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Primeiro aquele
acidente de carro, que deixou marcas profundas em seu corpo.
Depois, o noivo, que a abandonou! Ela já não tinha esperança de
ser feliz. De repente, porém, tudo mudou na vida de Gail: o
riquíssimo lorde escocês Andrew MacNeiil a pediu em casamento!
Mas não seria um casamento por amor. Nada de sentimentos,
intimidades... Andrew não confiava nas mulheres, queria apenas
uma "mãe” para seus filhos. Vítima de um matrimônio desastrado,
ele era um homem frio, desconfiado, quase cruel. Um perigo para
a sofrida alma de Gail. Desejosa de amor, ela aceitou o desafio...
CAPITULO 1
Dois imponentes cisnes brancos deslizavam pelo lago. Na margem,
patos e gansos se espreguiçavam sob o sol de fevereiro. A
temperatura extraordinariamente agradável tinha atraído para o
parque funcionários de escritórios e lojas, que passeavam ao
longo do lago.
Gail sentou-se num banco com um livro sobre o colo. Era seu
horário de almoço e durante vinte minutos ela ficou desfrutando
o ar fresco, o perfume das flores e o canto dos pássaros. De
repente, sobressaltou-se com a aproximação de duas crianças,
acompanhadas pelos pais.
Será que conseguiria escapar sem ser vista? Mas não havia
esconderijo possível em volta e ela teve que ficar quieta onde
estava, rezando para não ser notada.
— Papai, podemos dar comida aos cisnes? — perguntou a menina,
de uns quatro anos.
O pai pegou uma casca de pão do pacote que trazia nas mãos e
entregou a ela.
— Também quero um pouco. — O menino, uns três anos mais
velhos que a irmã, pegou um pedaço de pão e o atirou no lago.
— Não cheguem muito perto da água — alertou a mãe, uma
mulher de uns vinte e nove anos.
CAPÍTULO II
CAPITULO III
CAPITULO IV
Mais uma discussão estava acontecendo, mas dessa vez Gail, com
prudência, se manteve à distância. Mas logo ela ficou sabendo do
que se tratava, pois Morag foi até o quarto das crianças, onde
Gail estava separando algumas roupas para mandar para um bazar
de caridade.
— Com todo o dinheiro que tem ele, não me dá o que eu pedi! —
Os olhos de Morag brilhavam de raiva. — Que homem mais sovina,
mais unha-de-fome! Eu o odeio!
— Morag, não estou com disposição para discussões — respondeu
Gail, continuando sua tarefa. — Se você não tiver nada
interessante a dizer, por favor, me deixe em paz.
— Quem você pensa que é, falando desse jeito comigo? Eu, Morag
MacNeill?
— Sem dúvida você é alguém, Morag. Acontece que não julgo as
pessoas pela posição que ocupam na hierarquia social, mas pelo
modo como se comportam e tratam as outras pessoas. Tentei ser
sua amiga, mas você esta determinada a ser inimiga de todos. E,
infelizmente, cheguei ao limite da minha paciência.
— Eu poderia esbofeteá-la, Sra MacNeill.
— Eu a aconselharia a não fazer isso, Morag. Aliás, peço que se
retire daqui, por gentileza.
— Sairei quando bem entender! Esta é a casa do meu pai e você
nada mais é do que uma intrusa, uma criada bem remunerada. —
Acendendo um cigarro, Morag soltou uma baforada no rosto de
Gail e riu. — Diga-me, como consegue dinheiro dele? Ele a cobre
de dinheiro e eu não recebo nada!
— Recebo uma mesada, como presumo que você também receba
uma. Acontece que fazemos uso dela de maneiras diferentes,
pelo visto. — Ela sentia-se fraca, como sempre acontecia quando
discutia com Morag.
— Gostaria de saber quanto dinheiro você ganha. Está fazendo o
seu pé-de-meia para o caso de ele dispensá-la quando Robbie e
Shena não precisarem mais de você?
"Quando eles não precisarem mais de mim?" Gail nunca havia
pensado sobre aquilo. Mas, por outro lado, Andrew não tinha
enfatizado que o casamento seria para sempre?
— E então, Sra MacNeill, a senhora está fazendo o seu pé-de-
meia?
— Eu não gasto muito porque sou naturalmente uma pessoa eco-
nomica.
Com uma pilha de roupas na mão, Gail saiu do quarto, e foi levá-
las até a casa da Sra Stuart, antes de pegar as crianças.
Quando voltou para casa com Robbie e Shena, Morag não estava
à vista. Mais tarde, quando ouviu o ruído de um carro, Gail foi até
a janela e viu Morag dirigindo um automóvel em direção à
estrada. Ficou preocupada; e se a polícia a detivesse? Ela ainda
não tinha carta de motorista. . .
Logo a garota estava de volta e Gail a viu descer do carro com
alguns pacotes. Como ela poderia ter ido fazer compras, se não
tinha dinheiro?
Morag correu para o seu quarto e Gail a seguiu. Entrou no quarto
da garota sem bater e a pegou experimentando um vestido e
observando-se em frente ao. espelho.
— O que quer aqui? Como se atreve a entrar no meu quarto sem
ser convidada?
— O que você pretendia fazer dirigindo um carro na estrada?
— E o que você tem a ver com isso? Quando estou fora, dirijo o
carro dos meus amigos o tempo todo. Saia daqui e tome conta das
crianças. E para isso que você mora nesta casa!
— E você não leva em consideração as conseqüências, se for dês-
coberta? A polícia daqui deve saber que você é menor de idade.
— Ora, caia fora daqui! Você me aborrece muito com essas suas
preocupações cívicas! E por que está preocupada com as
consequências? Você não se importa comigo!
— Minha preocupação no momento é com seu pai.
— Ah, é? Que interessante! Você se apaixonou por ele? Bem, isso
costuma acontecer com as mulheres em geral. Ora, mas que
engraçado! Espere até que eu conte para todo mundo. Vai ser
muito engraçado, mesmo. Motivo de riso e piada para todos!
Gail sentiu o sangue lhe subir à cabeça.
— Será que você não tem um pingo de vergonha? Não se preocupa
com a humilhação que seu pai sofrerá se você for processada? O
que poderá facilmente acontecer se continuar a dirigir sem
carta.
— Chega de sermões! Saia do meu quarto!
Gail saiu, pois não podia fazer mais nada. Mas decidiu contar tudo
a Andrew ainda naquela tarde. Ela detestava essa atitude de
informar sobre a vida dos outros, mas Andrew precisava ser
avisado.
Morag nunca se atrasava para o jantar. Era a única coisa em que
se via forçada a obedecer ao pai. Se ela se atrasasse um minuto,
ele mandaria retirar o prato de!a e, se quisesse, teria que comer
sozinha em outro lugar.
Seu lugar tinha sido retirado da mesa e Gail sentia-se inquieta:
— Morag não está?
— Em casa? Acho que sim. Por quê? — indagou Andrew.
— Nada, pensei que ela tivesse saído. — Será que a garota teria
sofrido algum acidente? — Andrew, ela pegou o carro esta tarde,
para fazer compras. . .
— Pegou o carro? Tem certeza?
— Eu não queria interferir, pois sei que os seus atos nada têm a
ver comigo, mas a vi dirigindo na estrada e alertei-a a esse
respeito.
Um silêncio terrível caiu sobre o ambiente, O rosto de Andrew
estava transtornado. Ele se levantou e saiu da sala. Gail mordeu
os lábios, sentindo-se culpada e tentando imaginar se teria
havido uma outra forma de contornar a situação.
Logo Andrew voltou.
— Ela viajou com uns amigos. Deixou um bilhete sobre a mesa da
safa. Pediu que um dos criados da casa a levasse até a estação.
— Então, não foi de carro? Ainda bem! Mas ela não me falou nada
sobre visitar amigos.
— O bilhete diz que ela ficará fora por quinze dias. Mas você
disse que Morag foi fazer compras? O que ela comprou?
— Um vestido. Não vi se tinha mais alguma coisa.
— Mas ela me disse que não tinha dinheiro! Você emprestou
algum?
Gail fez um gesto negativo com a cabeça. De repente, sentiu um
frio na espinha ao lembrar-se de que tinha contado a Morag que
economizava sua mesada.
Ela guardava o dinheiro numa caixa, que ficava em cima da pen-
teadeira. A caixa não ficava trancada, pois nunca, em toda a sua
vida, tivera necessidade de desconfiar de alguém. Gail não
conhecia esse sentimento. Assim que terminaram de jantar, ela
correu para o seu quarto e abriu a caixa. Estava vazia. E havia
duzentas libras na caixa! Será que Morag tinha saído do país com
um dos seus namorados e por isso roubara o dinheiro? E o que
Gail deveria fazer? Ficou ali parada, tremendo, confusa e
culpando-se por ter deixado o dinheiro servindo de tentação para
Morag,
Mas logo ela decidiu que não contaria a Andrew. Não iria subme-
tê-lo a uma humilhação tão grande. Não. Salvar o orgulho de seu
marido era muito mais importante do que o dinheiro perdido.
Com o passar dos dias, e com a ausência de Morag, a
tranqüilidade voltou a reinar naquela casa. Até Andrew ficava
diferente quando a filha não estava. Como Gail gostaria que
Morag achasse um marido que soubesse domá-la e pudesse levá-
la dali!
Na quarta-feira as crianças tiveram um feriado na escola. Como
fazia frio e os dois estavam com um ligeiro resfriado, Gail
decidiu não levá-los para fora de casa.
A Sra Davis chegou logo depois do almoço para buscar Robbie e
Shena. Ela queria levá-los para a sua casa, ficando de trazê-los
depois do chá.
— Não gostaria que as crianças saíssem, Sra Davis. Elas estão
resfriadas e estou tentando mantê-las aquecida.
Gail, Robbie e Shena estavam sentados em volta da lareira,
jogando cartas. A expressão no rosto das crianças mostrava
claramente o desapontamento pela interrupção da avó.
A Sra Davis encarou Gail de modo arrogante.
— Eles estarão muito bem no carro. Robbie e Shena peguem os
seus casacos e venham comigo!
Está fazendo muito frio, Sra Davis..,
— Vou levar os meus netos para passear! Por gentileza, queira
aprontá-los.
— Não quero ir — protestou Robbie. — Estou jogando cartas com
mamãe!
— Eu também não quero ir — disse Shena. O rosto da senhora se
avermelhou.
— Mas que péssimas maneiras dessas crianças! Preciso falar com
Andrew a esse respeito! Pelo visto você não está cumprindo as
tarefas pelas quais é paga!
— Paga Sra Davis? Lembre-se que não sou uma empregada e sim a
esposa de Andrew.
— Você não é paga para ser insolente comigo! Pode ser a esposa
de Andrew, mas ele se casou com o objetivo específico de
encontrar alguém para tomar conta dos meus netos. Portanto,
você nada mais é do que uma criada remunerada. — Gail ficou
quieta, desarmada, pois o que aquela mulher dizia era a verdade
nua e crua. Ela devia ter conversado com Morag, pois usava as
mesmas palavras da neta. — Apronte as crianças, por gentileza.
Vamos, Shena! Faça o que estou dizendo. Você também, Robbie!
Vocês dois vão sair comigo!
Shena começou a chorar e a tossir. Se pelo menos Andrew
estivesse em casa, a decisão seria dele. Gail suspirou. Essa era
uma das ocasiões em que ela não era nem uma esposa nem uma
mãe. Se fosse esposa, teria o apoio do marido para todas as suas
atitudes. Se fosse mãe, sua autoridade junta às crianças seria
respeitada.
— Se a senhora realmente vai levá-los, aconselho-a a mantê-los
quentes, pois estão resfriados.
Um pouco mais tarde, ambos entraram no carro. Robbie estava
quieto e Shena, com sinais de ter chorado muito. Gail ficou
olhando o carro desaparecer e acenando para Robbie.
Andrew voltou na hora do chá, dirigindo o jipe.
Perguntou pelas crianças e Gail explicou que tinham saído com a
avó, acrescentando:
— Estava muito frio e não queria que eles saíssem.
— Bem, a avó deles gosta de levá-los para um passeio de vez em
quando e tem a minha permissão para fazê-lo. Já faz tempo que o
avô não os vê. Acho que ainda não lhe falei que ele está inválido. É
um homem solitário e lhe faz um grande bem ver Robbie e Shena,
pois os ama muito.
Gail sentiu-se melhor depois de ouvir isso. Ficou pensando sobre
o pobre homem. Como ele podia conviver com uma mulher como a
Sra Davis? Deveria sofrer muito com o temperamento dela.
Assim que as crianças voltaram, Gail percebeu que Shena estava
doente. Seus grandes olhos azuis brilhavam e lacrimejavam.
Tinha as faces afogueadas e o nariz escorrendo. Gail pegou um
lenço para limpar-lhe o nariz e tocou-lhe a testa. Estava pegando
fogo.
— Você tinha razão sobre o resfriado deles — disse a Sra Davis.
— Embora ainda ache que Shena esteja exagerando um pouco. Ela
realmente está uma menina estragada pelo mimo. Ponha-a na
cama e ela estará bem de manhã. Não há necessidade de chamar
um médico.
Mas Gail e Andrew resolveram chamar um médico, que constatou
que a menina estava com uma gripe muito forte.
— Ela já devia estar com gripe, antes mesmo de sair — disse
Andrew. Ele ficou com Gail ao lado da cama da filha depois que Q
médico saiu.
— Eu sabia que ela estava resfriada.
— Então deveria tê-la mantido em casa!
— Mas o resfriado dela só foi percebido depois do almoço. . .
— E assim mesmo você a deixou sair?
Gail ficou sem falar por um momento, mas acabou respondendo:
— Eu contei que não queria que eles saíssem com a Sra Davis.
Você disse que estava tudo bem.
— Você não me havia dito que Shena estava doente! De qualquer
forma agora já foi, você os deixou sair! — Shena gemeu na cama
e ele se inclinou, colocando a mão em sua testa. — Realmente não
consigo entender como você pôde ter sido tão negligente em não
perceber como ela estava doente. Shena deveria estar na cama
há horas!
A censura, a culpa e a injustiça das palavras dele trouxeram
lágrimas aos olhos de Gail.
— Eu os estava mantendo aquecidos. Eles ficaram junto comigo,
perto da lareira, até que a Sra Davis chegou e disse que queria
levá-los com ela para o chá. Se ela não os tivesse levado, eu teria
colocado Shena na cama bem mais cedo.
— Por que você não disse a Sra Davis que Shena estava
resfriada? — Ele a olhava, zangado. — Não posso entender a sua
negligência!
— Eu disse, mas a Sra Davis foi muito insistente.
— Ela não teria insistido se você tivesse se oposto com firmeza!
As crianças estão sob a sua responsabilidade e espero que você
use o seu bom senso quando a segurança delas estiver em jogo.
Gail teve vontade de perguntar até onde ia sua autoridade para
resolver os assuntos relacionados às crianças, mas Shena
começou a se virar na cama. Além disso, Andrew estava de
péssimo humor e ela resolveu ficar quieta.
Shena ficou de cama durante vários dias. O amor e os cuidados
de Gail não só fizeram com que a menina se recuperasse com
rapidez, como também contribuíram para que as duas se
aproximassem definitivamente. Uma semana depois, Andrew
levou-a para a sala onde estava a lareira.
— E então, Shena, como se está sentindo? — perguntou, depois
de colocá-la entre as almofadas que Gail tinha arrumado.
— Está muito gostoso e quentinho, papai, obrigado. — Ela sorriu
para o pai e depois para Gail.
Shena havia sido totalmente conquistada e Gail rezou,
agradecendo interiormente por isso. Sentou-se ao lado dela e
começou a contar histórias até que Shena adormecesse.
Robbie havia ficado dois dias afastados da escola por causa de
seu resfriado, o que o deixou satisfeito. Ele tinha noção de toda
a atenção que estava sendo dedicada à irmã e sentia-se
enciumado por essa preferência.
— Eu não estou nada bem — disse ele quando Gail o declarou em
condições de ir para a escola. — É o meu estômago. Acho que
tenho gota. Meu bisavô tinha gota.
— Robbie, as pessoas geralmente têm gota no pé. Nunca no estô-
mago. Portanto você vai ter que imaginar outra doença.
Ele tentou pensar em outra coisa, mas como todas as doenças que
imaginou só fizeram com que Andrew e Gail rissem acabou
desistindo. Mas não antes de alertá-los de que, caso morresse,
eles se arrependeriam pelo resto da vida.
Durante o tempo em que Gail se dedicou a cuidar de Shena,
Andrew pareceu vê-la pela primeira vez de forma diferente. Gail
sentia-lhe o olhar e levava a mão aos cabelos que cobriam a
cicatriz em sua têmpora. Ela chegou a pensar em procurar um
cirurgião plástico para remover aquelas marcas, agora tão
indesejáveis. Mas não poderia deixar as crianças; além do mais,
não queria que seu marido sequer soubesse que elas existiam.
Robbie entrou correndo na sala e Gail colocou o dedo sobre os
lábios, pedindo silêncio:
— Psiu... Shena está dormindo. Não faça barulho.
— Ela vai à escola amanhã?
— Ainda não, Robbie, só daqui a uma semana — respondeu Gail.
Andrew entrou na sala escurecida.
Robbie resolveu protestar:
— Isso não é justo! Ela já deve estar melhor se já saiu da cama.
Shena acordou e se defendeu:
— Eu ainda não sarei, só estou um pouquinho melhor. Não é,
mamãe?
— Sim, querida só um pouco melhor.
— Como vai o meu bebê? — perguntou Andrew aproximando-se da
cama, com o rosto bronzeado e radiante de quem trabalhava ao
ar livre e levava uma vida saudável.
Quando se inclinou sobre a cama, a menina sentou-se e jogou os
braços em volta do pescoço dele. Andrew recebeu um beijo
estalado no rosto.
— Não sou um bebê, papai.
— Bem, então você não vai ficar no meu colo.
— Você ia me pôr no seu colo?
— Claro, bem aqui, sobre os meus joelhos. Bem, quem eu deveria
pegar no colo, então? Robbie?
— Não! Pegue mamãe no colo! Imagine um homem como eu no
colo!
Fez-se silêncio depois das palavras de Robbie. Andrew parecia
estar se divertindo, enquanto Gail enrubescia. A luz das chamas
da lareira, ela estava adorável.
— Não se pegam mães no colo — exclamou Shena. — Elas são
muito grandes!
— Nossa mãe não é muito grande, Shena. Ela é bem menor do que
papai. Ela bate no ombro dele!
Desconcertada Gail se levantou e abriu as cortinas para iluminar
o cômodo. Com uma rápida lembrança do seu corpo coberto de
cicatrizes, ela perguntou a Shena:
— Você não vai deixar que seu papai a pegue no colo?
— Sim, mas eu não sou um bebê.
Ela sentou-se no colo do pai e colocou um dos braços em volta do
pescoço dele. Robbie ficou parado olhando-a, com a mão no braço
da cadeira de Gail. Ela colocou um braço em volta da cintura dele
e o puxou para mais perto de si. O rostinho de Robbie se iluminou
e ele descansou a cabeça sobre o peito de Gail. Andrew
observava a cena com uma expressão tranqüila. Aquela era uma
cena íntima e doméstica... Com apenas uma ligação de amor
faltando.
— Você quer tomar chá agora, Andrew? — perguntou Gail.
— Quando você quiser. Não estou com fome, mas creio que
Robbie deve estar. — Virou-se para Shena. — E você?
— Estou com fome. Quero sanduíches, biscoitos, mel e geléia.
— Bem, então vou providenciar — disse Gail. — Não quero que os
nossos doentinhos passem fome.
Mais tarde, quando estavam tomando chá, Shena perguntou:
— Será que Morag vai ficar chateada porque eu estive doente?
Gail sobressaltou-se com a pergunta, percebendo como a garota
era afastada dos dois irmãos. Era triste que ela aproveitasse tão
pouco a chance de dar e receber amor. Também era triste
constatar que os dias sem ela haviam sido tão pacíficos e calmos.
Andrew nem chegou a descobrir para onde a filha havia ido.
Realmente ele não tinha como controlar aquela garota. Gail
chegou a conclusão, por pior que pudesse parecer, de que a única
maneira de brecá-la era através da violência.
— Onde está Morag, papai? — perguntou Robbie.
— Está de férias, Robbie. Gail resolveu mudar o assunto:
— O que você fez hoje na escola?
— Ah, contas, composição, desenho e tive aula de ciências. Tive-
mos aula sobre as raposas e eu disse que elas estavam matando
as nossas ovelhas. A srta. Spencer deixou que eu contasse aos
meus colegas sobre isso. Gostei de contar tudo. Acho que vou ser
professor quando crescer.
— Ah, sei, Robbie. Então você poderá contar às outras crianças
sobre as raposas, não é? — perguntou Andrew, enquanto passava
geléias nas torradas de Shena. — Você disse que queria geléia,
Shena?
— Sim, mas não gosto dessa aí.
— De qual você gosta?
— Gosto da vermelha. Essa é preta.
— Acho que ela não gosta de geléia de uva, Vou pegar a de
morango — disse Gail.
— Não se levante — aconselhou Andrew. — Use o sino.
Gail sentiu um prazer inesperado com esse sinal de consideração.
— Papai, Meredith atirou nas raposas? — perguntou Robbie.
Meredith era um dos capatazes de Andrew-
— Em algumas, Robbie. já não perdermos tantas ovelhas.
— Elas sempre atacam o rebanho? —- perguntou Gail.
— Geralmente quando as ovelhas têm uma ninhada para cuidar.
Gail pensara que nunca se acostumaria àquela matança, mas sur-
preendeu-se ao perceber que concordava que fosse necessário.
— Você está se acostumando ao nosso modo de vida — observou
Andrew como se tivesse lido os pensamentos dela.
Ela concordou.
— Você vai aprender a atirar, mamãe?
— Não, Robbíe! Não vou aprender a atirar.
CAPITULO V
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VIII
CAPITULO IX
As palavras de Gail nada fizeram para melhorar a situação entre
os dois e foi com uma sensação de temor que ela observou o
carro se afastando, levando Heather e sua família e deixando-a
só com Andrew. A esperança que acalentara de que Andrew
pudesse se apaixonar por ela tinha ido por terra. Agora, era
forçada a aceitar o fato de que a felicidade que recebia de
Robbíe e Shena era tudo com que poderia contar. Na realidade,
era tudo o que ela desejara, se não tivesse se apaixonado
totalmente por seu marido.
Gail era grata à oportunidade de amar e ser amada por Robbíe e
Shena. Com o passar das semanas descobriu que, com resignação,
com a aceitação do seu destino, ela estava adquirindo paz de
espírito e percebendo a beleza à sua volta.
O outono estava chegando. Apesar de Gail adorar essa estação
do ano, era a época de caça aos veados adultos.
Entretanto, aos poucos, ela começava a aceitar essa prática.
Sinclair havia conversado seriamente com ela sobre os perigos da
superpopulação de veados nas Terras Altas. Os animais velhos e
doentes tinham que ser mortos para o bem do rebanho. Ele tinha
contado praticamente o mesmo que Andrew, apenas de uma
maneira mais gentil e mais paciente.
Essa temporada de caça acontecia nas outras propriedades de
Andrew, ao norte, mas por algum motivo ele não foi para lá. Gail
não lhe perguntou a razão, pois nada de pessoal entrava na
conversa dos dois.
Morag acabou fornecendo a resposta:
— Ele não vai para lá porque pensa que posso fugir! Eu o odeio! E
já disse isso a ele! Ele sempre foi para o norte em setembro.
Nunca poderia imaginar que ele deixasse de ir, só para ficar me
prendendo em casa!
Morag estava fora da cama e parecia bem melhor. Gail sabia que
ela queria sair, mas não poderia vigiá-la o tempo todo. Precisava
sair para levar e buscar as crianças na escola.
Andrew não dava mais mesada à filha. Só lhe fornecia um pouco
de dinheiro de vez em quando, com o qual ela comprava cigarros.
Fumava quando o pai não estava à vista e dizia:
— Vou cair fora daqui! Logo que conseguir juntar um pouco de
dinheiro! Ele não pode me vigiar o tempo todo!
— Você sabe que o que ele está fazendo é para o seu próprio
bem, Morag. Você ainda não está curada e...
— Estou muito bem! Mas ficarei doente se tiver que ficar presa
aqui! Vou enlouquecer!
Gail não discutiu mais e a rotina da casa continuou; Gail ocupada
com as crianças, Andrew com o trabalho dele, e Morag como uma
estranha na casa, sem falar com as crianças e nem sequer
aparecendo à mesa na hora das refeições.
Robin nunca mais aparecera para pescar, desde a última
discussão de Andrew com Gail, Ela sabia que ele tinha proibido
Robin de pescar no lago. Nunca mais o vira, mas sabia que a
qualquer hora o encontro se daria, como de fato aconteceu num
dia em que ela saía de uma loja na aldeia.
Ele a cumprimentou e pediu uma carona. Gail não poderia recusar
sem dar uma justificativa e acabou concordando. Mas sabia que a
carona nada mais era do que uma desculpa para Robin conseguir
uma explicação, que pediu assim que entrou no carro:
— Gail, o que aconteceu da última vez que fui lá? Seu marido foi
seco comigo. Disse para eu não pescar no lago e nunca mais
entrar na casa. Que eu saiba, não fiz nada de errado! Não sou
bobo, Gail. Percebi que seu marido guarda algum ressentimento
contra mim. O que foi que eu fiz?
Gail deu a partida no carro e recusou quando ele lhe ofereceu um
cigarro:
— Você não perguntou a ele, Robin?
— Não. Claro que não. Seu marido não estava com disposição para
responder a nenhuma pergunta.Mas você deve saber qual é o pro-
blema.
Ela pensou um pouco e decidiu que a franqueza era a melhor polí-
tica. Contou o que Morag havia feito e nunca poderia ter
imaginado a resposta que recebeu:
— Bem, Gail, Morag tinha razão. Gostei de você desde o primeiro
momento que a vi.
— Robin! Por favor. . ,
— Você foi franca comigo, portanto serei igualmente franco com
você. Todos na aldeia sabem que Andrew MacNeill decidiu que
uma mãe para as crianças era preferível a uma governanta. E isso
seria um mero arranjo de negócios. É verdade, Gail? Na
realidade, nem precisaria perguntar, pois Andrew MacNeill nunca
se apaixonará. Ele é duro demais. Gail, esse tipo de vida não é
para você.
Gail parou o carro numa pequena estrada vazia e disse:
— Robin, você não me conhece o suficiente para ter esse tipo de
conversa. O tempo que passamos em companhia um do outro não
foi mais do que algumas horas.
— Mas o que é o tempo? Por que você acha que eu queria ir para o
lago? Era para ve-la, claro. Mas você sempre me evitava. .
Gail deu uma olhada em volta com medo de que alguém a visse e
contasse a seu marido.
— Robin, Andrew me proibiu de falar com você. E agora, depois
do que você acabou de me dizer, resolvi acatar a vontade dele.
— Você não vai mais falar comigo? Mas espera-se. . . Que a
esposa do lorde seja gentil com todos. A sua posição exige isso.
O lorde deve ser amigo de todos na aldeia e ouvi-los sobre os
seus problemas. Você já está aqui o tempo suficiente para saber
disso.
— Você tornou impossível a nossa amizade. Sou uma mulher ca-
sada, Robin, e muito satisfeita com a minha vida. Não importa o
que os mexericos digam.
Houve um pesado silêncio entre os dois.
— Gail. . . Você está zangada comigo?
— Na verdade, não gostei do modo como você falou comigo.
Nunca o encorajei e nunca o faria. Como já disse, estou muito
satisfeita com a minha vida.
Ele a encarou, com dúvida.
— Não acredito em você. Quer dizer que vai passar por mim e
fazer de conta que não me conhece? — Gail concordou e ele
disse: — Você quer que eu desça aqui?
— Por favor, Robin. É melhor assim, alguém poderá nos ver.
— Ninguém se preocuparia com isso. É comum a esposa do lorde
oferecer carona às pessoas da aldeia.
— Talvez. Mas prefiro que seja assim.
Ela deu a partida, Robin apagou o cigarro no cinzeiro do carro,
desceu e se afastou sem olhar para trás.
Gail continuou pela estrada deserta, com os nervos tensos e o
coração batendo forte. Tinha havido algo de sórdido na conversa
que acabara de ter com Robin, pois ele parecera disposto a
flertar tom ela. Essa atitude dele demonstrava falta de
interesse pela esposa do lorde; na realidade, falta de respeito.
Uma semana mais tarde, Andrew usou o carro. Ele não fumava e
usava o cinzeiro apenas para guardar algumas coisinhas, como
cartões de estacionamento, por exemplo. E foi por isso que ele
viu o toco de cigarro que Robin tinha deixado.
Assim que voltou para casa, abordou Gail:
— Você fuma?
— Claro que não! Você sabe disso!
— Morag tem usado o carro pequeno?
— Não, só eu uso esse carro. Ou você, de vez em quando — ela
respondeu, confusa com as perguntas.
Ele a encarou com um olhar acusador.
— Então. . . Quem deixou aquele toco de cigarro no cinzeiro do
carro?
Gail empalideceu e logo se lembrou. Tentou consertar.
— Bem, às vezes eu fumo. Talvez o tenha deixado lá...
— Não minta! Você pôs aquele homem no meu carro!
Pálida e tremendo, ela admitiu ter dado uma carona a Robin. Por
causa da expressão sombria de Andrew, rapidamente completou
que dissera a Robin que nunca mais o veria. Mas suas explicações
não deram o resultado esperado.
— Quer dizer que você discutiu a minha pessoa com ele?
— Oh, não, Andrew. . .
-— Deve ter discutido! Deve ter havido alguma conversa nesse
sentido, caso contrário, como poderia explicar que nunca mais
voltaria a falar com ele?
— Bem... Tive que explicar por que não falaria mais com ele. Não
poderia simplesmente ignorá-lo sem maiores explicações, como
você queria. Mas não falei muito sobre o assunto.
Ele estava com os lábios apertados e a olhava com recriminação.
— Você! Discutir a minha pessoa com esse homem! Humilhar-me!
— Andrew! Eu não fiz isso! — Ela meneou a cabeça, com os olhos
rasos d'água. — Por que você pensa que eu quis humilhá-lo? Ah,
se pelo menos pudesse faze-lo entender que nunca quis magoá-lo,
você não iria suspeitar de mim, como faz. — Ela o olhou bem
dentro dos olhos. — Você me pediu que não voltasse a falar com
Robin e estou disposta a seguir a sua vontade. Acho que agora
podemos encerrar este assunto de uma vez por todas, não?
Gail estava perto dele, com uma expressão suplicante e humilde,
os braços caídos ao lado do corpo. Alguma coisa nisso tudo o
tocou. A fúria desapareceu dos olhos de Andrew. Ele se acalmou
um pouco e disse:
— Está bem, Gail, não falaremos mais sobre o assunto. Mas não
pediu desculpas pelas acusações.
A vida continuou como sempre, numa atmosfera de frieza e indi-
ferença. Andrew se tornava mais humano apenas na presença de
Robbíe e Shena.
Outubro chegou, e as crianças tinham uma semana de férias na
escola. Gail pediu permissão a Andrew para visitar Beth durante
essa semana.
— Seria uma boa mudança para Robbíe e Shena.
— Pensei que você quisesse descansar. Não o fará se levar às
crianças.
— Eu nunca iria sem elas, Andrew.
Ele a observou em silêncio, depois disse:
— Está bem. Você quer ir de carro?
— Se você concordar. Senão poderemos ir de trem e Beth ou
Harvey nos apanhará na estação.
— Acho melhor irem de irem. A viagem é longa e as crianças po-
dem dar trabalho.
Andrew os levou à estação e esperou que embarcassem,
comprando livros e chocolates para todos. Quando o trem partiu
as crianças ficaram na janela acenando para o pai. Depois se
sentaram e abriram os livros; Gail continuou na janela enquanto
via Andrew caminhar para o carro. De repente, ele se voltou e
Gail lhe acenou. Ele acenou de volta e Gail achou que Andrew
tinha sorrido para ela, mas, à distância, ela não podia ter certeza.
Beth foi buscá-los na estação e, mais tarde, Gail entrava
novamente na casa onde tinha ido morar depois da morte da mãe.
Thomas e Marilyn também estavam de férias na escola e logo
levaram Robbíe e Shena para brincar no jardim.
— Está com jeito de chuva, crianças — disse Beth. — Caso chova,
voltem imediatamente para dentro!
— Ah, que bom! É como nos velhos tempos! — exclamou Gail. Esse
comentário fez com que a irmã a olhasse de modo ansioso.
— Não está feliz, Gail?
— Feliz? Claro que estou feliz! Por que pergunta?
— Ora, não finja comigo, mana! Heather não acha que as coisas
entre você e Andrew andem bem.
— Ela andou comando coisas, não é?
— É natural, não acha? Parece que alguém deveria fazer alguma
coisa com relação a essa tal de Morag. Ela não pode ser internada
em algum lugar?
— Para quê?
— Para manter essa bruxinha fora do seu caminho. Por que ela
quer destruir o seu casamento?
— Não creio que ela queira isso. Acho apenas que fica muito
aborrecida por ficar presa e quer quebrar a monotonia.
— Ela não se sentiria entediada se fosse para a escola. Entendi
que seria mandada para a escola em setembro.
— Andrew tinha preparado tudo para mandá-la para o internato.
Mas ela ficou doente e o médico desaconselhou essa medida. Ele
disse que Morag tem que ficar em casa.
__ Se ela permanecer o tempo todo lá, ficará sempre entre você
e seu marido, com as suas mentiras e maldades.
Gail serviu-se de açúcar e mexeu o chá.
__ Já perdi a esperança de que Andrew e eu nos entendamos. É
assim que ele quer; nada mais do que um acordo de negócios. Ele
nunca me amará, Beth. Foi tolice minha alimentar essa idéia.
Beth franziu a lesta.
— Você não estava tão pessimista da última vez que a vi. Aliás,
tinha certeza de que ele se apaixonaria por você.
A chuva começou a cair e as quatro crianças correram para
dentro de casa.
— Podem ir para a sala de brincar — disse Beth. — Nós ainda não
tomamos o nosso chá.
— Acabei de dizer que fui uma tola — disse Gail, assim que as
crianças saíram. — Na realidade, Andrew nunca deu motivos para
que eu alimentasse essa esperança. — Ela sorriu com tristeza. —
Ele me beijou uma vez, mas agora, quando penso nisso, acho que
foi um ato de conforto espiritual.
— Ele a havia beijado duas vezes, mas Gail só mencionou a pri-
meira pois achava que era a mais importante. Gail contou em
detalhes para sua irmã o que havia acontecido quando sua
cicatriz tinha sido descoberta.
Beth ouviu com atenção e quando a irmã terminou ela disse, pen-
sativa:
— Mas por que ele iria querer confortá-la? Você nunca se
perguntou isso? — Gail abanou a cabeça e Beth continuou: —
Vocês têm um grande desentendimento e, de repente, ele se
torna gentil e beija você. Será que isso fazia parte do acordo de
negócios que ele estabeleceu com você?
— Não sei onde você está querendo chegar, Beth...
— Se não fosse por aquela pequena bruxa envenenando a vida
dele e relembrando tudo o que ele passou com a primeira mulher,
você e Andrew já estariam juntos agora. Você não vai conseguir
nada com aquela menina por perto. Não pode persuadir Andrew a
mandá-la para a escola?
— O médico não permitirá, Beth. Morag tem que ficar em casa.
— Ela não é apenas uma barreira entre você e Andrew. É um em-
pecilho à paz de espírito dele.
Gail ficou em silêncio, pensando sobre o que a irmã dissera. Sem
paz de espírito, Andrew nunca poderia ser feliz. . .
— Talvez Morag se case logo. — Gail suspirou.
— Bem, eu não iria querer essa menina para esposa nem do filho
do meu maior inimigo!
Elas foram interrompidas pelas crianças, que apareceram na
porta.
— Estamos com fome — disse Thomas, olhando para os biscoitos
sobre a bandeja. — Shena e Robbíe também estão!
Gail olhou para o sobrinho, com ternura.
— Está bem, Thomas. Sua mãe e eu vamos preparar alguma coisa
para vocês. Podem ir lavar as mãos e, assim que voltarem, o chá
estará pronto.
— Gail! Tenho hora marcada no cabeleireiro amanhã, tanto para
mim como para Thomas e Marilyn. Você gostaria de dar um
passeio pelas lojas? Depois poderíamos nos encontrar em algum
lugar para almoçar.
— Oh, Beth, eu adoraria dar uma olhada nas lojas!
Beth deixou Gail, Robbie e Shena na ma principal e foi para o ca-
beleireiro. Depois, todos se encontrariam no Hotel Grand, para o
almoço.
Segurando a mão de Gail e andando ao lado dela, Shena
perguntou:
— Posso lhe comprar um presente, mamãe? Robbie, que segurava
a mão da irmã, retrucou:
— Também quero comprar um presente, mamãe. E um também
para papai e Morag.
— Eu ia mesmo sugerir que vocês comprassem alguma coisa para
eles. Depois, se sobrar dinheiro, podem me comprar alguma coisa.
— Ah, não! Quero comprar o seu primeiro, mamãe! Depois, o de
papai e o de Morag. Olhe, mamãe! Bolsas! Quer uma bolsa nova?
— Eu não preciso de uma bolsa nova, Shena querida. Bem, vamos
entrar naquela loja e dar uma olhada?
Cada uma das crianças comprou um pequeno animal de vidro para
o escritório de Andrew. Para Morag compraram um vidro de
perfume. Gail completou com o seu dinheiro sem que eles
notassem. Para Gail, Shena comprou uma bonequinha francesa,
para colocar sobre a penteadeira. Robbíe lhe comprou um quadro
com rosas vermelhas, rodeando as paredes brancas de uma
casinha de campo.
Compraram presentes também para Thomas e Marilyn, e Gail
sugeriu que eles comprassem um presente para a tia Beth.
Depois de terem comprado todos os presentes, Gail pôde ir à sua
loja favorita. Comprou um bonito vestido de lã e um vestido para
a noite, com o comprimento exato de manga para esconder sua
cicatriz.
— Você está linda, mamãe! Vai usá-lo esta noite?
— Esta noite não, Robbie. Vou guardá-lo para quando eu for a
alguma festa.
— Posso carregá-lo para você?
— Não, obrigada, Shena. A caixa é muito grande, acho melhor
levá-la eu mesma. Você já tem outros pacotes para carregar.
Eles ainda tinham alguns minutos sobrando e estavam olhando as
vitrines quando Gail ouviu seu nome ser chamado.
— Michael?! Como você vai?
— Ela sorriu e percebeu o interesse dele em Robbíe e Shena.
— Eu vou bem, Gail. — Fez uma pausa. — Ouvi dizer que você se
casou.
Ela acenou que sim e seu sorriso se alargou. Já não sentia o
menor ressentimento por Michael. De repente, sentiu-se feliz
por não ter casado com ele.
— Michael, este é Robbíe e esta é Shena.
— Você se casou com um homem divorciado?
— A primeira esposa do meu marido morreu há alguns anos.
—Sinto muito, É que. . . As crianças são tão pequenas. Pensei que
a mãe delas ainda estivesse viva. Na realidade, não sabia nada
sobre o seu casamento, a não ser que seu marido tinha três
filhos.
— Sim. Ele tem outra filha, bem mais velha. — Michael perguntou
se ela estava hospedada na casa de Beth e Gail respondeu: —
Sim. As crianças estão de férias na escola, por isso aproveitei a
oportunidade para vir.
Ele a observou com atenção, reparando nas roupas caras que ela e
as crianças usavam.
— Seu marido. . . Ouvi dizer que ele é escocês, é verdade?
Ela sorriu. A curiosidade de Michael a divertia. Gail sentiu um
certo orgulho ao afirmar, com dignidade:
— Ele é o lorde Dunlochrie.
— Puxa! Soa muito importante! Vocês moram numa casa grande?
— Sim, ela é bem grande — declarou Robbíe, sorrindo para
Michael. — Mas tem que ser grande, pois muita gente mora lá. Às
vezes papai tem muitos visitantes em casa, não é, mamãe?
— Muita gente mora com vocês? — Michael se adiantou.
— Sim. Mamãe, papai, eu, Shena e Morag, Também temos três
empregadas, a Sra Birchan e...
— Robbíe! — Gail riu. — O Sr. Banksoat não quer saber isso tudo.
— Mas ele perguntou se muita gente mora conosco'. Devo contar
sobre os empregados homens, também?
— Não, meu querido, não é preciso. — Ela olhou para o relógio.
— Temos que ir andando. Beth está à nossa espera.
— Eu ia convidá-la para almoçar comigo. . .
— Obrigada, Michael, mas não podemos. Como vão os seus filhos?
— Vão bem! Muito bem.
— Ótimo. Dê lembranças a Joan, sim?
— Sim, darei.
— Bem, adeus, tem que nos apressar.
— Quem era ele, mamãe?
Um velho amigo de mamãe, Shena. — A voz dela tremeu.
Será que as crianças se lembrariam desse encontro e contariam
ao pai?
Gail se aborreceu por se preocupar com isso. Acabou dando de
ombros, pois nada poderia fazer a esse respeito. Se as crianças
mencionassem o fato, ela contaria a verdade a Andrew como
sempre fizera.
CAPÍTULO X
FIM