De acordo com o estudo liberal das Relações Internacionais, o Sistema
Anárquico de Estados não funcionaria corretamente não fossem as regras e leis impostas para reger o comportamento dos atores. É nessa idéia que surge a criação da ONU; o órgão primeiramente idealizado por Woodrow Wilson encontra no seu difícil papel a contradição entre aumentar a cooperação entre os atores internacionais sem que se altere a situação de anarquia ou que se rebaixe a soberania de um Estado. A primeira tentativa nesse sentido foi a da Liga das Nações, nascida logo após a primeira guerra mundial, em 1919, teorizada por Woodrow Wilson. Pode-se dizer que nesse momento, ocorreu a “institucionalização” dos assuntos políticos, o que era, até a época, sem precedentes. A Liga das Nações caminha ao insucesso na medida em que os países não aceitavam a possibilidade de que seu destino fosse decidido por outros países, além de que havia um choque freqüente e direto entre as políticas das potências com as resoluções visadas pela organização. O reconhecimento do fracasso da Liga ocorre na mesma época em que se cria a ONU- o pós 2ª Guerra Mundial. A Organização das Nações Unidas nasceu de uma série de tentativas por parte de Estados de ampliar o debate e estabelecer normas de cooperação que não alterassem a lógica da hierarquia internacional. No ápice dessas tentativas a organização surge; um órgão de gestão de segurança onde o conceito de “paz” se equivale a um ambiente sem guerras. Deve-se entender que, as guerras que se planejava evitar, nesse contexto, eram guerras gerais – isto é, assim como a 1ª e a 2ª Guerra, conflitos que envolvessem o mundo inteiro, divido em blocos de potências. Ao herdar aspectos da Liga das Nações, lhe foi permitido o descarte de empecilhos e o aperfeiçoamento de certos aspectos para que ocorresse o maior desenvolvimento possível da organização. Foi então fundado em 1946, por 51 países, o novo órgão mundial. A ONU reúne atualmente por 192 países, mas o Conselho de Segurança formado por 15 Estados apenas, dos quais somente cinco são permanentes (EUA, Inglaterra, China, Rússia e França) são a voz final da organização – isso significa que nada entra em vigor com o veto de algum dos 5 países. Os propósitos e princípios da ONU, de acordo com a Carta de fundação da Organização são a manutenção da paz através de meios pacíficos, o desenvolvimento de relações amigáveis entre as nações através do princípio de direitos iguais e autodeterminação dos povos, a conquista de cooperação internacional para a solução de problemas de caráter econômico, social e cultural junto à promoção do respeito por direitos humanos e liberdades fundamentais. A organização pretende ser um centro harmonizador das ações das nações na procura por esses fins comuns. Do ponto de vista das Relações Internacionais, o surgimento da ONU modifica todo o jogo político. Surge a partir dela, não apenas a possibilidade de interação maior entre os países como também a abertura de um campo vasto para acordo entre Estados. É nessa medida que a ONU se torna um gerador de regimes, criando vínculos e diferentes tipos de relações entre os seus atores. A ONU também modifica o jogo político ao abrir o leque de atores; o número de instituições que agora fazem parte do cenário é muito maior, e com a mudança no caráter dos atores desencadeia-se uma alteração no cenário político como um todo. Não se pode negar, também que a ONU agrava a situação de hierarquia entre os países. Ao funcionar com um Conselho de Segurança formado por 5 países permanentes com poder de veto, a organização assume a certa superioridade destes Estados, considerando- os, no mínimo, mais “ajuizados”. Daí, surge a idéia de que a ONU não é absolutamente contra a guerra em si: ela é contra qualquer guerra que seja considerada, pelo conselho de segurança, como injusta; isto é, ataques que não tenham sido originados como resposta à agressão de algum país. O importante de se ressaltar nesse tópico é a refutação da idéia de que a ONU não admite a ocorrência de guerras. A idéia principal da Organização das Nações Unidas pode ser entendida como a busca pela Segurança Coletiva, baseada em uma idéia de direitos iguais simultânea à aceitação do status quo que é, por sua vez, assimétrico. Isso significa, basicamente, a aceitação de um ambiente pacificado, e que a segurança ocorre enquanto os países do Conselho de Segurança entenderem que sim. A garantia que se tem que haverá a manutenção da segurança é o compromisso explícito mantido pelos Estados de ir atrás de quem ameaçar o status quo.
RELAÇÃO COM A ONU
A idéia de criação de um órgão internacional responsável pelo controle e
desenvolvimento da energia atômica foi inicialmente levantada por Eisenhower. Em 1953, o então presidente dos EUA fez um discurso nomeado “Átomos para Paz” feito na Assembléia Geral da ONU que desencadeou a discussão sobre tal órgão dentro da organização. A atual Agência Internacional de Energia Atômica nasce em 1957, como resultado dessas discussões. Hoje a Agência é uma organização internacional autônoma, portanto sua existência independe de qualquer país ou organização. Entretanto ela mantém formalmente acordos com outras 68 organizações inter e não-governamentais, sendo uma delas a ONU. Por ser uma organização independente sua relação com a ONU foi formalmente regulamentada através de um acordo especial. Nesse acordo, estão estabelecidos as condutas de ambas as organizações. O principal dever da Agência é de manter a ONU informada sobre suas atividades, a AIEA deve mandar relatórios informando os resultados de suas pesquisas e suas atividades a cada sessão da Assembléia Geral da ONU. Além disso, a AIEA também deve mandar relatórios para o Conselho de Segurança, de Economia e Social, quando achar questões referentes ao escopo de assuntos desses órgãos. As decisões tomadas pela Assembléia Geral ou pelo Conselho de Segurança com base nesses relatórios não competem à Agência, ou seja, ela deve aceitar as decisões tomadas. Ambas as organizações devem, quando requerido, fornecer estudos especiais e informações para a outra. O acordo estabelece também a existência de uma representação recíproca entre ela. Isso significa que o Secretário Geral, ou seu representante, pode assistir e participar de sessões da Conferência Geral e do Conselho de Governadores. Assim como o Diretor Geral da Agência, ou seu representando, pode assistir sessões da Assembléia Geral da ONU, do Conselho Econômico e Social quando apropriado e do Conselho de Segurança se convidado. Em todos os casos tanto o representante da ONU quanto o da AIEA não possuem direito a voto. As atividades da Agência são influenciadas pelo artigo onze do acordo entre ela e a ONU. Nele se estabelece a coordenação entre as atividades da Agência e da ONU para que assim não aja sobreposição ou duplicação de atividades. A ONU, então, recomenda as medidas das quais a AIEA deve tratar. Esse último artigo contraria de certa forma a natureza autônoma da Agência, pois quando a ONU recomenda as atividades da AIEA, ela, conseqüentemente, possui a capacidade de controlar suas atividades. E não é só dessa forma que a ONU pode interferir nas atividades da Agência; no artigo oitavo dá-se o direito da ONU de propor assuntos para a agenda da Conferencia Geral e o Conselho de Governantes, sendo o inverso também possível. Propor assuntos para a agenda, definir atividades a fim de evitar sobreposições de pesquisa e determinar as resoluções para os fatos mostrados em relatórios feitos pela Agencia, todos esses são fatores que mostram a interferência direta da ONU no funcionamento da AIEA.
RELEVÂNCIA
O conceito de relevância tomado por esse estudo terá duas faces de
análise: a primeira diz respeito ao que a organização se propõe ser, isto é, procurar entender de fato se o organismo age de acordo com o seu estatuto e o motivo de sua criação. A pergunta que deve ser feita aqui é “Ao que se propõe, a agência atinge o seu propósito?”. Uma segunda face da questão da relevância leva em conta o papel transformador que a organização acaba por ter no cenário mundial; “A agência altera algum tipo de relação ou comportamento de Estados?”. Para que a questão da relevância e portanto da eficácia da organização seja respondida claramente, tomemos como exemplo um caso atual no qual a agência se envolve de forma intensa, para buscar entender, concretamente, do que se trata o seu papel.
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