Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
FORTALEZA – CEARÁ
2019
JOSE RONILDO REIS FRANCESCHINI
FORTALEZA - CEARÁ
2019
JOSÉ RONILDO REIS FRANCESCHINI
BANCA EXAMINADORA
Ao Jesus Cristo por me amparar nos momentos difíceis, dar-me força interior para
superar as dificuldades, mostrar os caminhos nas horas incertas e me suprir em todas as
minhas necessidades.
A minha esposa Aline, em especial ao meu pequenino Benício que me deu uma nova
razão de vida, os meus filhos Antônio Gabriel, José Guilherme,
À minha família principalmente aos meus pais, Sebastião, Maria José, cujo amor é
eterno e a saudade infinita. Aos meus irmãos Pedro, Terezinha, Antônio e José Maria
pelos incentivos aos estudos desde de criança.
Aos meus colegas Victor, Patrick, Aline Castro e Pedro Catanho que contribuíram
diretamente para a concretização deste trabalho ajudando-me por todos os momentos de
atribulações; a todos os colegas e professores do Mestrado em Climatologia e
Aplicações nos Países da CPLP e África pelo convívio e aprendizado;
Por fim faço minhas as palavras de René Descartes “Dubito, ergo cogito, ergo sum - Eu
duvido, logo penso, logo existo".
RESUMO
Ao analisarmos os registros de desastres nas últimas décadas verificamos que grande parte do que
ocorre no Brasil, está intimamente ligado à desinformação sobre as vulnerabilidades e riscos
existentes em determinadas áreas urbanas. Os centros urbanos como a cidade de Caucaia no CE,
sofrem com diversas atividades antrópicas, como ocupações clandestinas, áreas sob margens de rios e
lagoas, encostas, entre outras, elevando o risco de acidentes e também ocasionando transtornos
materiais e risco de vida, devido a possíveis acidentes que podem ocorrer, principalmente em época
de chuvas. Assim, esta pesquisa desenvolveu-se com o objetivo de propiciar à Defesa Civil da
cidade de Caucaia um sistema que possibilite automaticamente a detecção da ocorrência de possíveis
cheias em áreas de risco, utilizando a tecnologia Voz sobre IP (Voice over Internet Protocol). O
Sistema permite a emissão de SMS, e-mails e chamadas telefônicas, antecipando suas atuações e
também informando a população, em caso de possíveis cheias, para salvaguardar suas vidas. Esses
SMS classificam as possibilidades em cheias moderadas, fortes e muito fortes, possibilitando
medidas antecipadas de segurança para quem receber os avisos. No que se refere ao tipo de pesquisa
utilizada, foi empregada a pesquisa quantitativa, aplicativa, bem como pesquisa bibliográfica e
documental, como forma de fundamentar o estudo. Verificou-se que foi pertinente a construção do
sistema como forma de agregar valor aos trabalhos da Defesa Civil permitindo-lhes disseminar estes
conteúdos para criação de uma futura cultura de prevenção de cheias.
When analyzing the records of disasters in the last decades we verified that much of what has been
happening in Brazil is closely linked to the disinformation about vulnerabilities and risks existing in
certain urban areas. Urban centers such as the city of Caucaia CE, suffer from various human
interventions, such as clandestine occupations, areas along riverbanks and lagoons, slopes, among
others, increasing the risk of accidents and also causing disruption to matters and sometimes against
their own lives, due to possible accidents that may occur, especially in rainy season. Thus, the work
in epigraph was developed with the objective of providing to the Civil Defense of the city of Caucaia
a system that automatically allows the detection of possible floods in areas of risk using Voice over
IP technology. The system allows the issuance of SMS, e-mails and phone calls, anticipating their
actions and also informing the population, in case of possible floods, to safeguard their lives. These
SMS classify the possibilities in moderate, strong and very strong floods, telling the right person to
take the time to take action to protect their own lives. With regard to the type of research used,
quantitative research was applied, as well as bibliographical and documentary research, as a basis for
the study in the epigraph. It was verified that it was pertinent to construct the system as a way of
adding value to the Civil Defense works, allowing them to disseminate these contents to create a
future culture of flood prevention.
Tabela 1 - Registro Chuva Extrema na Cidade do Rio de Janeiro em 8 abril de 2019. .............. 23
Tabela 2 - População Total, Urbana e Rural de Caucaia e Distritos. ........................................... 31
Tabela 3 - Localização dos Pluviômetros do CEMADEN na Cidade de Caucaia........................ 44
Tabela 4 - Datas dos Registros com precipitações dos Pluviômetros do CEMADEN. ................ 57
Tabela 5 - Cores dos Alertas e patamares dos índices de envio SMS. ........................................... 59
LISTA DE QUADROS
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................
15
2 OBJETIVOS .......................................................................................................................................
18
2.1 GERAL ............................................................................................................... 18
2.2 ESPECÍFICOS .....................................................................................................................................
18
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....................................................................................................
19
3.1 ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E INCREMENTO DOS DESASTRES ...........................................
21
3.2 ALGUNS TIPOS DE DESASTRES NATURAIS MAIS COMUNS NO
ESTADO DO CEARÁ.........................................................................................................................
25
4 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................... 29
4.1 ÁREAS DE RISCO DE CAUCAIA.................................................................... 29
4.2 CARACTERÍSTICAS SÓCIOS ECONÔMICAS E GEOGRÁFICAS DE
CAUCAIA. ...........................................................................................................................................
29
4.2.1 Descrição dos nove setores das áreas de risco do Município de Caucaia ......................................
34
4.2.2 Desenvolvimento do método ..............................................................................................................
47
4.2.3 Desenvolvimento e Programação do Sistema Slapvoip...................................................................
48
4.2.4 Configurações Do Sistema Getphone – Cérebro da Operação ......................................................
54
4.2.5 Procedimento Configurações de Cadastro Usuários e dos Registros dos
Alertas.... .............................................................................................................................................
55
5 RESULTADOS ...................................................................................................................................
57
6 CONCLUSÕES ..................................................................................................................................
64
7 SUGESTÕES PARA CONTINUIDADE DESTE TRABALHO ...................................................
65
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................
66
1 INTRODUÇÃO
A relevância cientifica é tamanha que, com base nas notificações feitas à Secretaria
Nacional de Defesa Civil (SEDEC) e as ocorrências atendidas diariamente pelos agentes
municipais de Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros em todo o país, foi possível a
construção do primeiro Atlas Brasileiro de Desastres, que pôde proporcionar subsídios
essenciais sobre as cidades Brasileiras com maior índice de vulnerabilidade buscando
direcionar as suas ações para ajudar a população.
De acordo com o IBGE, no Nordeste 185.749 cearenses vivem em áreas de risco. Esse
número corresponde a 2,2% da população do Estado. No Ceará existem 316 áreas de risco
identificadas pela pesquisa "População em áreas de risco no Brasil". De acordo com este
levantamento, 1.327 domicílios cearenses estão erguidos em áreas suscetíveis a desastres naturais
como inundações, enxurradas, deslizamentos e desabamentos, fazendo do Ceará o nono estado
brasileiro com maior número de moradores nesta situação. Já na região nordeste, o território
cearense fica em terceiro, mas bem distante dos dois primeiros colocados: Bahia com 1.375.788 e
Pernambuco com 829.058 (IBGE, 2010).
Em relação ao número de áreas de risco, o Estado fica em quarto lugar no Nordeste.
Pernambuco, que lidera esse ranking, tem quase sete vezes mais pontos nessa situação: são 2.147.
Em seguida, a Bahia aparece com 1.835, e Alagoas com 503. A região concentra 5.471 áreas de
risco, que equivale a 19,7% de todas as 27.660 identificadas pelo levantamento em todo o País.
No Ceará, foram monitoradas 39 cidades, dentre as quais Fortaleza lidera, concentrando
55,3% das pessoas vivendo em situação de risco no Estado. São 102.836 pessoas nesta capital,
distribuídas em 89 áreas, correspondendo a 4,2% dos habitantes do município. Com o resultado, a
Capital é a 12ª cidade brasileira com maior população em domicílios vulneráveis. Das 39 cidades
do Ceará estudadas, destacamos Caucaia, na Região Metropolitana, que aparece na pesquisa com
16.463 pessoas expostas, em 4.436 domicílios, (população 325441) que corresponde a 5,1 % da
população. Em terceiro lugar vem a cidade de Sobral, no Norte do Estado, onde 10.494 pessoas
vivem em 2.716 moradias de risco, (população de 188233) corresponde 5,6%.
Dados do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará – IPECE, a Cidade de
Caucaia situa-se na bacia hidrográfica metropolitana de Fortaleza, CE, e seus rios de maior aporte
são Ceará, Cauípe e Anil. Encontram-se no contexto da bacia hidrográfica do município lagoas e
açudes, com destaque para os açudes Sítios Novos e Cauípe. É um dos municípios cearenses mais
ricos em lagoas permanentes (IPECE, 2008; 2010).
A maioria dos rios de Caucaia, entretanto, caracteriza-se por serem temporários, como por
exemplo, o Rio Gavião, conhecido como Riacho Picuí.
O Plano de Contingência realizado em 2010 pela Prefeitura Municipal de Caucaia, através
de sua Comissão de Defesa Civil Municipal - COMPDECA, revelou que neste bairro (que leva o
nome do mesmo rio) existem 1.400 famílias que vivem em área de risco às suas margens. Estas
são atingidas no período de chuvas por cheias, alagamentos, causando danos diversos as suas
residências e doenças provenientes das baixas condições sanitárias do local.
No plano citado acima, consta que a população, não só desse bairro, mas todos os bairros,
sofrem vários transtornos com relação a esses incidentes que causam prejuízo a todos que vivem
nessas áreas.
A região de Caucaia, nos períodos de chuva, é constantemente atingida por cheias e
enchentes. Muitas famílias perdem bens materiais e as vezes existem até acidentes fatais em
decorrências desses fatores. O pouco que esta população, em área de risco, consegue obter através
de seus esforços, perdem-se elevando ainda mais o nível de vulnerabilidade social.
Para tentar amenizar esses problemas e contribuir para uma melhora na vida social dessa
população, foi pertinente através deste estudo e levantamentos, desenvolver um sistema de alerta
para possíveis cheias na cidade de Caucaia, utilizando Voz sobre IP e telefonia convencional
chamado Slapvoip (Sistema de Leitura Automática de Possíveis Cheias sobre IP).
O Slapvoip é um sistema fácil de operar em comparação aos outros analisados durante o
levantamento do trabalho. Por exemplo, em relação a sua instalação pode-se usar um celular
simples, com ou sem o sistema Android, visto que as chamadas e envios de SMS são feitas mesmo
sem o funcionamento da Internet através da Rede Convencional de Telefonia Pública- PSTN. Isto
apresenta uma vantagem considerável em relação a outros sistemas, como o do CEMADEN, que
por se tratar de um sistema complexo, impõe a necessidade do uso da internet para se ter acesso às
informações. Outra vantagem é que o cadastro no sistema pode ser feito apenas acessando o link
slapvoip.cf, sem precisar baixar qualquer software de auxilio ou mesmo registro de licenças para o
seu uso, já que se trata de uma distribuição Linux aberta.
Na realidade, o Slapvoip poderá auxiliar e salvaguardar vidas da população que vive em
áreas de risco, em casos de possíveis cheias, e contribuir para uma futura cultura de prevenção de
desastres, ajudando a diminuir os transtornos causados por essas situações.
2 OBJETIVOS
2.1 GERAIS
Propiciar à Defesa Civil da cidade de Caucaia no Estado CE, um sistema que possibilite a
detecção, em tempo real da ocorrência de possíveis cheias em áreas de risco.
2.2 ESPECÍFICOS
Gerar chamadas telefônicas, mensagens SMS e mensagens via e-mail com informações de
alertas de cheias para a Defesa Civil;
De acordo com o Quarto Relatório do IPCC - AR4 (IPCC, 2007), o aquecimento global
causará aumento de eventos extremos com a intensificação das chuvas, elevação do nível do mar e
extensão dos períodos de secas, gerando desastres.
Chuvas torrenciais e inundações estão se tornando mais comuns, e os danos causados por
tempestades e ciclones tropicais aumentaram; isto pode ser lido no recente relatório sobre eventos
extremos do IPCC–SREX (IPCC, 2001), que apresenta um resumo das mudanças observadas em
todo o mundo.
O estudo realizado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) 2011, cita,
particularmente sobre o Brasil, que tanto o caso de chuvas torrenciais como o de secas, sinalizam
uma baixa confiabilidade nas tendências encontradas, com grandes variações em todas as sub-
regiões. Com relação a eventos extremos e seus impactos, o Brasil vivenciou o primeiro furacão já
registrado no Sul: o furacão Catarina, ocorrido em março de 2004. No Sul e no Sudeste do Brasil,
as chuvas intensas têm sido mais frequentes nos últimos 50 anos. A produtividade agrícola será
afetada em todo o mundo, especialmente nos trópicos, ameaçando a segurança alimentar de
muitos países, podendo os desastres naturais acontecerem com maiores constâncias e afetando a
população em geral (segundo esse mesmo estudo).
A International Strategy for Disaster Reduction (ISDR, 2009), descreve que o desastre
seria uma interrupção no funcionamento de uma comunidade ou sociedade que ocasiona uma
grande quantidade de mortes ou iguais perdas e impactos materiais, econômicos e ambientais que
excedam a capacidade da comunidade ou da sociedade afetada para enfrentar a situação mediante
o uso de seus próprios recursos.
Para Maskrey (1993), entender os chamados desastres naturais, a fim de podermos preveni-
los e nos recuperarmos depois que se foram produzidos, é necessário desprender-se de uma série
de interpretações equivocadas, que turvam nossas mentes e nos impedem de atuar corretamente.
Este esclarece ainda o fato de que a grande maioria dos pesquisadores descreve os desastres
naturais erroneamente.
No Brasil, das várias interpretações possíveis sobre aquilo que toma a denominação de
desastres, há que se ter em conta uma em particular; qual seja, a de que aquilo que é reconhecido no
meio institucional de defesa civil como desastre é, antes de tudo, o fenômeno de constatação
pública de uma vulnerabilidade na relação do Estado com a sociedade diante o impacto de um
fator de ameaça que não se conseguiu, a contento, impedir ou minorar os danos e prejuízos. O
desastre poderá ser decorrente de fenômenos físicos naturais, cujas consequências do mesmo
dependerá da intensidade em função da magnitude dos danos e dos prejuízos provocados em um
ecossistema vulnerável aos efeitos do fenômeno físico. Ou seja, nos corpos receptores existentes
no ecossistema vulnerável, resultem em danos e/ou prejuízos mensuráveis (VALÊNCIO, 2009).
Nos últimos cinco anos, catástrofes de grande porte provocaram reações nos governos e na
sociedade. Em 2008, a região do Vale do Itajaí sofreu inundações e deslizamentos que
caracterizaram a pior tragédia do Estado de Santa Catarina, deixando 78 mil pessoas desalojadas
ou desabrigadas e causando 135 mortes. Em 2010, a cheia do Rio Mundaú atingiu 97 municípios
nos Estados de Pernambuco e de Alagoas, desabrigou ou desalojou mais de 150 mil habitantes e
provocou a morte de 47 pessoas. No ano seguinte, os deslizamentos e enxurradas ocorridos na
Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro provocaram o maior desastre do país em número de
mortes, foram 900, além de 350 pessoas desaparecidas (UFSC, 2011).
Essas tragédias, notadamente aquelas das Regiões Serranas, foram marcos para as
iniciativas de reestruturação do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil, percebido até então
como inadequado para atender as demandas da intensificação dos desastres naturais no país.
Em todos esses casos, entende-se que os eventos climáticos severos – como por exemplo,
as chuvas que precipitaram em 24 horas o esperado para todo o mês abril de 2019, no caso do Rio
de Janeiro e o de Caucaia no CE, acentuaram a fragilidade de condição de moradia dos habitantes
instalados em regiões já suscetíveis a deslizamentos, inundações ou enxurradas, seja pela
característica do solo por natureza, seja pelas modificações nele ocorridas ao longo do tempo em
decorrência da urbanização.
Estudos da Organização das Nações Unidas (2009), calcularam as perdas e danos dessas
catástrofes, por meio de metodologia construída pela Comissão Econômica para a América Latina
- CEPAL, considerando os impactos diretos e indiretos sobre a infraestrutura, setores sociais,
setores produtivos e meio-ambiente locais. Somados (2008 a 2012), os danos e perdas dos
desastres em Santa Catarina, Pernambuco, Alagoas e Rio de Janeiro, chegam a R$ 15 bilhões.
Em 2012, outra natureza de desastre, derivada agora da escassez de água, teve severidade
acentuada. As secas e estiagens do ano 2012 no Semiárido foram as piores dos últimos 30 anos e
levaram mais de 50% dos municípios nordestinos a decretarem situação de emergência. A seca não
é por si só um desastre natural, pois está relacionada a uma característica geoambiental da região,
podendo ser consequência também do manejo inadequado de corpos hídricos (COSTA, 2013).
O mesmo estudo apresenta que estes fenômenos somaram 1.644 registros oficiais, relativos
a desastres naturais no Ceará. Porém sazonalmente, ocorrem no território cearense tremores de
terra, chuvas de granizo, erosão marinha, movimentos de massa, ciclones e queda de raios. Foram
afetadas 8.356.464 pessoas e, além disso, foram registradas 32 mortes, 55.021 enfermos, 48
gravemente feridos, 1.737 levemente feridos, 21 desaparecidos, 16.669 deslocados, 68.819
desabrigados e 173.057 desalojados.
Tais fenômenos foram responsáveis por grande parte das situações de emergência e estados
de calamidade decretados no Estado. Estes fenômenos físicos naturais, que desencadeiam os
desastres comuns ao Estado, passam a se configurar na população cearense, na medida em que há
muitos registros confirmados e caracterizados como desastres naturais.
Castro (2003), definiu alguns dos fenômenos acima, como por exemplo deslizamentos,
citando que “são caracterizados por movimentos gravitacionais de massa que ocorrem de forma
rápida e cuja superfície de ruptura é nitidamente definida por limites laterais e profundos, bem
caracterizados’’; enchentes, afirmando que “Caracterizam-se pela forma como as águas elevam-se
de forma paulatina e previsível, mantendo-se em situação de cheia durante algum tempo e a seguir,
escoando gradualmente”; e enxurradas que “São provocadas por chuvas intensas e concentradas
em regiões de relevo acidentado, caracterizando-se por produzirem súbitas e violentas elevações
dos caudais, os quais escoam de forma rápida e intensa. Nessas condições, ocorre um desequilíbrio
entre quem contém (leito do rio) e o que está contido (volume caudal), provocando
transbordamento e, por conseguinte o desastre (enxurrada)”.
O mesmo autor elaborou para o Estado do Ceará um manual (SEDEC/MI), mais detalhado,
onde estão relacionadas as características dos eventos naturais mais frequentes conforme também
descrito no quadro 1.
Dentre os eventos desastrosos que ocorrem no estado do Ceará, decorrentes das alterações
climáticas, e que por sua vez influenciam as correntes marítimas, pode-se citar a orla da praia de
Icaraí no município cearense de Caucaia, que vem sendo gradativamente afetada pelo fenômeno
físico natural denominado como erosão marinha (GIEAS). Este fenômeno vem causando prejuízos
econômicos significativos, principalmente, para os moradores e comerciantes da região conforme
pode ser verificado na Figura 1. Ainda assim, outros municípios cearenses tais como Icapuí-Ce,
Cascavel-Ce e Camocim-Ce, também apresentam o mesmo tipo de fenômeno.
Em relação à praia do Icaraí-Ce, Façanha et al (2017), afirma que “A praia do Icaraí sofre
atualmente um intenso processo de erosão, associado à falta de organização do desenvolvimento
das atividades antrópicas, como urbanização acelerada e desordenada, indústrias e turismo não
sustentáveis”.
Segundo Viana (2015) a erosão costeira ocorre sempre que o mar avança sobre a terra,
como resultado da ação do vento, da agitação das marés, em condições de fraca disponibilidade de
sedimentos. As inúmeras intervenções na orla de Fortaleza aceleraram o processo natural de
erosão das praias de Caucaia.
Figura 1 - Tentativa de reduzir a erosão costeira da praia do Icaraí em Caucaia - CE.
Em relação aos aspectos ambientais, a estrutura geológica do município foi estudada por
Souza (1988), Souza e colaboradores (1995), e apresenta dois conjuntos bem distintos: Coberturas
sedimentares de idade Tércio-Quartenária e litologias do embasamento cristalino pré-cambriano.
Caucaia situa-se na bacia hidrográfica Metropolitana e seus rios de maior porte são o
Ceará, Cauipe e Anil. Encontram-se no contexto da bacia hidrográfica do município lagoas e
açudes, com destaque para os açudes Sítios Novos e Cauipe. Na figura 3 é ilustrado a bacia
hidrográfica de Caucaia.
Dessa forma, verifica-se que o contingente populacional de Caucaia tem crescido com
maiores taxas nas áreas urbanas, existindo a necessidade de aprofundar as discussões e reflexões
no estudo do espaço urbano, servindo de orientação e subsídio para os investimentos na área de
infraestrutura e nos diversos setores que compõem a gestão municipal.
A população do município tem uma distribuição equivalente segundo gênero, com uma
proporção de 49,04% de homens e 50,96% de mulheres. Cerca de 27,28% da população tem
menos de 14 anos de idade, 70,48% possuí entre 15 e 64 anos e 2,24% tem mais de 64 anos de
idade, de acordo com dados do IBGE (2010). O grau de urbanização de Caucaia é de
aproximadamente 89,18%, correspondendo a um total de 290.220 moradores residindo em áreas
urbanas do município. A taxa de analfabetismo da população com 15 anos ou mais de idade
situou-se num patamar de 12,89% no ano 2010, resultado melhor do que o verificado para o
Estado (18,8%). A renda per capita média da população de Caucaia registrou o valor de R$ 405,51
em 2010, sendo a 8ª maior do Ceará.
Um total de 82,48% dos domicílios são atendidos pelo serviço de coleta de lixo, sendo de
81,64% o percentual de domicílios ligados à rede geral de abastecimento de água. Já a proporção
de domicílios com existência de energia elétrica alcançou a marca de 99,41%, caminhando assim
para a universalização deste serviço. Em contra partida, apenas 39,35% dos domicílios estão
ligados à rede geral de esgoto. Assim, conclui-se que a taxa de cobertura de esgotamento sanitário
ainda é baixa, necessitando de mais políticas de expansão da rede de coleta de esgotos no
município no intuito de aumentar o percentual de cobertura. Caucaia está dentro dos padrões de
uma cidade que vem crescendo desordenadamente com áreas de risco cada vez mais suscetíveis a
desastres e sua geografia é constantemente agredida pela ocupação, seus rios e lagoas a cada dia
mais assoreados, trazendo inúmeros problemas sócios ambientais a sua população (MEDEIROS,
2012).
4.2.1 Descrição dos nove setores das áreas de risco do Município de Caucaia
Setor 01 - Localização: Bairros São Miguel e Parque das Nações/Rua do Canal
Área na planície fluvial do rio Maranguapinho, mais especificamente num braço do rio,
compreendendo as porções ribeirinhas dos Bairros São Miguel e Parque das Nações, onde a
ocupação é feita por moradias precárias, situadas muito próximo à calha fluvial, que sofrem
frequentemente com os processos de enchente e inundação (Figura 6, quadro 1 e 2).
O rio encontra-se bastante assoreado, com grande quantidade de lixo e entulho, potencializando os
efeitos das inundações (Figura 6, quadro 3). As casas exibem marcas d'água com cerca de 1 metro
de altura. Não há saneamento básico e o esgoto fica exposto a céu aberto pelas ruas e vielas da
área, e o local apresenta muito lixo acumulado (Figura 6, quadro 4). Durante as fortes chuvas que
ocorreram no mês de março 2012, o rio adquiriu muita energia e destruiu a passarela que une as
duas comunidades (Figura 6, quadro 5).
a) Quantidade de imóveis em risco: Aprox. 200.
b) Quantidade de pessoas em risco: Aprox. 800.
Figura 6 - Setor 1: São Miguel, frifort, parque das nações e Zizi gavião Área na planície
fluvial do rio Maranguapinho.
Setor 03- Localização: Rua das Princesas e Área Indígena dos Tapebas
Esta é uma área de mangue, sujeita a inundações periódicas na planície flúvio-marinha do
rio Ceará. A subida do nível do rio é influenciada diretamente pelas marés cheias que associadas
aos períodos chuvosos, provocam as inundações na área. A ocupação ocorre nos dois lados do rio:
Rua das Princesas, pela margem direita, e Área Indígena dos Tapebas, pela margem esquerda
(Figura 8, quadros1 e 2). O nível d’água chega a atingir 1,5 m de altura nas casas da Rua das
Princesas, causando inúmeros problemas para seus moradores que em várias ocasiões, precisam
ser removidos para abrigos. As moradias são, em grande parte, de padrão muito precário,
constituídas de madeira e taipa (Figura 8, quadros 3 e 4). Em um trecho da margem ocupada pelos
índios Tapebas, existe um muro que, de acordo com a CPRM, protege as casas contra as enchentes
do rio (Figura 8, quadro 5).
a) Quantidade de imóveis em risco: Aprox. 80.
b) Quantidade de pessoas em risco: Aprox. 320.
Figura 8 - Setor 3: Área de mangue, sujeita a inundações periódicas, na planície do rio
Ceará.
A descrição das áreas de risco apresentadas acima, foi feita pelo Serviço Geológico do
Brasil e CPRM. Esta apresenta um índice de vulnerabilidades crescentes nesses bairros, o que vem
causando sérios danos à população e seus bens, principalmente no período de chuvas.
As cheias e inundações, que ocorrem de forma sazonal, e os efeitos danosos delas
decorrentes, persistirão até que a própria população e os órgãos governamentais tomem as devidas
providências preventivas e deem as respostas adequadas para às áreas tidas como de risco, como
classificadas pelos órgãos citados acima.
No intuito de ajudar a população a combater e diminuir os problemas relativos às cheias e
enchentes, foi proposto o desenvolvimento, através de um software Linux Ubuntu, do dispositivo
Slapvoip. Este dispositivo tem como função principal enviar aos responsáveis, mensagens de
alerta, quando da possibilidade das ocorrências relativas a estas vulnerabilidades. Além disto, o
sistema também permitirá introduzir ações sócio educativas para criar uma cultura de segurança
pública, que contribua para a redução desses desastres. Para o desenvolvimento do projeto foram
utilizados os dados de precipitação coletado pelos pluviômetros automáticos do CEMADEN e
pluviômetros convencionais da FUNCEME existentes na Cidade de Caucaia, conforme Tabela 3.
O pluviômetro do bairro Conjunto Metropolitano é apresentado como exemplo de sua montagem
estrutural (Figura 15).
Os dados das precipitações do mês de abril de 2015, dos meses de março de 2017 até maio
de 2017 e dos meses de fevereiro a abril de 2018 forma utilizados para avaliar a relação
precipitação x ocorrência dos desastres. Dados de 2019 foram utilizados para testar o sistema da
Defesa Civil de Caucaia conforme os registros apresentados pela mesma.
Segundo dados coletados pela FUNCEME, para os meses de janeiro a abril de 2019, as
precipitações das chuvas registradas no Estado do CE foram intensas, tendo alcançado valores
superiores aos de anos anteriores. Na capital (Fortaleza) os registros referentes aos três primeiros
meses do ano, atingiram valores maiores que o dobro dos valores esperados para a média histórica
de chuvas, para aquele período. Em abril, choveu mais de 60% do esperado para o mês inteiro em
apenas seis dias, conforme figura 16.
Uma outra reportagem do dia 7 de março 2019, do Diário do Nordeste, informou que
Caucaia e Amontada também sentiram os efeitos das chuvas. Os dados de precipitação acumulada
registrados pela FUNCEME daquelas últimas 24 horas, foram 80.6 e 77 mm respectivamente. O
balanço parcial das 10h20 daquele dia, apontou também que choveu em pelo menos 86 municípios
do Estado. Os dados corresponderam às chuvas ocorridas entre as 7h do dia 6 de março e as 7
horas do dia 7 de março. A previsão de tempo feita pela FUNCEME foi de céu nublado com
possibilidades de chuva em todas as regiões do Estado do Ceará, durante a tarde e noite do mesmo
dia. Outros municípios que apresentaram chuvas com mais de 45 milímetros no Ceará foram: São
Gonçalo do Amarante (74 mm), Paracuru (69.4 mm), Maracanaú (55 mm) e Pentecoste (45 mm).
Em Fortaleza, a chuva que alagou ruas durante a manhã de quarta (dia 6 de março), acumulou 30.2
milímetros. Neste dia 7 de março de 2019, o diário do nordeste trouxe um a lista com as 10
maiores chuvas registradas pela FUNCEME, por posto, conforme apresentado abaixo.
Os exemplos e registros acima nos evidenciam que Caucaia sofre constantemente com
cheias e inundações. Sua localização, relevo e ocupação desordenada agravam esse contexto.
Considerando todos os transtornos a que os habitantes desta região estão sujeitos, seria de grande
valia a existência de um sistema que permitisse a obtenção de informações relativas a possíveis
ocorrências de eventos de vulnerabilidade.
No Brasil existe um sistema de informações geográficas (SIG) utilizado pela Defesa Civil
de Marabá, onde há a possibilidade de envio SMS, mas ainda não o fazem, pois, este sistema não
está configurado a um servidor PABX/VOIP.
Já o CEMADEN utiliza complexos cálculos para seus sistemas de alertas, por exemplo
através de gráficos e cores, mas não enviam SMS ou chamadas telefônicas. Isto também, segundo
o CEMADEN, por não estar configurado a um servidor PABX/VOIP, e sim um sistema
convencional de telefonia.
O CEMADEN utiliza as cores dos alertas, conforme Figura 24, e estas não estão apenas
ligados a valores de precipitação. Por se tratar de um sistema mais avançado e com recursos, elas
dependem, por um lado, da probabilidade da ocorrência do fenômeno e, por outro, do potencial
impacto à população, que esse fenômeno (inundação, deslizamento de terra, etc) pode acarretar.
Esse potencial impacto pode ser estimado como função do número de áreas de risco, do
número de pessoas morando nestas áreas, e de suas características de densidade demográfica,
distribuição de idade, nível de escolaridade e renda, tipos de moradia, etc.
O CEMADEN utiliza um sistema de cores que serve para classificar a intensidade do
fenômeno em questão. A cor amarela é utilizada quando o fenômeno a ser alertado apresenta
pouca probabilidade de ocorrência (menos de 50%) e seu potencial impacto é pequeno.
A cor laranja significa que a chance de o fenômeno alertado ocorrer é de, no mínimo, 50%,
e que seu impacto na população pode ser significativo. Nesses casos, o CEMADEN recomenda
que a Defesa Civil vá até os locais indicados, e faça uma vistoria para decidir sobre a possibilidade
de evacuação.
Finalmente, a cor vermelha é utilizada para os casos mais graves, quando o fenômeno é
altamente provável (mais de 80%), e o potencial impacto seja muito elevado, como por exemplo, a
possibilidade de deslizamentos de terra em cidades densamente povoadas (CEMADEN, 2019). A
figura 19 mostra uma situação particular onde houve um caso de inundação severa. Nesta figura
pode ser observada a sequência de evolução do sistema com a apresentação das diversas cores.
Figura 19 - As cores e os limiares utilizados pelo CEMADEN para precipitações ocorridas
no dia 14 de abril de 2019 em Caucaia.
No exemplo exposto acima a telefonia IP/Voip, com envio de SMS, não é utilizada.
Inclusive não foi encontrado na pesquisa bibliografia qualquer outro sistema que a utilizasse.
Considerando que o sistema VOIP utiliza o protocolo SIP (protocolo inteiramente voltado a
serviços) que oferecem recursos para a melhoria da mobilidade e produtividade de usuários, como
a Defesa Civil, optou-se por desenvolver um sistema, baseado nesta tecnologia, que além de
classificar os patamares de cores, está preparado para enviar e-mails e gerar futuros relatórios
através de seu banco de dados e completar ligações automáticas PSTN (mesmo sem a necessidade
de estar conectada à internet), diferenciando-o assim daqueles existentes no mercado.
Essa tecnologia pode ser desenvolvida em hardwares de pouca funcionalidade e baixa
velocidade de processamento, como aqueles considerados obsoletos e normalmente descartados,
quando se pretende obter tecnologias mais recentes na solução dos problemas cotidianos. Uma
outra forma de desenvolvimento foi a utilização da “cloud computing”, normalmente conhecida
por “nuvem”, que permite a diminuição dos custos do projeto, evitando a necessidade de aquisição
de equipamentos e proporcionando uma economia no resultado final do mesmo.
Desta forma, optou-se por utilizar o sistema baseado na tecnologia VOIP, alocando no
servidor de nuvem da empresa Digital Ocean, que foi contratada para este objetivo.
Algumas principais vantagens desse sistema são, utilização do sistema de Voz Sobre IP na
distribuição Ubuntu Asterisk, que é um software VoIP (Voz sobre Internet Protocol) opensource
de Licença Pública Geral – GPL, e transformação de um simples computador em um poderoso e
completo PABX (Private Branch eXchange) criado pela Digium Inc.
O sistema é de fácil instalação e econômico para projetar. Ele é composto pelas
características descritas abaixo, onde para sua configuração e instalação é utilizado comandos
Linux para construir o PABX Voip Asterisk. Na figura 20 é mostrado um breve histórico dos
comandos e alguns detalhes como horário e tipo de linguagem de programação. O sistema foi
nomeado como Slapvoip – Sistema Leitura Automática de Possíveis cheias, sobre IP.
1 - Análise de requisitos;
2 - Configurações do servidor;
3 - Modelagem e criação do banco de dados;
4 - Web services – APIS de serviços e integração com sistema do CEMADEN;
5 - Modelagem e criação do banco de dados;
6 - Logo do sistema;
7 - Layout do PWA conforme cores da logo;
8 - Monitoramentos do sistema;
9 - Cadastros do usuário;
10 - Formulários de cadastro de informações do alerta;
Figura 20 - Configuração e Instalação do Sistema Slapvoip utilizando Software Linux.
O getphone é uma rotina, baseada em shell script, que é responsável por quase todo o
funcionamento do backend do Slapvoip; pode-se dizer que ele é o cérebro da operação. O
getphone se conecta através de uma web service na aplicação web do Slapvoip, consultando todos
os usuários cadastrados. Através dessa consulta, o getphone trata os valores e faz as varreduras nas
listas de usuários.
O sistema apresenta duas opções de alerta. Uma via SMS e a outra via ligação telefônica.
Quando a opção de alerta for SMS, o getphone se conecta com os API´s da Vero Soluções
e envia um SMS para o usuário.
Quando a opção de alerta for ligação, o getphone se conecta com o Asterisk e realiza uma
chamada telefônica através de uma conta VOIP da Netwave Telecom, que possui conexão PSTN.
Após o envio da mensagem SMS e chamada de voz, o sistema volta a realizar um outro
script de confirmação de leitura por parte dos usuários. Este conecta-se com o servidor webservice
do slapvoip e registrando no banco de dados SQL na qual a ação foi executada com informações
de datas, ID do usuário, horário, tipo de alarme. Assim o getphone automatiza os serviços de
telefonia para usuários na camada front-end do seu software, com os API´s disponibilizados pelo
banco de dados da FUNCEME. É nesses API´s que se encontram os dados dos índices
pluviométricos coletados pelos pluviômetros do CEMADEN.
Desta forma o getphone automatiza os serviços de telefonia para usuários na camada front-
end do seu software API´s (Figura 23).
O projeto foi dividido em duas fases. Na primeira o sistema foi programado para
identificar as mensagens de alarme, a partir de qualquer chuva precipitada. Este foi desenvolvido
utilizando-se duas telas de cores. Uma de cor cinza, onde estava escrito “sem alarmes”, e a outra
de cor laranja, onde estava escrito “Alarmes”. Aqui, também, foi especificado que os envios das
mensagens de SMS e chamadas telefônicas, seriam enviadas com qualquer precipitação de chuvas,
conforme foi apresentado por ocasião do exame de qualificação deste trabalho.
Na segunda fase, os dados de chuva coletados pelos pluviômetros do CEMADEN, e os
registros de cheias dos arquivos da Defesa Civil da Cidade de Caucaia, foram obtidos. A tabela 4
apresenta os valores de precipitação ocorridos nas várias estações pluviométricas localizadas na
circunvizinhança da região em estudos, nas datas concomitantes com os eventos registrados pela
Defesa Civil (quadro 3). Desta forma, iniciou-se o desenvolvimento do sistema através das
programações do servidor PABX/ Asterisk, descrito no capítulo anterior. Observa-se na tabela 4, o
registro de valores de zero precipitação para o mês de maio de 2017, na estação conjunto
metropolitano (CEMADEN), e para os meses de maio de 2017, fevereiro, março e abril de 2018,
na estação do parque Leblon (CEMADEN). Estes valores de zero precipitação provavelmente
foram registrados devido a problemas com os próprios pluviômetros, que não estariam
funcionando, ou dos observadores que não teriam feito os registros. A disponibilidade da série de
dados de precipitação coletada através do pluviômetro da Estação Caucaia da FUNCEME,
possibilitou uma confrontação com os dados do CEMADEN, o que proporcionou uma maior
confiabilidade nos resultados a serem apresentados. Esta confrontação mostrou que, das estações
do CEMADEN, a do Parque São Geraldo é a que apresenta a serie mais completa e,
consequentemente, foi a escolhida como referência para este estudo.
Tabela 4 - Datas dos Registros com precipitações dos Pluviômetros do CEMADEN.
Cores Modalidade mm
sem cheias 0 a 1,1
cheia moderada 1,2 a 15
cheia forte 15,1 a 30
cheia muito forte 30,1 em diante
No dia 14 abril de 2019, aconteceu um caso de significante relevância, que foi registrado.
Este, que foi responsável pela ocorrência de fortes chuvas na cidade de Caucaia, foi utilizado para
os testes e coletas e das evidencias finais dos procedimentos do Slapvoip, que se mostrou em
perfeito funcionamento.
Um outro exemplo deste bom funcionamento, pode ser visto através da reportagem do
jornal Metropolenews de Caucaia (Figura 28). Neste dia o jornal apresentou uma cheia, que
inundou vários bairros daquela cidade. Essa cheia não foi registrada por parte da Defesa Civil,
mas o Slapvoip, em funcionamento no momento, como esperado, registrou as mensagens SMS
com as informações adequadas (Figura 25).
Visando continuar os testes, o sistema permaneceu ligado no mês de abril. Este foi um mês
onde a quantidade de precipitação, naquela região, foi acima da média (60%), como citado
anteriormente. Um caso que foi considerado digno de registro foi o do dia 20-04-2019. Neste dia a
reportagem do jornal o povo informou que, entre a noite de sexta-feira do dia 19 e a manhã do dia
20 de abril, a região metropolitana registrou 111.4 milímetros de chuva. Para esta precipitação, o
Slapvoip emitiu, às 8h27 do mesmo dia, um SMS com os incrementos e os decrementos relativos
a essa chuva, avisando sobre as possíveis cheias em Caucaia. Este fato pode ser visto na Figura 25
acima.
É importante observar que todos os registros enviados via SMS, inclusive o registro de
visualização do parte do usuário, são automaticamente incluídos no Banco de dados do Slapvoip, e
ficam disponíveis para consulta no endereço IP http://204.48.18.215/alertas/getall (Figura 29).
Figura 29 - Registros das ocorrências no Banco de Dados SQL do Slapvoip.
Verificou-se que a utilização da tecnologia VOIP pode facilmente ser feita com a
vantagem de, com os avanços dos sistemas computacionais, ser muito rápida e de baixo custo, o
que reflete na economia com operadoras e seus cartéis.
A simplicidade do Slapvoip permite a utilização de sistemas computacionais simples, que
atualmente poderiam ser considerados como obsoletos.
O sistema em questão (Slapvoip), envia para o usuário (Defesa Civil e outros cadastrados),
em tempo real, as informações (via SMS) sobre as ocorrências das possíveis cheias.
Tendo sido classificadas as informações em um padrão de cores, conforme os índices
pluviométricos estabelecidos, o sistema faz o seu envio, dentro dos limiares sugeridos pelo estudo.
O sistema gera as chamadas telefônicas que são registradas no banco de dados SQL do
Slapvoip.
Este é um sistema que pode ser aperfeiçoado utilizando as informações por ele mesmo
geradas.
Sendo usada adequadamente, o sistema constitui-se de uma ferramenta capaz de ajudar os
governos, com suas Defesas Civis, a obter mais eficiência nos seus planos e ações sócio
educativas, junto à população que vive em áreas de vulnerabilidade.
O sistema é uma ferramenta útil para a população que vive em áreas de risco, sofrendo
com cheias e inundações, pois possibilita a aceleração nas ações dos organismos governamentais
responsáveis por sua mitigação.
7 SUGESTÕES PARA CONTINUIDADE DESTE TRABALHO
O sistema é fundamentado nas novas tecnologias que utilizam VOIP, softwares livres,
internet, e pode ser aperfeiçoado através a automatização dos seus serviços, geração de relatórios e
tabelas, a partir do banco de dados.
Além de SMS, o sistema permite o envio de e-mails que informem, de maneira mais
detalhada, as ocorrências relativas as possíveis cheias. Seria interessante implementar esta
facilidade.
Os resultados obtidos com este sistema podem ser robustecidos através da consideração
dos dados provenientes de mais de um pluviômetro (ao invés de um só como é atualmente).
É de grande importância para o trabalho dos órgãos responsáveis pela mitigação dos
efeitos deste tipo de evento, sua descrição e registro. Assim, sugere-se a inclusão de um
dispositivo, no próprio aplicativo, que permita ao usuário a inclusão das informações básicas e
detalhadas do evento.
REFERÊNCIAS
ALEXANDER, David E. Natural hazards on an unquiet earth. In: MATTHEWS, John .A;
HERBERT, David T. Unifying geography: common heritage, shared future?. New York:
Routledge, 2004. Cap. 12, p. 266-282.
AMARAL, Rosangela do; GUTJAHR, Mirian Ramos. Desastres naturais. São Paulo: IG/SMA,
2011. Disponível em: <http://www.ciaden.com.br/docs/gerais/CEA_DESASTRES.pdf>. Acesso
em: 04 dez. 2013.
ANDRADE, Flávio Eduardo de. Como construir e configurar um Pabx com Software livre:
versão 1.4, São Paulo: Asterisk PBX, 2005.
BARCELLOS, Frederico Cavadas; OLIVEIRA, Sonia Maria. Novas fontes de dados sobre risco
ambiental e vulnerabilidade social. Disponível em:
<http://www.anppas.org.br/encontro4/cd/ARQUIVOS/GT11-848-561-20080509105611.pdf>.
Acesso em: 28 abr. 2019.
CASTRO Antônio Luiz Coimbra de; CALHEIROS, Lélio Bringel. Manual de medicina de
desastres. 2. ed. Brasília: Ministério da integração, 2007.
CASTRO, Antônio Luiz Coimbra de. Manual de desastres naturais. Brasília: Ministério da
Integração, 2003.
FORTE chuva provoca cheia do Rio Ceará e deixa casas alagadas em Caucaia. O Povo Online,
Fortaleza, 24 fev, 2019. Noticias. Disponível em:
<https://www.opovo.com.br/noticias/ceara/2019/02/24/forte-chuva-provoca-cheia-do-rio-ceara-e-
deixa-casas-alagadas-em-caucaia.html>. Acesso em: 24 fev. 2019.
FURTADO, Janaína Rocha; SILVA, Marcela Souza. Proteção aos direitos humanos das
pessoas afetadas por desastres. Florianópolis: CEPED; UFSC, 2014. 276 p.
MARANDOLA, Eduardo Jr; HOGAN, Daniel Joseph. Natural hazards: o estudo natural hazards:
o estudo geográfico dos riscos e perigos. Ambient. Soc., v. 7, n. 2, p. 95-110, 2004.
MEDEIROS, Cleyber Nascimento de. Ceará em Números 2011. Fortaleza: IPECE, 2012.
MEDEIROS, Júlia de. As 20 Metrópoles Brasileiras do Futuro. Revista Veja, São Paulo, v. 2180,
p. 1, out/set. 2010.
MORAIS, Lúcia de Fátima Sabóia. Para onde sopram os ventos do Cumbuco: Impactos do
turismo no litoral de Caucaia, Ceará. 2010. 128 f. Dissertação ( Mestrado em Geografia) –
Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2010.
MUDANÇA para Estágio de Crise em todo o Município às 20:55 do dia 08/04/2019. Alerta Rio,
Rio de Janeiro, 08 abr. 2019. Disponível em: <http://alertario.rio.rj.gov.br/2019/04/08/mudanca-
para-estagio-de-crise-em-todo-o-municipio-as-2055-do-dia-08042019/>. Acesso em: 27 jun. 2019.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. World Population prospects: the 2008 revision,
New Yoirk, mar. 2009. Disponivel em:
<https://www.who.int/pmnch/topics/2008_populationstats/en/>. Acesso em: 28 jun. 2019.
SOUZA, Marcos José Nogueira de. Bases Naturais e Esboço do Zoneamento Geoambiental do
Estado do Ceará. Fortaleza: FUNECE, 2000.
SOUZA, Marcos José Nogueira de. Contribuição ao estudo das unidades morfoestruturais do
Estado do Ceará. Revista de Geologia, Fortaleza, n. 1, v. 1, 1988.
SOUZA, Marcos José Nogueira de; BRANDÃO, Ricardo de Lima.; CAVALCANTE, Itabaraci
Nazareno. Diagnóstico Geoambiental e os principais problemas de ocupação do meio físico da RMF.
Fortaleza: CPRM, 1995. 120p.
TOMINAGA, Lídia Keiko ; AMARAL, Jair Santoro Rosangela. Desastres naturais: conhecer
para prevenir. São Paulo: Instituto Geológico, 2009.
TUCCI, Carlos Eduardo Morelli; BRAGA, Benedito; SILVEIRA, André. Avaliação do Impacto
da urbanização nas cheias urbanas. RBE Caderno de Recursos Hídricos, n. 1, v, 7, 1989.
VEJA a destruição causada pela chuva no mês de março no Ceará. O diário do Nordeste,
Fortaleza, 1 abr. 2019. Disponível em:
<https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/regiao/online/veja-a-destruicao-causada-
pela-chuva-no-mes-de-marco-no-ceara-1.2081001>. Acesso em: 8 jun. 2019.
VIANA, Tiago Feitosa. Manifesto: os 77 anos do desastre silencioso da praia do Icaraí. Fortaleza,
2015. Disponível em: <http://www.blogdecaucaia.com/2015/02/imaginacaucaia-manifesto-os-77-
anos-do.html>. Acesso em: 10 fev. 2019.