Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Poesia completa
MANOEL DE BARROS
Poesia completa
[3]
Copyright © 2010, Manoel de Barros
ISBN 9788580440003
10-01326 CDD-869.91
2010
Todos os direitos desta edição reservados à
TEXTO EDITORES LTDA.
[Uma editora do grupo Leya]
Av. Angélica, 2163 – Conjunto 175
01227-200 – Santa Cecília – São Paulo – SP – Brasil
www.leya.com
[4]
SUMÁRIO
LIVROS INFANTIS
Exercícios de ser criança [1999] 469
O fazedor de amanhecer [2001] 473
Cantigas por um passarinho à toa [2003] 481
Poeminha em Língua de brincar [2007] 485
[5]
FACE IMÓVEL
[33]
EU NÃO VOU PERTURBAR A PAZ
[35]
As portas emitiam mulheres
Portuguesas de músculos brancos
E até o coração das crianças se partia
Sob o peso da coroa caída da irmã.
Hoje eu vi
Soldados cantando por estradas de sangue
Frescura de manhãs em olhos de crianças
Mulheres mastigando as esperanças mortas
[36]
AURORA NO FRONT
PAZ
Paz!
O telefone que descansa
As cortinas azuis que nem balançam
[37]
Porque por onde ele passou agora as ruínas fumam
silenciosamente…
O SOLITÁRIO
[38]
Que me faziam esquecer de tudo
Olhando os barcos sobre as ondas…
DOROWA
A esquelética Lili,
No fim da noite, exausta
Fala mole e tomba
De grandes olheiras no chão.
[39]
Dormi com a Dorowa,
Que está dentro da Doroty.
O MURO
[40]
Certas flores do chão subiam de suas bases
Procurando deitar raízes no seu corpo entregue ao tempo.
Nunca pude saber o que se escondia por detrás dele.
Dos meus amigos de infância, um dizia ter violado tal
segredo,
E nos contava de um enorme pomar misterioso.
O corpo na cama,
O quarto nas trevas
E o rádio que não deixava
Que não deixava pensar
Que alguém estivesse morrendo
[41]
(A mãe ficou no acampamento
Cantarolando, cantarolando muito
Com o meninozinho nos braços.)
[42]
Fique na nossa vida fresca e incompreensível
Um mistério suave alisando para sempre o coração.
INSTANTE ANUNCIADO
Um chapéu velho!
Eu não via seu rosto, que um velho chapéu,
Esmaecido pelo sol, cobria.
Mas sei que não chorava
E nem tinha desejo de falar.
Porque sabia que alguma coisa vinha chegando
De manso, alguma coisa vinha chegando…
Eu não via seu rosto,
Seu rosto sombreado que um velho chapéu,
Esmaecido pelo sol, cobria.
Mas sei como ele amou aquele instante
Mas sei com que prazer ele esperou
Aquela que viria com os lábios úmidos para ele
A que havia de vir passar as mãos
Pelos seus joelhos feridos.
ENSEADA DE BOTAFOGO
[43]
Tantas vezes o corpo sobre as curvas, tantas
Que ficou como certas casinhas tortas, que jamais podem
ser evocadas fora da paisagem.
MANSIDÃO
[44]
Mas eu olho é pras medalhas do Duque de Caxias.
Ai que riquezas no Palácio do Ingá!
INCIDENTE NA PRAIA
[45]
Nisto, o de papoila na lapela,
Delicadamente,
Vai até a onda e faz sua mijadinha
— É um garçom!
— É um poeta!
— É um jaburu!
[46]