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Radicais livres e mecanismos de proteção antioxidante*

Introdução
A presença de radicais livres em materiais biológicos foi descoberta há menos de 70 anos.
Em 1956, Denham Harman elaborou a hipótese de que radicais de oxigênio poderiam ser
formados como subprodutos de reações enzimáticas in vivo. Assim, descreveu os radicais livres
como a “Caixa de Pandora” responsável por danos celulares em algumas enfermidades, como o
processo de mutagênese, o câncer, o processo degenerativo do envelhecimento biológico, dentre
outros. Os radicais livres foram classificados como grupos de átomos ou moléculas que
possuem elétrons livres não pareados em sua camada orbital externa, o que explica sua
instabilidade. As características físico-químicas destas espécies reativas além da instabilidade é
o tempo de meia-vida curto, e a capacidade de reagir com outras moléculas a fim de alcançar
sua estabilidade, custando a oxidação de biomoléculas. Entretanto, radical livre não é a
designação ideal para o conjunto dos agentes reativos patogênicos, pois alguns deles não
apresentam elétrons desemparelhados em sua última camada, embora participem das reações de
oxirredução. Assim, os termos reactive oxygen species (ROS) (ERO: espécies reativas de
oxigênio) e reactive nitrogen species (RNS) (ERN: espécies reativas de nitrogênio) são
considerados mais apropriados por descreverem melhor esses agentes químicos.
A ciência dos radicais livres nos organismos vivos encontrou uma segunda fase depois que
McCord e Fridovich, em 1969, descobriram a enzima superóxido dismutase (SOD) e,
finalmente, convenceram a maioria dos colegas que os radicais livres são importantes na
biologia. A partir desse momento, vários pesquisadores foram inspirados a investigar os danos
oxidativos causados por tais agentes oxidantes sobre ácido desoxirribonucleico (DNA),
proteínas, lipídeos e outros componentes celulares. Em seres aeróbios, a geração de espécies
reativas constitui um processo biológico essencial e contínuo pois no organismo estão
envolvidos na produção de energia, fagocitose, regulação do crescimento celular, sinalização
intercelular, imunidade, defesa celular e síntese de substâncias biológicas. Assim, sua produção
ocorre por fontes endógenas do sistema enzimático (NADPH no reticulo endoplasmático e nos
peroxissomos, ATP e subprodutos do metabolismo celular) e fontes exógenas como a exposição
à radiação, farmacêuticos e químicos. A formação de radicais livres ou espécies reativas
(reações de oxi-redução ou reação redox) pelo organismo em condições normais é inevitável,
pois são necessários no processo de respiração celular que ocorre nas mitocôndrias, a fim de
gerar a energia na forma de adenosina trifosfato (ATP). Entretanto, a produção de ERO está
mais elevada nos animais quando ocorrem lesões teciduais causadas por traumas, infecções,
parasitas, hipóxia, toxinas e exercícios extremos, devido a um conjunto de processos como o
aumento de enzimas envolvidas na formação de radicais, a ativação da fagocitose, liberação de
_______________________
* Vizzotto, E. Radicais livres e mecanismos de proteção antioxidante. Disciplina de Fundamentos
Bioquímicos dos Transtornos Metabólicos, Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2017. 10p.
ferro e cobre ou uma interrupção da cadeia transportadora de elétrons. Portanto, é necessário
que exista um equilíbrio entre a produção e a eliminação destas espécies reativas. Quando há um
desequilíbrio entre as espécies oxidantes e antioxidantes (elementos que favorecem a eliminação
das espécies reativas), em favor da geração excessiva de espécies reativas ou, em detrimento da
velocidade de remoção desses pelo sistema de defesa antioxidante, ocorrerá o estresse oxidativo
favorecendo a ocorrência de danos oxidativos às biomoléculas. Diante disso, os danos crônicos
as biomoléculas desencadeados pelo estresse oxidativo tem sido associado à etiologia de
diversas patologias, incluindo câncer, doença cardiovascular, isquemia cerebral, doenças
neurodegenerativas, além do envelhecimento.

Espécies reativas de oxigênio

As principais ERO distribuem-se em dois grupos, os radicalares: hidroxila (HO∙), superóxido


(O2∙-), peroxila (ROO∙) e alcoxila (RO∙); e os não-radicalares: oxigênio (O2), peróxido de
hidrogênio (H2O2) e ácido hipocloroso (HClO).

Superóxido (O2∙-)

Gerado pela reação entre moléculas de substâncias que participam da cadeia de transporte de
elétrons na mitocôndria e no retículo endoplasmático. Ainda na mitocôndria, o ânion O2•- pode
ser produzido como intermediário das reações do ciclo de Krebs, pelas enzimas α-cetoglutarato-
desidrogenase, piruvato-desidrogenase e glicerol-3-fosfato-desidrogenase e, da β-oxidação de
ácidos graxos. As células fagocitárias também produzem o O2•- como parte do mecanismo de
defesa imunológica e inflamatória para eliminar microrganismos patogênicos ou corpos
estranhos. Os fagócitos o produzem com auxílio da enzima leucocitária nicotinamida adenina
dinucleotídeo fosfato (NADPH oxidase), que catalisa a redução. Adicionalmente, o O2•- pode
também ser produzido por enzimas como as da família das NAD(P) H-oxidases (NOXs),
xantina-oxidorredutase, citocromo P450, lipoxigenases e cicloxigenases. Ainda, alguns
metabólitos e moléculas contendo tiois podem se auto-oxidar, na presença de metais de
transição, e produzir O2 •-, tais como adrenalina, dopamina, FADH2 e homocisteína. Além
disso, o grupo heme da hemoglobina e da mioglobina são susceptíveis à oxidação pelo O2. O
Fe2+ ligado à porção heme é oxidado a Fe3+, que não se liga ao O2 e, portanto, libera O2•-.
A atuação do radical O2•- como oxidante direto é irrelevante, pois dentre os aminoácidos, o
único que sofre oxidação com esse radical é a cisteína. Outro fato que corrobora com sua baixa
capacidade oxidante é a sua eliminação pela enzima SOD, que catalisa a dismutação de duas
moléculas de O2•- em oxigênio e peróxido de hidrogênio. Sendo que, este último, quando não

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eliminado do organismo pelas enzimas peroxidases e catalase, pode gerar radicais hidroxil e
doar um elétron do O2 com gasto de uma molécula de NADPH.

Peróxido de hidrogênio (H2O2)


A molécula de H2O2 é um não-radical, mais estável e seletivo quanto às suas reações
biológicas com espécies não radicais, sendo rapidamente destruído por enzimas antioxidantes.
Na presença de O2•-, pode ocorre a formação de H2O2 em pH fisiológico, aceitando 2 prótons e
1 elétron, em uma reação não catalisada enzimaticamente. Além disso, a reação pode ser
catalisada enzimaticamente pela SOD, que promove a dismutação do O2•- em H2O2. Nessa
reação, uma molécula de superóxido é reduzida a peróxido de hidrogênio, enquanto a segunda é
oxidada a oxigênio molecular. O H2O2 exerce suas atividades biológicas de sinalização celular e
defesa contra patógenos, por meio da oxidação de resíduos de cisteína nas proteínas. Por outro
lado, o H2O2 pode também inativar algumas enzimas, oxidar moléculas como piruvato e α-
cetoglutarato, degradar proteínas como mioglobina, hemoglobina e citrocromo c e oxidar o
DNA (DNA nuclear e mitocondrial) e lipídeos. Embora o H2O2 apresente baixa reatividade, ele
pode ser convertido a radicais altamente reativos, como •OH e o ácido hipocloroso (HOCl).
Quando o H2O2 interage com metais de transição, como o Fe2+, Fe3+ ou Cu2+, são produzidos os
radicais mais reativos e danosos ao organismo, os radicais •OH, onde, na presença de Cu2+ a
taxa da reação de conversão é mais rápida. O ataque ao grupamento heme da hemoglobina
acarreta na liberação de Fe3+, o qual pode, posteriormente, reagir com outra molécula de H2O2,
produzindo o radical •OH.

Radical hidroxil (•OH)


O radical •OH é a espécie derivada do oxigênio mais reativa e com o menor tempo de meia-
vida (10-9s) dentre as EROs, sendo capaz de reagir rapidamente com quase todas as
biomoléculas: carboidratos, lipídios, aminoácidos, DNA e ácidos orgânicos. Além de sua alta
reatividade biológica, não existe defesa antioxidante enzimática capaz de eliminar o •OH, o que
faz dele o radical livre mais danoso em termos celulares. É formado no organismo
principalmente por dois mecanismos: reação do peróxido de hidrogênio (H2O2) com metais de
transição e homólise da água por exposição à radiação ionizante. Entretanto, outras reações que
ocorrem esporadicamente podem formá-lo como a reação como o ácido hipocloroso (HCLO) ou
peroxinitrito (ONOO-).

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Espécies reativas de nitrogênio
Dentre as principais ERN incluem-se o óxido nítrico (NO∙), óxido nitroso (N2O3), ácido
nitroso (HNO2), nitritos (NO2-), nitratos (NO3-) e peroxinitritos (ONOO-). O NO• e ONOO- são
as moléculas com funções biologicamente ativas mais importantes.

Óxido nítrico (NO•)


A produção de NO• nas células ocorre por dois processos:
(a) Enzimáticos, que envolvem a atividade das enzimas óxido nítrico sintetase (NOS), a
partir de arginina, oxigênio e NADPH, gerando também NADP+ e citrulina:
Arginina + 2 O2 + NADPH → Citrulina + 2 H2O + NADP+ + NO•
(b) Não enzimáticos: em pH ácido, o NO• pode ser gerado a partir do dióxido de nitrogênio
(NO2-) ou ácido nitroso (HNO2).
Em condições biológicas e, na presença de O2, o radical NO• é susceptível à oxidação e à
redução, podendo ser transformado em outras ERNs. Dessa forma, o NO• é a principal ERN
presente na célula e fonte de outras espécies. As principais reações que geram espécies mais
reativas são: (1) redução de um elétron do radical NO• que dá origem ao ânion nitroxil NO-,
cuja meia-vida é curta, pois reage rapidamente com o O2, dando origem ao ONOO-; (2)
interação direta entre NO• e O2 que produz o gás NO2•; 3) a interação em solução aquosa entre
NO• e O2 que produz NO2-; e 4) a reação com o ânion O2 •- ou H2O2 para formar o ONOO-.
Com a função de neutralização de espécies reativas ocorrem interações entre o NO• e
espécies que compreendem: (1) os radicais •OH, dando origem ao HNO2; (2) os radicais peroxil,
gerando ROONO; (3) os radicais tirosil; e (4) os metais de transição (Fe2+, Cu2+ e Zn2+), onde a
interação com Fe2+, na presença de peróxidos, pode diminuir a reatividade do Fe2+ com o H2O2,
evitando a formação do radical •OH.

Peroxinitrito (ONOO-)
Formado pela reação não enzimática entre os radicais óxido nítrico NO• e superóxido O2•-
gera ONOO-, e sua taxa de formação é dependente da concentração de ambos os radicais. O
ONOO- é a principal fonte de dano oxidativo aos aminoácidos, que compromete a função
proteica e também inativa enzimas. O óxido nítrico NO• não é suficientemente reativo para
atacar o DNA diretamente, entretanto o peroxinitrito pode sofrer reações secundárias formando
agentes capazes de nitrar aminoácidos aromáticos, a exemplo da tirosina gerando nitrotirosina e
as bases do DNA, em particular a guanina, na qual o produto principal é a 8-nitroguanina. A
hemoglobina é outro alvo da oxidação pelo ONOO-, onde ocorre a formação de
metahemoglobina, a qual interfere com a oxigenação tecidual.

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Antioxidantes

A produção contínua de radicais livres durante os processos metabólicos levou ao


desenvolvimento de muitos mecanismos de defesa antioxidante, para limitar os níveis
intracelulares e impedir a indução de danos. Os antioxidantes são substâncias que, mesmo
presentes em baixas concentrações, são capazes de atrasar ou inibir as taxas de oxidação. A
classificação mais utilizada para estas substâncias é a que as divide em dois sistemas, o
enzimático, composto pelas enzimas produzidas no organismo, e o não enzimático, fazendo
parte deste grupo as vitaminas e outras substâncias, como os flavonóides, licopeno e bilirrubina.
Tais substâncias podem agir diretamente, neutralizando a ação dos radicais livres e espécies
não-radicais, ou indiretamente, participando dos sistemas enzimáticos com tal capacidade.
Na neutralização da ROS como detoxificadora do agente antes que ele cause lesão é
constituída por algumas enzimas tais como a glutation reduzida (GSH), superóxido-dismutase
(SOD), catalase, glutation-peroxidase (GSH-Px) e vitamina E. A outra linha de defesa tem a
função de reparar a lesão ocorrida, sendo constituída pelo ácido ascórbico, pela glutation-
redutase (GSH-Rd) e pela GSH-Px, entre outros. Com exceção da vitamina E (α-tocoferol), que
é um antioxidante estrutural da membrana, a maior parte dos agentes antioxidantes está no meio
intracelular. O metabolismo antioxidante demanda gasto energético e possui uma relação
intrínseca com o sistema glicolítico. Dessa forma, animais com deficiência de enzimas
glicolíticas são mais propensos às lesões oxidativas, como na deficiência da glicose-6-fosfato
desidrogenase (G-6-PD) em cães e equinos, e na deficiência de piruvato quinase em cães da raça
Basenjii e Beagle.

Enzimas antioxidantes

Na Tabela 1 constam as principais enzimas antioxidantes com sua ação biológica e sítio de
ação.

Superóxido-dismutase (SOD)
A SOD tem papel fundamental na defesa do organismo contra as espécies reativas de
oxigênio, pois atua na remoção do O2•- formando O2 e H2O. Antes da sua descoberta em 1969, a
SOD já havia sido descrita por alguns autores como uma proteína que continha cobre (Cu), mas
sem a descrição de atividade catalítica. Seu papel foi estabelecido na dismutação (oxidação e
redução) do O2•- e até hoje, apesar de inúmeras pesquisas realizadas com essa enzima, nenhum
outro substrato foi descrito, mostrando a sua especificidade para esse radical livre. Nos sistemas
eucariontes existem duas formas de SOD. A forma SOD-cobre-zinco está presente
principalmente no citosol, enquanto que SOD-manganês está localizada primariamente na
mitocôndria. A exposição prolongada ao H2O2 pode inibir a isoforma citosólica da SOD, sem

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afetar a atividade da isoforma mitocondrial. Durante o processo hemolítico decorrente de
agressão térmica, os glóbulos vermelhos humanos e bovinos exibem queda da atividade SOD. A
adição desta enzima também protege o DNA de lesões provocadas pela sobrecarga de Fe3+.

Tabela 1. Sistema enzimático antioxidante conforme sua reação biológica e seus sítios de ação

Catalase (CAT)
Existem várias enzimas que são responsáveis pela eliminação do H2O2, quando existe
aumento excessivo em sua concentração. A principal delas é a CAT uma enzima dependente de
Fe2+, que utiliza exclusivamente o H2O2 como substrato, catalisando sua dismutação, formando
H2O e O2.. Altas concentrações de NO• podem inibir a atividade da CAT. A CAT evita o
acúmulo de metahemoglobina, resultante da oxidação da hemoglobina.

Glutation-peroxidase (GPx)
Diferente da CAT, a GPx pode agir também na remoção de hidroperóxidos orgânicos
(ROOH) e ONOO-. Sendo depende de selênio (Se) para exercer sua atividade, além de requerer
GSH para promover a reação de redução do H2O2 em H2O. Após a catálise enzimática, duas
moléculas de GSH resultam em uma molécula de glutation oxidada (GSSG), e sua recuperação
para a forma ativa reduzida é realizada pela glutation-redutase (GR), a qual utiliza como força
redutora o NADPH. O sistema enzimático GPx e GR atua em conjunto por meio das seguintes
reações:
H2O2 + 2 GSH → 2 H2O + GSSG (GPx)
GSSG + NADPH.H+ → 2 GSH + NADP+ (GR)

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A enzima GPx tem alta afinidade pelo H2O2, atingindo a velocidade máxima de reação com
menores quantidades de substrato, por isso é a principal defesa quando o H2O2 se encontra em
baixas concentrações. Assim, como a CAT, a GPx também pode ser inibida por altas
concentrações de NO•. A relação entre GSH/GSSG é utilizada para verificar o estado redox
intracelular, sendo valores abaixo de 10 indicativos de estresse oxidativo.

Sistema não enzimático antioxidante


O potencial antioxidante in vivo dos compostos não-enzimáticos depende de algumas
variáveis, como: absorção e biodisponibilidade em condições fisiológicas, concentração
plasmática ideal, tipos de radicais livres gerados no processo oxidativo, em qual compartimento
celular foram gerados e como foram gerados.
O ácido ascórbico ou vitamina C pode reagir com superóxido e outros radicais livres e
espécies reativas não radicais, e influenciar na biodisponibilidade do NO•. Após doar um
elétron, a vitamina C pode se tornar um composto pró-oxidante, o radical ascorbil, que na
presença de ferro catalisa a síntese de radical hidroxil. Esta vitamina também atua como agente
redutor, reduzindo metais de transição (Fe3+ e Cu2+) presentes nos sítios ativos das enzimas ou
nas formas livres no organismo. Dentre todos os tocoferóis conhecidos, o α-tocoferol (vitamina
E) tem sido considerado o biologicamente mais ativo, sendo o principal antioxidante
lipossolúvel nas membranas celulares, mas esta função poderá estar limitada em situações de
sobrecarga de ferro. O fato de ser lipossolúvel confere a propriedade de se acumular no interior
das membranas e de ser transportado pelas lipoproteínas, especialmente pela lipoproteína de
baixa densidade (LDL). Os tocoferóis e os tocotrienóis inibem a peroxidação eliminando os
radicais de peroxilo lipídico (LO2) muito mais rapidamente do que estes radicais podem reagir
com cadeias laterais de ácidos graxos adjacentes. A espécie reativa O2 singlet emite fótons que
são capturados pela vitamina E, impedindo assim que reaja com uma molécula qualquer. Ainda
existem grandes limitações no estudo in vivo para a dosagem correta desta vitamina. Em
humanos foi observado que são necessárias doses orais grandes durante longos períodos
(superiores a 2000 mg/dia por mais de 8 semanas, 200 mg/dia durante um ano) para diminuir a
peroxidação.
Os carotenoides e a vitamina A são quelantes de algumas espécies reativas como dióxido de
nitrogênio NO2• e hidroxila •OH inibindo a peroxidação lipídica, embora a sua função in vivo
ainda não esteja bem estabelecida. Os fitoquímicos como as catequinas e óleos essenciais
eliminam radicais livres, tais como hidroxila (OH), dióxido de nitrogênio (NO2) e peroxinitrito
(ONOOH). Estes estratos naturais derivados do grupo fenol também inibem a peroxidação
lipídica atuando como eliminadores de radicais peroxil que interrompem as reações em cadeia.
Existe, ainda, uma série de outros antioxidantes não enzimáticos que participam da defesa
contra as espécies reativas do oxigênio nos sistemas biológicos como, por exemplo a

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ubiquinona, a ceruloplasmina, o ácido úrico, a bilirrubina, a biliverdina, a taurina e os minerais
como zinco que é essencial para a funcionalidade e integridade das membranas pois contribui
para a proteção antioxidante contra os efeitos de ruptura de membranas causados por oxidação
de lipídios e proteínas, e preserva a integridade de canais iônicos, agindo assim como
antagonista ao efeito adverso do íon Ca2+ livre. O ferro e cobre estão envolvidos em várias
reações de radicais livres e frequentemente levam a geração de espécies muito reativas a partir
de espécies menos reativas. O ferro ligado a proteínas não é normalmente disponível para
estimular a formação de radicais livres, a menos seja liberado pelas proteínas. Desta forma, seu
transporte e armazenamento (ferritina e transferrina) proporciona uma defesa antioxidante. Os
estudos in vivo ainda são muito limitados, principalmente no que se refere à dosagem de
antioxidantes não enzimáticos nas dietas para animais. Politis et al. (1995), suplementando
vacas leiteiras antes e após o parto com 300 UI ou com 5000 UI de vitamina E, uma semana
antes do parto, observaram que houve prevenção da supressão da função dos neutrófilos e dos
macrófagos durante o período inicial do pós-parto e que as vacas suplementadas apresentaram
maior concentração de vitamina E no plasma comparadas com as vacas controle. Entretanto, a
quantidade superóxidos neste período pós-parto também foi aumentada assim aumentando os
danos causados pelo estresse oxidativo.

Consequências do aumento das espécies reativas


A peroxidação lipídica é o processo no qual ocorre oxidação de ácidos graxos poli-
insaturados, incluindo aqueles que compõem membranas de células e organelas, através da ação
de espécies reativas. Consequentemente, há perda das funções exercidas pela membrana
plasmática, como a perda de fluidez e seletividade na troca iônica, além do extravasamento do
conteúdo de organelas tais como as enzimas hidrolíticas dos lisossomos. O ataque oxidativo aos
ácidos graxos presentes abundantemente no sêmen (ácidos oléico, linoléico, araquidônico e
linolênico) pode comprometer a sua habilidade fertilizante. Pesquisas recentes têm demostrado
que o aumento no NEFA em bovinos de leite no pós-parto tem aumentado os ROS durante a β-
oxidação. Entretanto, este período é marcado por um certo grau de inflamação que é uma
adaptação dos processos patológicos, já que algum nível de inflamação é realmente necessário
ou benéfico para a produção e adaptação do período de transição bem-sucedido. Portanto, o
debate continua sobre qual quantidade de ROS e / ou inflamação é necessária para os processos
fisiológicos e o quanto isto custará para o desempenho animal. A capacidade de estabelecer um
limiar para isso ajudará a estabelecer medidas preventivas e corretivas.
A oxidação de proteínas in vivo prejudica o funcionamento de receptores, anticorpos,
transportadores e enzimas. O principal destino de proteínas oxidadas é o catabolismo via
ubiquitina-proteassoma e via lisossomo, porém algumas proteínas funcionalmente inativas
podem não ser suficientemente degradadas, formando agregados proteicos que se acumulam

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intra ou extracelularmente. Proteínas oxidadas podem ser reconhecidas como moléculas
estranhas pelo sistema imune, levando à formação de anticorpos e podendo desencadear
autoimunidade. Além disso, o dano oxidativo a proteínas pode levar a danos secundários a
outras biomoléculas. O dano ao DNA pode ser irreversível, resultando em mutações, em
decorrência da alteração funcional das enzimas de reparo. Nos aminoácidos e proteínas, o
radical hidroxila (HO∙) pode reagir na cadeia lateral, onde ataca preferencialmente cisteína,
histidina, triptofano, metionina e fenilalanina, gerando danos com consequente perda de
atividade enzimática, dificuldades no transporte ativo através das membranas celulares, citólise
e morte celular.
A ação de espécies reativas sobre os ácidos nucléicos, sobretudo do radical •OH sobre o
DNA, podem resultar tanto na quebra da dupla fita de DNA como na modificação das bases
nitrogenadas e açúcares causando mutações. A mutação é um passo importante na
genotoxicidade e níveis elevados de danos oxidativos ao DNA têm sido fortemente implicados
na etiologia do câncer. As modificações mais compreendidas são as que ocorrem nas bases,
tendo sido identificados até o momento aproximadamente 20 produtos oxidados. Dentre eles, o
mais extensivamente estudado marcador de dano oxidativo ao DNA é o 8-hidroxi-2’-
desoxiguanosina (8-OHdG), produto da oxidação da base nitrogenada guanina no C-8 que
resulta em mutação por transição de G–T.
O trato respiratório é um alvo importante de danos causados por oxidantes, tanto de origem
endógena quanto exógena, pelo fato de estar em contato direto com o meio externo e exposto a
elevadas concentrações de oxigênio. A geração de neutrófilos no interstício pulmonar, e a
ativação destas células gera radical superóxido, que lesa diretamente a membrana das células
intersticiais e do endotélio. Como consequência, ocorre lesão tissular progressiva.

Detecção laboratorial do estresse oxidativo


A detecção direta das espécies reativas em sistemas biológicos é dificultada por suas
concentrações extremamente baixas (da ordem de 10-11M) e por suas altas velocidades de
reação, chegando ao ponto de as taxas de produção ser iguais às taxas de reação com
biomoléculas. Os subprodutos das espécies reativas podem ser aferidos diretamente por técnica
de ressonância paramagnética de elétrons, porém o custo e outras limitações desta avaliação
dificultam seu uso rotineiro
Os métodos mais utilizados para aferição indireta das lesões oxidativas são os
espectrofotométricos e cromatométricos, que medem a atividade enzimática (SOD, catalase,
GSH-Px e GSH-Rd) e/ou a concentração de tripeptídeos (GSH, GSSG) e aldeídos (MDA). Estas
medidas podem ser realizadas em tecidos, sangue e outros fluidos. A lipoperoxidação de
membranas é habitualmente monitorada pelo método do MDA (malonaldeído) e o estresse
oxidativo, por dosagens de GSSG e/ou pelo cálculo da razão GSSG/GSH.

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Infelizmente, há alguns fatores que podem dificultar a implementação de intervalos de
referência ou valores de antioxidantes: (i) algum grau de ROS é essencial para a manutenção de
processos fisiológicos; (ii) muitos fatores influenciam a produção de ROS, como a dieta,
temperatura ambiental, condição corporal no parto; (iii) animais sob uma habitação e condições
alimentar idênticas mostram uma grande variabilidade individual em relação à adaptação da
gravidez ao início da lactação, refletido também em diferentes biomarcadores.

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