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1 Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária.Rua Gonçalves Dias nº 570. CEP 90130-060 Porto Alegre - RS
2 Departamento de Biologia, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de S. Paulo.
Av. Bandeirantes, 39000. CEP 14040-901 Ribeirão Preto, SP
INTRODUÇÃO
O Rio Grande do Sul apresenta 20 espécies nativas de abelhas sem ferrão registradas até o
momento (Wittmann & Hoffmann, 1990; Alves-dos Santos, 1999). Quatro delas estão
incluídas na lista de espécies ameaçadas, Melipona marginata obscurior, Melipona bicolor
schencki, Melipona quadrifasciata quadrifasciata e Plebeia wittmanni. Muitas delas são
praticamente desconhecidas para a Ciência, pouco estudadas até o momento. Entre elas se
destaca a guaraipo negra, Melipona bicolor schencki.
Nogueira-Neto (1997) chama esta abelha de guaraipo, distinguindo-a da guarupu, que seria
a forma amarela, a Melipona bicolor bicolor, que estudamos em S. Paulo. É uma abelha
tímida, que não sai de sua colméia se há barulhos ou vibrações nas redondezas. Os ninhos
naturais destas abelhas guaraipo são pouco conhecidos. Elas nidificam em ocos de árvores,
a maioria deles na base dos troncos das árvores. As entradas são crípticas, isto é, passam
desapercebidas.
Em 1975 Padre Moure publicou um trabalho sobre o nome correto destas abelhas, após
estudar os exemplares-tipo (aqueles exemplares nos quais se basearam as descrições das
espécies) existentes nos museus europeus. Visitando o Museu de História Natural de Paris,
Moure reviu os exemplares descritos pelo cientista Lepeletier, em 1836. Considerou que a
abelha conhecida então por Melipona nigra era na verdade a Melipona bicolor schencki.
Os meliponicultores e a guaraipo
Neste trabalho vamos falar da conservação das guaraipos por outro meliponicultor, também
apicultor, Sélvio de Macedo Carvalho.
As guaraipo são encontradas no Rio de Janeiro, Minas Gerais, S. Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul (Silveira et al., 2002).
Há alguns anos a equipe da Dra. Maria Cristina Arias, do Instituto de Biociências da USP,
vem trabalhando no estudo de populações de meliponíneos. Já estudaram com Plebeia
remota, Melipona quadrifasciata, Partamona, entre outras. A pesquisa sobre a Melipona
bicolor, a guaraipo, foi feita principalmente em 2004, mas ainda não está concluída, pois
precisamos de mais algumas amostras da guaraipo negra e de uma outra forma cinza
grafite, que ocorre na região de Prudentópolis, Paraná (vi esta abelha na casa do apicultor
Carlos Chociai). A presença de machos nas amostras é muito importante também, para as
questões da identificação. As abelhas são enviadas secas em uma caixinha de fósforo, por
exemplo, ou em um recipiente pequeno com álcool. Quem quiser colaborar com esta
pesquisa, favor enviar as amostras para a Coleção CEPANN, Rua do Matão, travessa 14,
número 321, CEP 05508-900, S. Paulo, aos cuidados de Isabel Alves dos Santos. Informações
necessárias; origem das colônias, nome do coletor e endereço
Tínhamos uma idéia de que todas as guaraipos do sul do Brasil eram negras, mas recebemos
indicações de que a outra forma amarelada ocorre também no Rio Grande do Sul. Com
auxílio de Sidia Witter da Fepagro, localizamos ninhos naturais de guaraipo negra na
propriedade do meliponicultor Sélvio de Macedo Carvalho, Fundos do Campo Alto, na vila
Bom Retiro, Cambará do Sul, Rio Grande do Sul.
Como não existem publicações no Estado sobre estes ninhos na natureza, desde janeiro de
2006 um trabalho de pesquisa relacionado ao tema está sendo desenvolvido pela FEPAGRO
(Sidia Witter-Freitas, Letícia Azambuja Lopes e Fernando Dias Kluwe), em parceria com a
USP (Vera Lúcia Imperatriz-Fonseca) e meliponicultores do Rio Grande do Sul. Inicialmente
estão sendo identificados alguns meliponicultores que tenham em suas propriedades a
abelha guaraipo. A equipe realizou excursões de estudo à propriedade do apicultor e
meliponicultor Sélvio de Macedo Carvalho para conhecer o seu trabalho. A propriedade, em
Cambará do Sul, é um fragmento de Mata de Araucária, com aproximadamente 250ha., de
grande valor para a conservação de espécies nativas. A área está com a família há mais de
70 anos. Segundo Sélvio, seu pai, Vilmar Dutra de Carvalho, praticava agricultura de
subsistência e pecuária. Conta que inicialmente cortavam-se muitos pinheiros na região,
mas aprendeu com seu pai, que não permitia a retirada de ninhos das árvores de sua
propriedade, a cuidar e respeitar as abelhas nativas, bem como a floresta. Nos passeios pelo
mato prestavam atenção aos ninhos que encontravam, observando as várias espécies de
abelhas que ocupavam sucessivamente os ocos das árvores e assim, acumularam
conhecimentos importantes sobre a vida dessas abelhas. De acordo com Sélvio, muitas vezes
a primeira espécie de abelha a ocupar o oco da árvore é a mirim (Plebeia emerina). Quando
os seus ninhos estiverem fracos, podem a seguir ser ocupados por mirim saiqui (Plebeia
saiqui) e, posteriormente por guaraipo. Onde morar provavelmente é um problema para
estas abelhas. O desmatamento tem sido apontado como um dos fatores responsáveis pela
inclusão da guaraipo na lista das espécies ameaçadas do Estado. O Sélvio, muitas vezes,
identifica ocos recém- formados que ainda não abriram para o exterior, através de
pequenas cicatrizes nos troncos das árvores (Figura 1) faz um buraco com arco de pua no
mesmo e disponibiliza locais para nidificação das abelhas, que muitas vezes é ocupado pela
guaraipo. É o meliponicultor ajudando a preservar uma espécie rara e importante.
A guaraipo negra encontra-se na lista da fauna ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul,
categoria vulnerável - (corre alto risco de extinção). As abelhas sem ferrão constituem um
conjunto de espécies cuja importância pode ser calculada, tanto pelo seu papel polinizador,
contribuindo na manutenção das comunidades vegetais e animais, como pela possibilidade
de utilização de seus produtos, tornando-se o sustentáculo econômico, cultural, social e
ecológico das populações rurais. Do ponto de vista ecológico, ajudam a preservar a
biodiversidade, pois são polinizadoras por excelência das plantas das matas. Além disso,
geram receita com a produção de mel sem que haja grandes investimentos. O manejo é
menos arriscado em relação ao da Apis mellifera (abelha de mel), e aconselhado como
atividade para as mulheres e adolescentes.
A conservação das abelhas sem ferrão depende de flores para o fornecimento de pólen,
néctar e resinas, bem como de árvores para construção dos ninhos. A maciça redução da
cobertura florestal do Estado devido à fragmentação dos ecossistemas que isola pequenas
populações, a substituição da vegetação nativa para expansão da agropecuária, a prática de
queimadas e o uso de agrotóxicos vêm ameaçando a sobrevivência dessas abelhas. O
desaparecimento de espécies de abelhas sem ferrão pelo desmatamento ou extrativismo
implica na diminuição de espécies vegetais importantes em nossos ecossistemas, pois as
plantas cujas flores são polinizadas pelas abelhas terão sua capacidade de produzir
sementes diminuída e em breve desaparecerão. Além disso, a meliponicultura traz, para a
região onde é praticada,
melhores frutos e maior
produção de sementes e o
declínio das populações de
abelhas pode acarretar
queda na produtividade
agrícola. Isso desencadeia
um ciclo de desequilíbrio
ecológico destas espécies
inter-relacionadas.
Para preservação da
guaraipo negra, sugerimos
que as árvores preferidas
para construção dos seus
ninhos sejam incluídas em
programas de
reflorestamento e em listas
de compensação ecológica.
A meliponicultura no Rio
Grande do Sul
A história da
meliponicultura no Rio
Grande do Sul teve inicio há
alguns anos. Em função do
grande interesse pelo tema
no estado, em 2001 a
Federação Apícola do Rio
Grande do Sul promoveu o
1º Encontro Estadual de
Meliponicultores paralelo Cicatriz em árvore, sinalizando a presença de oco.
O meliponicultor Selvio usa um arco de pua
ao Seminário Estadual de
para providenciar um orifício próximo `a cicatriz
Apicultura. O evento passou e o oco pode ser ocupado por abelhas.
a se repetir anualmente. O
público participante cresce muito a cada evento. Em julho de 2006 acontecerá em Ijuí/RS o V
Encontro Estadual de Meliponicultores.
Uma linha de pesquisa sobre as abelhas nativas do Estado do Rio Grande do Sul surgiu em
1984, sob a orientação do Professor Dieter Wittmann, hoje diretor de importante Instituto
sobre pesquisas com abelhas em Bonn, Alemanha. Desde então, foram disponibilizados
muitos conhecimentos sobre as abelhas sem ferrão, referentes a biologia, ecologia, manejo
etc. Desde então, vários trabalhos têm sido realizados sobre as abelhas sem ferrão,
referentes a biologia, ecologia, manejo, etc. Atualmente pesquisadores FEPAGRO (Sidia
Witter) e PUCRS (Betina Blochtein) estão dando continuidade a esses trabalhos. Mas muito
ainda precisa ser feito e a parceria com o meliponicultor é fundamental.
Agradecimentos
ALVES-DOS-SANTOS, I.
Abelhas e plantas melíferas
da mata atlântica, restinga e
dunas do litoral norte do
Estado do Rio Grande do
Sul. Revista Brasileira de
Entomologia, v. 43, n. 3/4, p.
191-223.1999.
FONTANA, C. S.; BENCKE, G. A.; REIS, R. E. Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção
do Rio grande do Sul. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003. 632p.
POR, F.D.; IMPERATRIZ-FONSECA, VL; LENCIONI. F. 2005. Biomas Brasileiros, uma história
natural ilustrada. Pensoft ed., Bulgaria, 208p.
WITTMANN, D.; HOFFMANN, M. Bees of Rio Grande do Sul, Southern Brazil Insecta,
Hymenoptera, Apoidea). Iheringia. Serie Zoologia, n.70, p. 17-43. 1990.