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Sistemas de suporte à decisão

para a outorga de direitos de uso


da água no Brasil: uma análise da
situação brasileira em alguns estados
Luiz Gabriel T. Azevedo*, Manuel F. Rego**, Alexandre M. Baltar***, Ruben Porto****

Resumo Abstract

A outorga de direitos de uso da água é um instrumento essenci- The water rights use is an essential instrument for the ade-
al para a adequada implementação da Política Nacional de Recur- quate implementation of the National Water resources policy,
sos Hídricos. Entretanto, essa implantação e sua administração são however, its introduction and administration is a complex task. In
de grande complexidade. Nesse contexto, os sistemas de suporte à this context, the decision support systems could contribute to a
decisão podem auxiliar a uma melhor compreensão do comporta- better understanding of the water resources systems functioning.
mento dos sistemas de recursos hídricos. Este estudo, realizado This study, implemented under the Bank Netherlands Water Par-
dentro do Programa de Parceria pela Água do Governo Holandês tnership Program with the World Bank, had the main objective of
com o Banco Mundial, teve o objetivo de avaliar a utilização de sis- evaluating the decision support systems use for water rights in
temas de suporte à decisão para outorga de direitos de uso da água the water resources management in Brazil, by analyzing the ap-
na gestão de recursos hídricos no Brasil, por meio da análise de sua plication of decision support systems in several states and at the
aplicação em diferentes estados e no nível federal. Constatou-se federal level. The study concluded that the use of decision su-
que a utilização prática de sistemas de suporte à decisão para a pport systems for the water rights is still incipient in Brazil, and
outorga, no Brasil, ainda está incipiente e pode ser potencializada. could be enlarged. Some recommendations were proposed for
Este estudo apresenta recomendações visando à sua ampliação. its broader use.

Palavras-chave: sistemas de suporte à decisão, Banco Mundial, Key words: decision support system, World Bank, water rights,
outorga, recursos hídricos. water resources.

INTRODUÇÃO da competência, confere a um ente público ou pri-


vado a possibilidade de uso privativo de um recur-
A outorga é um instrumento jurídico por meio do so público. Como no Brasil as águas são bens pú-
qual o poder público, através de órgão com a devi- blicos, de domínio da União, dos Estados ou do
Distrito Federal (Constituição Federal, arts. 20 e
*
PhD em Planejamento e Gerenciamento de Recursos Hídricos pela 26), todo uso deve ser outorgado.
Colorado State University, coordenador de Operações Setoriais no Brasil
do Banco Mundial. lazevedo@worldbank.org
A lei da Política Nacional de Recursos Hídri-
**
Mestre em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco, con- cos institui a outorga dos direitos de uso de re-
sultor em Recursos Hídricos do Banco Mundial e diretor da Práxis Consul- cursos hídricos como um de seus instrumentos,
toria. mrego@worldbank.org
***
Mestre em Recursos Hídricos pela Universidade de Brasília, consultor
tendo como objetivo “assegurar o controle quan-
em Recursos Hídricos do Banco Mundial. abaltar@terra.com.br titativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo
****
Doutor em Recursos Hídricos pela Escola Politécnica da Universidade exercício dos direitos de acesso à água” (Lei nº
de São Paulo, professor do Departamento de Hidraúlica e Engenharia
Sanitária da USP. rlporto@usp.br 9.433/97, Art. 11).

BAHIA ANÁLISE & DADOS Salvador, v. 13, n. ESPECIAL, p. 481-496, 2003 481
SISTEMAS DE SUPORTE À DECISÃO PARA OUTORGA DE DIREITOS DE USO DA ÁGUA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DA SITUAÇÃO...

Note-se que, ao mesmo tempo em que mantém integrada, sobre a alocação de direitos de uso dos
no poder público a prerrogativa do controle, a ou- seus recursos hídricos.
torga confere ao outorgado a segurança necessá- O presente estudo insere-se, justamente, nesse
ria do acesso à água, com a qual pode melhor processo de busca pelo estabelecimento de um
planejar suas atividades e investimentos. sistema nacional de direitos de uso dos recursos
Vale salientar, no entanto, que a prática da ou- hídricos, tendo como objetivos principais: (i) avaliar
torga é bastante anterior à Lei 9.433. Alguns esta- a utilização de sistemas de suporte à decisão (SSD)
dos, como São Paulo, Paraná e Bahia já se utilizam para outorga de direitos de uso da água no gerenci-
desse instrumento há mais de dez anos. Em 2000, amento de recursos hídricos no Brasil, por meio de
dos 27 Estados da Federação, 19 uma análise da aplicação desse
já possuíam leis estaduais de re- A outorga não é instrumento em diferentes esta-
cursos hídricos, além do Distrito um instrumento de dos, de forma a contemplar diver-
Federal, instituindo formalmente a fácil implantação sas realidades e estágios de de-
outorga.1 e administração. senvolvimento; e (ii) extrair lições
Apesar de sua importância e Sua complexidade advém, das experiências existentes e apon-
amparo legal, hoje quase que unâ- de um lado, da própria tar recomendações para desen-
nimes no Brasil, poucos estados natureza dos recursos volvimento e implantação de SSDs
(ex.: São Paulo, Paraná, Minas hídricos, com seus usos e para análise, controle e adminis-
Gerais, Bahia, Ceará e Pernam- atributos múltiplos em um tração da outorga de direitos de
buco) têm outorgado de modo sis- quadro de ocorrência uso da água.
temático suas águas, porém em estocástica e demandas O trabalho foi desenvolvido no
estágios de implantação bastante crescentes, e, do outro, do primeiro semestre de 2001, de
distintos. Dentre as várias razões contexto em que se insere modo que as informações e avali-
que explicam o fato, destacam-se seu gerenciamento, ações aqui apresentadas se refe-
aquelas de ordem técnica e insti- envolvendo interesses rem às situações encontradas na-
tucional, além do interesse políti- conflitantes e os mais quela ocasião. As situações espe-
co e da própria disponibilidade dos distintos atores, desde os cíficas em cada estado estudado,
recursos hídricos (conflitos cres- órgãos públicos gestores possivelmente, já não são mais
centes de uso impõem a necessi- e entidades da sociedade as mesmas, mas as conclusões e
dade da outorga). civil até os usuários recomendações do estudo per-
Por outro lado, a busca pela ges- finais da água manecem válidas e podem vir a
tão eficiente dos recursos hídricos contribuir para o aprimoramento
passa, necessariamente, pela estruturação e con- dos sistemas existentes e para a implementação
solidação de um sistema eficiente de alocação e de novos sistemas de suporte à decisão para ou-
registros de direitos de uso da água. torga de direitos de uso da água no Brasil. Este
No Brasil, o Banco Mundial vem trabalhando com estudo foi realizado no âmbito do programa de par-
vários Estados na promoção das reformas, nas ba- ceria pela água da Holanda com o Banco Mundial:
ses legal e institucional, para gestão dos recursos Bank-Netherlands Water Partnership Program –
hídricos e, mais recentemente, com a Agência Na- BNWPP.
cional de Águas – ANA, dando apoio à sua estrutu-
ração. Como parte dessa parceria, torna-se objeti- A OUTORGA E OS SISTEMAS DE
vo comum a estruturação e consolidação de um SUPORTE À DECISÃO
Sistema Nacional de Outorgas, que permita aos
Estados e à União decidir, de maneira eficiente e A outorga não é um instrumento de fácil implan-
tação e administração. Sua complexidade advém,
1
Flávio Terra Barth, “Quadro Sinótico das Leis Estaduais de Gerencia- de um lado, da própria natureza dos recursos hídri-
mento de Recursos Hídricos”, Comissão Eletrônica de Gestão/ABRH. cos, com seus usos e atributos múltiplos em um

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LUIZ GABRIEL T. AZEVEDO, MANUEL F. REGO, ALEXANDRE M. BALTAR, RUBEN PORTO

quadro de ocorrência estocástica e demandas cres- cisão: o sistema deve (i) assessorar o usuário na
centes, e, do outro, do contexto em que se insere solução de problemas não-estruturados; (ii) res-
seu gerenciamento, envolvendo interesses conflitan- ponder, rápida e convenientemente, perguntas do
tes e os mais distintos atores, desde os órgãos pú- tipo “o que acontece se”, por meio de execuções
blicos gestores e entidades da sociedade civil até múltiplas de um ou mais modelos; (iii) apresentar
os usuários finais da água. uma interface adequada para comunicação usuá-
A esse quadro soma-se a falta de informações rio-máquina; (iv) apoiar e aprimorar o julgamento
confiáveis, tanto para avaliação e acompanhamen- humano e não tentar substituí-lo; (v) permitir a in-
to da disponibilidade hídrica, em seus aspectos quali- corporação de julgamentos subjetivos e de conhe-
tativo e quantitativo, quanto para conhecimento, cimento de especialistas (PORTO; AZEVEDO, 1997).
controle e gerenciamento da demanda. Labadie; Sullivan (1986) destacam, adicional-
Existem, ainda, alguns outros elementos que adi- mente, que um sistema de suporte à decisão deve
cionam complexidade à análise dos problemas de possuir um nível adequado de generalização e fle-
recursos hídricos em geral e, em particular, às deci- xibilidade, para que possa se adaptar às mudanças
sões de outorga: (i) porte elevado dos investimentos; que venham a ocorrer no problema analisado ou no
(ii) necessidade de planejamento em longo prazo; contexto do processo decisório.
(iii) dinamismo ao longo da vida útil dos projetos; Os sistemas de suporte à decisão são compos-
(iv) repercussões econômicas, sociais e ambientais tos por três componentes básicos: um módulo de
significativas; e (v) participação de grupos hetero- diálogo (interação homem-máquina), um subsiste-
gêneos no processo decisório (PORTO e AZEVE- ma de dados (aquisição, gerenciamento e proces-
DO, 1997). samento) e um subsistema de modelos (análise e
Nesse contexto, emergem a importância e a uti- predição). Esses componentes são apresentados
lidade dos sistemas de suporte à decisão, aqui en- na Figura 1.
tendidos como ferramentas e metodologias susce- De um modo geral, a utilização prática de SSDs
tíveis de auxiliar indivíduos ou grupos organizados para outorga, no Brasil, ainda é relativamente limi-
no processo de busca, análise e seleção de alter- tada e pouco conhecida. Os seis estados brasileiros
nativas para solução de seus problemas. mais avançados nesse campo utilizam ferramentas
Algumas características têm sido destacadas computacionais (modelos, bancos de dados, SIG,
como importantes em um sistema de suporte à de- etc.) na análise e/ou controle das outorgas, mas

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não se tem registro de nenhum estudo abrangente ções entre as bases legais, critérios técnicos e arca-
de avaliação dessas experiências.2 bouço institucional, entre outras questões, com o ob-
Na esfera federal, destaca-se o trabalho realiza- jetivo de identificar aspectos comuns e/ou divergen-
do pela Secretaria de Recursos Hídricos do Minis- tes, extrair lições e traçar recomendações aos gesto-
tério de Meio Ambiente (SRH/MMA) no desenvol- res de recursos hídricos do país e ao Banco Mundial
vimento e implantação de um SSD específico para sobre as oportunidades de se avançar, de forma
análise e controle de outorgas em rios de domínio mais direta, para a estruturação de sistemas de alo-
da União.3 cação de direitos de uso dos recursos hídricos.
Além dos órgãos governamentais, alguns orga-
nismos de bacias hidrográficas já começaram a de- Aquisição da informação
senvolver sistemas de suporte à decisão. Este é o
caso, por exemplo, do Comitê do rio Paraíba do Sul, A maior parte das informações utilizadas foi co-
que desenvolveu um SSD para outorga cuja adoção letada diretamente em campo por meio da aplica-
já está sendo estudada pela Agência Nacional de ção de um questionário básico em todos os esta-
Águas, responsável pela outorga naquela bacia. dos selecionados e na Agência Nacional de Águas,
Nesse contexto, vale salientar a importância de de modo a verificar a prática efetiva da outorga e,
uma análise crítica das experiências já encampa- sobretudo, da utilização de ferramentas de suporte
das, visando a extrair lições no sentido de colabo- à decisão. Foram entrevistados gerentes e profissi-
rar para o aperfeiçoamento dos sistemas existen- onais de funções operacionais, de forma a capturar
tes e de orientar novas iniciativas nesse campo. informações quanto à necessidade e à efetiva utili-
zação de SSD’s, tanto no nível decisório quanto no
METODOLOGIA APLICADA nível de administração do instrumento de outorga.
Para complementar as informações coletadas,
A metodologia empregada para elaboração do também foram consultadas leis, decretos, portarias
estudo envolveu o contato direto por meio de entre- e manuais de outorga dos estados selecionados. A
vistas e visita de campo a estados e entidades primeira parte do questionário esteve relacionada à
onde o processo de outorga encontra-se suficiente- outorga de um modo geral (aspectos legais, institu-
mente avançado e onde a utilização de SSDs já se cionais, técnicos e operacionais) e, a segunda, tra-
faz presente. Os estados pesquisados foram: São tou especificamente do suporte à decisão utilizado
Paulo, Bahia, Paraná, Ceará, Minas Gerais e Per- (objetivos, concepção, componentes e a efetiva uti-
nambuco. Com essa amostra, pôde-se contemplar lização dada).
diferentes realidades existentes no país, no que se Algumas das questões inseridas na segunda
refere ao desenvolvimento institucional do setor de parte do questionário pressupunham a existência, no
recursos hídricos, ao estágio de implantação da estado, de um sistema de suporte à decisão para
outorga e do sistema estadual de gerenciamento e outorga. Quando da aplicação do questionário, ve-
aos problemas predominantes – qualitativos no rificou-se que, em geral, não existia um SSD bem defi-
Sul/Sudeste e quantitativos no Nordeste. Foi pes- nido, mas, sim, ferramentas de suporte à decisão,
quisada, também, a implantação da outorga no ní- com diferentes níveis de integração, que se aproxi-
vel federal. mavam, algumas mais, outras menos, de um SSD
A partir desse contato direto com os estados e propriamente dito, para análise, controle e adminis-
entidades relacionadas, foram traçadas compara- tração da outorga.
De posse dos questionários aplicados, os princi-
2
pais tópicos levantados na pesquisa de campo fo-
Estudo recente realizado no âmbito do PROÁGUA Semi-árido, financia-
do pelo Banco Mundial, faz referência a alguns SSD’s, mas em caráter ram organizados na forma de tabelas, com informa-
eminentemente descritivo, sem fazer uma avaliação sobre a utilização ções sintetizadas sobre cada estado.
que a eles têm sido dada.
3
Atualmente, o sistema está vinculado à Agência Nacional de Água – Essa estruturação das informações coletadas
ANA. permitiu uma melhor visualização da situação geral

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dos diversos aspectos estudados, tornando possí- módulos independentes, porém integrados, para o
vel a identificação de avanços e dificuldades co- controle administrativo de processos, a análise es-
muns e divergentes nos estados pesquisados, de pacial georreferenciada e a análise quali-quantitati-
modo a subsidiar as recomendações e conclusões va da outorga.
aqui apresentadas. Os dois primeiros já estão operando e, o tercei-
ro, encontra-se em fase final de implantação. Todos
O SUPORTE À DECISÃO PARA A OUTORGA foram concebidos internamente e desenvolvidos por
NO ÂMBITO FEDERAL programadores da própria equipe. O sistema foi
desenvolvido em total consonância com os proce-
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu, dimentos até então adotados para a administração
em seu Art. 20, a diferenciação entre as águas de da outorga. Possui um banco de dados bastante
domínio federal e estadual. Determinou, ainda, a detalhado e ferramentas de visualização espacial
competência da União para instituir o sistema naci- das outorgas emitidas. O módulo de análise quali-
onal de gerenciamento de recursos hídricos e para quantitativa, ainda em concepção, consiste basica-
definir critérios de outorga de direitos de seu uso. mente de um modelo para verificação do balanço
O sistema de gerenciamento foi instituído com a hídrico em função das vazões de referência, dos
Lei Nº 9.433/97, que trata da Política Nacional de padrões de qualidade da água arbitrados e das ou-
Recursos Hídricos, apresentando, como um de seus torgas emitidas.
instrumentos, a outorga de direito de uso dos recur- Os dados de entrada desse módulo de análise
sos hídricos. não são, no entanto, de fácil aquisição. Diante des-
Na esfera institucional, uma importante mudan- sa dificuldade, é importante o uso de ferramentas
ça foi a transferência, em 1995, da responsabilida- apropriadas para geração de vazões, cálculo de
de sobre a gestão dos recursos hídricos, do Minis- vazões de referência e simulação hidrológica, ain-
tério das Minas e Energia para o Ministério do Meio da não disponíveis nos sistemas em concepção.
Ambiente, arrefecendo a primazia do setor hidroe- No final do ano 2000, a atribuição de outorgar
nergético no desenvolvimento do setor de recursos as águas de domínio da União passou a ser da
hídricos. No novo Ministério foi criada a Secretaria Agência Nacional de Águas – ANA, criada pela Lei
de Recursos Hídricos (SRH/MMA), responsável pe- Nº 9.984. Para isso, a ANA conta com uma Supe-
las funções de planejamento e regulamentação do rintendência de Outorga, que está se estruturando
setor. para exercer suas funções de análise, controle ad-
Ainda em 1997, a SRH/MMA começou a se es- ministrativo e emissão da outorga. No presente es-
truturar para analisar e emitir as outorgas de direitos tudo, foram entrevistados técnicos dessa superin-
de uso das águas de domínio da União. Com esse tendência da ANA, egressos do departamento de
intuito, alguns sistemas de suporte à decisão para outorga da SRH/MMA.
controle e administração da outorga foram elabora- Em função do novo ordenamento institucional,
dos. O primeiro deles foi o SSDACO. Apesar das vá- os procedimentos e os próprios sistemas de supor-
rias contribuições que trouxe, o sistema não chegou te à decisão, até então empregados, estão passan-
a ser amplamente utilizado. Houve aproximação in- do por um processo de reavaliação no âmbito da
suficiente entre programadores externos e técnicos ANA, para aproveitar ao máximo a experiência ad-
da outorga e o nível de conhecimento existente à quirida e aperfeiçoar o que for possível.
época, quanto aos procedimentos e dificuldades
inerentes à análise e controle administrativo da ou- RESULTADOS OBTIDOS
torga, era menor.
De todo modo, a partir de idéias trazidas pelo As informações coletadas, durante a pesquisa
SSDACO e da experiência adquirida por parte da realizada nos estados, foram sintetizadas na elabo-
própria equipe de técnicos da SRH/MMA, iniciou-se ração dos quadros 1 (a outorga de um modo geral)
a concepção de um novo sistema composto de três e 2 (o suporte à decisão para outorga). Foram sele-

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cionados alguns aspectos considerados de maior ga de lançamento de efluentes, ainda indefinida em


relevância, comentados a seguir. todos os estados pesquisados. De fato, embora
Todos os estados pesquisados contam com leis passível de aprimoramento, nota-se que tem ocor-
específicas que regem o gerenciamento dos recur- rido um progressivo avanço no estabelecimento da
sos hídricos, instituindo a outorga de direitos de base legal para gestão de recursos hídricos, que
uso como um de seus instrumentos. Todas as leis não mais foi identificada como um dos principais
encontram-se regulamentadas por meio de decre- obstáculos para uma maior eficiência na alocação
tos e portarias. Em apenas um dos estados, a defi- dos direitos de uso da água. Apesar disso, em algu-
ciência da regulamentação foi apontada como as- mas das agências visitadas, ficou patente que o
pecto determinante (porém não o principal) para aprimoramento da regulamentação poderia facilitar
ineficácia da outorga. De um modo geral, os proce- o processo de consolidação da outorga como ins-
dimentos, critérios e parâmetros estão definidos e trumento de gestão.
amparados na lei, exceto no que se refere à outor-

Quadro 1
A Outorga
Estado Situação Quadro Critérios para Vazão de Informação Estágio de
legal institucional outorga referência técnica de base desenvolvimento

Ceará Lei 11.996 de A outorga é uma Uso insignificante: Águas Dados Apesar do grande avanço na
1992, decreto atribuição da Q<2.000 l/h. Superficiais: observados de gestão dos recursos hídricos no
de 1994: SRH/CE, que a Águas Q90 para rios vazão e níveis de estado nos últimos 10 anos, a
regulamenta a emite com apoio Superficiais: perenizados, reservatórios outorga ainda não está
outorga, com de um comitê máxima outorgável canais, lagos operados pela plenamente consolidada. Por
critérios bem formado por - 9/10 da vazão de e lagoas. COGERH, ao razões inerentes ao clima local e
definidos para instituições referência ou 1/3 Águas longo dos rios mesmo culturais, a atuação do
águas públicas no caso de lagoas. Subterrâneas: perenizados. estado é nitidamente voltada para
superficiais. estaduais (a Águas vazão de teste Existe cadastro a operação dos reservatórios e
Ausente em principal, Subterrâneas: ou capacidade de usuários, mas alocação da água entre bacias
relação ao COGERH), com máxima outorgável de recarga do não é utilizado (atividade exercida pela
lançamento de base em análise - vazão de aqüífero. na análise da COGERH). Há critérios e
efluentes e vaga e parecer de referência. outorga. Base procedimentos definidos, mas o
para águas uma câmara cartográfica instrumento de outorga ainda não
subterrâneas. técnica. Comitês digitalizada tem a importância que deveria ter
de bacia são 1/100.000. Não junto aos órgãos integrantes do
eventualmente existe sistema de gerenciamento de
consultados. monitoramento recursos hídricos e junto aos
de aqüíferos. usuários da água.
Bahia Lei 6.855 de Atribuição da Uso insignificante: Águas Dados A análise da outorga é detalhada
1995, decreto SRH/BA, que Q<0,5 l/s. Superficiais: observados de e rigorosa (sobretudo na
de 1997: conta com uma Águas Q90 (90% de vazão da rede avaliação dos volumes
regulamenta a gerência Superficiais: garantia ou da ANEEL e demandados para efeito de
outorga, com específica que máxima outorgável permanência a informações outorga) o que contribui para a
critérios definidos centraliza a - 80% da Q90, ou nível diário). pontuais obtidas consolidação desse instrumento
apenas para análise técnica. 95% nos casos de Águas em campanhas de gestão no Estado. Há
outorga de Possui escritórios abastecimento Subterrâneas: de hidrometria, dificuldades em relação à
águas descentralizados, humano e vazão de utilizados para insuficiência de dados confiáveis
superficiais. que fazem reservatórios em teste. O valor regionalização de vazão e capacidade de
Não há verificação rios intermitentes. outorgado é de vazões. aqüíferos. A equipe envolvida é
regulamentação preliminar e Máxima de 20% em função da Existe cadastro bastante completa, mas, na sua
em relação à encaminham os da Q90 para um verificação da de usuários, maioria, são consultores
outorga de processos para único usuário. demanda. operado e contratados através de projetos
lançamento de a sede. Não há Águas Subterrâneas: mantido pela em andamento no Estado, o que,
efluentes e de envolvimento de não há critério SRH. Base naturalmente, não constitui uma
águas CBHs. fixado em lei, cartográfica solução definitiva para
subterrâneas. vazão de teste é 1/100.000 quase administração do sistema de
indicativa do toda digitalizada. outorga.
máximo. Pouca informação
sobre os
aqüíferos (não há
monitoramento).

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LUIZ GABRIEL T. AZEVEDO, MANUEL F. REGO, ALEXANDRE M. BALTAR, RUBEN PORTO

Quadro 1
A Outorga (continuação)
Estado Situação Quadro Critérios para Vazão de Informação Estágio de
legal institucional outorga referência técnica de base desenvolvimento
Paraná Lei 12.726 de Atribuição da Os critérios serão Águas Dados O Estado já outorga suas águas
1999. O decreto SUDERHSA, definidos em Superficiais: observados de desde 1989. Possui equipe bem
que regulamenta que possui um manual técnico a Q7,10 (vazão vazão da rede estruturada, formada por técnicos
a outorga está departamento de ser elaborado. de estiagem da ANEEL e do quadro permanente do estado.
pronto, porém gestão de Provisoriamente, com tempo de COPEL Conta com a cooperação de
ainda não foi recursos hídricos, utiliza-se o retorno de 10 (SUDERHSA outros órgãos, mas o
oficializado. que se ocupa seguinte: anos e opera), que relacionamento institucional não é
Esse decreto basicamente da Águas Superficiais: duração de 7 alimentam um adequadamente formalizado,
determina que outorga e do máxima outorgável dias). programa de dependendo muito da boa
os critérios para ICMS Ecológico. - 50% da Q7,10. Águas regionalização vontade de algumas pessoas,
outorga serão Conta com o Com Subterrâneas: utilizado para sobretudo com o órgão ambiental
definidos em apoio de outros regularização, vazão de análise da (IAP). A articulação com o IAP vai
um manual órgãos, sobretudo exige-se uma teste. O valor outorga. se tornar ainda mais importante
técnico a ser o ambiental vazão remanescente outorgado é Cadastro com quando o estado passar a
elaborado (IAP), mas em de 50% da Q7,10. determinado dados outorgar o lançamento de
(inclusive quanto atividades de Águas em função da fornecidos pelos efluentes, de maneira que os
ao lançamento recebimento e Subterrâneas: não verificação da usuários, canais de cooperação e
de efluentes). encaminhamento há critério fixado, demanda. retificado e responsabilidades de cada
Atualmente, a de pedidos e, vazão de teste é complementado departamento deveriam ser
outorga é dada não, na análise. indicativa do com as vistorias. acordados e consolidados.
com base em Não há máximo. Base cartográfica
portarias da envolvimento de 1/50.000
SUDERHSA. CBHs. O novo digitalizada. Não
decreto prevê a há informação
participação dos sobre capacidade
CBHs inclusive de aqüíferos.
na proposição
de critérios.
São Paulo Lei 7.663 de Atribuição do O Estado não Não há vazão Dados Primeiro estado brasileiro a
1991, decreto DAEE, que já adota nenhum de referência observados de outorgar suas águas. A atuação
41.258 de 1996: emite outorgas valor fixo de fixada no que vazão e chuva, do DAEE foi fundamental para
regulamenta os há mais de 3 referência quanto se refere a estudos do construir uma base sólida de
artigos da lei décadas. Possui às vazões máximas limites para DAEE e outras conhecimentos sobre os recursos
referentes à 8 diretorias outorgáveis. concessão da entidades e hídricos do Estado, com
outorga. A regionais e 17 Também não são outorga. Os observações de informações que orientam as
portaria 717, do escritórios em estabelecidas técnicos, campo. Cadastros análises dos pedidos de outorga.
DAEE, todo o Estado, vazões informalmente, de usuários Existem bacias em avançado
estabelece os onde é realizada insignificantes, utilizam como (30.000 usos), estágio de estresse hídrico, cuja
requisitos para uma parte do exceto no caso de referência o irrigantes, poços administração da outorga é bem
obtenção da processo de poços profundos, valor de 50% e rios (6.000 mais complexa e de difícil
outorga, análise da que são da Q7,10 rios). Base implementação. Para esses
constituindo outorga (vistorias, dispensadas de cartográfica casos, há necessidade de uma
praticamente pareceres outorga as vazões 1/50.000 (CN a atuação mais específica e
um manual de iniciais, etc.). A inferiores a 5 m3/h. cada 20m) com detalhada por parte do DAEE, o
procedimentos análise final é As outorgas são digitalização que ainda não está ocorrendo.
para o pedido. realizada na analisadas caso a ainda em 2001. Vários rios estaduais apresentam
A legislação sede do DAEE, caso, a depender A regionalização sérios problemas de poluição e a
não fixa critérios pela divisão de das condições de vazões é outorga de lançamento de
quantitativos de outorga. Em existentes em utilizada na efluentes ainda não foi
vazões geral não há cada bacia. análise geral, devidamente implantada.
outorgáveis e envolvimento dos corriqueira,
ainda não comitês, apenas casos mais
regulamentou em casos de complexos são
devidamente a conflito e alvo de estudos
outorga de reversões. específicos. Há
lançamento de estudos
efluentes. regionais do
DAEE sobre
capacidade dos
aqüíferos.

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SISTEMAS DE SUPORTE À DECISÃO PARA OUTORGA DE DIREITOS DE USO DA ÁGUA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DA SITUAÇÃO...

Quadro 1
A Outorga (continuação)
Estado Situação Quadro Critérios para Vazão de Informação Estágio de
legal institucional outorga referência técnica de base desenvolvimento

Minas Lei 13.199 O Estado já Os critérios para Águas A análise se Apesar do Estado já
Gerais de 1999, emite outorgas uso insignificante Superficiais: baseia em estudo outorgar suas águas há
regulamentada desde 1987. ainda não foram Q7,10 (vazão de de regionalização vários anos, a equipe
pelo decreto Hoje, é definidos (a lei estiagem com de vazões, dados envolvida é bastante
41.578 de atribuição do prevê a definição tempo de retorno de 1939 a 1989. reduzida, o que dificulta uma
2001. Os IGAM, que pelos CBH). de 10 anos e Dados observados análise mais rigorosa,
critérios de possui uma Águas duração de 7 em postos da sobretudo na avaliação das
outorga são divisão Superficiais: dias). ANEEL são demandas. Há dificuldades
fixados por responsável pela máxima outorgável Águas utilizados também na quantificação
meio de análise e - 30% da Q7,10. Subterrâneas: eventualmente. das disponibilidades
portarias administração da Com vazão do teste Dados de superficiais e subterrâneas.
administrativas outorga. A regularização, de bombeamento operação dos Existe muita informação,
do IGAM. Em articulação com exige-se vazão quando não reservatórios não mas precisa ser tratada e
2000 foi os órgãos remanescente de forem conhecidas são utilizados. sistematizada. Como ainda
aprovada a lei ambientais do 70% da Q7,10. as disponibilidades Cadastro de não foram elaborados os
13.771, que Estado é Águas hidrogeológicas requerentes de planos diretores das bacias,
trata das águas importante, mas Subterrâneas: não locais. outorga (difícil os critérios de outorga são
subterrâneas, não tem sido há critério fixado atualização). Base únicos para todo o Estado, o
mas ainda não fácil. Há vários em lei, vazão de cartográfica que não parece adequado
foi regulamentada. rios federais, de teste é indicativa 1/100.000 (Norte) em face à heterogeneidade
Também não forma que é do máximo. A lei e 1/50.000 (Sul) hidrológica e de uso dos
estão necessária uma prevê que as toda digitalizada. recursos hídricos existente
regulamentados maior vazões de Pouca informação na região.
os critérios para aproximação referência e sobre os aqüíferos.
outorga de com a ANA. critérios serão
lançamento de Problemas de definidos para
efluentes. articulação com cada bacia nos
a ANEEL para planos diretores.
tratamento do
setor elétrico.
Pernambuco Lei 11.426 Atribuição da Não há critério Águas Há poucos dados O Estado investiu muito nos
de 1997, SRH/PE, através definido Superficiais: de vazão (poucos últimos anos na
regulamentada de sua divisão legalmente. A informalmente se postos e séries sistematização das
no decreto de outorga e divisão de outorga utiliza a Q90. curtas). Sem informações existentes. Há,
20.269 de vistoria. A SRH utiliza Águas estudos de no entanto, uma grande
1997: institui a conta com o informalmente Subterrâneas: regionalização. deficiência de informação,
política apoio do órgão alguns critérios. vazão de teste. Cadastro de sobretudo quanto aos dados
estadual. A lei ambiental Vazão Na região usuários ainda não de vazão (a rede é
11.427 de 1997, (CPRH) para insignificante metropolitana de informatizado para extremamente reduzida com
e respectivo tramitação do inferior a 0,5 l/s. Recife há estudo as bacias períodos relativamente curtos
decreto 20.423 processo Sem definição de sobre vazões por litorâneas. de observação). Os critérios
de 1998, trata (recebimento de vazão máxima zona, utilizadas Cadastro de de análise não estão bem
especificamente pedidos), mas outorgável. como referência. poços em todo o definidos na regulamentação
das águas não na análise Em geral, reserva-se estado já da outorga (elevada
subterrâneas. da outorga. Não 10% da Q90 para informatizado. subjetividade nas análises).
Quanto à há envolvimento vazão ecológica. Base cartográfica A equipe é muito reduzida. A
outorga, a sistemático dos Águas 1/25.000 no litoral análise é melhor no caso
regulamentação comitês no Subterrâneas: (90% dos pedidos das águas subterrâneas,
é deficiente, de processo de poços com até de outorga). Todo pois há estudos que
forma que não análise. 20m de o Estado em orientam as decisões na
há definição profundidade ou 1/100.000 área mais crítica localizada
legal adequada 5m³/dia para uso digitalizado. na região metropolitana de
de critérios para doméstico/rural, Informação sobre Recife, onde, inclusive,
concessão da isentos de outorga. capacidade de ocorre uma fiscalização mais
outorga. Poços com aqüíferos existe intensa e sistemática.
Q>100m³/dia, teste apenas na região
de bombeamento. metropolitana.

488 BAHIA ANÁLISE & DADOS Salvador, v. 13, n. ESPECIAL, p. 481-496, 2003
LUIZ GABRIEL T. AZEVEDO, MANUEL F. REGO, ALEXANDRE M. BALTAR, RUBEN PORTO

Quadro 2
4
Suporte à Decisão
Estado Instrumentos de Recursos Utilização pela Estágio de
suporte à decisão de análise equipe de outorga desenvolvimento
Ceará As ferramentas de suporte A base de informações, os O sistema atual, voltado A falta de um SSD para análise e
à decisão atualmente em modelos hidrológicos e as para operação de administração do sistema de outorga não
uso no Estado visam a ferramentas de reservatórios e alocação da está associada a nenhuma dificuldade
operação dos geoprocessamento água, é bastante utilizado e técnica em implantá-lo, mas sim ao
reservatórios e macro existentes são utilizados na possui credibilidade junto próprio modelo de gerenciamento
alocação da água nas caracterização das aos técnicos do setor, adotado. No Ceará, a disponibilidade
bacias. Não há ainda um disponibilidades hídricas, usuários da água e comitês hídrica é totalmente determinada pela
SSD específico para a mas não se dispõe ainda de de bacia. Já há no corpo operação dos reservatórios e a alocação
análise e controle de recursos de análise técnico do Estado uma da água é definida por meio de um
outorgas. Apesar disso, específicos para o controle e cultura de gerenciamento de processo de negociação anual com os
no setor de recursos administração da outorga. recursos hídricos bem usuários nas suas respectivas bacias.
hídricos, já se usa bancos Não há integração entre o consolidada e uma clara Caso a outorga de direitos de uso venha
de dados, interfaces com banco de dados de outorga percepção das equipes a se consolidar como instrumento da
SIG e modelos de análise e as demais ferramentas já envolvidas quanto à política estadual de recursos hídricos, será
hidrológica e de alocação existentes. necessidade e importância relativamente fácil desenvolver
de água. Há grande do uso de ferramentas de ferramentas apropriadas para suporte às
quantidade de informação suporte à decisão. decisões, com base na capacidade já
em meio digital: desde instalada nas instituições estaduais.
dados hidrológicos à base
cartográfica.
Bahia Existem várias O principal recurso de As ferramentas disponíveis O departamento responsável pela outorga
ferramentas (banco de análise é uma planilha foram concebidas no Estado utiliza uma metodologia de
dados, CADs, modelos de eletrônica que permite a internamente e são análise consolidada, apoiada em algumas
simulação hidrológica, totalização de volumes utilizadas pela equipe de ferramentas de suporte à decisão. Essas
planilhas eletrônicas) que outorgados e saldos análise dos processos de ferramentas, no entanto, não estão
são utilizadas outorgáveis em função das outorga. O sistema é integradas e diversas funções úteis no
separadamente em uma vazões de referência e simples e foi desenvolvido processo de análise e administração das
seqüência lógica que critérios de outorga. São passo a passo de acordo outorgas ainda não estão disponíveis. Há
permite a análise da utilizadas ferramentas com as necessidades do deficiência nos recursos de visualização e
outorga. O nível de auxiliares para cálculo das departamento, de forma que processamento de informações espaciais,
integração e comunicação vazões de referência e há um elevado nível de dificuldades na avaliação das demandas
entre essas ferramentas é, avaliação de demandas domínio e utilização por agrícolas e na análise hidrológica (vazão
no entanto, ainda limitado, (sobretudo para irrigação). parte dos técnicos de referência e balanço de
o que prejudica o suporte Não há recursos envolvidos. Os técnicos do disponibilidades e saldos outorgáveis).
às decisões. automatizados para geração Estado consideram que, Essas são dificuldades operacionais que
de informações gráficas, apesar de algumas podem ser contornadas com a
mapas georeferenciados ou limitações existentes, as implantação de um sistema mais
pesquisas orientadas em ferramentas hoje disponíveis completo e integrado.
bancos de dados. são essenciais para a
análise da outorga.
Paraná Atualmente, são utilizados São poucos os recursos de Apesar da limitação de As ferramentas hoje utilizadas não
apenas cadastro de análise atualmente recursos, o atual sistema de configuram um SSD propriamente dito.
usuários em banco de disponíveis. A vazão de cadastro é amplamente Os recursos de análise são praticamente
dados e modelo de referência (disponibilidade utilizado pela equipe e ausentes e as interfaces são
regionalização de vazões. hídrica) é determinada por facilita bastante a análise inadequadas, permitindo pouco diálogo
Encontra-se em um modelo de dos pedidos de outorga. homem-máquina. Desde 1998, o Estado
desenvolvimento um regionalização de vazões, Apesar de estar sendo tem investido na concepção de sistemas
sistema de informações enquanto que as já elaborado externamente, o de informações para gestão de recursos
para auxílio à gestão de outorgadas são retiradas novo SSD tem sido hídricos. Empresas de consultoria
recursos hídricos em diretamente do cadastro. A discutido com a equipe especializada foram contratadas para
geral, incluindo modelos verificação do balanço é interna, que vem orientando fazer a concepção e implementação dos
de qualidade da água, realizada manualmente pelo sua concepção desde o sistemas. Uma atenção especial tem sido
previsão de cheias e técnico analista. Não há início. Os técnicos dispensada à modelagem da qualidade
módulo específico de recursos de geração de envolvidos na análise da da água. A equipe técnica da
suporte à decisão para informações gráficas nem de outorga, cientes das SUDERHSA tem participado intensamente
outorga. visualização espacial. limitações das ferramentas da discussão e definição novo sistema.
atualmente em uso,
acreditam que o novo SSD
responderá às
necessidades do
departamento de outorga.
4
Ressalta-se que este trabalho foi desenvolvido no primeiro semestre de 2001, de modo que as informações e avaliações aqui apresentadas se
referem às situações encontradas naquela ocasião.

BAHIA ANÁLISE & DADOS Salvador, v. 13, n. ESPECIAL, p. 481-496, 2003 489
SISTEMAS DE SUPORTE À DECISÃO PARA OUTORGA DE DIREITOS DE USO DA ÁGUA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DA SITUAÇÃO...

Quadro 2
Suporte à Decisão (continuação)
Estado Instrumentos de Recursos Utilização pela Estágio de
suporte à decisão de análise equipe de outorga desenvolvimento
São Paulo Há um banco de dados Os recursos de análise As ferramentas atuais de O DAEE utiliza atualmente bancos de
de águas subterrâneas atualmente disponíveis são suporte à decisão já estão dados antigos, operados e mantidos em
muito utilizado; outro limitados, sobretudo no que em operação há muito computador de grande porte pela
banco, com informações se refere às bacias que já tempo, bastante utilizadas empresa de processamento de dados do
das outorgas é menos apresentam quadros pela equipe técnica. Estado. Embora estas ferramentas
utilizado. Nas análises avançados de estresse Apesar das limitações efetivamente apóiem o processo
corriqueiras é utilizado um hídrico. Há um programa de existentes, os técnicos já decisório, não podem ser consideradas
sistema informatizado de regionalização de vazões estão acostumados com os um verdadeiro SSD, face às dificuldades
regionalização de vazões que fornece indicadores da procedimentos de análise, o de diálogo com os usuários, baixos graus
(informação estática - não disponibilidade hídrica que pode gerar uma certa de integração e automação e total
há atualização sistemática natural, o que não se aplica resistência a mudanças. De inexistência de instrumentos analíticos. Já
dos dados de origem). As para as bacias com vazões qualquer forma, já existe está em concepção um novo sistema de
bases de dados são regularizadas por uma cultura de utilização da suporte a decisão e novos instrumentos
armazenadas e operadas reservatórios. Não há informática que deverá ser de análise serão implantados. É
em computadores da cadastros de usuários e o mobilizada para facilitar a necessário um amadurecimento por parte
década de 70. Em geral, banco de outorgas não implantação do novo das equipes técnicas do setor de outorga
os dados são extraídos registra todos os usos, sistema de suporte à do DAEE para tratamento adequado das
dessas bases e as dificultando a verificação do decisão que está em bacias de maior complexidade do Estado,
análises são feitas balanço hídrico. concepção no DAEE. para as quais não é razoável utilizar
externamente em instrumentos genéricos de formulação
microcomputadores simplificada.
mediante a utilização de
planilhas e bancos de
dados mais amigáveis.
Minas As principais ferramentas O software de O sistema atual foi As ferramentas de suporte à decisão hoje
Gerais de suporte à decisão são geoprocessamento auxilia o concebido internamente, de disponíveis, já utilizadas desde 1998,
um banco de dados (que cálculo das vazões de acordo com as melhoraram muito o controle e a
armazena e gerencia as referência e a identificação necessidades, mas não administração da outorga. No entanto, a
informações referentes às das outorgas concedidas na houve treinamento para análise dos pedidos de outorga
outorgas concedidas) e área de interesse, mas não utilização dos softwares (verificação dos balanços hídricos) ainda
uma interface gráfica há recursos para verificação empregados. Com isso, o é precária, devido à falta de alguns
(geoprocessamento), que do balanço hídrico. Não domínio da equipe em recursos específicos, sobretudo no que se
permite a visualização estão disponíveis, também, relação a esses softwares é refere ao cálculo das vazões naturais e à
espacial das outorgas, a modelos de simulação limitado, dificultando a consideração da operação de
avaliação de áreas e hidrológica, nem de análise. Apesar das reservatórios. Já está prevista a
auxilia no cálculo das operação de reservatórios. limitações existentes, a concepção e desenvolvimento de um SSD
vazões de referência (com Alguns recursos existentes equipe do departamento de mais completo para análise da outorga.
base em um estudo de não estão sendo utilizados outorga acredita que as Além disso, será necessário ampliar e
regionalização de vazões). por falta de domínio dos ferramentas disponíveis capacitar a equipe do departamento de
técnicos em relação aos melhoraram a qualidade da outorga para utilização adequada do novo
softwares em uso. análise, reduzindo o tempo SSD a ser desenvolvido.
de tramitação dos
processos de outorga.
Pernambuco Possui sistema de Poucos recursos de análise A utilização de instrumentos Houve um avanço significativo nos últimos
informações sobre são atualmente utilizados. de suporte à decisão para cinco anos no Estado no que se refere à
recursos hídricos Os sistemas de informações análise da outorga é organização das informações existentes
(acessível via Internet), e os modelos de simulação praticamente nula. As sobre recursos hídricos, inclusive com
que dá suporte ao disponíveis não possuem ferramentas atualmente desenvolvimento de sistemas de
planejamento geral das recursos específicos para a disponíveis são utilizadas informações georeferenciados. As
ações da Secretaria de análise da outorga. Não há pela equipe, mas servem, ferramentas desenvolvidas, no entanto,
Recursos Hídricos. ferramentas para cálculo de principalmente, para não incorporam recursos adequados na
Possui também um vazões de referência, controle administrativo dos análise específica da outorga. Há sérias
sistema de informações identificação e totalização processos de outorga e não limitações de quantidade e qualidade dos
hidrológicas, com dados de volumes outorgados e para a análise propriamente dados de vazão no Estado, o que reduz a
de precipitação e vazão, verificação do balanço dita dos pedidos de outorga credibilidade da outorga de águas
modelos de simulação hídrico. No caso de águas recebidos. superficiais. Um novo SSD precisa ser
chuva-vazão e de subterrâneas, a análise se concebido de forma a aproveitar ao
operação de baseia em estudos máximo os dados existentes, com
reservatórios, que têm existentes e na experiência recursos de simulação que permitam
sido utilizados do geólogo da equipe de testar diferentes hipóteses, em face ao
esporadicamente na outorga. elevado grau de incerteza existente. Há
análise e administração necessidade, também, de ampliação e
da outorga. A equipe de capacitação da atual equipe responsável
outorga utiliza apenas um pela análise.
banco de dados para
cadastro e controle dos
processos e um CAD
para visualização espacial
das outorgas.

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LUIZ GABRIEL T. AZEVEDO, MANUEL F. REGO, ALEXANDRE M. BALTAR, RUBEN PORTO

A capacidade institucional instalada varia muito mento de tais critérios, de forma que sejam de fato
de um estado para outro. De um modo geral, os condizentes com as realidades locais.
órgãos gestores dos recursos hídricos, responsá- Constitui fato bastante encorajador que todas
veis pela outorga, apresentam limitações de re- as equipes entrevistadas reconheceram a impor-
cursos e, sobretudo, de pessoal, exceto São Pau- tância de um bom Sistema de Informações como
lo, que conta com estrutura de maior porte no fator essencial para a implementação efetiva do
DAEE. Entre os demais, Paraná e Bahia apresen- instrumento de outorga. Mais do que isso, todos os
tam equipes mais bem estruturadas, enquanto estados já possuem Sistemas de Informações em
que nos estados restantes existem sérias limita- funcionamento e continuam trabalhando em seus
ções, tanto no número quanto no perfil dos técni- aprimoramentos. No entanto, um dos problemas mais
cos envolvidos. Sem dúvida, a criação e o contí- sérios que os estados têm enfrentado é a deficiên-
nuo aprimoramento de instituições fortes, com au- cia da base de informações técnicas disponíveis.
tonomia administrativa e financeira, com quadros De um modo geral, o monitoramento de quantidade
técnicos adequados e políticas de recursos huma- e qualidade da água é limitado e os dados existen-
nos sadias e sustentáveis, representam um dos tes, muitas vezes, são subaproveitados por falta de
maiores desafios identificados. uma sistematização adequada. Nos estados do Nor-
Excetuando São Paulo e Pernambuco, todos os deste, há um número insuficiente de estações fluvio-
estados pesquisados adotam formalmente um cri- métricas e pouca informação sobre a capacidade
tério único de vazão máxima outorgável como per- dos aqüíferos existentes, limitando bastante o conhe-
centual de um determinado valor de referência. Nos cimento das disponibilidades hídricas e, em conse-
estados do Nordeste, prevalece a vazão de refe- qüência, reduzindo a credibilidade do instrumento
rência associada a um determinado nível de garan- de outorga. No Sul/Sudeste, as disponibilidades hí-
tia, em geral, a vazão com 90% de permanência. dricas são mais bem conhecidas e monitoradas,
Nos estados dos Sul/Sudeste, prevalece o critério mas persiste a limitação quanto ao monitoramento
associado às vazões mínimas, sobretudo a Q7,10. da qualidade da água.
Em alguns deles há uma determinação legal de en- Nem sempre os sistemas hídricos que contam
volvimento de comitês de bacias hidrográficas na com regularização de vazões por meio de reserva-
definição/proposição de critérios, mas isso ainda não tórios são adequadamente modelados. Os reserva-
tem ocorrido de maneira efetiva. tórios quase sempre são operados por outras insti-
A adoção de critérios únicos facilita o aspecto tuições, que muitas vezes não repassam os dados
operacional do sistema de outorga e dá maior se- de operação para o gestor dos recursos hídricos.
gurança ao gestor dos recursos hídricos, pois os li- No Ceará há uma experiência muito bem sucedida
mites outorgáveis são relativamente baixos e, por- iniciada com a criação da Companhia de Gestão
tanto, facilmente garantidos. Essa prática, no en- dos Recursos Hídricos – COGERH. Atualmente, a
tanto, quando aplicada em bacias com uso muito COGERH opera os principais reservatórios do es-
intensivo dos recursos hídricos, tende a não funcio- tado, definindo a alocação da água por meio de um
nar, pois os limites de outorga impõem forte restrição processo de negociação com os usuários. Uma as-
ao uso da água, com importantes repercussões só- sociação mais próxima deste modelo ao sistema de
cio-econômicas. Nesses casos, é essencial que outorga contribuiria de forma efetiva para a conso-
haja um plano para a bacia, definindo os critérios a lidação de uma cultura de direito de uso da água
serem adotados de modo a alcançar objetivos pac- naquele estado.
tuados entre todos os atores envolvidos (poder pú- Na prática, a fiscalização do uso outorgado da
blico, sociedade civil e usuários da água). água vem encontrando dificuldades devido às limita-
Em resumo, a existência de critérios distintos ções de pessoal, equipamentos e outros recursos. O
entre estados é natural e reflete as diferenças regio- estado de Pernambuco é o único que iniciou, recen-
nais, físicas e climáticas entre eles. Por outro lado, temente, um trabalho rotineiro de fiscalização, mas
deve-se ter clareza quanto o por que do estabeleci- que, por enquanto, só é efetivo para o caso das outor-

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SISTEMAS DE SUPORTE À DECISÃO PARA OUTORGA DE DIREITOS DE USO DA ÁGUA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DA SITUAÇÃO...

gas de águas subterrâneas. Em todos os outros esta- dos aspectos de qualidade da água e da outorga de
dos pesquisados, prevalece a fiscalização eventual águas subterrâneas, estão intimamente relaciona-
ou em função de denúncia. Essa situação contribui das à falta de autonomia financeira e administrativa
para a desatualização dos cadastros existentes. das instituições. Essa limitação está associada não
Todas as legislações estaduais prevêem a ou- só ao montante total de recursos alocados, mas,
torga para lançamento de efluentes, mas sua im- também, à irregularidade desses recursos que, mui-
plantação ainda é muito incipiente. Várias razões tas vezes, chegam em espasmos. O processo de
para esse fato foram apontadas: a maior complexi- outorga é um processo contínuo que está sempre
dade envolvida na análise integrada de quantidade em evolução. Nesse caso, o fluxo regular de recur-
e qualidade da água; a indefinição de critérios para sos é fundamental para que se possa planejar o que
outorga; a ausência do enquadramento de corpos fazer e como fazer, inclusive sobre o desenvolvi-
d’água; e a falta de uma base sistematizada de da- mento de ferramentas de suporte a decisões. A solu-
dos de qualidade da água. ção para esse problema passa, necessariamente,
Quanto à utilização de sistemas de suporte à de- pelo aspecto financeiro e, sobre isto, a política nacio-
cisão, pode-se dizer que os estados reconhecem a nal prega, e as experiências internacionais bem su-
importância desta metodologia e, em maior ou me- cedidas mostram, que a cobrança pelo uso dos re-
nor grau, utilizam ferramentas computacionais para cursos hídricos é uma das principais alavancas para
auxílio no processo de análise e administração da consolidação dos sistemas de gestão.
outorga. De forma geral, entretanto, nenhum deles
tira partido de todo o potencial da técnica e nota-se RECOMENDAÇÕES PARA DESENVOLVIMENTO
uma preocupação maior com a base de dados do DE SSD PARA OUTORGA
que com as ferramentas de análise e auxílio à to-
mada de decisões. Tal quadro é compreensível no Foram sintetizadas algumas conclusões do es-
atual estágio da implementação do sistema de ges- tudo realizado, apontando recomendações basea-
tão dos recursos hídricos brasileiros e deverá evo- das nos depoimentos coletados nos diferentes es-
luir para uma abordagem mais compreensiva, à tados pesquisados e na Agência Nacional de Águas,
medida que o sistema ganhar corpo. assim como na experiência pessoal dos consulto-
Praticamente todos os estados contam, no míni- res envolvidos na pesquisa.
mo, com um banco de dados para controle admi-
nistrativo dos processos de outorga. As maiores Clareza na definição dos objetivos
limitações estão, em geral, associadas aos compo- e das funções do SSD
nentes de diálogo, que não permitem uma comuni-
cação adequada entre o técnico e o computador, e O SSD deve refletir as reais necessidades da
à ausência de instrumentos de análise adequados. equipe que irá utilizá-lo. A concepção adequada e a
Cabe ressaltar, também, a necessidade de ca- posterior utilidade do SSD dependem de uma boa
pacitação das equipes encarregadas das análises definição dos procedimentos a serem adotados na
de outorga no que se refere à utilização de siste- análise e administração da outorga, em função dos
mas de suporte à decisão. Esse treinamento e ca- critérios e restrições legais, dos aspectos político-
pacitação não se referem apenas aos aspectos re- institucionais, das características hidrológicas das
lacionados à informática, mas, também, à modela- regiões de interesse e da qualidade e amplitude da
gem sistêmica do problema da outorga, incluindo aí base de informações disponíveis. Para evitar a dis-
as várias áreas do conhecimento que explicam a persão de objetivos e o distanciamento entre suas
ocorrência e o uso dos recursos hídricos. funções e as necessidades da outorga é fundamen-
Por fim, deve-se destacar que algumas das defi- tal que a equipe, que irá utilizar o SSD, participe ati-
ciências encontradas, por exemplo, no que diz res- vamente da sua concepção e desenvolvimento.
peito à base de informações, à manutenção de uma Por outro lado, o próprio modelo de outorga
equipe adequada, à fiscalização ou ao tratamento adotado em cada estado deve ser compatível com

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as características dos sistemas hídricos existentes. os diferentes graus de complexidade existentes em


O SSD deve levar em consideração as diferentes análises de pedidos de outorga, em geral, impõem
abordagens regionais. formas distintas de tratar o problema. O SSD deve
ser capaz de se moldar aos diferentes problemas,
Discussão ampla e sintonia entre tomadores de modo a ampliar o seu poder de auxílio à decisão
de decisão e técnicos na análise da outorga.

Além da clareza em relação aos objetivos, é im- Organização, tratamento e atualização


portante que a elaboração de um SSD para outor- das informações disponíveis
ga seja precedida de ampla discussão, principal-
mente entre os técnicos (responsáveis pelo seu A qualidade da informação de entrada influencia
desenvolvimento e posterior utilização) e os toma- diretamente a credibilidade das respostas do SSD e,
dores de decisão (legalmente responsáveis pela conseqüentemente, das decisões tomadas. É fun-
concessão da outorga). É importante que esses damental sistematizar as informações existentes, ti-
dois grupos estejam em sintonia com relação à ne- rando-lhes o máximo proveito e estabelecendo os
cessidade de se desenvolver uma ferramenta tipo procedimentos necessários para garantir a contínua
SSD e que tenham confiança no instrumento de- atualização e ampliação das bases de dados, de
senvolvido. Além disso, os principais grupos usuári- modo que a qualidade e a confiabilidade do suporte
os (como empresas de saneamento, grandes in- à decisão sejam progressivamente melhoradas. Nes-
dústrias, etc.) também deveriam ter a oportunidade se sentido, duas questões são especialmente im-
de participar do desenvolvimento de tais sistemas, portantes: a melhoria do monitoramento da quan-
contribuindo para a sua ampla aceitação. tidade e qualidade da água e a fiscalização da ou-
torga que, de um modo geral, têm sido deficientes
Capacitação e dimensionamento adequado ou quase inexistentes na maioria dos estados.
das equipes
Tratamento adequado das questões
O SSD existe para aprimorar o julgamento huma- de qualidade da água
no. Portanto, é fundamental a capacitação das equi-
pes responsáveis pela análise da outorga não só Um dos principais instrumentos de gestão para
para uso do sistema de suporte à decisão, mas, prin- redução e controle da poluição dos recursos hídri-
cipalmente, no que se refere ao conhecimento técni- cos é, justamente, a outorga para lançamento de
co necessário para a adequada compreensão dos efluentes que, apesar de estar legalmente instituí-
fenômenos envolvidos, das técnicas de modelagem da em todos os estados, ainda não foi devidamente
utilizadas (suas aplicações e restrições), dos usos implantada. Para isso será necessário definir crité-
da água e das características locais. Para isso, é rios de outorga, organizar e manter uma base de
necessário que a equipe de outorga conte com pro- dados de qualidade da água e desenvolver ferra-
fissionais de diferentes perfis, com conhecimentos mentas adequadas para a análise integrada de
em áreas como hidrologia, hidrogeologia, agrono- quantidade e qualidade da água. Essa é uma área
mia, hidráulica, saneamento e qualidade da água. ainda pouco explorada, cuja discussão e investiga-
ção devem ser incentivadas.
Flexibilidade do suporte à decisão
Ampliação e melhoria da base de informações
Na análise da outorga, a diversidade de proble- para outorga de águas subterrâneas
mas exige abordagens distintas. A heterogeneida-
de de situações existentes em um estado (ou até Em vários estados, o maior número de outorgas
em uma mesma bacia hidrográfica), as inúmeras emitidas é exatamente para exploração de águas
combinações possíveis de fatores intervenientes e subterrâneas. Apesar disso, os procedimentos de

BAHIA ANÁLISE & DADOS Salvador, v. 13, n. ESPECIAL, p. 481-496, 2003 493
SISTEMAS DE SUPORTE À DECISÃO PARA OUTORGA DE DIREITOS DE USO DA ÁGUA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DA SITUAÇÃO...

análise da outorga e as informações técnicas que a mento do problema por parte de pessoas leigas
subsidiam são muito limitados. As águas subterrâ- (usuários da água, comitês de bacia, decisores po-
neas constituem um recurso estratégico que preci- líticos, etc.), de forma a auxiliar o processo de dis-
sa ser mais bem gerenciado: precisam ser estuda- cussão e a apresentação das decisões tomadas, e
das e avaliadas as capacidades dos aqüíferos e os de resolução de conflitos.
níveis atuais de exploração. Deve-se melhorar o
monitoramento dos aqüíferos e desenvolver instru- CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE
mentos de análise adequados para avaliar os pedi- DESENVOLVIMENTO DE SSD PARA OUTORGA
dos de outorga, de forma a garantir uma explora-
ção sustentável desses mananciais. O projeto e a implementação de um SSD efetivo
requer considerações cuidadosas em dois níveis de
Modelagem adequada dos sistemas discussão. O primeiro nível é mais genérico e está
de reservatórios relacionado ao funcionamento do sistema. As tare-
fas que devem ser realizadas neste nível incluem:
Em um quadro de ocorrência estocástica e de- 1. identificação dos tomadores de decisão e do ní-
mandas crescentes, é quase sempre indispensável vel hierárquico em que estas decisões serão to-
o uso de reservatórios para regularizar o forneci- madas;
mento de água. No Nordeste semi-árido, essa de- 2. identificação dos tipos de decisões a serem
pendência do armazenamento de água é quase apoiadas;
absoluta. Nessas situações, para uma adequada 3. identificação do tipo específico de informação
operação desses reservatórios é fundamental dispor necessária para auxiliar o processo de tomada
de informações e instrumentos de análise específi- de decisão;
cos, que permitam a simulação integrada de todo o 4. identificação do tipo específico de dados neces-
sistema hídrico, de modo a subsidiar adequada- sários para prover as informações necessárias;
mente as decisões de outorga. 5. identificação dos modelos e ferramentas de aná-
lise para transformar estes dados nas informa-
Eficiência e facilidade de uso ções necessárias;
dos recursos de análise 6. identificação dos requisitos gerais da interface
do usuário para fazer com que as informações
Sendo um instrumento de utilização corriqueira, estejam prontamente disponíveis e sejam facil-
o SSD para outorga deve ser capaz de fornecer mente entendidas pelas pessoas responsáveis
respostas rápidas e objetivas. Para tanto, uma aten- por tomar as decisões.
ção especial deve ser dispensada ao componente
de diálogo do SSD, facilitando as operações de co- O segundo nível está relacionado com as dimen-
municação entre o analista e a máquina, visando sões técnicas do SSD e com as tarefas que devem
ao mínimo de dificuldade para estruturar o proble- ser realizadas, incluindo as seguintes ações:
ma e testar hipóteses que possam gerar novas in- 1. planejar como todos esses dados serão organi-
formações úteis à análise da outorga. zados e integrados dentro da estrutura do arqui-
vo de dados;
Adequação na comunicação dos resultados 2. planejar como os dados espaciais e dados rela-
cionais serão integrados dentro do sistema;
Outro aspecto fundamental no componente de 3. identificar os modelos específicos e ferramentas
diálogo do SSD é a comunicação dos resultados. O de análise que deverão existir no SSD e como
sistema deve apresentar diversos recursos de co- isso se comunicará com o arquivo de dados;
municação (gráficos, tabelas, indicadores estatísti- 4. identificar facilidades específicas que devem
cos, etc.), que facilitem a compreensão dos técni- ser incluídas na interface do usuário, incluindo
cos. Por outro lado, é importante facilitar o entendi- gráficos, textos e comunicação;

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LUIZ GABRIEL T. AZEVEDO, MANUEL F. REGO, ALEXANDRE M. BALTAR, RUBEN PORTO

5. identificar as vantagens e a forma de tornar dis- deve ser formada previamente para que possa ser
poníveis as informações na Internet. capacitada no que for necessário, de modo a per-
mitir o melhor uso do sistema de suporte à decisão.
Todos esses pontos enumerados, nos dois ní- A criação da ANA apresenta-se como principal
veis de discussão citados acima, devem ser leva- esperança no sentido de se buscar a consolidação
dos em consideração no processo de concepção do sistema nacional de outorgas, tendo em vista a
e implementação de um SSD. Há, no entanto, al- autonomia administrativa e financeira dessa agên-
guns requisitos mínimos que devem ser previa- cia e a possibilidade de criar quadros técnicos bem
mente verificados, que podem ser agrupados em capacitados. Finalmente, a questão da sustentabili-
três dimensões. dade deve despontar como princi-
A primeira dimensão diz respei- A criação da ANA pal objetivo na agenda de ativida-
to ao conhecimento e caracteri- apresenta-se como des do setor hídrico brasileiro. Dian-
zação das decisões a serem toma- principal esperança no te da evolução observada, parece
das. No caso da outorga, é neces- sentido de se buscar a ter chegado o momento no qual o
sária a definição prévia do modelo consolidação do sistema critério de sustentabilidade das in-
de outorga, seus condicionantes nacional de outorgas, tervenções, cujo atendimento está
legais, institucionais, hidrológicos tendo em vista a diretamente associado à criação
e operacionais. Deve-se verificar autonomia administrativa de instituições fortes e ao início
se já há uma clara definição das e financeira dessa agência efetivo da cobrança pelo uso dos
responsabilidades do poder outor- e a possibilidade de criar recursos hídricos, receberá a ên-
gante, dos procedimentos opera- quadros técnicos fase necessária.
cionais necessários para viabilizar bem capacitados
o processo de análise e de admi- CONCLUSÃO
nistração da outorga e dos critérios que serão apli-
cados. Este estudo foi desenvolvido com o intuito de
A segunda dimensão está associada ao conhe- avaliar a utilização de sistemas de suporte à deci-
cimento e organização da base de informações são para outorga de direitos de uso dos recursos
existentes no estado. A quantidade e a qualidade hídricos no Brasil. Foram utilizadas informações co-
da informação disponível influenciam fortemente a letadas diretamente em seis estados e na Agência
concepção e implementação dos sistemas de su- Nacional de Águas.
porte à decisão. No que se refere aos sistemas de suporte à de-
Deve-se fazer um inventário prévio de dados e cisão, várias ferramentas vêm sendo utilizadas, mas
informações existentes, necessários para a análise a técnica não vem sendo explorada em todo seu
da outorga, como estações fluviométricas e pluvio- potencial. As funções de diálogo, análise e predi-
métricas, séries de vazão e precipitação, cadastro ção, componentes básicos de um SSD, demandam
de usuários, dados de águas subterrâneas, dados maior desenvolvimento. Alguns estados e a ANA já
de qualidade da água, dados dos reservatórios, va- estão desenvolvendo novos sistemas visando a cor-
zões regularizadas, regionalizações de vazões, pla- rigir essas falhas e produzir um suporte à decisão
nos diretores, enquadramentos de corpos d’água, efetivo para análise e administração da outorga.
estimativas de demanda por recursos hídricos, etc. As experiências analisadas permitiram a indica-
A última dimensão está relacionada ao futuro ção de algumas recomendações para projeto, con-
usuário do SSD. Deve-se avaliar se o interessado cepção e implementação de novos sistemas de su-
em implementar um SSD possui uma equipe com porte à decisão para outorga: (i) clareza na definição
potencial para assimilar essa tecnologia. A aná- dos objetivos e das funções do SSD; (ii) discussão
lise de outorga, como já mencionado, exige a parti- ampla e sintonia entre tomadores de decisão e téc-
cipação de técnicos com conhecimentos em várias nicos; (iii) capacitação e dimensionamento adequa-
áreas. Uma equipe mínima, com perfil adequado, do das equipes; (iv) flexibilidade do suporte à deci-

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SISTEMAS DE SUPORTE À DECISÃO PARA OUTORGA DE DIREITOS DE USO DA ÁGUA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DA SITUAÇÃO...

são; (v) organização, tratamento e atualização das REFERÊNCIAS


informações disponíveis; (vi) tratamento adequado
das questões de qualidade da água; (vii) ampliação LABADIE, J. W.; SULLIVAN, C. H. Computerized Decision Su-
e melhoria da base de informações para outorga de pport Systems for Water Managers. Journal of Water Resources
águas subterrâneas; (viii) modelagem adequada dos Planning and Management, v. 112, n. 3, p. 299-307, 1986.

sistemas de reservatórios; (ix) eficiência e facilida- PORTO, R. L. L.; AZEVEDO, L. G. T. Sistemas de suporte a deci-
de de uso dos recursos de análise; e (x) adequação sões aplicados a problemas de recursos hídricos. In: ______.
na comunicação dos resultados. (Ed.). Técnicas quantitativas para o gerenciamento de recursos
hídricos. Porto Alegre: Editora Universidade/UFRGS/ABRH, 1997.
Por fim, foi destacada a necessidade de garantir p. 43-95.
a sustentabilidade das estruturas de gestão dos re-
PROÁGUA/SRH/MMA. Sistemas de informações sobre recursos
cursos hídricos e, especificamente, dos sistemas de
hídricos: o estado da arte. Recife: Ministério do Meio Ambiente, Se-
outorga. Para isso, é fundamental o fortalecimento cretaria de Recursos Hídricos – PROÁGUA – Semi-Árido, 2000.
e a autonomia das instituições gestoras e o início
efetivo da cobrança pelo uso dos recursos hídricos.

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