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Título Teoria e Prática da Narrativa Jurídica

Número de aulas 1
por semana
Número de 1
semana de aula
Tema Estrutura das peças processuais e Teoria Tridimensional do Direito: contribuição das
disciplinas de Português Jurídico.
Objetivos O aluno deverá ser capaz de:
- Apresentar a ementa da disciplina e o Plano de Curso;
- Reconhecer a importância da disciplina para a atividade jurídica em geral;
- Identificar as partes que compõem algumas das peças processuais e relacioná-las às
disciplinas de Português Jurídico, pelo viés da Teoria Tridimensional do Direito.
- Compreender a relevância dos fatos do caso concreto para a aplicação do direito objetivo.
Estrutura de 1. Apresentação da ementa da disciplina
conteúdo 2. Estrutura textual das peças processuais
2.1. Parte narrativa
2.2. Parte argumentativa
2.3. Parte injuntiva
3. Teoria Tridimensional do Direito
Contribuição das disciplinas de Português Jurídico para a produção de peças processuais
Procedimentos de Ao longo do semestre, trabalharemos, preferencialmente, casos da área cível,
ensino entretanto, para a primeira aula, escolhemos um tema de direito penal porque nossos
alunos já estudam essa disciplina e isso facilitaria uma primeira interação com eles. A
intenção é apresentar o programa de nossas disciplinas de forma inovadora e inteligente,
sem a previsível organização linear da “lista de conteúdos” e da ementa.
O principal objetivo da estratégia é criar um contexto de persuasão sobre a
importância das disciplinas de português jurídico para a formação dos profissionais de
direito. Se julgar pertinente, leve textos que tratem da valorização do português jurídico na
atualidade.
Não pretendemos uma abordagem jurídica dos tipos penais relativos à ofensa ao bem
jurídico vida, mas a compreensão de que são os fatos do caso concreto que determinam a
necessidade de tantos tipos penais para tipificar a conduta “matar alguém”.
Recursos físicos Data show, retroprojetor, capítulos dos livros didáticos sugeridos na bibliografia básica,
textos variados e peças processuais disponíveis na internet.
Aplicação prática e Sabemos que uma das expectativas dos estudantes do Curso de Direito é iniciar,
teórica quanto antes, a produção das principais peças processuais, em especial a petição inicial. As
disciplinas Teoria e Prática da Narrativa Jurídica (segundo período), Teoria e Prática da
Argumentação Jurídica (terceiro período) e Teoria e Prática da Redação Jurídica (quarto
período) pretendem, juntas e progressivamente, ajudar você a desenvolver todas as
habilidades e competências necessárias à consecução dessa tarefa, em especial: a)
organização das idéias; b) seleção e combinação de informações; c) produção convincente
dos argumentos; d) identificação das características estruturais de cada peça; e) redação em
conformidade com a norma culta da língua etc.
Para isso, é necessário, em primeiro lugar, identificar a macroestrutura linguística da
peça, bem como os requisitos impostos pelo art. 282 do CPC.
Art. 282 do CPC – A petição inicial indicará:
Inciso I o juiz ou tribunal, a que é
dirigida;
Inciso II os nomes, prenomes,
estado civil, profissão,
domicílio e residência do
autor e do réu;
Inciso III o fato e os fundamentos
jurídicos do pedido;
Inciso IV o pedido, com as suas
especificações;
Inciso V o valor da causa;
Inciso VI as provas com que o autor
pretende demonstrar a
verdade dos fatos alegados;
Inciso VII o requerimento para a
citação do réu.

No mesmo sentido, vejamos quais os requisitos exigidos, por exemplo, para a


sentença.

Art. 458 do CPC – São requisitos essenciais da sentença:


Inciso I O relatório, que conterá os nomes das
partes, a suma do pedido e da resposta
do réu, bem como o registro das
principais ocorrências havidas no
andamento do processo;
Inciso II Os fundamentos, em que o juiz
analisará as questões de fato e de
direito;
Inciso III O dispositivo, em que o juiz resolverá as
questões, que as partes lhe
submeterem.

Esses dois documentos – bem como outros – mostram-nos que há uma regularidade
na organização das peças processuais: são indispensáveis a narrativa dos fatos importantes
da lide, a fundamentação de um ponto de vista e aplicação da norma, em forma de pedido,
decisão etc.
Não importa se a narrativa dos fatos será denominada “dos fatos” (petição inicial) ou
“relatório” (sentença, parecer, acórdão). Também não cabe, neste momento, nomear a
parte argumentativa como “do direito” (petição inicial) ou fundamentação (parecer).
Pretendemos apenas, nesta primeira aula, como já dissemos, que o estudante de Direito
perceba que as peças processuais seguem, independente de suas peculiaridades, uma
estrutura regular: narrar, fundamentar e pedir.
Essa estrutura não existe sem motivação. Uma proposta teórica,
internacionalmente conhecida, chamada Teoria Tridimensional do Direito, do jusfilósofo
brasileiro Miguel Reale, defende que o Direito compõe-se de três dimensões: FATO, VALOR e
NORMA. Assim:
Teoria Macroestrutura de algumas peças processuais
Tridimensional petição inicial parecer Sentença
FATO Dos fatos Relatório Relatório
Narrar os fatos importantes
VALOR Do direito Fundamentação Motivação
Fundamentar um ponto de vista
NORMA Do pedido Conclusão Dispositivo
Conclusão, na forma de pedido, decisão etc.

Como, então, a universidade pensou as disciplinas de Português Jurídico diante


dessa perspectiva? Adiante, uma síntese do que se pretende em cada matéria.
Em Teoria e Prática da Narrativa Jurídica (segundo período), serão estudadas com
profundidade todas as questões relativas à produção do texto jurídico narrativo, primeira
dimensão do direito, que consiste na exposição de todos os fatos importantes para a
adequada solução da lide.
Teoria e Prática da Argumentação Jurídica (terceiro período) terá como objeto
principal de estudo a Teoria da Argumentação, segundo a proposta de Chaïm Perelman,
oportunidade em que as técnicas e estratégias para a produção do texto jurídico-
argumentativo e a respectiva aplicação da norma serão minuciosamente analisadas. Por
meio dos tipos de argumento, e todos os demais recursos linguísticos e discursivos
disponíveis ao profissional do direito, o aluno será estimulado a defender as teses que julgar
adequadas.
Por fim, em Teoria e Prática da Redação Jurídica (quarto período), não mais
produziremos isoladamente as partes narrativa ou argumentativa, mas uma peça inteira.
Elegemos o parecer técnico-formal especialmente porque não será necessária capacidade
postulatória para redigi-lo, ou seja, mesmo não sendo ainda advogado, em princípio, já se
pode produzir esse documento com validade processual.

Motivado por essa explicação, leia os casos concretos que seguem e responda à
questão.

Caso concreto 1

O caso ocorreu em Teresópolis, Região Serrana do Rio de Janeiro, no ano de 2005.


Uma mulher de 36 anos, desempregada, estava casada com um mecânico, também
desempregado. Os dois moravam em um barraco de 10 metros quadrados, junto com seus
três filhos. O mais velho tinha seis anos de idade; o filho do meio, quatro; o caçula, um ano e
meio.
É importante mencionar que essa mulher, Marcela, estava gestando o quarto filho. No
mês de fevereiro daquele ano, em decorrência das fortes chuvas, um deslizamento de terra
arrastou, ladeira abaixo, o lar em que vivia essa família. A mãe conseguiu salvar os dois filhos
mais velhos, entretanto o caçula, ainda aprendendo a andar, não conseguiu sair a tempo.
Morreu soterrado. Por tudo o que aconteceu, Marcela entrou em trabalho de parto.
Chegou ao hospital público mais próximo e foi submetida a uma cesariana. Assim que
ouviu o choro do bebê, prematuro, pediu para segurá-lo um pouco no colo. A enfermeira o
permitiu. Marcela beijou a criança e jogou-a para trás. O menino caiu no chão, sofreu
traumatismo craniano e morreu.
Perguntada por que tomara aquela atitude, disse que não gostaria que seu filho
passasse por tudo o que os demais estavam passando: fome e miséria. Um exame realizado
no Instituto Médico Legal apontou que Marcela se encontrava em estado puerperal[1] no
momento em que matou o próprio filho.

Caso concreto 2
Este segundo caso ocorreu em São Paulo. A secretária Adriana Alves engravidou do
namorado e, sem saber explicar por qual motivo, não contou o fato para ele; também não
contou para mais ninguém. Seus pais, com quem morava, não sabiam de sua gravidez. Não
compartilhou esse segredo com amigas ou colegas de trabalho. Definitivamente, ninguém
conhecia a gestação de Adriana.
Com o passar dos meses, Adriana não recebeu qualquer tipo de acompanhamento ou
cuidado pré-natal especial; escondia a barriga com cintas e usava roupas largas. No mês de
dezembro de 2006, quando participava de uma festa de final de ano, no escritório em que
trabalha, sentiu-se mal e foi para casa.
Sua intenção era realizar o parto sozinha e jogar a criança em um rio próximo à sua
casa. Ocorre, porém, que o parto não transcorreu tranquilamente. Adriana teve
complicações e teve de puxar à força a criança. Depois, matou-a afogada na bacia de água
quente que separou para realizar o parto. Para se livrar da justiça, jogou a criança, já morta,
no rio, enrolada em um saco preto.
Muito debilitada, foi a um hospital buscar ajuda para si, mas não soube explicar o que
aconteceu. Após breve investigação da Polícia, Adriana confessou tudo o que fizera. Exames
comprovaram que ela não estava sob o estado puerperal.

Questão
a) Vimos que, em ambos os casos, as acusadas praticaram o mesmo fato (conduta),
qual seja, “matar alguém”. Entretanto, o Código Penal prevê diversos tipos penais
para essa conduta, a depender das circunstâncias como o fato foi praticado.
Produza uma tabela como a do exemplo abaixo. Indique, pelo menos, cinco
artigos.

ARTIGO TEXTO ESPECIFICIDADES


Art. 157. Subtrair coisa móvel O agente tem o dolo de
alheia, para si ou para outrem, roubar e culpa pela morte
mediante grave ameaça ou da vítima, ou seja,
violência a pessoa, ou depois desejava garantir a
de havê-la, por qualquer meio, subtração da coisa, mas
Art. 157, § 3º do reduzido à impossibilidade de não tinha intenção (dolo)
CP resistência: Pena - reclusão, de de matar. É o que se
(latrocínio) quatro a dez anos, e multa. denomina crime
§3º Se da violência resulta preterdoloso.
lesão corporal grave, a pena é
de reclusão, de sete a quinze
anos, além da multa; se
resulta morte, a reclusão é de
vinte a trinta anos, sem
prejuízo da multa.

b) Ao perceber que as circunstâncias como a conduta é praticada influenciam


substancialmente o crime imputado ao agente, o profissional do direito deve estar
atento para selecionar todas as informações que não podem deixar de constar de
sua exposição dos fatos. Identifique nos dois casos concretos quais informações
não podem deixar de ser narradas e as indique em tópicos.
c) Quais crimes praticaram Marcela e Adriana? Defenda seus pontos de vista em um
parágrafo.
[1] “Puerpério” e “estado puerperal” são coisas diferentes. Puerpério é o período que vai do
deslocamento e expulsão da placenta à volta do organismo materno às condições anteriores
à gravidez. Em outras palavras, é o espaço de tempo variável que vai do desprendimento da
placenta até a involução total do organismo materno às suas condições anteriores ao
processo de gestação (40 a 50 dias). Puerpério vem de puer (criança) e parere (parir).
Importante frisar que o puerpério não quer significar que dele deva surgir uma perturbação
psíquica.
O estado puerperal é um momento de influência por uma situação específica pós-parto,
interessando somente alguns dias após o parto (há aqueles que entendem que só pode
durar por algumas horas após o parto e outros que entendem que poderia perdurar por um
mês – divergência doutrinária). A medicina-legal tenta provar se a mulher era física ou
psiquicamente normal, durante toda a sua vida, ou se a reação ocorreu somente naquele
momento. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_puerperal>. Acesso em: 09
de março de 2008.
Avaliação A letra A pretende que o aluno faça uma pesquisa na parte especial do Código Penal (art.
121 e seguintes) e identifique alguns dos tipos penais que tratam da ofensa à vida (“matar
alguém”). A título de exemplo, temos o homicídio simples (art. 121 do CP), o homicídio
privilegiado (art. 121, § 1º do CP), o homicídio qualificado (art. 121, § 2º do CP), o homicídio
culposo (art. 121, § 3º do CP), instigação ao suicídio (art. 122 do CP), infanticídio (art. 123 do
CP) etc.
A letra B pretende que o aluno perceba que as duas mataram o próprio filho logo após o
parto, mas uma estava sob o domínio do estado puerperal e a outra não. Ademais, uma
tinha passado por trauma relevante momentos antes da conduta, enquanto a outra não
soube justificar o porquê de seu ato.
Na questão C, pode-se dizer que a conduta observada no caso concreto 1 foi o infanticídio
(art. 123 do CP); a do caso concreto 2, homicídio privilegiado, doloso, qualificado, a
depender da interpretação e da fundamentação.
Situação Em Elaboração
Considerações
adicionais
Plano de ensino

Título Teoria e Prática da Narrativa Jurídica


Número de aulas por 1
semana
Número de semana de 2
aula
Tema Gênero e tipologia textuais nas peças processuais.
Objetivos O aluno deverá ser capaz de:
- Reconhecer as peças processuais como “gênero textual” distinto;
- Identificar os tipos textuais narrativo, descrito, dissertativo argumentativo e
injuntivo nas peças processuais;
- Compreender a interdependência desses tipos textuais e qual a sua contribuição
para a competência redacional das peças processuais.
Estrutura de conteúdo 1. Gênero textual
2. Tipologia textual
2.1. Texto narrativo
2.2. Texto descritivo
2.3. Texto argumentativo
2.4. Texto injuntivo
3. Peças processuais e utilização dos diversos tipos textuais
Procedimentos de ensino Recomendamos ao professor que explique aos alunos cada um dos tipos textuais e
aplique esse conteúdo a diversas peças processuais. Seria interessante utilizar
modelos de peças disponíveis na Internet ou em manuais de redação jurídica.
Pedimos, porém, que seja evitada a explicação pela aula expositiva clássica. Não
podemos desconsiderar que a universidade adotou a metodologia do caso concreto
em que o conteúdo pertinente à aula deve ser progressivamente apresentado à
medida que a análise dos casos concretos/fragmentos de texto vai se desenvolvendo.
Recursos físicos Data show, retroprojetor, capítulos dos livros didáticos sugeridos na bibliografia
básica, textos variados e peças processuais disponíveis na internet.
Aplicação prática e No Direito, é de grande relevância o que se denomina tipologia textual:
teórica narração, descrição, dissertação. O que torna essa questão de natureza textual
importante para o direito é sua utilização na produção de peças processuais como a
petição inicial, que apresenta diferentes tipos de texto, a um só tempo. Para melhor
compreender essa afirmação, observe o esquema da petição inicial e perceba como
essa peça pertence a um tipo textual híbrido do discurso jurídico, o que exige do
profissional do direito o domínio pleno desse conteúdo.

INSERIR AQUI O ANEXO 1


EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA
___ VARA ___ DA COMARCA ___

Qualificação das partes

Dos fatos
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________

Do direito
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________

Do pedido
1- __________________________;
2- __________________________;
3- __________________________.

Das provas

Do valor da causa

Nesses termos,
Pede deferimento.

Local, data e assinatura.


Questão 1
Identifique a tipologia textual predominante em cada um dos fragmentos
listados e justifique sua resposta com elementos do próprio texto.

Fragmento 1
O apelado moveu Ação de Execução por Quantia Certa em face dos ora
apelantes, fundando-se na existência de um contrato de locação firmado com
Antônio Claudio (autos em apenso).
Em tal ação, consta uma planilha de débitos em que se encontram
discriminados os valores supostamente devidos pelos apelantes, planilha essa que
será adiante questionada.
Existem relevantes pontos que não podem ser deixados à margem da
apreciação deste D. Juízo:
O apelado é possuidor do contrato de locação acima aludido. Tal contrato, que
teve à época de sua assinatura os apelantes como garantidores, foi celebrado por
prazo determinado, iniciado em 11/01/2007 e findo e 11/01/2008.
Durante o prazo de vigência do referido contrato, os aluguéis e demais
encargos da locação vinham sendo quitados pontualmente pelo locatário, sempre
sob a vigilância de perto dos fiadores, ora apelantes, que sempre foram diligentes em
acompanhar o cumprimento de uma obrigação pela qual respondiam solidariamente.
(Disponível em: http://www.uj.com.br/publicacoes/pecas/1427/APELACAO.
Acesso em: 10 de dezembro de 2010)

Fragmento 2
O "rol familiar" constante da Lex Fundamentalis brasileira não é exaustivo. O
legislador se limitou a citar expressamente as hipóteses mais usuais, como a família
monoparental e a união estável entre homem e mulher. Todavia, a tônica da
proteção não se encontra mais no matrimônio, mas sim na família. O afeto terminou
por ser inserido no âmbito de proteção jurídica. Como afirma Zeno Veloso, "num
único dispositivo o constituinte espancou séculos de hipocrisia e preconceito".
Dessa forma, mais uma vez, deve-se dizer que o panorama constitucional não
deve ser tido como taxativo, mas sim exemplificativo. Assim, o caput do art. 226 da
Carta Magna brasileira deve ser vislumbrado como cláusula geral de inclusão,
devendo-se impedir a exclusão de qualquer entidade que ateste os pressupostos de
ostensibilidade, estabilidade e afetividade.
Para além disso, o Direito das Famílias possui o escopo primordial de proteger
toda e qualquer família. As uniões homoafetivas, para além de não serem proibidas
no ordenamento brasileiro, estão consagradas dentro do conceito de entidade
familiar, por lei infraconstitucional.
(Disponível em: http://jus.uol.com.br/revista/texto/17988/a-guarda-
compartilhada-e-as-familias-homoafetivas). Acesso em: 10 de dezembro de 2010.

Fragmento 3
Uma pessoa trafegava com sua moto em alta velocidade por uma avenida, a
mais ou menos 100 km/h. Essa avenida fica dentro de um bairro movimentado e
cheio de sinais. O condutor estava drogado e totalmente alcoolizado, sem qualquer
condição de discernir e reagir a eventos que ocorressem na pista.
(Disponível em: http://forum.jus.uol.com.br/42825/acidente-de-moto-urgente/.
Acesso em: 10 de dezembro de 2010).

Fragmento 4
"De acordo com a inicial de acusação, ao amanhecer, o grupo passou pela
parada de ônibus onde dormia a vítima. Deliberaram atear-lhe fogo, para o que
adquiriram dois litros de combustível em um posto de abastecimento. Retornaram ao
local e enquanto Eron e Gutemberg despejavam líquido inflamável sobre a vítima, os
demais atearam fogo, evadindo-se a seguir.
Três qualificadoras foram descritas na denúncia: o motivo torpe porque os
denunciados teriam agido para se divertir com a cena de um ser humano em chamas,
o meio cruel, em virtude de ter sido a morte provocada por fogo e uso de recurso
que impossibilitasse a defesa da vítima, que foi atacada enquanto dormia.
A inicial, que foi recebida por despacho de 28 de abril de 1997, veio
acompanhada do inquérito policial instaurado na 1ª Delegacia Policial. Do caderno
informativo constam, de relevantes, o auto de prisão em flagrante de fls. 08/22, os
boletins de vida pregressa de fls. 43 a 45 e o relatório final de fls. 131/134.
Posteriormente vieram aos autos o laudo cadavérico de fls. 146 e seguintes, o laudo
de exame de local e de veículo de fls. 172/185, o exame em substância combustível
de fls. 186/191, o termo de restituição de fls. 247 e a continuação do laudo
cadavérico, que está a fls. 509.
O Ministério Público requereu a prisão preventiva dos indiciados. A prisão em
flagrante foi relaxada, não configurada a hipótese de quase flagrância, por não ter
havido perseguição, tendo sido os réus localizados em virtude de diligências policiais.
[...]
(Disponível em: http://jus.uol.com.br/revista/texto/16291/o-caso-do-indio-pataxo
-queimado-em-brasilia. Acesso em: 10 de dezembro de 2010)

Fragmento 5
O Assédio moral, ou seja, a exposição prolongada e repetitiva do trabalhador a
situações humilhantes e vexatórias no trabalho, atenta contra a sua dignidade e
integridade psíquica ou física. De modo que é indenizável, no plano patrimonial e
moral, além de permitir a resolução do contrato ("rescisão indireta"), o afastamento
por doença de trabalho e, por fim, quando relacionado à demissão ou dispensa do
obreiro, a sua reintegração no emprego por nulidade absoluta do ato jurídico.
(Disponível em: http://jus.uol.com.br/revista/texto/14748/assedio-moral-e-seus-
efeitos-juridicos. Acesso em: 10 de dezembro de 2010)

Fragmento 6
Segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra "assédio"
significa "insistência impertinente, perseguição, sugestão ou pretensão constantes
em relação a alguém". [...]
Segundo a médica Margarida Barreto, médica do trabalho e ginecologista,
assédio moral no trabalho é "a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a
situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a
jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações
hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas,
relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um
ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de
trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego".
(Disponível em: http://jus.uol.com.br/revista/texto/7767/identificando-o-assedio-
moral-no-trabalho. Acesso em: 10 de dezembro de 2010).

Questão 2
Acesse o site do STJ e transcreva trecho de um voto em que a narração está a
serviço da argumentação e outro em que a descrição está a serviço da narração.

Avaliação Questão 1
Fragmento 1: texto narrativo predominante.
Fragmento 2: texto dissertativo argumentativo predominante.
Fragmento 3: texto descritivo predominante.
Fragmento 4: texto narrativo predominante.
Fragmento 5: texto dissertativo argumentativo predominante.
Fragmento 6: texto descritivo predominante.

Questão 2
Resposta dependente da pesquisa. O aluno deverá perceber que um texto raramente
é puro quanto à tipologia. Os tipos de textos se confundem em uma mesma
produção textual. Deve-se falar sempre em predominância deste ou daquele tipo.
Situação Em Elaboração
Considerações adicionais
Plano de ensino
Anexos Anexo 1.docx

Título Teoria e Prática da Narrativa Jurídica


Número de aulas por 1
semana
Número de semana de aula 3
Tema Narrativa jurídica simples e narrativa jurídica valorada.
Objetivos O aluno deverá ser capaz de:
- Distinguir a narrativa jurídica simples da narrativa jurídica valorada;
- Identificar as características que marcam esses dois tipos de narrativa;
- Compreender a relação entre o tipo de narrativa e a peça processual produzida;
- Conhecer as principais características da narrativa jurídica.
Estrutura de conteúdo 1. Algumas características da narrativa jurídica
1.1. Impessoalidade
1.2. Verbos no passado
1.3. Paragrafação
1.4. Elementos constitutivos da demanda (Quem quer? O quê? De quem? Por
quê?)
1.5. Correta identificação do fato gerador
2. Narrativa jurídica simples
3. Narrativa jurídica valorada
4. A construção de versões
Procedimentos de ensino Recomendamos a aula dialogada como procedimento de ensino. Os
elementos da narrativa forense e a organização cronológica dos fatos serão objeto
de estudo de outra semana de aula.
É importante que o aluno entenda que não é a peça processual que se mostra
imparcial ou valorada, mas a sua narrativa. Os documentos produzidos pelos
advogados, por exemplo, possuem narrativas valoradas, enquanto as narrativas
de sentenças, pareceres e acórdãos são imparciais. Seria interessante se o
professor pudesse mostrar fragmentos de narrativas de diversas peças e comentá-
los. Não abordaremos todas as características da narrativa nesta aula, a fim de
que cada conteúdo seja desenvolvido com profundidade e consistência.
Recursos físicos Data show, retroprojetor, capítulos dos livros didáticos sugeridos na bibliografia
básica, textos variados e peças processuais disponíveis na internet.
Aplicação prática e teórica Como vimos anteriormente, as peças processuais têm um denominador
comum: precisam, em primeiro lugar, narrar os fatos importantes do caso
concreto, tendo em vista que o reconhecimento de um direito passa pela análise
do fato gerador do conflito e das circunstâncias em que ocorreu. Ainda assim, vale
dizer que essa narrativa será imparcial ou parcial, podendo ser tratada como
simples ou valorada, a depender da peça que se pretende redigir.
Pode-se entender, portanto, que valorizar ou não palavras e expressões
merece atenção acurada, pois poderá influenciar na compreensão e persuasão do
auditório.[1] Essa valoração das informações depende dos mecanismos de
controle social que influenciam a compreensão do fato jurídico.
É preciso lembrar que são diferentes os objetivos de cada operador do
direito; sendo assim, o representante de uma parte envolvida não poderá narrar
os fatos de um caso concreto com a mesma versão da parte contrária. Por conta
disso, não se poderia dizer que todas as narrativas presentes no discurso jurídico
são idênticas no formato e no objetivo, visto que dependem da intencionalidade
de cada um.

NARRATIVA SIMPLES DOS FATOS NARRATIVA VALORADA DOS FATOS


É uma narrativa sem compromisso de É uma narrativa marcada pelo
representar qualquer das partes. Deve
compromisso de expor os fatos de
apresentar todo e qualquer fato acordo com a versão da parte que se
importante para a compreensão da representa em juízo. Por essa razão,
lide, de forma imparcial. apresenta o pedido (pretensão da parte
autora) e recorre a modalizadores.
Sugerimos iniciar por “trata-se de Sugerimos iniciar por “Fulano ajuizou
questão sobre...” ação de ... em face de Beltrano, na qual
pleiteia ...”

Para o exercício desta semana, recorremos a um trecho de importante


romance da literatura jurídica – Em segredo de Justiça[2] – cujo enredo versa
sobre o possível assédio sexual praticado por um conhecido advogado carioca
contra sua jovem secretária. Sugerimos a leitura do livro.

Leiamos a narrativa extraída desse romance.

1- A autora, conforme se verifica de sua própria qualificação, detém o grau


de bacharel em administração de empresas.
2- Esse diploma foi conquistado não sem esforço, melhor se diria até, com
grande sacrifício. Órfã de pai aos nove anos de idade, mais velha de três irmãs,
teve a autora muito cedo que começar a trabalhar, para ajudar sua mãe no
orçamento doméstico; ainda adolescente, menor de idade, aceitava pequenas
tarefas remuneradas, posando para comerciais de televisão, ocasionalmente
desempenhando pequenos papéis dramáticos em telenovelas.
3 - Terminado o curso colegial, procurou e encontrou emprego estável, indo
trabalhar como secretária em conhecida empresa industrial.
4- Foi progredindo em suas funções e logo, mercê de seu esforço e
competência, já atendia a um dos mais graduados diretores da empresa.
5- Trabalhava há algum tempo, quando, desejosa de ter formação superior,
ingressou, após passar no concurso vestibular, na faculdade de administração.
6- Foram mais quatro anos e meio de luta árdua e a autora, trabalhando
durante o dia e estudando. à noite, conseguiu finalmente o ambicionado diploma.
7- Faltava-lhe agora trabalhar na profissão que escolhera e para a qual se
capacitara. Era, porém, uma opção difícil. Como secretária, era uma profissional
experiente, tendo atingido o topo da carreira; como administradora, tinha um
diploma de curso superior completo, mas nenhuma experiência. Onde quer que
fosse trabalhar, provavelmente deveria começar com uma remuneração inferior
àquela que auferia na empresa industrial.
8- Uma tarde, a autora foi procurada por seu então chefe, Sr. Horácio de
Melo Alencar, que lhe perguntou se ela gostaria de ir trabalhar como
administradora em um escritório de advocacia, por um salário igual ao que então
percebia como secretária.
9- A autora, de início, manifestou surpresa, chegando a duvidar do que
julgava ser tanta sorte. O Sr. Alencar, porém, tranqüilizou-a: tinha um amigo - o Sr.
Ranulfo Azevedo - homem sério, advogado conceituado, que procurava
justamente uma administradora profissional para seu escritório de advocacia.
10- Como se tratava de firma ainda pequena, não fazia questão o Sr.
Ranulfo de um ou de uma profissional experiente: queria alguém que tivesse um
diploma, bom senso, disposição para trabalhar, e, sobretudo, vontade de crescer
junto com a organização.
11- Lembra-se a autora de que, já naquela ocasião, comentara com o Sr.
Alencar que “pobre quando vê muita esmola, desconfia" e que estava achando a
oportunidade "boa demais para ser “verdade”.
12- O Sr. Alencar disse , contudo, que já tinha conversado a respeito com o
Sr. Ranulfo e que tinha sido, aliás, o próprio Sr. Ranulfo o primeiro a dizer que
estava procurando alguém para administrar seu escritório e que se manifestara
entusiasmado, ao saber que ela, autora, a secretária de seu amigo Alencar, tinha
recentemente se formado em administração.
13- O ex-chefe da autora chegou' até a acrescentar que fora o próprio Sr.
Ranulfo que, ao mesmo tempo em que elogiava os atributos físicos da autora,
perguntara quanto ela ganhava e pedira permissão ao Sr. Alencar para convidá-la
para trabalhar com ele, Ranulfo.
14- Por aí já se vê, desde o primeiro momento, quais fossem as intenções
do réu, misturando indevidamente, como qualificações para preencher o cargo
vago em sua empresa, dotes de beleza física e aptidões profissionais.
15- Permite-se a autora, nesse passo, a bem da precisão da narrativa dos
fatos, transcrever a expressão exata que teria sido usada pelo réu: de fato,
segundo o Sr. Alencar, seu amigo Ranulfo teria dito:

“_ você quer me dizer que sua secretária é formada em administração? Mas


ela é 'gostosa demais'! Você ia ficar muito chateado se eu convidasse ela para
trabalhar comigo?"

16- A frase desrespeitosa foi transmitida ipsis litteris à autora pelo Sr.
Alencar. A autora, porém, infelizmente, não a tomou devidamente em conta.
17- A oportunidade que se apresentava era excepcional: atendia
rigorosamente àquilo com que a autora vinha sonhando, desde que ingressara na
faculdade. O réu, além disso, era amigo de longa data do Sr. Alencar, um
profissional conhecido, muito bem sucedido na profissão, tinha reputação de
homem sério. Usara por certo apenas por troça, "de brincadeira”, em conversa
com um amigo, a expressão chula, mas certamente, em seu escritório, jamais
ousaria ultrapassar os limites do respeito e da conveniência.
18- Assim pensando, e encorajada por seu chefe, a autora aceitou a oferta
e, em fevereiro de 1990, foi contratada para o cargo de gerente administrativa da
firma: "Escritório de Advocacia Ranulfo Azevedo".
19- Os primeiros meses foram gratificantes. A autora dedicava-se com
afinco .às tarefas que lhe eram cometidas. Sua posição era especialmente.
delicada, cabendo-lhe gerenciar um grupo que incluía profissionais de nível
superior, sobre os quais não tinha qualquer ascendência hierárquica.
20- Mas a autora: parecia vencer o desafio: organizou novas rotinas, mudou
a decoração do ambiente, pôs em dia e modernizou a cobrança de honorários aos
clientes, imaginou e implantou métodos modernos e eficientes de administração.
21- Em verdade, a despeito de sua pouca idade, a autora logo se impôs no
ambiente de trabalho, ganhando o respeito e a consideração das cerca de trinta
pessoas que trabalhavam na firma, entre advogados, estagiários, secretárias e
funcionários.
22- O próprio réu, de início, parecia encantado, mais com a competência
profissional que com os alegados atributos físicos da autora, comportando-se
geralmente de forma respeitosa, formal,quase cerimoniosa.
23- A seriedade do réu, contudo, era apenas hipócrita máscara, atrás da
qual se escondia um verdadeiro e imoral sátiro, um autêntico maníaco sexual.
24- Essa faceta começou a ficar clara em uma ocasião muito marcante.
25- Ao final de junho, o Escritório de Advocacia Ranulfo Azevedo organizou,
como fazia todos os anos, uma convenção em um hotel fora da cidade.
26- Era reunião de dois dias, congregando advogados e estagiários e
respectivas famílias. Saíam todos do escritório em uma sexta-feira à tarde, em um
ônibus fretado. Durante todo o dia de sábado e na manhã de domingo os
advogados e estagiários debatiam temas profissionais, ligados à gestão do
escritório ou a assuntos propriamente jurídicos. As noites de sexta-feira e de
sábado, porém, eram puramente sociais, dedicadas à confraternização.
27- A autora foi convidada para o seminário. De início, teve dúvidas em
aceitar o convite. Sabia que era a primeira vez que alguém, não diretamente
ligado às atividades profissionais da firma, participava de uma convenção daquele
tipo. Finalmente, face à insistência do réu, sentindo-se honrada, aceitou.
28- Não levou, porém, acompanhante. Nem a autora, nem o réu, cuja
esposa estava, na ocasião, ao que foi dito, em viagem ao exterior.
29- Na noite de sexta-feira houve de fato uma grande confraternização.
Todos conversavam animadamente; o jantar foi agradável e havia muita amizade
e alegria. Mas nada de anormal ou grave aconteceu e, por volta das onze horas da
noite, já todos estavam recolhidos.
30- Aconteceu, isto sim, na noite de sábado. Nessa noite, após o jantar, um
conjunto tocava música de dança. Sem acompanhante, o réu tirou a autora várias
vezes para dançar. À medida que a noite se desenvolvia, cada vez mais procurava
o réu a proximidade corporal com a autora.
31- Os outros casais aos poucos iam se recolhendo aos respectivos
aposentos até que, cerca de uma hora da madrugada, só restavam dançando
autora e réu, este último, a essa altura, completamente embriagado.
32- Tocado pelo álcool, o réu perdeu o controle de si mesmo e começou a
tentar seduzir a autora, com palavras eloqüentes ,carregadas de sensualidade
imoral.
33- A autora, é claro, resistiu sempre, até que, finalmente, desvencilhou-se
do réu e saiu andando apressadamente até seu quarto.
34- O réu, porém, seguiu-a e, com o pé, impediu-a de trancar a porta,
dizendo cruamente, em alto e bom som:

"- Esta noite eu vou dormir aqui com você".

35- O constrangimento era total e invencível., No silencioso hotel de fim de


semana, todos estavam recolhidos. O réu, completamente embriagado, deixava
desenganadamente claras suas lascivas intenções. Somente com grande
escândalo, do qual todos os demais hóspedes do hotel e, principalmente, os
profissionais integrantes do escritório por certo tomariam conhecimento, poderia
a autora ter resistido a suas lúbricas investidas.
36- Não restou à autora senão aceder e passar a noite com o réu. Enojada,
vencendo a repugnância, por várias vezes permitiu que ele a possuísse, sempre
para evitar o escândalo.
37- Manhã bem cedo, retirou-se o réu para seu próprio quarto e, algumas
horas depois, de cara lavada, como se nada tivesse acontecido, presidia a reunião
da manhã de domingo.
38- A autora cuidava que todo aquele pesadelo não duraria mais que uma
noite e que, novamente sóbrio, o réu se desculparia ou, pelo menos, tentaria
fingir que nada tinha acontecido.
39- De fato, foi assim que procedeu o réu durante todo o domingo, no
hotel, e na viagem de volta.
40- Na segunda-feira a autora apresentou-se ao trabalho, ainda
desconfiada, mas pronta a iniciar esforço consciente para relegar o episódio- a
merecido esquecimento. O emprego ainda era um bom emprego; a autora
precisava dele; agora mais que nunca, pois sua mãe, já idosa, estava prestes a
submeter-se a uma delicada intervenção cirúrgica. O réu, até ali, tinha sido um
bom patrão. Tudo afinal não passara de uma noite de bebedeira.
41- Ao final do expediente, porém, o réu chamou a autora, dizendo que
precisava conversar com ela e oferecendo uma carona. Cuidando, ingenuamente,
que receberia o tão esperado pedido de desculpas, a autora aceitou o convite.
42- Mais uma vez, porém, para sua desgraça, enganou-se. O réu desejava,
isto sim, reiterar que apreciara imenso a noite passada com ela, que insistia em
chamar “uma noite de amor"; que não tinha deixado de pensar nela um só minuto
e que queria repetir a experiência.
43- Agora não havia mais a desculpa da embriaguez. O réu estava sóbrio e
sua voz, firme, decidida; simplesmente, com estarrecedor cinismo e despudor,
convidava a autora a ser sua amante fixa, a ter “um caso" com ele.
44- A autora não sabia o que. fazer: aceitar não podia; não queria envolver-
se com o réu, um homem casado e, ao que se dizia, bem casado; por outro lado,
estava implícito no convite que a recusa significaria para a autora a demissão do
emprego. 45- Procurou a autora, em desespero, ganhar tempo. Pediu uma
semana para pensar, ao que o réu, surpreendentemente, respondeu que
esperaria...

"_ ...porque tinha certeza que ela ia ser 'boazinha' e aceitar sua proposta".

46- Durante uma semana, o réu nada disse. Manteve-se discreto,


absolutamente frio, com o cinismo impávido e arrogante do conquistador
profissional.
47- Não deixou, porém, de sinalizar, indireta e ofensivamente, as vantagens
que adviriam para a autora de aceitar suas propostas indecorosas; interessou-se
mais por seu trabalho, sugeriu a contratação de um auxiliar para suas funções,
acenou com a perspectiva de um aumento de seus vencimentos.
48- Passada a semana de prazo, voltou o réu novamente à carga de modo
direto: perto do final do expediente, como sete dias antes, ofereceu à autora uma
carona, que esta não teve como recusar.
49- Conversavam no trajeto; a autora, hesitante, relutante, com medo de
negar, sentindo-se coagida, ameaçada de perder o emprego. O réu, gentil, polido,
falsamente sedutor, mas deixando clara a opção: ou a autora se transformava em
sua amante fixa ou teria que procurar rapidamente um novo emprego.
50- A autora, nervosa, entretida na conversa difícil, não observava para
onde estavam se dirigindo. De repente, em uma curva, o réu saiu com o carro da
estrada e entrou em um motel, pedindo imediatamente a chave da suíte
presidencial.
51- Novamente o constrangimento; novamente o envolvimento, as
insinuações, a criação de situações sem saída. E novamente a autora é forçada a
aceder aos caprichos sexuais do réu.
52- F0rmava-se assim uma situação irreversível. autora e réu, agora, eram
amantes. Não havia como voltar atrás.
53- Irremediavelmente enredada pelo patrão, era agora prostituída,
obrigada a entregar seu corpo para não perder o emprego. Nada mais restava
agora à autora senão manter as aparências e associar-se ao réu no negregando
esforço de manter desconhecido o espúrio conúbio.
54- A rel.ação, vivida às ocultas, durou alguns meses. A autora, porém,
sofria muito; não saía mais de casa. Sua condição de amante fixa de um homem
casado, ainda por cima seu patrão, tornava-a uma pessoa amarga, dissimulada.
55- O único lugar que freqüentava, além do trabalho, era o motel, sempre o
mesmo, uma ou duas vezes por semana pelo menos, ao final do expediente. De
vez em quando, quando o réu tinha o.pretexto de alguma viagem, exigia que a
autora o acompanhasse ou que, antes ou depois, passasse com ele uma noite
inteira, o que a obrigava a inventar mentiras constrangedoras para sua velha mãe,
com quem ainda morava.
56- Mas não paravam aí os sofrimentos. Também por um outro particular a
situação era cruel: além de seus sonhos profissionais, a autora evidentemente
tinha também sonhos como mulher, os sonhos de toda moça: ter uma relação
afetiva normal, sólida, casar-se, gerar e criar os próprios filhos.
57- Aos poucos esses sonhos iam se frustrando. Como poderia ela,
sentindo-se como se sentia, uma prostituta, entregando-se a práticas sexuais com
um homem que não amava, conseguir desenvolver um outro tipo de relação, mais
puro e mais saudável?
58- Um dia, porém, apesar de tudo, a autora apaixonou-se por um rapaz
solteiro, um jovem médico, dois anos mais velho que ela, que conheceu na festa
de casamento de sua irmã.
59- Sua paixão, para sua felicidade ou desgraça, foi correspondida e logo
iniciava ela, cheia de esperanças, um namoro saudável.
60- Estava, porém, carregada de culpas. Não podia continuar nem mais um
minuto levando uma vida dupla: amando com pureza o jovem médico, ao mesmo
tempo em que mantinha com o patrão uma relação adúltera e pecaminosa. O
rompimento com o réu, nas circunstâncias, tornou-se inevitável.
61- O réu, porém, inconformado, insistia, prometia, ameaçava, gritava;
chegou mesmo, certa vez, a agredir fisicamente a autora.
62- Finalmente, deixou-a ir. Mas, no dia seguinte, como era de se esperar, a
autora estava demitida.
63- Não parou aí a baixeza do réu. Vingativo, contou ao namorado da
autora o caso que tivera com ela, mostrando-lhe, inclusive, fotografias suas em
posições obscenas.
64- A mãe da autora, por sua vez, mal recuperada da cirurgia a que se
submetera, não resistiu à sucessão de crises emocionais da filha e faleceu pouco
depois.
65- A própria autora adoeceu seriamente. Não conseguia arranjar emprego;
tinha vergonha. O réu, pessoa conhecida e influente na sociedade, cuja separação
recente era assunto das crônicas de intrigas, provavelmente denegrira seu nome.
66- Poderia a autora alongar-se ainda, por páginas e páginas no relato de
seus tormentos. Não o faz. Não é preciso. V. Exa. saberá, com sua sensibilidade de
magistrado, avaliar com precisão quão duros foram esses tempos de tormento e
humilhação que o comportamento reprovável do réu causou à autora.

Questões
a) Resuma, em até cinco linhas, qual a versão narrada pela parte autora.
b) Identifique, na transcrição desse segmento, pelo menos três informações que a
parte ré não teria narrado. Justifique por quê.
C) Identifique pelo menos dois recursos linguísticos que visem a valorar os fatos a
favor da parte autora.

[1] Barros, Orlando Mara. Comunicação & Oratória. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2001, p. 138.
[2] LACERDA, Gabriel. Em segredo de justiça. Rio de Janeiro: Xenon, 1995, p. 10-
20.
Avaliação Questão A: é importante que fique evidenciada a acusação de assédio sexual,
decorrente da hierarquia da relação de emprego.
Questões B e C: resposta livre, mas deve ser coerente e fundamentada.
Situação Em Elaboração
Considerações adicionais
Plano de ensino

Título Teoria e Prática da Narrativa Jurídica


Número de aulas por 1
semana
Número de semana de aula 4
Tema Modalização e questões gerais de norma culta aplicadas à linguagem jurídica.
Objetivos O aluno deverá ser capaz de:
- Aplicar, na produção do texto narrativo valorado, as estratégias modalizadoras;
- Compreender o fenômeno narrativo não como manipulação da verdade
(problema de ética), mas como construção de uma versão verossímil dos fatos;
- Rescrever fragmentos de textos jurídicos que apresentem problemas de norma
culta no tocante à linguagem forense.
Estrutura de conteúdo 1. Narrativa jurídica valorada
1.1. Uso de modalizadores
1.2. Verossimilhança e diferentes versões dos fatos
2. Português jurídico e questões gerais de norma culta
2.1. Uso dos conectores “eis que”, “de vez que”, “vez que” e “posto que”
2.2. Uso de “ocorre que” e “inobstante”
2.3. Pontuação nas orações subordinadas adjetivas e produção de sentido no
discurso jurídico
2.4. Regras gerais para o registro dos dispositivos legais
2.5. Uso de estrangeirismos
2.6. Uso de letras maiúsculas nos termos que se referem às partes (autor, réu,
requerente, requerido etc.)
2.7. Uso de “através de”
2.8. Uso de abreviações e a questão de “a fls.” e “de fls.”
2.9. Uso dos pronomes “esse” e “este”
2.10. Uso de “o mesmo” e “onde”
Procedimentos de ensino Aula dialogada.
Entendemos por modalizadores todas as marcas lingüísticas
disparadoras de raciocínio jurídico. Podem ser estratégias modalizadoras a seleção
vocabular, a adjetivação, a ordem dos elementos na frase, a entonação etc. É a
presença do modalizador que auxilia a produção da narrativa valorada; sua
ausência marca uma tendência de imparcialidade.
Esta aula o auxiliará no aprofundamento da identificação dos
modalizadores. Aproveite, ainda, para discutir o efeito discursivo que esses
elementos trazem para o texto em que são usados, mesmo porque, como vimos, a
subjetividade de seu uso favorece interpretações distintas de como serão
compreendidos pelo juiz.
Ressalte que há modalizadores mais evidentes e outros mais sutis e assinale que
os muito evidentes (“empresas inescrupulosas”, por exemplo) podem ser
prejudiciais à narrativa quando traduzem uma valoração pejorativa,
preconceituosa, agressiva para as partes. Lembre a seus alunos que as discussões
levadas ao judiciário devem ser pautadas pela ética e pelo profissionalismo; a lide
não pode ser uma “questão pessoal”.
Recursos físicos Data show, retroprojetor, capítulos dos livros didáticos sugeridos na bibliografia
básica, textos variados e peças processuais disponíveis na internet.
Aplicação prática e teórica A modalização consiste na atitude do falante em relação ao conteúdo
objetivo de sua fala. Um dos elementos discursivos mais empregados na
modalização consiste na conveniente seleção lexical. De fato, em muitos casos,
uma mesma realidade pode ser apresentada por vocábulos positivos, neutros ou
negativos, tal como ocorre em: sacrificar / matar / assassinar; compor / escrever /
rabiscar; cidadão / réu / assassino.
Dessa forma, uma leitura eficiente deve captar tanto as informações
explícitas quanto as implícitas. Portanto, um bom leitor deve ser capaz de “ler as
entrelinhas”, pois, se não o fizer, deixará escapar significados importantes, ou pior
ainda, concordará com idéias ou pontos de vista que rejeitaria se os percebesse.
Assim, para ser um bom produtor de texto jurídico, é necessário que o emissor
esteja apto a utilizar os recursos disponíveis na língua a serviço da modalização.
Não se trata de mentir ou manipular, o que constituiria verdadeiro
problema de ética profissional e humana. Trata-se, isso sim, de construir versões
verossímeis sobre como se desenvolveu a lide.
Leia o texto a seguir, disponível na Internet, sobre a ocupação, pela Polícia e
pelas Forças Armadas, do conjunto de favelas do alemão, no Rio de Janeiro, em
novembro de 2010.
ESPERAMOS ANSIOSAMENTE QUE, APÓS A INVASÃO POLICIAL,
O GOVERNO DO ESTADO ANUNCIE A INVASÃO SOCIAL
"Atenção moradores do Alemão e da Vila Cruzeiro, a partir de hoje iniciaremos a
construção de unidades hospitalares com medicos 24 horas, a construção de
escolas profissionalizantes e de incubadoras industriais para geração de
empregos; criaremos unidades de alfabetização e de formação em ensino
primário, o mesmo vale para as outras comunidades ‘pacificadas’"

Esperamos ansiosamente esse anúncio, que logicamente deveria ser dado em


seguida à ocupação. Afinal, fala-se muito nessa ação do poder do Estado. Que
tipo de poder? Afinal, o único poder do Estado é a força? Certamente tem o
poder também de promover a inclusão social que dê um pouco de esperança aos
que são obrigados a viver no morro!
(Adaptado de texto disponível em:
http://dineymonteiro.nireblog.com/post/2010/11/28/
comecou-a-invasao-do-alemao. Acesso em: 10 de dezembro de 2010)

Questão 1
Após a leitura do texto, faça uma análise das estratégias modalizadores que são
observadas.

Questão 2
Leia os fragmentos adiante e rescreva-os, adequando-os à norma culta da Língua
Portuguesa.

A) Os autos foram apensados aos da medida cautelar de sustação de protesto,


através do qual a autora logrou a sustação liminar do protesto.
B) Insta salientar que a informante Ana Buarque, secretária do demandante, não
narra qualquer humilhação que este tenha sofrido, até mesmo porque era a
depoente que ia ao 7º Ofício de Imóvel tentar resolver a pendência, ora sozinha,
ora em companhia da Dra. Maria dos Milagres.
C) A culpa, em sede penal, precisa ser demonstrada.
D) O advogado apelou, sob a alegação de que o magistrado desconsiderou os
documentos de fls. 30-34, os quais, por certo, comprovarão a obrigação do réu.
E) O consumidor, que é hipossuficiente, faz jus à inversão do ônus da prova.
F) É inadmissível inovar o pedido em sede de recurso, visto que não se pode
recorrer do que não foi objeto de discussão e decisão em primeira instância (RT
811/282).
G) A contestante opõe-se apenas a esse item: o pedido de renovação, pois
pretende a retomada para uso próprio, posto que seu objeto social é muito mais
amplo do que o da Autora.
H) Incumbia à autora provar os fatos, através de perícia, que deve ser
tempestivamente requerida ao magistrado.
I) Considerando que os meios de verificação das chamadas telefônicas são
informatizados e, inobstante suscetíveis de inúmeras falhas, não resta
configurada, in casu, a abusividade que ensejaria a devolução em dobro.
J) Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se neste andar
(Lei/DF Nº 3212 de 30.10.03)
L) Todavia, o registro lhe foi negado, sem o menor fundamento, posto que
conforme certidão de ônus reais do imóvel, emitida em 22/06/2010, o imóvel
estava livre de impedimentos.
M) Ocorre que outra indisponibilidade foi averbada no dia 11/09/2008 e, mais
uma vez, o Autor precisou ingressar com demanda para cancelamento do
gravame, o que aconteceu em 04/05/2010.
N) Leia atentamente os fragmentos abaixo. marque a letra correspondente à
alternativa correta quanto ao registro dos dispositivos legais.
a) “A inobservância dos incisos I e II do artigo 226 do Código Penal, não gera a
nulidade dos autos de reconhecimento.”
b) “Tal regramento regimental afeiçoa-se, dando-lhe aplicação aos arts 96, I, a e
125 § 1o, da Constituição da República Federativa do Brasil.”
c) “O recorrente alegou que fora contrariada a literalidade do art. 485 IV e V c/c os
arts 295, I, p. ú., II e III, e 267, I e IV, do CPC.”
d) “O MP denunciou Xênio Zamir por atitude comportamental subsumida no
art.121, § 2º, II e IV c/c o art. 61, II, ‘e’ do CP.”

Avaliação Questão 1
A seleção vocabular e a redação tendenciosamente crítica em relação ao
trabalho realizado pelas polícias e pelas forças armadas favorece diversas
possibilidades modalizadoras, porém, chamamos especial atenção para as
escolhas “invasão” / “ocupação” e para o uso polissêmico da palavra “poder”.

Questão 2
Algumas orientações que podem ser dadas aos alunos:
1) Não há dúvida de que, se os reiterados "através de" forem substituídos,
com propriedade, pelas preposições "por", "com", "em" ou "de",
conforme o caso, a frase ganhará em elegância e vernaculidade.
2) O uso forense consagrou há muito a locução "a folhas", da mesma forma
que também o fez com a expressão "de fls.". É freqüente encontrar essa
locução como se antes de folhas houvesse também o artigo "as" ("às
folhas"). Contudo, o correto é dizer "a folhas" da mesma forma que nos
referimos a "documento de folhas". Vem a propósito a lição de
NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA, que em verbete do seu Dicionário de
Questões Vernáculas, diz que "a folhas vinte e duas" significa "a vinte e
duas folhas do início do trabalho", como quem diz "a vinte e duas braças".
A respeito do uso da expressão "a fls.", convém assinalar que
freqüentemente ela trunca desnecessariamente as frases da sentença.
Parece mesmo às vezes que o juiz, ao prolatar a sentença, está mais
voltado para "documentos" e "peças do processo" do que para o
conteúdo e significado deles. A referência “a fls.” constitui mero
expediente para facilitar ao leitor da sentença a localização do documento
ou peça. Por isso muitas vezes será melhor retirar a referência do
contexto, colocando-a entre parênteses.
3) Esse (e variantes) – pronome demonstrativo utilizado para retomar
referentes cujas idéias já foram apresentadas no discurso. Este (e
variantes) – pronome demonstrativo utilizado para indicar idéias que
ainda serão apresentadas no discurso.
4) Entre os vícios de linguagem que devem ser combatidos inclui-se o
estrangeirismo desnecessário, por se encontrarem, no vernáculo,
vocábulos equivalentes. Quando não houver equivalente, porém, em
língua materna, segundo a ABNT, deve ser grafado o vocábulo com
destaque em itálico.
5) O italianismo "em sede de” pode, em geral, ser substituído por outros
termos mais apropriados.
6) Napoleão Mendes de Almeida, em o Dicionário de Questões Vernáculas,
registra como ERRO o emprego do demonstrativo “mesmo" com função
pronominal. Aurélio Buarque de Holanda, em seu Dicionário anota ser
conveniente evitar o uso de “o mesmo” como equivalente dos pronomes
"ele“, "o" etc.
7) Nenhum dicionário autoriza o neologismo "inobstante", que circula nos
meios forenses a par de outras expressões de formação semelhante.
Preferível o uso das expressões vernáculas já consagradas: "não obstante"
ou "nada obstante". A mesma observação se pode fazer em relação a
outros neologismos como "inacolhida".
8) A expressão ocorre que não tem objetividade redacional na formulação
da peça processual. Alguns professores de Língua Portuguesa chamam
isso de “muleta redacional”.
Letra N – resposta D.
Situação Em Elaboração
Considerações adicionais
Plano de ensino

Título Teoria e Prática da Narrativa Jurídica


Número de aulas por 1
semana
Número de semana de 5
aula
Tema Polifonia e intertextualidade na construção do discurso jurídico.
Objetivos O aluno deverá ser capaz de:
- Compreender a relevância da polifonia para a produção do discurso jurídico;
- Reconhecer a polifonia como fenômeno intertextual;
- Rescrever trechos e parágrafos por meio de paráfrases (citações indiretas);
- Dominar as recomendações da ABNT acerca do uso de citações diretas.
Estrutura de conteúdo 1. Polifonia e intertextualidade
1.1. Citação direta
1.1.1. Citação de até 3 linhas e orientações da ABNT
1.1.2. Citação de mais de 3 linhas e orientações da ABNT
1.2. Citação indireta (paráfrase)
1.2.1. Reprodução ideológica de conteúdos
Procedimentos de ensino Aula dialogada.
Recomendamos que este encontro seja utilizado para refletir sobre a
importância da polifonia. Todas as vozes que auxiliam no conhecimento dos fatos
que compõem a lide serão bem-vindas. Em muitos processos, o único meio de
esclarecer os acontecimentos é ouvindo as partes, as testemunhas, as autoridades
policiais que realizaram diligências etc.
Mesmo com a presença de provas documentais no processo, a polifonia terá
sua importância, ainda que relativizada pela eventual inconsistência dessas falas.
Sugerimos ajudar o aluno a conhecer os recursos linguísticos que marcam a
polifonia. É possível trabalhar, também, os tipos de discurso (direto, indireto e
indireto livre) e sua colaboração para a produção da narrativa forense.
No terceiro semestre, a polifonia receberá outra conotação, a de informação que
ajudará no desenvolvimento do argumento de autoridade e do argumento de prova.
Assinale, talvez, essa questão, mas somente a aprofunde em Teoria e prática da
Argumentação Jurídica.
Recursos físicos Data show, retroprojetor, capítulos dos livros didáticos sugeridos na bibliografia
básica, textos variados e peças processuais disponíveis na internet.
Aplicação prática e No ato de interpretar um texto, não é apenas necessário o conhecimento
teórica da língua, mas também se faz imprescindível que o receptor tenha em seu arquivo
mental as informações do mundo e da cultura em que vive. Ao ler/ouvir um discurso,
o receptor acessa diferentes memórias.
Portanto, interpretar depende da capacidade do receptor de selecionar
mentalmente outros textos. Quem não tem conhecimento armazenado, cultura,
leitura de mundo, terá dificuldade, quer na construção de novos discursos, quer
na captação das intenções do emissor do discurso.

ELEMENTOS LINGUÍSTICOS QUE TÊM O PAPEL DE MARCAR A POLIFONIA:


Conjunções conformativas segundo, conforme, como, etc.
Verbos introdutores de vozes dizer, falar, (verbos mais neutros);
(dicendi – verbos de dizer) enfatizar, afirmar, advertir,
ponderar, confidenciar, alegar.

INSERIR AQUI O ANEXO 2

Paráfrase é um resumo, cuidadoso e original, do conteúdo da obra ou trecho lido,


elaborado com as próprias palavras do pesquisador. (...) Deve ser redigida com
bastante clareza e exatidão, de modo a possibilitar, no futuro, a sua utilização sem
necessidade de retorno à obra original.
(MARCHI, Eduardo Silveira. Guia de Metodologia Jurídica. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2009, p. 240).
Questão 1
Leia a ementa do julgado abaixo, cujo relator foi o Desembargador Jorge
Magalhães, e parafraseie, em texto corrido, na forma de parágrafo, essas ideias em
até cinco linhas.

Adoção cumulada com destituição do poder familiar.


Alegação de ser homossexual o adotante. Deferimento do
pedido. Sendo o adotante professor de ciências de colégios
religiosos, cujos padrões de conduta são rigidamente
observados, e inexistindo óbice outro, também é a adoção,
a ele entregue, fator de formação moral, cultural e
espiritual do adotado. A afirmação de homossexualidade do
adotante, preferência individual constitucionalmente
garantida, não pode servir de empecilho à adoção de
menor.

Questão 2
Assim como no exercício anterior, leia o fragmento, compreenda seu sentido
global e parafraseie seu conteúdo.
“Consoante orientação de Malhães, ‘os estudantes que estão se iniciando na
vida intelectual precisam ser orientados pelos seus professores, a fim de adquirirem
familiaridade com os livros e habilidades na seleção das obras a serem consultadas’.”

Questão 3
o texto adiante é rico em polifonia. Identifique essas ocorrências e comente qual o
papel dessas informações na construção do texto.

TEXTO[1]:
O Ministério Público de Santa Catarina impediu que o bacharel em Direito
Carlos Augusto Pereira prestasse concurso público para Promotor de Justiça do órgão,
por ele ser cego. Ele recorreu da decisão, mas teve o seu pedido negado.
Na carta em que justifica a medida, o MP de Santa Catarina alegou que a
função é indelegável, e Pereira, "obrigatoriamente, teria que se socorrer de pessoas
estranhas ao quadro funcional que não prestaram juramento público.”
O Presidente da Comissão de Concurso, Pedro Sérgio Steil, afirmou que o
"Promotor tem de preservar o sigilo e não pode repassá-lo a ninguém. Há
impossibilidade de exercício profissional de uma pessoa com essa deficiência".
Já o Presidente da Associação Nacional do Ministério Público, Marfam Vieira,
discorda. "Não vejo incompatibilidade. Há áreas em que ele poderia atuar
perfeitamente. E é função do Ministério Público proteger o deficiente físico,
sobretudo porque a Constituição determina reserva de vaga nos concursos públicos.
É lamentável que o MP de Santa Catarina esteja praticando um ato de
discriminação". Marfam vai pedir à presidência da Associação do MP daquele Estado
que reveja a decisão. Carlos Augusto Pereira afirmou que, "se fosse aprovado, teria
um funcionário investido de fé pública", para ler os documentos para ele.
"A orientação da manifestação ministerial seria dada por mim. Além disso, há
sistemas que fazem a leitura pelo computador, como os sintetizadores de voz",
ressaltou, ainda, Vieira.
O Estado de Santa Catarina tem na Procuradoria da Advocacia Geral da União -
órgão federal - um cego, Orivaldo Vieira. Há casos semelhantes em outros Estados do
país. O procurador do Trabalho, Ricardo Marques da Fonseca, chefe da Procuradoria
Regional de Campinas, e o defensor público Valmery Jardim, também são cegos.
O bacharel é funcionário concursado da Justiça Eleitoral. Na ocasião do concurso,
para auxiliá-lo nos exames, foram designados dois advogados: um leu para ele a prova
e os livros usados para consulta, e o outro escreveu as respostas.
O candidato considera ter sido uma vítima do preconceito e vai mover uma
ação em face do órgão catarinense e exigir indenização por danos morais.
Ainda segundo o Corregedor-Geral do MP de Santa Catarina, “um cego precisaria, em
algumas circunstâncias, do auxílio de outra pessoa. A tecnologia fornece facilidades,
mas o reconhecimento de provas ou o exame de uma perícia ficam prejudicados. Não
é razoável que o Estado tenha de criar uma estrutura para viabilizar uma exceção”

[1] Folha de São Paulo, março de 2000.


Avaliação Questões 1, 2 e 3 têm respostas abertas.
Situação Em Elaboração
Considerações adicionais
Plano de ensino
Anexos Anexo 2.docx

Título Teoria e Prática da Narrativa Jurídica


Número de aulas por 1
semana
Número de semana de 6
aula
Tema Seleção dos fatos da narrativa jurídica.
Objetivos O aluno deverá ser capaz de:
- Identificar os fatos que constarão na narrativa jurídica.
- Distinguir os fatos juridicamente importantes daqueles que são esclarecedores das
questões importantes.
- Desenvolver raciocínio jurídico capaz de levar à compreensão de que os fatos que
não são usados, direta ou indiretamente, na fundamentação da tese, não precisam
ser narrados.
Estrutura de conteúdo 1. Classificação dos fatos
1.1. Fatos juridicamente importantes
1.2. Fatos que contribuem para a compreensão dos que são relevantes
1.3. Fatos que dão ênfase a informações relevantes
1.4. Fatos que satisfazem a curiosidade do leitor
2. Seleção de fatos para a produção da narrativa jurídica
Procedimentos de ensino Aula dialogada.
Recursos físicos Data show, retroprojetor, capítulos dos livros didáticos sugeridos na bibliografia
básica, textos variados e peças processuais disponíveis na internet.
Aplicação prática e Num relato pessoal, interessa ao narrador não apenas contar os fatos, mas
teórica justificá-los. No mundo jurídico, entretanto, muitas vezes, é preciso narrar os fatos de
forma objetiva, sem justificá-los. Ao redigir um parecer, por exemplo, o narrador
deve relatar os fatos de forma objetiva antes de apresentar seu opinamento técnico-
jurídico na fundamentação.
Antes de iniciar seu relato, o narrador deve selecionar o quê narrar, pois é
necessário garantir a relevância do que é narrado. Logo, o primeiro passo para a
elaboração de uma boa narrativa é selecionar os fatos a serem relatados.
INSERIR AQUI O ANEXO 3

QUESTÃO 1:
Leia os casos concretos que seguem e sublinhe todas as informações que
precisam ser observadas em uma narrativa imparcial. Em seguida, liste, em tópicos,
todas essas informações que devem ser usadas no relatório.

Caso concreto 1
O motorista que atropelou a estudante universitária Daniele Silva, de 24 anos,
moradora da Rua da Saudade, 25, casa 3, Santa Teresa, CPF 453992292-67, na pista
do Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, na noite de segunda-feira, 08 de março de
2010, às 23h 30min, confessou ter fugido sem prestar socorro à vitima, que morreu
no local. Formado em Relações Internacionais, Marcelo Cotrim, de 25 anos, mora na
Rua Senador Patrício, 80, apartamento 403, Flamengo, CPF 435 874 985-20, RG
2323874044-9, e se apresentou ontem ao 10º DP (Botafogo), onde alegou não ter
parado para prestar socorro, por ter ficado com medo de ser linchado.
Marcelo é liberado após prestar esclarecimentos, autuado por homicídio
culposo e omissão de socorro.
Em seu depoimento, Marcelo disse: "logo após o acidente, liguei para o meu
pai, o médico Reinaldo Cotrim, que mora a 500 metros do lugar do atropelamento.
Não bebi antes do acidente. Tinha acabado de sair de casa, no Flamengo, para buscar
a minha namorada, em Copacabana. Um casal passou correndo na frente do carro".
Reinaldo, por telefone, quando Marcelo liga logo depois do acidente, fala para
o filho ir para a casa. O médico vai até o local do acidente, constata que a menina já
está morta, sai sem se identificar à polícia e aos bombeiros.
Nos próximos dias, será ouvido o rapaz que estava com Daniele no momento
do atropelamento, identificado como Alexandro, que também foi atingido.
O advogado de Marcelo, Pedro Lavigne, ficou na delegacia com ele durante
toda a tarde. Indagado por que seu cliente ligara para o pai em vez de chamar os
bombeiros, Lavigne ainda tentou justificar:
_ O pai dele é médico e estava a poucos metros dali. Ele foi até lá para tentar
salvar a menina, mas ela já estava morta. Ele está muito abalado e, por isso, não se
apresentou antes.
Opinião do delegado do 10º DP, Laurindo Lobo, ele está jogando a culpa em
cima da vítima. O advogado de defesa disse acreditar que ele sequer responderá a
processo.

Caso concreto 2
Desde o dia 18 de setembro de 2010, o motorista José Menezes de Lacerda, de
47 anos, portador do vírus da AIDS, é procurado pela polícia. Ele mudou de casa e
vive apavorado com a ideia de passar os próximos anos na cadeia. Sem antecedentes
criminais, José foi condenado, em outubro de 2008, por um júri popular, a oito anos
em regime fechado. A acusação: tentar matar a amante, transmitindo-lhe o HIV. O
caso que teve repercussão nacional. O réu recorreu ao Tribunal de Justiça de São
Paulo, mas perdeu: em março de 2009, o órgão confirmou a decisão dos jurados.
O advogado que defendeu José, no início do processo, e o promotor que o
denunciou, em 2006, dizem que não sabem de casos semelhantes no país. Como
eles, outros especialistas afirmaram ao Estado não ter notícia de processos no qual
um portador do HIV tenha sido condenado à prisão por homicídio doloso (com
intenção de matar) e qualificado (por uso de meio cruel) porque contaminou alguém
com o vírus.
Luiz Carlos Magalhães acompanhou José durante o processo como advogado
da assistência judiciária do Estado. Hoje o motorista está sem defensor. Magalhães
diz que o caso ficou “ainda mais sui generis” – e dramático – porque Marília, a mulher
contaminada, retomou o romance com José. Ela afirmou que já está arrependida de
ter registrado boletim de ocorrência contra o companheiro. Mas não há o que fazer,
porque, em casos de homicídio, a ação penal independe da vontade da vítima (ação
penal pública incondicionada). Marília não quis falar com a reportagem.
José disse ter sido informado sobre a ordem de prisão há duas semanas pela
própria amante, que tinha ido buscar um atestado de bons antecedentes para ele.
“Foi um baque”. O motorista afirma que ele e Marília vivem entre “idas e vindas”,
mas ainda estão juntos. “Eu não sei se é gostar. É alguma coisa mais forte do que eu.”
Ele afirma que ambos estão em boas condições de saúde e recebem tratamento
gratuito do governo.
“Este caso foi um circo”, diz Magalhães. “Os dois estão vivos e saudáveis. Não
houve tentativa de homicídio. Além disso, não existe essa tipificação na nossa
legislação, tentar matar por meio do vírus da AIDS.”
“Não lembro de nenhuma condenação no Brasil, um caso concreto”, afirma
Damásio de Jesus, professor convidado da especialização em Direito Penal da Escola
Paulista de Magistratura. Em Espanha e Alemanha, no entanto, já são comuns os
processos nos quais a transmissão do vírus foi classificada como tentativa de
homicídio. A alegação é de que o réu sabia que tinha o HIV e mesmo assim manteve
relações sexuais sem proteção. “As coisas lá acontecem antes”, afirma Damásio.
O próprio Magalhães diz que há poucas chances de sucesso em recursos aos
tribunais em Brasília, porque se trata de decisão de júri popular, referendada pelo
Tribunal de Justiça. Depois da condenação a oito anos de regime fechado e do
recurso do réu, o TJ apenas adaptou a decisão para que José possa pleitear a
progressão da pena.
Para o professor titular de Direito Penal da Universidade Federal do Paraná,
René Ariel Dotti, como José perdeu o prazo para novo recurso ao TJ, sobram como
alternativas uma revisão de pena ou um habeas corpus ao Superior Tribunal de
Justiça. Dotti diz ter dúvidas sobre a condenação. “Acho duvidoso. A tentativa de
homicídio depende da probabilidade da contaminação. Se não há 100% de certeza de
que em uma relação possa haver o contágio, não houve tentativa de homicídio”.
Recentemente, deixou definitivamente a mãe dos quatro filhos para ficar com
a amante. Conseguiu novo emprego e começou a se “reerguer”. Mas então soube da
ordem de prisão expedida contra ele, há duas semanas.
“Marília ficou abalada. E eu não acho justo. Sei que tinha minha parcela de
culpa, mas ela também. Era responsabilidade do casal. Essa decisão de me prender
foi um baque, quebrou minhas estruturas”, afirmou José ao Estado.
José diz que tinha muitas parceiras e não sabe exatamente como contraiu o
vírus da AIDS. Afirma que evitou contar a verdade para Marília porque estava
apaixonado. “Meu cérebro está congestionado; não sei o que fazer”.

Avaliação Tendo em vista a proposta de aula dialogada, desenvolva os raciocínios adequados à


seleção dos fatos. Não deixe de discutir, a partir do segundo caso concreto, a
possibilidade de se ajuizar, além da ação penal condenatória, uma ação civil
indenizatória por parte da pessoa contaminada, em face do agente da prática
delituosa.
Situação Em Elaboração
Considerações adicionais
Plano de ensino
Anexos Anexo 3.docx

Título Teoria e Prática da Narrativa Jurídica


Número de aulas 1
por semana
Número de semana 7
de aula
Tema Organização dos fatos na narrativa jurídica.
Objetivos O aluno deverá ser capaz de:
- Compreender a necessidade de organização cronológica dos fatos na narrativa
jurídica;
- Identificar corretamente o fato gerador da demanda;
- Desenvolver interesse pela pesquisa, com acesso a fontes principiológicas, legais,
doutrinárias e jurisprudências.
Estrutura de 1. Formas de organização dos fatos na narrativa
conteúdo 1.1. Organização cronológica
1.2. Organização acronológica
2. Identificação do fato gerador
3. Organização linear dos fatos nas narrativas cível e criminal
Procedimentos de Aula dialogada.
ensino
Recursos físicos Data show, retroprojetor, capítulos dos livros didáticos sugeridos na bibliografia
básica, textos variados e peças processuais disponíveis na internet.
Aplicação prática e No discurso jurídico, é necessário ater-se aos fatos do mundo biossocial que
teórica levaram ao litígio. Ao procurar um advogado, o cliente fará, logo de início, um relato
dos acontecimentos que, em sua perspectiva, causaram-lhe prejuízo do ponto de
vista moral ou material. Contará sua versão do conflito, marcada, geralmente, por
comoção, frequentes rodeios e muita parcialidade. Já compreendemos, nas aulas
anteriores, que saber selecionar essas informações é importante e esse
procedimento depende não só da peça que se quer redigir, mas também de uma
visão crítica madura e acurada.
Ao profissional do Direito caberá, em seguida, organizar as informações
importantes obtidas nessa conversa, com vistas à estruturação da narrativa a ser
apresentada na petição inicial.
Sempre que o advogado elencar fatos, haverá entre eles um lapso temporal,
imprescindível para a narrativa, a qual, por sua própria natureza, deve respeitar a
cronologia do assunto em pauta, ou seja, a estrita ordem dos acontecimentos na
realidade. A essa narrativa chama-se também narrativa linear. Sobre esse assunto,
leia, também, o capítulo “Narração e descrição: textos a serviço da argumentação”,
do livro Lições de argumentação jurídica: da teoria à prática, de cuja obra se extraiu o
exemplo adiante:

INSERIR AQUI O ANEXO 4


Acompanhe a sequência cronológica dos principais eventos de um conflito1:

A escola Aumenta a A autora foi


A autora fez a
terceirizou as inadimplência impedida de
matrícula da
aulas de no pagamento assistir às
sua filha na
informática e das aulas.
escola
inglês mensalidades
1999 2003 / 1º sem. 2003 / 2º sem. Meses depois
[...]

Ao contrário, não se deve apresentar fatos em sequência alterada, não-linear.


Para Victor Gabriel Rodríguez, a utilização da narrativa linear evidencia para o leitor o
encadeamento lógico entre os acontecimentos, crucial para se estabelecerem os
nexos de causalidade e alcançar também maior clareza textual.
Adiante, uma tabela com vocabulário da área semântica de tempo, a fim de
orientá-lo na produção das narrativas.

VOCABULÁRIO DA ÁREA SEMÂNTICA DE TEMPO[1]:


Tempo em geral idade, era, época, período, ciclo, fase, temporada, prazo, lapso
de tempo, instante, momento, minuto, hora, etc.
Fluir do tempo o tempo passa, flui, corre, voa, escoa-se, foge, etc.
Perpetuidade perenidade, eternidade, duração eterna, permanente,
contínua, ininterrupta, constante, tempo infinito,
interminável, infindável, etc. Sempre, duradouro, indelével,
imorredouro, imperecível, até a consumação dos séculos, etc.
Longa duração largo, longo tempo, longevo, macróbio, Matusalém, etc.
Curta duração tempo breve, curto, rápido, instantaneidade, subitaneidade,
pressa, rapidez, ligeireza, efêmero, num abrir e fechar d 'olhos,
relance, momentâneo, precário, provisório, transitório,
passageiro, interino, de afogadilho, presto, etc.
Cronologia, Cronos, calendário, folhinha, almanaque, calendas,
medição, divisão cronometria, relógio', milênio, século, centúria, década, lustro,
do tempo qüinqüênio, triênio, biênio, ano, mês, dia, tríduo, trimestre,
bimestre, semana, anais, ampulheta, clepsidra, etc.
Simultaneidade durante, enquanto, ao mesmo tempo, simultâneo,
contemporâneo, coevo, isocronismo, coexistente,
coincidência, coetâneo, gêmeo, ao passo que, à medida que,
etc.

1 FETZNER, Néli Luiza C. et al. Lições de Argumentação Jurídica: da Teoria à Prática. Rio de Janeiro:
Forense, 2010, cap. 3.1.
Antecipação antes, anterior, primeiro, antecipadamente, prioritário,
primordial, prematuro, primogênito, antecedência,
precedência, prenúncio, preliminar, véspera, pródomo, etc.
Posteridade depois, posteriormente, a seguir, em seguida, sucessivo, por
fim, afinal, mais tarde, póstumo, "in fine", etc.
Intervalo meio tempo, interstício, ínterim, entreato, interregno, pausa,
tréguas, entrementes, etc.
Tempo presente atualidade, agora, já, neste instante, o dia de hoje,
modernamente, hodiernamente, este ano, este século, etc.
Tempo futuro amanhã, futuramente, porvir, porvindouro, em breve, dentro
em pouco, proximamente, iminente, prestes a, etc.
Tempo passado remoto, distante, pretérito, tempos idos, outros tempos,
priscas eras, tempos d'antanho, outrora, antigamente, coisa
antediluviana, do tempo do arroz com casca, tempo de
amarrar cachorro com lingüiça, etc.
Freqüência constante, habitual, costumeiro, usual, corriqueiro, repetição,
repetidamente, tradicional, amiúde, com freqüência,
ordinariamente, muitas vezes, etc.
raras vezes, raro, raramente, poucas vezes, nem sempre,
Infrequência ocasionalmente, acidentalmente, esporadicamente, inusitado,
insólito, de quando em quando, de vez em vez, de vez em
quando, de tempos em tempos, uma que outra vez, etc.

CASO CONCRETO
Abandonada pelo noivo depois de 17 anos de namoro, a costureira Nair
Francisca de Oliveira propôs ação judicial no Tribunal de Minas Gerais a fim de
condenar o motorista aposentado Otacílio Garcia dos Reis, de 54 anos, a pagar-lhe
indenização por danos morais. Ela pediu, ainda, 50% do valor da casa que os dois
estavam construindo juntos, em Passos, sudoeste de Minas. “Mais do que o término
do noivado, entrei com o processo principalmente pelo tempo que fui enganada”, diz
ela.
Nair não revela a idade, diz apenas que tem mais de 40 anos. Ela diz que
também foi vítima de difamação por parte de Otacílio. Ao romper com a noiva, ele
disse que, além de não gostar dela, sabia que não tinha sido o primeiro homem de
sua vida. “Me difamou e humilhou minha família”, lamenta Nair, que não consegue
explicar como pôde ficar tantos anos ao lado de uma pessoa que ela diz, agora, não
conhecer.
Otacílio foi longe ao explicar o motivo do fim do relacionamento. Disse à ex-
noiva que tinha por ela apenas um “vício carnal” e que nenhum homem seria capaz
de resistir aos encantos de seu corpo bem feito. “Ele daria um bom ator”, analisa
Nair, lembrando que, a cada ano, a desculpa para não oficializar a união mudava. A
costureira confessa que nunca teve vontade de terminar o namoro, mesmo tendo-o
iniciado sem gostar muito de Otacílio. Ele teria insistido no relacionamento. “Eu dei
tempo ao tempo e acabei gostando dele”, afirma, frustrada com o tempo perdido,
especialmente pelo fato de não ter tido filhos. “Engraçado, eu nunca evitei. Não sei
por que não aconteceu”.
A história de Nair e Otacílio começou em 1975. Após quatro anos de namoro,
ficaram noivos e deram entrada nos papéis para o casamento religioso. Na ocasião, já
haviam comprado um terreno, onde construíram a casa, que, segundo Nair, foi
erguida com o dinheiro de seu trabalho de costureira, com a ajuda dos pais e
também com dinheiro de Otacílio. Hoje, o que seria o lar dos dois é uma casa
alugada. O advogado de Nair, José Cirilo de Oliveira, pretende requerer divisão dos
valores recebidos pelo aluguel do imóvel.
Segundo sustenta o advogado da autora, “o casamento é o sonho dourado de
toda mulher, objetivando com ele, a par da felicidade pessoal de constituir um lar,
também atingir o seu bem-estar social, a subsistência e o seu futuro econômico.
Tudo isso foi frustrado pela conduta dolosa de Otacílio, que nunca pretendeu
oficializar essa união e manteve ‘presa’ Nair a esse relacionamento impróspero”.
(adaptado de Roselena Nicolau – Jornal do Brasil)

Questão 1
Indique a opção que mostra, em ordem cronológica, alguns acontecimentos da vida
do casal retratado no texto, Nair e Otacílio:
(A) compram um terreno; ficam noivos; cancelam o casamento; brigam na justiça.
(B) começam a namorar; ficam noivos; compram um terreno; constroem uma casa.
(C) começam a namorar; ficam noivos; trocam acusações em público; terminam a
relação.
(D) ficam noivos; compram um terreno; constroem uma casa; cancelam o
casamento.
(E) ficam noivos; dão entrada nos papéis; brigam na justiça; alugam a casa.

Questão 2
A partir da questão 1, você teve uma idéia ampla da cronologia dos fatos do
caso concreto. Precisamos considerar, porém, que o magistrado, para julgar o pedido
da autora, precisaria ter conhecimento de diversas outras informações juridicamente
importantes.
Considere que informações juridicamente importantes são aquelas que
precisam constar na narrativa da peça porque a lei, a doutrina e/ou a jurisprudência
consideram essas informações como importantes.
Tenha como certo, também, que a autora pretende indenização por danos
morais, em virtude do término do relacionamento – pelas razões sustentadas pelo
advogado – e pela difamação de que foi vítima. Pretende, ainda, 50% do valor do
imóvel e 50% dos valores recebidos a título de aluguel.
Assim, realize uma pesquisa e indique as fontes principiológicas, legais,
doutrinárias e jurisprudenciais que contribuam para a percepção de quais
informações são juridicamente importantes para a solução da lide.

Questão 3
Produza uma narrativa simples – em texto corrido, adequadamente dividido em
parágrafos – para o caso concreto, com a exposição cronológica dos fatos.

[1] GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. 22. ed. Rio de Janeiro: FGV,
2004, cap. 1.6.5.5.1.
Avaliação Questão 1 – Letra A.
Questões 2 e 3 – respostas abertas.
Situação Em Elaboração
Considerações
adicionais
Plano de ensino
Anexos Anexo 4.docx

Título Teoria e Prática da Narrativa Jurídica


Número de aulas por 1
semana
Número de semana de aula 8
Tema Produção de narrativa jurídica simples: relatório.
Objetivos O aluno deverá ser capaz de:
- Produzir narrativas simples condizentes com todas as orientações dadas ao longo
do semestre.
Estrutura de conteúdo 1. Produção de Relatório Jurídico
1.1. Seleção de fatos
1.2. Presença dos elementos da narrativa forense (o quê, quem, onde, quando,
como, por quê, por isso...)
1.3. Organização Cronológica
1.4. Correta identificação do fato gerador
1.5. Uso adequado do tempo verbal
1.6. Adequação à norma culta
1.7. Uso de polifonias
1.8. Foco narrativo na terceira pessoa
1.9. Ausência de modalizadores
Procedimentos de ensino Aula dialogada. Esta é a primeira aula em que os alunos reúnem todas as
informações necessárias à produção do texto jurídico narrativo. Haverá outras
aulas reservadas à mesma finalidade. Isso se dá porque entendemos que o aluno
necessita exercitar a produção textual em vários encontros, tanto para a fixação
das orientações dadas quanto pela própria necessidade de desenvolver as
habilidades relativas à redação de documentos escritos.
Sugerimos que o professor produza a narrativa com o aluno em sala de aula. Pelo
que conhecemos de nossos alunos, eles desejam de nós produções de narrativas
que sirvam como “modelo” de apoio para as suas próprias produções. Poderíamos
trazer pronta essa narrativa e disponibilizá-la na copiadora, mas o fazer-com é de
fundamental importância para a formação de procedimentos de raciocínio
jurídico, razão pela qual sugerimos produzir o texto em sala.
Recursos físicos Data show, retroprojetor, capítulos dos livros didáticos sugeridos na bibliografia
básica.
Aplicação prática e teórica O relatório é um tipo de narrativa em que os fatos importantes de uma
situação de conflito devem ser cronologicamente organizados, sem interpretá-los
(ausência de valoração); apenas informá-los na lide ou demanda processual.
Segundo De Plácido (2006, p.1192), relatório “designa a exposição ou a
narração acerca de um fato ou de vários fatos, com a discriminação de todos os
seus aspectos ou elementos relevantes”.

QUESTÃO:
Leia atentamente o caso concreto e produza um relatório. Observe todas as
orientações acumuladas ao longo do semestre.

Caso concreto
Miguel ajuizou, em face da menor Melina Coelho Andrade – dois anos,
nascida em 16 de dezembro de 2006, representada por sua mãe, Constança
Andrade – ação negatória de paternidade, em relação à menor, e, por
consequência, a declaração/anulação de seu reconhecimento, em registro de
nascimento, com a exclusão de seu nome, como pai.
Argumentou que foi induzido a erro pela mãe da menor, com quem teve
um relacionamento amoroso, deixando-se conduzir, na ocasião do registro, pelas
suas súplicas e apelos emocionais. Garantiu que somente registrou a menor como
sua filha porque acreditou, à época do registro, ser seu verdadeiro pai biológico e
que, logo após o registro, foi feito exame de DNA, anexado ao processo, por meio
do qual descobriu não ser o pai da menor.
Sustenta também que, se soubesse antes não ser o pai biológico da
requerida, jamais aceitaria registrá-la como sua filha e que, assim, houve vício de
seu consentimento por erro substancial, pois não existe qualquer vínculo biológico
nem afetivo entre ele e a menor.
Em contestação, argumenta-se não ter havido o alegado erro e que o ato de
reconhecimento espontâneo e consciente da menor como filha importou,
praticamente, em sua adoção, por instrumento impróprio, razão pela qual não
poderia ser rescindido unilateralmente.
Vieram aos autos, como prova, além do trazido com a inicial, outro exame
pericial de DNA, determinado judicialmente, que confirmou o primeiro e negou,
cientificamente, a paternidade biológica de Miguel Coelho, em relação a Melina.
Em depoimentos pessoais, ambas as partes apenas reiteraram o que expuseram,
respectivamente, na inicial e na contestação.

A fim de orientá-los na seleção dos fatos importantes do caso concreto,


eis pequena coletânea de quatro julgados recentes sobre a matéria em análise.

NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. ANULAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. PROVA PERICIAL


FRUSTRADA. LIAME SOCIOAFETIVO. 1. O ato de reconhecimento de filho é
irrevogável (art. 1º da Lei nº 8.560/92 e art. 1.609 do CC). 2.A anulação do registro
civil, para ser admitida, deve ser sobejamente demonstrada como decorrente de
vício do ato jurídico (coação, erro, dolo, simulação ou fraude). 3. Em que pese o
possível distanciamento entre a verdade real e a biológica, o acolhimento do
pleito anulatório não se justifica quando evidenciada a existência do liame sócio-
afetivo. 4. Inexistência de prova do vício induz à improcedência da ação. Recurso
desprovido. (AC 598403632)

REGISTRO DE NASCIMENTO - RECONHECIMENTO ESPONTÂNEO DA PATERNIDADE


- ADOÇÃO SIMULADA OU “À BRASILEIRA”. Descabe a pretensão anulatória do
registro de nascimento do filho da companheira, lavrado durante a vigência da
união estável, já que o ato tipifica verdadeira adoção, que é irrevogável. Apelo
provido, por maioria. (EI 599277365)

PATERNIDADE. RECONHECIMENTO. Quem, sabendo não ser o pai biológico,


registra como seu filho de companheira durante a vigência de união estável
estabelece uma filiação sócioafetiva que produz os mesmos efeitos que a adoção,
ato irrevogável. AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE E AÇÃO ANULATÓRIA DO
REGISTRO DE NASCIMENTO. O pai registral não pode interpor ação negatória de
paternidade e não tem legitimidade para buscar a anulação do registro de
nascimento, pois inexiste vício material ou formal a ensejar sua desconstituição.
Embargos rejeitados, por maioria. (EI 70001919414)

NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. ALEGAÇÃO DE CONSENSO ENTRE AS PARTES.


PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. Não obstante a existência de exame particular de
DNA realizado de comum acordo entre as partes antes do ajuizamento da ação, e
que exclui a paternidade biológica, não se perquiriu acerca da existência de
vínculo afetivo em relação ao pai registral. Suposto pai biológico é litisconsorte
passivo necessário. Reconhecimento da paternidade que se deu de forma regular,
livre e consciente, mostrando-se a revogação juridicamente impossível diante das
circunstâncias dos autos. NEGADO PROVIMENTO. UNÂNIME.

Avaliação Produção textual livre, com observância de todas as orientações já dadas em sala
de aula.
Situação Em Elaboração
Considerações adicionais
Plano de ensino

Título Teoria e Prática da Narrativa Jurídica


Número de 1
aulas por
semana
Número de 9
semana de aula
Tema Produção de narrativa jurídica valorada: versão da parte autora.
Objetivos O aluno deverá ser capaz de:
- Redigir narrativas jurídicas valoradas com coesão e coerência textuais;
- Utilizar com moderação e consistência as estratégias modalizadoras;
- Produzir uma versão dos fatos que interesse ao pólo ativo da demanda.
Estrutura de 1. Narrativa jurídica valorada
conteúdo 1.1. Diferentes versões sobre um mesmo fato jurídico
1.2. Uso de modalizadores
1.3. Produção Textual
Procedimentos Aula dialogada. Até o presente momento, nosso aluno já deve ter compreendido como
de ensino selecionar as informações importantes do caso concreto e como organizá-las no texto. Também já
deve conhecer todas as demais características que particularizam a produção da narrativa jurídica.
Acreditamos que todas essas marcas (cronologia, seleção de informações, uso do tempo
verbal, impessoalidade, identificação do fato gerador do conflito, modalização) tenham sido bem
trabalhadas em sala de aula. A bibliografia recomendada auxilia consistentemente no
aprofundamento desse conteúdo.
Ainda assim, não há dúvidas de que, mais do que compreender o conteúdo, os alunos
precisam ter a oportunidade de produzir textos de natureza jurídica, porquanto a prática constante
dessa atividade leva ao desenvolvimento das habilidades necessárias à prática profissional.
Este encontro e o próximo destinam-se a esse fim, especialmente no que couber à narrativa
valorada.
Recursos físicos Data show, retroprojetor, capítulos dos livros didáticos sugeridos na bibliografia básica, textos
variados e peças processuais disponíveis na internet.
Aplicação A fim de auxiliar a compreensão das questões já expostas em aula anterior sobre as narrativas
prática e jurídicas simples e valoradas, apresentamos os esquemas que seguem. Ambos tratam das diferenças
teórica de conteúdo e de objetivo que se processam em cada tipo de narrativa.

INSERIR AQUI O ANEXO 5


O texto da aula de hoje contém informações que podem ser úteis tanto a quem acusa – o
Ministério Público – quanto a quem se defende – o policial do Bope. Leia-o e faça o que se pede.

PM confunde furadeira com arma e mata inocente


O Globo – 20 de maio de 2010 – p. 19 (texto adaptado)
Bruno Rohde, Célia Costa e Paulo Carvalho

O policial do Batalhão de Operações Especiais (Bope), cabo Leonardo Albarello, CPF


453992292-67 confundiu ontem uma furadeira com uma submetralhadora Uzi e matou, com um tiro
de fuzil, o supervisor de loja Hélio Barreira Ribeiro, de 47 anos, CPF 435 874 985-20, RG 2323874044-
9, que estava usando a ferramenta para fazer um serviço no terraço de sua casa, na Rua Fernando
Pontes, no Andaraí. Após acompanhar o trabalho dos peritos, a delegada Leila Goulart, titular da 20ª
DP (Vila Isabel), disse que, se for preciso, será feita uma reconstituição para saber se a distância fez
com que o PM se confundisse.
Hélio sobe no terraço para fixar um toldo, vê os homens do Bope numa vila ao lado. Ele
comenta, brincando com a mulher, que está com medo de a furadeira ser confundida com uma arma
porque havia uma operação do Bope na favela. Minutos depois, um tiro disparado pelo cabo
Leonardo Albarello mata o supervisor. Um projétil vai por baixo da axila e atravessa o tórax. Distância
do tiro: aproximadamente 40 metros.
A vila onde o supervisor morava fica num dos acessos ao Morro do Andaraí, num ponto
afastado de onde os traficantes costumam ficar. Luís da Silva, vizinho do vitimado, disse: Não houve
troca de tiros; só ocorreu um tiro, o do policial do Bope.
Hélio é levado para o Hospital do Andaraí, mas já chega morto. Não pediu pra sair da vida... O
cabo do Bope apresenta-se no 20º DP e admite que fez o disparo. Ele alega: “Gritei para o cara largar
a arma, ele fez um gesto brusco e eu atirei”.
A delegada Leila Goulart indiciou o cabo por homicídio doloso - quando há intenção de matar.
Segundo ela, o policial poderá responder ao inquérito em liberdade, por ter se apresentado à
delegacia espontaneamente.
O cabo poderá ficar afastado das ruas por tempo indeterminado e passar por
acompanhamento psicológico.
- A partir do momento em que há um disparo contra um civil, isso é um erro. Ele agiu, naquele
momento, consciente de que estava certo. O erro foi detectado depois – disse o comandante do
Bope, tenente-coronel Paulo Henrique Azevedo Moraes.
Antes da operação do Bope, no dia da morte do Hélio, policiais do 6º BPM (Tijuca) estiveram
no Morro do Andaraí para checar uma denúncia de que havia um homem preso no alto da
comunidade, prestes a ser executado. Durante confronto, na violenta cidade maravilhosa, morreram
Jhonamir Duarte dos Santos, o Peixe, de 21 anos, e Adriano do Sacramento da Silva, o AR, de 24. Com
eles, foram apreendidas uma pistola 9mm e uma granada. Adriano tinha três passagens pela polícia.
Testemunha do fato, Regina Célia Canelas Ribeiro, de 44 anos, mulher do supervisor de loja,
disse: _ Depois de balear meu marido, ele (o PM) ainda me xingou e, apontando a arma para mim,
ordenou que eu me deitasse. Vieram pulando os telhados das casas até chegar à nossa. Eles me
trataram como bandida.

Questão 1
Produza uma tabela com duas colunas, a fim de elencar, na primeira, as informações que
contribuem para reforçar a versão da parte autora e, na segunda, as que podem auxiliar a ré.
Lembre-se de apenas selecionar as informações que são juridicamente relevantes para a solução da
lide em análise no judiciário. Considere que o Ministério Público já tenha oferecido denúncia contra o
cabo da polícia militar.

Questão 2
Existem fatos que podem ser usados na narrativa tanto pela parte autora quanto pela ré. Não
estamos nos referindo apenas aos fatos não controvertidos, como a morte de Hélio Barreira Ribeiro e
o disparo realizado pelo cabo Leonardo Albarello.
Estamos tratando de certas circunstâncias que, a depender do interesse argumentativo que
suscitam, podem ser usadas por qualquer das partes para produzir suas versões sobre o que ocorreu
no dia do evento fatal.
Para exemplificar, considere o fato de que “o Rio de Janeiro é uma cidade muito violenta”. O
MP, que acusa o policial de homicídio doloso, usará esse dado para reforçar a banalidade com que a
polícia do estado trata a vida do cidadão. O advogado de defesa do cabo da PM pode, porém,
recorrer à mesma informação para defender o raciocínio de que os confrontos naquela região são
frequentes e, exatamente por isso, o policial agiu em legítima defesa, em virtude do perigo iminente.
É certo que outras questões precisam ainda ser discutidas, como a conduta (im)perita do
profissional dessa polícia especializada.
Diante dessa breve reflexão, identifique os fatos, explícitos ou pressupostos na estrutura
textual, que podem ter validade para ambas as partes da demanda. Justifique o porquê de sua
seleção, à maneira do exemplo da parte no início da questão.

Questão 3
Tendo em vista que o pólo ativo do processo (autor - MP), em Ação Penal Pública, pretende a
condenação do pólo passivo (réu – policial militar Leonardo Albarello) pela prática de homicídio
doloso, produza a narrativa jurídica valorada de acusação, com respeito a todas as orientações dadas
ao longo do semestre.

Avaliação Respostas abertas. As questões que tangenciam a discussão argumentativa para realizar a seleção
dos fatos podem ser enfrentadas no esquema de aula dialogada e de Metodologia do Caso Concreto.
Lembre-se deque haverá uma disciplina específica para tratar da Teoria da Argumentação. Qualquer
esforço reunido neste momento visa a garantir uma produção eficiente do texto jurídico narrativo.
Situação Em Elaboração
Considerações
adicionais
Plano de ensino
Anexos Anexo 5.docx

Título Teoria e Prática da Narrativa Jurídica


Número de aulas por 1
semana
Número de semana de aula 10
Tema Produção de narrativa jurídica valorada: versão da parte ré.
Objetivos O aluno deverá ser capaz de:
- Compreender que o silêncio quanto às afirmações da parte autora na narrativa
da inicial torna esses fatos não controvertidos;
- Desenvolver técnicas de resposta às questões de fato do caso concreto;
- Modalizar a narrativa jurídica a favor do réu;
- Dimensionar as dificuldades de exercer a defesa em certos casos concretos.
Estrutura de conteúdo 1. Narrativa jurídica valorada
1.1. Diferentes versões sobre um mesmo fato jurídico
1.2. Uso de modalizadores
1.3. Produção Textual
1.4. Técnicas de resposta
Procedimentos de ensino Aula dialogada. Sugerimos estimular a leitura de peças processuais de resposta na
Internet e em manuais de redação jurídica.
Recursos físicos Data show, retroprojetor, capítulos dos livros didáticos sugeridos na bibliografia
básica, textos variados e peças processuais disponíveis na internet.
Aplicação prática e teórica De acordo com o art. 300 do CPC: “compete ao réu alegar, na contestação,
toda a matéria de defesa, expondo as razões de fato e de direito, com que
impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir”
(grifos inexistentes no original).
Pela leitura gramatical do dispositivo legal, percebe-se que a contestação é
a peça que comporta quase toda a defesa do réu. É nesse instrumento que o réu
deve rebater todos os argumentos do autor, demonstrando, claramente, a
impossibilidade de sucesso da demanda.
Vale dizer ainda que, na contestação, o réu poderá se manifestar sobre
aspectos formais e materiais. Os argumentos de origem formal se relacionam à
ausência de algum tipo de formalidade processual exigida pela lei, e que não fora
observada pelo autor em sua peça inicial.
Essas falhas, dependendo da sua natureza e gravidade, podem ocasionar
fim do processo antes mesmo de o magistrado apreciar o conteúdo do direito
pretendido. A imperfeição apontada pelo réu retiraria do autor a possibilidade de
seguir adiante, ou retardaria o procedimento até que fosse sanada a imperfeição.
Essa é a chamada defesa indireta, quando se consegue procrastinar o processo.
Já os aspectos materiais se relacionam ao conteúdo de fato ou ao direito
que o autor reivindica, o próprio mérito da causa. É a chamada defesa direta ou de
mérito, na qual o réu ataca o fato gerador do direito do autor, ou as
conseqüências jurídicas que o autor pretende.
O princípio da concentração (ou princípio da eventualidade) determina que
o réu deve, de uma só vez, em uma única peça – na contestação – alegar toda a
matéria de defesa, tanto processual, quanto de mérito.
Não há possibilidade, como no Processo Penal, de aguardar um momento
mais propício para expor as teses de defesa. No Processo Civil é necessário que o
réu apresente de forma concentrada todas as matérias de defesa que serão
utilizadas na própria contestação.
Diante dessa breve explicação, não é prudente que o réu desconsidere o
poder que tem a sua contestação para a defesa, pois esse é o momento oportuno
para que ele possa bloquear a intenção autoral, sob pena de não poder mais se
socorrer de determinados argumentos de defesa que não foram alegados
tempestivamente. Observe que nem tratamos da revelia...
(Adaptado a partir de www.jurisway.org.br)

Apresentamos esse breve referencial teórico para esclarecer o mínimo


necessário à compreensão da contestação, porém ressalvamos que somente nos
interessam, nesta oportunidade, as questões relativas à narrativa da resposta.
Não enfrentaremos as alegações de matéria processual, tampouco as de discussão
teórico-doutrinária quanto ao assunto em discussão.

Leia os dois textos que seguem. Ambos possuem uma peculiaridade: há sutil
falha na narrativa dos fatos da contestação. O primeiro foi extraído de um
relatório de acórdão (apelação cível nº 1.217/93) da lavra do Desembargador
Sérgio Cavalieri Filho. O segundo é um caso concreto.

Texto 1

VISTOS, relatos e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL N° 1.172/96,


em que é apelante CASA DE SAÚDE SANTA HELENA LTDA e apelado HAMILTON DA
PAIXÃO AMARAL E SUA MULHER.
ACORDAM os Desembargadores que integram a 2ª Câmara Cível do Tribunal
de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por maioria, em dar provimento parcial ao
recurso para restringir a indenização ao dano moral e às despesas com funeral,
vencido o Des. João Wehhi Dib que julgava a ação improcedente.
Ação de responsabilidade civil, pelo rito sumaríssimo, em razão da morte de
criança recém-nascida. Apontou-se como fato gerador da responsabilidade da ré o
fato de ter sido dada alta hospitalar ao filho dos autores, logo após o seu
nascimento, quando ainda não tinha condições físicas para tal. A sentença (f. 30 a
35), que acolheu parcialmente o pedido, condenou a ré a pagar aos autores
indenização por dano moral – 100 salários mínimos – despesas com funeral e
pensões vincendas, a serem apuradas em liquidação, durante nove anos,
compreendidos entre os 16 e os 25 anos do filho dos autores.
Recorre a vencida (f. 37 a 41) sustentando que não existe nos autos prova
da culpa da apelante e que essa não pode ser presumida, mormente em se
tratando de criança nascida de mãe desnutrida e fumante. Assim, prossegue,
culpar a apelante pelo infeliz acontecimento importa em imputar-lhe
responsabilidade pelo procedimento dos próprios pais que, sem condições,
resolveram ter mais um filho. Aduz não ter a sentença considerado a baixa
situação social-financeira dos apelados, causa principal da mortalidade infantil, e
que a introdução da sonda não foi a causa-mortis da criança. Pede a reforma da
sentença.
Ao responder o recurso (f. 46 e 47), pugnam os apelados pelo seu não
provimento.
É o relatório.

Texto 2
Roberto Veloso ajuizou ação indenizatória em face da Agência de Viagens
Solimar Ltda. e Hotel Fazenda Cruzeiro, pretendendo o ressarcimento pelos danos
sofridos em acidente, que lhe causou tetraplegia. O autor afirma haver contratado
com a primeira ré pacote de turismo, com excursão para Serra Negra, em São
Paulo, onde se hospedou nas instalações da segunda ré, por volta das 22h.
Na noite do dia 24 de abril de 2007, ao dar um mergulho em uma das
piscinas do hotel, o autor, com 1,85m de altura, bateu violentamente no piso da
piscina, que estava vazia. Sustentou inexistir qualquer aviso, nem mesmo um
obstáculo ou uma cobertura que impedisse o acesso dos hóspedes àquele local,
que não oferecia a segurança que dele se devia esperar. Postula o ressarcimento,
a título de dano, proveniente de relação de consumo, que o deixou tetraplégico
aos 21 anos de idade.
Em contestação, a segunda ré aduz que o autor, após ingerir bebidas
alcoólicas, resolveu, por volta das 3h, usar, sem autorização, a piscina do hotel.
Para comprovar essa alegação, e eximir-se da responsabilidade civil, o advogado
da pessoa jurídica apresentou diversas testemunhas – funcionários do hotel e
alguns hóspedes – que garantiram que a vítima, acompanhada de alguns amigos,
já se banhavam no local há cerca de quarenta minutos, o que evidencia não se
encontrar completamente vazia a piscina.
Esclarece, ainda, que o autor utilizou a piscina após o horário de seu regular
funcionamento e, ao fazer uso de um escorregador para crianças, mergulhou de
cabeça em local onde a profundidade era de 1,10 m. Sustenta haver culpa
exclusiva da vítima.

Questão 1
Identifique e explique qual a falha na exposição dos fatos de cada um dos
fragmentos que você conheceu.

Questão 2
Faça pesquisa jurisprudencial no site do Tribunal de Justiça de seu estado e
transcreva pelo menos uma narrativa jurídica que demonstre falha de exposição
de fatos na contestação ou em outra peça de resposta, como a exceção e a
reconvenção. Explique onde está essa falha e qual é.

Questão 3
Todas as questões de fato que prejudicam a capacidade de resistência
jurídica do(a) réu(ré) à pretensão do(a) autor(a) foram devidamente enfrentadas
na contestação? Em caso contrário, aponte essas falhas. Resposta fundamentada.

Avaliação Respostas abertas. Observar a capacidade dialética do aluno e implementar


debates que favoreçam a habilidade de responder a situações difíceis.
No primeiro texto, a ré usou a desnutrição e as más condições gerais da mãe e do
recém-nascido para justificar a probabilidade de sua morte, reiterada por dados
oficiais de que a desnutrição é a principal causa de morte entre crianças de
mesma faixa etária. Se assim o é, porém, agravada fica a sua conduta, pois a alta
não poderia ter sido autorizada.
No segundo texto, a empresa ré usa testemunhas para comprovar que a vítima e
seus amigos estavam há quarenta minutos na piscina fazendo algazarra. Ora, o
raciocínio desejado era sustentar que se estavam se banhando no local, não
estava completamente vazia a piscina, o que descaracteriza a conduta culposa
(negligente/imprudente), principal causadora do acidente, segundo o autor.
Porém, com essas afirmações, caracterizou, por si mesma, a negligência por outra
via: como tinha ciência de que hóspedes alcoolizados usavam a piscina fora do
horário autorizado, e por ser esse local potencial causador de acidentes, deveria
ter tomado providências para impedir a permanência deles ali.
Situação Em Elaboração
Considerações adicionais
Plano de ensino

Título Teoria e Prática da Narrativa Jurídica


Número de aulas por 1
semana
Número de semana de 11
aula
Tema Função argumentativa da narração: a questão do ponto de vista (1).
Objetivos O aluno deverá ser capaz de:
- Compreender a relação entre fato narrado e produção dos argumentos;
- Aprimorar a função argumentativa de suas narrações;
- Diferenciar o texto Narrativo do argumentativo.
Estrutura de conteúdo 1. Função argumentativa da narração
2. Narração a serviço da argumentação
3. Fato e valoração
Procedimentos de ensino Aula dialogada.
Recursos físicos Data show, retroprojetor, capítulos dos livros didáticos sugeridos na bibliografia
básica, textos variados e peças processuais disponíveis na internet.
Aplicação prática e
teórica Como veremos, a narrativa comporta uma função argumentativa, pois é da
narrativa que se extraem os fatos e as provas que servem de base para que se possa
inferir uma determinada valoração e, em seguida, justificá-la, mediante um tipo de
argumento.
Reconhecemos a importância dessa narrativa, por exemplo, quando nos
inteiramos de que o Código de Processo Civil, em seu art. 535, II estabelece que é
possível embargar uma decisão de mérito quando a fundamentação omitir um ponto
sobre o qual o Juiz ou o Tribunal devesse ter se pronunciado. Isso representa dizer
que tudo o que se registra no relatório cumpre uma função argumentativa, que se
concretiza na fundamentação.
Assim, a seleção daquilo que se narra deve ser criteriosa a fim de fornecer
base sólida aos argumentos que visam à defesa de uma determinada tese. Os
esquemas abaixo revelam essa conexão que se opera na construção de um
argumento:

INSERIR AQUI O ANEXO 6


Narrativa dos fatos

Fato / prova Justificativa da


extraídos da Valoração valoração
narrativa
FATO VALORAÇÃO JUSTIFICATIVA
A médica indicou o uso do Agiu, portanto, com Porque sabia que a
analgésico xyz. imperícia paciente era alérgica ao
medicamento

Ao desenvolver o parágrafo argumentativo, poderíamos redigi-lo assim:


Importa destacar que a médica Maria das Dores Silva, que atendeu a paciente e
indicou-lhe o analgésico xyz, agiu de forma imperita. Isso porque, segundo a mãe
da paciente, essa lhe informou que sua filha tinha alergia àquele medicamento e,
mesmo assim, foi-lhe ministrada uma dose suficiente para causar-lhe o choque
anafilático.

Questão
Leia o texto, selecione pelo menos cinco fatos importantes da narrativa e
produza uma tabela à semelhança da que apresentamos nesta aula:
FATO VALORAÇÃO JUSTIFICATIVA
1º)
2º)
3º)
4º)
5º)

Orientações: não é necessário redigir o parágrafo argumentativo ainda. Não se


preocupe com qual tipo de argumento estamos produzindo. Nosso interesse nesta
aula é compreender a relação que existe entre o fato narrado e sua função
argumentativa, pois, como vimos, a narração está a serviço da argumentação.

Texto
Estudante de Medicina atendia pacientes em hospital da Baixada
Vera Araújo e Mariana Belmont
Uma equipe da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Saúde Pública
(DRCCSP) prendeu, na manhã de ontem, Silvino da Silva Magalhães, estudante do 9º
período de Medicina, atuando ilegalmente como médico. Ele foi flagrado dando
consultas como ginecologista no Hospital das Clínicas de Belford Roxo, na Baixada
Fluminense. O estudante, de 41 anos, atendeu quatro mulheres pela manhã — a
última delas foi uma policial que se passava por paciente e que o prendeu em
flagrante. Segundo o delegado titular da DRCCSP, Fábio Cardoso, Silvino usava um
carimbo com o próprio nome e o número de registro no Conselho Regional de
Medicina (Cremerj) de um outro profissional. Além disso, ele tinha, na maleta, o
carimbo do dono da clínica, o médico Deodalto José Ferreira.
O estudante Silvino afirmou que atendia há dois anos na clínica como
acadêmico, auxiliando os médicos. Segundo ele, o profissional de plantão ontem foi
fazer uma cirurgia e, por isso, ele teria feito um pré-atendimento a algumas
pacientes. Ao ser perguntado se já havia prescrito receitas, ele se calou.
No último domingo, O GLOBO denunciou que hospitais, médicos e
cooperativas contratavam estudantes de Medicina para atuarem como profissionais,
principalmente para fugir dos plantões de fim de semana. Os alunos receberiam de
R$200 a R$1 mil. O caso veio à tona depois da morte, no mês passado, da menina
Joanna Marcenal, de 5 anos, atendida por um estudante do 4º período de Medicina.
O falso médico Alex Sandro Cunha chegou a prescrever remédios controlados para
Joanna. Segundo o delegado, desde a reportagem do GLOBO, o número de denúncias
recebidas pelo telefone do Disque-Denúncia (2253-1177) e encaminhadas à delegacia
cresceu sete vezes:
— Recebíamos uma média de cinco denúncias por semana. Na semana
passada, foram 35, a maioria na Baixada Fluminense e na Zona Oeste.
De acordo com o delegado, o Hospital das Clínicas de Belford Roxo é
conveniado ao Sistema Único de Saúde (SUS). Cardoso contou que o estudante
alegou estar sendo supervisionado, mas não havia médicos no hospital no momento
do flagrante. Testemunhas ouvidas pelo delegado disseram que um boliviano, que
também se passava por médico, estaria atendendo na clínica, mas fugiu ao perceber
a presença da polícia. O delegado desconfia que ele seja um dos médicos oriundos de
países da América do Sul que vêm trabalhar no Brasil, embora não estejam
legalizados no Cremerj.
Também foram encontrados com o falso médico receitas assinadas e
carimbadas por outros profissionais, além de um receituário especial de cor azul, que
autoriza a compra de remédios controlados. O delegado Fábio Cardoso informou que
Silvino Magalhães responderá pelos crimes de exercício ilegal da Medicina (seis
meses a dois anos de prisão) e uso e falsificação de documentos (de um a cinco anos
de prisão). O estudante vai permanecer preso, a menos que um juiz determine a
soltura. Cardoso disse ainda que o dono da clínica será intimado a depor:
— Vamos verificar as fichas médicas para saber quantas pessoas ele atendeu
nesse tempo.
No momento do flagrante não havia nenhum diretor ou representante da
clínica no local. Segundo a funcionária que estava na recepção, o celular do
proprietário estava desligado e ela não poderia informar o número.
A dona de casa Helena Valéria Valentim, de 29 anos, foi uma das pacientes
atendidas pelo estudante na manhã de ontem. Após ter sofrido um aborto
espontâneo em casa, ela procurou o Hospital da Posse e foi encaminhada à clínica em
Belford Roxo. Segundo ela, Silvino se apresentou como ginecologista e obstetra e fez
o exame de toque nela, além de prescrever uma vacina.
— Graças a Deus a polícia estava aqui, do contrário, ele ia fazer uma curetagem
em mim — disse Helena. — Ganhei meu primeiro filho nesta clínica, no ano passado,
e não tive problema algum.
O presidente do Cremerj, Luís Fernando Moraes, afirmou que, quando o órgão
recebe denúncias de estudantes exercendo ilegalmente a profissão, encaminha os
casos à polícia:
— Isso é um caso de crime contra a saúde pública, de exercício ilegal da
Medicina e falsidade ideológica, por isso, quem tem que investigar é a polícia. De
qualquer forma, no âmbito do Cremerj, cobramos a responsabilidade de quem
contrata, do diretor técnico, e fazemos um procedimento interno para investigar. Às
vezes, a pessoa que contrata não sabe que se trata de um estudante. Por isso, em
cada caso, temos que saber o que houve de fato, se o diretor técnico foi iludido.
Segundo Moraes, no próprio site do Cremerj é possível averiguar a situação do
médico e seu CRM.
— Em tese, podemos pensar que está havendo algum descaso na contratação
dessas pessoas. Quanto a médicos que contratam estagiários para dar o plantão, isso
é irregular. Não se deve colocar ninguém para trabalhar por você, e se você não está
em condições de trabalhar, deve colocar um médico de verdade para substitui-lo,
não um estudante — opina o presidente. — A polícia vem fazendo bem o seu papel
de coibir esses casos, trabalhando sempre em contato conosco.
O presidente do Cremerj esclareceu que um estudante pode dispor de um
carimbo de acadêmico em qualquer período do curso, desde que o carimbo o
identifique como tal:
— O estudante também pode receitar, desde que supervisionado pelo médico,
e, nesse caso, ele pode usar seu carimbo de acadêmico. O ideal, nesses casos, é que o
médico carimbe junto com ele.
Moraes ressalta que não existe número de CRM de estudantes:
— O CRM é só para médicos. Se esse estudante usa um carimbo com um
número de CRM, então a situação é mais grave ainda.

Avaliação Resposta aberta.


Situação Em Elaboração
Considerações adicionais
Plano de ensino
Anexos Anexo 6.docx

Título Teoria e Prática da Narrativa Jurídica


Número de aulas por 1
semana
Número de semana de aula 12
Tema Função argumentativa da narração: a questão do ponto de vista (2).
Objetivos O aluno deverá ser capaz de:
- Compreender a importância do fato para a produção dos argumentos na
fundamentação;
- Reconhecer a validade persuasiva da organização de um bom conjunto
probatório;
- Identificar quais argumentos usam o fato como seu principal elemento de
construção;
- Produzir parágrafos coesos e coerentes.
Estrutura de conteúdo 1. Produção da narrativa jurídica e seleção do conjunto probatório argumentativo
2. Argumentação pelo fato
3. Implícitos, pressupostos e defesa de teses
4. Argumento pró-tese
Procedimentos de ensino Aula dialogada.
Recursos físicos Data show, retroprojetor, capítulos dos livros didáticos sugeridos na bibliografia
básica, textos variados e peças processuais disponíveis na internet.
Aplicação prática e teórica Escreveu Errico Malatesta, teórico italiano, que, sendo a prova o meio
objetivo pelo qual o espírito humano se apodera da verdade, sua eficácia será
tanto maior, quanto mais clara, mais plena e mais seguramente ela induzir no
espírito a crença de estarmos de posse da verdade. Para se conhecer, portanto, a
eficácia da prova, é preciso conhecer como se refletiu a verdade no espírito
humano, é preciso conhecer, assim, qual o estado ideológico, relativamente à
coisa a ser verificada, que ela induziu no espírito com sua ação.
Assim, o profissional do direito, diante de um caso concreto, analisa e
interpreta os fatos para, em seguida, valorar tais elementos de acordo com as
alternativas oferecidas pelas fontes do Direito. Fica, pois, evidente a importância
da narrativa dos fatos e das provas a fim de fornecer os elementos necessários
para que se compreenda o caso, interprete-o e concretize essa interpretação
mediante a argumentação.

Caso concreto
Dijanira Baptista foi fumante inveterada por trinta anos. Ela era casada com
Mauro Costa e tinha dois filhos: Mauro Costa Jr. e Paulo Baptista Costa. Seus
familiares alegam que a companhia de cigarros sempre ocultou informações e
dados sobre a nocividade do cigarro à saúde. A vítima fumava dois maços de
cigarro por dia, cerca de 500.000 cigarros em trinta anos, e que tal fato, aliado à
falta de informações sobre o produto nocivo, teria sido o responsável pelo
contraimento da doença.
Além do mais, só recentemente as companhias são obrigadas a restringir o
horário de veiculação de propagandas e a emitir comunicado de que o fumo é
prejudicial à saúde. Isso, infelizmente, não chegou a impedir que Dijanira se
tornasse viciada em cigarros, uma vez que era fumante de longa data, motivo pelo
qual a família pleiteia indenização por dano.
Após a descoberta do câncer, lutou duramente contra o vício: "Minha mãe
tentou parar de fumar, mas as crises horríveis de abstinência e a depressão
atrapalharam muito. Quando conseguiu vencer o vício, a metástase estava
diagnosticada".
Em 28 de setembro de 1999, faleceu em decorrência de câncer pulmonar,
provocado pelo fumo excessivo do cigarro de marca Hollywood, da companhia
Souza Cruz S.A.
Paulo Gomes, advogado representante da Souza Cruz, afirma que a
empresa cumpre as determinações legais e que seu produto apresenta todas as
informações aos consumidores. Em relação às propagandas, sustenta que a
apresentação de jovens saudáveis em ambientes paradisíacos não é prática
apenas da indústria tabagista: "Desconheço a existência de publicidade que
vincule produtos a modelos desgraciosos ou cenários deprimentes, que causem
repulsa ao público-alvo. Ademais, os consumidores têm o livre-arbítrio de escolher
o que consumir e o quanto consumir".
Segundo o advogado da família, os estudos comprovam a nocividade do
cigarro, que contêm mais de quatro mil substâncias químicas: "Entre elas está o
formol usado na conservação de cadáver, o fósforo, utilizado como veneno para
ratos e o xileno, uma substância cancerígena que atrapalha o crescimento das
crianças. Se o cigarro não mata de câncer, há 56 outras doenças causadas por seu
uso e exposição. É óbvio que a propaganda é indutora de seu consumo".
Notícia de jornal (adaptação)

Questão 1
Faça breve pesquisa jurisprudencial e identifique se existe condenação
transitada em julgado para empresas tabagistas cujos consumidores morreram ou
ficaram com doenças graves decorrentes desse produto. Cite as fontes de sua
pesquisa.

Questão 2
Continue sua pesquisa a fim de esclarecer se há como demonstrar nexo
causal entre a conduta e o resultado. Justifique sua resposta.

Questão3
Na impossibilidade ou na dificuldade de recorrer às fontes citadas nas
questões anteriores, como você propõe que seja defendida a tese de que a
empresa Souza Cruz tem responsabilidade civil com os consumidores ou com seus
sucessores?

Avaliação Respostas abertas. É importante o aluno reconhecer que lei, doutrina e


jurisprudência não acolheram a tese de que fumantes (ou seus sucessores, no
caso de morte daqueles) têm direito a receber indenização se houver problemas
de saúde ou morte decorrente do uso contínuo do tabaco. A grande dificuldade
dos consumidores é demonstrar o nexo causal entre o consumo do produto e a
maior parte das doenças, ainda que largamente noticiadas como fruto dessa
prática nociva à saúde.
Outra dificuldade é a própria aplicação do CDC, pois a maior parte dos fumantes,
como no caso em análise, iniciou o consumo antes da entrada em vigor dessa
legislação mais protetiva.
Enfim, as principais fontes do direito não apresentam orientação específica no
sentido da indenização para esses casos. Quem a pretende precisa persuadir o
magistrado prioritariamente pelos fatos e pelos princípios.
Situação Em Elaboração
Considerações adicionais
Plano de ensino

Título Teoria e Prática da Narrativa Jurídica


Número de aulas por 1
semana
Número de semana de aula 13
Tema Fundamentação simples.
Objetivos O aluno deverá ser capaz de:
- Diferenciar casos concretos simples de casos concretos complexos;
- Redigir diferentes intróitos para a fundamentação simples das peças processuais;
- Identificar os argumentos que devem compor a estrutura da fundamentação
simples;
- Redigir todos esses argumentos, inclusive os já produzidos no encontro anterior.
Estrutura de conteúdo 1. Fundamentação simples
1.1. Argumento pró-tese
1.2. Argumento de oposição
1.3. Argumento de autoridade
2. Diferentes tipos de intróito
3. Coesão e coerência textuais aplicadas ao texto jurídico argumentativo: noções
elementares
Procedimentos de ensino Aula dialogada, marcada pela produção de parágrafos.
Recursos físicos Data show, retroprojetor, capítulos dos livros didáticos sugeridos na bibliografia
básica, textos variados e peças processuais disponíveis na internet.
Aplicação prática e teórica
A fundamentação simples é aquela em que a subsunção do fato à norma
mostra-se suficiente para resolver o caso concreto. Na verdade, os casos
concertos simples são aqueles cuja fundamentação pode ser realizada apenas com
um argumento pró-tese, um argumento de autoridade e um argumento de
oposição.
Os casos concretos complexos exigem estrutura argumentativa muito mais
elaborada, a qual somente será trabalhada em Teoria e Prática da Argumentação
Jurídica.
O argumento pró-tese caracteriza-se por ser extraído dos fatos reais
contidos na narrativa. Deve ser o primeiro argumento a compor a fundamentação
simples. A estrutura adequada para desenvolvê-lo seria: Tese + porque + e
também + além disso. Cada um desses elos coesivos introduz fatos distintos
favoráveis à tese escolhida.
O argumento de autoridade é aquele constituído com base na legislação, na
doutrina, na jurisprudência e/ou em pesquisas científicas comprovadas.
O argumento de oposição apóia-se no uso dos operadores argumentativos
concessivos e adversativos, essa estratégia permite antecipar as possíveis
manobras discursivas que formarão a argumentação da outra parte durante a
busca de solução jurisdicional para o conflito, enfraquecendo, assim, os
fundamentos mais fortes da parte oposta.
Compõe-se da introdução de uma perspectiva oposta ao ponto de vista
defendido pelo argumentador, admitindo-a como uma possibilidade de conclusão
para, depois, apresentar, como argumento decisório, a perspectiva contrária.

TEXTO
FAMÍLIA DE ESTILISTA QUE MORREU APÓS PARTO PROCESSARÁ MÉDICO E
CLÍNICA
O Globo, 29/08/2008
Ronaldo Braga
A família da estilista Bárbara Pereira da Silva, de 30 anos, que morreu em
21/08/2008, após complicações no parto, decidiu processar o médico que a
atendeu e a Casa de Saúde Saúde Total, onde ela estava internada. Segundo o
advogado Joaquim Freitas, a idéia é pedir uma indenização ao obstetra e
ginecologista Eduardo Serrão e ao hospital.
Segundo a família, Bárbara, uma das sócias da grife infanto-juvenil Dominó,
não foi socorrida imediatamente ao apresentar hemorragia interna. Ela teria
ficado um período no quarto, mesmo com sangramento. De acordo com Joaquim
Freitas, a família vai ajuizar ação por conta dos erros do médico e das enfermeiras
da clínica.
— A família está arrasada. A vítima era jovem e aconteceram erros que são
inadmissíveis.— explicou o advogado Joaquim Freitas. Entre as falhas que a família
aponta estaria a desatenção em relação ao tipo de sangue da paciente, AB+, que,
segundo o advogado, merece cuidados redobrados:
— Quando um hospital ou uma clínica recebe uma pessoa que tem esse
tipo de sangue, os cuidados devem ser especiais, redobrados, porque é mais raro.
Quando Bárbara começou a sangrar, ela não poderia ter sido deixada num quarto,
por quase quarenta minutos. Isso é uma falha de grandes proporções.
A Clínica informou que, durante o período de internação de Bárbara Pereira
da Silva, disponibilizou toda a sua estrutura humana e tecnológica necessária à
equipe médica escolhida pela família da estilista. Segundo ainda a clínica, a equipe
médica foi responsável pelo acompanhamento e se manteve ininterruptamente
junto à paciente. A Saúde Total acrescentou que todas as informações solicitadas
pela família foram imediatamente fornecidas e que se mantém inteiramente à
disposição para qualquer outro esclarecimento.
A casa de saúde diz ainda que não houve qualquer falha na prestação de
seus serviços, tendo a estilista recebido dez transfusões, “após confirmada a
compatibilidade sanguínea e a qualidade de cada uma das unidades aplicadas,
transfusões essas imediatamente disponibilizadas pelo banco de sangue da Saúde
Total depois de solicitadas pela equipe médica responsável”. O hospital diz ser
equivocada a informação de que não havia sangue na unidade.
Procurado pelo GLOBO, Eduardo Serrão disse duas vezes que não poderia
falar porque estava em consulta. Depois, não foi encontrado. Bárbara Pereira da
Silva estava grávida do segundo filho, uma menina.

Se julgar necessário, recorra às fontes a seguir.


Art. 186 do CC: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.

Art. 927 do CC: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
Art. 6° do CDC: São direitos básicos do consumidor:
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas
no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com vistas à prevenção ou
reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos,
assegurada a proteção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiência;
Art. 14 do CDC: O fornecedor de serviços responde, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1° - O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor
dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes,
entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
Doutrina:
Erro médico é o mau resultado ou resultado adverso decorrente de ação ou da
omissão do médico. O erro médico pode se verificar por três vias principais. A
primeira delas é o caminho da imperícia decorrente da "falta de observação das
normas técnicas", "por despreparo prático" ou "insuficiência de conhecimento"
como aponta o autor Genival Veloso de França[1]. É mais freqüente na iniciativa
privada por motivação mercantilista. O segundo caminho é o da imprudência e daí
nasce o erro quando o médico por ação ou omissão assume procedimentos de
risco para o paciente sem respaldo científico ou, sobretudo, sem esclarecimentos
à parte interessada. O terceiro caminho é o da negligência, a forma mais
freqüente de erro médico no serviço público, quando o profissional negligencia,
trata com descaso ou pouco interesse os deveres e compromissos éticos com o
paciente e até com a instituição. O erro médico pode também se realizar por vias
esconsas quando decorre do resultado adverso da ação médica, do conjunto de
ações coletivas de planejamento para prevenção ou combate às doenças[2].
Questão
Produza a fundamentação simples para o caso concreto. O texto deverá conter
Intróito, argumentos pró-tese, de autoridade, de oposição e conclusão.

Observação: sabemos que são vários os tipos de intróito, por exemplo,


“explanação de ideia inicial”, “enumeração”, “localização do fato no tempo e no
espaço”, “exemplificação”, “retomada histórica” etc. Produza aquele que
entender mais adequado para o caso, considerando-se a temática e a tese que
escolheu.

[1] França GV. Direito médico. 6. ed. São Paulo: Fundação BYK, 1995.
[2] GOMES, Júlio Cézar Meirelles. Erro médico: reflexões. Disponível em:
<http://www.portalmedico.org.br/revista/bio2v2/reflerro.html> Acesso em: 10
maio 2007.
Avaliação Resposta aberta. Produção textual.
Situação Em Elaboração
Considerações adicionais
Plano de ensino

Título Teoria e Prática da Narrativa Jurídica


Número de aulas por 1
semana
Número de semana de aula 14
Tema Produção da narrativa simples e da narrativa valorada: orientações finais.
Objetivos O aluno deverá ser capaz de:
- Aperfeiçoar a produção das narrativas jurídicas;
- Desenvolver diferentes estratégias para a narrativa dos fatos controvertidos;
- Produzir textos coesos e coerentes.
Estrutura de conteúdo 1. Narrativa jurídica simples e valorada
2. Cronologia dos fatos
2.1. Caso concreto com poucos fatos controvertidos
2.2. Caso concreto com muitos fatos controvertidos
3. Coesão e coerência textuais
Procedimentos de ensino Aula dialogada.
Recursos físicos Data show, retroprojetor, capítulos dos livros didáticos sugeridos na bibliografia
básica, textos variados e peças processuais disponíveis na internet.
Aplicação prática e teórica Ao longo do semestre, estudamos todo o conteúdo necessário à produção
das narrativas jurídicas. Neste encontro, já a título de revisão para as últimas
provas, vamos aprimorar pontualmente algumas orientações sobre como
organizar a cronologia dos fatos do caso concreto.
Se houver eventuais pontos controvertidos, sugerimos seguir a ordem
cronológica e, no ponto da controvérsia, por meio da polifonia, mostrar as duas
versões. Se, porém, as partes possuem versões muito diferentes sobre grande
parte dos eventos, melhor seria narrar, em primeiro lugar, a versão de quem
acusa (parte autora) e, depois, a versão da parte ré, estratégia que ainda observa
a cronologia dos eventos, uma vez que, no processo, autores pronunciam-se antes
dos réus.

QUESTÃO
Com base nas informações sobre os casos que seguem, redija um relatório
para cada caso concreto.

Caso concreto 1
Onde: Rodovia Presidente Dutra, na altura do Município de Nova Iguaçu.
Quem ativo: Josias Albuquerque Rodrigues, 38 anos, casado, camelô.
Quem passivo: Márcia Cristine de Albuquerque Rodrigues, 32 anos, casada,
auxiliar de escritório.
Quando: mais ou menos às 8h do dia 09/11/2008
Fato: cárcere privado, ameaça e lesões corporais

Como (numerar a ordem cronológica):


( ) Mais ou menos às 2h da manhã, em 09/09/2006, Josias chega à casa de
Márcia, como quem não quer nada e agride a mulher na frente das crianças. Ela
vai à delegacia e ele passa a ameaçá-la, para “retirar a queixa”, ainda que isso de
nada adiante – Lei Maria da Penha.
( ) Ele entra no ônibus e toca o terror; gente chorando, se jogando no chão, mas
o motorista que não é bobo sai correndo.
( ) Por fim, os agentes do Bope vencem Josias pelo cansaço e ele se entrega.
( ) A nossa eficiente polícia chega na hora H, mas o doido pára um ônibus na via
Dutra e entra com a Márcia – o revólver tá na cabeça dela.
( ) Essa maluquice dura 10 horas e pára o trânsito na Via Dutra; as redes de
televisão colocam essa novela no ar.
( ) Márcia não suporta mais as crises de ciúmes de Josias e se separa dele, em
agosto de 2006. Foram 10 anos de suplício com aquele neurótico. O doido, maluco
com a separação, começa a azucrinar a vida da mulher e de seus 3 filhos. Ele tá
com a idéia fixa de que é corno.
( ) Durante as 10h que ele passa no ônibus, não pára de agredir a mulher, puxa o
cabelo dela e a xinga muito. Consumiu grande quantidade de entorpecente.
Consequência: Josias é levado para o 352º DP acusado de porte ilegal de arma,
ameaça, cárcere privado e lesões corporais.

Depoimentos:
1) Gilson Luís Mota Reis, 43 anos, vizinho:
– Cansei de separar briga dos dois, ela apanhava quase todo dia. Eu tinha pena
era das crianças.

2) Jorge Bertrand Rodrigues, passageiro do 499:


– Assim que entrou no ônibus ele disse que não ía maltratar ninguém; o negócio
dele era com a mulher. Pô, mas ficou todo mundo com medo, geral começou a
correr pra traseira do ônibus.

Caso concreto 2
André Ramalho de Lima está, há dois meses, preso, acusado de matar o
enteado, no dia 16 de julho de 2007. André está sentindo na pele os riscos da
prisão preventiva: “cumpre pena” antes de ser julgado e pode estar pagando por
um crime que não cometeu.
O Defensor Público Walter Corrêa afirma que André é vítima de denúncia
inepta do Ministério Público. Garante ainda que ele foi prejudicado por
investigação mal feita e por falhas da perícia técnica. Acusado de ter matado o
filho de sua companheira, de dois anos, foi preso e sofreu maus-tratos na prisão. É
réu primário, tem carteira assinada e residência fixa, mas para ele não valeu a
presunção de inocência.
Consta da denúncia que André matou o garoto porque era inimigo do pai
biológico da criança. Nenhuma testemunha confirmou a versão. Muito pelo
contrário: o pai biológico era um dos melhores amigos de André.
A criança tinha problemas sérios de saúde (anemia profunda e crises
convulsivas) e, de acordo com a mãe, passava mais tempo no hospital do que em
casa. Por causa da anemia, era obrigada a tomar injeções para complementar a
alimentação. Algumas causavam alergia, caracterizada por manchas pelo corpo.
No dia da morte, a criança, que tinha acabado de sair de uma internação,
começou a passar mal. O padrasto, num ato de desespero, fez massagens
cardíacas no bebê e respiração boca-a-boca.
Para o MP, a intenção de André, ao fazer a respiração boca-a-boca, era
impedir que a criança de dois anos o apontasse como autor do homicídio. Na
necropsia, o médico legal concluiu que as manchas espalhadas pelo corpo do bebê
eram marcas de espancamento.
No depoimento, André disse que foi ameaçado pelos policiais do
Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para confessar o crime.
O Defensor apontou a arbitrariedade da prisão de André, alegando a
presunção de inocência, que deve incidir mesmo quando o réu confessa o crime,
porque não se sabe em quais condições o acusado o fez e que o Supremo Tribunal
Federal tem entendimento firmado de que só cabe prisão quando a sentença
condenatória já transitou em julgado, ou seja, quando não restarem mais dúvidas
de que o réu é culpado pelo crime[1].
André estuda entrar com ação de indenização por danos morais e materiais
pelo tempo em que ele ficou preso.
(Adaptação de caso concreto relatado na Revista Consultor Jurídico)[2]

[1] Existem opiniões divergentes sobre essa questão. Sugerimos que leia um
pouco sobre os requisitos da prisão preventiva.
[2] INTERDISCIPLINARIDADE: dando continuidade à proposta de estudo
interdisciplinar, sugerimos que você recorra aos conteúdos indicados para a
melhor solução do exercício apresentado.
Direito Penal: princípio da presunção da inocência, tipicidade, nexo causal,
medidas de segurança.
Avaliação Respostas abertas. Produção textual.
Situação Em Elaboração
Considerações adicionais
Plano de ensino
Título Teoria e Prática da Narrativa Jurídica
Número de aulas por 1
semana
Número de semana de aula 15
Tema Produção da fundamentação simples: introdução à argumentação jurídica.
Objetivos O aluno deverá ser capaz de:
- Aprimorar a produção da fundamentação simples;
- Produzir textos coesos e coerentes.
Estrutura de conteúdo 1. Fundamentação simples
1.1. Argumento pró-tese
1.2. Argumento de oposição
1.3. Argumento de autoridade
2. Diferentes tipos de intróito
3. Coesão e coerência textuais aplicadas ao texto jurídico argumentativo: noções
elementares
Procedimentos de ensino Aula dialogada.
Recursos físicos Data show, retroprojetor, capítulos dos livros didáticos sugeridos na bibliografia
básica, textos variados e peças processuais disponíveis na internet.
Aplicação prática e teórica Esta aula continua a proposta de revisitação do conteúdo já trabalhado, a
fim de aprimorar as competências e habilidades necessárias à produção do texto
jurídico, as quais não são alcançadas, por certo, em um único encontro.
Questão
Leia o caso concreto disponível para a aula de hoje e produza a
fundamentação simples para o caso concreto. Reiteramos que o texto deverá
conter Intróito, argumentos pró-tese, de autoridade, de oposição e conclusão.

Caso Concreto
Paulino Provin Miola recebeu fatura no valor de R$ 131,67, por serviços de
telefonia prestados em seu telefone residencial. Analisando a fatura, verificou
constar ligação de mais de 30 minutos para a Ilha Salomão.
Em contato com a Embraliga, informou não ter efetuado tal ligação, uma
vez que a referida linha telefônica se encontrava disponível para uso exclusivo da
internet, reiterando não ter efetuado a ligação de 30 minutos para a Ilha Salomão.
Não obstante tais procedimentos, recebeu aviso de inclusão no SPC e,
posteriormente, ao realizar as compras de natal, foi informado do cadastramento.
A Embraliga alegou que Paulino, ao acessar site perigoso, teve seu
computador desconectado do provedor ‘Terra’, e conectado a provedor
internacional desconhecido, resultando na ligação antes referida. Esclarecida a
situação, o nome de Paulino foi incluído nos cadastros de inadimplentes em razão
do não–pagamento da dívida.
Segundo a Embraliga, a origem da ligação internacional antes referida
ocorreu em razão do acesso de Paulino a sites internacionais de risco, que
provocaram a desconexão ao seu provedor e nova conexão a provedor
internacional. Por isso, a empresa não se responsabiliza pela desatualização do
antivírus no computador de seu cliente, tendo que efetuar a cobrança.
Paulino pediu a inversão do ônus da prova, alegando que estão presentes
os requisitos de verossimilhança e hipossuficiência (condição inferior) do
consumidor.
O depoimento de Fabiano Collasio, analista de sistemas do Provedor Terra,
informa da possibilidade de discagem para provedor internacional, na hipótese de
a máquina ter sido contaminada por um vírus que altere as configurações do
“discador” existente no “navegador”, citando, inclusive, o conhecido vírus “cavalo
de tróia”.

Caso necessário, considere, em sua fundamentação, as seguintes fontes:


Art. 6° do CDC: São direitos básicos do consumidor:
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas
no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com vistas à prevenção ou
reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos,
assegurada a proteção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiência;
Ensina Ada Pelegrini Grinover: “É evidente, entretanto, que não será em qualquer
caso que tal se dará, advertindo o mencionado dispositivo, como se verifica de seu
teor, que isso dependerá, a critério do juiz, da verossimilhança da alegação da
vítima e segundo as regras ordinárias da experiência” (GRINOVER, Ada Pelegrini.
Código Brasileiro de Defesa do Consumidor. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1992, p. 71).

Procon de São Paulo: aviso impresso aos consumidores - “Navegar pela Internet
pode ser uma experiência realmente interessante, mas requer cuidados! O acesso
a alguns sites (eróticos e de jogos, principalmente) pode fazer com que seu
computador, até mesmo sem que você perceba, seja desconectado do provedor
local, reconectando-o automaticamente a outro provedor, no exterior, gerando,
assim, a cobrança de ligações internacionais!”

Avaliação Resposta aberta. Produção textual.


Situação Em Elaboração
Considerações adicionais
Plano de ensino

Título Teoria e prática da Narrativa Jurídica


Número de aulas por 1
semana
Número de semana de aula 16
Tema Revisão do conteúdo e aplicação prática.
Objetivos O aluno deverá ser capaz de:
- Sanar todas as eventuais dúvidas acumuladas ao longo do semestre.
Estrutura de conteúdo 1. Narrativa simples
2. Narrativa valorada
3. Fundamentação simples
Procedimentos de ensino Aula dialogada.
Recursos físicos Data show, retroprojetor, capítulos dos livros didáticos sugeridos na bibliografia
básica, textos variados e peças processuais disponíveis na internet.
Aplicação prática e teórica Com base nas informações sobre o caso que segue abaixo, redija:
1) uma narrativa valorada, como estudada em aula;
2) um texto argumentativo.

Observação: professor e alunos podem entenderem que, ao invés da narrativa


valorada, deve ser produzido ainda outro relatório.

Ação indenizatória movida por A em face da Empresa Aérea X, tendo


como causa de pedir o extravio de mala em excursão à Europa. Relatou o autor ter
sofrido profundo aborrecimento e humilhação, pois, além de usar roupas
emprestadas de companheiros de viagem, teve que comprar outras peças para
prosseguir na excursão, só vindo a receber a mala de volta trinta dias após,
quando retornou ao Rio de Janeiro. Pediu indenização de 50 salários mínimos por
dano moral e o ressarcimento das despesas que teve com a aquisição de roupas e
objetos pessoais, no valor de R$ 1.500,00, conforme notas fiscais que instruem a
inicial.
Contestando o feito, a ré alegou o seguinte: as roupas e objetos pessoais
adquiridos pelo autor continuam sendo de sua propriedade e por ele
normalmente utilizadas, pelo que não há que se falar em dano material; mesmo
que assim não fosse, a Convenção de Varsóvia, modificada pelo Protocolo de Haia
(1955), que regula o transporte aéreo internacional e do qual o Brasil é signatário,
limita a indenização por extravio de bagagem a US$ 400,00 — quatrocentos
dólares (art. 22); não há fundamento legal para qualquer indenização a título de
dano moral porque a referida Convenção de Varsóvia não a prevê.

Art. 6° - São direitos básicos do consumidor:


I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas
no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com
especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e
preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiência.

Avaliação Respostas abertas. Produção textual.


Situação Em Elaboração
Considerações adicionais
Plano de ensino
Anexo 1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA


___ VARA ___ DA COMARCA ___

Parte descritiva
Qualificação das partes

Parte narrativa Dos fatos


_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
Parte
Do direito
argumentativa _______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
Parte injuntiva
Do pedido
4- __________________________;
5- __________________________;
6- __________________________.

Das provas

Do valor da causa

Nesses termos,
Pede deferimento.

Local, data e assinatura.


Anexo 2

Anexo 3

Anexo 4

Acompanhe a sequência cronológica dos principais eventos de um conflito2:

A escola Aumenta a A autora foi


A autora fez a
terceirizou as inadimplência impedida de
matrícula da
aulas de no pagamento assistir às
sua filha na
informática e das aulas.
escola
inglês mensalidades
1999 2003 / 1º sem. 2003 / 2º sem. Meses depois [...]

2 FETZNER, Néli Luiza C. et al. Lições de Argumentação Jurídica: da Teoria à Prática. Rio de Janeiro:
Forense, 2010, cap. 3.1.
Anexo 5

Anexo 6

Narrativa dos fatos

Fato / prova Justificativa da


extraídos da Valoração valoração
narrativa
FATO VALORAÇÃO JUSTIFICATIVA
A médica indicou o uso do Agiu, portanto, com Porque sabia que a
analgésico xyz. imperícia paciente era alérgica ao
medicamento

Ao desenvolver o parágrafo argumentativo, poderíamos redigi-lo assim:


Importa destacar que a médica Maria das Dores Silva, que atendeu a paciente e
indicou-lhe o analgésico xyz, agiu de forma imperita. Isso porque, segundo a mãe
da paciente, essa lhe informou que sua filha tinha alergia àquele medicamento e,
mesmo assim, foi-lhe ministrada uma dose suficiente para causar-lhe o choque
anafilático.

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