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O Pe. Antonio José de Almeida, da Diocese de Apucarana, Paraná, doutor
em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, professor
aposentado da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, é
um abalizado conhecedor de muitas experiências pastorais, sobretudo no
aspecto ministerial. Autor de várias obras nesta área, deu-nos esta entrevista, no
horizonte do Sínodo para a Amazônia, que se celebrará em Roma de 6 a 27 de
outubro de 2019, com o tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para
uma ecologia integral”.
Segundo o entrevistado, que nos enviou a entrevista, "na Espanha, foi publicado
recentemente um livro sobre Ministérios, formado por um conjunto variado de
entrevistas. Dei uma dessas entrevistas e obtive a autorização da editora e da
organizadora do livro para ser publicada no IHU".
Eis a entrevista.
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30/06/2019 Por um novo modelo de presbíteros para as comunidades - Instituto Humanitas Unisinos - IHU
Faz anos que você escreve e trabalha sobre uma renovação dos
ministérios na Igreja. O que mais o preocupa na situação atual? Por
que vê como necessária e urgente uma mudança?
O que mais me preocupa na situação atual não é nem a diminuição das vocações
nem a falta de presbíteros para presidirem as comunidades e, portanto,
presidirem a celebração da Eucaristia nas comunidades (mesmo que eu tenha
escrito e falado mais disso nos últimos anos). Três situações me parecem muito
preocupantes:
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Em alguns países, nos últimos anos, tem-se observado até certo aumento de
vocações e ordenações. No entanto, a proporção entre padres-população
católica, padres-população total continua sendo inadequada. O problema é mais
crítico na região amazônica, nas periferias das grandes cidades e nas áreas de
recente colonização, onde as distâncias são enormes e a população
extremamente dispersa. Na Amazônia, pode acontecer de uma comunidade ficar
sem celebração da Eucaristia por 1 ou 2 anos.
O Concílio não usa esta expressão nem a expressão que se impôs na teologia,
durante e depois da chamada "teologia dos ministérios", nas décadas de 1970 e
1980: "ministérios não ordenados". Os ministérios não ordenados não foram
objeto de uma discussão ex professo no Concílio como o foram os ministérios
dos bispos, dos presbíteros e dos diáconos, os quais, além do que está na
Constituição Lumen Gentium (21-29), mereceram três decretos específicos
(Christus Dominus, Presbyterorum Ordinis e Optatam totius).
Neste sentido, além dos ministérios ordenados, a Igreja, para sua vida e missão,
é dotada de diferentes carismas, alguns dos quais podem se tornar ministérios. A
constituição Lumen Gentium abre esta perspectiva nos parágrafos 4, 7, 12, 18
e 32; o decreto Unitatis redintegratio, no parágrafo 2; o decreto Apostolicam
actuositatem, nos parágrafos 2 e 3. O Vaticano II, portanto, ainda que não fale
especificamente de ministérios não ordenados, levou alguns teólogos, depois do
Concílio e por causa do Concílio, a afirmar que a estrutura social da Igreja,
mais do que conformada pela hierarquia, por um lado, e leigos, por outro, é
"comunidade" estruturada por “carismas e vários ministérios”: ordenados
(bispo, sacerdotes, diáconos) e não ordenados.
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Mas não vamos idealizar. A primavera foi nos anos 60-70. A ‘mudança climática’
das três décadas seguintes – no caso, um inverno eclesial – nos afetou também e
não pouco!
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As Igrejas locais são muito diferentes umas das outras. Normal e bom! Estudei
as experiências de inúmeras Igrejas locais da América Latina no que diz respeito
aos ministérios. Descobri que cada vez que uma Igreja local tem consciência da
sua plena eclesialidade, de sua fisionomia própria e desenvolve um projeto
evangelizador de fôlego, como regra geral vai promover pequenas comunidades
(ou CEBs) onde irão surgir (eu queria dizer "necessariamente") novos
ministérios, de acordo com as necessidades e carismas próprios de cada Igreja
local ou de cada comunidade menor inserida na Igreja local.
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Isso é uma riqueza para a Igreja universal ou, em uma expressão melhor, para a
comunhão universal das Igrejas. Não é um perigo, absolutamente, e, sim, uma
riqueza. Uma riqueza na Igreja local, uma riqueza para a Igreja universal. O que
Paulo escreve à Igreja de Éfeso me parece que possa ser aplicado
perfeitamente à comunhão da Igreja local e entre as Igrejas locais: "... solícitos
em guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só Corpo e um só
Espírito, assim como é uma só a esperança à qual fostes chamados. Há um só
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Sabemos que o tema dos ministérios é um dos pontos mais delicados e difíceis
nas relações ecumênicas. Mesmo assim, o Conselho Mundial de Igrejas
conseguiu, em 1982, um acordo decisivo, o documento “Batismo, Eucaristia
e Ministério” (também conhecido como “BEM” ou “Documento de Lima”),
que continua sendo uma importante referência. Não é uma exclusividade da
Igreja católica a diminuição das vocações e dos pastores. Tenho a impressão de
que apenas as Igrejas pentecostais e especialmente as neopentecostais (o
segmento que mais cresce no Brasil) não enfrentem esse problema. Acho que
podemos e de fato estamos aprendendo uns com os outros. Vem-me à mente as
palavras do poeta espanhol Antonio Machado: "Caminheiro, são teus rastros
o caminho e nada mais. Caminheiro, não existe caminho, faz-se caminho ao
andar. Ao caminhar se faz o caminho, e, ao olhar para trás, vê-se o sendeiro
que nunca mais se voltará a pisar. Caminheiro, não existe caminho e, sim,
rastros de espuma no mar”.
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Mas atenção: o fim, a meta, o foco é a comunidade! Esta relação estrutural entre
ministros e comunidade na Igreja antiga era tão clara que, diante da prática
nova/inovadora de ordenar presbíteros independentemente da necessidade de
seu serviço a uma comunidade, o Concílio de Calcedônia em 451 decretou
que "ninguém deve ser ordenado sacerdote, ou diácono, ou estabelecido em
qualquer função eclesiástica, em modo absoluto ["ab-soluto", aqui, significa
solto de, sem relação a, sem relação com]. Quem é ordenado, ao contrário, deve
ser designado para uma igreja da cidade ou de uma povoação, ou para a capela
de um mártir ou para um mosteiro O Santo Sínodo comanda que uma
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de um mártir, ou para um mosteiro. O Santo Sínodo comanda que uma
ordenação absoluta seja nula e que o ordenado não possa exercitar o ministério
em nenhum lugar, "para vergonha de quem o tiver ordenado" (can. 6).
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Cito Lobinger (depois de falar sobre comunidades com seus próprios ministros
e sobre uma pequena equipe de presbíteros em cada comunidade): "Temos que
evitar soluções temporárias de emergência em relação ao ministério nas
comunidades cristãs. Temos que procurar soluções permanentes, de
preferência". E fundamenta: "É o modelo original dado pela Bíblia."
No modelo atual, sem dúvida; é o que temos vivido por muitas décadas. Para o
modelo que propomos para o futuro, não. Em nossas “comunidades maduras” (é
claro que não são todas!) encontramos muita gente consciente, ativa,
comprometida com a vida e a missão da Igreja naquela comunidade concreta.
Veja que não é pouco! Não somos tão ingênuos de pensar que inventamos a roda
ou encontramos a pedra filosofal. Não se trata de uma panaceia para o enorme
problema da falta (relativa ou absoluta) de presbíteros; no entanto, é um modelo
viável em muitas comunidades.
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Aparecida é mais sóbria, mas não menos incisiva: ela os valoriza ("os ministérios
confiados aos leigos e outros serviços pastorais, como delegados da Palavra,
animadores de assembleia e pequenas comunidades, incluindo as comunidades
eclesiais de base, os movimentos eclesiais e uma série de pastorais específicas")
(n. 99c) e impulsiona ("também os leigos estão chamados a participar da ação
pastoral da Igreja, primeiro com o testemunho de sua vida e, em segundo lugar,
com ações no campo da evangelização, na vida litúrgica e noutras formas de
apostolado, de acordo com as necessidades locais sob a orientação de seus
pastores Eles estarão dispostos a abrir-lhes oportunidades de participação e a
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pastores. Eles estarão dispostos a abrir-lhes oportunidades de participação e a
confiar-lhes ministérios e responsabilidades em uma Igreja onde todos possam
viver de forma responsável seu compromisso cristão. Aos catequistas, delegados
da Palavra e animadores de comunidades, que realizam um trabalho magnífico
dentro da Igreja (cf. LG 31,33; GS 43; AA 2), nós lhes reconhecemos e
encorajamos a continuarem o compromisso que adquiriram no batismo e na
confirmação" (DAp 211).
Não sou profeta nem filho de profetas, dizia Amós! O tema vai estar presente e
espero que seja aprofundado em todos os seus aspectos, para que o Sínodo possa
aprovar indicações relevantes. Acreditamos que o que se concluir no Sínodo para
a Amazônia em matéria ministerial terá implicações para toda a Igreja.
O Sínodo da Amazônia terá que ter o discernimento e a
coragem de fazer história! - Antônio Almeida
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