em dinheiro
vivo. Tempos de seca ou de frio, desfavorecia os preços de mercado, e se mostravam
especialmente difíceis para os donos de pequenas propriedades rurais e suas famílias.
Muitos eram obrigados a se endividar e a hipotecar sua propriedade. Alguns chegaram
mesmo a vender a si e/ ou aos filhos para a escravidão estrangeira a fim de pagar suas
dívidas, Neemias 5.1-5. O livro de Provérbios como o de Jó se veem às voltas com as
questões teológicas e espirituais geradas por esses desenvolvimentos e por essa crise.