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UNIDADE CURRICULAR: Antropologia das Religiões

CÓDIGO: 41009

DOCENTE: Teresa Joaquim

A preencher pelo/a estudante

NOME: Ernesto Ferreira Ribeiro

N.º DE ESTUDANTE: 1600036

CURSO: História

DATA DE ENTREGA: 4 de janeiro de 2019

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TRABALHO / RESOLUÇÃO:

“(…) A religião (…) existe além de toda a discussão


dogmática. É uma faculdade da alma humana, da
mesma forma que a inteligência e o amor. Enquanto
houver homem, a religião existirá.”
Éliphas Lévi, “A Chave dos grandes mistérios”

O quadro metodológico da Antropologia das religiões debate-se, hoje em dia,


com a problemática tradição/modernidade, no sentido de se determinar se existe
complementaridade ou oposição nas actuais vivências religiosas das sociedades
modernas face ao advento “universal” da secularização. Talvez este resulte num falso
problema tendo em conta as palavras de Grace Davies1, onde o caso europeu se
distanciaria, por excepcional, do restante padrão mundial no que concerne ao paradigma
da actividade religiosa. Os padrões da religião na Europa moderna, por regra da sua
relativa laicidade, poderiam constituir, assim, um caso excepcional em termos globais.
Ao contrário de outras regiões do mundo (Estados Unidos da América, América Latina,
África, Índia, etc.), a Europa sofreria uma espécie de “desencanto” religioso, numa
perda generalizada da sua literacia, mesmo quando novas provas evidenciariam a
importância do religioso na vida pública e na sua ordem social. Para Dias-Salazar2, a
Europa evidenciaria a existência de uma “religião vazia”, resultante de uma atitude de
indiferença - face à religião estabelecida, ou simplesmente, à religião -, num processo
de eventual ateísmo prático. O processo de “secularização” levaria, assim, a um natural
“desencantamento/desalento” em virtude da diferenciação, racionalização e
mundanização das anteriores competências religiosas, que para uns significaria o fim da
religião, enquanto para outros determinaria, tão só, o deslocamento e a transformação da
religião em novas categorias/energias sociais que recobririam em parte as funções da
antiga. Noutro quadrante, o surgimento de novos surtos religiosos inscrever-se-ia nesta
mesma lógica “secular”, num contexto civilizacional diferente, mas, para outros, esta
difusão revelaria, pelo contrário, um “regresso”, um “retorno” à própria essência da
religião. Enquanto para os primeiros o pluralismo religioso, composto num grande

1Vilaça, Helena & Davies, Grace. (2001). “Pensar sociologicamente a religião: uma conversa com Grace Davies”. e-cadernos CES,
APA, 17 de Novembro, 2018, em https://journals.openedition.org/eces584

2In Sanchis, Pierre. (2001). “Desencanto e formas contemporâneas do religioso”. Ciencias Sociales y Religión/ Ciências Sociais e
Religião, Porto Alegre, ano 3, n.3, p. 41

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“mercado, numa “feira mística”, seria a ponta de lança da secularização da própria
consciência religiosa (e uma porta aberta à indiferença), para os seguintes este mesmo
pluralismo permitiria o advento da experiência religiosa num quadro de modernidade.
Esta actuaria no âmbito da autonomia decisória do próprio indivíduo, articulada, assim,
num mútuo enriquecimento dialogal com as instituições. Ainda segundo Sanchis 3, uma
das posições defende que o paradigma da secularização fere de morte as instituições
gerenciadoras do sagrado, libertando as consciências naquilo que, historicamente, foi o
seu papel regulador; outra vertente defende que a modernidade, na insegurança que
provoca, reforça as identidades institucionais e os filões das heranças agressivas e
reivindicadas nos integrismos e/ou fundamentalismos. É, assim, neste cenário de
“desencanto moderno”, que se há-de gerar, por oposição ou complementaridade, o
“reencantamento” do mundo através das formas modernas do fenómeno religioso. Se,
por um lado, a secularização é um processo conatural à modernidade, um destino
universal da civilização contemporânea, por outro, quer nos casos já antes evidenciados
quer no plano concreto da América Latina - ou das suas classes populares -, que
escapam a esta onda “secular”, evidencia-se um cunho específico, eventualmente face à
sua modernização “tardia”. O exemplo dos Estados Unidos da América retrata, por
outro lado, uma modernidade que não conhece a regra-tipo da secularização: 95% dos
americanos crêem em Deus. No panorama brasileiro, na opinião de Pierre Sanchis4, o
pluralismo religioso é crescente, num contexto de grande diversidade (cristianismo,
espiritismo e universo “afro”) e relativa homogeneidade, onde o fim da hegemonia
católica permitiu a emergência de tradições particulares e universais que representam,
ao mesmo tempo, uma contundente afirmação sincrética e uma radical rejeição da
modernidade individualista, racional e dessacralizadora. Trata-se, segundo o autor, de
uma tentativa de recapitular o que existe de global, carnal e cósmico, no plano da
completude do homem, nunca antes atingida. Nesta multiplicidade de renovados olhares
e perspectivas, imbuídos de instrumentos técnicos (física quântica, teoria do caos, etc.),
opera-se uma junção com a “lei da magia” no intuito de se desvendar o mistério do
futuro, de se "reencantar” o mundo e de se construir, nele, um renovado destino. Será
esta visão um novo regresso ao paganismo? É certo que o meio religioso brasileiro
3 Ibidem, p. 30

4 Sanchis, Pierre. (1997). “As religiões dos brasileiros”. Horizonte, Belo Horizonte, v.1, n.2, p. 32 e seg., 2º sem.

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revela, neste quadrante, duas dimensões na faceta deste fenómeno: em primeiro lugar a
primazia da emoção sobre a razão, e em segundo lugar a dimensão da verdade, uma
premissa tipicamente pós-moderna que afasta o tabu e o dogma religioso, na premência
de uma realidade em constante mutação e definição. Este seria e um dos motivos pelos
quais a realidade do campo religioso seria cada vez menos o do campo das religiões, já
que o homem, na sua ânsia de compor o seu próprio universo, tenderia a não se sujeitar
ao que as instituições lhe propõem em termos de definições.
Assim sendo, existe oposição ou complementaridade nas vivências religiosas das
sociedades actuais marcadas pelo fenómeno da secularização? A resposta não se afigura
fácil nem inequívoca, porque as realidades históricas se diferenciam consoante
estejamos no espaço europeu, no plano norte-americano, ou nos quadrantes geográficos
da América Latina, Ásia ou África. No entanto, excluindo o caso europeu como o “The
exceptional case”5 , diria que o fenómeno das actuais vivências religiosas das sociedades
modernas expressam, mais por complementaridade do que por oposição, o
“reencantamento do mundo”. Tal circunstância seria resultante de um “desencanto”
inicial face à deriva racionalizante das grandes religiões do Ocidente, as religiões do
Livro, da metafísica sagrada e da ética reflexiva, mas desvirtuadoras do sagrado e da
sua dimensão simbólica. É, assim, num paradigma de complementaridade que as
“formas contemporâneas do religioso” tenderiam a promover o mito, o primitivo como
traço fundamental, primordial, nele reconhecendo a permanência da dimensão religiosa
na história da humanidade, sempre articulada a outra dimensão, cada vez mais racional,
ética e transcendente. O fundo primevo revelar-se-ía como o plano básico fundamental
do enraizamento humano no “reencantamento” do seu próprio universo de significação,
em constante renovação. A pós-modernidade sustentar-se-ía, assim, em paradigmas pré-
modernos (afectividade, participação, encantamento, magia) para se reequilibrar
dialecticamente com os preceitos do racionalismo, da laicidade e da secularização. No
fundo, tratar-se-ía de um regresso ao passado, à condição do espaço religioso como
vector de definição dos comportamentos sociais e políticos. Neste “reencantamento”, a
“religião da política” assumir-se-ía, quiçá, como o plano fundamental de articulação
entre a tradição e a modernidade, no advento “universal” da secularização.*

5In Vilaça, Helena & Davies, Grace. (2001). “Pensar sociologicamente a religião: uma conversa com Grace Davies”. e-cadernos CES,
APA, 17 de Novembro, 2018, em https://journals.openedition.org/eces584, p. 119

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BIBLIOGRAFIA

Sanchis, Pierre. (1997). “As religiões dos brasileiros”. Horizonte, Belo Horizonte, v.1,
n.2, p. 32-43, 2º sem.

Sanchis, Pierre. (2001). “Desencanto e formas contemporâneas do religioso". Ciencias


Sociales y Religión/ Ciências Sociais e Religião, Porto Alegre, ano 3, n.3, p. 27-43

Vilaça, Helena & Davies, Grace. (2001). “Pensar sociologicamente a religião: uma
conversa com Grace Davies”. e-cadernos CES, APA, 17 de Novembro, 2018, em https://
journals.openedition.org/eces584

* Este texto não obedece às regras do novo acordo ortográfico

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