Vous êtes sur la page 1sur 21

A entrevista focalizada, 143

A entrevista semipadronizada, 148


A entrevista centrada no problema, I54
A entrevista com especialistas, 158
A entrevista etnográfica, 159
A condução das entrevistas: os problemas de mediação e direcionamento, 160

OBJETIVOS DO CAPíTULO
Apósa leitura deste capítulo, você deverá ser capaz de:
I entender os vários tipos de entrevistas.
I reconhecer os princípios e as ciladas da realização de entrevistas.
I elaborar um guia de entrevista.
I selecionar, entre as diferentes versões, a técnica de entrevista apropriada.

Por muito tempo, nos Estados Unidos, dronizada ou em um questionário. É pos-


e particularmente em épocas anteriores da sível distinguir diversos tipos de entrevis-
pesquisaqualitativa, a discussão metodoló- tas, sendo que algumas delas serão discu-
gica girou em torno da observação como tidas aqui, tanto em termos de sua própria
método principal para a coleta de dados. lógica, como também em termos de sua
Asentrevistas abertas predominam na re- contribuição para um maior desenvolvi-
giãode língua alemã (por exemplo, Hopf, mento da entrevista semi-estruturada en-
2004a) e agora atraem mais atenção tam- quanto método em geral.
bém nas áreas anglo-saxônicas (ver, por
exemplo, Gubrium e Holstein, 2001). As
entrevistas semi-estruturadas, em particu- A ENTREVISTA FOCALIZADA
lar,têm atraído interesse e passaram a ser
amplamente utilizadas. Este interesse está Robert Merton foi um dos mais in-
associado à expectativa de que é mais pro- fluentes sociólogos nos Estados Unidos.
vável que os pontos de vista dos sujeitos Trabalhou por um longo período em cam-
entrevistados sejam expressos em uma si- pos como a pesquisa sobre os meios de co-
tuação de entrevista com um planejamen- municação. Merton e colaboradores (Mer-
to aberto do que em uma entrevista pa- ton e Kedall, 1946) desenvolveram a en-
11I Uwe Flick

trevista focalizada na década de 1940. Esse Quais são os elementos


método aparece aqui descrito com algum da entrevista focalizada?
detalhe, uma vez que se pode aprender
consideravelmente, a partir de Merton e
Kendall, acerca de como planejar e condu- O nãojireciouamento é obtido por
zir as entrevistas na pesquisa qualitativa. meio dediversas formas de perguntas'. A
Na entrevista focalizada, procede-se primeira diz respeito às questões não-estru
da seguinte maneira: Após a apresentação turadas (por exemplo, "O que foi que mais
de um estímulo uniforme (um filme, uma impressionou você nesse filme?). Na segun-
transmissão por rádio, etc.), estuda-se o im- da forma - questões semi-estruturadas-
pacto deste sobre o entrevistado a partir _ ou define-se o assunto concreto (por exem-
da utilização de um guia de entrevista. O plo, uma determinada cena de um filme),
objetivo original dessa entrevista consistia deixando-se a resposta em aberto ("Como
em fornecer uma base para a interpreta- você se sentiu em relação à parte que des-
ção de descobertas estatisticamente signi- creve Jo sendo afastado do exército como
ficativas (a partir de um estudo paralelo um psiconeurótico?). Ou então, opta-se
ou posteriormente quantificado) sobre o pela definição da reação, deixando-se oas-
impacto da mídia na comunicação de mas- sunto concreto em aberto (por exemplo,
sa. O estímulo apresentado tem seu con- "Que tipo de novidade você aprendeu com
teúdo analisado antecipadamente - o que esse panfleto?"). Na terceira forma de
possibilita que se estabeleça uma distinção questionamento - questões estruturadas-
entre os fatos "objetivos" da situação e as ambas as formas são definidas (por exem-
definições subjetivas fornecidas pelos en- plo, "Ao ouvir o discurso de Chamberlain
trevistados a respeito da situação, com a você o achou propagandístico ou informa:
finalidade de compará-los. tivo?"). Em primeiro lugar, utilizam-se per-
Quatro critérios devem ser utilizados guntas não-estruturadas, introduzindo uma
ao longo do planejamento do guia de en- maior estruturação apenas posteriormen-
trevista e da condução da entrevista pro- te, durante a entrevista, evitando-se assim
priamente dita: o não-direcionamento a que o sistema de referência do entrevis
especificidade, o espectro e, ainda, a pro- tadar seja imposto aos pontos de vista do
fundidade e o contexto pessoal revelados entrevistado (Quadro 13.1). Nesse aspec-
pelo entrevistado. Os diferentes elementos to, Merton e Kendall exigem a utilização
do método servirão para satisfazer a esses flexível do programa de entrevista. O en-
critérios. trevistador deve abster-se, o máximo pos

QUADRO 13.1 Exemplo de perguntas da entrevista focalizada

• O que mais impressionou você nesse filme?


• Como você se sentiu em relação à parte que descreve Jo sendo afastado do exército como
um psiconeurótico?
• Que novidades esse panfleto trouxe a você?
• A julgar pelo filme, você considera que o equipamento alemão de combate era melhor, tão
bom quanto, ou pior do que o equipamento usado pelos norte-americanos?
• Agora, retomando esse tema, quais foram suas reações àquela parte do filme?
Ao ouvir o discurso de Chamberlain, você o considerou propagandístico ou informativo?

Fonte: Merton e Kendall, 1946


Introdução à pesquisa qualitativa

sível,de fazer avaliações precipitadas, de- estiver sendo abordado. Isso também sig-
vendo cumprir um estilo não-diretivo de nifica que ele deve voltar a tópicos que já
conversa. Podem surgir problemas se as tenham sido mencionados, mas não deta-
perguntas forem feitas no momento erra- lhados em profundidade suficiente, espe-
do,e o entrevistado for, consequentemen- cialmente se ele tiver a impressão de que o
te,impedido ao invés de apoiado quanto a entrevistado desviou a conversa daquele tó-
apresentar seu ponto de vista, ou se acon- pico a fim de evitá-lo. Aqui, os entrevista-
tecerde a pergunta errada ser utilizada na dores devem reintroduzir o tópico anteri-
hora errada. or novamente com "transições reversíveis"
O critério da especificidade significa que (-1946, p. 553). No entanto, ao concebe-
a entrevista deve exibir os elementos espe- rem esse critério, Merton e Kendall perce-
cíficosque determinam o impacto ou o sig- bem o risco de "confundir espectro com
nificadode um evento para os entrevista- superficialidade" (1946, p. 554). Até que
dos,a fim de impedir que a entrevista per- ponto isso vem a configurar um problema
maneçano nível dos enunciados gerais. Para depende da forma como os entrevistadores
essepropósito, as formas mais apropriadas introduzem o espectro do tópico do guia
de questões são aquelas que oferecem o de entrevista e de seus graus de dependên-
mínimopossível de desvantagens ao entre- cia em relação a esse guia. Portanto, os
vistado. Para aumentar a especificidade, entrevistadores só devem mencionar tópi-
deve-seestimular a inspeção retrospectiva. cos se realmente quiserem assegurar que
Aqui,o entrevistado pode ser auxiliado a estes sejam tratados em detalhe.
recordaruma situação específica por meio A profundidade e o contexto pessoal
dousode materiais (por exemplo, um excer- demonstrados pelos entrevistados signifi-
tode texto, uma ilustração) e de questões cam que os entrevistadores devem assegu-
correspondentes ("Agora que retomou esse rar-se de que as respostas emocionais na
assunto,quais foram suas reações àquela entrevista vão além de avaliações simples
partedo filme?"). Como alternativa, é pos- como "agradável" ou "desagradável". O
sívelalcançar esse critério pela "referência objetivo é, ao contrário disso, a obtenção
explícitaà situação de estímulo" (por exem- de "um máximo de comentários auto-
plo,"Houve algo no filme que lhe deu essa reveladores no que diz respeito à forma
impressão?").Corno regra geral, Merton e como o material de estímulo foi experien-
Kendallsugerem que a "especificação das ciado" pelo entrevistado (1946, p. 554-
questõesdeve ser suficientemente explícita 555). Como resultado deste objetivo, uma
paraauxiliar o sujeito a relacionar suas res- tarefa concreta ao entrevistador é diagnos-
postasa determinados aspectos da situação ticar continuamente o nível corrente de
deestímulo,ainda que suficientemente ge- profundidade, com a finalidade de "des-
ral,para evitar que o entrevistador a estru- locar esse nível para qualquer finalidade
ture"(1946, p. 552). do 'continuum de profundidade' que ele
O critério do espectro visa a assegu- achar apropriada ao caso determinado". As
rarque todos os aspectos e os tópicos rele- estratégias para elevar o grau de profun-
vantesà questão de pesquisa sejam men- didade dizem respeito, por exemplo, a "en-
cionadosdurante a entrevista. Deve ser focar os sentimentos", a "reafirmar sen-
dadaa chance ao entrevistado de introdu- timentos deduzidos ou expressos" e a "fa-
zirtópicospróprios e novos na entrevista. zer referência a situações comparativas".
Aomesmotempo, menciona-se aqui a du- Aqui se observa também a referência ao
platarefa do entrevistador: abranger gra- estilo não-diretivo na condução de uma
dualmenteo espectro do tópico (contido conversa.
no guia de entrevista), introduzindo no- A aplicação desse método em outros
vostópicosou iniciando mudanças no que campos de pesquisa é voltada principal-
11 Uwe Flick

mente para os princípios gerais do méto- antecedência (por exemplo, no planeja-


do. Na entrevista, o foco é compreendido mento do guia de entrevista). Até que pon-
como relacionado ao tópico de estudo, e to eles são realmente cumpridos em uma
não ao uso de estímulos, tais como filmes. entrevista real depende, em grande parte,
da situação real da entrevista e da forma
como ela ocorre. Esses critérios destacam
Quais são os problemas na as decisões que os entrevistadores devem
condução da entrevista? tomar e as prioridades necessárias que de-
vem estabelecer ad hoc na situação de en
Os critérios sugeridos por Merton e trevista. Os autores mencionam também o
Kendall (1946) para a condução da entre- fato de que não existe um o comportarnen
vista reúnem alguns objetivos que não po- - to definido como "correto" para o entrevis
dem ser combinados em cada situação (por tador na entrevista focal (ou em qualquer
exemplo, especificidade e profundidade outro tipo de entrevista semi-estruturada).
versus espectro). O preenchimento desses A execução exitosa dessas entrevistas de-
critérios não pode ser concretizado com pende essencialmente da competência

Os conceitos das pessoas acerca da natureza humana

Baseado no método de Merton e Kendall, o psicólogo cultural Rolf Oerter (1995; ver
também Oerter et al., 1996, p. 43-47) desenvolveu a "entrevista da fase adulta" para o
estudo de conceitos sobre a natureza humana e a fase adulta em diferentes culturas (Esta-
dos Unidos, Alemanha Ocidental, Indonésia, Japão e Coreia) (Quadro 13.2).
A entrevista divide-se em quatro partes principais. Na primeira parte, são feitas pergun-
tas gerais sobre a fase adulta; por exemplo, como deve ser a aparência de um adulto, o que
é apropriado à fase adulta. A segunda parte trata dos três papéis principais da fase adulta:
o familiar, o ocupacional e o político. A terceira parte atrai a atenção para o passado do
entrevistado, indagando sobre mudanças em seu desenvolvimento durante os dois ou três
anos anteriores. A última parte da entrevista trata do futuro próximo do entrevistado, com
a realização de perguntas sobre seus objetivos de vida e outros avanços (1995, p. 213).

O entrevistado é, então, confrontado com histórias que envolvam dilemas, acom-


panhadas novamente por uma entrevista focalizada: solicita-se ao sujeito que
descreva a situação (na história) e encontre a solução. O entrevistador faz per-
guntas e tenta atingir o nível mais alto que o sujeito possa alcançar. Novamente,
é fundamental que o entrevistador esteja preparado para compreender e para
avaliar o nível real do indivíduo, a fim de fazer perguntas em um nível próximo
ao ponto de vista deste (1995, p. 213).

Com a finalidade de manter mais o foco da entrevista no ponto de vista do sujeito, o


guia de entrevista inclui "sugestões gerais" como: "Por favor, estimule o assunto, na medida
em que isso for necessário: Você pode explicar isso com mais detalhes? O que você quer
dizer com ...?" (Oerter et al., 1996, p. 43-47). Este é um bom exemplo de como uma entre-
vista focalizada foi adotada como ponto de partida para a elaboração de uma forma de
entrevista que é feita sob medida para uma questão de pesquisa específica.
Introdução à pesquisa qualitativa

situacional do entrevistador. Essa compe- alvos contraditórios, embora estes não pos-
tência pode ser ampliada a partir da expe- sam ser completamente resolvidos.
riência prática da tomada de decisões ne-
cessárias em situações de entrevista, em
entrevistas de ensaio e no treinamento para Qual a contribuição para a
entrevistas. Nesse treinamento, as situações discussão metodológica geral?
de entrevista são simuladas e analisadas
posteriormente com a finalidade de ofere- Os quatro critérios e os problemas a
cer aos entrevistadores aprendizes alguma eles associados podem ser aplicados a ou-
experiência. São fornecidos alguns exem- tros tipos de entrevistas sem o uso de um
plos das necessidades típicas de decisões estímulo antecipado e a busca de outras
entre mais profundidade (obtida através de questões de pesquisa. Tornaram-se critéri-
outras investigações) e garantia do espec- os gerais para o planejamento e a condu-
tro (pela introdução de novos tópicos ou ção de entrevistas e um ponto de partida
da próxima questão do guia de entrevista) para a descrição dos dilemas nesse méto-
com soluções diferentes em cada ponto. do (exemplos em Hopf, 2004a). Em seu
Issofacilita a manipulação dos dilemas dos conjunto, as sugestões concretas apresen-

QUADRO 13.2 Exemplos de questões da entrevista da fase adulta

I - Perguntas gerais sobre a fase adulta

(a) Como deve ser o comportamento de um adulto? Que habilidades/capacidades ele/ela deve
ter? Qual é a ideia que você faz de um adulto?
(b) Como você definiria os adultos de verdade? Em que se diferenciam os adultos reais e os
adultos ideais? Por que eles são como são?
(c) É possível reduzir as diferenças entre o adulto ideal e o real (entre como um adulto deveria
se comportar e como ele, de fato, se comporta)? Como? (Se a resposta for "não", por que
não?)
(d) Muitas pessoas consideram a responsabilidade um critério importante da fase adulta. Para
você, o.que significa responsabilidade?
(e) A luta pela felicidade (ser feliz) é normalmente vista como a meta mais importante para os
seres humanos. Você concorda? Em sua opinião, o que é a felicidade e o que é o ser feliz?
(I) Em sua opinião, qual é o sentido da vida? Por que estamos vivos?

2 - Outras explicações sobre os três papéis principais de um adulto


(a) Concepções a respeito do papel profissional de uma pessoa
O que você considera necessário para conseguir um emprego?
Trabalho e emprego são realmente necessários? São ou não parte integrante da vida adulta?
(b) Concepções a respeito da futura família de uma pessoa
Um adulto deve ter sua própria família?
Como ele/ela deve se comportar em sua família? Até que ponto ele/ela deve se envolver nela?
(c) Papel político
E quanto ao papel político de um adulto? Ele/ela tem tarefas políticas? Ele/ela deveria se
engajar em atividades políticas?
Ele/ela deve se preocupar com questões públicas? Deve assumir responsabilidades para
com a comunidade?
Fonte: Oerter e colaboradores, 1996, p. 43-47.
11 Uwe Flick

tadas por Merton e Kendall para o preen- cupam-se menos com a maneira pela qual bén
chimento dos critérios e para a formula- os entrevistados percebem e avaliam o ma- NOl
ção das questões podem ser utilizadas terial concreto do que com as relações ge- rarr
como uma orientação para a conceituali- rais na recepção do material filmado. Nes- sub
zação e a condução de entrevistas de um se contexto, os autores interessam-se por lise
modo geral. Concentrar-se o máximo pos- visões subjetivas sobre o material concre- sen
sível em um objeto específico e em seu sig- to. Pode-se duvidar que eles obtenham os de 1
nificado tornou-se um objetivo geral das "fatos objetivos do caso" (1946, p. 541) jetí-
entrevistas. O mesmo ocorre com as estra- pela análise desse material, que possam ser áre:
tégias sugeridas por Merton e Kendall para distinguidos das "definições subjetivas da
a realização desses objetivos - o principal situação". Contudo, eles recebem uma se- rep:
é dar ao entrevistado o maior espaço pos- gunda versão do objeto dessa maneira. Eles vob
sível para manifestar suas opiniões. conseguem relacionar opiniões subjetivas alél
de um único entrevistado, bem como o es- ja
pectro das perspectivas de diversos entre- Ot
Como o método se ajusta vistados a essa segunda versão. Além dis- de
no processo de pesquisa? so, dispõem de uma base para responder a va
perguntas como: que elementos das apre-
Com esse método, podem-se estudar sentações do entrevistado correspondem ao
pontos de vista subjetivos em diferentes resultado da análise do conteúdo do filme?
grupos sociais. O objetivo pode ser a gera- Que partes foram omitidas por parte do en-
ção de hipóteses para estudos quantitati- trevistado, embora constem no filme, se-
vos posteriores, mas também a interpreta- gundo a análise do conteúdo? Que tópicos
ção aprofundada das descobertas experi- o entrevistado introduziu ou acrescentou?
mentais. Os grupos investigados são nor- Outro problema desse método é que
malmente definidos com antecedência, e ele dificilmente é aplicado em sua forma
o processo de pesquisa apresenta um plane- pura e completa. Sua relevância atual é de-
jamento linear (ver Capítulo 11). As ques- finida antes por seu ímpeto para concei-
tões de pesquisa concentram-se no impac- tualizar e para conduzir outras formas de
to de eventos concretos ou na manipula- entrevistas que foram desenvolvidas a par·
ção subjetiva das condições das atividades tir dele, e que são frequentemente utiliza-
da própria pessoa. A interpretação não se das. Além disso, deve-se observar a suges
fixa a um método específico, ainda que os tão sobre combinar entrevistas abertas com
procedimentos de codificação (ver Capítu- outras abordagens metodológicas para o
lo 23) pareçam ser mais apropriados. objeto em estudo. Estas podem oferecer um
ponto de referência para a interpretação
dos pontos de vista subjetivos na entrevis
ta. Essa ideia é discutida de forma mais amo
Quais são as limitações pla sob o título "triangulação" (ver Capí- em
do método? tulo 29).
um
A característica específica da entre- ma
vista focalizada - a utilização de um estímu- A ENTREVISTA ra".
lo como um filme, durante a entrevista - é SEMIPADRONIZADA
uma variação da situação-padrão da entre-
vista semi-estruturada que dificilmente é Em seu método para a reconstrução
aplicada, mas que, no entanto, origina al- de teorias subjetivas, Scheele e Groeben
guns problemas específicos que precisam (1988) sugerem uma elaboração específi-
ser considerados. Merton e Kendall preo- ca da entrevista semi-estruturada (ver tam-
Introdução à pesquisa qualitativa

bém Groeben, 1990). Brigitte Scheele e Quais são os elementos da


Norbert Groeben são psicólogos e elabora- entrevista semipadronizada?
ram a abordagem do estudo das teorias
subjetivas como um modelo especial à aná- Durante as entrevistas, reconstroem-
lise do conhecimento cotidiano. Eles de- se os conteúdos da teoria subjetiva. O guia
senvolveram essa abordagem nas décadas de entrevista menciona diversas áreas de
de 1980 e de 1990 para estudar teorias sub- tópicos, sendo cada uma delas introduzida
jetivas em campos como escolas e outras por uma questão aberta e concluída por
áreas de trabalho profissional. uma questão confrontativa. Os exemplos
Esse método foi aqui escolhido por apresentados a seguir foram extraídos de
representar uma forma especial de desen- - meu estudo a respeito das teorias subjeti-
volver o método de entrevista um tanto vas sobre a confiança sustentadas pelos
aléme pode ser interessante para o plane- profissionais do sistema de saúde. As ques-
jamento de outras formas de entrevistas. tões abertas ("O que você acha e por que as
O termo "teoria subjetiva" refere-se ao fato pessoas, em geral, estão dispostas a confi-
de os entrevistados possuírem uma reser- ar umas nas outras?") podem ser respon-
va com lexa de cQTI.hecimentosobre o tó- didas com base no conhecimento que o en-
pico em.estudo, Por exemplo, as pessoas trevistado possui imediatamente à mão.
têmuma teoria subjetiva a respeito do cân- Além disso, são feitas perguntas con-
cer- o que é o câncer, quais os diferentes troladas pela teoria e direcionadas para as
tiposde câncer, por que elas acham que as hipóteses. Estas são voltadas para a litera-
pessoasdesenvolvem câncer, quais são as tura científica sobre o tópico, ou baseiam-
possíveisconsequências do câncer, como se nas pressuposições teóricas do pesqui-
deveser tratado, e assim por diante. sador ("É possível a confiança entre estra-
Esse conhecimento inclui suposições nhos, ou é necessário que as pessoas en-
quesão explícitas e imediatas, que podem volvidas se conheçam?"). Na entrevista, as
serexpressas pelos entrevistados de forma relações formadas nessas questões servem
espontâneaao responderem a uma pergun- ao propósito de tornar mais explícito o co-
taaberta, sendo estas complementadas por nhecimento implícito do entrevistado. As
suposiçõesimplícitas. A fim de articulá-Ias, suposições nessas questões são planejadas
é necessário que o entrevistado seja ampa- como algo oferecido ao entrevistado, po-
radopor apoios metodológicos, razão pela dendo este adotar ou recusar, conforme
qual aqui são' aplicados diversos tipos de elas corresponderem ou não a suas teorias
questões(ver a seguir). Estas questões são subjetivas.
utilizadaspara reconstruir a teoria subjeti- O terceiro tipo de questões - questões
vadoentrevistado sobre o assunto em estu- confrontativas - corresponde às teorias e
do (por exemplo, as teorias subjetivas so- às relações apresentadas pelo entrevista-
brea confiança utilizadas por conselheiros do até aquele ponto, com a finalidade de
ematividades com seus clientes). reexaminar criticamente essas noções à luz
Aentrevista real é complementada por de alternativas concorrentes. Enfatiza-se
umatécnica de representação gráfica cha- que essas alternativas devam se colocar em
madade "técnica da disposição da estrutu- "verdadeira oposição temática" aos enun-
ra".Aoaplicar-se essa técnica em conjunto ciados do entrevistado com o objetivo de
comos entrevistados, seus enunciados ex- evitar a possibilidade de sua integração à
traídosda entrevista anterior são transfor- teoria subjetiva do entrevistado. Por isso,
madosem uma estrutura, permitindo tam- o guia de entrevista inclui diversas versões
bémsua validação comunicativa (ou seja, alternativas dessas questões confrontativas.
consegue-seo consentimento do entrevis- A definição sobre qual delas utilizar de for-
tadopara esses enunciados). ma concreta depende da forma como o as-
11 Uwe Flick

QUADRO 13.3 Exemplos de questões da entrevista semipadronizada


deve
exen
men
• Você poderia me dizer, brevemente, a que você relaciona o termo "confiança", se pensar em çãoc
sua prática profissional?
• Você poderia me dizer quais são os aspectos essenciais e decisivos da confiança entre cliente e
conselheiro?
• Existe um provérbio: "Confiar é bom, controlar é melhor". Considerando seu trabalho e sua
relação com seus clientes, é essa sua atitude ao lidar com eles?
• Conselheiros e clientes conseguem alcançar seus objetivos sem confiar uns nos outros?
• Eles estarão dispostos a confiar uns nos outros sem que haja um mínimo de controle?
• Qual a diferença entre as pessoas que estão prontas para confiar e aquelas que não estão
dispostas a confiar?
• Há pessoas que apresentam maior facilidade para ganhar confiança do que outras? Como essas
pessoas confiáveis se diferenciam das outras?
• Em seu trabalho, existem atividades que você possa realizar sem que haja confiança entre
você e seu cliente?
• Considerando a instituição na qual você trabalha, que fatores facilitam o desenvolvimento da
confiança entre você e seus clientes? Que fatores a tornam mais difícil?
• O modo como as pessoas chegam a sua instituição influencia no desenvolvimento da confiança?
• Você se sente mais responsável por um(a) cliente se você percebe que ele/ela confia em você?

sunto foi desenvolvido na entrevista até mentais do entrevistado são apresentados


aquele ponto. a ele como conceitos, em pequenos cartões,
A condução da entrevista é aqui ca- com duas finalidades. A primeira é avaliar
racterizada pela introdução de áreas de os conteúdos: pede-se ao entrevistado que
tópicos e pela formulação intencional de recorde a entrevista e verifique se seu con- As
questões baseadas em teorias científicas teúdo está representado de forma correta
sobre o tópico (nas perguntas direcionadas nos cartões. Se não for esse o caso, ele deve
para as hipóteses) (Quadro 13.3). reformular, eliminar ej ou substituir enun-
ciados por outros mais apropriados. Essa
avaliação em relação aos conteúdos (isto COI
A técnica da disposição é, a validação comunicativa dos enuncia- co
dos pelos entrevistados) está temporaria- en
da estrutura (TOE-) mente concluída. A segunda finalidade é do
estruturar os conceitos restantes, em uma int
Em um segundo encontro com o en- forma semelhante às teorias científicas, bu
trevistado, não mais do que uma ou duas com a aplicação das regras da TDE. Com
semanas após a primeira entrevista, apli- esse objetivo, deve-se fornecer ao entrevis-
ca-se a técnica da disposição da estrutura tado um breve artigo de introdução à TDE,
(TDE). Nesse meio-tempo, a entrevista, que a fim de familiarizá-lo com as regras para
acabara de ser delineada, é transcrita, e seu
conteúdo, preliminarmente analisado. No
segundo encontro, os enunciados funda-
sua aplicação e - na medida do necessário
e do possível - com o modo de pensar em
que esta é baseada. Dentro deste artigo,
o
* N. de T. Sigla em inglês: SLT (Structure Laying
Technique) . FIi
Introdução à pesquisa qualitativa

deverá constar também um conjunto de síveis para a representação das relações


I exemplos. A Figura 13.1 mostra um frag-
mento extraído de um exemplo de aplica-
causais entre os conceitos, tais como "A é
uma precondição para B", ou "C é uma
çãoda técnica e de algumas das regras pos- condição promocional de D".

a conselheiro deixa ou a cliente está ciente a conselheiro


atribui competências de suas competências conhece a situação
ao cliente. restantes. . do cliente.

Grande oportunidade a conselheiro dá

-,
para o mau uso do bastante espaço ao
poder. cliente.

.AI'

;-
a conselheiro encontra

-.
a maioria dos clientes
I Condição em situações ruins.

A maioria dos clientes


vem à instituição por
l ~
terem sido avaliados
I Confiança entre cliente e conselheiro I pelo setor de
Assistência Social como
não-confiáveis.

~
As pessoas da clínica Na maioria das vezes, a conselheiro As propostas
responsável não a socialização dos é inserido em oferecidas pelo
conseguem mais clientes foi repleta de algum momento conselheiro ao
confiar nas instituições. contratempos. da vida do cliente, cliente devem ser
e novamente concretizadas
Para exercer Preconceitos em
retirado em outro. contra a vontade
controle, o relação a um determi-
da instituição.
conselheiro coloca-se nado cliente transmiti- a conselheiro
entre os interesses dos pelos colegas na pede que o
do cliente e os assistência social cliente se retire
interesses da da sala durante
A instituição como
burocracia. um telefonema
burocracia
para outra a contato com o
Tentativas de outras instituições (assistência instituição que cliente é, em grande
social) de influenciarem a instituição contra os diga respeito parte, muito breve
interesses do cliente. ao cliente. nessa instituição.

D-+- = condições retardativas Condição = precondição

~ = condições promocionais = interação

~+- = condições em parte promocionais, em parte retardativas

Fligura 13.1 Excerto de uma teoria subjetiva sobre a confiança no aconselhamento.


11 Uwe Flick

o resultado de tal processo estrutu- novamente sobre suas opiniões à luz das
rador com a aplicação da TDE é uma re- alternativas concorrentes.
presentação gráfica de uma teoria subjeti-
va. Ao final, o entrevistado compara sua
estrutura com a versão preparada pelo en- Quais são os problemas na
trevistador entre um encontro e outro. Essa aplicação do método?
comparação - de modo semelhante às
questões confrontativas - serve ao propó- o principal problema em ambas as
sito de fazer com que o entrevistado reflita partes do método é identificar até que pon-

Teorias subjetivas sobre a confiança no aconselhamento

Em meu estudo sobre a confiança no aconselhamento, utilizei esse método para entre-
vistar 15 conselheiros, com diferentes formações profissionais (por exemplo, psicólogos,
assistentes sociais e médicos). O programa de entrevista incluía tópicos como a definição de
confiança, a relação risco e controle, estratégias, informações e conhecimento anterior,
razões para a confiança, sua relevância para o trabalho psicossocial e as condições e a
confiança da estrutura institucional (ver Quadro 13.3). Como resposta à questão - ''Você
poderia me dizer, brevemente, a que você relaciona o termo 'confiança', se pensar em sua
prática profissional?" - uma das pessoas entrevistadas me forneceu sua definição:

Se pensar em minha prática profissional - bem ... muitas pessoas me pergun-


tam, no início, se podem confiar em mim naquela relação, e - por estar ali repre-
sentando uma agência pública - se realmente mantenho suas informações con-
fidenciais. Confiança, para mim, significa dizer, neste ponto, de uma forma bas-
tante honesta, como eu devo tratar isso, dizendo que posso manter tudo confi-
dencial até um determinado ponto. Porém, se eles me relatarem qualquer fato
arriscado e com o qual terei dificuldades de lidar, então irei informá-los naquele
instante. Bem, isto é confiança para mim: ser franca a respeito disso e o ponto do
juramento de segredo; este é, de fato, o ponto fundamental.

As entrevistas revelaram como as teorias subjetivas consistem de reservas de conheci-


mento armazenadas para a identificação de diferentes tipos de abertura de uma situação de
aconselhamento, representações-alvo de tipos ideais dessas situações e suas condições e
ideias sobre como ao menos chegar próximo da produção dessas condições na situação em
curso. A análise de atividades de aconselhamento mostrou como os conselheiros agem de
acordo com essas reservas de conhecimento e as utilizam para enfrentar situações novas e
correntes.
Esse estudo mostrou o conteúdo e a estrutura das teorias subjetivas dos indivíduos e as
diferenças nas teorias subjetivas dos conselheiros que trabalham no mesmo campo, mas
oriundos de diferentes formações profissionais. A estruturação das questões, como parte do
guia de entrevista e resultante da utilização da TDE permitiu, posteriormente, a demons-
tração do contexto de enunciados únicos.
Introdução à pesquisa qualitativa

to os entrevistadores conseguem tornar indicar o caminho para a solução de um


plausíveis os procedimentos para os entre- problema mais geral da pesquisa qualitati-
vistados, lidando com as irritações que as va. Uma meta das entrevistas em geral é
questões confrontativas possam causar. A revelar o conhecimento existente de tal
introdução cuidadosa de pontos de vista modo que se possa expressá-lo na forma
alternativos - por exemplo, ''Alguém talvez de respostas, tornando-se, assim, acessível
pudesse ver o problema que você mencio- à interpretação. A técnica da disposição da
nou há pouco da seguinte maneira: ..." - é estrutura também oferece um modelo para
uma forma de lidar com esses contratem- a estruturação dos conteúdos das entrevis-
pos.As regras da TDE e o modo de pensar tas no qual são utilizadas diferentes for-
no qual elas se baseiam podem provocar mas de questões. O fato de essa estrutura
irritações porque, para as pessoas em ge- ser desenvolvida juntamente com o entre-
ral, a introdução de conceitos em relações vistado durante a coleta de dados, e não
formalizadas com o objetivo de visualizar meramente pelo pesquisador na interpre-
suas conexões nem sempre é um procedi- tação, faz dela um componente dos dados.
mento-padrão. Por essa razão, sugere-se A questão sobre se o formato sugerido por
esclarecer para o entrevistado que a apli- Scheele e Groeben para essa estrutura e as
cação da TDE e de suas regras não devem relações indicadas correspondem ao assun-
ser entendidas como um teste de desem- to da pesquisa apenas poderá ser definida
penho, devendo, sim, ser utilizada de uma em um caso individual. Em resumo, o que
forma divertida. Após a superação das ini- se propõe aqui é um conceito metodológico
biçõesiniciais, na maioria dos casos, é pos- que leva em conta explicitamente a recons-
sível gerar, na entrevista, a confiança ne- trução do objeto de pesquisa (neste caso,
cessária na aplicação do método. uma teoria subjetiva) na situação de entre-
vista, em vez da propagação de uma abor-
dagem mais ou menos incondicional para
Qual a contribuição para a um determinado objeto.
discussão metodológica geral?

A relevância geral dessa abordagem Como o método se ajusta


é que os diversos tipos de questões permi- no processo de pesquisa?
tem aos pesquisadores lidarem de forma
mais explícita com as pressuposições que O pano de fundo teórico para essa
levam para a entrevista em relação aos abordagem é a reconstrução dos pontos de
pontosde vista do entrevistado. O "princí- vista subjetivos. Fazem-se pressuposições
pio da abertura", na pesquisa qualitativa, acerca de sua estrutura e de seus possíveis
vemsendo, seguidamente, mal-interpreta- conteúdos. No entanto, nesse método, o
do,como se estimulasse uma atitude difu- espaço para moldar os conteúdos da teo-
sa. Aqui, esse princípio transforma-se em ria subjetiva permanece amplo o suficien-
um diálogo entre posturas, resultante dos te para que o objetivo geral da formulação
váriosgraus de confrontação explícita com de teorias fundamentadas seja alcançado,
tópicos.Nesse diálogo, a postura do entre- bem como o uso de estratégias de amostra-
vistado torna-se mais explícita, podendo gem voltadas para os casos. As questões
tambémser mais desenvolvida. Os diferen- de pesquisa buscadas com esse método
tes tipos de questões, os quais represen- concentram-se, em parte, no conteúdo das
tam abordagens distintas para tornar ex- teorias subjetivas (por exemplo, teorias
plícito o conhecimento implícito, podem subjetivas sobre as doenças por parte de
11 Uwe Flick

pacientes psiquiátricos) e, em parte, no guntas e como aprofundar a investigação men


modo como são aplicadas em atividades durante a própria entrevista. Com a utili- tivas
(por exemplo, profissionais). zação, em particular, de um guia de entre- blem
vista, que incorpora questões e estímulos ções
narrativos, é possível coletar dados biográ- hoc.
Quais são as limitações ficos com relação a um determinado pro- cent
do método? blema. Essa entrevista é caracterizada por Wit
três critérios centrais: centralização no pro- nal:
Os detalhes mais delicados do méto- blema (ou seja, a orientação do pesquisa- com
do (tipos de perguntas, regras da TDE) pre- dor para um problema social relevante); vor,
cisam ser adaptados à perguntas da pes- orientação ao objeto (isto é, que os méto- ral
quisa e aos possíveis entrevistados. Um ca- dos sejam desenvolvidos ou modificados do
minho para isso é a redução ou a modifica- com respeito a um objeto de pesquisa); e, obje
ção das regras sugeridas por Scheele e por fim, orientação ao processo no proces-
Groeben. Outro caminho talvez seja o aban- so de pesquisa e no entendimento do obje-
dono das perguntas confrontativas (por to de pesquisa.
exemplo, em entrevistas com pacientes
sobre suas teorias subjetivas sobre as doen-
ças). Em boa parte da pesquisa sobre teo- Quais são os elementos
rias subjetivas, apenas uma breve versão
da entrevista centrada
do método é aplicada. Outro problema é a
interpretação dos dados coletados com a no problema?
utilização desse método, uma vez que não
existam sugestões explícitas sobre como Originalmente, Witzel menciona qua-
proceder. A experiência mostra que os pro- tro "elementos parciais" para a entrevista
cedimentos de codificação se adaptam que ele define: "entrevista qualitativa",
melhor (ver Capítulo 23). Devido à comple- "método biográfico", "análise de caso" e
xa estrutura do caso único, as tentativas "discussão em grupo". Sua concepção de
de generalização enfrentam o problema de uma entrevista qualitativa inclui um breve
como condensar diferentes teorias subjeti- questionário precedente, o guia de entre-
vas em grupos. Para as questões de pesquisa vista, o gravador e o pós-escrito (um pro-
relacionadas a processos (por exemplo, tocolo de entrevista). O guia de entrevista
biográficos) ou a elementos inconscientes é planejado para auxiliar a sequência nar-
de ações, esse método não é apropriado. rativa desenvolvida pelo entrevistado. Mas,
sobretudo, é utilizado como base para dar
à entrevista um novo rumo "no caso de uma
A ENTREVISTA CENTRADA conversa estagnante ou de um tópico im-
NO PROBLEMA produtivo". Com base no guia de entrevis-
ta, o entrevistador deve decidir "quando
A entrevista centrada no problema, introduzir seu interesse centrado no pro-
sugerida por Witzel (ver 2000), vem atra- blema na forma de questões exmatient'
indo algum interesse, sendo aplicada prin- [isto é, direcionadas], a fim de diferenciar
cipalmente na psicologia alemã. Andreas ainda mais o tópico" (Quadro 13.4). São
Witzel a desenvolveu no contexto da pes-
quisa biográfica que trata de biografias
profissionais de diversos grupos de pesso-
as. Esse tipo de entrevista é aqui apresen- * N. de T. Em oposição às questões imanentes,
tado em algum detalhe, o que inclui algu- as exmanent são aquelas questões que refletem
mas sugestões sobre como formular per- o interesse ou as formulações do pesquisador.
Introdução à pesquisa qualitativa

gação mencionadas quatro estratégias comunica- tipo "O que aconteceu lá mais detalhada-
utili- tivascentrais na entrevista centrada no pro- mente?" ou "De onde você sabe isso?". A
entre- blema: a entrada conversacional, as indu- indução específica aprofunda o entendi-
nulos ções geral e específica e as perguntas ad mento, por parte do entrevistador, refletin-
ográ- hoc. Em um estudo sobre como os adoles- do (por meio de resumo, de feedback, de
I pro- centes decidiram sobre suas profissões, interpretação pelo entrevistador) o que foi
3. por Witzelutilizou, como entrada conversacio- dito, por meio de questões de compreen-
.pro- nal: ''Você quer ser (um mecânico, etc.), são e confrontando o entrevistado com con-
uisa- como você chegou a essa decisão? Por fa- tradições e inconsistências presentes em
lte); vor, me diga apenas isso!". A indução ge- - seus enunciados. Aqui, considera-se impor-
iéto- ral oferece "material" adicional e detalhes tante que o entrevistador deixe claro seu
idos do que foi apresentado até então. Com esse interesse substancial e seja capaz de man-
); e, objetivo, utilizam-se questões adicionais do ter uma boa atmosfera na conversa.
ces-
bje-

Teorias subjetivas sobre doenças relativas à pseudocrupe

Ia- o exemplo a seguir demonstra como esse método pode ser aplicado ao nos concentrar-
sta mos em seus elementos principais. O exemplo provém da área dos problemas de saúde. O
", estudo é um exemplo típico por utilizar entrevistas em um estudo qualitativo. A questão em
'e estudo tratava-se de um tema relativamente novo, com pouca pesquisa disponível naquele
momento. A pesquisa concentrava-se em inserir o conhecimento e a perspectiva dos parti-
de
cipantes na questão do estudo. Por essa razão, esse exemplo foi selecionado com o objetivo
ve de mostrar o que pode ser feito com entrevistas centradas no problema ou outras seme-
e- lhantes. Nesse estudo sobre as teorias subjetivas da doença- de 32 crianças com pseudocrupe
0- (uma tosse forte em crianças causada pela poluição ambienta!), Ruff (1998) conduziu as
ta entrevistas centradas no problema realizadas com os pais destas crianças. O guia de entre-
r- vista incluía as seguintes perguntas-chave (ver também o Quadro 13.4):
s,
r Como ocorreu o primeiro episódio da doença e como os pais lidaram com ele?
a O que os pais entendem ser a causa da doença de seus filhos?
Quais as consequências da opinião dos pais sobre o problema em relação a suas vidas
cotidianas e ao planejamento do futuro em suas vidas?
De acordo com a avaliação dos pais, que poluentes ambientais oferecem riscos à saúde
de seus filhos? Como eles lidam com esses poluentes? (1998, p. 287)

Em uma das principais descobertas, afirmou-se que dois terços dos pais entrevistados
supunham, em suas teorias subjetivas sobre doenças, a existência de uma relação entre a
doença de trato respiratório de seus filhos e a poluição do ar. Embora, em geral, a poluição
do ar fosse considerada como apenas um dos motivos entre outros possíveis, e as suposi-
ções causais estivessem associadas a uma grande incerteza, a maioria desses pais havia
adaptado seu cotidiano e também, em parte, o planejamento de sua vida futura a essa nova
visão do problema (1998, p. 292-294).
Esse exemplo demonstra como algumas das ideias básicas da entrevista centrada no
problema foram adotadas e adaptadas pelo autor para essa questão de pesquisa específica.
11 Uwe Flick

QUADRO 13.4 Exemplo de perguntas da entrevista centrada no problema


fundad
entrevi:
pode s(
I. O que vem espontaneamente a sua mente quando você ouve as palavras-chave "risco ou de entr
perigo para a saúde"?
2. Quais os riscos para a saúde que você observa para si mesmo?
3. Você faz algo para se manter saudável? . .. .
4. Muitas pessoas dizem que substâncias venenosas no ar, na agua e na comida prejudicam
Como
nossa saúde. proce!
(a) Como você avalia esse problema? ...? o
(b) Você sente sua saúde ameaçada por poluentes amblentals,? P~r quais deles. o intere
(c) O que fez com que você se preocupasse com as cORsequenclas dos poluentes A pesqi
ambientais para a saúde?
process
as (ver
(...)
sa são v
fatos ot
II (a) Como você obtém informações sobre o tema "meio ambiente e saúde"?
ção de
(b) Como você interpreta as informações na mídia?
(c) Qual a credibilidade dos enunciados científicos nesse contexto? dualme
E quanto à credibilidade dos políticos? solidar
cesso. I
Fonte: Ruff, 1990.
te com
terpretr
grande
codifics
Qual a contribuição para a Como segunda sugestão, é possível análise
discussão metodológica geral? transferir o pós-escrito da abordagem de tulo 23
Witzel para outras formas de entrevistas. sugestõ
Imediatamente após a conclusão da en- de entr
Para uma discussão geral que ultra- trevista, o entrevistador deve anotar suas
passe sua própria abordagem, a sugestão impressões a respeito da comunicação, do
de Witzel de utilizar um breve questioná- entrevistado enquanto pessoa, dele mes-
rio juntamente com a entrevista é produti-
Quais
mo e de seu comportamento na situação
va. A utilização desse questionário possi- de entrevista, das influências externas, da
bilita ao pesquisador coletar os dados (por A
sala na qual a entrevista ocorreu, etc. Des-
exemplo, dados demográficos) que sejam tões su
ta maneira, documentam-se as informa-
menos relevantes do que os tópicos da pró- opinião
ções extraídas do contexto que possam ser
pria entrevista antes da entrevista real. Isso blema :
instrutivas. Esse registro pode ser útil para
permite ao pesquisador reduzir o número centrac
a posterior interpretação dos enunciados
de perguntas e - o que é particularmente de Wit
na entrevista, permitindo a comparação
valioso em um programa com tempo limi- entrevi!
de diferentes situações de entrevista. No
tado - utilizar o curto período da entrevis- preens
que diz respeito à gravação das entrevis-
ta para tópicos mais essenciais. Ao contrá- forma (
tas em fitas cassete, sugerida por Witzel
rio da sugestão de Witzel sobre o uso des- ta. Ele
para possibilitar uma melhor contextuali-
se questionário antes da entrevista, parece guntas
zação dos enunciados, esta já foi instituí-
que faria mais sentido aplicá-Io ao final, tópico
da há bastante tempo na aplicação das en-
com o objetivo de impedir que sua estru- rentes,
trevistas. As diferentes estratégias sugeri-
tura de perguntas e respostas se imponha sões er
das por Witzel (induções gerais e específi-
sobre o diálogo na entrevista. Como
cas) - para uma investigação mais apro-
Introdução à pesquisa qualitativa

fundada das respostas fornecidas pelo sob o título de elementos da entrevista


entrevistado - são mais uma sugestão que centrada no problema, o papel da discus-
pode ser transferida para outras formas são em grupo, por exemplo, permanece
de entrevista. pouco claro aqui: pode ser acrescentada
como uma segunda etapa ou uma etapa
adicional, mas uma discussão em grupo não
Como o método se ajusta no pode fazer parte de uma entrevista com
processo de pesquisa? uma pessoa. Existem restrições quanto ao
critério da centralização no problema, sen-
o pano de fundo teórico do método é do que este critério não se revela muito útil
o interesse nos pontos de vista subjetivos. para distinguir esse método de outros, uma
- vez que a maioria das entrevistas concen-
A pesquisa baseia-se em um modelo dÓ.)
processo com o objetivo de elaborar teori-\ tra-se em problemas especiais. Entretanto,
as (ver Capítulo 8). As questões de pesqui- o nome e o conceito do método represen-
sa são voltadas para o conhecimento sobre tam uma promessa implícita de que este
fatos ou processos de socialização. A sele- seja - talvez mais do que outras entrevis-
ção de entrevistados deve prosseguir gra- tas - centrado em torno de um determina-
dualmente (ver Capítulo 11), a fim de con- do problema. Isso torna o método espe-
solidar a orientação do método pelo pro- cialmente atraente para iniciantes na pes-
cesso. Essa abordagem não se comprome- quisa qualitativa. As sugestões de Witzel
te com nenhum método específico de in- para o guia de entrevista enfatizam que este
terpretação, mas, sim, compromete-se em deve abranger áreas de interesse, mas sem
grande parte com os procedimentos de mencionar tipos concretos de perguntas a
codificação, utilizando, principalmente, a serem incluídas. Embora sejam fornecidas
análise qualitativa do conteúdo (ver Capí- instruções ao entrevistador sobre como pla-
nejar investigações mais aprofundadas para
tulo 23) (ver também Witzel, 2000, para
sugestões sobre como analisar essa forma as respostas dos entrevistados com as
de entrevistas). "induções gerais e específicas", as aplica-
ções do método, no entanto, têm demons-
trado que essas instruções não previnem
os entrevistadores dos dilemas entre a pro-\
Quais as limitações do método? fundidade e o espectro previamente men-
cionados quanto à entrevista focalizada.
A combinação de narrativas e ques- As entrevistas discutidas até aqui fo-
tões sugerida por Witzel visa focalizar a ram apresentadas de modo mais detalha-
opinião do entrevistado em relação ao pro- do no que diz respeito aos aspectos metodo-
blema em torno do qual a entrevista está lógicos. A entrevista focalizada vem sendo
centrada. Em alguns pontos, as sugestões descrita pelo fato de ter representado, de
de Witzel sobre como utilizar o guia de um modo geral, a força motriz por trás
entrevistapassam a impressão de uma com- desses métodos, e porque oferece algumas
preensão excessivamente pragmática da sugestões sobre a forma como efetuar en-
forma de lidar com a situação de entrevis- trevistas em geral. A entrevista semipadro-
ta. Ele então sugere a introdução de per- nizada inclui diferentes tipos de questões,
guntas de atalho para narrativas sobre um sendo complementada por ideias a respei-
tópico improdutivo. Para integrar as dife- to de como estruturar seus conteúdos du-
rentes abordagens, Witzel inclui as discus- rante a coleta de dados. A entrevista cen-
sões em grupo e o "método biográfico". trada no problema oferece sugestões adi-
Como o autor discute esses componentes cionais sobre como documentar o contex-
11 Uwe Flick

to e como lidar com informações secundá- vez de falar sobre o tópico da entre-
rias. A seguir, são brevemente discutidos vista.
alguns outros tipos de entrevistas semi- • Ele/ela oscila seguidamente do papel
estruturadas que têm sido desenvolvidas de especialista para o de sua personalí-
para campos de aplicação específicos na dade privada, de modo que resulta em
pesquisa qualitativa. um número maior de informações se-
bre ele, como pessoa, do que sobre o
seu conhecimento como especialista.
A ENTREVISTA • A "entrevista da retórica" é mencionada
COM ESPECIALISTAS como uma forma intermediária entreo
sucesso e o fracasso. Nesta, o especialis
Meuser e Nagel (2002) discutem .as ta dá uma palestra sobre o que sabe, em
entrevistas com especialistas como uma for- vez de participar do jogo de perguntase
ma específica de aplicar entrevistas semi- respostas da entrevista. No entanto, sea
estruturadas. Em contraste com as entre- palestra abordar o tópico da entrevista,
vistas biográficas, há aqui um menor inte- esse jogo pode ainda ser útil. Se o entre-
resse no entrevistado enquanto pessoa vistado não acertar o tópico, essa forma
(como um todo) do que em sua capacida- de interação dificulta o retorno ao ver-
de de ser um especialista para um deter- dadeiro tópico relevante.
minado campo de atividade. Elas são inte-
gradas ao estudo não como um caso úni- Os guias de entrevistas possuem aqui
co, mas representando um grupo (de es- uma dupla função: "O trabalho envolvido
pecialistas específicos; ver também Capí- na elaboração de um guia de entrevista as·
tulo 11). O âmbito das informações poten- segura que o pesquisador não se apresente
cialmente relevantes fornecídas pelo entre- como um interlocutor incompetente c...)
vistado é muito mais restrito do que em A orientação para um guia da entrevista
outras entrevistas. Portanto, aqui, o guia garante também que a entrevista não se
de entrevista possui uma função diretiva perca em tópicos irrelevantes, permitindo
muito mais forte no que diz respeito à ex- ao especialista improvisar seu tema e sua
clusão de tópicos improdutivos. Correspon- opinião sobre as questões" (2002, p. 77).
dendo a essa peculiaridade, Meuser e Nagel Nesse campo de aplicação, encon-
discutem uma série de problemas e causas tram-se destacados vários problemas das
de fracasso nas entrevistas com especialis- entrevistas. Os problemas de direciona-
tas. A questão principal é se o entrevistador mento surgem aqui com maior intensida
consegue ou não restringir e determinar a de em função de o entrevistado ser menos
entrevista e o entrevistado para o domínio interessante como pessoa do que em um
de interesse. Meuser e Nagel (2002, pp. 77- domínio específico. A necessidade de o
79) mencionam como versões de fracasso: entrevistador deixar claro na entrevista que
ele também está familiarizado com aquele
• O especialista bloqueia o curso da en- tópico é, geralmente, uma condição para
trevista por ficar provado que ele/ela o êxito na condução dessas entrevistas. A
não é um especialista naquele tópico, interpretação das entrevistas com especia·
como se supunha anteriormente. r listas visa, principalmente, a analisar e a
• O especialista tenta envolver o entre- comparar o conteúdo do conhecimento do
vistador em conflitos que ocorrem em especialista. Os casos são integrados ao es·
sua área e fala sobre questões internas tudo de acordo com o padrão da amostra
e intrigas deste campo de trabalho, em \ gem gradual.
Introdução à pesquisa qualitativa

A ENTREVISTA ETNOGRÁFICA de determinados enunciados (por que


ele anota e o quê?); estas são comple-
~l No contexto da pesquisa de campo mentadas por explicações na linguagem
t- etnográfica, utiliza-se, fundamentalmente, cotidiana (a fim de que os informantes
a a observação participante. No entanto, ao apresentem relações em sua lingua-
1- aplicá-Ia, as entrevistas também desempe- gem), explicações de entrevista (escla-
D nham um papel importante. Um problema recendo o porquê da escolha dessa for-
específico refere-se à forma como adaptar ma específica de falar, com o objetivo
a as conversas que surgem no campo em de envolver o informante) e explicações
) entrevistas nas quais o desdobramento das para certos (tipos de) perguntas, intro-
experiências particulares do outro estiver duzindo a forma de perguntar explici-
sistematicamente alinhado com o assunto- tamente;
da pesquisa. A estrutura local e tempora ( • questões etnográficas, ou seja, questões
apresenta-se menos claramente delimita descritivas, questões estruturais (ao
da do que em outras situações de entrevis , respondê-Ias, os informantes deverão
ta nas quais tempo e lugar são organiza- revelar a forma como organizam seu
dosexclusivamente para a entrevista. Aqui, conhecimento sobre o assunto), e ques-
as oportunidades para uma entrevista nor- tões de contraste (estas devem forne-
malmente surgem espontânea e surpreen- cer informações sobre as dimensões de
dentemente a partir de contatos de campo significado utilizadas pelos informantes
regulares. Spradley apresenta sugestões para diferenciar objetos e eventos em
explícitas para a condução dessa pesquisa seu mundo).
etnográfica:
Por sua estrutura aberta, esse méto-
o melhor é pensar nas entrevistas do traz à tona, de uma forma acentuada, o
etnográficas como uma série de conver- problema geral da elaboração e da manu-
sas cordiais nas quais o p~n- tenção das situações de entrevista. As ca-
tamente introduz novos elementos para racterísticas mencionadas por Spradley
auxiliar informantes a responderem como
para o planejamento e para a definição
mformantesJ O uso exclusivo desses no-
explícita de situações de entrevista aplicam-
vos elementos etnográficos ou sua intro-
dução de forma muita rápida transforma- se também a outros contextos que utilizem
rá as entrevistas em um interrogatório for- entrevistas. Nesses contextos, alguns dos
mal. A harmonia será dissipada, e os in- esclarecimentos podem ser feitos fora da
formantes podem acabar suspendendo situação real da entrevista. Entretanto, os
sua cooperação. (1979, p. 58-59) esclarecimentos explícitos delineados por
Spradley são, de qualquer forma, úteis para
De acordo com Spradley (1979, p. 59- a produção de um acordo confiável para a
60), as entrevistas etnográficas envolvem entrevista, o que garante a participação de
os seguintes elementos que as distinguem fato do entrevistado. O método é aplicado
dessas "conversas cordiais": principalmente em combinação com a pes-
quisa de campo e as estratégias observacio-
• uma solicitação específica para refrear nais (ver Capítulo 17).
a entrevista (resultante da questão de Pode-se encontrar um panorama mais
pesquisa); recente da utilização de entrevistas etno-
• explanações etnográficas, nas quais o gráficas em Heyl (2001). Kvale, por sua
entrevistador explica o projeto (por que vez, (1996), focaliza mais fortemente a en-
afinal uma entrevista?) ou a anotação trevista como uma co-construção realizada
11 Uwe Flick

pelo entrevistador e pela pessoa que é en- lista foi sugerida por Ulrich (1999 - ver
trevistada. Heyl vincula o campo da en- Quadro 13.5).
trevista etnográfica com trabalhos mais O ponto de partida do método é o
atuais acerca de como planejar entrevistas pressuposto de que os inputs sejam carac
em geral (como Bourdieu, 1996; Gubrium terísticos das entrevistas ou dos questioná
e Holstein, 1995; Kvale, 1996; Mishler, rios padronizados, e que sejam limitantes
1986 e outros), porém sem elaborar uma ao se trabalhar com a sequência de tópi·
abordagem específica da entrevista etno- cos, obscurecendo, ao invés de esclarece;
gráfica. o ponto de vista do sujeito. Surgem tsm
bém alguns problemas ao tentar-se garan
tir perspectivas subjetivas topicamente re
A CONDUÇÃO DAS levantes em uma entrevista: problemas de
ENTREVISTAS: OS mediação entre o input do guia de entrevs
PROBLEMAS DE MEDIAÇÃO ta e os objetivos da questão de pesquisa,
E DIRECIONAMENTO por um lado, e o estilo de apresentação do
entrevistado, por outro. Assim, o entrevs
Até o momento, discutiram-se diver- tador pode e deve decidir, durante a enne
sas versões da entrevista como uma das vista, quando e em que sequência irá reali·
bases metodológicas da pesquisa qualita- zar quais perguntas. Se uma pergunta já
tiva. É característico dessas entrevistas que tiver sido respondida en passant e puder
sejam levadas perguntas mais ou menos ser omitida, isso somente poderá ser decio
abertas à situação de entrevista na forma dido ad hoc. O entrevistador enfrenta tam
de um guia de entrevista. A expectativa é bém a dúvida sobre se e quando investigar
de que essas perguntas sejam livremente em maiores detalhes, ou quanto a auxiliar
respondidas pelo entrevistado. Para veri- o entrevistado em suas divagações e qusn
ficar os instrumentos antes de realizar as do fazê-lo, ou acerca de quando retomar
entrevistas, pode-se utilizar uma lista de ao guia da entrevista nos momentos dedi
pontos-chave para a verificação da forma gressão do entrevistado.
como o guia de entrevista foi construído e O termo "entrevista semipadroniza
como as perguntas foram formuladas. Essa da" é também utilizado em relação à esco·

I. Por que você faz essa pergunta específica?


- Qual a sua relevância teórica?
- Qual a conexão com a questão da pesquisa?
2. Por que razão você faz essa pergunta?
- Qual a dimensão substancial desta pergunta?
3. Por que você formulou a questão desta forma (e não de uma forma diferente)?
- É uma pergunta de fácil compreensão?
- É uma pergunta ambígua?
- É uma pergunta produtiva?
4. Por que você situou esta questão (ou bloco de questões) neste ponto específico do guia de
entrevista?
- Como a questão se ajusta dentro da estrutura irregular e detalhada do guia de entrevista?
- De que forma a distribuição dos tipos de questão está difundida no guia de entrevista?
- Qual é a relação entre as questões isoladas?
Introdução à pesquisa qualitativa

lha no procedimento real da entrevista. É todos os entrevistadores que participam do


precisoescolher entre tentar mencionar de- estudo - quanto aos erros de entrevista,
terminados tópicos presentes no guia de quanto ao modo de utilização do guia de
entrevista e, ao mesmo tempo, estar aber- entrevista, quanto a procedimentos e a pro-
to ao modo particular do entrevistado de blemas na introdução e na mudança de tó-
falar sobre esses tópicos e outros que ele picos, quanto ao comportamento não-ver-
considera relevantes. Essas decisões, que bal do entrevistador e quanto a suas rea-
somente podem ser tomadas na própria si- ções ao entrevistado. Realiza-se essa avali-
tuação de entrevista, exigem um alto grau ação a fim de proporcionar a comparação
de sensibilidade para o andamento concre- entre as diferentes intervenções de entre-
to da entrevista e do entrevistado. Além vistadores e sua orientação nas entrevis-
disso, requerem uma boa visão geral da- - tas. Isso permite que se comece a estudar
quilo que já foi dito e de sua relevância os assim chamados problemas "técnicos"
para a questão de pesquisa do estudo. Aqui, (de como planejar e conduzir entrevistas)
faz-senecessária uma mediação permanen- e que se discutam suas soluções para pos-
te entre o andamento da entrevista e o guia sibilitar maior apoio à utilização das en-
de entrevista. trevistas.
Hopf (1978) alerta sobre a aplicação Para a preparação e a condução da
muito burocrática do guia de entrevista - entrevista em si, podemos encontrar algu-
o que pode restringir os benefícios da aber- mas sugestões úteis em Hermanns (2004).
tura e das informações contextuais pelo Ele vê a interação de entrevista como um
excesso de rigidez do entrevistador ao fi- drama que se desenvolve e a tarefa do pes-
xar-se nesse guia. Isso pode estimulá-lo a quisador como um facilitador para que esse
interromper os relatos do entrevistado no drama possa se desenrolar. Ele também ad-
momento errado a fim de passar para a verte os entrevistadores que não estejam
questão seguinte, em vez de utilizar aque- tão ansiosos quanto à utilização da grava-
le tópico para um maior aprofundamento. ção durante a entrevista, enfatizando que
Deacordo com Hopf (1978, p. 101), pode a maior parte das pessoas entrevistadas não
haver várias razões para isso: tem nenhum problema com a gravação de
uma entrevista e que, seguidamente, são
• a função protetora do guia de entrevis- os entrevistadores que projetam, nos en-
ta de enfrentar a incerteza causada pela trevistados, a própria inquietação com o
situação çonversacional aberta e inde- fato de estarem sendo gravados. Em suas
terminada; etapas de orientação para a realização de
• o temor do entrevistador de não ser fiel entrevista (2004, p. 212-213), encontram-
aos objetivos da pesquisa (por exemplo, se sugestões como: explicar cuidadosamen-
por pular uma pergunta); te às pessoas entrevistadas o que se espera
• por último, o dilema entre a pressão do deles durante a entrevista, como criar uma
tempo (devido à limitação de tempo do atmosfera agradável nas entrevistas e como
entrevistado) e o interesse do pesqui- dar espaço para que os entrevistados pos-
sador nas informações. sam abrir-se. Pela minha experiência, a
mais crucial dessas sugestões é que, duran-
Constatou-se, portanto, a necessida- te a entrevista, não se deve tentar desco-
de do treinamento detalhado de entrevis- brir conceitos teóricos, mas sim a esfera de
ta, no qual se ensina a aplicar o guia de vida das pessoas. Outra sugestão de rele-
entrevista por meio da interpretação de pa- vância semelhante é que se precisa estar
péis. Essas simulações de situações de en- ciente de que as questões de pesquisa não
trevista são gravadas (se possível, em são a mesma coisa que as perguntas da en-
vídeo) e, posteriormente, são avaliadas por trevista, e que se deve tentar utilizar uma
11 Uwe Flick

linguagem cotidiana em vez de conceitos o planejamento da investigação mais aprc- Mer


científicos nas perguntas. A descoberta de fundada é um passo muito importante. O que and
conceitos teóricos e a utilização de concei- perguntar se as respostas do entrevistado nuit
tos científicos fazem parte da análise dos permanecem demasiado gerais ou seelesnão Oe
dados, e a linguagem do cotidiano é o que compreenderem o que se pretende (com a Wi
deve estar presente nas perguntas e na entrevista)? Nat
entrevista 3• • As entrevistas podem ser estendidas a um tics
A vantagem desse método é que o uso segundo encontro, visando a uma validação
comunicativa e à produção da estrutura dos
consistente de um guia de entrevista au-
menta a comparabilidade dos dados, tor-
enunciados com a pessoa entrevistada. A
nando-os mais estruturados como resulta-
do das questões do guia. Se o objetivo da NOTAS
coleta de dados for a elaboração de enun-
ciados concretos, uma entrevista serni- 1. Os exemplos foram extraídos de Mertone
estruturada será a maneira mais econômi- Kendall (1946).
ca. Por outro lado, se o curso de um caso 2. Considerando que o método descrito ante.
único e do contexto de experiências for o riormente foi elaborado especialmente para
objetivo central da pesquisa, as narrativas a reconstrução de teorias subjetivas, tam-
sobre o desenvolvimento de experiências bém a entrevista centrada no problemaé
devem ser consideradas como a alternati- aplicada para essa finalidade. Assim,coín-
va preferível. cidentemente, as teorias subjetivas consti
tuem o objeto em ambos os exemplos.
3. Para avanços mais recentes no campo da
realização de entrevista online, ver Capí
Pontos-chave tulo 20.

• As formas de entrevista seguem caminhos


diferentes para alcançar um objetivo seme- LEITURAS ADICIONAIS
lhante. Deve ser oferecido o máximo de es-
paço possível aos entrevistados para que des- A entrevista focalizada
dobrem suas opiniões. Ao mesmo tempo,
deve ser fornecida uma estrutura acerca da-
o primeiro é o texto clássico sobre a
quilo que devem abordar em suas respostas.
entrevista focalizada. Os outros dois apre-
As formas de entrevista podem ser aplicadas sentam avanços e aplicações recentes des-
em si mesmas, mas, muitas vezes, funcionam sa estratégia.
como uma orientação sobre como moldar e Merton, R.K., Kendall, P.L.(1946) "The Focused
planejar uma entrevista e uma lista de per- Interview", American Journal of Sociology, 51:
guntas para cobrir a questão de pesquisa. 541-557.

I. Procure em um periódico um estudo qualitativo baseado em entrevistas e utilize-o


para identificar os métodos apresentados neste capítulo ou para decidir a orientação
dos métodos em relação ao estudo.
2. Considere as questões deste estudo e então as aperfeiçoe usando um ou mais méto-
dos de entrevista entre os que foram apresentados neste capítulo.
3. Reflita sobre seu próprio estudo e elabore um guia de entrevista para sua questão de
pesquisa de acordo com uma das formas de entrevista apresentadas aqui.
Introdução à pesquisa qualitativa

lpro- Merton, R.K. (1987) "The Focused Interview A entrevista etnográfica


>que and Focus Groups: Continuities and Disconti-
tado nuities",Public Opinion Quarterly, 51: 550-6.
Os dois primeiros textos apresentam
; não Oerter,R., Oerter, R., Agostiani, H., Kim, H.-O., um resumo do método, e o segundo o in-
Wibowo,S. (1996) "The Concept of Human troduz no esquema da observação partici-
Naturein East Asia: Etic and Emic Characteris- pante.
um tics",Culture & Psychology, 2: 9-51.
içâo Heyl, B.S (2001). "Ethnographic Interviewing",
dos in P.Atkinson, A. Coffey, S. Delamont, J. Lofland
A entrevista semipadronizada (eds) Handbook ofEthnography. London: SAGE.
pp. 369-383.
o primeiro texto delineia as estraté- - Spradley, J.P. (1979) The Ethnographic Interview.
giasmetodológicas para concretizar os ob- New York: Holt, Rinehart and Winston.
jetivosdesse tipo de método, enquanto o Spradley, J.P. (1980) Participant Observation.
e
segundofornece uma introdução ao pano New York: Holt, Rinehart and Winston.
defundo teórico e aos pressupostos em que
e-
a
as estratégias se baseiam.
n- Flick, u. (1992a) "Triangulation Revisited: Mediação e direção
é Strategy of or Alternative to Validation of
n- QualitativeData", Joumalfor the Theory of So- O primeiro texto é característico para
i- cialBehavior, 22: 175-197. uma abordagem mais atitudinal de entre-
Groeben, N. (1990) "Subjective Theories and vista, enquanto os demais tratam de pro-
the Explanation of Human Action", in G.R. blemas mais concretos e também mais téc-
Semin and K.J. Gergen (eds), Everyday nicos.
Understanding: Social and Scientific Implications.
London:Sage. pp. 19-44. Fontana, A., Frey, J.H. (2000) "The Interview:
From Structural Questions to Negotiated Texts",
in N. Denzin and Y.S. Lincoln (eds), Handbook
of Qualitative Research. London: Sage, pp.
A entrevista centrada 645-72.
no problema
Hermanns, H. (2004) "Interviewing as An
Activity", in U. Flick, E.v. Kardorff, L Steinke
Este texto resume o método e os pro-
(eds), A Companion to Qualitative Research.
blemasde sua aplicação.
London: SAGE. pp. 209-213.
Witzel, A. (2000, January). The problern-
Kvale, S. (1996) Interviews: An Introduction to
centered interview [27 parágrafos]. Forum:
Qualitative Research Interviewing. London: Sage.
Qualitative Social Research. (www.qualitative-
research.net/fqs-texte/l-00/l-00witzel-e.htm) Mason, J. (2002) "Qualitative Interviewing:
[Dec.,io-, 2004]. Asking, Listening and Interpreting", in T. May
(ed.), Qualitative Research in Action. London.
SAGE. pp. 225-241
A entrevista com especialistas Smith, J.A. (1995) "Semi-Structured Interview
and Qualitative Analysis", in J.A. Smith, R.
Este texto resume os métodos e os Harré and L.v. Langenhove (eds), Rethinking
problemas de sua aplicação. Methods in Psychology. London: Sage. pp. 9-26.
Meuser,M. and Nagel, U. (2002) 'Expertlnne- Wengraft, T. (2001) Qualitative Research lnier-
ninterviews - vielfach erprobt, wenig bedacht. viewing: Biographic Narrative and Semi-Struc-
Ein Beitrag zur qualitativen Methodendisku- tured Methods. London: SAGE.
ssion', in A. Bogner, B. Littig, W. Menz (eds),
Das Experteninterview. Qpladen: Leske &
Budrich.pp. 71-95.

Vous aimerez peut-être aussi