Vous êtes sur la page 1sur 3

falta de Trecho

haver outras
de “Os
imaginação
in: Signos
ante signos
formas em
em rotação”
as possibilidades
de rotação - Octavio
ser e talvez
do ser. Deve
morrer Paz
seja apenas
um trânsito. Duvido que esse trânsito possa ser sinônimo
de salvação ou perdição pessoal. Em qualquer caso,
aspiro ao ser, ao ser que transforma, não à salvação do
eu. Não me preocupa a outra vida além, mas só aqui. A
I de escrever, mas que se justifica inteiramente se se nota
que inaugura um novo modo poético. A escritura poética
alcança neste texto sua máxima condensação e sua extrema
mesmo tempo é o apogeu da página como
espaço liter ário e o começo de outro espaço . O poema
cessa de ser uma sucessão linear e escapa assim à tirania
experiência da outridade, é aqui mesmo, a outra vida. A tipográfica que nos impõe uma visão longitudinal do
poesia não se propõe consolar o homem da morte, mas mundo, corno se as imagens e as coisas se apresentassem
fazer com que ele vislumbre que a vida e a morte são umas atrás das outras e não, como realmente ocorre em
inseparáveis: são a totalidade. Recuperar a vida concreta momentos simultâneos e em diferentes zonas de um mesmo
significa reunir a parelha vida-morte, reconquistar um no espaço ou em diferentes espaços. Embora a leitura de
outro, o tu no eu, e assim descobrir a figura do mundo U n co up de dês se faça da esquerda para a direita e de
na dispersão de seus fragmentos. cima para baixo, as frases tendem a configurar-se em
centros mais ou menos independentes, à maneira dos
Na dispersão de seus fragmentos... njp sistemas solares dentro do universo; cada conjunto de
esse es a o vibrante sobre o ual se roieta um f:ases, sem, a. sua relação com o todo, cria para
SI um dom ínio propno nesta ou naquela parte da página ;
a o e si os como um i eo rama ue fosse rove-
e I õcs? Espaço , projeç ão, ideograma : estas e estes espaços distintos fundem-se às vezes em uma só
três palavras aludem a uma operação que consiste . em superfície sobre a qual brilham duas ou três palavras . A
desdobrar um lu ar ma ' receba e sustente uma disposição tipográfica, verdadeira anunciação do espaço
escritura: fragmentos que se reagrupam e pr a s- criado pela técnica moderna, particularmente a eletrônica
tltUlr uma fiiJ![a, um núcleo de significados. Ao imagi- é uma forma que corresponde a uma inspiração po ética
i1ãr o poema como uma configuraçâo de signos sobre um distinta. Nessa inspiração reside a verdadeira originali-
espaço animado não penso na página do livro: penso nas dade do poema. Mallarmé explicou-o várias vezes em
Ilhas Açôres vistas como um arquipélago de chamas numa Divagations e outras notas: a novidade de Un coup de
noite de 1938, nas tendas negras dos nômades nos vales d és consiste em ser um poema crítico .
do Afeganistão, nos cogumelos dos pára-quedas suspensos . Poema crítico: se não me engano , a união destas
sobre uma cidade adormecida, na pequena cratera de duas palavras contraditórias quer dizer : aquele poema
formigas vermelhas em algum pátio citadino, na lua que que contém sua própria negação e que faz dessa negação
se multiplica e se anula e desaparece e reaparece sobre o ponto de partida do canto , a igual distância da afir-
o seio gotejante da India após as monções. Constelações : mação e da negação . A poesia, concebida por Mallarmé
ideogramas. Penso em uma música nunca ouvida, música como a única possibilidade de identificação da linguagem
para os olhos, uma música nunca vista. Penso em U n com o absoluto, de ser o absoluto, nega-se a si mesma
coup de dês. vez que se realiza em um poema (nenhum ato,
A poesia moderna, como prosódia e escritura, inicia-se inclusive ato puro e hipotético: sem autor, tempo ou
com o verso hvre e o poema em prosa. Un coup de dés lugar, abolirá o acaso) - salvo se o poema é simultanea-
encerra esse período e abre outro, que mal começamos a mente crítica dessa tentativa. A negação da negação anula o
explorar . Seu significado é duplo . Por um lado é a absurdo e dissolve o acaso. O poema, o ato de lançar
condenação da poesia "idealista" , como Une Saison en os dados ou pronunciar o número que suprimirá o acaso
°
enfer teria sido da "materialista" ; se poema de Rimbaud }' (porque suas cifras coincidirão com a totalidade) é
declara ser loucura e sofisma a tentativa da palavra para absurdo e não é: devant son existence, diz um dos apon-
materializar-se na história, o de Mallarmé proclama tamentos de Igitur, la n égation et l' affirmation vienn ent
absurda e nula a intenção de fazer do poema o duplo j1 échouer. II contient r Absurde - Limplique, nwis à I' état
ideal do universo . Por outro lado, Un coup de dês não ";t:-' latent et I'empêche d'ex ister : ce qui permet à l'Lnfini
-;
implica numa renúncia à poesia; ao contrário, Mallarmé ., d' être 4 • O poema de Mallarmé não é a obra que tanto
nos oferece seu poema nada menos do que como modelo )
(4) Sigo parcialmente a interpretação de Gardner Davíes (Vers une
de um gênero novo. Pretensão à primeira vista extraor- explication du Coup de dés, Paris, 1953) que foi um dos
dinária, se se pensa que é o poema da nulidade do ato primeiros a advertir o sentido de afirmação do poema.

110 111
o preocupou e que nunca escreveu, não é aquele hino que que se apóia o poema, este Si . . . , conjunção condicionaI
expressaria, ou, melhor dizendo, consumaria, a correlação que suspende o discurso no ar, são outras tantas maneiras
íntima entre a poesia e o universo: mas em certo sentido, de criar entre frase e frase a distância necessária para
Un coup de d és o contém. que as palavras se reflitam . Em seu próprio movimento,
Mallarmé enfrenta duas possibilidades que na apa- em seu duplo ritmo de contração e expansão, de negação
rência são excludentes (o ato e sua omissão , o acaso e que .se anula e se transforma em afirmação que duvida
o absoluto) e, sem suprimi-Ias, resolve-as numa afirmação de_ SI" o suas interpretações.
condicional - uma afirmação que sem cessar se nega e e a e Sim, como diria Ortega y Gasset,
assim se afirma pois se alimenta de sua própria negação. a dos distintos pontos de vista que nos dá a
A impossibilidade de escrever um poema absoluto em possibilidade de uma interpretação. Nenhuma delas é
condições também absolutas, tema de Igitur e da primeira definitiva, nem sequer a última (Toute pensée émet un
parte de Un. coup de d és, graças à crítica, à negação, con- coup de dés), frase que absorve o acaso ao disparar seu
verte-se na possibilidade, agora e aqui , de escrever um talvez na do infinito; e todas , de sua pers-
poema aberto até o infinito. Esse poema é o único ponto pectiva particular, são definitivas: conta total em perpétua
de vista possível, momentâneo e não obstante suficiente, Não há uma interpretação final de Un coup
do absoluto. O poema não nega o acaso, mas o neutra- de des porque sua palavra última não é uma palavra final.
liza ou dissolve : ii réduit le hasard à t infini, A negação A destruição foi a minha Beatriz, diz Mallarmé em carta
da poesia é também exaltação jubilosa do ato poético. a amjgo; no final viagem o poeta não contempla
verdadeiro lançamento para o infinito : Toute pens ée a Ideia , simbolo ou arqu étipo do universo, mas um espaço
ém et un coup de dés. Esses dados lançados pelo poeta, em desponta uma constelação: seu poema. Não é
ideograma do acaso, são uma constelação que roda sobre uma Imagem nem uma essência; é uma conta em for-
o espaço e que em cada uma de suas momentâneas com- mação, um punhado de signos que se desenham, se des-
binações diz, sem jamais dizê-lo inteiramente, o número fazem e voltam a desenhar-se. Assim, este poema que
absoluto; compte total en [ormation . Sua carreira estelar a de dizer algo absoluto, consagração
não termina antes que atinja que/que point dernier qui da impot ência da palavra, é ao mesmo tempo o arquétipo
le sacre. Mallarmé não diz qual é esse ponto. Não é do poema futuro e a afirmação plena da soberan ia da
temerário pensar que é um ponto absoluto e relativo , palavra . Não diz nada e é a linguagem em sua totali-
último e transitório: o de cada leitor ou, mais exatamente, dade. Autor e leitor de si mesmo, negação do ato de
cada leitura: compte total en [ormation . escrever e escritura que renasce continuamente de sua
Em um ensaio que é um dos mais densos e luminosos própria anulação .
entre os que se escreveram sobre este texto capital para a O horizonte em que aparece a constelação errante
poesia vindoura, Maurice Blanchot assinala que Un coup que os últimos versos de Un coup de d és é um
de dés contém sua própria leitura 5 • Com efeito a noção espaço vazio . E a própria constelação além disso não
de um poema crítico implica a de uma leitura e Mallarmé existência certa: não é uma figura e sim a possibi-
referiu-se várias vezes a uma escritura ideal em que as lidade de chegar a sê-lo. MalJarmé não nos mostra nada
frases e palavras se refletiriam umas nas outras e, de certo exceto um lugar nulo e um tempo sem substância: um a
modo, se contemplariam e se leriam . A leitura a que transparência infinita. Se se compara esta visão do mundo
Blanchot alude não é a de um leitor qualquer, nem sequer com a dos grandes poetas do passado - não é preci so
desse leitor privilegiado que é o autor. Apesar de que pensar em Dante ou em Shakespeare, basta lembrar
Mali armé, à diferença da maioria dos autores, não nos Hoelderlin ou Baudelaire - pode-se perceber a mudança.
imponha a sua interpretação tampouco a deixa ao capricho O mundo, como imagem, evaporou-se. Toda a tentativa
do leitor. A leitura, ou leituras, depende da correlação poética se reduz a fechar o punho para não deixar escapar
e interseção das distintas partes em cada um dos momen- esses que são o signo ambíguo da palavra talvez.
Ou abri -Ia, para mostrar que também eles se desvanece-
tos da recitação mental ou sonora. Os brancos, os parên-
ram. Os do is gestos têm o mesmo sentido . Durante
teses, as aposições, a construção sintática tanto quanto a
toda a sua vida Mallarmé falou de um livro que seria o
disposição tipográfica e, sobretudo, o tempo verbal em
duplo do cosmos. Ainda me assombra que tenha dedi-
(5 ) Le livre à venir, Paris, 1959. cado tantas páginas para dizer-nos como seria esse livro

1I2 113
e tão poucas para revelar-nos a sua visao do mundo. O de suas observações antecipe com extraordinária exatidão
universo, conf.ia a seus amigos e correspondentes, parece- a situação do poeta contemporâneo: o mundo moderno
-lhe ser um sistema de relações e correspondências, idéia é "uma sociedade que se desenvolve excluindo toda rela-
que não é diferente da de Baudelaire e dos românticos' ção com a natureza, relação que se exprime
contudo, nunca explicou realmente como o ' via nem atraves de mitos e que supõe assim no artista uma ima-
que era aquilo que via. A verdade é que não via: o da mitologia . '. . ". A imaginação
mundo deixara de ter imagem. A diferença com Blake hvre de .toda de mundo - uma mitologia não é
e seus universos povoados de símbolos, monstros e seres outra coisa além diSSO - volta-se sobre si mesma e funda
fabulosos , parecerá ainda mais notável se se recordar que morada . ao ar livre: um agora e um aqui sem nin-
ambos os poetas falam em nome da imaginação e que guem. À diferença dos poetas do passado, Mallarmé não
os dois julgam-na uma potência soberana. A diferença nos apresenta uma visão do mundo; tampouco nos diz
não depende unicamente da diversidade de temperamentos uma palavra acerca do que significa ou não significa ser
e sensibilidades e sim dos cem anos que separam The homem. O legado a que expressamente se refere Un
Marriage of Heaven and Hell (1793) de Un coup de d és coup de d és - sem legatário expresso: à quelqu'un
, ( 1897). A mudança da imaginação poética depende da ambigu - é uma forma; e mais ainda, é a própria forma
mudança da imagem do mundo . da possibilidade : um poema fechado ao mundo, mas
ao nome. Um agora em perpétua
Blake vê o invisível porque para ele tudo esconde rotaçao, um meio-dia noturno - e um aqui deserto.
uma figura. O universo em sua essência é apetite de Povoá-lo: tentação do poeta por vir. Nosso legado não
manifestação, desejo que se projeta: a imaginação não tem é a palavra de Mallarmé e sim o espaço que a sua palavra
outra missão além de dar forma simbólica e sensível à abre.
energia. Mallarmé anula o visível por um processo a que
chama de transposição e que consiste em tornar imagi- O desaparecimento da imagem do mundo engran-
nário todo objeto real: a imaginação reduz a realidade à deceu a do poeta; a verdadeira realidade não estava fora,
idéia . O mundo já não é energia nem desejo. Na ver- mas na cabeça ou no coração do poeta . A morte
dade , nada seria sem a poesia, que lhe dá a possibilidade dos mitos gerou o seu próprio mito: sua figura cresceu
de encarnar na analogia verbal. Para Blake a realidade tanto que as suas próprias obras tiveram um valor acessó-
primordial é o mundo, que contém todos os símbolos e rio e mais provas de seu gênio do que
arquétipos ; para Mallarmé, a palavra. O universo inteiro da exist ência do umverso , O método de Mallarmé a
se torna iminência de hino ; se o mundo é idéia , sua ma- destruição criadora ou transposição, mas sobretudo o
neira própria de existir não pode ser outra senão a lin- surrealismo, arruínaram para sempre a idéia do poeta
guagem absoluta: um poema que seja o Livro dos livros. u_m ser de exceção , O surrealismo não negou a
Em um segundo momento de sua aventura Mallarmé . mspiraçao, estado de exceç ão: afirmou que é um bem
compreende que nem a idéia nem a palavra são absolu- comum. A talento especial
tamente reais: a única palavra verdadeira é talvez e a mas uma espécie de intrepidez espiritual, um desprendi-
única realidade do mundo se chama probabilidade infi- mento que é também um des-envoltura. Várias vezes
nita. A linguagem se toma transparente como o próprio sua fé na potência criadora da linguagem,
mundo e a transposição, que anula o real em benefício que e supenor a de qualquer engenho pessoal, por emi-
da linguagem, anula também, agora , a palavra. As núpcias nente que seja . Ademais, o movimento geral da litera-
entre o verbo e o universo se consumam de uma maneira tura contemporânea, de Joyce e cummings às experiências
insólita, que não é nem palavra nem silêncio, mas um de Queneau e às combinações da eletrônica, tende a res-
signo que procura o seu significado. tabelecer a soberania da linguagem sobre o autor. A figura
Embora o horizonte de Un coup de d és não seja o do poeta corre a mesma sorte que a imagem do mundo: uma
da técnica - seu vocabulário é ainda o do simbolismo, noção que paulatinarnente se evapora. Sua imagem, não
fundado no anima mundi e na correspondência universal sua realidade". A utilização das máquinas, o emprego das
- o espaço que abre é o mesmo enfrentado pela técnica: drogas para alcançar certos estados de exceção imis érable
mundo sem imagem, realidade sem mundo e infinitamente miracle, chama-os Michaux e, portanto, paix dans les
real. Freqüentemente acusa-se Marx, nem sempre com
brisementsv, a intervenção do acaso matemático e de
razão, de cegueira estética, o que não impede que uma

115
114

Vous aimerez peut-être aussi