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Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança

FACULDADE DE TEOLOGIA DO CEARÁ – FATECE

SEMINÁRIO TEOLÓGICO DAS ASSEMBLÉIAS DE


DEUS - SETAD

Introdução ao Novo Testamento


O Desvendar da Nova Aliança

FORTALEZA - CE

FATECE – Curso de Educação a Distância 0


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança

APRESENTAÇÃO

Prezado (a) irmão (ã) em Cristo.

A Faculdade de Teologia do Ceará – FATECE. Órgão da Assembléia de


Deus – Ministério de Bela Vista, está oferecendo ao (a) amado (a) irmão (ã) a
oportunidade de fazer um curso de Teologia.
Para tanto, foi idealizado o CURSO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA
DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS – MBV, que tem por objetivo aprimorar os
conhecimentos bíblicos daqueles que servem ao Senhor através dos vários e
importantes ministérios existentes na Igreja de Cristo.
Este curso teológico é direcionado a dirigentes de Congregações,
Professores de Escola Dominical, Evangelistas, Pregadores, Missionários,
enfim, a todos aqueles que têm a responsabilidade de conduzir almas para o
Senhor e pregar a Sua Palavra.
Não é excesso de zelo lembrar que todos os obreiros, principalmente os
obreiros da nossa Assembléia de Deus de Bela Vista, têm a obrigação diante de
Deus, de conhecer mais e melhor as Sagradas Escrituras, tanto para
desempenhar a contento o ministério para o qual foi chamado, quanto para bem
administrar o Altar e bem conduzir o rebanho do Senhor.
A Palavra de Deus é lâmpada que ilumina o caminho (Sl. 119,105) e
escudo para os que confiam em Deus (Pv. 30.5).
Na certeza de que esta semente está sendo lançada em solo fértil, aguardamos
no Senhor que seja ela infinitamente multiplicada, para Sua Honra e para Sua
Glória.

Saudações em Cristo Jesus.

José Teixeira Rêgo Neto


Pastor Presidente da Assembléia de Deus de Bela Vista
Presidente da Convenção de Ministros da Ass. de Deus de Bela Vista
Reitor da Faculdade de Teologia do Ceará - FATECE

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Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança

SUMÁRIO
INTRODUÇAO GERAL..............................................................................................................3

1. PERÍODO ENTRE OS DOIS TESTAMENTOS.................................................................5

2. O NOVO TESTAMENTO......................................................................................................6

3. O MUNDO DO NOVO TESTAMENTO..............................................................................8

4. OS LIVROS DO NOVO TESTAMENTO..........................................................................15

5. OS RELATOS DOS QUATRO EVANGELHOS...............................................................16

6. A IDÉIA DOMINANTE – CUMPRIMENTO!..................................................................19

7. A SINFONIA INACABADA................................................................................................20

8. O NOVO TESTAMENTO COMO UM TODO.................................................................25

9. OS QUATRO EVANGELHOS EM CONJUNTO.............................................................38

10. LUGARES ONDE JESUS VIVEU E MINISTROU.......................................................53

11. OS EVENTOS DA VIDA DE JESUS................................................................................55

12. OS ENSINAMENTOS DE JESUS....................................................................................57

13. RELAÇÃO ENTRE MATEUS, MARCOS E LUCAS....................................................61

14. MATEUS: EVANGELHO DO REI MESSIAS................................................................62

15. MARCOS: EVANGELIIO DO SERVO DE DEUS.........................................................65

16. LUCAS: EVANGELHO DO SALVADOR.......................................................................68

17. JOÃO: EVANGELHO DO FILHO DE DEUS................................................................73

18. BIBLIOGRAFIA................................................................................................................78

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Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança

SETAD
Seminário Teológico das Assembléias de Deus – MBV
Rua 24 de Maio, 1162 - Centro - CEP 60020-001 Fone 3238.1689
Fortaleza – Ceará
INFORMACÕES NECESSÁRIAS
O Seminário Teológico - SETAD visa a preparação de crentes, homens e
mulheres para ampliar seus conhecimentos bíblicos e assim servir de maneira mais
eficaz a Cristo nas Igrejas Evangélicas do Brasil. Muitas são as pessoas que têm o
desejo de estudar a Bíblia para serem mais úteis no trabalho do Senhor, mas poucas
têm a oportunidade de se deslocarem a outra cidade para fazer um curso na sala de um
Instituto Bíblico. As 1icões do SETAD proporcionam a todos os cristãos a
oportunidade de se prepararem para toda boa obra em sua própria localidade.
O SETAD utiliza o moderno método de ensino chamado auto didático ou
instrução programada, em que a Lição é especialmente preparada e o professor leva o
aluno passo a passo a compreender as verdades da palavra de Deus. O estudo pode ser
feito sem o auxilio do professor, ou mesmo estudando em grupos com um orientador.
Ao final de cada Lição você responderá a um questionário de que será corrigido e
devolvido ao aluno logo após a correção. A nota mínima para a aprovação em cada
lição é 6,0 (seis). O aluno que não atingir esta nota fará nova prova.
Ao enviar o questionário (prova) para correção. o aluno deverá enviar também o
comprovante de pagamento da Lição seguinte, no valor de R$ 20,00 (vinte reais), por
VALE POSTAL em nome de FATECE – Faculdade de Teologia do Ceará, na rua 24 de
Maio, 1162 - Centro - CEP 60020-001 - Fortaleza-Ceará ou DEPÓSITO BANCÁRIO
no nome da FATECE – Faculdade de Teologia do Ceará, seguindo as seguintes
instruções:
Para que o aluno conclua o CETAD é necessário que estude 16 (Dezesseis)
lições diferentes. O Seminário Teológico à Distância tem duração mínima de 2 (dois)
anos, dependendo do interesse e da disponibilidade do a1uno. O Certificado de
conclusão do SETAD será outorgado pela FATECE – Faculdade de Teologia do Ceará.
Para obter maiores informações escreva para: Seminário Teológico à Distância ou se
preferir ligue: 3238.1689.

INTRODUÇAO GERAL
O alcance dos assuntos abordados na presente Lição obedece aos devidos
limites de tempo e de espaço, conforme o método de ensino teológico por
correspondência adotado pelo SETAD. Esta lição é parte de um todo, obedecendo a
um programa de conteúdo devidamente coordenado.
Que cada aluno do SETAD tire o maior proveito possível desta Lição, que esta

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Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
venha a contribuir para uma assimilação mais profunda no sentido de que cada aluno
aplique à sua vida os princípios éticos e morais da palavra do Senhor.
O anelo e as orações da Diretoria do SETAD é que a presente lição resulte em
ricas bênçãos sobre todos os que dela se utilizarem, uma vez que a mesma está
baseada na viva e poderosa palavra de Deus. Seja a graça do Senhor com cada um dos
alunos do SETAD.
COMO ESTUDAR ESTA LIÇÃO
Às vezes, estudamos muito e aprendemos pouco, ou nada. Isto em parte
acontece pelo fato de estudarmos sem ordem, nem método. Embora em poucas
palavras, a orientação que passamos a expor, ser-lhe-á muito útil:
1) Primeiro; busque a orientação de Deus, ore a Deus suplicando direção e
iluminação do alto, nunca execute qualquer tarefa de estudo ou trabalho, sem primeiro
orar.
2) A seguir; seja organizado ao estudar, e ao primeiro contato com a lição,
procure obter uma visão global da mesma, isto é, uma visão geral. Não sublinhe nada.
Não escreva nada. Não procure referências na Bíblia. Procure descobrir o que deseja a
lição ensinar-lhe. Passe então o estudo da lição:
1) Agora a medida que for estudando, sublinhe palavras, frases e trechos-
chaves, faça anotações, olhe as referencias bíblicas.
2) Ao final do estudo da lição, procure lembrar o que estudou. Caso tenha
alguma dificuldade, volte à lição. O aprendizado é um processo metódico e gradual.
Não é algo automático em que se aperta um botão e a máquina trabalha! Pergunte aos
que sabem, como foi que aprenderam!
3) Quando estiver seguro do seu aprendizado, passe ao questionário. As
respostas deverão ser dadas sem consultar a lição. Observando estes itens você terá
chegado a um final feliz do seu estudo, tanto no aprendizado quanto no crescimento
espiritual. 2ªTm 2,15 FL 4.13.

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Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança

1. PERÍODO ENTRE OS DOIS TESTAMENTOS


Ao estudarmos o Antigo Testamento, devemos lembrar que sua narrativa
histórica encerra-se com a reconstrução do templo em Jerusalém pelos judeus.
Porém, ao iniciar-se o relato do Novo Testamento, descobrimos que Jerusalém
estava sob domínio dos romanos.
O que sucedera na terra da Palestina, durante o período entre o Antigo
Testamento e o Novo Testamento? Esse é o período chamado de “interbíblico
ou intertestamentário”, o período do selênio profético.
No ano 586 a.C., foi levado pelos babilônicos, para o cativeiro, o último
grupo de judeus de Jerusalém. Enquanto os judeus estavam no cativeiro, os
persas conquistaram a Babilônia. Eles permitiram que os judeus voltassem a
Jerusalém, e um pequeno número deles retornou. Isso pôs fim ao período de
setenta anos de exílio dos judeus. Os judeus que voltaram a Jerusalém
reconstruíram o templo e estabeleceram-se em sua terra. Entretanto, muito
judeus não regressaram à Palestina. Alguns permaneceram na Babilônia. Na
história, esse acontecimento se chama “diáspora”, um termo relacionado ao
vocábulo dispersão, que significa “o ato de espalhar”
Em seguida, os persas foram derrotados pelo jovem Alexandre o Grande,
cujos exercícios conquistaram vasto território, incluindo a Síria, a Palestina e o
Egito. O império político de Alexandre não sobreviveu por muito tempo após a
sua morte prematura, com a idade de trinta e três anos. Todavia, a cultura grega
que ele introduziu exerceu uma influência duradoura na Palestina e em todo o
mundo antigo.
Depois que Alexandre morreu, em 323 a.C., a Palestina passou a ser
controlada por uma série de outros poderes estrangeiros. Antíoco IV (175–164
a.C.), governante do império selêucida, tentou forçar os judeus a aceitarem a
cultura grega ou helênica. Proibiu a adoração tradicional dele e contaminou o
templo de Jerusalém. Em 167 a.C., os judeus revoltaram-se contra os seus
ímpios decretos. Anos depois, recuperaram o controle de Jerusalém e
purificaram o templo. A guerra de independência dos judeus prosseguiu até 142
a.C. Esse período é chamado de tempo dos Macabeus, o qual derivou do nome
de Judas Macabeu (o “martelador”), líder militar das forças judaicas, que
assentaram duros golpes no adversário.
O período de independência judaica perdurou de 142 a 63 a.C., quando
então Jerusalém foi conquistada pelo general romano, Pompeo. Durante esse

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Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
tempo, os governantes hasmoneanos continuaram a lutar contra a dominação
estrangeira. Mas também lutaram uns contra ou outros. Os governantes
hasmoneanos eram descendentes de Simão Macabeu, um dos irmão de Judas
Macabeu (o qual foi morto 161 a.C.) Entrementes, o poder de Roma, que era
uma das forças dominantes naquela região, a partir de cerca de 200 a.C. em
diante, continuou fortalecendo-se cada vez mais. O último governante
hasmoneano foi morto em 37 a.C., por Herodes, o Grande, nomeado
governador dos judeus pelos romanos. Herodes era o governante no tempo do
nascimento de Jesus Cristo.
Quando você começar a estudar o Novo Testamento, será proveitoso
conservar em mente esses fatos sobre o período intertestamental. Os eventos
que aconteceram durante esse período influenciaram a religião judaica e
moldaram o mundo no qual o Senhor Jesus nasceu.
A introdução ao Novo Testamento é um curso de estudo que ajudará o
obreiro cristão a obter um conhecimento geral do conteúdo do Novo
Testamento. Ele ajudará o obreiro cristão a compreender o Novo Testamento, a
obter confiança em sua fidedignidade e a tornar-se melhor equipado para
compartilhar suas verdades com outras pessoas.

2. O NOVO TESTAMENTO
O Novo Testamento se compõe de 27 livros. Foi escrito em grego, não no
grego clássico dos eruditos, mas no do povo comum, chamado Koiné. Seus 27
livros também estão classificados em 4 grupos conforme o assunto a que
pertencem: Biografia, História, Epístolas e Profecia. O terceiro grupo é também
chamado Doutrina.
1 – Biografia: São os 4 Evangelhos. Descrevem a vida terrena do Senhor
Jesus Cristo e seu glorioso ministério. Os três primeiros Evangelhos são
chamados sinópticos devido ao paralelismo que há entre eles. Os Evangelhos
são os livros mais importantes da Bíblia. Todos os livros que os precedem
tratam da preparação para a manifestação de Jesus Cristo, e os que lhes seguem
são explicações da doutrina de Cristo.
2 – História: É o livro de Atos dos apóstolos. Registra a história da Igreja
primitiva, seu viver, a propagação do Evangelho. Tudo através do Espírito
Santo conforme Jesus prometera (At 1.8).
3 – Epístolas: São 21 as epístolas ou cartas, e vão de Romanos a Judas.
Elas contém a doutrina da Igreja:

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Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
A – 9 São dirigidas a Igrejas ( de Romanos a 2ª Tessalonicenses).
B – 4 São dirigidas a indivíduos (duas a Timóteo, uma a Tito e outra a
Filemom).
C – 1 É dirigida aos hebreus cristãos.
D – 7 É dirigida a todos indistintamente (Tiago, 1ª e 2ª Pedro, 1ª, 2ª e
3ª João e Judas). Estas são também chamadas universais, católicas, ou gerais,
apesar de duas delas (2ª e 3ª João) serem dirigidas a pessoas).
4 – Profecia: É o livro do Apocalipse ou Revelação. Trata da volta
pessoal do Senhor Jesus Cristo à terra e as coisas que precederão a esse
glorioso evento. Nele vemos o Senhor Jesus vindo com seus santos para:
A – Destruir o poder gentílico sob o reinado da Besta;
B – Livrar a Israel que estará na Grande Tribulação;
C – Julgar as nações;
D – Estabelecer seu reino milenial.
Os livros do Novo Testamento também estão situados em ordem
cronológica, pelas mesmas razões expostas quando tratamos do Antigo
Testamento.

NOVO TESTAMENTO

OS ATOS DOS O
EVANGELHOS APÓSTOLOS EPÍSTOLAS APOCALIPSE

4 Livros 1 livro 1 Livro


sobre a vida sobre a história 21 Cartas
Profético
de Jesus Cristo da Igreja
primitiva

Epístolas Epístolas
Paulinas gerais

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Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança

3. O MUNDO DO NOVO TESTAMENTO


Diversas forças diferentes contribuíram para dar forma ao mundo do
Novo Testamento. Por exemplo, considerando estes fatos. Embora os romanos
governassem a Palestinas quando o Novo Testamento foi escrito, a língua do
próprio Novo Testamento foi o grego. Jesus, cuja história está narrada no Novo
Testamento, era judeu, o Messias cuja vinda fora preditada pelas Escrituras do
Antigo Testamento. Outrossim, nas páginas do Novo Testamento lemos acerca
de pessoas que seguiram muito variedades de religiões pagãs e de cultos
misteriosos. Quais foram as forças que moldaram o mundo do Novo
Testamento?
O Poder de Roma
Lemos em Lucas 2.1 que: “Naqueles dias saiu um decreto da parte de
César Augusto, para que todo o mundo fosse recenseado”. César era o título
conferido aos imperadores romanos.
Em alguns trechos do Novo Testamento, o imperador romano também é
chamado “rei” (1ª Pe 2.17). No tempo em que o Novo Testamento foi escrito,
o império romano estendia-se desde a extremidade ocidental do Mar
Mediterrâneo até o rio Eufrates no Oriente Médio. Todo esse grande território
estava sob o governo do imperador. Os romanos dividiam o seu império em
províncias – ária com bases militares. Diversas dessas províncias são
mencionadas por nome nas páginas do Novo Testamento, como a Macedônia, a
Acaia, a Síria, a Galácia e a Panfília.
O poder militar e a força política de Roma haviam produzido a unidade
política, a paz militar e a liberdade de comércio e de transporte. As várias
nações que Roma conquistou estavam debaixo de um único governo. A paz
romana foi imposta, cessando as guerras entre essas nações. Aos cidadãos
romanos eram outorgadas proteções especiais. Podiam dirigir-se a qualquer
parte do império sem o temor de serem injustamente aprisionados ou mal
tratados. O apóstolo Paulo, por exemplo, que foi notavelmente usado por Deus
para propagar a mensagem de Cristo em novas regiões, ocasionalmente teve de
depender da proteção especial desfrutada por ele como cidadão romano que era
(At 16.38; 22.29).
Os romanos eram excelentes construtores de boas estradas e de pontes
fortes. As estradas eram conservadas livres de assaltantes. Elas ligavam a
capital, Roma, com todas as regiões do império. Dizia-se: “Todos os caminhos

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Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
lavam a Roma”. Os mares eram mantidos livres de piratas. Como nunca antes,
havia segurança, liberdade e facilidade de viagens e de comunicação.
A Cultura Grega
Embora os romanos fossem os dominadores políticos do mundo, era o
idioma e o pensamento grego que dominavam a cultura da época. Um idioma e
um mundo! Esse era o lema e ambição de Alexandre o Grande. Quando ele fez
as suas conquistas, tomou providência para unificar todas as nações dominadas
sob o seu controle. O idioma grego passou a ser ensinado por toda a parte do
seu império. A cultura grega foi introduzida como o padrão de pensamento e de
vida diária. Isso produziu um profundo impacto sobre o povo do mundo do
Novo Testamento. (A cultura grega também é chamada cultura helênica. O
termo vem da palavra grega Hellas, nome original da terra grega. A pessoa de
cultura grega era chamada helenista, embora não fosse grega de nascimento).
Se o império político de Alexandre, o Grande, foi de breve duração, seu
impacto cultural foi grande e duradouro. Por muito séculos, o mundo
mediterrâneo inteiro carregou as marcas das influências helenistas. Tornaram-
se generalizados os costumes e as maneiras gregas. Muitas cidades copiavam o
estilo da arquitetura grega. O espírito de inquirição dos gregos, que gostavam
de especular sobre a origem e o significado do universo, de Deus e do homem,
do bem e do mal, também foi adotado pelas nações, influenciados pela cultura
grega. O grego tornou-se o idioma dos governantes e a língua comum dos
escravos. Cartas, poemas e transações comerciais eram todas redigidas em
grego. No Novo Testamento, o termo “grego” é usado a fim de referir-se não
somente ao povo da Grécia, mas também ao povo que falava o grego, e
pertenciam a outras nações não-judaicas. O grego tornou-se generalizado como
idioma.
Quando os romanos chegaram ao poder, encontraram no idioma grego
um meio ideal para comunicar-se com seus territórios capturados. Jovens
romanos eram enviado para serem educados em universidades gregas, como as
de Atenas, Rodes e Tarso. Finamente na própria capital do império o grego
tornou-se largamente falado
O idioma grego era realmente um veículo inigualável para expressar a
mensagem cristã. Visto que esse idioma era tão largamente usado, os apóstolos
podiam pregar sem a necessidade de intérpretes. O uso generalizado desse
idioma também explica por qual razão todos os livros do Novo Testamento,
escrito quase todos por judeus, foram originalmente escrito em grego. Quando

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Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
Cristo veio com a mensagem de Deus para o mundo inteiro, havia uma língua
universal, com a qual Ele podia comunicar-se com todos.
A Religião Judaica
Já aprendemos como Deus usou o poder romano e a cultura grega para
preparar o mundo para ouvir a mensagem de Cristo. Deus também usou o povo
e a religião judaica com esse mesmo propósito do Messias que viria. Essas
revelações e profecias foram registradas e reunidas no Antigo Testamento. Os
ensinamentos do Antigo Testamento propagaram-se por muito lugares do
mundo em resultado do desenvolvimento da vida e da religião judaica que
ocorreu durante o exílio e o período intertestamental.
O Judaísmo do Período Intertestamental
Três principais desenvolvimentos surgiram no judaísmo durante o exílio
e os anos do período intertastamental. Esses três foram: “o surgimento da
sinagoga e sua forma de adoração, a conversão do muitos não-judeus ao
judaísmo, e a tradução das Escrituras do Antigo Testamento para o grego”.
A Sinagoga. Quando os judeus foram levados ao exílio, levaram
consigo as Escrituras do Antigo Testamento. Esses escritos formavam a base da
prática religiosa deles. Durante cativeiro, não podiam adorar no templo e nem
oferecer sacrifício de animais. Entretanto, eles deram continuidade à sua
adoração ao verdadeiro Deus.
Eles passaram a reunir-se em grupos chamados sinagogas, a fim de
discutirem sobre as Escrituras e serem instruídos nelas. Dez ou mais homens
podiam formar uma sinagoga, e podia haver mais de uma sinagoga em uma
cidade. A adoração típica das sinagoga incluía leitura da lei e dos profetas. Os
profetas haviam escrito sobre a vinda de um Messias que libertaria o povo de
Deus. Estudando esses escritos, os judeus começaram aguardar o Messias, que
os livraria do cativeiro.
A Conversão de não-judeus ao Judaísmo. Durante seus anos de exílio
na Babilônia, os judeus foram usados por Deus a fim de torná-lo conhecido
entre os babilônios. O livro de Daniel no Antigo Testamento, por exemplo,
registra como o rei Nabucodonosor testifica do poder de Deus nas vidas de
Daniel e seus três amigos, os jovens judeus a quem ele havia capturado e
levado à Babilônia. Ele foi forçado a admitir que o Deus de Daniel era “Deus
dos deuses, e o Senhor dos reis” (Dn 2.47). Aos judeus foi dada a liberdade
para adorar seu Deus e ensinar a cerca dEle. Embora um grupo de judeus
tivesse regressado a Jerusalém, quando isso lhes foi permitidos, muitos

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Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
permaneceram na Babilônia e mais tarde estabeleceram-se em outros lugares
por todo o império, de um Libertador vindouro. Não admiro, pois que lemos,
em Mateus 2.1,2, que os magos ou sábios, orientados pela estrela, vieram do
Oriente a Jerusalém, procurando adorar ao recém-nascido, rei dos judeus.
Os judeus que não permaneceram na Babilônia e nem retornaram à
Palestina, dirigiram-se a lugares como Egito, Grécia, Macedônia, Roma e
outras cidades principais da Ásia Menor. Esse movimento que espalhou os
judeus se denomina diáspora ou dispersão. Finalmente, havia colônias judaicas
em todas as nações do império romano. De fato, havia mais judeus vivendo
fora da Palestina do que dentro.
Como resultado da dispersão, os ensinamentos sobre o único e
verdadeiro Deus e o vindouro Messias tornaram-se largamente conhecidos. Um
considerável número de não-judeus da Palestina e de outros lugares uniram-se
à religião judaica, reconhecendo a superioridade da mesma às crenças pagãs.
Esses novos adeptos eram chamados prosélitos e tementes a Deus. Prosélito
eram aqueles que se submetiam a todos os requisitos da lei, incluindo a
circuncisão. Eram tratados como membros plenos da comunidade judaica. Os
tementes a Deus, eram contraste com isso, eram aqueles que aceitavam os
ensinamentos judaicos, mas não assumiam a obrigação de cumprir a lei. Esses
não eram considerados membros plenos.
A Setuaginta. Por onde quer que os judeus fossem, levavam suas
Escrituras e as ensinavam nas sinagogas que formavam. Durante o período
intertestamental, as Escrituras do Antigo Testamento foram traduzidas para o
grego. Essa tradução foi produzida, na cidade de Alexandria, no Egito. Recebeu
o nome de Setuaginta, palavra que significa “setenta”, porque, de acordo com
a tradição, o trabalho de tradução foi efetuado por setenta e dois eruditos. Essa
tradução ajudou a propagar os ensinamentos do Antigo Testamento por todo o
mundo de fala grega, antes mesmo do nascimento de Cristo. Era usada pelos
judeus, seus convertidos e pelos escritores do Novo Testamento e pelos
primeiros pregadores do evangelho.

4- O JUDAÍSMO DO NOVO TESTAMENTO


Já vimos como os desenvolvimentos intertestamentais do judaísmo
prepararam o mundo para ouvir a pregação do evangelho. Considerando agora
alguns aspectos específicos da própria religião judaica, conforme com
freqüência referidas nas páginas do Novo Testamento.

FATECE – Curso de Educação a Distância 11


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
Os grupos Religiosos. Havia dois partidos ou facções principais dentro
do judaísmo: os fariseus e os saduceus. Os fariseus julgavam-se o verdadeiro
Israel de Deus. O nome fariseu significa “separado”. Eles seguiam
rigidamente a lei escrita e as tradições dos anciãos, aceitando também os
escritos proféticos. Na sua submissão à lei, eles eram assessorados pelos
escribas, que interpretavam a lei e ajudavam-lhes a aplicá-la às flutuantes
condições da vida diária. Criam na existência dos anjos e dos espíritos, bem
como na ressurreição dos mortos. Praticavam a oração ritual e o jejum, e
davam dízimos daquilo que possuíam. Não trabalhavam em dia de sábado, e
nem permitiam que alguém o fizesse. O povo, sobre quem eles exerciam
considerável influência, respeitavam-nos como homens santos. Zelosos em prol
do judaísmo, eles conquistavam muitos não-judeus às suas crenças. Antes de
sua conversão a Cristo, o apóstolo Paulo fora fariseu. Tanto os escribas quanto
os fariseus mostravam-se ativos nas sinagogas.
Os saduceus, em contraste, aceitavam somente a lei mosaica como
autoritativa. Eles rejeitavam as tradições dos anciãos e não acreditavam em
anjos, espíritos ou na ressurreição dos mortos. Deixavam-se influenciar mais
pelo sacerdócio, pelo templo e pelo poder político. Quase todos os saduceus
eram sacerdotes.
Embora os romanos fossem administradores capazes, muito judeus da
Palestina ressentiam-se muito ante o domínio deles. Odiavam pagar impostos
ao governo romano. Não obstante, o governo romano era um fato da vida. Em
resultado disso, havia uma constante corrente subterrânea da rebelião e
agitação entre os judeus. Aumentando essas tensões políticas, muitos líderes
judeu passaram a dar mais e mais de sua atenção a essas tensões.
O concílio governante. Sob o abrangente governo romano, entretanto,
aos judeus foi dado um certo grau de autoridade para se governarem a si
mesmos quanto às questões políticas e religiosas. Essa autoridade repousava
sobre o concílio de setenta juizes, chamados coletivamente o Sinédrio. O sumo
sacerdote estava à testa desse concílio, os membros provinham, na maioria das
vezes, do sacerdócio ou de famílias abastadas. No Sinédrio havia alguns
poucos fariseus, que eram populares entre as multidões, mas os saduceus
formavam o partido dominante.
O templo. Nos dias do ministério de Jesus havia um templo magnífico
em Jerusalém. Era chamado “templo de Herodes”, assim chamado porque seu
construtor fora Herodes, o Grande. Tanto o templo de Salomão quanto o

FATECE – Curso de Educação a Distância 12


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
“segundo templo” tinham estado no lugar onde esse templo agora estava. O
templo de Salomão, todavia, fora destruído pelos babilônios, em 586 a.C. O
“segundo templo” fora reconstruído pelos exilados que tinham regressado a
Jerusalém antes da época de Esdras e Neemias. Esse fora o templo
contaminado por Antíoco IV, e que então fora purificado por Judas Macabeu,
conforme você deve estar lembrado que leu na introdução ao curso.
Posteriormente, parece ter sofrido alguma destruição, tendo sido reedificado
por Herodes o Grande, em torno de 20 a.C.
O templo de Herodes era similar aos anteriores. Tinha diversos Portões,
uma muralha interna além da qual não podia passar quem não fosse judeu, e
um pesado véu que separava o Santo lugar do Santo dos Santos. As cerimônias
do templo eram levadas a efeito por um grupo de sacerdotes, encabeçados pelo
sumo sacerdote. Anualmente, cada israelita do sexo masculino tinha de pagar
uma taxa ao templo (quantia equivalente ao salário de dois dias de trabalhos),
para a conservação dos prédios e pagar salário dos sacerdotes.
As festas. Embora os judeus da dispersão estivessem largamente
espalhados, continuavam considerando Jerusalém a sua capital. Anualmente,
milhares deles, incluindo muitos prosélitos e tementes a Deus iam até ali como
peregrinos, participar das grandes festividades religiosas. Ali reuniam-se aos
judeus que viviam na Palestina, na celebração das festas que assinalavam os
mais importantes acontecimentos de sua história. Duas das sete festas efetuadas
a cada ano eram particularmente importantes nos dias do Novo Testamento.
Estamos falando da Páscoa e do Pentecostes.
A Páscoa era a festa mais importante de todas. Mareava o aniversário do
livramento dos judeus da servidão egípcia e o início deles como uma nação
independente. O trecho de Êxodo 11 e 12 relata como Deus desfechou uma
praga final (castigo) contra os egípcios, de tal modo que estes finalmente
permitiram que os israelitas saíssem do Egito e fossem para a terra que Deus
lhes prometera. Por terem observado as instruções dadas a eles pelo Senhor, os
israelitas foram poupados das pragas pelas quais todos os primogênitos dos
egípcios foram mortos, em uma só noite.
Aos israelitas foi ordenado que observassem anualmente a festa da
Páscoa, como uma “ordenança perpétua”, para eles e os seus descendentes
(Êx 12.24). Todos os judeus do sexo masculino que vivessem em Jerusalém ou
nas proximidades precisavam fazer-se presentes à festa da Páscoa, a menos que
estivessem, incapacitados de fazê-lo. Muitos judeus da diáspora, fisicamente

FATECE – Curso de Educação a Distância 13


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
bem como Prosélitos e tementes a Deus, também participavam dessa festa.
Jerusalém transbordava com as imensas multidões que se reuniam para essa
celebração.
O Pentecostes também era uma importante festa religiosa nos dias do
Novo Testamento. Durante o período intertestamental, essa festa passou a ser
celebrada como o aniversário da outorga da lei de Moisés (Êx 19). Na
comunidade judaica, a lei e sua observância servia de poderosa força
unificadora. Os judeus consideravam a lei como o maior dom que Deus lhes
proporcionara (S1 1,19, e 119). Tal festa foi chamada “Pentecoste”, uma
palavra que significa “cinqüenta”, por ser observada cinqüenta dias após a
Páscoa.
Outras Religiões
Deus se revela ao povo judeu. Como resultado da diáspora, muitos não-
judeus se tinha convertido do judaísmo, e o judaísmo se generalizara.
Entretanto, parece que nos tempos do Novo Testamento o judaísmo estava
sendo dominado por uma atitude crescente estreita e racista. Como prova disso
basta que pesquisemos o Novo Testamento, observando as atitudes
demonstradas pelos líderes judeus, descritas ali, pois parece que sua política e
seus negócios tinham começado a absorver quase toda a atenção deles.
Enquanto os judeus andavam ocupados com seus interesses, outras
religiões também reivindicavam a lealdade de homens e mulheres. Muitas
pessoas seguiam religiões do Oriente, do Egito e da Ásia Menor. Outras se
envolviam com as religiões misteriosas dos gregos, que enfatizavam as idéias
da ressurreição e da purificação. Ainda outras seguiam cultos dedicados a
divindades e espíritos associados a certos lugares e ocupações. Também havia a
religião romana oficial, em que as estátuas dos imperadores de Roma eram
adorados como símbolos do poder romano.
Esses fatores demonstram que havia um interesse geral pelas questões
religiosas e a busca por respostas significativas. As pessoas começaram a
indagar se talvez havia apenas um Deus universal. Muitas pessoas queriam
descobrir a purificação da culpa, havendo um grande desejo de saber o que
sucedia ao ser humano após a morte. As filosofias da época não proviam
respostas aceitáveis, e as pessoas ficavam insatisfeitas com as conclusões a que
a razão humana chegava. Muitos viviam na desesperança, no vazio espiritual,
na corrupção e na imoralidade. Que tempos foram aqueles em que Cristo Jesus

FATECE – Curso de Educação a Distância 14


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
veio a este mundo, para iluminar os corações e as mentes obscurecidas dos
homens com o pleno resplendor da glória de Deus!

4. OS LIVROS DO NOVO TESTAMENTO


Já nos familiarizado com o mundo do Novo Testamento suas religiões,
sua cultura e sua política. Agora, entretanto, voltemos a atenção para o próprio
Novo Testamento, a narrativa do grande milagre mediante o qual Deus tornou-
se homem, a fim de fazer o homem voltar a Deus. Esse é o Novo Testamento,
pois anuncia o novo acordo que Deus estabeleceu com o homem por meio de
Cristo. Enquanto o Antigo Testamento revelava a justiça de Deus por meio da
Lei, o Novo revelava essa justiça por meio da graça e da verdade que há em
Jesus Cristo. Examinaremos os tipos de conteúdo, autores e a cronologia dos
vinte e sete livros que perfazem o Novo Testamento.
Autor Livro
Mateus Mateus
Marcos Marcos
Lucas Lucas
João João
Tiago Tiago
Judas Judas
Pedro 1ª,2ª Pedro
? Hebreus
Paulo Romanos
1ª, 2ª Corintios
Gálatas
Efésios
Filipenses
Colossenses
1ª, 2ª Tessalonicenses
1ª, 2ª Timóteo
Tito
Filemom

FATECE – Curso de Educação a Distância 15


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança

Cronologia dos livros


No Novo Testamento, os livros são agrupados de acordo com o conteúdo
dos mesmos. Em outras palavras, os livros históricos aparecem em primeiro
lugar, os livros doutrinários e pessoais aparecem em seguida e o livro profético
aparece em último lugar. Entretanto, não estudaremos os livros segundo essa
ordem, e, sim, em sua seqüência cronológica. Isso significa que nós os
estudaremos de acordo com os anos específicos da história que eles abordam.
Esse modo de proceder nos ajudará a obter o conhecimento dos eventos que
ocorrem em seu arcabouço histórico.
Os acontecimentos históricos mencionados nos escritos do Novo
Testamento aconteceram dentro de um espaço de aproximadamente cem anos,
desde 6 a.C. até 95 d.C. Esse período de tempo pode ser dividido em três
períodos:
1) A vida e o ministério de Jesus;
2) O começo e o desenvolvimento da Igreja;
3) O contínuo crescimento da Igreja e a perseguição contra ela. O
quadro abaixo mostra esses três períodos e a lista pela ordem dos livros
associados aos eventos relatados em cada um.

5. OS RELATOS DOS QUATRO EVANGELHOS


Na sabedoria de Deus, Ele não nos conferiu apenas um relato da vida de
Jesus, mas quatro. Poderíamos fazer a pergunta: Qual valor de se ter mais de
um registro da vida de Cristo?
Valor de se Ter Quatro Relatos
Disso resultam para nós dois benefícios. Primeiro, a variedade de
narrativas serve para chamar a atenção de muito tipos diferentes de pessoas.
Quando os evangelhos foram originalmente escritos, cada qual tinha alguma
característica especial que apelava para certos grupos. Mateus, por exemplo,
ressaltava o cumprimento das profecias do Antigo Testamento na vida de
Cristo. Essa ênfase fazia os judeus dar um valor especial à narrativa de Mateus.
Marcos enfocou o ministério dinâmico e ativo de Jesus, e adicionou pormenor,
em seu registro que eram interessantes aos leitores romanos. Lucas escreveu o
seu registro do ponto-de-vista de um gentio que recebera profunda
compreensão da missão salvífica de Cristo. Os leitores gentios podiam
identificar-se com sua perspectiva, enquanto ele narrava a história do progresso

FATECE – Curso de Educação a Distância 16


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
e avanço dessa missão. João, ao apresentar Cristo como Verbo eterno,
conquistava a atenção de pessoas meditativas, que estavam buscando respostas
para as grandes questões acerca do significado da vida, da história e da
eternidade. Desde que foram escritos, os evangelhos têm atraído homens e
mulheres de todas as circunstâncias, posições na vida e origem nacional. Assim
continuam fazendo até os nossos dias.
Em segundo lugar, a variedade de narrativas serve para ressaltar ainda
mais os principais acontecimentos da vida de Jesus. Cada escritor dos
evangelhos inclui alguns detalhes e informações que não se encontram nos
outros. Essas narrativas em seu conjunto, entretanto, mostram-nos o caráter
abrangente da vida e do ministério de Jesus, de sua morte em favor dos
pecadores, e de sua ressurreição do sepulcro. Desse modo, a mensagem central
de Cristo torna-se inequivocamente clara. À semelhança de quatro grandes
mestres da pintura, os escritores dos evangelhos nos brindaram quatro retratos
do Filho de Deus. Embora cada obra prima dessas nos apresente seu grande
assunto de um ângulo diferente, em todas elas reconhecemos a mesma face
compelidora inigualável.
Características Principais das Quatro Narrativas.
Os relatos dos evangelhos são seletivos. Não são listas exclusivas de tudo
quanto Jesus disse e fez. Conforme observou João: “Há, porém, ainda muitas
outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que
nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem” (Jo
21.25). Dentre a multidão de eventos ocorridos durante a vida terrena de Cristo,
cada autor sagrado, guiado pelo Espírito Santo, escolheu somente certos
detalhes para serem incluídos em sua narrativa. Para exemplificar, a infância e
a juventude de Jesus são passadas em silencio, excetuando os treze versículos
que Lucas devotou a esse período (Lc 2.40–52). A Semana da Paixão, por outro
lado, é descrita com grandes detalhes por todos os quatro escritores. Mateus,
Marcos e Lucas incluíram a matéria em comum. Mas João incluiu muitas
coisas que nenhum dos outros três registraram. Todos esses fatos demonstram a
seletividade das narrativas dos evangelhos.
As narrativas dos evangelhos também são harmoniosas entre si. Embora
cada escritor sagrado tivesse selecionado o seu material, todos eles seguiram o
mesmo padrão básico, desdobrando os principais eventos da história. Há a
introdução de Jesus em seu ministério público, feita por João Batista. Em
seguida, aparecem milagres, ensinamentos e encontros de Jesus com seus

FATECE – Curso de Educação a Distância 17


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
discípulos, com indivíduos diversos e com líderes judeus. A maioria dos
acontecimentos descritos ocorreram na Galiléia ou em Jerusalém. É retratada a
divisão entre aqueles que aceitavam a Jesus e aqueles que o rejeitavam.
Finalmente, há a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, sua detenção, seu
julgamento, sua crucificação e sua ressurreição. E em todas essas narrativas há
referências a diversas profecias do Antigo Testamento, que se cumpriram na
vida de Jesus. Em um sentido bem real, esses não são quatro “evangelhos”,
mas um único evangelho – uma história das boas-novas sobre o Filho de Deus,
que veio salvar pecadores.
Se nos afastarmos um pouco dessas considerações exteriores e mais
amplas, voltando-nos para a nossa mente individual, descobriremos como é de
suma importância que sejamos esclarecidos e inspirados, dominados e
energizados pelas idéias mais verdadeiras, puras e elevadas! Toda a nossa vida
é enriquecida ou empobrecida, dignificada ou vulgarizada, enaltecida ou
degradada, abençoada ou amaldiçoada, pelas idéias que governam a nossa
mente.
Com essas reflexões como base é que damos início à nossa pesquisa do
Novo Testamento. De todos os livros da terra, ele é o mais maravilhoso em seu
conteúdo, significado e mensagem. Suas páginas são imortalizadas pela mais
sublime de todas as idéias e ideais. Essas idéias e ideais não são também
apenas eticamente incomparáveis, mas “vivos”, cheios de uma vitalidade
inesgotável. Existe neles urna força moral e espiritual gloriosa e explosiva que
faz novos homens, abala nações inteiras, provoca novas eras e resultará um dia
num novo mundo.
Por que tudo isto? Porque essas idéias, ao contrário do nazismo e
comunismo, são baseadas em fatos históricos indestrutíveis. Isto é, elas não são
apenas idéias, produtos de evolução filosófica, criações do simples raciocínio
humano – mas “idéias que excedem”. Não se trata de simples teorias, são
verdades resultantes de certezas históricas imperecíveis.
A maior necessidade deste nosso perturbado século vinte é uma volta ao
Novo Testamento. Ele pode fazer mais por nós do que todas teorias e teóricos
econômicos ou políticos. Vai direto ao âmago do problema humano – pois o
coração do problema é o problema do coração humano. Cria novos homens e,
através destes, uma nova sociedade. Foi o que realizou no primeiro século
A.D. e é o que tem condições para fazer no vigésimo. Analisado
superficialmente, o século vinte diverge bastante do primeiro, mais os

FATECE – Curso de Educação a Distância 18


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
fundamentos básicos permanecem. As mesmas necessidades, mesmos clamores
mesma resposta imutável e toda-suficiente do Novo Testamento, continua
sendo dada. Isso é JESUS CRISTO!
O Novo Testamento nos apresenta em primeiro lugar “fatos”, os fatos
mais admiráveis de toda história. A seguir ele expõe as “idéias” ou significados
tremendos, incorporados nos fatos. A partir deles surgem as grande verdades,
que salvam os homens, e os ideais elevados do cristianismo. É útil gravar na
mente esta seqüência lógica da revelação do Novo Testamento:
1 – Os Fatos;
2 – As Idéias;
3 – As Verdades;
4 – Os Ideais.

6. A IDÉIA DOMINANTE – CUMPRIMENTO!


Devemos porém apresentar nossos critérios sobre “idéias” e o Novo
Testamento sob um novo aspecto. Ouvimos algumas vezes a advertência para
remover toda idéia preconcebida ao chegar ao Novo Testamento, deixando que
ele fale às nossas mentes completamente abertas, como se estivesse sendo
colocado em nossa primeira vez. Talvez esse conselho seja valioso, especial
mente quando dado a céticos ou incrédulos, a maioria dos quais parece
temerosa de dar ao livro pelo menos urna oportunidade justa; mas quanto aos
outros, a recomendação precisa ser estudada.
Nós que estamos fazendo estes estudos já damos valor às páginas
preciosas do Novo Testamento e desejamos apreender seus significados mais
significativamente. Queremos com certeza pôr de lado quaisquer idéias
erradas e lê-lo com a “mente aberta” por completo. Todavia, uma mente
“aberta” não é necessariamente uma mente vazia. Poderemos perder muita
coisa se nos aproximarmos do Novo Testamento sem algumas idéias corretas.
Vamos mencionar aqui apenas uma que, se preserva desde o início. Irá
conferir brilho e entusiasmo à nossa pesquisa do começo ao fim. Testamento a
idéia é esta: o conceito característico que domina todos os escritos do Novo
Testamento é o de Cumprimento.
Mateus, logo no início, estabelece este ponto e, para enfatizá-lo, inclui
doze vezes a frase: “Para que se cumprisse” (1.22; 2.15, 17, 23; 4.14; 8.17;
12.17; 13.35; 21.4; 26.56; 27.9, 35). Imediatamente, da primeira vez que
registra um discurso público do Senhor, ele relata como ponto-chave do

FATECE – Curso de Educação a Distância 19


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
mesmo: “Vim... para cumprir”. Mateus não é porém o único a dar esta ênfase.
Qual foi a primeira palavra dita pelo Senhor ao dar início a seu ministério
público? Segundo Mateus foi isto que disse: — “Porque assim nos convém
CUMPRIR” (3.15). Marcos registra: “O tempo está CUMPRIDO e o reino de
Deus está próximo” (1.15). Segundo Lucas, lemos “Hoje se CUMPRIU a
Escritura que acabais de ouvir” (4.21). João, como sempre acontece, contraria
os outros três evangelhos e em lugar de apresentar-nos a primeira declaração
do Senhor, oferece uma reação do que primeiro o “receberam”-
“ACHAMOS!” (1.41). “ACHAMOS!” (1.45). Depois disso, mais de sete
vezes, ele repete a nota-chave de Mateus, “Para que se CUMPRA” (12.38;
13.18; 15.25; 17.12; 19.2428,36).
Vemos isso de várias maneiras e em diversas frases através de todo o
livro de Atos e das Epístolas. O Novo Testamento é o cumprimento do Velho;
ou para ser mais preciso, o CRISTO do Novo Testamento é o cumprimento. Ele
é o cumprimento do tudo que os profetas viram, que os salmistas cantaram e os
corações piedosos esperaram.
O Novo Testamento é a RESPOSTA do Velho, sem ele o Velho é como
um rio que se perde na areia. Seria revelação sem destino: algo previsto, mas
nunca concretizado; promessa sem cumprimento; preparo sem consumação. Se
o Novo Testamento não for a resposta do Velho, então este jamais teve uma
reposta e nunca poderá tê-lo. Mas o Novo Testamento é a resposta. Ele é a
resposta. Ele é O Verdadeiro, Claro e Glorioso Cumprimento. Vejamos como
isso acontece.

7. A SINFONIA INACABADA
Tente imaginar-se lendo ou estudando o Velho Testamento pela primeira
vez. Vamos supor que você tenha um amigo judeu que lhe diga: “Nossas
Escrituras hebraicas são maravilhosas; você deve lê-las”. E você responde:
“Suponho que quer dizer a Bíblia”. Ele replica: “Não, a Bíblia é composta do
Velho e Novo Testamentos. Nós judeus acreditamos apenas no Velho. Essa é a
nossa Escritura. Não se preocupe com o que esses cristãos chamam de Novo
Testamento. leia o Velho Testamento e não apenas uma vez; ele é maravilhoso
demais”.
Você lê então o Velho Testamento uma vez e, naturalmente, a primeira
seção que percorre é a Torá ou Lei – o “Pentateuco”. A coisa que mais prende
sua atenção é a predominância do sacrifício de animais. Ele começa bem cedo

FATECE – Curso de Educação a Distância 20


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
em Gênesis 4, ocorrendo de novo nos capítulos 9, 12 e 22. Apresenta-se mais
claramente em Êxodo, até que em Levítico surge toda uma organização de
sacrifícios, ofertas, rituais e cerimônias. Em toda parte perdura a impressão que
esses sacrifícios e cerimônias de algum modo indicam realidades além de si
mesmos, embora isto não seja em ponto algum explicado claramente. Todavia,
você continua lendo os demais livros, esperando encontrar uma explicação.
Você viaja através dos livros históricos (Josué a Ester), os de filosofia (Jó a
Cantares de Salomão) e os proféticos (Isaías a Malaquias); mas apesar dos
sacrifícios e cerimônias da Lei serem mencionados repetidamente, você chega
ao final do Velho Testamento sem obter o esclarecimento que precisa e tem
uma sensação decepcionante de que o Velho Testamento é um livro de
Cerimônia Inexplicadas.
Mesmo assim, você concluiu que o Velho Testamento é na verdade o
livro mais maravilhoso que já leu e que os judeus uma raça notável. Será
verdade que os judeus são o “povo escolhido” de Deus, com um elevado
propósito e destino? Você deve tão lê-lo totalmente de novo. Começa outra vez
em Gênesis. Observa a aniquilação da civilização antediluviana e a aliança de
Deus com Noé, prometendo que a raça humana jamais seria destruído de novo
pelas águas. A seguir encontra a aliança de longo alcance feita com Abraão em
Gênesis 12, 15, 17, 22, renovada mais tarde com lsaque e Jacó. A seguir
aprende como as doze tribos foram libertadas do cativeiro no Egito pelo braço
estendido do Senhor, fundidas em uma nação no Sinai, recebendo uma lei e
ordenanças e constituindo uma teocracia. Você observa o povo da aliança
invadir e ocupar Canaã: o futuro está repleto de oportunidade. Mas,
lamentavelmente, segue-se o Livro de, Juízes com suas sórdidas decadências e
servidões. O Primeiro livro de Samuel recapitula a mudança de teocracia para
monarquia. O Primeiro Reis mostra a divisão do reino em dois. O Segundo
Reis termina com a ida de ambos os reinos para o exílio. O Primeiro e o
Segundo Crônicas narram a trágica história. Em Esdras, Neemias e Ester, um
remanescente volta para a Judéia; mas trata-se apenas de um remanescente. Os
muros de Jerusalém reconstruídos, mas o trono davídico não mais existe. Os
judeus são uma minoria dependente na Judéia; fora dela eles foram dispersados
nos quatro cantos da terra. Você continua lendo o livros de filosofia, mas eles
nada falam a respeito disso; os profetas também não fazem qualquer menção
sobre os mesmos, exceto último trio, Ageu, Zacarias e Malaquias, onde as
coisas não vão bem com o remanescente que voltou. Você termina assim a

FATECE – Curso de Educação a Distância 21


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
segunda leitura do Velho Testamento com um triste suspiro, achando que é um
livro de Propósitos Inatingidos.
Uma coisa porém se destaca agora com poder cativante: em seus aspectos
espirituais o Velho Testamento é certamente incomparável e você pode
entender muito bem porque os judeus se orgulham dele. Na verdade vai ter de
fazer nova leitura pois aqui, com certeza, o Deus verdadeiro é revelado, assim
como o caminho para descobri-lo! Você começa outra vez em Gênesis. Este é
com certeza o mais confiável e sublime relato das origens jamais escrito! Você
examina de novo Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio. Esta é
verdadeiramente a Lei mais maravilhosa que já foi dada! Mas o seu interesse
especial está agora concentrado nos livros filosóficos do grupo poético, de Jó a
Cantares de Salomão, pois são eles que tratam dos problemas dolorosos e
pessoais do coração humano. Irá sem dúvida encontrar neles a solução! mas,
isso acontece? Não. Embora sejam realmente esclarecedores, penetrantes,
práticos, cheios de conselhos, lições e promessas consoladoras, de certa forma
não contêm soluções claras ou finais para os terríveis problemas do pecado, do
sofrimento, da morte e do além. Você continua gemendo com Jó: “Ah! se eu
soubesse onde encontrá-lo!”. Nos escritos dos profetas que se seguem você
encontra os mais elevados pontos de ética e as mais surpreendentes predições,
mas eles não resolvem sua busca espiritual; e você termina sua terceira leitura
do Velho Testamento percebendo igualmente ser ele um livro de Anseios
Insatisfeitos.
Entretanto, mesmo agora, você não pode finalmente esquecer-se de suas
páginas, pois ao lê-lo, tornou-se também interessado na busca da realidade e,
além disso, descobriu nele um certo fenômeno surpreendente que não se
encontra em nenhuma outra religião ou filosofia debaixo do sol. Este aspecto
singular impressionou você cada vez mais à medida que releu o livro. Trata-se
da maravilha da profecia do Velho Testamento, especialmente a profecia no
sentido de predição. Não pode haver qualquer dúvida sobre a sua
autenticidade. Previsões traçadas com ousadia, estendendo-se sobre o tempo,
notavelmente detalhadas, a respeito do Egito, Assíria, Babilônia e outros
grandes poderes foram expostas e depois cumpridas com tanta exatidão que
qualquer investigador sincero precisa concordar, “Este é o selo do Deus vivo
sobre essas Escrituras”. Além disso, o cumprimento das profecias garante a
consumação similar de muitas outras que se projetam para um futuro ainda
mais distante. O corpo central da profecia do Velho Testamento fala sobre o

FATECE – Curso de Educação a Distância 22


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
futuro como nenhuma outra literatura jamais o fez e o guarnece com a
reparação mais compensadora e final. Tudo se concentra na idéia de que
ALGUÉM ESTÁ CHEGANDO, e será a resposta de Deus ao clamor das eras.
Muito antes, em Gênesis 3.15 o “descendente da mulher” deve “ferir a
cabeça” da serpente. A promessa deste “descendente” é renovada a Abraão,
lsaque e Jacó, nos capítulos 12, 17, 22, 26, 49. Existem traços dela em todos os
rolos sucessivos do Velho Testamento até que em Isaías e seus companheiros, o
fluxo de profecia messiânica chega ao ponto mais alto. Todavia, ao chegar a
Malaquias, embora impérios tenham perecido, séculos marchado para a
antigüidade e os videntes jazam em suas sepulturas, o Prometido não veio.
“Eis Ele virá!” exclama Malaquias enquanto também ele, o último dos
profetas, desaparece por trás da cortina nevoenta do passado; mas é preciso que
se retire, e você termina o Velho Testamento compreendendo que é um livro de
Profecias não Cumpridas.
O Velho Testamento então, em Seus quatro compartimento sucessivos, o
organizacional, o histórico, o filosófico e o profético, é um livro de:
1 – Cerimônias Inexplicadas;
2 – Propósitos não Atingidos;
3 – Anseios Insatisfeitos;
4 – Profecias não Cumpridas.

Terminada a Obra-Prima
Vamos supor agora que tendo lido o Velho Testamento você encontre
um amigo cristão que o persuade a ler o Novo Testamento. O que descobre?
Você o lê uma vez, duas, três, e todo o tempo, descobre um livro de
cumprimentos correspondentes. O primeiro capítulo de Mateus faz soar o
refrão que logo se torna habitual, “para que se cumprisse...” O Jesus que
deve “salvar o povo dos pecados deles” tem sua linha genealógica traçada
diretamente até o rei Davi e o patriarca Abraão, através de quem as duas
grandes “alianças com promessa” de Deus foram feitas com Israel. O seu
nascimento de uma virgem revela imediatamente o segredo de Isaías 7.14:
“Portanto o Senhor mesmo dará sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à
luz um filho, e lhe chamará Emanuel” que significa “Deus conosco”.
Depois disso você lê sobre o Jesus do Novo Testamento, cujo
nascimento, vida, morte, ressurreição e ascensão são registrados

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Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
historicamente nos evangelhos, interpretados espiritualmente em Atos e nas
Epístolas, e consumados por antecipação em Apocalipse.
Em sua morte vicária e auto-sacrifício expiatório, sua ressurreição e
ascensão, seu sumo sacerdócio presente nos céus, e sua volta prometida, você
observa as cerimônias Inexplicadas da Lei ganharem repentinamente novo
significado. Todas elas apontam para ELE – como por exemplo as cinco
espécies diferentes de ofertas em Levítico, as ordenanças do tabernáculo, a
entrada anual do sumo sacerdote no Santo dos Santos para aspergir o sangue da
aliança e o fato dele sair mais tarde em suas vestes gloriosas para abençoar o
povo.
Ao ler sobre o nascimento do Salvador e ouvir o anjo anunciar: “Este
será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o
trono de Davi, seu pai...”, você compreende que as histórias não cumpridas do
Velho Testamento estão sendo retomadas e encontrando cumprimento NELE.
Quando lê os ensinamentos de Jesus sobre o amor e paternidade de Deus;
ao ouvi-lo dizer “Vinde a mim todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei”; ao vê-lo não apenas subindo aos céus
mas enviando o Espírito Santo e vindo assim a habitar no coração de seu povo
remido – você testemunha os anseios insatisfeitos dos livros de filosofia do
Velho Testamento encontros plena realização.
Quanto às profecias não-cumpridas da Cristologia do Velho Testamento,
desde o dia de seu nascimento milagroso em Belém até o apogeu de sua
ascensão miraculosa no monte das Oliveiras Ele está cumprindo essas
predições da antiga dispensação. Ele alega ser o seu cumprimento – como
quando diz na sinagoga: “Hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir”
(Lc 4.21). Ele prova ser o seu cumprimento pela sua vida sem pecado e
ministério confirmado por milagres e, mais ainda, em sua morte no Calvário.
Sobre quem passagens como Isaías 53 poderiam ser escritas senão a respeito
d’Ele a quem João Batista apontou, exclamando: “Eis o Cordeiro de Deus,
que tira o pecado do mundo!”?
O Jesus do Novo Testamento é realmente o cumprimento da cerimônia,
história, filosofia e profecia do Velho Testamento. No Velho Ele está vindo. No
Evangelho Ele veio em humanidade visível. Nas Epístolas Ele chegou através
do Espirito Santo invisível. No Apocalipse Ele volta na glória do império
mundial. Os cumprimentos de seu primeiro advento provam a divindade da
profecia do Velho Testamento e eles garantem que o que resta a ser cumprido,
FATECE – Curso de Educação a Distância 24
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
tanto no Velho como no Novo Testamentos, irá certamente ocorrer quando
chegar a hora predestinada.

8. O NOVO TESTAMENTO COMO UM TODO


O Novo Testamento é o livro mais vital do mundo. Seu tema supremo é o
Senhor Jesus Cristo. Seu objetivo supremo é a salvação dos seres humanos.
Seu projeto supremo é o reinado final do Senhor Jesus num império sem
limites e eterno.
Cristo é o tema de suas páginas. Não. Ele também é o tema do Velho
Testamento? Sim, mas não da mesma maneira nem com a mesma
exclusividade. Aquele que figura no Velho como o Cristo da profecia, emerge
agora no Novo como o Cristo da história. Ele que é a super-esperança do
Velho é o super-fato do Novo. A expectativa no Velho tornou-se a experiência
no Novo. A previsão transformou-se em provisão. O que era latente ficou agora
patente. O que há muito foi predito está hoje presente.
Isto se aplica especificamente aos quatro evangelhos, que vamos estudar
a seguir. Da mesma forma que Jó exclamou, quando fez sua nova descoberta de
Deus: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem” (Jó
42.5), nós podemos dizer o mesmo, ao nos encontrarmos reverentemente com
o Cristo dos quatro evangelhos. Nas Escrituras anteriores ouvimos falar dele
“só de ouvir”, mas agora “nossos olhos O vêem”. Antes disto, nós O vimos
“através de um espelho, obscuramente”, enquanto agora “vemos face a face”.
Por esta razão os quatro evangelhos são o ponto crucial de toda a Bíblia.
Eles são o foco histórico da profecia do Velho Testamento e a base factual da
teologia do Novo Testamento. Eles não são o término da profecia do Velho
Testamento, grande parte da qual continua até tempos ainda futuros; mas
constituem a junção principal, para onde convergem todos os ramais do Velho
Testamento. Todas as linhas se tornam agora uma só linha principal no JESUS
DE NAZARÉ histórico. “Mudamos” aqui do que era distintamente judeu para
o que é definitivamente cristão; da velha aliança e dispensação para a nova
aliança e dispensação; de Moisés para Cristo; da lei para a graça.
Antes de viajarmos pelos quatro evangelhos sucessivamente, devemos
recapitulá-los em conjunto:
1 – Em sua relação estrutural com o Novo Testamento como um todo;
2 – Em sua inter-relação uns com os outros, como um quarteto. Neste
estudo vamos considerar.
FATECE – Curso de Educação a Distância 25
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
No início deste curso bíblico salientamos que a estrutura do Novo
Testamento manifesta um desígnio divino. Será bastante proveitoso repetir e
ampliar neste ponto o que então dissemos. Em sua estrutura, o Novo
Testamento é construído na forma de um arco literário. Quando fazemos uma
pausa para refletir sobre ele, não existe qualquer estilo de edifício que expresse
tão exatamente a função espiritual e o significado do Novo Testamento como
um arco. O que são esses 27 documentos, essas memórias e cartas colecionadas
que compõem o Novo Testamento, senão uma arca da literária que leva a algo
além deles? Não se trata, em sua união total, da arcada maravilhosamente
construída por Deus em direção à verdade salvadora, ao verdadeiro
conhecimento dele, à bênção eterna?
Sabemos naturalmente que muitos dentre os que professam a fé cristã
têm pontos de vista a respeito da inspiração que lhes tornam impossível crer
que possa haver um sistema sobrenatural e determinação de seqüência até
mesmo no arranjo dos livros do Novo Testamento. Para essas pessoas, a
conformação atual do conteúdo é puramente acidental ou, mais simplesmente,
uma das várias maneiras em que foram colecionados por mãos humanas.
Vamos referir-nos novamente a isto mais tarde e queremos apenas mencionar
aqui que a nosso ver pareceu sempre uma inferência razoável, caso não seja um
corolário necessário, que na medida em que Deus se expressou em tal
revelação escrita por meio de inspiração sobrenatural, guardando-a através dos
séculos pela preservação providencial, Ele poderia moldar e controlar sua
integração final. Para nós, a ausência de desígnio predeterminado nesses
oráculos divinos parece a tão inconcebível quanto a presença do mesmo parece
a outros! Há muito de verdade na frase: “Deus jamais deixa o trabalho
inacabado”!
Os Evangelhos e os Atos
Ao virarmos as primeiras páginas do Novo Testamento encontramos
cinco escritos inteiramente narrativos, a saber, Mateus, Marcos, Lucas e João e
os Atos dos Apóstolos. Estes formam um grupo separado, por se tratar dos
únicos livros históricos do Novo Testamento, sendo fundamentais para tudo o
que vem a seguir.
Epístolas da Igreja Geral
O final repentino do livro de Atos nos leva a uma série de cartas. As nove
primeiras se reúnem indiscutivelmente num grupo. Todas elas saíram da pena
do mesmo autor humano, o apóstolo Paulo. Trata-se de cartas de ensino a

FATECE – Curso de Educação a Distância 26


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
instrução nas verdades práticas cristãs; i.e., são principalmente doutrinárias.
Todas elas são dirigidas às assembléias cristãs, ou “igrejas”, sendo
corretamente chamadas de “Epístolas da Igreja Cristã”; i.e., Romanos 1ª e 2ª
Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1ª e 2ª Tessalonicenses.
Epístolas Pastorais
Depois das “Epístolas da Igreja Cristã” continuamos nos escritos de
Paulo, mas as cartas restantes não são dirigidas a igrejas. Elas foram escritas a
indivíduos, em número de quatro. As duas primeiras são para Timóteo, um dos
filhos espirituais de Paulo, que eras então pastor sobre uma congregação cristã.
A terceira é enviada a Tito, de quem pode ser dito o mesmo que Timóteo. A
quarta é para Filemom, um líder cristão em Colossos, que também dirigia uma
“igreja” que se reunia em sua “casa”. Estas, especialmente as três primeiras,
são conhecidas como “Epístolas Pastorais”.
Epístolas Cristãs Hebraicas
Existem ainda mais nove escritos no Novo Testamento: Hebreus, Tiago,
1ª e 2ª Pedro, 1ª, 2ª e 3ª João, Judas, Apocalipse. Estes são também cartas de
vários tamanhos. Até o último e mais longo, embora conhecido geralmente
como “Apocalipse” é na realidade uma carta ou epístola. É uma epístola do
próprio Senhor Jesus (embora transmitida pelo apóstolo João), como indicam
suas palavras de abertura: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para
mostrar aos seus servos as coisa que em breve devem acontecer, e que ele,
enviando por intermédio do seu anjo notificou ao seu servo João, o qual
atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo...” (A p 1.1,2).
Não é preciso examinar muito minuciosamente essas nove cartas para ver
que não se trata apenas de um acréscimo heterogêneo às epístolas da “Igreja
Cristã” ou “Pastorais”. Ela se combinam homogenicamente num grupo final e
completo. Essas cartas não são dirigidas, porém, às igrejas cristãs como as nove
primeiras. A primeira delas, i.e., Hebreus é dirigida à nação judaica
propriamente dita. A seguinte começa: “Tiago, servo de Deus e do Senhor
Jesus Cristo, às doze tribos que se encontram na Dispersão”, mediante cujas
palavras o escritor evidentemente indica o povo hebreu. Depois vem Pedro, que
inicia com a frase: “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são
forasteiros da Dispersão, no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Betínia”,
onde os judeus da “Dispersão” são de novo salientados. A primeira epístola de
João, que segue à de Pedro, não contém saudação inicial. Sua segunda e
terceira cartas, porém, são ambas endereçadas a indivíduos judeus. Seu ponto

FATECE – Curso de Educação a Distância 27


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
de vista inter-judeu se revela em comentários como o de 3ª João 7, onde o
apóstolo menciona certos servos do Senhor como tendo saído “nada
recebendo dos gentios’. João jamais teria mencionado desse modo, os gentios,
caso estivesse escrevendo a eles.
Essas nove últimas epístolas do Novo Testamento são indiscutivelmente
diferentes das nove “Epístolas da Igreja Cristã”. Elas não são dirigidas às
igrejas cristãs locais e nada existe nelas sobre a igreja, i.e. a Igreja mística – o
corpo, noiva e templo místicos do Filho amado de Deus, exceto em formas
anônimas e visionárias no final de Apocalipse. Todo esse ensinamento sobre a
igreja mística, que é tão precioso ao povo do Senhor, encontra-se nas
“Epístolas da Igreja Cristã”. Não se engane, elas são “cristas” e algumas das
mais magnificentes doutrinas cristãs são tratadas nas mesmas. Elas são porém
distintamente hebraicas em sua adaptação e aplicação principal. Seu ponto de
vista, abordagem e atmosfera faz certamente delas “Epístolas Cristãs
Hebraicas”.
Um Arco de Verdade Escrita
Não é então facilmente perceptível que os 27 oráculos de nosso Novo
Testamento, em seus vários grupos, se reúnem, por assim dizer, em uma
estrutura de revelação escrita em forma de arco? A princípio, os quatro
Evangelhos e os Atos lançam uma laje ou cinco degraus básicos de fato
histórico debaixo de nossos pés. A seguir, subindo à esquerda e à direita, como
dois pilares laterais belamente ornamentados num arco magnífico, acham-se os
dois grupos de nove epístolas – as “Epístolas da Igreja Cristã” e as “Epístola
Cristãs Hebraicas”, vindo o todo estruturar-se à semelhança de um arco,
alcançando o seu vértice máximo no resumo transcendente da verdade do
evangelho: “Evidentemente, grande significado da piedade: Aquele que foi
manifestado na carne, foi justificado em espírito, contemplado por anjos,
pregado entre os gentios criado no mundo, recebido na glória” (1ªTrn 3.16).
O famoso “Arco de Mármore” de Londres, o “Arco do Triunfo” de Paris,
o antigo “Arco de Tito” em Roma – o que são eles comparados com este arco
literário da revelação divina, traduzida em verdade salvadora e bênção eterna?
Inter-Correspondências
Esta estrutura em arco do Novo Testamento introduz um assunto
fascinante que poderia absorver muitas páginas. Iremos considerar em nosso
próximo estudo os inter-relacionamentos contrastantes e que se completam nos
quatro Evangelhos; indicaremos também mais tarde a uniformidade latente e as
FATECE – Curso de Educação a Distância 28
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
correspondências mútuas nos dois pilares de nove epístolas. Mas, é bom notar
novamente aqui alguns dos paralelos comparativos e contrastantes mais óbvios
entre esses dois grupos de epístolas.
Ambos começam com um grande tratado doutrinário – num deles a
Epistola aos Romanos, de Paulo; no outro, a Epístola aos Hebreus. Os dois
grupos terminam com o desvendar da volta do Senhor e de “coisas que devem
acontecer” – num caso o par de epístolas aos Tessalonicenses; no outro, o
Apocalipse, ou Livro de Revelação.
No início de um dos grupos, a Epístola aos Romanos nos mostra que a
salvação através do Senhor Jesus Cristo é o único caminho. No começo das
outras nove, a Epístola aos Hebreus nos mostra que a salvação através de Jesus
Cristo é o melhor caminho – existe um Redentor “melhor”, Jesus; um
sacrifício “melhor”, i.e., o Calvário; e um princípio “melhor”, i.e., a fé. No
final do primeiro grupo, as cartas aos Tessalonicenses mostram-nos a segunda
vinda de Cristo especialmente com relação à Igreja. No fim das outras nove, o
Livro de Apocalipse nos mostra o segundo advento de Cristo em relação a
Israel e às nações.
Iremos falar mais sobre isto mais tarde; mas o que dissemos aqui terá
indicado que o Novo Testamento não é absolutamente uma corrente de escritos
sucessivos com pouca ou nenhuma referência à questão de ordem. Existem
divisões e agrupamentos estabelecidos, um padrão geral supervisionado
sobrenaturalmente e urna significativa estrutura em arco.
Desígnio e Desenvolvimento
A fim de nossa figura do arco não sugerir algo apenas estático, devemos
acrescentar aqui que existe um movimento ordenado que se pode observar no
Novo Testamento, o qual vem a combinar-se com o arranjo grupal estabelecido
das 27 partes. Este movimento foi adequadamente chamado de “progresso da
doutrina”. Além do desígnio há desenvolvimento. Além do padrão há
progresso.
Este “progresso da doutrina” do Novo Testamento não pode permanecer
duvidoso para o leitor diligente e perspicaz. Ele é ainda mais notável porque,
em contraste, os escritos não se integram em qualquer progresso formal
segundo o calendário.
Os quatro evangelhos demonstram imediatamente que a sucessão
simplesmente de acordo com datas, embora jamais deliberadamente violada,
fica sempre sujeita a um padrão e propósito superiores. Nos manuscritos e
FATECE – Curso de Educação a Distância 29
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
versões antigos, assim como nas listas dos livros do Novo Testamento, os
quatro evangelhos quase sempre ocorrem na ordem conhecida: Mateus,
Marcos, Lucas, João; mas nem nessa nem em qualquer outra ordem eles
formam as quatro partes de uma narrativa consecutiva. Embora Marcos siga-se
a Mateus, ele não continua onde Mateus termina, mas volta ao início,
começando com o ministério de João Batista. Lucas segue-se a Marcos, mas
começa antes ainda que Mateus, contando-nos não só sobre o nascimento do
Senhor, mas também sobre os pais de seu precursor.
Se abrirmos o livro de Mateus, em particular, logo descobriremos que ele
está mais interessado em apresentar as declarações e atos do Senhor em
agrupamentos propositais do que em datas progressivas, o primeiro grupo de
declarações sendo o Sermão do Monte, nos capítulos 5, 6, 7; e os primeiros
grupos de obras sendo os milagres nos capítulos 8 e 9. O milagre registrado
primeiro por Mateus não foi o primeiro realizado pelo Senhor; enquanto João,
que é o último do “quarteto santo”, começa com o primeiro milagre, i.e., o de
Caná na Galiléia.
O mesmo acontece com as epístolas. Sua ordem não é determinada pela
data da composição. Quase uniformemente as nove “Epístolas da Igreja
Cristã” vieram até nós em sua ordem presente; todavia, 1ª e 2ª Tessalonicenses
que foram escritas em primeiro lugar, se acham em último; enquanto Romanos,
escrita quase no final, está no começo. As nove “Epístolas Cristãs Hebraicas”
mostram desconsideração similar por qualquer ordem estreita com relação à
data.
Todavia, a simples comparação desta falha em seguir a seqüência estreita
do fato cronológico, mostra que existe uma seqüência consistente de verdade
reveladora. Em suas principais divisões, o Novo Testamento demonstra um
“progresso de doutrina” que, aparentemente, é talhado para nossa instrução.
Os vários exemplos que citamos aqui devem ser tomados como representativos
de muitos outros.
A Ordem dos Evangelhos
Este “progresso de doutrina” se manifesta nos quatro Evangelhos. Antes
de podermos dizer uma palavra sobre o mesmo, porém, seremos interrompidos
pela objeção: "A ordem atual dos quatro Evangelhos não é puramente
acidental? Como pode então existir qualquer “progresso” pre-designado ou
geral? Não será ele apenas imaginário?” Quando este arranjo particular de
livros que podem ser, e freqüentemente o foram, dispostos de outro modo, é

FATECE – Curso de Educação a Distância 30


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
tratado como abrangendo um curso de ensino progressivo, talvez pareça que
uma tensão descabida seja colocada numa ordem acidental que alguns podem
considerar como pouco mais que um hábito do impressor e copista... (mas) se a
ordem conhecida exibe realmente uma seqüência de pensamento e um avanço
confirmado de doutrina, então os vários documentos estão em seus lugares
corretos segundo o tipo de relação mais elevado que podem manter uns com
os outros. O fato é que se esses quatro Evangelhos fossem submetidos a
qualquer um de nós, com o pedido de que os estudássemos de modo a arranjá-
los na ordem mais vantajosa e progressiva, seríamos obrigados a colocá-los na
mesma sucessão por eles assumida no Novo Testamento.
Sua ordem atual tem uma exatidão interna, sendo evidentemente
deliberada por um controle superior ao humano. Como poderia Mateus estar
em outro lugar senão no primeiro, ou João em outro senão no final? Quem
pode deixar de ver que os quatro são divididos em três e um (como foi sempre
reconhecido) – os três primeiros nos preparando para a interpretação
completiva do quarto? Os três primeiros nos familiarizam com os aspectos
visíveis da magnífica manifestação e nos preparam para a apresentação
apoteótica em João, onde o mistério interior e a majestade do mesmo nos são
interpretados.
O livro de Mateus tem de ser necessariamente o primeiro, pois sua
especialidade é a ligação do Evangelho com as Escrituras Hebraicas,
introduzindo assim o Novo Testamento como o cumprimento do Velho. “Para
que se cumprisse o que fora dito” é seu refrão característico e ele adapta
claramente sua narrativa aos judeus, de quem Cristo descendeu na carne.
Da mesma forma Marcos é o seguinte e depois Lucas. Para que o relato
de Mateus não pareça sugerir que o evangelho é apenas um desenvolvimento
da fé judaica e não originário dela (alguns de bom grado o teriam limitado
assim), Marcos e Lucas seguem com seus registros em que, para citar palavras
adequadas, nosso Senhor é “desenganado daquelas ligações muito
aproximadas da vida e pensamento judeus que o primeiro evangelho se
empenha em expor”.
Segundo informações calcadas em algo mais do que a tradição, Marcos
foi ajudante de Pedro, como Lucas foi de Paulo. os Primeiros Pais Cristãos
citam Marcos como amanuense de Pedro, ou mesmo um tradutor-continuador
de um “Evangelho” original escrito pelo próprio Pedro em aramaico.

FATECE – Curso de Educação a Distância 31


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
A ligação de Marcos com Pedro, e Lucas com Paulo, se evidencia
indiscutivelmente nos registros de ambos. Foi Pedro quem primeiro “abriu a
porta da fé para os gentios” (At 10, com 15.7); Pedro permaneceu, todavia, o
“apóstolo da circuncisão” (GI 2.8,9), enquanto Paulo começou imediatamente
como o “apóstolo aos gentios” (Rm 11.13). Do mesmo modo, o Evangelho de
Marcos se distancia da adaptação cuidadosa de Mateus. Ele não inclui uma
genealogia da descendência abrâmica e davídica do Senhor. Somente duas
vezes (em comparação com as doze de Mateus) encontramos a frase “para que
se cumprisse”. O Senhor não é visto tanto cumprindo o passado como
governando o presente. Ele é o realizador de prodígios, com poder sobre os
reinos visíveis. Este é um Evangelho de ação e sua primeira abordagem
intencional parece dirigir-se aos romanos e não aos hebreus. O evangelho foi
perfeitamente adaptado a convertidos romanos como os de Atos 10 e pode ser
resumido muito bem nas palavras de Pedro a eles: “Deus ungiu a Jesus de
Nazaré com o Espírito Santo e poder, o qual andou por toda parte, fazendo o
bem e curando a todos os oprimidos do diabo” (At 10.38).
Embora Marcos se afaste das características hebraicas mais exclusivas de
Mateus e esboce um Jesus realizador de milagres com impressionante
significado para os gentios, no entanto, é Lucas que no sentido mais amplo o
apresenta como o “Filho do Homem”. Em Lucas a porta se abre por completo.
Nele encontramos a simpatia humana mais abrangente, a perspectiva mais
liberal, e um Salvador apresentado de forma a prender a atenção dos gentios
em geral. O próprio prefácio nos prepara para isto. Os outros evangelistas,
segundo a forma hebraica, começam sem introdução, enquanto Lucas não só
inclui no prefácio uma dedicatória à maneira grega e no estilo clássico, como
também dedica seu evangelho a um gentio convertido. A partir desse ponto, de
um modo que não podemos detalhar aqui, mas tão notável que qualquer leitor
cuidadoso poderá distinguido, a narrativa expõe, como nenhuma das outras o
faz, a humanidade comum do homem perfeito com toda a família humana e
sem considerar as distinções nacionais ou a antiga separação entre judeu e
gentio.
Paralelos do Progresso
Este “progresso” exterior de Mateus até Marcos e Lucas, corresponde à
afinidade racial dos três escritores. Mateus, também chamado de “Levi, filho
de Alfeu,” era israelita e um parente próximo do Senhor. Marcos, ou “João
Marcos” (At 12.12), era metade judeu e metade gentio; sendo essa talvez a
FATECE – Curso de Educação a Distância 32
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
razão de seu nome João (hebraico) e sobrenome Marcos (grego). Lucas era
gentio, como o seu nome grego, estilo de escrita grego e as referências de
Paulo a ele parecem confirmar, embora seja naturalmente muito provável que
seus pais fossem prosélitos do judaísmo.
Este “progresso” externo do Evangelho, do judeu Mateus, para o judeu-
gentio Marcos e depois para o gentio Lucas, se compara com os três estágios de
expansão nos Atos dos Apóstolos. O evangelho é primeiro pregado entre os
judeus (At 1.7). A seguir, ele se espalha através de Samaria, chega ao oficial
etíope e irrompe com efusão pentecostal sobre a casa do gentio (romano)
Cornélio (8–12). Finalmente, por meio das viagens missionárias de Paulo ele é
propagado livre e completamente a todo o mundo gentio (1 3–28).
O Quarto Evangelho
Se nos três Evangelhos sinópticos, a apresentação do Cristo histórico
mostra esses estágios progressivos, desde seu aspecto judaico original até sua
adaptação gentia mais universal, o quarto evangelho é o seu apogeu
aperfeiçoador e protetor. Aquilo que foi corretamente inferido nos relatos dos
três é agora nitidamente declarado na recapitulação do quarto: o Jesus histórico
é o Filho eterno. Aquele que é o Messias de Israel, é também o próprio Deus
Jeová. Aquele que é o Salvador do mundo é também o Criador do mundo. Ele
não apenas ensina a verdade: Ele é a verdade. Ele transmite vida porque Ele é a
vida.
João escreveu seu evangelho quando os três primeiros escritores já
haviam morrido. Ele foi providencialmente mantido vivo com um propósito
que mostrou-se realmente necessário. Logo depois dos dados completos da
manifestação histórica terem sido fixados e preservados por Mateus, Marcos e
Lucas, surgiram controvérsias sutis em que uma teosofia especulativa começou
a manipular a pessoa de Cristo. Era o momento – tempo suficiente depois dos
fatos históricos terem circulado, mas cedo o bastante para responder desde o
início a todos esses desvios da verdadeira doutrina de Cristo – para um endosso
e interpretação autorizados dos três Sinópticos. Isso exigia a voz de uma
testemunha ocular a viva que pudesse dizer: “O que temos visto e ouvido”;
mas a testemunha ocular precisava ser também um apóstolo que, além de suprir
desse modo a confirmação dos sentidos, pudesse endossar e interpretar os fatos
com autoridade permanente para a igreja. O idoso João era testemunha ocular e
apóstolo. Assim sendo, como dissemos, o quarto evangelho tanto “completou”
como “protegeu”.
FATECE – Curso de Educação a Distância 33
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
Existem muitos outros aspectos desse “progresso” nos evangelhos, mas
temos de deixá-los por enquanto. Porém, deve ser notado que esses estágios de
progresso nos evangelhos, assim como outros a serem mencionados mais tarde,
se constituem apenas por diferença de grau. É surpreendente como se mantêm
essencialmente comparáveis embora haja diferença de aspecto. Podemos dizer
em verdade: “Nada é expandido em um livro que não tenha sido confirmado
no outro. É possível tomar qualquer idéia que nos pareça distinta em um deles
e sempre encontraremos em todos os outros uma forte expressão da mesma. O
judaísmo de Mateus se dirige ao chamado dos gentios; e o espírito universal
de Lucas retrocede à sua origem judia. João, ao expor a natureza divina de
Cristo, mostra apenas o que os demais implicaram em muito pontos e
afirmaram freqüentemente.” Eles constituem um fenômeno literário
inigualável de divergência e convergência primorosamente equilibradas.
O Livro de Atos
Podemos verificar somente de passagem a continuação deste progresso
em Atos e nas Epístolas.
O progresso geográfico no livro de Atos já foi notado. Ele segue o curso
delineado previamente pelo Senhor no capítulo 1.8: “Recebereis poder, ao
descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em
Jerusalém, como em toda, a judéia e Samaria, e até aos confins do terra".
Quanto ao progresso doutrinário em Atos, será que já houve um
desenrolar mais maravilhoso de acontecimentos e verdades andando lado a
lado? Começamos com a repetição da oferta do “reino” aos judeus, e
terminamos com “igrejas” sendo plantadas através das terras dos gentios;
desde o inicio até o fim, sob o controle do Senhor agora invisível, é realizada a
evolução da doutrina evangélica. O Senhor visível nos evangelhos acha-se
agora invisível, mas em todo ponto necessário há uma intervenção
indiscutivelmente sobrenatural, para que a direção da história possa ser vista
como o selo da doutrina.
Os Atos devem seguir-se imediatamente aos quatro Evangelhos, pois
precisamos ver os fatos externos da vida, morte, ressurreição e ascensão do
Senhor em sua primeira significação para os judeus, agora completados do
mesmo modo, os Atos devem preceder as epístolas da igreja cristã, pois somos
assim preparados para observar os fatos de Cristo em seu significado mais
amplo para a Igreja.

FATECE – Curso de Educação a Distância 34


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
Quando a história se inicia, o Jesus crucificado, ressurreto, e elevado aos
céus é realmente o Messias de Israel: mas, cada vez mais, à medida que a
história se desenrola, Ele é o Salvador do mundo. De fato, em quase todas as
páginas iniciais lemos “Primeiro para os judeus”; todavia, cada vez mais
legivelmente, quando as páginas finais são folheadas, descobrimos “e também
para os gentios”. Os sinais e milagres que enchem as primeiras páginas e
depois decrescem são mesmo maravilhosos: mas, ainda de maior
magnificência, são as verdades interiores que se expandem a cada passo até o
fim.
O reino messiânico foi agora oferecido duas vezes e duas vezes rejeitado.
Nos evangelhos ele foi ofertado pelos lábios de Cristo, Ele mesmo, mas Israel o
rejeitou e pregou Jesus na cruz. Agora, em Atos, ele é de novo oferecido pelo
Cristo crucificado, que ressuscitou e subiu aos céus, através de mensageiros
inspirados pelo Espírito e confirmados por milagres. Israel porém o rejeita
novamente. Os judeus na pátria são os primeiros a finalizar sua rejeição no
martírio de Estêvão. Mais tarde, os judeus da Dispersão, reunidos em seus
milhares de representantes em Jerusalém, assinalam sua rejeição na tentativa de
linchamento de Paulo (At 22).
Embora Israel, de maneira cívica e representativa, tivesse então rejeitado
por duas vezes Jesus e o reino oferecido, existem porém grupos de homens e
mulheres, tanto judeus corno gentios, na Judéia e Samaria e através de todo o
mundo romano, que creram nele e o aceitaram como Rei. O que dizer deles?
Essas pessoas se tornam, então, o ponto crucial da história. À medida que a
recusa de Israel se cristaliza, gradualmente emerge a compreensão de que a
própria falha de Israel está sendo soberanamente vencida na formação da
IGREJA, da qual esses diversos grupos de crentes espalhados são as primeiras
unidades!
Mas se o “reino” em seus aspectos visíveis, messiânicos, está sendo
removido, o que é esta “Igreja”, esta eclesia, que se desenvolve agora na terra
e traz à luz um propósito oculto de Deus? O livro de Atos nos deixa nesse
ponto e estamos então prontos para as Epístolas da Igreja Cristã.

FATECE – Curso de Educação a Distância 35


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
As Epístolas
Lamentamos que, em relação aos Evangelhos e Atos, nossa referência ao
“progresso” da doutrina tenha de ser resumida numa seção curta como esta; e
lamentamos ainda mais pela necessidade de nos demorarmos tão pouco agora
nas Epístolas. Nos limitaremos aqui a indicar algumas linhas gerais de
desenvolvimento designado.
Três palavras concentram para nós o significado da vida cristã, Pelo
menos no seu lado humano: “fé”, “esperança” e “amor”. Nas palavras de 1ª
Coríntios 13.13: “Agora, pois, permanecem, a fé, a esperança e o amor, estes
três: porém o maior destes é o amor”. No espaçoso vestíbulo de uma belíssima
catedral européia, o chão consiste de três lajes maciças onde foram escritas três
palavras latinas em grandes letras. Na primeira, CREDO; na segunda,
SPEIRÕ; na terceira, AMO. A primeira é credo, “creio”. A seguir speirõ,
“espero” e depois amo, “eu amo”. Os três principais escritores das epístolas do
Novo Testamento são; Paulo, Pedro e João e eles se apresentam nessa ordem.
Todos eles falam de fé, esperança e amor todavia cada um tem sua própria
ênfase. O primeiro é Paulo, considerado caracteristicamente como o apóstolo
da fé. A seguir vem Pedro, o apóstolo da esperança. O último é João, o
apóstolo do amor. Se mudamos sua ordem de posição, frustraremos a
verdadeira ordem espiritual. O arranjo presente tem como propósito indicar a
ordem correta do progresso espiritual.
Ao tomarmos as nove Epístolas da Igreja Cristã, veremos que as quatro
primeiras enfatizam a Cruz; as três seguintes a Igreja; as duas últimas o
segundo advento do Senhor. Não é isso um verdadeiro progresso?
Quanto às nove Epístolas Cristãs Hebraicas e sua ênfases características,
as duas primeiras salientam a “fé” e as “obras”. As duas seguintes a
“esperança” e o “crescimento”. As quatro outras (João e judas) o “amor” e
depois “contendas”. No final, o Apocalipse fala de “vencer” e “herdar”. Quão
notável é o sistema de progresso que podemos observar! leia sem pressa e veja
como o equilíbrio espiritual é preservado a cada passo que se dá.
Desde o início até o fim do Novo Testamento existe um movimento
permanente de progresso até que o Cristo coroado de espinhos na cruz vem a
ser o Rei coroado de glória da Nova Jerusalém.
O fato deste “progresso” deixa naturalmente implícita a unidade do todo.
A simples sucessão aplica-se a muitos, mas o progresso é de um só – indicando
aqui uma mente dominante. Este progresso também implica num plano divino
FATECE – Curso de Educação a Distância 36
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
antecipadamente preparado, a fim de alcançar progresso. Fica igualmente
subentendido que a mesma mente nos fala do começo ao fim; pois embora
possa haver avanço humano na compreensão, não pode haver progresso da
revelação divina a não ser que o próprio Cristo esteja falando com tanta
realidade nos Atos e Epístolas assim como nos Evangelhos.
Como é também importante que os pregadores e expositores reconheçam
este fato do progresso da revelação no Novo Testamento! Alguém disse muito
bem que os fundamentos adequados da doutrina cristã não se encontram tanto
nos textos como na “combinação e convergência” das Escrituras em sua
totalidade progressiva.
Como é também magnífica a fusão entre o elemento humano e o divino
através de todo o Novo Testamento! Neste “original” inspirado, constante de
fato e verdade cristãs, o que está sendo registrado – a revelação divina da
verdade, ou a compreensão humana da mesma? Nos Atos e Epístolas, a
verdade revelada nos é exposta não apenas como uma comunicação de Deus,
mas também como uma apreensão por parte do homem. As duas coisas acham-
se tão unidas que a primeira se expressa repetidamente através da última,
envolvendo assim o ato divino na história humana e moldando esses oráculos
divinos no livro mais humano jamais escrito.

A Respeito das “Harmonias” dos Evangelhos


Por trás de seus detalhes divergentes, as narrativas do evangelho
demonstram uma unidade que levou a muitas tentativas de combinar os quatro
em um único. Foi argumentado que combiná-los dessa forma iria nos preservar
todo o seu conteúdo, enquanto ao mesmo tempo forneceria um relato curto,
apresentado na mais estrita ordem. Todas essas tentativas, porém, embora
valiosas para provar mais ainda a consistência das quatro narrativas, falharam
necessariamente em produzir o resultado “único” e perfeito. O fato é que não
temos capacidade nem se pretende que combinemos os quatro dessa forma.
Uma tal unidade literária irá destruir justamente aquelas características e
ênfases que o Espírito Santo, usando os quatro escritores, quer que prendam
nossa atenção e sirvam para nosso consolo. Mateus, Marcos, Lucas e João
foram impressionistas inspirados. Seus relatos são quadros escritos e não anais
e nem mesmo diários. A seqüência cronológica exata não é seu objetivo.
Portanto, uma “harmonia” cronológica ou unificação em uma história
estritamente consecutiva é bastante impraticável.

FATECE – Curso de Educação a Distância 37


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
A harmonia dos Evangelhos em ordem cronológica estrita é inexeqüível.
Não podemos fazer tal coisa, pelo menos com um mínimo de certeza; pela
razão simples e evidente de que, com exceção do início e final de suas
narrativas; as quais, como se ligadas por uma biografia, quase necessariamente
correspondem, os evangelistas não escrevem cronologicamente: cada um deles
tem seu plano próprio e distinto, assim como um sistema de arranjo; isto
independe tanto da ordem cronológica que se tentarmos reuni-los em tal
disposição, iremos imediatamente envolver-nos em dificuldades inextricáveis e
expor-nos às censuras cáusticas que um sagaz cidadão fez a respeito de um
velho ministro da Igreja de Edimburgo, Escócia, que trabalhou durante muitos
anos na construção de uma harmonia desse tipo: “Ele é um ministro que passa
seu tempo e gasta suas energias tentando fazer com que quatro homens que
nunca brigaram entrem em acordo.”

9. OS QUATRO EVANGELHOS EM CONJUNTO

Vamos dirigir agora a nossa atenção aos quatro evangelhos, uma


coleção de registros mais bela jamais foi escrita e isto se aplica de modo
especial quando os examinamos coletivamente. Não se trata de um inserir o
que o outro omite, ou vice-versa: cada um contribui com um aspecto único;
todavia, todos se agrupam numa tal unidade quádrupla de apresentação
como só a superintendência divina poderia ter efetuado. Veremos logo mais
que esta declaração não é exagerada.

Por Que Quatro Em Vez de Um?


Para começar, nos encontramos perguntando: Por que há quatro
evangelhos, especialmente quando os três primeiros parecem abranger quase
o mesmo assunto? Um só não seria melhor?
Como estamos tratando de escritos divinamente inspirados, a resposta
final, naturalmente, é que há quatro porque Deus assim quis: mas podemos
acrescentar que existem razões claras para Deus ter feito isso.
Não precisamos inventar razões, como por exemplo que era necessário
“mais do que uma mente” para registrar “a vida mais maravilhosa vivida na
terra”; pois se o Espírito Santo tivesse determinado isso, Ele poderia ter
eficazmente concentrado através de um o que distribuiu mediante quatro.
Gênesis 2.10 nos conta: “E saía um rio do Éden para regar o jardim, e dali

FATECE – Curso de Educação a Distância 38


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
se dividia, repartindo-se em quatro braços”. A água nos quatro braços era a
mesma do rio principal, dividido a fim de cumprir um propósito geográfico. Da
mesma forma o rio principal da inspiração divina espalha através dos quatro
evangelhos para cumprir um propósito espiritual.
Inferências Preliminares
Antes mesmo de encontrarmos as indicações internas da razão para os
quatro evangelhos em lugar de um, não devemos hesitar em inferir que o
primeiro motivo nasce da consideração divina pela nossa fraqueza humana, a
saber, enfatizar o interesse pelo conteúdo do evangelho. Assim como na última
parte do Novo Testamento, a doutrina cristã é ensinada através de um maço de
cartas ou “epístolas” interessantes, em lugar de dissertação formal (o
cristianismo é a única religião que ensina mediante cartas), aqui também os
fatos básicos históricos da fé cristã são apresentados por meio de quatro
esboços escritos em que, embora exista a orientação divina controlando tudo,
não se sufocam as personalidades nem as idiossincrasias de cada um (quão
diferente é Mateus de Lucas e Marcos de João!), de maneira que os quatro
registros se tornam ao mesmo tempo de interesse humano para todos que os
lêem com o desejo de aprender; e envolventes, surpreendendo a todo instante
os que os estudam em profundidade ou os comparam cuidadosamente.
Além disso, parece igualmente dedutível que existem quatro, em lugar de
um, de modo a apresentar-nos um retrato do Cristo histórico que satisfaça mais
ao nosso coração. Há algum tempo atrás visitei um amigo cuja esposa acabara
de morrer. Numa mesa em sua sala havia um porta-retrato com quatro partes,
adornado de cetim e ouro, contendo quatro fotos coloridas de sua mulher. Ele
explicou que em conjunto elas lhe davam justamente as quatro expressões
características que mais amava na esposa. Uma foto apenas não bastava,
precisava das quatro. Algumas vezes esta, e outras aquela lhe falava mais de
perto, mas cada uma a seu próprio modo enchia sua mente de lembranças. Nós
também não preferiríamos vários aspectos da vida daqueles a quem mais
amamos em lugar de ficarmos limitados a um único?
Por que então englobar os quatro em um, como alguns tentaram fazer
com os quatro evangelhos? (Veja nosso adendo nas chamadas “Harmonias dos
Evangelhos”.) Algum de nós sonharia em cortar quatro fotografias do mesmo
ente querido e tentaria depois unir os pedaços em uma nova foto, de maneira a
construir o que poderíamos chamar de semelhança básica? Quão fútil seria esse
gesto! Do mesmo modo, os quatro evangelhos têm cada um uma

FATECE – Curso de Educação a Distância 39


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
individualidade que não pode ser anulada. Leia a vida de Sócrates escrita por
Xenofonte, um soldado. Leia a seguir o mesmo filósofo da antigüidade como
retratado pelo contemplativo Platão. Num você verá Sócrates como um
moralista prático. No outro corno um pensador especulativo. Seria difícil
encontrar duas biografias mais contrastantes da mesma pessoa. Entretanto,
ambas são fiéis a Sócrates. Qualquer delas, sem a outra, seria unilateral,
enquanto pelos seus próprios contrastes as duas juntas preservam a verdadeira
identidade do seu herói.
Pode parecer estranho, mas a “harmonia” dos quatro evangelhos é
melhor apreciada quando não se destrói mas se conserva as suas diferenças. A
unidade do tema, somada à sua diversidade de tratamento é que os torna tão
interessantes à mente e tão satisfatórios ao coração, em sua descrição do
“Jesus de Nazaré” histórico.
Diferença, mas Conformidade
Vamos traçar agora algumas das evidências internas do desígnio divino
em nossos quatro evangelhos. Seu caráter mutuamente complementar tem sido
com freqüência apontada. O famoso exegeta, Bengel, compara habilidosamente
os mesmos a um quarteto vocal em que as vozes, embora algumas vezes se
destaquem separadamente, unem as quatro partes para formar um todo
completo e harmonioso.
Não é precioso negar que existem “diferenças” superficiais entre os
quatro relatos, embora algumas delas ao primeiro olhar pareçam até
divergências. Elas servem um bom propósito, pois são indicações da autoria
independente e de autenticidade. Em Ponto algum essas diferenças mostram-se
incompatíveis com a exatidão histórica. Elas são variações, mas não
contradições surgindo devido à ênfase dada a diversos aspectos ou pontos de
vista. De fato, após exame cuidadoso, concluímos tratar-se de nada mais do que
as marcas do desígnio sobrenatural.
Se quatro homens não inspirados tivessem escrito quatro narrativas
separadas e independentes, nós certamente nos veríamos face a face com
verdadeiras contradições e incorreções inadvertidas, mesmo dando margem
para a completa sinceridade dos escritores; repetimos, se quatro relatos não
inspirados tivessem sido escritos mediante acordo (conspiração), um cuidado
meticuloso teria sido tomado para eliminar todas as variações como as
encontradas em nossos quatro evangelhos, e o resultado seria um “perfeito
imperfeito” acordo superficial que provocaria suspeitas com respeito à

FATECE – Curso de Educação a Distância 40


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
confiabilidade dos escritores e à realidade do grande personagem descrito. Não
temos na verdade razão para agradecer a Deus por essas coisas não terem sido
deixadas à mente e vontade do homem, sem que houvesse uma orientação?
A questão é que com a mais perfeita naturalidade, Mateus, Marcos, Lucas
e João nos deram quatro apresentações únicas do Senhor Jesus, cada uma delas
com sua ênfase distinta, cada uma de um ponto de vista peculiar, cada uma
num sentido real, completa em si mesma, todavia as quatro reunidas para
formar um retrato fiel do Deus-Homem que o Espírito da inspiração deseja
colocar diante de nós.

Um Paralelo Significativo
A maioria de nós, talvez esteja familiarizada com o paralelo que tem sido
freqüentemente notado entre os quatro evangelhos e os quatro “seres viventes”
na visão introdutória do profeta Ezequiel. Os quatro seres viventes ou
querubins, são descritos como segue em Ezequiel 1.10: “A forma de seus
rostos era como o de homem: à direita os quatro tinham rosto de leão; à
esquerda, rosto de boi; e também rosto de águia todos os quatro”. O leão
simboliza a força suprema, a soberania; o homem, a mais alta inteligência; o
boi, serviço inferior; a águia, a esfera celestial, mistério, divindade.
Em Mateus vemos o Messias-Rei (o leão).
Em Marcos vemos o Servo do Senhor (o boi).
Em Lucas vemos o Filho do Homem (o homem).
Em João vemos o Filho de Deus (a águia).
Os quatro aspectos são necessários para transmitir toda a verdade.
Como soberano, Ele vem para reinar e governar.
Como servo vem para servir e sofrer.
Como Filho do Homem vem para e consolar.
Como Filho de Deus vem para revelar e remei.
Magnífica fusão quádrupla: soberania e humildade; humanidade e
divindade.
Alguém pode perguntar por que deveria haver esta correspondência entre
os quatro evangelhos e os quatro querubins da visão de Tratar-se sem dúvida de
um ponto interessante, mas será na apenas uma questão de coincidência
curiosa? Ou haverá nisso algum significado? A resposta é que existe um
profundo significado que todos deveríamos notar. Veja bem, não estamos
sugerindo (como alguns defenderam com grande imaginação) que esses quatro
FATECE – Curso de Educação a Distância 41
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
“seres viventes” fossem um tipo dos quatro evangelhos! Devemos distinguir
cuidadosamente entre tipos e simples ilustrações. Um tipo é uma figura prévia
adaptada divinamente a alguma verdade a ser revelada mais tarde. Uma
ilustração não possui esse intento de tipo, mas trata-se apenas de esclarecer
uma coisa por meio de outra com a qual possui, acidentalmente,
correspondências úteis. Quando usamos esses quatro “seres viventes” da visão
de Ezequiel (visto de novo por João em Apocalipse 4.6–8) como sendo um
paralelo de Mateus, Marcos, Lucas e João, estamos simplesmente usando uma
semelhança honrada pelo tempo.
De fato, a comparação não é tanto entre os quatro querubins e os quatros
evangelistas, como entre os quatro rostos de cada querubins; pois cada um
tinha os quatro rostos, i.e., do leão, do boi, do homem e da águia. Embora a
surpreendente semelhança entre esses quatro rostos e os registros dos quatro
evangelhos seja usada apenas como ilustração, continua sendo verdade que
existe um significado simples e profundo nela, como segue.
Os quatro querubins na visão de Ezequiel são, de todos os seres criados,
os mais próximos do trono de Deus e devemos compreender que eles
expressam, portanto, mais exatamente a semelhança da natureza divina.
Os quatros rostos de cada querubins e todas as demais características
simbólica têm como propósito manifestar-nos o ser divino e seus atributos. O
ponto mais destacado e surpreendente é a revelação da natureza moral de Deus
dada pelos quatro rostos. Um deles corresponde ao leão – o que é facilmente
compreensível. Existe, porém outro que corresponde ao boi – cujo fato nos
surpreende, pois o boi é o símbolo do trabalho servil. Outro ainda corresponde
ao homem, i.e., maior inteligência, razão, emoção, vontade, conhecimento,
amor, simpatia, compreensão. Por último, o que corresponde à águia, a maior
de todas as criaturas nos céus naturais, solitária, transcendente e misteriosa.
Era, portanto inevitável que quando o próprio Filho de Deus tornou-se
carne, essas mesmas quatro qualidades ou características reaparecessem; pois
como poderia ser de outro modo? Era preciso que ELE manifestasse a natureza
moral da divindade mais claramente ainda do que aqueles querubins
irrepreensíveis, gloriosos, os mais sublimes de todos os seres criados, poderiam
expressá-la. Nosso Senhor Jesus Cristo é na verdade a natureza divina
encarnada. “O Verbo se fez carne e habitou entre nós.” Esta revelação
quádrupla representada pelo leão, o boi, o homem, e a águia, volta a expressar-
se em Mateus, Marcos, Lucas e João. Mas a sua nova expressão, de modo que

FATECE – Curso de Educação a Distância 42


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
cada um dos quatro evangelistas indiscutivelmente (mas talvez sem suspeitar)
destaque um dos quatro aspectos, a fim de que os quatro aspectos e os quatro
registros correspondam respectivamente, é uma dessas obras artísticas do
desígnio divino nas escrituras que podemos somente admirar.
Ao tocar nesta formação dos quatro evangelhos – leão–boi–homem–á
guia – achamos difícil conter uma pena entusiasta, impedindo que se alongue
em detalhes que excedam os limites impostos a este artigo de estudo, e só
podemos esperar escrever mais a respeito em outro lugar. Queremos,
entretanto, pelo menos convencer aqueles para quem essas coisas sejam
relativamente novas que da maneira mais abundante e conclusiva os traços
interiores e provas deste padrão quádruplo são inerentes através de todas as
narrativas dos evangelhos. Eles são propositais e não apenas decorativos. Seu
intento é fazer com que vejamos um Cristo magnífico que combina e expressa
o que os quatro serafins da visão de Ezequiel representavam simbolicamente.
Não resta dúvida que se trata do “leão” em Mateus, do “boi” em Marcos,
do “homem” em Lucas, da “águia” em João. Afirmamos isto ainda mais
deliberadamente por existirem alguns que tentaram arranjar a correspondência
de outro modo. Não devemos surpreender-nos por terem sido feitas tentativas
para obter paralelos, pois como aconteceu com aqueles querubins brilhante e
rodas terríveis da visão de Ezequiel – “todos tinham a mesma semelhança” e
“cada ser tinha duas asas, unidas uma à do outro” – o mesmo ocorre com os
quatro evangelhos: em meio à sua marcada diversidade, todos eles retratam
“uma semelhança”, a mesma pessoa magnificente, e em todas as suas páginas
suas “asas são unidas uma à do outro”.
Mateus
Só quando seguimos as ênfases características é que vemos o verdadeiro
paralelo. O leão era o emblema da tribo de Judá, a tribo real, a tribo em que
corria a dinastia davídica. Em Mateus, nosso Senhor é singularmente “o Leão
da tribo de Judá, a raiz de Davi o Rei e o Legislador”. A primeira sentença
oferece imediatamente chave: “Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de
Davi, filho de Abraão”. Esse começo é peculiar a Mateus, assim como a
genealogia que se segue, imediatamente, na qual descendência humana do
Senhor é traçada até Abraão através de Davi. Marcos não contém essa
genealogia. Lucas remonta diretamente a Adão. João avança para a eternidade.
Cada um tem um início peculiar e de acordo com a ênfase especial mantida a
partir desse ponto até o final. Todos os expositores concordam que Mateus é o
FATECE – Curso de Educação a Distância 43
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
evangelho em que, como nenhum, o senhor se oferece aos judeus como o seu
Messias-Rei, realizando seus milagres messiânicos como credenciais, e
proferindo as “leis” e “mistérios” do reino (como no Sermão do Monte, e nas
parábolas do reino do capítulo 13).
Marcos
O boi é o do trabalho servil. Em especial entre os antigos habitantes do
oriente, ele representava o trabalho paciente e produtivo. Todos os estudiosos
dos evangelhos notaram que Marcos é essencialmente o “evangelho da ação”
(como alguns o têm chamado). Não foi prefixada uma genealogia e ele contém
apenas breves trechos dos discursos do Senhor, se é que são apresentados (o
que justifica o fato da história de Marcos ser a mais curta das quatro). A ênfase
do livro todo se concentra num Cristo ativo, um servo forte, mas humilde; e o
termo característico (que ocorre 43 vezes no grego) é “imediatamente”.
Lucas
Vemos com perfeição em Lucas o “rosto de homem". Sua soberania ou
divindade não é obscurecida, nem há qualquer interferência com sua
humanidade; todavia, de alguma forma, com traços geniais e sem qualquer
artifício, Lucas destacou tanto sua belíssima masculinidade como suas
simpatias humanas de maneira indiscutivelmente peculiar ao terceiro
evangelho. Ele começa com toques humanos notáveis falando a respeito dos
pais e do nascimento dessa criança prodígio (“João Batista” Mateus, Marcos e
João não incluem esses detalhes). A seguir ele narra o nascimento de Jesus,
contando a viagem a Belém antes desse acontecimento e sua vinda ao mundo
no estábulo, por onde haver lugar na “kataluma” (estalagem) onde ficavam os
viajantes; e em vez de levar os sábios do oriente a Jerusalém inquiridor “Onde
está o recém-nascido Rei? Conta como os anjos cantaram para os pastores da
região: “Hoje vos nasceu um Salvador”. Depois disso ele nos diz como em
sua infância Jesus foi apresentado no templo aos doze anos passou a Páscoa
em Jerusalém com os pais; como continuou com eles como filho obediente; e
como “crescias em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos
homens”.
Tudo isto só se encontra em Lucas. Ele era médico e talvez Maria
sentisse que podia falar-lhe com menos reserva sobre o nascimento e infância
do Senhor. Só na última metade do capítulo 3 é que Lucas nos dá uma
genealogia. Entretanto, tendo retrocedido por um caminho diferente até Davi
(i.e., através dos ancestrais de Maria), e unindo-se nesse ponto à linhagem

FATECE – Curso de Educação a Distância 44


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
principal que remontava a Abraão, ele retrocede até Adão, o primeiro homem.
Se o espaço permitisse, seria interessante mostrar como todos esses aspectos
introdutórios são selecionados de conformidade com a ênfase principal da
história inteira escrita por Lucas.
João
Em João tudo também se conforma a um padrão e propósito especiais.
Ninguém poderia sequer sugerir que qualquer dos quatro evangelistas tivesse
em mente os quatro querubins da visão de Ezequiel quando traçou o esboço do
Senhor JESUS; todavia, aqui em João novamente e de modo indiscutível como
nos outros três, existe a correspondência de aspecto, desta vez com a águia.
Não encontramos no prólogo de João genealogia humana, mas em alguns
golpes profundos da pena ele nos leva a píncaros mais elevados e sublimes do
que qualquer dos outros evangelhos. Qual a importância da simples antigüidade
humana na terra? Para começar, com este Cristo magnífico você deve projetar-
se para além da primeira alvorada no tempo, para a eternidade! Antes do
mundo ter começado, o Verbo já existia. “No principio era o Verbo, e o Verbo
estava com Deus, e o Verbo era Deus... Todas as coisas foram feitas por
intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez. A vida estava nele, e a
vida era a luz dos homens.”
Ele não é apenas o “Filho de Davi,” ou o “Filho de Abraão”, ou o
“Filho de Adão” – Ele é o Filho de Deus. Ele é o VERBO, e, portanto co-
eterno com a MENTE eterna. Mas para que não seja de modo algum
considerado como impessoal, Ele é também o FILHO, e, portanto co-pessoal
com o PAI. Não obstante, embora seja co-eterno e co-pessoal com o Pai, Ele
não é pessoalmente idêntico ao Pai: absolutamente, como Verbo estava “com
Deus,” e como Filho está “no seio do Pai”. Isto também não é tudo: pois, a
fim de que não seja julgado essencialmente subordinado ao Pai – como uma
palavra ao pensamento, ou um filho ao pai – Ele é também a VIDA e a LUZ.
Ele não transmite simplesmente a vida ou reflete a luz – mas “é” a vida, e “é”
a luz. A vida está “n’Ele”. A luz tem origem n’Ele.
Neste curto preâmbulo, João o descreveu como o VERBO, a LUZ, a
VIDA e o FILHO. Não é então preciso dizer que é este o aspecto de Cristo que
nitidamente se repete através de todo o quarto evangelho. Tudo é adaptado de
modo a salientar a revelação da luz, vida e amor divinos através dele, que,
desde o início, é chamado de VERBO. Como “Luz” Ele revela. Como “Filho”

FATECE – Curso de Educação a Distância 45


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
redime. Como “Vida” renova. A humanidade não é obscurecida, mas a ênfase
está na divindade. É o aspecto de “águia”

Apelo e Perspectiva Quádruplos


Existem igualmente outros significados no número, na ordem e nas
ênfases discriminatórias desses quatro evangelhos.
O número quatro nas Escrituras é de modo peculiar o número da terra e
da raça humana que ocupa a terra. Quatro é o número do homem como
criatura, do mesmo modo que seis é o número do homem em sua condição de
pecador. Toda a nossa vida terrena parece ser envolvida e condicionada por ele.
Basta pensar nos quatro pontos cardeais (norte, sul, leste, oeste); nas quatro
dimensões (largura, comprimento, profundidade, altura); nas quatro estações
do ano (primavera, verão, outono, inverno); as quatro partes do dia (manhã,
meio-dia, tarde, noite, “escuridão”); quatro compostos abrangentes dos
elementos materiais (terra, ar, fogo, água); os quatro membros que constituem
a família humana (pai, mãe, filho, filha); as quatro fases lunares que dividem o
calendário em meses (nova; crescente, quarto - crescente, minguante).
Bem no começo, no primeiro livro da Bíblia, por três vezes no capítulo
dez de Gênesis, as “gerações dos filhos de Noé” que repovoaram a terra, são
divididas pelo número quatro em “famílias”, “línguas”, “países” e “nações”
(versos 5, 20, 31). No último livro da Bíblia, quando a história da humanidade
chega ao fim, existem nada menos do que sete descrições similares da raça (Ap
5.9; 7.9; 10.2, 11.9; 13.7; 14.6; 17.15). Tanto em Gênesis como em Apocalipse
a ordem varia nos diferentes versos, mas o número é invariavelmente quatro.
Quando Deus fez a aliança com Noé e “todos os seres viventes de toda
carne” de que não mais haveria um “dilúvio para destruir toda carne”, Ele
deu o arco de Deus como sinal de aliança. Depois disso o arco de Deus sempre
representou o acordo de Deus com suas criaturas na terra. Quando Ezequiel
teve sua visão dos quatro “seres viventes”, ele também viu um o arco de Deus
rodeando o trono celestial, o que simbolizou imediatamente a fidelidade da
aliança de Deus com a terra; e as quatro faces dos serafins, além de expressar
algo da natureza moral divina, também representavam todas as criaturas vivas
da terra na aliança. O leão representando as feras selvagens da terra, o boi os
animais domésticos, a águia, as aves, e o homem, a família humana.

FATECE – Curso de Educação a Distância 46


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
Muito mais poderia ser naturalmente acrescentado sobre o número quatro
na natureza e nas escrituras, mas já foi dito o suficiente para mostrar que ele
tem referência especial ao que é terreno o temporal, à matéria e ao homem.
De maneira peculiar os quatro evangelhos estão ligados a terra e
abrangem a raça. Como veremos, Mateus escreve tendo a mentalidade
hebraica como primeira referência. Isto talvez já tenha sido percebido pelas
suas repetidas referências ao Velho Testamento. Marcos, companheiro de
viagem de Pedro, escreve com principal aplicação à mentalidade romana,
apresentando o Senhor mais pronunciadamente como o poderoso operador de
milagres. Lucas, o médico-viajante de Paulo, adapta sua abordagem com igual
propriedade à mentalidade grega, salientando a varonilidade incomparável do
amigo e salvador de pecadores. João, cujos escritos ocupam um lugar único,
por serem tanto uma interpretação como um registro, e compostos praticamente
uma geração depois dos outros, escreve mais especialmente para a Igreja, a fim
de enfatizar a divindade absoluta do Senhor Jesus, mas também para mostrar à
toda humanidade, sem distinção racial, a revelação da “graça e verdade”
divina através do “Verbo” que se “fez carne”. Foi muito bem observado que
esses três povos antigos – os judeus, gregos e romanos – representam como
nenhum outro, os tipos humanos que persistem através de toda a nossa história
racial. Eles representam a religião, cultura e administração (especialmente legal
e comercial). Os três primeiros evangelhos falaram então com particular
propriedade a esses três e continuam falando, completados e coroados por
João com seu “Verbo” divino para todo o mundo.
Mateus claramente vem primeiro, logo no começo do Novo Testamento,
pois ele liga os dois Testamentos, mostrando os cumprimentos das predições do
Velho Testamento e o preparo para a vinda de Cristo feito pelo precursor
prometido, João Batista, assim como a oferta do muito prometido “reino dos
céus” pelo Mestre da Galiléia, operador de milagres e prodígios. João deve
também vir necessariamente em último lugar, com sua revisão, suplementação
e interpretação finais, depois dos três sinópticos terem, desde há muito
abandonado suas penas, e os registros do Jesus histórico serem bem
conhecidos.

FATECE – Curso de Educação a Distância 47


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança

Os Sinópticos e João

Isto nos leva a mencionar outro aspecto óbvio dos quatro evangelhos,
a saber, que Mateus, Marcos e Lucas cobrem quase o mesmo terreno,
enquanto o registro de João, além de ter sido escrito consideravelmente mais
tarde do que os demais, trata em sua maior parte de matéria não mencionada
por eles. Este evangelho acha-se isolado tanto no tempo como no caráter dos
outros três. Existe um relacionamento contrastante entre eles, como
estabelecido abaixo:

SINÓPTICOS JOÃO
Fatos externos da vida do Senhor. Fatos internos da vida do Senhor.
Aspectos humanos da vida do Aspectos divinos da vida do
Senhor. Senhor.
Os discursos públicos. Os discursos particulares
(em geral). (em geral)
O ministério na Galiléia. O ministério na Judéia
(em especial). (em especial)

Adaptação Seletiva
Dessa forma, (embora não exclusivamente) Mateus escreve
principalmente para o Judeu, Marcos para o Romano, Lucas para o Grego,
João para a Igreja. Com esta distinção quádrupla em mente, vejamos alguns
exemplos que mostram um princípio de seleção e adaptação que se desenvolve
através deles.
Mateus, como dissemos escreve primariamente para o Judeu. Qual é o
primeiro milagre em Mateus? A cura do leproso. Para os judeus as doenças do
corpo possuíam um significado simbólico. A lepra, a mais terríve1 e medonha
das doenças, sem comparação viva para o horror do pecado e do juízo divino.
Não havia cura para a lepra e tocar ou mesmo aproximar-se de um leproso
significava contaminação cerimonial assim como correr o risco de contágio
“Eis aqui a inspiração”. Mal Jesus descera a montanha onde estivera
ensinando a multidão, quando se aproximou um leproso. Como os olhos dos
judeus se arregalaram de espanto! A lepra foi sempre um sério assunto para eles
através dos tempos. Mateus, portanto, imediatamente coloca o novo Mestre em
FATECE – Curso de Educação a Distância 48
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
contato com um leproso. O gênio inspirado também não pára nesse ponto:
Mateus continua: “E Jesus, estendendo a mão” – veja a sua engenhosidade –
“tocou-lhe” – o milagre jamais visto, impossível. Nada poderia ter chamado
tanto a atenção dos judeus. Cristo poderia ter sido o príncipe dos necromantes e
realizado muitos feitos maravilhosos, e o judeu não atentaria para nenhum
deles; mas dizer aos judeus que esse Homem se aproximara de um leproso
tocara o mesmo e o curara, depois mandando-o embora limpo, era outra coisa!
Ó, o poder do gênio, o toque de mestre, a sabedoria de Deus!
Qual é o primeiro milagre em Lucas? Não é a cura da lepra. Lucas
escreveu especialmente para os gentios, e a lepra não representava para os
gentios o mesmo que para os judeus. O grande tema dos gentios e
principalmente da especulação grega era a demonologia, a adoração do
demônio, a possessão demoníaca e como livrar-se do demônio. Os gregos se
interessavam por todos os aspectos das demonologias, esse era o tema favorito.
Lucas diz praticamente: “Vejam, vou contar-lhes tudo sobre isso. Este Homem
maravilhoso expulsa o demônio! Este esplêndido “reino de Deus” esmaga o
reino do diabo!” Foi este, então, o primeiro milagre de Lucas: “Achava-se na
sinagoga um homem possesso de espírito, demônio imundo, e bradou em alta
voz... Mas Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te, e sai desse homem. O
demônio, depois de tê-lo lançado por terra no meio de todos, saiu dele sem lhe
fazer mal. Todos ficaram grandemente admirados e comentavam entre si
dizendo: Que palavra é esta, pois, com autoridade e poder ordena aos
espíritos imundos, e eles saem?” (Lc 4.33–36).
Este gênio de seleção e apresentação não pertence de forma algumas
apenas ao primeiro milagre escolhido por cada escritor. Ele caracteriza os
quatro registros em seu todo.
Variação Característica
Ao ler a acusação de Cristo contra os escribas e fariseus, registrada por
Mateus, encontramos as palavras: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!
porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes
negligenciado os preceitos mais importantes da lei, a justiça, a misericórdia e
a fé” (Mt 23.23). Mateus escrevia para leitores judeus. Os gentios não teriam
entendido o assunto da mesma forma que os judeus. A “lei”? Que lei? Lei de
quem? Mas os judeus sabiam muito bem!
Vejamos agora Lucas, que escreve para um público gentio: “Mas ai de
vós, fariseus! porque dais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as
FATECE – Curso de Educação a Distância 49
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
hortaliças, e desprezais a justiça e o amor de Deus" (Lc 11.42). Esta
linguagem é imediatamente compreendida pela audiência não-judaica que
Lucas tinha em mente. Ele dá a substância da lei, sem empregar a nomenclatura
dos judeus.
Mateus registra outra vez: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!
porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora se mostram belos,
mas interiormente estão cheios de ossos de mortos, e de toda imundícia”.
Linguagem mordaz! – dirigiria especialmente aos ouvidos judeus. O que os
gentios sabiam a respeito de “sepulcros caiados”? Não havia esse termo em
seu vocabulário. Mas o judeu o conhecia! Se um judeu passasse por um túmulo
tornava-se contaminado cerimonialmente. Se andasse sobre ele sem saber que
se tratava de uma sepultura, mesmo assim ele ficava contaminado, tendo de
submeter-se às inconveniências das cerimônias de purificação prescrita. Os
judeus recorriam, então, à prática de caiar os sepulcros a fim de que estes
pudessem ser vistos claramente por todos, sendo mantidos à distância exigida!
Vejamos agora como Lucas fala: “Ai de vós! que sois como as sepulturas
invisíveis, sobre as quais os homens passam sem o saber” Não há nada local
nem judaico aqui. A referência é colocada de forma geral e universal. Lucas faz
sua narrativa para um grupo muito diferente daquele a que Mateus se dirige.
Esses são apenas dois exemplos que representam muitos outros.

FATECE – Curso de Educação a Distância 50


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança

Discriminação Característica

Qual o tema da pregação de Jesus? Segundo Mateus é “o reino dos


céus”. Segundo Lucas é “o reino de Deus”. Não existe seleção inspirada
aqui? A expressão “reino de Deus” tinha seu lado ameaçador para a mente
judaica. Ela ocorre nos escritos de Mateus apenas três ou quatro vezes. A
linguagem hebraica não possuía superlativos. Para expressá-lo usavam a
palavra “Deus”. O que deve ser descrito? Será aquela cidade magnífica e de
excelsa grandeza? A língua hebraica a chama então de “cidade de Deus”.
São incomparáveis os cedros do Líbano. O hebraico lhes dá o nome de
“cedros de Deus”. Se Mateus tivesse utilizado a expressão “reino de Deus” o
judeu poderia ter caído em seu erro favorito, pensando no reino apenas em
seus aspectos exteriores, como um reino visível de magnificência, esplendor
e riqueza material superlativas – para eles! “Era justamente isto que
estávamos esperando”, teria dito.
Por outro lado, o que significa o “reino dos céus” para o gentio? Trata-se
de algo que soa vago e irreal para ele. Lucas dá-lhe então um nome diferente.
Este reino proclamado por Jesus é “o reino de Deus”. Isso não surpreende? “O
reino de Deus” veja bem – em nada ligado às divindades desprezíveis e triviais
do paganismo politeísta, mas o reino do verdadeiro Deus-Criador. Lucas viveu
numa época em que milhares de homens e mulheres desiludidos estavam se
afastando das irrealidades e tolices do politeísmo grego e romano, a fim de
buscar a verdadeira realidade. Foi este afastamento que deu lugar ao crescente
proselitismo na fé judaica. Anunciar este “reino de Deus” era estratégia
inspirada! Esta era a palavra necessária para o gentio.

Um Problema de Inspiração
Esta variação de linguagem nos quatro “evangelhos” cria para alguns um
“problema” de inspiração; mas, não se trata porventura de um evidência de
inspiração? Mateus diz uma coisa e Lucas outra, todavia ambos afirmam estar
relatando o mesmo discurso. É verdade, mas não fonograficamente: eles
registram o âmago das coisas, interpretando o coração de Cristo. Por que os
homens não aceitam a interpretação mais ampla, a construção mais nobre,
verificado como as palavras podem ser insignificantes e embaraçosas quando
empregadas para manifestar o infinito, o espiritual e o divino?

FATECE – Curso de Educação a Distância 51


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
Alguns não se satisfarão, porém, com a explicação. Eles objetarão: “Essa
afirmativa pode ter um certo apelo espiritual, mas não atinge o problema
literal neste ponto. Se, por exemplo, ao acusar os escribas e fariseus, Cristo
tivesse empregado os termos do relato de Mateus, então as variações no
registro de Lucas não podem ser uma descrição exata; como então Lucas
poderá dizer verdadeiramente que foram essas as palavras de Cristo?”
A resposta é cristalina. Um exame das duas passagens em pauta mostra
que elas não estão ligadas à mesma ocasião. Ambas se acham cronológica e
circunstancialmente separadas. Uma delas ocorreu durante a última visita do
Senhor a Jerusalém e a outra, antes desse evento. Mateus apresenta a acusação
completa e final dos escribas e fariseus por parte de Jesus. Quem pode dizer
que não existiram explosões de indignação anteriores e mais curtas, embora
não fossem expressas de maneira verbalmente idêntica? A genialidade dos dois
escritores é vista em sua seleção sobre o que relatar. Cada um escolhe o que
contribui mais positivamente para o ponto de vista e propósito do seu tratado.
Uma Questão de Linguagem
Este assunto dos discursos registrados de Jesus também envolve a
complexa questão da língua ou dialeto em que falava. Não existe agora dúvida
de que na época de Cristo a população da Palestina era na sua maior parte
bilingüe, sendo o aramaico de maior uso. Essa língua, embora chamada de
hebraico no Novo Testamento e escritos de Josefo, e sendo semelhante a ele, é
na verdade uma língua diferente do hebraico do Velho Testamento; possuindo
suas próprias peculiaridades e tendo sido submetida a um desenvolvimento de
vários séculos na Palestina. O grego era a outra língua em uso – não o grego
em sua forma pura ática ou clássica, mas um vernáculo enriquecido por uma
combinação de termos e expressões idiomáticas hebraicos e aramaicos. O
aramaico era a língua geralmente falada pela população rural ou “povo
comum” da Palestina. Em Jerusalém e cidades maiores, os chefes e sacerdotes,
as classes ocultas e os comerciantes falavam geralmente o grego.
O Ministério do Senhor – Provavelmente Bilingüe
Pelo fato da população da Palestina nos dias de Cristo ter sido em grande
parte bilingüe, segue-se quase necessariamente que o Senhor falava em ambas
as línguas. Vemos que Ele falava, algumas vezes em aramaico, pelas suas
palavras nessa língua nos terem sido retidas em alguns pontos: “Talita cumi”
(Mc 5.41); “Eli, Eli, lemá sabactâni” (Mt 27.46). Na capital, especialmente ao
dirigir-se aos chefes judeus, o Senhor Jesus usaria mais o grego. Que Ele falava
FATECE – Curso de Educação a Distância 52
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
grego é indicado na pergunta que os judeus fizeram entre si depois de Jesus
dizer que eles haveriam de procurá-lo, mas não o encontrariam: “Disseram,
pois, os judeus uns aos outros: Para onde irá este que não o possamos achar?
irá, porventura, para a Dispersão (judeus) entre os gregos com o fim de os
(gregos) ensinar?” (Jo 7.34). Se não estivessem acostumados a ouvir Jesus falar
em grego, tal pergunta não seria feita.
Não faz parte de nosso propósito discutir esta questão. Referimo-nos
simplesmente a ela aqui (juntamente com o fato de o Senhor ter provavelmente
pronunciado partes diferentes de seu ensino em mais de uma ocasião – com
fraseologia diversa e talvez em duas línguas) para mostrar que existe uma base
satisfatória em que as variações nos discursos registrados de Cristo podem ser
explicados de modo a manter os conceitos mais estritos de inspiração. Os
quatro escritores nos deram quatro relatos verdadeiros, embora haja este
processo de discriminação, seleção e apresentação, que dá a cada um dos
quatro evangelhos sua ênfase peculiar.
Finais Característicos
É interessante notar também a maneira característica em que cada um dos
quatro registros termina e o progresso de pensamento que eles apresentam
quando tornados em conjunto. Mateus finaliza com a ressurreição do Senhor.
Marcos avança e termina com sua Ascensão. Lucas se adianta ainda mais e
encerra com a promessa do Espírito. João completa os quatro, terminando com
a promessa do segundo advento. Quão apropriado é que Mateus, o Evangelho
do poderoso Messias-Rei, termine com o ato esplêndido de sua ressurreição, a
prova culminante de seu caráter messiânico e poder divino! Quão
perfeitamente adequado é que Marcos, o Evangelho do Servo humilde, se
encerre com o Servo exaltado ao lugar de honra! Como soa belo e harmonioso
o final de Lucas, o evangelho do Homem ideal, de coração compassivo, ao
lermos sobre a promessa do poder que viria do alto! Que conclusão apropriada
vemos no fato de João, o Evangelho do Filho Divino, escrito especialmente
para a igreja, terminar com a promessa acerca da sua volta, feita pelo próprio
Senhor ressurreto. O propósito conjunto evidenciado pelos quatro
“Evangelhos faz deles uma obra-prima de variedade na unidade”.

10. LUGARES ONDE JESUS VIVEU E MINISTROU


Já estudamos algumas das principais características dos relatos dos
evangelhos. Ao lê-los, descobrimos que fornecem os nomes de muitos lugares

FATECE – Curso de Educação a Distância 53


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
associados à vida de Jesus, como a Judéia, a Galiléia, Nazaré, Cafarnaum e
Jerusalém. Nesta seção estudaremos os distritos da Palestina onde esses lugares
estavam localizados. Também estudaremos a geografia geral da terra da
Palestina.
A Terra da Palestina
Palestina é o nome dado à área inteira exibida no mapa que segue. Foi
nessa terra que Jesus passou a maior parte de sua vida terrena. Examine o mapa
e note os principais tipos geográficos ali indicados. Esses tipos geográficos são
quatro faixas paralelas que correm de norte para sul:
1) a planície costeira, que se prolonga desde o norte, em Sidom, até
Gaza, no sul;
2) a região montanhosa central, que se estende de Dá e Cades, no
norte, até Berseba, no sul;
3) o vale do Rio Jordão, que começa ao norte do mar da Galiléia e
segue para o sul, até o Mar Morto;
4) o tabuleiro oriental ou platô da margem oriental do Jordão.
Jesus viveu e ministrou nos distritos da Galiléia, da Samaria e da Judéia,
no lado oeste do Rio Jordão, e nos distritos de Decápolis e Peréia, no lado
oriental do Rio Jordão. Jesus também esteve nas cidades de Tiro e Sidom, na
Fenícia. Enquanto você lê as descrições sobre essas áreas, encontre no mapa
cada cidade ou distrito mencionado.
Distritos da Palestina
Durante os tempos do Novo Testamento, havia vários distritos na terra da
Palestina. Esses distritos estavam todos sob a autoridade geral do governo
romano.
A Galiléia
Jesus cresceu até a idade adulta na cidade de Nazaré, no distrito da
Galiléia (Mt 9.23 Lc 2.51). Ele realizou seu primeiro milagre em Caná (Jo
2.11). Mais tarde, Ele mudou-se para a cidade de Cafarnaum (Mt 4.13). Os
judeus mais radicais nos demais distritos da palestina desprezavam os galileus,
porque a Galiléia estava localizada perto das regiões gentílicas da Fenícia e de
Decápolis. Entretanto, os galileus eram inteiramente dedicados em sua fé e
leais, à nação judaica. Jesus passou uma boa parte de seu ministério em aldeias,
vilas e regiões montanhosas desse distrito.

FATECE – Curso de Educação a Distância 54


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
A Fenícia
As cidades de Tiro e Sidom estavam localizadas na Fenícia, uma área
costeira a noroeste da Galiléia. Depois que foi rejeitado em Nazaré, Jesus foi
para esse distrito. Foi ali que a mulher siro-fenícia veio ao encontro dele, cuja
grande fé Jesus elogiou, e cuja filha Ele curou (Mc 7.24 –30).
Decápolis
A noroeste da Galiléia estavam os distritos de Decápolis e Basã.
Decápolis era uma associação de cidades gregas (Decápolis significa “dez
cidades”), fundadas por Alexandre, o Grande, Jesus visitou essa área (Me 7.31–
35). Ele ministrou em Gadara (também chamada Gergesa ou Gerasa), onde
curou um endemoninhado (Mc 5.1–20 Lc 8.26–39). Também esteve na cidade
de Cesaréia de Filipe (Mt 16.13–20).
Samaria
O povo da porção costeira da Samaria era gentio. Entretanto, aqueles que
viviam nas regiões montanhosas formavam uma população mista. Eram
descendentes das dez tribos do reino do norte, ou Israel, que se tinham
misturado por casamento com gentios. Haviam edificado o seu próprio templo,
no Monte Gerizim. Embora não mais existisse nos dias de Jesus, seu sítio era
considerado sagrado. Os samaritanos, conforme eram chamados os habitantes
de raça mista dessa região, eram desprezados pelos judeus da Palestina. Muitos
judeus nem ao menos cruzavam a Samaria em suas viagens. Jesus, entretanto,
por muitas vezes ministrou aos habitantes desse distrito. Em seu notável
diálogo com a mulher samaritana, no poço de Sicar, Ele não permitiu que a
controvérsia entre os judeus e os samaritanos se tornasse o principal tópico de
discussão. Pelo contrário, chamou a atenção para si mesmo, como o Messias
(Jo 4.1–42).
Peréia
Quase todos os habitantes de Peréia eram judeus, embora também
vivessem gentios. Com freqüência, a Peréia é referida nas páginas do Novo
Testamento como a terra “além do Jordão”. A caminho de Jerusalém pela
última vez, Jesus atravessou essa região ensinando em suas vilas e cidades (Mc
10.1–45 Mt 19.1–20.28).
Judéia
No distrito da Judéia estavam localizadas as cidades de Belém onde Jesus
nasceu, e Jerusalém, cenário de muitos dos mais cruciais acontecimentos de sua
vida. Perto de Jerusalém ficava a aldeia Jerusalém de Betânia, lar de Maria,

FATECE – Curso de Educação a Distância 55


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
Marta e Lázaro, ao qual Jesus ressuscitou dos mortos (Jo 11.1,32–44). Não
muitos quilômetros dali ficava Jericó, onde Jesus curou o cego (Mc 10.46–52).
Durante seu ministério Jesus fez diversas viagens a Jerusalém e às aldeias
próximas. Este presente nas grandes festividades judaicas anuais, celebradas e
Jerusalém. Foi em Jerusalém que Jesus foi julgado, crucificado sepultado (Lc
22,23). Após a sua ressurreição Jesus apareceu a dois de seus seguidores, no
caminho para Emaús, cerca de onze quilômetros de Jerusalém (Lc 24.13–27).
Posteriormente, Jesus instruiu seus, discípulos acerca do futuro ministério
deles, conduzindo-os na direção de Betânia. Foi então, que Ele foi arrebatado
para o céu, desaparecendo de diante de suas vistas. E os discípulos retornaram
a Jerusalém a fim de esperar pela prometida descida do Espírito Santo (Lc
24.36–53).

11. OS EVENTOS DA VIDA DE JESUS

Você tem estudado a geografia da terra da Palestina, tendo aprendido


alguns fatos sobre os lugares onde Jesus viveu e ministrou. Nesta seção, você
examinará os eventos da vida de Jesus. Tal como você aprendeu na primeira
porção desta lição, todos os escritores dos evangelhos seguiram o mesmo
padrão básico ao descreverem a vida de Jesus.
Os eventos da vida de Jesus podem ser divididos em quatro Períodos
principais:
1) Seu nascimento e preparação para o ministério;
2) Seu ministério terreno e sua popularidade;
3) Seu ministério posterior e controvérsias; e
4) Sua morte, ressurreição e ascensão. Esses períodos principais
aparecem na mesma seqüência, em cada narrativa evangélica. Porém, os
escritores sagrados dispuseram os incidentes específicos, dentro de cada
período, segundo os seus próprios propósitos. Devemos lembrar que o alvo
deles não era primariamente fornecer-nos uma narrativa estritamente
cronológica, e sim, retratar com exatidão a pessoa de Jesus. O esboço abaixo
fornece a progressão geral dos eventos, bem como os capítulos em cada
evangelho que estão associados a cada período básico.
CRONOLOGIA DA VIDA DE CRISTO
Períodos e Eventos Principais Referências
1 – Nascimento e preparação para o Mt 1.1–4.11

FATECE – Curso de Educação a Distância 56


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
ministério.
Nascimento e crescimento até a idade Mc 1.1–13 / Lc
adulta 1.1–4.13
Apresentação, batismo, tentação. Jo 1.1–51
2 – Ministério inicial e popularidade. Mt 4.12–15.20
Ministério na Galiléia; Mc 1.14–7.23
Ministério na Judéia; Lc 4.14–9.17
Retorno à Galiléia; Jo 2.1–6.71
Ápice da popularidade.
3 – Ministério posterior e controvérsias. Mt 15.21–20.34
Retirada para o norte; Mc 7.24–10.52
Novo ministério na Galiléia; Lc 9.18–19.28
Novo ministério na judéia; Jo 7.1–12.11
Ministério na Peréia;
Última viagem a Jerusalém.
4 – Morte, ressurreição e ascensão. Mt 21.1–28.20
Entrada triunfal, julgamento, morte e Mc 11.1–16.20 /
sepultamento; Lc 19.29–24.53
Ressurreição, comissão a discípulos e Jo 12.12-21.25
ascensão.

Naturalmente, este gráfico é apenas um sumário dos principais eventos e


períodos da vida de Jesus. Nas lições que se seguem, você estudará cada um
dos relatos evangélicos e os incidentes específicos que ocorreram durante cada
um desses períodos principais.

12. OS ENSINAMENTOS DE JESUS


Temos examinado as características dos evangelhos, da terra onde Jesus
viveu e ministrou e os principais acontecimentos da Sua vida. Agora olharemos
mais detalhadamente a sua atividade como Mestre, conforme a vemos nos
Evangelhos. Ensinar era um dos aspectos vitais de Sua obra, porquanto Ele
veio com a missão de anunciar as boas-novas aos pobres e revelar a verdade de
Deus a toda a humanidade. Cada página dos evangelhos está assinalada pela
presença de suas advertências, proclamações, exortações e explicações.
Consideraremos cinco importantes características de seu ensino.

FATECE – Curso de Educação a Distância 57


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
A Base
O ensino de Jesus alicerçava-se sobre o Antigo Testamento como a
palavra de Deus, e sobre Si mesmo, como o unigênito Filho de Deus. Jesus
extraia subsídios dos recursos do Antigo Testamento. Também se colocava em
relação aos escritos do Antigo Testamento como aquele que possuía total
autoridade para explicar seu verdadeiro sentido.
Jesus aplicava a si mesmo as profecias e eventos do Antigo Testamento.
De acordo com o trecho de Lucas 4.18, Ele leu a descrição sobre sua missão no
livro do profeta Isaías. Deixou bem claro que viera para cumprir a lei (Mt
5.17–20). Quando Jesus falou com Nicodemos, falou-lhe sobre a sua morte na
cruz aludindo-se a certa experiência que os israelitas tiveram no deserto (Jo
3.14 e Nm 21.8,9). Quando os fariseus lhe pediram um sinal, Ele lhes disse que
lhes daria “o sinal de Jonas” – dando a entender que Ele ressuscitaria dentre
os mortos, três dias depois de ser crucificado, (Mt 12.39,40). Após a sua
ressurreição, Jesus encontrou-se com dois dos Seus discípulos na estrada para
Emaús. Enquanto caminhavam Ele lhes explicava “...o que dele se achava em
todas as Escrituras” (L 24.27).
Jesus também mostrou que Ele estava investido de uma posição de
autoridade ímpar no tocante às Escrituras do Antigo Testamento, por exemplo,
Ele disse que era “senhor também do Sábado” (Mc 2.28). De conformidade
com o trecho de Êxodo 31.15, nenhum trabalho deveria ser feito em dia de
sábado. No entanto, Jesus declarou que tanto “Ele” quanto o “Pai” trabalhavam
continuamente, mesmo em dia de sábado (Jo 16,17). Jesus curava em dia de
sábado e ensinou que era legítimo fazer tal coisa (Lc 13.10–17). Jesus também
introduziu um padrão de conduta superior àquele que fora revelado no Antigo
Testamento (Mt 5). Esses exemplos mostram que Jesus se punha na posição de
Filho de Deus no tocante não somente às profecias do Antigo Testamento,
como também à lei.
Propósito
O propósito de Jesus era revelar Deus e ensinar aos homens verdades
sobre as quais pudessem edificar as suas vidas. Ele disse que seus ensinos
provinham do Pai (Jo 14.10). Não se tratava de meras idéias interessantes, de
pensamentos esperançosos ou de estórias divertidas. Mas eram as próprias
palavras da vida eterna (Jo 6.68), palavras que permaneciam para sempre (Me
13.31). A pessoa que põe em prática os ensinamentos de Jesus descobre que sua
vida está edificada sobre um sólido alicerce (Mt 7.24).
FATECE – Curso de Educação a Distância 58
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
Método
Jesus ensinava por toda a parte, sempre que surgia a necessidade. Ele
ensinava nas sinagogas (Lc 4.16) e no templo (Jo 8.2). Ele ensinava nas ruas
(Me 10.17) e em casas particulares (Lc 14.1). O número de ouvintes não era
um fator importante para Ele. Embora se dirigisse a grandes multidões, não
hesitava em dirigir a palavra a algum homem ou mulher em particular. Muitos
de seus mais importantes ensinamentos foram endereçados a indivíduos, como
no caso de Nicodemos (Jo 3). Jesus ensinava em grande variedades de lugares,
para grandes variedade de pessoas. Também usava grande variedade de
métodos. Examinaremos quatro desses métodos.
As Parábolas
Jesus ensinava muitas verdades por meio de parábolas. Uma parábola é
uma ilustração ou estória, usualmente extraída dos acontecimentos da vida
diária. Como um método de ensino, as parábolas revestem-se de três vantagens:
1) Elas podem ser facilmente lembradas, porque os ouvintes podem
imaginar os acontecimentos da estória enquanto a mesma está sendo narrada;
2) As mensagens espirituais transmitidas por elas são claras até
mesmo para os de pouca ou nenhuma cultura;
3) Elas demonstram a preocupação de Jesus com as necessidades de
seus ouvintes.
A maioria das parábolas ensinam apenas uma verdade central. A parábola
da mulher e da moeda, por exemplo, ilustra a persistência de Deus na busca de
uma alma perdida (Lc 15.8–10). Algumas delas, contudo, ensinam mais de uma
lição. A parábola do filho pródigo ilustra não somente o amor paternal de Deus,
mas também o sentido do arrependimento e do pecado da justiça própria e de
espírito não-perdoador (Lc 15.11–32). Em algumas ocasiões, aqueles que
ouviam uma parábola podiam tirar as suas próprias conclusões (Mc 12.1–12).
Outras vezes, Jesus esclarecia a verdade que Ele ilustrava, ao terminar de
contar uma parábola (Mt 25.1–13). As parábolas de Jesus, entretanto, eram
diferentes das parábolas contadas por outras pessoas, porque não podiam ser
separadas de sua pessoa. Aqueles que não o entendiam, também não
compreendiam as suas parábolas. Essa foi uma verdade salientada pelo próprio
Jesus (Mc 4.1 1 Mt 13.13).

Declarações Curtas

FATECE – Curso de Educação a Distância 59


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
Jesus usava declarações curtas para fixar certas verdades nas mentes de
seus ouvintes. Com freqüência, essas declarações contrastavam duas idéias. Por
exemplo: “... portanto sede prudentes como as serpentes e símplices como as
pombas” (Mt 10.16). “Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a
sua vida por amor de mim achá-la-á” (Mt 10.39). “... Quem crê em mim,
ainda que esteja morto, viverá” (Jo 11.25). Essas declarações são pensamentos
provocadores e inesquecíveis.

Lições Objetivas
Jesus também se utilizava de objetos familiares para ensinar verdades
espirituais. Certa vez, fez uma pequena criança sentar-se no meio de seus
discípulos, destacando-a como um exemplo de humildade (Mt 18.1–6). Noutra
ocasião, Jesus chamou a atenção para certos ricos e para uma pobre viúva, que
estavam depositando suas ofertas no tesouro do templo. E usou o incidente a
fim de ensinar a lição sobre o sentido da verdadeira doação (Lc 21.1–4). Aos
pecadores, Ele disse: “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens”
(Mt 4.19). Jesus também disse que as aves do céu e os lírios do campo
ilustravam o cuidado de Deus pela Sua criação (Mt 6.26,28).
Perguntas
Por muitas vezes, Jesus usou perguntas em seu ensino. As perguntas
feitas por Ele faziam os homens pensar. E que essas indagações iam até o
âmago das preocupações e necessidades dos homens. Por exemplo: “... que
dará o homem em recompensa de sua alma?” (Mt 16.26), perguntou Ele aos
discípulos: “Pois qual é mais fácil dizer: Perdoados te são os teus pecados;
ou dizer: Levanta-te e anda?” (Mt 9.5). Mas talvez a mais importante de todas
as perguntas que Ele fez aos seus discípulos foi esta: “Mas vós quem dizeis
que eu sou?” (Me 8.29).
Jesus não somente fazia perguntas, mas também dava respostas a
perguntas que outras pessoas lhe faziam. Quando Tomé indagou: “Senhor, não
sabemos para onde vais, como podemos saber o caminho?” Jesus replicou:
“Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.5,6).
Conteúdo
O ensino de Jesus incluía uma grande variedade de assuntos. Contudo,
entre eles podem ser encontrados alguns temas principais. Ele ensinava acerca
do reino de Deus – sua verdadeira natureza e seus requisitos. Ele ensinava
sobre o homem – sua responsabilidade diante de Deus e como ele deve tratar as

FATECE – Curso de Educação a Distância 60


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
outras pessoas. E Ele ensinava sobre Ele mesmo – sua missão, sua relação
ímpar com Deus, sua morte e ressurreição e sua segunda vinda.
Em algumas das narrativas do evangelho, os ensinos sobre assuntos
semelhantes se encontram agrupados em um lugar. Por exemplo, uma grande
parte do ensino de Jesus acerca do reino de Deus encontra-se no décimo
terceiro capítulo de Mateus. O seu ensino sobre os eventos futuros e o fim dos
tempos se acham quase todo nos trechos de Mateus 24-25; Marcos 13 e Lucas
21.5-38. Talvez Ele tenha feito alusão a algum de seus ensinos apenas por uma
vez. Também pode ter repetido outros ensinos por diversas vezes, para
beneficio de diferentes pessoas que o vieram ouvir. Seus ensinos não eram
vazados mediante uma maneira formal e sistemática, mas organizavam-se em
torno de sua pessoa. Quem quiser compreender seus ensinos terá de
compreendê-lo.
Efeitos
O ensinamento de Jesus exercia grande impacto sobre seus ouvintes.
Quando os principais sacerdotes e os saduceus enviaram guardas para prendê-
lo, os guardas voltaram de mãos vazias. Os líderes religiosos indagaram: “Por
que não o trouxeste? E a resposta dos guardas foi: Nunca homem algum
falou assim como este homem” (Jo 7.45-46). Quando Jesus terminou o
“sermão do monte” (Mt 5–7), seus ouvintes estavam admirados, porque
ensinava “...como tendo autoridade, e não como os escribas...” (Mt 7.29).
Seus ensinamentos silenciavam os seus adversários (Mt 22.46), e levavam
pecadores a mudar os seus caminhos (Lc 19.8).
Da mesma maneira como nos dias em que Ele vivia na terra, os ensinos
de Jesus atingem os corações das pessoas em nossos dias. Quando considero o
que tem acontecido em minha pátria, vejo os efeitos positivos dos
ensinamentos de Cristo. Pessoas iguais a mim estão sendo transformadas por
esses ensinamentos. Não posso deixar de identificar-me com o autor da epístola
aos Hebreus, e dizer: “... a palavra de Deus é viva e eficaz e mais penetrante
do que espada alguma de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do
espírito ...” (Hb 4.12).
Na verdade, Jesus aparece nas narrativas dos evangelhos como o maior
de todos os mestres. Quando estamos ensinando a sua palavra, precisamos
seguir o seu exemplo. Precisamos aprender a relacioná-la com às necessidades
e preocupações das pessoas. Precisamos aprender a transmiti-la de tal modo
que todas as pessoas ao nosso redor possam ouvir e compreender. Precisamos

FATECE – Curso de Educação a Distância 61


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
ter a reação que diz: Senhor, ensina-me a servir-te melhor. Ajuda-me a sentar-
me aos teus pés e a aprender de ti, para que por minha vez possa tornar- me
aquilo que tu queres que eu seja: o sal da terra e a luz do mundo.

13. RELAÇÃO ENTRE MATEUS, MARCOS E LUCAS


Conforme você já aprendeu na lição anterior, todas as narrativa
evangélicas seguem o mesmo padrão básico, no desenvolvimento da história de
Cristo. Entretanto, os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são muito mais
parecidos entre si quanto a essa questão, do que o Evangelho de João. Eles
contam a história da vida de Cristo, quase da mesma maneira, algumas vezes
usando até mesmo palavras idênticas. Por esse motivo, receberam o nome de
Evangelho! sinópticos (uma palavra grega que significa “ver junto com”).
Há muitas outras passagens bíblicas que exigem um similar grau de
semelhança. Contudo, os evangelhos não são meras cópias uns dos outros, pois
transparecem os seguintes fatos, quando o conteúdo dos mesmos é
cuidadosamente comparado:
1 – Mateus e Lucas incluem quase todo o material que se acha em
Marcos.
2 – Mateus e Lucas compartilham de duzentos versículos que não se
encontram em Marcos.
3 – Um terço do volume de Mateus é exclusivo dele.
4 – Metade de Lucas é exclusivo dele.
Muitas explicações têm sido propostas como explicação desses fatos.
Entretanto, as conclusões abaixo enumeradas parecem ser as mais aceitáveis.
1 – Desde o começo do cristianismo, houve um conjunto de fatos
conhecidos (chamado kerygma) sobre a vida de Cristo. Esse material era a
mensagem central proclamada pelos apóstolos (At 2.22,23; 13.23–33 e 1ªCo
15.1–11).
2 – O evangelho de Marcos registra esse material básico. Foi escrito
por alguém que conhecia pessoalmente os apóstolos e esteve intimamente
associado à igreja desde o começo.
3 – O evangelho de Mateus inclui esse material básico. Mas a isso
Mateus acrescentou as notas que ele tomara dos ensinamentos de Jesus, as
quais ele arranjou para adaptarem-se ao seu propósito, além de outro material.
4 – O evangelho de Lucas também inclui o material básico. Lucas
adicionou considerável acúmulo de outro conteúdo histórico, resultante de suas
FATECE – Curso de Educação a Distância 62
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
próprias pesquisas. Parte desse conteúdo consiste em parábolas e mil agres não
registrados nem por Mateus e nem por Marcos. É possível que Lucas tenha
obtido essas informações diretamente das pessoas que tinham ouvido Jesus
ensinar e tinham experimentado os seus milagres.
Também devemos lembrar-nos que os autores dos evangelhos foram
impulsionados pelo Espírito de Deus. As decisões deles acerca do que incluir e
como arranjar esse material, foram efetuadas sob a sua orientação. Podemos ter
a confiança que os registros de que dispomos são aqueles que Deus tencionou
que tivéssemos.

14. MATEUS: EVANGELHO DO REI MESSIAS


Com toda a propriedade o Evangelho de Mateus aparece como o primeiro
livro do Novo Testamento, pois seu conteúdo provê um elo apropriado entre o
Antigo e o Novo Testamentos. Estudaremos seu autor, sua ênfase, seu esboço e
suas características especiais.
Autor
De acordo com as tradições, o Evangelho de Mateus foi escrito por
Mateus, o publicano, um dos doze discípulos de Jesus (Mt 10.3).
Provavelmente Mateus escreveu seu Evangelho no tempo entre 50 a 70 d.C.
Ênfase
Mateus ressaltou tanto a identidade quanto aos ensinamentos de Jesus.
Referiu-se ao Antigo Testamento destacando Jesus como o real Filho de Davi,
o rei cuja vida cumpriu as profecias messiânicas do Antigo. Assim sendo, o seu
Evangelho forma uma ponte necessária entre o conteúdo do Antigo e o do
Novo Testamento. Nos escritos de Mateus, Jesus aparece não somente como
um outro profeta ou mestre qualquer, mas como o próprio Filho de Deus que,
um dia, haverá de sentar-se em seu trono, na glória celestial, a todas as nações
(16.13–20; 25.31,32). Essa ênfase torna o Evangelho de Mateus útil para
demonstrar aos judeus que Jesus é o longamente esperado Messias que lhes
fora prometido, aquele cuja vinda seus próprios profetas haviam predito. E
também serve para ajudar aos gentios convertidos a compreenderem o pleno
significado do ministério de Jesus.
Além de ressaltar a identidade de Jesus como Messias, Mateus também
chamou a atenção para os ensinamentos de Jesus. De fato, mais da metade do
conteúdo de seu Evangelho dedica-se a historiá-los. Ele incluiu diversas e
longas passagens onde ficaram registradas as palavras de Deus a respeito de
FATECE – Curso de Educação a Distância 63
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
certo número de importantes assuntos. Seu Evangelho termina com a comissão
dada por Jesus aos seus seguidores, em uma incumbência na qual o próprio
Jesus frisou a importância de seus ensinamentos: ”Portanto ide, ensinai todas
as nações.... ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho
mandado” (Mt 28.19,20).
Características Especiais
Além da ênfase dada por Mateus sobre o cumprimento das Profecias do
Antigo Testamento, na vida e nos ensinamentos de Jesus, há algumas outras
características especiais encontradas em seu evangelho.
Ênfase sobre a Realeza e sobre o Reino
Mateus é o Evangelho da realeza e do reino de Jesus. Desde sua primeira
página, Jesus é identificado como o real filho de Davi da casa de Judá (1.1,3).
Os sábios ou magos que vieram do oriente à procura de Jesus, por ocasião de
seu nascimento, perguntaram onde havia nascido o “rei dos judeus” (2.1,2).
Durante o seu ministério Jesus falou por muitas vezes a respeito de seu reino
(16.28, por exemplo). Através desse primeiro evangelho há 38 referência ou ao
“reino dos céus” ou ao “reino de Deus”. Uma semana antes de crucificado,
Jesus entrou em Jerusalém como seu rei, cumprindo profecia que aparece em
Zacarias 9.9 (Mt 21.1–11).
Embora os judeus se tenham recusado a reconhecer que Jesus era o seu
rei, outros o reconheceram como tal. A mulher cananéia que veio rogar a Cristo
em favor de sua filha que padecia, chamou-o pelo seu título real, “filho de
Davi” (15.21). Pilatos escreveu as palavras em uma tabuleta e a colocou sobre
a cruz de Cristo. A tabuleta dizia: “ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS”
(27.37).
A Atenção Dada aos Gentios
Mateus incluiu material com fatos que demonstravam o seu interesse
pelos gentios. Por exemplo, ele dá os nomes de duas mulheres gentias em seus
registros sobre os antepassados de Jesus (1.5 – Raabe e Rute). Falou sobre os
magos que vieram do oriente a fim de adorarem a Jesus (2.1,2). Registrou a
declaração de Jesus sobre o fato que o reino de Deus seria tirado dos judeus e
dado a um povo que produziria os seus frutos (21.43), e encerrou o seu
Evangelho com a Grande Comissão, na qual Jesus disse que seus seguidores
fizessem discípulos “...de todas as nações...” (28,19).
Menção à Igreja

FATECE – Curso de Educação a Distância 64


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
Entre os quatro Evangelhos, o de Mateus é o único no qual aparece a
palavra igreja. Encontra-se ali por três vezes (uma 16.18 e duas vezes em
18.17).
Outros Aspectos Exclusivos
Mateus contém nove incidentes, dez parábolas e três milagres que não se
encontram nos demais Evangelhos. Entre essas coisas foram incluídas, por
exemplo, a visão de José (1.20–24), a cura mudo endemoninhado (9.32,33) e as
parábolas do trigo (13.24–30, 36–43, e dos talentos (25.14–30).
Conteúdo
O conteúdo do Evangelho de Mateus é escrito em torno de um duplo
esboço. Um deles tem a ver com os eventos da vida de Jesus, e o outro com os
seus ensinamentos. Em ambos os casos, Mateus repetiu frases, a fim de
assinalar as divisões.
Eventos e Ensinamentos
Conforme você descobriu na segunda lição, os eventos da vida de Jesus
podem ser divididos em quatro períodos básicos. No Evangelho de Mateus,
entretanto, está assinalada uma dupla divisão fundamental, a saber:
1) O período de aceitação pública e da popularidade de Jesus (4.17–
16.20); e
2) O período de declínio no favor do povo e sua rejeição final (16.21–
28.10).
Cada uma dessas divisões começa com estas palavras: “Daí por diante
passou Jesus a...”; e: “Desde então começou Jesus a...” Essa divisão revela o
fato de que após certo tempo, em seu ministério, Jesus começou a dar mais
atenção aos seus discípulos e a treiná-los.
Além dessas duas seções de ensinos, existem duas outras: a Pregação de
João Batista (3.1–12) e a Grande Comissão (28.18–20).
Esboço
MATEUS: EVANGELHO DO REI-MESSIAS
1 – O Rei é Apresentado (1. 1–4. 11.1).
A Pregação de João (3.1–12)
2 – O Rei Anuncia o Reino (4.12–15.20).
O Sermão do Monte (5.1–7.29);
A Incumbência Dada aos Discípulos (10.1–42);
As Parábolas (13.1–52).
3 – Orei é Rejeitado (5.21–20.34)

FATECE – Curso de Educação a Distância 65


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
O Significado do Perdão (18.1–35).
4 – O Rei Triunfa (21.1–28.20)
Repreensão e Profecia (23.1–25.46)
A Grande Comissão (28.18–20)
Quando lemos o Evangelho de Mateus, percebemos o quanto Jesus Cristo
é realmente u. rei glorioso e vitorioso! Satanás não foi capaz de vencê-Lo. Não
ais continuemos duvidando do fato de que Ele é rei. Convidemos a Jesus para
vir reinar em nossos corações. Busquemos o Seu reino acima de todas as
coisas.

15. MARCOS: EVANGELIIO DO SERVO DE DEUS


Conforme você aprendeu na segunda lição, o Evangelho de Marcos
ressalta o ministério dinâmico e ativo de Jesus. Guiado pelo Espírito Santo,
Marcos mostrou como Cristo cumpriu a sua missão na qualidade de servo
obediente e diligente de Deus. Ao considerarmos o Evangelho que Marcos
escreveu, examinaremos sua identidade, como autor do mesmo. Também
estudaremos o conteúdo do livro, sua ênfase e suas características especiais.
Autor
Há um consenso geral, entre os estudiosos do Novo Testamento, de que o
autor de Evangelho de Marcos foi João Marcos, o jovem que foi em companhia
de Paulo e Barnabé na primeira viagem missionária deles (At 12.12). Marcos
era parente de Barnabé (Cl 4.10), e associado chegado do apóstolo Pedro (Veja
1ªPe 5.13, onde Pedro chama Marcos de “filho” – um título dado como prova
de afeto). De fato, é bem provável que o Evangelho de Marcos exponha o
relato de Pedro como testemunha ocular, pois Marcos estava bem familiarizado
com a vida e a pregação de Pedro. O próprio Marcos pode ter estado presente
em algumas das ocorrências que ele descreveu.
Ênfase
O relato de Marcos sobre Jesus Cristo salienta a vida e as atividades de
Jesus como o Filho de Deus (1.1). Assim sendo, exercia forte atração sobre a
mente romana, com seu interesse pelo lado prático da vida. Contrastando com
Mateus e Lucas, para exemplificar, Marcos não apresenta a genealogia de
Cristo. Isso se coaduna com o interesse de Marcos na vida de serviços de Jesus,
pois a história da família de um servo não é importante. A ênfase de Marcos é
indicada de outras maneiras, igualmente. O Evangelho de Lucas tem quase o
dobro do volume do de Marcos. No entanto, Lucas narra vinte milagres, ao

FATECE – Curso de Educação a Distância 66


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
passo que Marcos inclui dezoito milagres, em pouco mais da metade do
espaço. Apesar de que Marcos narrou muitos dos ensinamentos de Jesus, com
freqüência ele simplesmente referiu-se ao fato que Jesus ensinou (2.13;
6.2,6,34 e 12.35 como exemplos disso).
Marcos também ressaltou o fato que Cristo realizou a sua missão com
zelo e propósito. Por muitas vezes Ele viu-se cercado por grandes multidões, a
cujas necessidades Ele ministrava (3.7–12,20,21; 4.1,2; 5.21–34; 6.30–44,53–
56 e 8.1–13). O vocábulo grego euthus, traduzido por expressões como
“imediatamente’, etc., aparece por quarenta e duas vezes nas páginas do
Evangelho de Marcos (esse vocábulo só aparece por sete vezes em Mateus e
por uma vez em Lucas). Essa expressão é usada por catorze vezes acerca das
próprias ações de Jesus, servindo de indicação da prontidão e espontaneidade
com que Ele servia. O uso que Marcos fez desse vocábulo em diversos lugares,
em sua narrativa, também demonstra o fato que Cristo apressava-se para chegar
ao alvo de sua vida de serviço. Disse Jesus aos seus discípulos que “...o Filho
do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua
vida em resgate de muitos” (10.45).
Características Especiais
Embora o Evangelho de Marcos seja o mais breve dos quatro, contém
diversas características que lhe emprestam uma posição distinta.
Um Estilo Vívido e Vigoroso
Com freqüência, Marcos descreve eventos passados como se estivessem
acontecendo no momento em que ele escrevia acerca dos mesmo. Para tanto,
ele usava uma forma verbal grega chamada “presente histórico”. Essa forma
poderia ser representada em português por uma forma verbal presente como eu
vejo, tu andas, ele fala. No entanto, para a maioria dos leitores da língua
portuguesa, isso pareceria incomum e estranho, sendo que o sentido é
obviamente passado. Por essa razão, o presente histórico do grego usualmente é
representado, na maioria das traduções, pelo passado simples, eu vi, tu
andaste, ele falou.
Notemos os dois verbos que foram italizados por nós, verbos esses que
aparecem em Marcos 4.38, na nossa versão em Português: “E Jesus estava na
popa, dormindo sobre o travesseiro; eles o despertam e lhe dizem: Mestre,
não te importa que pereçamos!” Em outras versões, não só em português, mas
em outros idiomas, esses dois verbos aparecem no passado simples,
“despertaram” e “disseram". Mas você pode perceber que o presente

FATECE – Curso de Educação a Distância 67


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
histórico, que aqui é refletido na nossa versão portuguesa, torna a narrativa
mais vívida. Marcos utilizou esse recurso da gramática grega por mais de cento
e cinqüenta vezes.
Outras características do estilo de Marcos também aumentam o
realismo e o drama de sua narrativa. Ele usava muitas frases que fornecem
detalhes vívidos e descritivos.
Detalhes Interessantes para os Romanos
Certas características especiais do evangelho de Marcos indicam que
provavelmente circulou, inicialmente, em Roma. De acordo com Marcos 15.21,
por exemplo, o homem que carregou a cruz de Jesus foi Simão, o cirineu, pai
de Alexandre e Rufo (nenhum dos outros três Evangelhos dá os nomes dos
filhos de Simão). Rufo foi mencionado pelo apóstolo Paulo em sua epístola à
igreja de Roma (Rm 16.13). Além dessa referência, há outros lugares onde
Marcos usou algum termo latino (o idioma falado por muitos romanos), a fim
de explicar alguma palavra grega (ver, por exemplo, Mc 15.16, onde o termo
“pretório” é usado para explicar o sentido de “Palácio”). Esses detalhes
mostram que o Evangelho de Marcos prestava-se especialmente a uma
audiência romana.
Importância do "Evangelho"
Marcos inicia seu relato intitulando-o “Princípio do evangelho de Jesus
Cristo, Filho de Deus” (Me 1.1). De acordo com Marcos, a mensagem pregada
por Cristo era o evangelho (1.14,15). Trata-se de uma mensagem tão
importante e valiosa que vale a pena que uma pessoa dê a sua própria vida por
ela (8.35; 10.29). Trata-se de uma mensagem que deve ser proclamada ao
mundo inteiro (13.10; 14.9).
Conteúdo
Ao escrever sua narrativa sobre a vida de Cristo, Marcos preferiu permitir
que os fatos e os registros dos eventos falassem por si mesmos. Ele descreveu
uma série de episódios, fornecendo-nos vívidos quadros de Jesus e do avanço
de seu ministério. Embora a sua narrativa seja breve, contém todos os
elementos mais importantes que já pudemos salientar. Esse Evangelho inclui a
muitos pormenores que mostram que se trata do testemunho de uma
testemunha ocular.

MARCOS: EVANGELHO DO SERVO DE JESUS


1 – O Servo é Apresentado (1.1–13)

FATECE – Curso de Educação a Distância 68


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança

2 – As Obras do Servo (1. 14–7.23)

3 – O Servo é Rejeitado (7.24–10.52)

4 – O Servo Termina Sua Obra (11.1–16.20)


O Evangelho de Marcos mostra-nos como Jesus foi o servo obediente,
fiel e voluntário de Deus. Por esse motivo, Deus o honrou com uma glória
indescritível (Fp 2.9–11). Se você e eu permanecermos fiéis e obedientes em
nosso serviço ao Senhor, também receberemos honra (Jo 12.26).

16. LUCAS: EVANGELHO DO SALVADOR


O Evangelho de Lucas foi escrito pelo homem a quem o apóstolo Paulo
chamou de “o médico amado” (CI 4.14). O próprio Lucas descreveu o seu
Evangelho. Ele disse que era um livro que relatava “acerca de tudo que Jesus
começou, não só a fazer, mas a ensinar, até o dia em que foi elevado às
alturas, depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos
que escolhera” (At 1.1,2). Quando examinamos o Evangelho que traz o nome
de Lucas, ficamos mais familiarizados com o Salvador a quem amamos e
servimos, e acerca de quem Lucas escreveu com tão grande eloqüência.
Autor
Com base nas evidências que nos são fornecidas pelo Novo Testamento
podemos concluir que Lucas era um gentio instruidíssimo. Era bem versado no
conhecimento médico de seus dia. É provável que ele fosse natural de
Antioquia. Lucas também escreveu o livro de Atos, no qual registrou os
eventos que acompanham a formação e a expansão da Igreja. Por essa razão, o
evangelho que ele escreveu pode ser mais exatamente descrito como a primeira
porção da narrativa em dois volumes a respeito do começo do cristianismo (a
segunda porção é o livro de Atos). Era do amigo chegado do apóstolo Paulo, e
esteve com ele em diversas viagens missionárias, incluindo a última, que levou
Paulo até Roma.
Ênfase
As escrever seu relato sobre a vida de Jesus, Lucas ressaltou os seus
históricos e teológicos.
A humanidade de Jesus é um importante fato que Lucas expôs. os da
Bíblia têm descrito o Evangelho de Lucas da humanidade de Jesus. Lucas
FATECE – Curso de Educação a Distância 69
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
mostrou que nós, e que compartilhou plenamente das experiências comuns da
vida humana.
Lucas também frisou a natureza histórica da vida de Cristo. Ele fez
um cuidadoso exame de todos os fatos importantes, sobre os quais registrou
uma narrativa exata (1.3). Lucas referiu-se a acontecimentos específicos que
sucederam na Palestina, no tempo do nascimento de Jesus (2.1–3). Também
deu os nome dos governantes e sumos sacerdotes que estavam no poder quando
João Batista começou o seu ministério (3.1–3). Esses pormenores tornam
possível relacionar a vida de Jesus com uma determinada época, dentro da
história política da região. Tais detalhes estabeleceram o fato que Jesus era uma
personagem histórica, um homem que efetuou a sua missão em meio a
circunstâncias perfeitamente reais, em meio ao turbilhão da Palestina do
primeiro século da era cristã.
Além disso, Lucas iluminou certos aspectos teológicos do ministério de
Jesus. Esses tinham a ver com a identidade de Jesus e com o sentido de sua
obra de salvação. Por exemplo, Lucas registrou que Jesus com freqüência
referiu-se a si mesmo usando o título “Filho do homem”. Essa expressão foi o
nome dado pelo profeta Daniel à pessoa que ele viu em uma visão, conforme
está descrito em Daniel 7.13,14. Para Daniel, isso queria dizer que aquele que
ele vira se parecia com um homem, era membro da raça humana.
Ao aplicar a si mesmo o nome “Filho do homem”, Jesus com a pessoa a
quem Daniel viu em sua visão fez mais do que isso: Disse que o Filho deve
sofrer; morrer e ressuscitar (Lc 9.22). Essa foi uma declaração que os
discípulos não puderam entender (9.44,45), pois mostrava que o Filho do
homem, que viria em grande poder e glória, antes disso seria rejeitado.
Além de salientar a identidade de Jesus como Filho do homem, Lucas
também frisou sua obra de salvação e seu papel como Redentor. Ele registou o
fato que a professa Ana falou a respeito do menino Jesus a todos quantos
esperavam a redenção de Jerusalém (2.38). Lucas narrou como alguns
discípulos, na estrada para Emaús, disseram que eles haviam esperado que
Jesus fosse aquele que remiria a Israel (24.21).
O processo da redenção foi estabelecido por Deus e era bem conhecido
entre os judeus. Significava que alguma coisa (ou alguém) que fosse vendido,
poderia ser adquirido de volta mediante um parente próximo daquele que
vendera tal coisa. Dessa maneira, pois, podia ser restaurada ao seu proprietário
original. (O livro de Rute, no Antigo Testamento, é uma linda ilustração desse

FATECE – Curso de Educação a Distância 70


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
processo). Um “redentor” tinha de ser parente chegado daqueles que
precisasse de ajuda.
Característica Especial
Alem dos aspectos da vida de Jesus que Lucas ressaltou, há muita
característica especial em sua narrativa. Para exemplifica, dá atenção o papel
desempenhado por certos grupos de pessoas, como crianças e os pobres.
Também, as palavras usadas e os detalhes incluídos demonstram que o autor
estava familiarizado com a profissão médica. Lucas é o mais literário dos
quatro evangelhos; contém diversas belas canções e poemas, e conta com um
rico vocabulário. Suas páginas também revelam um interesse pela importância
universal da mensagem de Cristo e da obra do Espírito Santo. Todas essas
características emprestam ao Evangelho Lucas um valor todo especial.
Examinemos alguns exemplos dessas características.
O Papel das Mulheres, Crianças e Pobres
Com freqüência, Lucas apresentou uma descrição mais completa das
mulheres e das crianças envolvidas na vida e no ministério de Jesus. Em sua
narrativa, Lucas também registrou várias histórias curtas e parábolas que
abordam especificamente a pobreza e a maioria dessas breves narrativas não
aparece nos outros Evangelhos.
As parábolas sobre a pobreza e a riqueza aparecem exclusivamente no
Evangelho de Lucas, incluindo aquela notável, sobre o rico insensato (Lc
12.13–34). Quão vividamente essa história nos ensina quão importante é
compreender quais são as verdadeiras riquezas!
A Perspectiva de Um Médico
Muitos eruditos da Bíblia acham que o Evangelho de Lucas oferece
evidências de que foi escrito por um médico. A narrativa de Lucas com
freqüência demonstra maior interesse pelos enfermos do que se vê nas
narrativas de Marcos e de Mateus. Notemos, por exemplo, a mais completa
descrição de Lucas em contraste com Marcos, das doenças ou enfermidades
curadas por Jesus nos exemplos abaixo:
Marcos 1.30: “acamada com febre”;
Lucas 4.38: “enferma, com febre muito alta”;
Marcos 1.40: “era um leproso”;
Lucas 5.12: “um homem coberto de lepra”;

FATECE – Curso de Educação a Distância 71


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
Marcos 3.1: “um homem que tinha uma das mãos mirrada”;
Lucas 6.6: “Um homem, cuja mão direita estava mirrada”;
Marcos 14.47: “cortou-lhe a orelha”
Lucas 22.50,51: “cortou-lhe a orelha direita”. Só Lucas acrescenta que
Jesus tocou na orelha cortada e a curou.
Ponto de Vista Universal
O Evangelho de Lucas mostra que ele queria deixar claro para o mundo a
importância universal da vida e da obra de Jesus. Em seus escritos, Jesus é
revelado não somente como uma figura viva da história judaica, mas também
como o Salvador de todos os homens. Por muitas vezes, seus milagres e
ensinos visavam pessoas de nações gentílicas.
A Obra do Espírito Santo
Entre os três Evangelhos sinópticos, Lucas é o que tem maior número de
referências à atuação do Espírito Santo. Ele havia mostrado como o Espírito
Santo esteve envolvido em cada aspecto da vida de Cristo. Também observou
características do seu ministério nas vidas de outras pessoas importantes. O
exercício abaixo lhe ajudará a descobrir algumas das maneiras específicas pelas
quais o Espírito Santo ministrou, de acordo com o relato de Lucas.
Beleza Literária
Lucas incluiu quatro magníficos cânticos ou poemas no seu Evangelho.
São os cânticos de Maria (1.46–55), de Zacarias (1.67–7 9), dos anjos (2.14) e
a oração de Simeão (2.29–32). Cada um é uma obra prima de expressão e
louvor. Emprestam ao Evangelho de Lucas uma beleza toda especial. Além
disso, a habilidade literária de Lucas é vista pela maneira como ele escreveu
sobre os eventos na vida do Mestre e expressou as parábolas e os ensinos que
Jesus deu. Notemos, por exemplo, as vívidas descrições do filho pródigo e de
seu invejoso irmão (15.11-32) e do pomposo fariseu e do penitente publicano
(18.9–14). O habilidoso registro desse ensino de Jesus faz os personagens
adquirirem vida diante de nós.
A capacidade de Lucas para narrar os eventos não é menos
impressionante. Quão profundamente comovidos e animados sentimo-nos,
quando lemos sua simples descrição do aparecimento de Jesus aos seus
abatidos discípulos, na estrada para Emaús (24.13 – 32)! Verdadeiramente,
Lucas era um artista no uso das palavras, e nós é que nos beneficiamos de seu
talento.
Conteúdo
FATECE – Curso de Educação a Distância 72
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
A seqüência de eventos, em Lucas, segue o padrão geral daquilo que
aparece nos Evangelhos de Mateus e Marcos. Também há considerável
quantidade de material que só Lucas inclui. O alvo principal de Lucas foi
apresentar Jesus como o homem perfeito, impulsionado pelo Espírito, Salvador
de todos os homens. Seu Evangelho, entre os sinópticos, é o único onde o título
específico, “Salvador”, é usado para indicar Jesus (2.11).
Use o esboço abaixo para guiá-lo em sua leitura do Evangelho de Lucas.
Em seu caderno, escreva as respostas às perguntas relativas a cada seção.
Memorize o título, o capítulo e os versículos.

LUCAS: EVANGELHO DO SALVADOR

1 – O Salvador é Preparado (1.1–4.13).

2 – O Salvador Ministra (4.14–9.17).

3 – O Salvador Entra em Conflito (19.29-24.53).


Quase o conteúdo inteiro desta seção pertence exclusivamente a Lucas.
Especificamente, a maior parte da matéria contida no trecho de 9.51–18.14 e
19.1–28 se encontra apenas no terceiro Evangelho.

4 – O Salvador Ganha a Nossa Salvação (19.29–24.53).


Quando lemos o registro da vinda de Jesus, lindamente escrito por Lucas,
vemos como Ele cumpriu a missão que Ele mesmo anunciou (4.18,19). Vemos
como o Espírito do Senhor desceu sobre Ele. Vemos como Ele pregou as boas
novas aos pobres, anunciando a liberdade aos presos, restaurando a vista aos
cegos, libertando os oprimidos e proclamando o ano do favor divino. Quão
extraordinário Salvador.

17. JOÃO: EVANGELHO DO FILHO DE DEUS


Para muitos, o Evangelho de João é o livro preferido das Escrituras.
Reveste-se de uma qualidade única de profundeza e beleza espiritual; sua
mensagem arrebata a imaginação e desafia o coração de maneira poderosa e
compelidora. Foi escrito pelo apóstolo João, “o discípulo a quem Jesus
amava”, e põe o leitor em intima comunhão com o Mestre, tal como
experimentaram aqueles que andavam mais próximos do Senhor. Quando

FATECE – Curso de Educação a Distância 73


Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
estudarmos as verdades ali apresentadas, que nossa comunhão com Jesus se
torne ainda mais íntima e rica, como resultado.
Autor
A maioria dos eruditos da Bíblia concorda que João, o apóstolo, foi autor
do quarto Evangelho. Ele foi um dos doze discípulos de Jesus. Juntamente com
Pedro e Tiago, ele fazia parte do “círculo Intimo” dos mais chegados
associados do Senhor (Mc 5.37; 9.2; 14.33). Ele era “aquele a quem Jesus
amava” (Jo 13.23; 19.26; 20.2; 21.7,20). Tiago era irmão de João, e ambos
eram filhos de Zebedeu(Mt 4.21). João foi testemunha ocular dos
acontecimentos por ele registrados (Jo 1.14; 19.35 e 21.24).
Ênfase
O próprio João declarou claramente o propósito que tivera ao escrever
seu relato da vida de Cristo.
“Jesus, pois operou também em presença de seus discípulos muitos
outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes porém foram escritos
para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo,
tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31,31).
Vemos então, que João selecionou cuidadosamente a sua matéria com um
alvo específico em mente: Levar as pessoas a crerem que Jesus é o Filho de
Deu A matéria escolhida por João enfatizava as obras e as palavras de Deus.
Juntos, esses fatores formam evidências convincentes de que Jesus era aquilo
que afirmava ser.
João também mostrou como o povo reagiu a Jesus Cristo; a reação deles
ilustra o seu tema central da fé. João dava atenção às obras realizadas por
Jesus. As narrativas de sete milagres estão incluídas no seu Evangelho. João
denominou esses milagres de sinais, pois mostram coletivamente a completa
autoridade de Jesus como o Filho de Deus, salientando inequivocamente a sua
deidade.
Além desses sete sinais, há mais um, o maior de todos: a ressurreição de
Jesus dentre os mortos (Jo 20 e 21). Nas palavras do apóstolo Paulo, Jesus foi
“... designado Filho de Deus em poder... pela ressurreição dos mortos...” (Rm
1.4). Esse acontecimento foi a prova coroadora de que Jesus é o Filho de Deus.
João também salientou as Palavras de Jesus. A maioria dos discursos
por ele registrados compõem-se de aspectos de sua pessoa, destacados pelo
próprio Jesus. Entre esses estão as sete grandes passagens do “eu sou”, que são
as seguintes:
FATECE – Curso de Educação a Distância 74
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
1 – “Eu sou o pão da vida...” 6.35
2 – “Eu sou a luz do mundo...” 8.12; 9.5
3 – “Antes que Abraão existisse, eu sou...” 8.58
4 – “Eu sou o bom pastor...” 10.11
5 – “Eu sou a ressurreição e a vida...” 11.25
6 – “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida...” 14.6
7 – “Eu sou a videira verdadeira...” 15.1
Muitos eruditos da Bíblia encaram essas declarações de Jesus como
expansões do trecho de Êxodo 3.14, onde Deus diz a Moisés que seu nome era
“eu sou”. Elas mostram não somente a deidade de Cristo (8.58), mas também
mostram como Ele revelou o Pai.
Além dessas passagens, João incluiu muitos outros ensinamentos
importantes, como aqueles a respeito do novo nascimento (Jo 3), a água viva
(Jo 4), a autoridade do Filho (Jo 5) e a obra do Espírito Santo (Jo 7,14–16). Ele
também registrou a oração de Jesus acerca de si mesmo e de seus discípulos (Jo
17). Essa oração ilumina ainda mais a sua natureza, a sua unidade com o Pai, e
o seu propósito eterno para todos aqueles que nele confiarem.
Juntamente com essa ênfase sobre as palavras e as obras de Jesus, João
pôs em destaque as entrevistas pessoais de Jesus com diversas pessoas,
homens e mulheres. João mostrou como Jesus os desafiou para crerem nele.
Essas entrevistas relatadas por João são vívidas ilustrações do tema principal
do Evangelho de João – a fé em Jesus Cristo.
Quando alguém examina o registro de João sobre as palavras, as obras e
as entrevistas pessoais de Jesus, não pode ter dúvidas sobre a razão dele ter
escrito seu testemunho: expor a verdade que a fé em Jesus, o filho de Deus, é a
única e essencial chave da própria vida (Jo 3.36).
Característica Especial
O Evangelho de João tem muitas características especiais. Dentre essas,
examinaremos três que são as mais notáveis: sua relação com os Evangelhos
sinópticos, seu vocabulário e seu ponto de vista distinto de Cristo.
Relação com os Sinópticos
Ao compararmos o Evangelho de João com os evangelhos sinópticos,
ficamos impressionados com o contraste. Apesar das distinções existentes entre
eles, os três Evangelhos sinópticos ainda se parecem muito mais entre si do que
qualquer deles se assemelha com o Evangelho de João. Por exemplo, o
ministério de Jesus na Galiléia geralmente ocupa o maior volume dos
FATECE – Curso de Educação a Distância 75
Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança
Evangelhos sinópticos. Porém, o ministério de Jesus na Judéia recebe atenção
quase da parte de João. Com a exceção dos dois milagres registrado em João
6.1–24 e a narrativa do julgamento, da morte e da ressurreição de Jesus, o
conteúdo do Evangelho de João não aparece nos outros Evangelhos.
Porém, apesar desses contrastes, há alguns cios importantes entre João e
os sinópticos. Apesar de que a maior parte do material de João é diferente do
material dos Evangelhos sinópticos, nada desse material se contradiz. Pelo
contrário, geralmente suplementa e provê o pano-de-fundo dos eventos que
descrevem. Por exemplo, mediante um estudo de Mateus, Marcos e Lucas,
devemos concluir que o ministério de Jesus durou um pouco mais de um ano.
Mas João menciona três festas da Páscoa (e talvez quatro), festividades estas
que ocorriam apenas uma vez em cada ano. Assim, sabemos que o ministério
de Jesus ocupou, pelo menos, três anos. A informação dada por João, pois,
ilumina o ponto-de-vista sinóptico da vida de Jesus, fazendo-o ainda de outras
maneiras.
Temos verificado que João tinha um certo alvo em mente, ao escrever a
sua narrativa. É possível que quando ele escreveu o seu Evangelho, os três
Evangelhos sinópticos já estivessem em circulação entre os cristãos da época.
Sem importar se isso foi assim ou não, o fato é que ele não os duplicou.
Conforme o Espírito Santo o orientou, ele se valeu de sua larga e rica
experiência como o discípulo a quem Jesus amava, e apresentou sua percepção
ímpar de Cristo e de sua missão. Hoje em dia, beneficiamo-nos com os
profundos discernimentos e com as verdades que Deus lhe deu para
compartilhá-los conosco.
Vocabulário
Certos termos são usados com maior freqüência no Evangelho de João do
que nos Evangelhos sinópticos. Entre esses alistamos os seguintes:
Permanecer, crer, festa, judeus, luz, vida e viver, amor e amar, verdade e
verdadeiro, testemunha e mundo. Esses termos têm sentido especiais.
Precisam ser cuidadosamente estudados, pois com freqüência provêem a chave
para os pensamentos expressos por João.
Ponto-de-Vista Distinto de Cristo
Todos os quatro Evangelhos apresentam Cristo como o Filho de Deus.
Porém, foi João quem declarou o fato mediante a linguagem mais franca
dizendo que Jesus é Deus e sempre existiu (Jo 1.1, 14; 8.58; 17.5). João
começou a sua narrativa não “a parte do” começo, mas “no começo”. Para

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João, Belém e a manjedoura não assinalou o começo da existência de Cristo,
mas apenas o tempo em que Ele se tornou “carne”.
O evangelho de João também revela outra verdade acerca da Cristo. João
percebeu que Ele era o Verbo. Entre os escritos bíblicos, João foi o único a usar
este termo em alusão a Jesus. conforme seus leitores o entendiam, a palavra
“verbo” tinha diversas associações. No seu uso ordinário, salientava os meios
mediante os quais os homens se comunicam uns com os outros. Para os judeus,
“o Verbo de Deus”, ou “a Palavra de Deus”, era uma expressão familiar,
encontrada no Antigo Testamento (Sl 33.6). Alguns dentre os judeus aplicavam
essa expressão ao Messias que viria. Para os gregos, porém, significava a
manifestação divina da razão. João falou de todos esses significados quando
asseverou ousadamente que Jesus era o Verbo de Deus. Dessa maneira
mostrou, tanto para gregos quanto para judeus, que Jesus e Deus comunicando-
se com os homens, como a plena expressão de sua razão, vontade e propósito,
feita de um modo que o homem fosse capaz de entendê-los.
O conteúdo
Quando você estiver lendo o Evangelho de João, observe como o tema
principal da crença transparece do começo ao fim. Note também como ele
descreve o tipo de relacionamento entre Jesus e seu Pai. Conforme você já
descobriu, esse Evangelho é sem igual em muitos particulares. Ali Jesus
destaca-se em sua glória como o único e exclusivo Filho de Deus (1.14), o
único que oferece a vida eterna a todos quantos nele confiarem (3.16).

JOÃO: EVANGELHO DO RUMO DE DEUS

1 – O Filho de Deus é Revelado (1.1 – 51)

2 – O Filho de Deus é Aclamado (2.1–6.71)

3 – O Filho de Deus Sofre Oposição (7.1–12. 11)

4 – O Filho de Deus é Vindicado (12.–21.25)


O Evangelho de João mostra-nos a bela e ímpar relação que havia entre
Jesus e o Pai, em toda a sua vida terrena. Quando Ele estava orando defronte do
túmulo de Lázaro, olhou para cima e disse: “Pai. graças te dou por me
haveres ouvido. Eu bem sei que sempre ouves...” (Jo 11.41,42). Quão

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profunda confiança Ele tinha no Pai! E, por intermédio de Jesus, também
podemos manter comunhão com o Pai. João diz-nos que todos aqueles que
recebem Jesus e crêem em seu nome receberam o direito de “serem feitos
filhos de Deus” (Jo 1.12). Que glorioso privilégio!

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Introdução ao Novo Testamento, o Desvendar da Nova Aliança

BIBLIOGRAFIA

 LIVROS
Bancrof, E. H., Teologia Sistemática, 6o Ed., São Paulo – SP, Imprensa Batista
Regular, 1989, 378 p.
Bergstén, Eurico, Introdução à Teologia Sistemática, 1a Ed., Rio de Janeiro,
CPAD, 1999, 440 p.
Berkhof, L. Teologia Sistemática. Campinas, São Paulo. Luz para o Caminho,
1990. 791 p.
Boyer, Orlando S. Pequena Enciclopédia Bíblica. 8a Ed,. IBAD, São Paulo,
1985, 806p.

 COMENTÁRIOS
Manual Bíblico H. H. Halley
Um Comentário Abreviado da Bíblia, São Paulo, Vida Nova, 1970, 768 p.

 VERSÕES BÍBLICAS
Almeida Revista e Corrigida
Almeida Revista e Atualizada
Almeida Versão Revisada
Versão Contemporânea
A Bíblia de Jerusalém
A Bíblia na Linguagem de Hoje.

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