Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
...
T@íbhoteta jf reullíana
Psicanálise e Instituição
A Segunda Clínica de Lacan
Alfredo Zenoni
CDU- 613 .. 86
Comissão Editorial
Elisa AI varenga
Flavio Durães
Helio Lauar de Barros
Juliana Meirelles Motta
Maria Alice Bemardes do Vale
Maria Aparecida de Moraes Silva
Regina Capanema de Almeida
Silvane Carozzi
Wellerson Durães Alkimim
Tradução:Elisa Alvarenga
Revisão de Linguagem: Elisa Alvarenga, Maria Aparecida de
Morais Souza, Silvane Carozzi
Diagramação: Silvane Carozzi
Capa: Helio Lauar de Barros - Figura central baseado no
Relevo Espacial de Hélio Oticica
Apoio:
Apresentação
9
Alfredo Zenoni
11
Qual Instituição Para o Sujeito Psicótico?
13
Alfredo Zenoni
15
Alfredo Zenoni
essa função social tem por função colocar um limite à função tera
pêutica. Sem o limite da sua função social, a instituição corre o
risco de se transformar em um lugar de alienação, de experimenta
ção e, sem o limite da sua função terapêutica, ela corre o risco de
ser simplesmente suprimida. Fazer valer a necessidade social de
uma resposta institucional à clínica, uma resposta no social, tem a
vantagem que eu mencionei - de evitar suprimir a instituição ou
hospitalizar indefinidamente os pacientes. A primeira vantagem é
evitar esses dois riscos. A segunda vantagem é a de deslocar o
assento do conflito entre dois discursos a uma questão clínica co
mum.
Quando o estado crítico da psicose pode permitir a adesão da
transferência a um analista, não é necessário e nem desejável que
o sujeito seja acolhido na instituição. O tratamento da psicose não
exige automaticamente uma estrutura coletiva de resposta. Muitas
vezes, o sujeito se arranja para criar, ele mesmo, uma pequena
instituição em torno dele mesmo, com várias pessoas que inter
vêm. Assim, quando o tratamento da psicose pode aderir ao ana
lista, a resposta institucional não é necessária. Mas, a clínica, às
vezes, exige uma estrutura coletiva de resposta. É a clínica que
exige respostas que não podem ser dadas por um só. Trata-se, en
tão, de saber se a psicanálise pode orientar uma prática que pode
não ser a de um só, nem de um só momento do dia. Isso porque a
agitação, a injúria, a crise epileptiforme, a briga, a interpretação
persecutória de um gesto não esperam a entrevista do dia seguinte
para se produzir. Uma certa maneira de responder e de endereçar
se ao sujeito, uma certa maneira de intervir ou não, um cálculo da
posição que é preciso ocupar, são exigidos em todos os momentos
da permanência do paciente na instituição, sob pena de tornar-se
isso difícil para os outros ou insuportável para o sujeito. A ques
tão, então, é saber se nós podemos orientar uma prática que não é
de um só e que não se limita a certos momentos de um dia. O
acolhimento institucional não está limitado no tempo e nem a uma
17
Alfredo Zenoni
só pessoa.
Tomemos o caso do adolescente que tem uma faca e não quer
abandoná-la, mas a equipe teme que ele possa se ferir ou ferir os
outros. É preciso tomar uma posição diante disso e essa tomada de
posição pode ser feita por qualquer um dos membros do coletivo
institucional. É preciso encontrar uma resposta. Então, a resposta,
neste caso, foi a de propor ao adolescente guardar a faca dentro de
uma caixa fechada com chave e que a caixa fosse colocada no
escritório da diretora, que era a única a ter a chave da caixa. Isso é
uma historinha que permitiu ao sujeito separar-se da faca sem perdê
la e de não continuar a se constituir em perigo para os outros.
Se uma pessoa que mora na instituição vem se queixar que os
outros o agridem, acusando-o de ser um ladrão, ele vem pedir que
todos os que o chamam de ladrão sejam afastados da instituição.
Não se trata de dizer a ele que, de fato, ele entra nos quartos para
pegar cigarros dos outros. Primeiro, é melhor acolhê-lo com o seu
protesto, por exemplo, por uma declaração de ordem geral que
reconheça sua posição, dizendo que as agressões verbais não são
permitidas nessa casa. É uma maneira inicial de acolhê-lo com o
seu protesto. Antes de evocar as outras disposições relativas aos
quartos, não se trata de discutir com ele para dizer-lhe que talvez
os outros tenham razão. Trata-se, sobretudo, de presentificar um
Outro no qual ele tem um lugar, que o acolhe enquanto mestre,
como alguem que tem razão, por uma declaração do tipo geral,
universal, antes de se colocar numa relação dual com ele. São ti
pos de intervenção que todos os membros do coletivo podem ser
levados a fazer. Não são reservadas a um ou outro ou a algum
momento do dia. É a natureza mesma da clínica, acolhida na insti
tuição, que exige uma resposta comum, uma resposta da qual cada
um pode ser o vetor.
Se levamos em conta que a motivação de instituição é a clíni
ca, a questão não é mais entre a psicanálise e a instituição, mas da
relação entre a clínica e a instituição e, no centro dessa clínica, a
19
Alfredo Zenoni
21
Alfredo Zenoni
23
Alfredo Zenoni
Discussão:
25
Alfredo Zenoni
27
Alfredo Zenoni
Pergunta inaudível
29
Alfredo Zenoni
Pergunta inaudível
Pergunta inaudível
31
Alfredo Zenoni
uma outra maneira de não comer. Uma maneira de não comer que
consiste numa estratégia de insatisfação, que consiste em comer
nada, como diz Lacan, a uma outra maneira de não comer, por
exemplo, porque a comida está envenenada, ou de não comer por
que se sente morto. Cada vez, a pulsão oral está em jogo, mas
segundo modalidades diferentes. Mas, muitas vezes, os fenôme
nos são muito próximos. Como não estamos falando de fenôme
nos típicos, devemos cada vez tentar ver qual a lógica subjetiva
que está em j ogo. Esta lógica subjetiva depende essencialmente
do estatuto do gozo, ou do estatuto da pulsão. Por exemplo, o fato
de não comer ou de comer nada, pode ser representado por esse
circuito, onde esse nada que se come, é constituído essencialmen
te por uma ausência de objeto. Lacan diz, por exemplo, que o cú
mulo da pulsão oral consiste em pedir o menu. Quando nós come
mos, enquanto seres falantes, nós comemos também uma outra
satisfação que é feita da culinária, das maneiras de estar à mesa, da
preparação, que é algo não substancial. Isso é a satisfação pulsional,
que faz com que, quando nós comemos, nós comamos também o
vazio. O que faz com que comer não sej a satisfazer uma necessi
dade.
A anorexia neurótica acentua essa dimensão do vazio, talvez
como defesa contra o desejo, diante de um Outro que sabe qual é o
objeto que o sujeito gostaria de ter. Para defender seu desejo, o
sujeito busca uma outra satisfação que é essa satisfação de comer
nada. Ou a pulsão oral pode não se organizar nesse circuito. Não é
um ponto que o sujeito vai contornar no campo da alimentação,
que motiva seu desejo, sua atividade. Mas é o sujeito mesmo que
é esse objeto, o sujeito mesmo que não está separado deste objeto
e então nós estamos diante do que nós poderíamos chamar de pulsão
do Outro. Nós estamos também diante da oralidade, mas é o sujei
to que, por exemplo, quando ele se olha numa vitrine, como me
dizia recentemente um sujeito, tem a impressão de ver a goela de
Deus que quer devorá-lo, ou então é a criança psicótica, que só
Discussão:
43
Alfredo Zenoni
45
Alfredo Zenoni
47
Alfredo Zenoni
.f ()
Alfredo Zenoni
51
Alfredo Zenoni
53
Alfredo Zenoni
55
Alfredo Zenoni
tamento pelo sintoma que não é feito por alguma coisa que se
desfaz, mas por alguma coisa que se constrói. Se nós soubermos
ocupar um lugar justo na transferência, se nós nos afastarmos de
qualquer posição interpretativa, nós podemos acompanhar o su
jeito nas suas invenções, no sentido de tomar possível, com o laço
social, mesmo que sej a sob uma forma marginal, o sintoma
construído pelo próprio sujeito. O sintoma pode ser ocasionalmente
também um sintoma somático, e não devemos nos precipitar a
interpretar os fenômenos corporais como se fossem fenômenos
interpretáveis, porque os fenômenos corporais que nós chamamos
de hipocondríacos têm uma função terapêutica. Ao lado de fenô
menos corporais, nós podemos fazer de tal forma que sintomas se
construam com elementos não semânticos da linguagem, que têm
a mesma função que os sintomas corporais, a saber, de localização
do gozo, de localização da castração real, alhures do que na vida
do sujeito. É nesse sentido que eu dizia ontem que nós estamos,
em relação ao trabalho dos sujeitos psicóticos, na posição de apren
dizagem, de alunos, mas com esse sujeito, nós somos também se
cretários do alienado. Essa posição de aluno deve ser uma posição
de alunos ativos. Este tipo de tratamento pode se efetuar tanto no
consultório do analista quanto nas instituições. O que é comum a
ambos é a transposição do tratamento do gozo, do real do corpo,
do real da vida ao real do simbólico, ao que o simbólico tem de
real. Eis aí algumas indicações para dar um idéia do que nós pode
mos com os sujeitos psicóticos. Obrigado.
57
Alfredo Zenoni
59
Alfredo Zenoni
61
Alfredo Zenoni
63
Alfredo Zenoni
pensar nos três registros: imaginário, simbólico, real. Não sei bem
como pensar, é uma questão que eu estou nela e trabalhando, um
pouco, sobre a questão que Lacan coloca no Seminário Les non
dupes errent, quando ele retoma a questão da Pregung, com a ques
tão da nomeação: você é toxicômano, você é isso, você é aquilo_
Não é muito claro para mim, mas é aí que eu estou.
65
Alfredo Zenoni
67
Alfredo Zenoni
69
Discussão de Caso Clínico
71
Alfredo Zenoni
História da mãe:
73
Alfredo Zenoni
75
Alfredo Zenoni
77
Alfredo Zenoni
79
Alfredo Zenoni
domínio de gozo. Mas, este laço forte com o serviço constitui uma
amarração frágil. É apenas uma forma de suprir o que para ele foi
o fracasso do lado social. Assim se produzem as rupturas. Ele tem
que buscar em um Outro o que autentificaria essa função. Uma
autoridade reconhecida, encarnada, como absoluta. Qualquer tro
peço desta autoridade, o mínimo encontro com o real, que faz furo
nessa construção imaginária, pois não existe autoridade absoluta,
faz desmoronar a amarração. À exigência interativa de ordem, sus
tentada pelo seu apelo à autoridade, segue-se a quebradeira, a
ameaça pelo uso da força, a lógica selvagem onde o uso da palavra
está cassado e o que prevalece é o pulsional, uma satisfação
pulsional em lugar de uma satisfação narcísica. A culpa moral não
funciona aqui como anteparo. O corpo se enfeita, desfila sua oni
potência. "Isso dá no corpo", diz no seu furor. Que ele se antecipe
a isso não significa necessariamente que ele o premedite. A anteci
pação se dá, em geral, através de um pedido de internação. Sem
saber porque, ele pode se tomar violento. Para isso, às vezes, ele
se faz de doido, ou simula uma crise convulsiva. Ao comentar
suas passagens ao ato, revela a impotência de fazer-se ouvir. "Eu
falei". Seu corpo é a sua metáfora delirante. A esse corpo ele sem
pre retoma como o seu refúgio contra o desencadeamento e para
se fazer valer. É incapaz de sustentar o "eu quero". Diante das
contingências das frustrações ele diz: "eu quebro". Certa vez eu
anotei essa frase que me pareceu significativa. "eu não sou um
João Ninguém, tenho que mostrar a eles que eu tenho valor, mas é
perigoso eu me tomar um malandro". Isso me lembra a sua troca
delirante de nome. Dizia se chamar Janis Lee, condensação de
Janis Joplin e Bruce Lee. O culto ao corpo vem em suplência a
essa vacilação do nome próprio. Constitui uma tentativa de filiação.
"Não tenho identidade", repete, como justificativa por não arru
mar trabalho. Penso que devemos fazer a distinção entre essa jus
tificativa e a impossibilidade de fazer um laço social. Acho cada
vez mais difícil calcular o corte entre seu tratamento e a sua per-
81
Alfredo Zenoni
83
Alfredo Zenoni
ais não estão relacionados com uma causa do desejo. Eu vou fazer
um esquema. É um esquema grosseiro. Coloca de um lado o ima
ginário e o simbólico, que é também o campo da realidade, da
sociedade e, do outro lado, o real. Na neurose, a pulsão, a causa do
desejo é transferida ao campo do Outro. Por que o objeto é perdi
do, nós o buscamos na vida, na sociedade, na realidade, trabalhan
do, procurando um objeto de amor, correndo atrás de Deus sabe o
quê, o que faz com que haja um projeto. Porque o objeto está per
dido, a gente tenta recuperá-lo na realidade, no parceiro. Na psico
se, o objeto não está perdido, então ele não é transferido para o
campo do Outro. É por isso que a televisão fala dele, que ele rece
be mensagens, que ele se sente observado e visado pelos outros. A
contrapartida dessa não separação do objeto é que a realidade, para
ele, é feita de ideais, mas de ideais vazios. Esses ideais podem ser
perseguidos pelo sujeito, mas essencialmente sob um plano pura
mente identificatório. Isso pode ir muito longe, essa identificação.
É o que foi desenvolvido sob um certo ângulo sob o nome de per
sonalidade "como se", mas que pode ser estendida sob a noção de
identificação em geral na psicose. A identificação pode acompa
nhar o sujeito bem longe, inclusive no plano sexual, no plano tam
bém do trabalho. O sujeito pode, por exemplo, fazer como seu pai,
trabalhar na mesma profissão que o pai, mas quando ele se encon
tra só, quando no trabalho ele não está protegido pelas identifica
ções, então há uma ruptura. Ele não pode assumir a responsabili
dade. Com esse paciente, há todas essas identificações imaginári
as a personagens fictícios, mas sob o plano do trabalho, nós temos
simplesmente uma fórmula, ter um trabalho fixo. Minha questão
é: não haveria uma identificação que contivesse algo mais pulsional,
que contivesse mais gozo, que pudesse desembocar numa pers
pectiva de trabalho?
A segunda questão é: será que nós devemos ter para um su
jeito como perspectiva que ele trabalhe? Ou antes, que ele encon
tre uma prática, qualquer que seja ela, na qual ele possa exteriorizar
85
Alji'tdo Ztnoni
87
Alfredo Zenoni
ele demanda.
89
A lfredo Zenoni
91
Alfredo Zenoni
mos essa tentativa de ele estar morando num quarto, numa pensão
por enquanto , por que essa inscrição que ele propôs no hospital
não poderia ser no CERSAM? Essa é a questão que eu coloco para
ele.
93
UNICENTRO NEWTON PAIVA
ffi � 0 �. e · Funda�ão
F-.,-,H EM G
- ___....:....:_----.1
-
::::::�:� e
-
$A
U DEE C 1 D A D A N I A
-- Minas Gerais