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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo trazer a baila as discussões decorrentes da aplicação dos
acordos de leniência no âmbito extrapenal. Certo é que este instituto vem sendo amplamente
utilizado em diversas situações em que seria certamente mais dificultosa a atuação do judiciário
na persecução penal em busca de desvendar delitos cometidos tantos nas esferas administrativas
quanto no âmbito empresarial.
Neste sentido, os reflexos dos acordos de colaboração premiada muitas vezes são capazes de
trazer impactos além do que imaginamos, quando o restringimos apenas na atuação penal, sem
considerar os seus efeitos práticos que vão além de uma não persecução, ou ainda, de uma pena
mais branda considerada a infração praticada.
A partir deste estudo a análise do impacto destes acordos será verificada de forma mais clara,
o que nos leva a perceber que nossa sociedade diante de tantos avanços caminha cada vez mais
para um sistema de comow low, onde cada caso é analisada de forma mais individualizada e
com a aplicação das sanções e meios que tragam mais benefícios para a sociedade.
Diante disso, observamos o conflito trazido por estas inovações, temos ainda hoje, como um
consectário do sistema acusatório adotado no direito penal, o principio da obrigatoriedade da
ação penal, sendo que ao admitirmos no ordenamento jurídico a possibilidade de acordos, com
reflexos que abrangem varias searas, nos vemos diante da necessidade de uma releitura deste
princípio, bem como, de outros princípios também atingidos pelas inovações. A partir disso,
resta também que outros princípios sofrem uma releitura obrigatória, como é o caso por
exemplo, do principio da independência das instancias, principio da legalidade entre outros,
que são parâmetros para analise dos reflexos dos acordos.
Trataremos mais propriamente de questões como, qual seria o reflexo na administração pública
de acordo de colaboração em que um dos termos previsse a não demissão do funcionário
público ainda que houvesse justa causa, e ainda, quais são os efeitos da implementação de
acordos na seara comercial e quais os seus efeitos na responsabilização das pessoas jurídicas e
seus representantes.
Tais temas são de grande relevância diante dos acontecimentos que nossa sociedade vem
sofrendo, com celebração de grandes acordos que têm sido capazes de desmantelar
organizações criminosas de grande porte, com atuação através de empresas que realizam desvio
do dinheiro público. Diante disso, veremos a efetividade dos acordo de colaboração premiada
e seus efeitos transversos.
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PRINCIPIOS NORTEADORES NAS TRANSAÇÕES PENAIS

Princípio da não auto incriminação e não culpabilidade

O nascedouro do princípio da não auto incriminação ou nemo denetur se detegere foi a Idade
Média como uma forma de refutar as imposições da inquisição, que tinha na confissão, a rainha
das provas, o que levava a sua perseguição a qualquer custo, ainda que isso significasse a
aplicação das mais inimagináveis formas de tortura sem que fossem respeitados quaisquer
direitos individuais ou garantias básicas do ser humano.
Com a evolução histórica o período inquisitivo foi ficando para traz, em especial a chegada do
iluminismo que trouxe diversas modificações e avanços que foram essenciais para o
desenvolvimento da nossa sociedade.
A não auto incriminação é uma questão básica, ligada a sobrevivência do ser humano, assim
como, lutar pela sua liberdade, desta forma, esse principio preceitua que ninguém é obrigado a
produzir provas contra si mesmo. São consectários deste principio: o direito ao silencio, direito
a não confissão, direito de não declarar , entre outros. Esse principio é ainda um corolário da
presunção de inocência, pois, partindo da premissa de que todos são inocentes até que se prove
o contrario, este ônus da prova cabe ao Estado, a quem incumbe a persecução penal e
comprovação da autoria das infrações cometidas.
No entanto, este princípio não é absoluto, o individuo pode abrir mão deste direito legalmente
conferido se ele julgar conveniente. Neste sentido, é possível que o indivíduo confesse por livre
e espontânea vontade, sem que venha alegar ofensa ao seu direito subjetivo de ficar calado.
Neste sentido, tem sido as delações, o primeiro a colaborar, não apenas confessa o delito
cometido por si mesmo, mas ainda todos os trâmites utilizados para a burla das leis utilizados
no caso em questão. Diante disso, temos como uma faculdade do individuo o exercício deste
direito, que ao sopesar os benefícios que uma confissão, ou que um acordo, poderia lhe trazer
verifica se há o interesse ou não em celebrar o acordo, hipótese em que abrirá mão deste direito
que lhe é conferido pelo ordenamento jurídico.
Aqui, há que se cuidar, para que não voltemos a era da inquisição, a confissão ou a colaboração
não devem ser buscadas a qualquer preço, devendo sempre serem respeitados os direitos do
colaborador, não apenas nesta qualidade, mas também na qualidade de pessoa humana que deve
ter resguardados todos os direitos inerentes a sua dignidade.
Com a edição da Resolução 181/2017 do CNMP, sai o princípio a não auto incriminação e entra
o principio da oportunidade na ação penal pública, essa resolução propõe o acordo de não
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persecução penal nos casos em que o Ministério Público julgar oportuno de desde que sejam
preenchidos os requisitos legais estabelecidos na resolução. Desta forma concluímos que
algumas garantias individuais podem ser objeto de transação, desde que não firam a dignidade
da pessoa humana, sendo livre para que cada indivíduo possa exercer juízo de valor sobre a
conduta que mais lhe convier diante das circunstâncias fáticas.

PRINCIPIO DA COMUNICABILIDADE E INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS

O princípio da separação das instancias vem a cada dia sofrendo uma relativização, dado os
reflexos que as sentenças penais podem irradiar no âmbito administrativo, como as decisões
administrativas podem irradiar no âmbito penal. Além das questões de comunicabilidade entre
as instâncias, cabe bem lembrar, a irradiação da comunicabilidade entre as próprias esferas do
judiciário e suas justiças especializadas, é o caso por exemplo, de reflexos da decisão
administrativa na justiça militar no caso de infrações e sua aplicação na justiça penal, que não
será objeto deste estudo.
Inicialmente, preponderava a independência das instâncias, deste modo, a atuação
administrativa não tinha o condão de afetar o âmbito e nem o âmbito penal, que a rigor é a
ultima ratio não repercutia na esfera administrativa. No entanto, com a evolução da sociedade
especialmente no que diz respeito ao complexo de relações interpessoais, foram surgindo
diversas situações que nos levaram a refletir sobre qual seria o melhor caminho para a solução
de determinados litígios.
A Sumula Vinculante nº 24 do STF veio para mitigar de uma vez por todas, a separação das
instâncias, sendo que ela preceitua que não se tipifica crime material contra a ordem tributária,
previsto no artigo 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/1990, antes do lançamento definitivo do
tributo, desta forma, a atuação do judiciário ficou vinculada a uma atuação administrativa, pois
o lançamento do tributo se tornou um requisito para que tal conduta fosse tipificada como crime.
Diante disso, observamos a crescente necessidade da comunicação entre as instâncias, outro
exemplo é infração no âmbito do direito penal econômico. É frente às mesmas disposições
normativas e a estruturas empresariais similares que aparece o problema da responsabilidade
penal em cadeias diretivas de empresas. Essa permeabilidade a novas formas de regulação e a
novos modos de realizar o delito torna dificultosa a tarefa de delimitar os responsáveis para
além do executor concreto da ação delituosa.
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A comunicabilidade entre as instâncias tem sido um grande instrumento que viabiliza a


efetividade não apenas dos acordos penais, se sustenta ainda no principio da boa fé e da
confiança, vejamos por exemplo, um servidor publico que poderia colaborar na esfera penal,
realizar um acordo e ainda assim ser punido na esfera administrativa, ora, se esfera da ultima
ratio não realizou a punição, poderia uma outra instancia em razão de sua independência o
realizar? São questões que haveriam de serem resolvidas se não tivéssemos avançado para uma
comunicabilidade entra as instancias, o que proporciona decisões efetivas em todos os âmbitos
em que causar reflexos.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

O princípio da legalidade é estudado em vários ramos do direito. Aqui o trataremos sob a ótica
do direito administrativa. Inicialmente o principio da legalidade estava adstrito ao fato que de
administração publica somente poderia fazer o que a lei determinava, o que engessava
sobremaneira a atuação da administração pública. Com o passar do tempo foi se observando a
necessidade de um alargamento desse principio, que passou a então a permitir que fosse feito
tudo aquilo que a lei não vedava. Isso já viabilizou as ações administrativas de forma mais
abrangente, uma vez que seria impossível que a legislação trouxesse todas as hipóteses em que
a administração publica pudesse atuar.

Porém, ainda residem discussões quanto a intepretação do silencio da lei. Nesse sentido, grande
tem sido o debate doutrinário sobre se a possibilidade do instituto da colaboração premiada nas
ações de improbidade administrativa, já que a lei não trouxe essa previsão.

Os defensores da possibilidade da utilização do instituto defendem que caberia a aplicação do


artigo 4º da LINDB, que prevê uma interpretação analógica quando houver lacunas na lei.

Por outro lado, há aqueles que sustentam que não haveria essa possibilidade uma vez que o
artigo 17 § 1º da lei 8429/92, veda a possibilidade de acordo nos casos de ação de improbidade
administrativa.

No entanto, a referida lei é do ano de 1992, e sua vedação a possibilidade de acordos, apenas
reproduzia o que acontecia no âmbito penal, que somente trouxe esta hipótese com a edição da
lei 9099/95 que inovou ao permitir transações penais nos crimes de menor potencial ofensivo.

Desta forma, não se apresenta razoável restringir a aplicação de uma lei que se demonstra
desatualizada com os avanços da sociedade, sob o argumento de se observar o princípio da
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legalidade. Neste sentido tem sido o entendimento da doutrina majoritária moderna, é cabível
a aplicação de colaboração premiada como um negocio jurídico atípico no âmbito das ações
de improbidade administrativa.

Cabe aqui a reflexão, sobre qual a sistemática deveria ser adotada, já que o princípio da
legalidade caminha para uma releitura de que sua aplicação deve abranger o ordenamento como
um todo, não estando restrito a uma interpretação limitada, devendo correlacionado como o
ordenamento jurídico como um todo.

COLABORAÇÃO PREMIADA – UM NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL

a justiça criminal negocial relaciona-se diretamente com as ideias de obrigatoriedade e


oportunidade da ação penal, visto que se instrumentaliza por meio de espaços de oportunidade
no processo. Entretanto, diferencia se de mecanismos puros de oportunidade, que permitiriam
a não persecução penal de delitos em casos específicos, sem a imposição de qualquer sanção
ou consequência penal. Além disso, nos mecanismos negociais ocorre a participação de ambas
as partes do processo penal (acusação e defesa), havendo uma “manifestação volitiva, com o
mesmo sentido e finalidade, dos dois polos processuais”. Por sua vez, critérios de oportunidade,
como possibilidade de não persecução penal, podem ser realizados em decisões exclusivas do
órgão acusador. Portanto, pode-se dizer que tanto a barganha como a colaboração premiada, a
transação penal, a suspensão condicional do processo e o acordo de leniência são “mecanismos
da justiça criminal negocial”, pois se caracterizam como facilitadores da persecução penal por
meio do incentivo à não resistência do acusado, com sua conformidade à acusação, em troca de
benefício/prêmio (como a redução da pena), com o objetivo de concretizar o poder punitivo
estatal de modo mais rápido e menos oneroso. De modo semelhante aos acordos para
reconhecimento de culpabilidade, a delação premiada estabelece-se no ordenamento pátrio com
fundamentando na suposta busca de celeridade e eficiência na persecução penal. Seus objetivos
e justificativas são, portanto, compartilhados, o que ressalta sua identificação como parte
integrante de um fenômeno amplo.
Trata-se de um instituto típico de países da common law, onde a negociação entre o infrator e o
Estado embute uma relação de troca envolvendo informações e sanção. Sua compreensão revela
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uma certa incapacidade de o Estado obter resultados positivos na tutela do interesse por meios
sancionatórios tradicionais.

A natureza jurídica da colaboração premiada é de meio de prova, mas a sua utilização tem ido
além de sua identificação como meio de prova. Atualmente a utilização desse instituto tem sido
um meio empregado efetivamente para a desarticulação de varias estruturas criminosas.

A Lei nº 12.850/2013 prevê modalidade de colaboração premiada, por meio da qual, de um


lado, o Ministério Público ou o delegado de polícia (com a participação do Ministério Público)
e, do outro, o acusado (com a presença de seu defensor) exteriorizam as respectivas vontades
para celebrar o “acordo de colaboração”, expressão utilizada pelo próprio diploma legislativo.
A colaboração premiada prevista na Lei nº 12.850/2013 é um negócio jurídico. m razão do
negócio e da prestação de colaboração, o colaborador obriga-se a renunciar ao direito ao
silêncio.21 É o que diz o §14 do art. 4º: “Nos depoimentos que prestar, o colaborador
renunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso
legal de dizer a verdade.” Há, também, definição da consequência jurídica que tem como fim a
extinção do direito ao silêncio, que, se invocado, seria incompatível com a obrigação de
colaboração assumida. A obrigação de colaboração e a consequente obrigação de renúncia ao
direito ao silêncio são consequências jurídicas definidas em razão do ato de escolha dos
negociantes.

Desta forma, o acordo de delação enquanto negócio pressupõe a inequívoca vontade das partes,
enquanto de um lado temos o acusado que irá renunciar ao seu direito de não auto incriminação,
do outro temos o Ministério Público, que em alguns casos irá mitigar o principio da
obrigatoriedade da ação penal, quando o acordo for de não persecução penal, ou ainda irá
estabelecer os termos de abrandamento da sanção, sendo dado ao juiz a ratificação do acordo
quando da prolação da sentença.

O Supremo Tribunal Federal entendeu a colaboração premiada como um negócio jurídico


processual:

“[a] colaboração premiada é um negócio jurídico processual, uma vez que, além de ser
qualificada expressamente pela lei como ‘meio de obtenção de prova’, seu objeto é a
cooperação do imputado para a investigação e para o processo criminal, atividade de natureza
processual, ainda que se agregue a esse negócio jurídico o efeito substancial (de direito
material) concernente à sanção premial a ser atribuída a essa colaboração.”
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O Superior Tribunal de Justiça também entende que a colaboração premiada é um negócio


jurídico personalíssimo “celebrado entre o Ministério Público e o réu colaborador, gerando
direitos e obrigações apenas para as partes, em nada interferindo na esfera jurídica de terceiros,
ainda que referidos no relato da colaboração”

Havia discussão quanto a possibilidade da celebração de acordo no âmbito administrativo em


razão do princípio da legalidade, haja vista a legislação ser silente sobre o tema. No entanto,
com a instauração cada vez mais consistente de uma administração tendo como parâmetro um
Estado- gerencial, não se olvida que a lei não proíbe tal possibilidade. E por vezes os atos de
improbidade são efetivados envolvendo uma organização criminosa, que por si só dificulta o
trabalho das equipes de apuração dos ilícitos, sendo assim, ganha força a ideia de utilização de
instrumentos efetivos de combate a essas ações tão odiosas. De modo que a conclusão é de que
a possibilidade de acordo vem sendo aplicada inclusive nas ações de improbidade
administrativa, onde o fomento desses acordos tem possibilitado a descoberta de várias
organizações criminosas, o que sem sombra de dúvida é o interesse da coletividade, não
restando dúvida que a efetividade desses acordo estão dentro dos princípios aos quais a
administração pública está vinculada.

Desta forma temos que para a validade da celebração do acordo deverão estar presentes além
dos requisitos objetivos específicos afetos ao que será transacionado, também os requisitos de
validade dos negócios jurídicos como um todo, a fim de resguardar a validade do acordo ora
celebrado.

Com isso, temos que nosso sistema caminha cada vez mais sentido a busca de um consenso na
solução dos problemas, a ideia de consensualismo vem ganhando cada vez mais força na
medida em que tem se aceitado a presença de meios alternativos ao sistema impositivo de penas.

COLABORAÇÃO PREMIADA APLICADA NO DIREITO PENAL ECONÔMICO

Em conformidade com o estagio atual do avanço de nossa sociedade, é cediço que as relações
econômicas vem sem dotadas cada vez mais de maiores cargas técnicas e complexidade, de
modo que é dever do Estado buscar o acompanhamento dessa evolução buscando regulamentar
as inovações trazidas por estes avanços.
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Diante disso, vem ganhando força a figura do direito penal econômico, que trata da aplicação
das penas ao delitos cometidos contra a ordem econômica. Neste sentido A colaboração
premiada ganhou destaque tendo em vista o cenário atual em que vivemos, onde uma crise
econômico politica tem sido fomentada pelos graves casos de corrupção, lavagem e desvio de
dinheiro, entre diversos delitos têm vindo a tona. Este instituo tem tornado efetiva e célere a
apuração de tais crimes, haja vista que a especificidade necessária para a realização destes
grandes esquemas que envolvem diversas organizações, transcendendo até mesmo nosso pais,
seria de penosa investigação e que demandaria grande tempo para que se alcançasse a
descoberta do modus operandi utilizado no cometimento de tais crimes.

Na esfera do direito penal econômico temos:

] Lei 12.529/2011 (Lei do Cade)

Lei 12.846/2013 (Lei Anticorrupção)

Lei 13.506/2017 (Proc. Adm. Sancionador/ BACEN/CVM)

A pressão internacional contra a corrupção, as fraudes econômicas e a instabilidade


financeira da economia global impulsionaram movimentos em prol da integração supranacional
dos mercados e a adoção de boas práticas governança corporativa permeadas, ainda, pela ideia
de precaução na movimentação de investimentos.1

A lógica econômica agora se funda numa integridade ética das negociações como forma
de reação às crises a que o capitalismo tem sido submetido.

O dispositivo da colaboração premiada tem sua aplicação em diversas formas de crimes em que
há concurso de agentes, como por exemplo, lei de drogas, lavagem de dinheiro, corrupção, entre
outros. O que é indiscutível é a qualidade da informação prestada pelo colaborador, essa
colaboração precisa de fato ser relevante, como por exemplo, no caso de um sequestro é
necessário que seja possível a localização da vitima e seu resgate, senão sairíamos da
colaboração para o deslinde de um crime e estaríamos diante apenas de uma confissão, com o
intuito de diminuir a pena daquele que a realizou.

Contudo, a adoção de padrões mais éticos não deve olvidar que o pressuposto da
maximização racional de custos e benefícios permeia toda a teoria econômica:
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Os economistas geralmente supõem que cada agente econômico


maximize algo: os consumidores maximizam utilidade [...], empresas
maximizam os lucros, políticos maximizam votos, burocracias
maximizam receitas, organizações beneficentes maximizam o bem-
estar social, e assim por diante. [...] Escolher a melhor alternativa que
as restrições permitem pode ser descrito matematicamente como
maximização.2

E é nesta linha que se estatuiu uma regulação para o enfrentamento da corrupção.


Valendo-se dessa percepção, repetiu no bojo da Lei Anticorrupção um instrumento que não era
novo e que padecia das mesmas críticas de seu congênere em direito penal, o acordo de
leniência.

Introduzido no âmbito das apurações de infrações da ordem econômica, o acordo de


leniência é a transação entre o Estado e o delator, que em troca de informações viabilizadoras
da apuração (instauração, celeridade e melhor fundamentação do processo), permite o
abrandamento ou extinção da sanção daquele que participou da conduta ilegal denunciada.3

O âmbito de sua aplicação está associado, por assim dizer, à violação do regramento legal da
concorrência quando presentes determinados pressupostos. É a tutela da concorrência em si
mesma, como instrumento de preservação do modo de produção capitalista, que é o objeto da
proteção. É dizer, o restabelecimento do funcionamento regular do mercado, para além da
possível, mas não necessária, responsabilização dos agentes econômicos é o objetivo central.
Não por outra razão o acordo de leniência se aproxima de outro ajuste entre Estado e infrator,
o compromisso de cessação, que conduz à isenção da responsabilidade diante do abandono da
prática ilícita. Não há dúvidas que deixar de punir o autor de uma infração é uma perda no
sentido do respeito às normas, porém, o que se deve aferir é se os ganhos são substancialmente
superiores àquelas perdas.

Desta forma sempre será imprescindível o sopesamento entre quais são os benefícios que a
colaboração poderá trazer na cessação dos delitos, para que estes não se perpetuem no tempo
em razão ainda da dificuldade da apuração destes no âmbito econômico, isso faz com que a
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colaboração se torne eficiente para preservar os pilares econômicos que sustentam a nossa
sociedade.

A COLABORAÇÃO PREMIADA APLICADA NAS AÇÕES DE IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA

O cerne da questão cinge-se na possibilidade de aplicação da colaboração premiada, um


instituto a priori do direito penal, nos casos de improbidade administrativa. Os prêmios legais
ali angariados poderiam ser transportados para a esfera cível-administrativa? Aqui temos a
necessária comunicabilidade das instâncias, uma vez que não faria qualquer sentido lógico o
Estado se valer das provas produzidas no “acordo penal” para o âmbito da ação de
improbidade, e os benefícios serem aplicados apenas na seara penal, ainda que decorrentes da
mesma circunstancia fática e dos mesmos eventos narrados como ilícitos nas tratativas de
acordo de colaboração, sob pena de o Estado aproveitar-se de sua própria “torpeza”. Certo é
que este entendimento decorre de uma intepretação sistemática, em que não haveria sentido
por exemplo, a concessão de um perdão judicial advindo da instância penal que é a ultima
ratio e esse perdão não ser estendido a uma esfera administrativa, que não detém a plenitude
do ius puniendi. Vejamos o paradigmático precedente, do Egrégio Tribunal Regional da 4ª
Região, de relatoria do Desembargador Federal Luís Alberto D'Azevedo Aurvalle, no qual
restou assetado que:

se o sistema jurídico permite acordos com colaboradores no campo penal, possibilitando a

diminuição da pena ou até mesmo o perdão judicial em alguns casos, não haveria

motivos pelos quais proibir que o titular da ação de improbidade administrativo, no caso,
o MPF pleiteie a aplicação de recurso semelhante na esfera cível. Cabe lembrar que o

artigo 12, parágrafo único, da Lei 8.249/92 admite uma espécie de dosimetria da pena para

fins de improbidade administrativa, sobretudo levando em conta as questões patrimoniais.

Portanto, os acordos firmados entre os réus e o MPF devem ser levados em consideração

nesta ação de improbidade administrativa.


Diante disso resta concluir que, uma vez utilizados, na esfera cível-administrativa, os
elementos probatórios angariados por intermédio de colaboração premiada levada a efeito

em sede criminal, deve o julgador extrapenal, nos moldes do pactuado entre Ministério
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Público e colaborador, aplicar as benesses legais estipuladas, independente de acordo

específico no âmbito da improbidade administrativa, que deverá, em caso de condenação,

possuir apenas os efeitos declaratórios, até porque o acordo no âmbito penal já pressupôs a

reparação dos danos.

A COLABORAÇÃO PREMIADA APLICADA NO PROCESSO ADMINISTRATIVO


DISCIPLINAR

Ainda no que tange aos efeitos da colaboração é necessária ainda a analise de sua
transversalidade na seara administrativa, em especial no que concerne ao acordo de colaboração
e seus efeitos no processo administrativo disciplinar.

O processo administrativo disciplinar consiste no conjunto ordenado de atos coordenados


para a obtenção de decisão sobre uma controvérsia no âmbito da administração pública
cometida por servidor. O processo administrativo disciplinar deve garantir a ampla defesa e o
contraditório, pois irá impor sanção a funcionário ou administrado, que dirá respeito a
determinado fato.

O poder disciplinar da Administração Pública se revela em sua relação com os particulares e


com os servidores públicos. O poder disciplinar decorre então da relação jurídica formada entre
o Estado e o agente público. Parte da doutrina entende que as sanções disciplinares se integram
nas sanções administrativas. Seriam, assim, sanções administrativas cujos objetivos e
características possuem algumas especificidades.

Tramita projeto de lei na Alerj (Projeto de Lei 145/2011) que permite que o servidor indiciado
em um processo administrativo disciplinar possa colaborar valendo-se dos benefícios de uma
punição

menos grave, caso apresente novos cúmplices ou provas relevantes. Atualmente, as punições
para quem comete desvios vão da advertência à demissão ou até mesmo à cassação da
aposentadoria. No caso de o servidor fazer uso da nova medida, ele poderá não ser demitido,
recebendo somente suspensão ou redução de aposentadoria.
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O Estado sempre ocupou uma posição hierárquica de superioridade em suas relações,


respaldado pelos princípios da legalidade, da supremacia e da indisponibilidade. Mas, na
atualidade, as ideias de supremacia e indisponibilidade, aptas a justificar a existência de
prerrogativas a favor do Estado, não mais condizem com os interesses contemporâneos. A ideia
vinculativa à legalidade tem sido superada e substituída pela noção de juridicidade. É superada
a visão limitada da Administração Pública sujeita à lei, em uma “leitura convencional do
princípio da legalidade” e se reconhece que “o administrador pode e deve atuar tendo por
fundamento direto a Constituição e independentemente, em muitos casos, de qualquer
manifestação do legislador ordinário”. Rosa Maria Aranovich ressalta que “o Direito frente à
lei e a função administrativa frente ao princípio da legalidade são equações que sempre
apresentam resto em favor dos primeiros: o Direito e a função administrativa”

A celebração de acordos em sanções administrativas disciplinares, em que são conferidas


vantagens à Administração Pública, não pode ser ignorada pelo direito atual. É urgente e
necessário que seja superada a visão clássica da legalidade, da supremacia e da
indisponibilidade do interesse público frente à eficiência da Administração Pública.

Não se pode utilizar o acordo de colaboração premiada em um contexto individual, sem que se
integre com todo o ordenamento jurídico. O colaborador abre mão de princípios sagrados (não
autoincriminação e não culpabilidade) e não pode se ver surpreendido com o não cumprimento
de cláusulas, em particular da não demissão, por outros órgãos estatais. Havendo, ou não,
participação de todos os entes públicos no acordo de colaboração premiada, a realidade é que o
não cumprimento de cláusula de não demissão viola os princípios da boa-fé e da segurança
jurídica. O efeito transversal do acordo de colaboração premiada não limita o acordo ao ente
que o tenha celebrado, expandindo-se por toda Administração Pública como forma de garantia
da sua eficácia. Entretanto, deve ser abandonada a visão tradicional da Administração Pública
e do Direito Penal, devendo se impor que os efeitos da consensualidade em uma delação
premiada devem transcender às pessoas dos acordantes.

O Código Penal prevê, em seu artigo 92, duas hipóteses de perda de cargo público como efeito
específico da condenação criminal: a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo
igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever
para com a Administração Pública; b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por
tempo superior a quatro anos nos demais casos.
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O STF, quando do julgamento do Recurso Extraordinário 253.885-0, em um acordo celebrado


entre o Município de Santa Rita de Sapucaí (MG) e servidoras públicas municipais, em que se
questionou que a ausência de legislação permitindo a transação viria a ferir o princípio da
legalidade, entendeu pela prescindibilidade de legislação autorizando o acordo, em razão da
ausência de prejuízo para a Administração Pública.

Contudo, o STJ, nos autos do AgInt no RMS 48.925/SP, entendeu que

“não existindo nenhuma previsão legal que imponha ou faculte à Administração Pública, no
exercício de seu poder disciplinar, a extensão das benesses da colaboração premiada ao
processo administrativo disciplinar, não há que se falar na sua aplicação analógica em proveito
do servidor público, ora Acusado”

A divergência de tais entendimentos explicitados pelas instancias superiores nos remetem a


urgência de uniformização e regulamentação da abrangência do instituto da colaboração.

Muito ainda tem a se debater acerca do tema, uma vez que diversos efeitos surgem do acordo
de colaboração, como os que exemplificados, sendo inúmeras as possibilidade de sua ingerência
no campo extrapenal, o que não poderá ser desconsiderado pelo nosso ordenamento jurídico.

CONCLUSÃO

Ao fim deste trabalho pudemos descortinar nossos olhos e alargar nossa visão sobre as varias
facetas que decorrem do acordo de colaboração premiada.

Em tempos de operações grandiosas como a Lava Jato, muito tem-se ouvido falar no instituto,
porém sem saber a real extensão de sua aplicação. Os acordos tem sido uma grande tendência
no direito brasileiro, ainda que importado de outros países, tem sido cada vez mais aplicados
com efetividade em nosso ordenamento. Isso não tem ocorrido apenas na esfera penal, o Código
de Processo Civil veio inovando na concepção de processo e solução de litígios, buscando em
primeiro lugar a resolução de forma amigável, com a obrigatoriedade das audiências previas de
conciliação.

Neste sentido tem caminhado o instituto penal, porem sem desvirtuar a proteção dos bens
jurídicos tutelados, mas ao contrario, com o intuito de tornar a proteção ainda maior, partindo
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da premissa que o desbaratinamento de organizações criminosas traz segurança a toda a


sociedade.

Cediço é que grandes esquemas so poderam ser desvendados através da colaboração, devido ao
alto grau de complexidade e concurso de inúmeras pessoas no cometimento de ilícitos que
muitas vezes ultrapassou até o território brasileiro, o que tornaria ainda mais dificultoso um
procedimento investigatório que lograsse tamanho êxito como o advindo das diversas delações
tem ocorrido no decorrer destes anos.

Além disso, observamos ainda que a justiça caminha cada vez no sentido de uma integração
entre as instancias, essa comunicabilidade tem sido ampliada com ingerência cada vez mais
aceita do judiciário no âmbito administrativo, e isso traz sem sombra de duvidas benéficios para
a sociedade que deixa de ficar nas mãos do Estado por não ter a quem recorrer. Embora o
judiciário tenha influenciado na decisões administrativas, sabemos que resta ainda a
preponderância do interesse da sociedade sobre o interesse individual. Mas a comunicabilidade
tem sido fundamental para assegurar o cumprimento dos princípios da administração pública,
tais como a moralidade, com a possibilidade inclusive de anulação de atos administrativos
discricionários que não estejam em conformidade com o ordenamento jurídico como um todo.

Analisamos ainda a necessária releitura que alguns princípios vem sofrendo em decorrência do
avanço da sociedade e da complexidade das relações, o que exige que soluções novas sejam
pensadas para que seja possível acompanhar o desenvolvimento da sociedade.

Não tivemos aqui a pretensão de esgotar o tema da transversalidade dos acordos penais, mas
sim de levantar o debate para que sejam percebidas as implicações que o ingresso de um
instituto pode trazer ao ordenamento.

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