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Isabel Patim
prof. universitária
CARPE DIEM
– a propósito de Literatura & Artes Plásticas
A exposição de pintura LES MAGRANES de JOSEP to qualitativo. Antes, desafiam-no. Para tal, contribuem Ros não recria apenas expressões linguísticas ou dis-
ROS está patente na Galeria Ortopóvoa até 5 de ou- os títulos dados às obras artísticas. cursos estéticos, mitos ou representações: convoca pa-
tubro.
– quando a tela também pinta um poema
As telas de Josep Ros exibem-se ao observador, que está Les magranes é a tela que dá título à exposição patente
sempre a ser observado, num convite mágico ao diálogo, ao público na Póvoa de Varzim. À semelhança de gran-
de maior ou de nula dimensão interdisciplinar, pincela- de parte dos restantes trabalhos em exibição, é o Pintor
do pelo artista valenciano num cromatismo que convoca, quem leva o poema à criação plástica, em primeira ins-
também, narrativas e discursos literários e mitológicos. Os tância e, em última, ao leitor/observador, cujo proces-
poemas e narrativas, as fábulas e as estórias, são deslidas so de descoberta pode ser orientado pelo seu próprio
e recriadas na pintura de Josep Ros, num processo a que imaginário. A textualidade remete aos saborosos fru-
chamo pictufictione, ainda que reconheça que este termo tos, “Els fruits saborosos” de Josep Carner: “I despullant,
é redutor dos universos abordados na sua obra. de dia, les hortes i els jardins, / en premi de les teves vo-
Com formação em Belas Artes e História de Arte, Ros lences sobiranes, / tos temples ornaria de flamejants
reconhece o papel de Jesus Acevedo, “mago da cor”, magranes / que, ben ferides, llencen un xàfec de robins”.
como figura determinante no seu interesse pelo cro-
matismo. Fruto de visitas a diferentes museus euro-
peus, Ros deixa-se “influenciar pela pintura clássica
europeia”, à qual diz sentir-se muito ligado, e que aca-
ba por se converter numa referência em todo o seu
trabalho.
Como refere Afonso Pinhão Ferreira no catálogo bilin-
gue desta 20.ª exposição da Galeria Ortopóvoa, “cada
pintura, exposta nos palácios do seu reino é uma ilus- «Vanitas» (óleo sobre tela, 116x81cm)
tração intelectual, onde num fundo místico sobressai
uma tela mística, que confere ênfase ao imaginário e ra a sua arte outras geografias, obras, artistas e narrati-
à fantasia”. Parabéns à Galeria que inaugura também vas. É o caso da tela intitulada “Llacuna Estígia”, síntese
a sua remodelada página em linha disponível em <ht- que remete para a obra do pintor flamengo Joachim Pa-
tps://www.ortopovoa.pt/galeria-de-arte/>. tinir, ‘El paso de la laguna Estigia’, pintura que represen-
ta o tema clássico relatado por Virgílio na Eneida ou por
Dante no Inferno – o Juízo Final e Ars Moriendi.