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Centro Universitário de Brasília – UNICEUB

FATECS

Lucas Ribeiro Reis

Impressionismo e Fotografia:
Um diálogo contemporâneo

Brasília
2015
Lucas Ribeiro Reis

Impressionismo e Fotografia:
Um diálogo contemporâneo

Trabalho apresentado ao Centro


Universitário de Brasília
(UniCEUB/FATECS) como pré-requisito
para conclusão do Curso Superior de
Tecnologia em Produção Audiovisual do
UniCEUB.

Orientador: Prof. M.e Lourenço Lima


Cardoso

Brasília
2015
“[...]Ora, a forma! Ora, os mestres! Não
precisamos mais deles, meu pobre amigo!
Mudamos tudo isso.” Louis Leroy
Lucas Ribeiro Reis

Impressionismo e Fotografia:
Um diálogo contemporâneo

Trabalho apresentado ao Centro


Universitário de Brasília
(UniCEUB/FATECS) como pré-requisito
para conclusão do Curso Superior de
Tecnologia em Produção Audiovisual do
UniCEUB.

Orientador: Prof. M.e Lourenço Lima


Cardoso

Brasília, 24 de novembro de 2015

Branca examinadora

Orientador: Prof. M.e Lourenço Lima Cardoso

Profª. Dra. Carolina Assunção e Alves

Profª M.a Aline Parada


Resumo

As relações entre Impressionismo e fotografia começam na origem do


movimento francês. Alguns pintores Impressionistas se inspiraram na recém-criação
do momento: a fotografia. Utilizaram as primeiras imagens fotográficas como
estudos para pinturas, com novos ângulos, agora oblíquos, e a capacidade de
decompor o movimento, agora retratado mais fielmente. Alguns desses pintores
também foram fotógrafos, como por exemplo Edgar Degas, que fotografava
bailarinas para estudar seus movimentos. Assim, tornou-se possível pintar sem que
o modelo tivesse de estar presente o tempo todo. A forma de ver o mundo havia
mudado. Neste trabalho buscamos como inspiração a estética conseguida por essas
técnicas “emprestadas” da fotografia e as utilizamos para aproximá-la da pintura.
Retratamos a intimidade do banho de alguns sujeitos da maneira mais natural
possível, assemelhando-se assim aos registros fugazes do cotidiano pelo
Impressionismo. Como resultado, pretendemos passar a impressão de se ver uma
pintura ao observar uma foto. Retomando assim o diálogo entre Impressionismo e
fotografia, dessa vez, através das lentes.

Palavras-chave: Impressionismo. Edgar Degas. Fotografia. Fotografia


Contemporânea. Banho.
Abstract

The relations between Impressionism and photography begin in the origins of


the french movement. Some painters of this school had inspired themselves in the
recent invention: photography. They've used the first photography images as studies
for later paintings and inspiration for new oblique angles and picturing movement
realistically. Some of these painters were photographers, like Degas. In this work we
want to make clear the first inspirations and influences, once used by the
Impressionism movement from photography techniques to demonstrate now some
“paintings” made with a camera, inspired and influenced by these same Impressionist
techniques, in a circle of influences. In this photobook we will show the photos taken
using XIX century Impressionism as base and influence to demonstrate some of the
movement techniques in contemporary photography. Although Impressionism and
contemporary photography are distant in time from each other, when we see pictures
that look like paintings, because of the color, framework or texture, we can notice the
great influence from photography in the XIX century Impressionism painting.

Key-words: Impressionism. Edgar Degas. Photography. Contemporary Photography.


Sumário

1. Introdução...............................................................................................................8

1.1.Objetivos...............................................................................................................9
1.1.1. Objetivo Geral....................................................................................................9
1.1.2. Objetivos específicos........................................................................................10

1.2. Justificativa.......................................................................................................10

2. Fundamentação teórica.......................................................................................13
2.1. Impressionismo...................................................................................................13
2.2. Degas..................................................................................................................14
2.3.. História da fotografias........................................................................................15
2.4.. Fotografia artística e contemporânea................................................................16

3. Metodologia..........................................................................................................18

4. Considerações finais...........................................................................................21

Apêndice
1 Introdução

O movimento Impressionista começa por volta de 1860 e devido a sua


proximidade com a fotografia, muito dela é percebido nestas pinturas. Ao
constatarmos algumas similaridades, optamos por realizar uma série fotográfica em
um fotolivro onde pudéssemos notar as relações entre essas duas formas artísticas.
Buscamos a textura e as formas do Impressionismo ao retratar o banho de alguns
sujeitos.

Este trabalho busca estabelecer relações entre a pintura impressionista do


século XIX, em específico de Edgar Degas (1834 – 1917), e a fotografia
contemporânea. Foram utilizados autores sobre fotografia e arte, como Philippe
Dubois (1998), Marie-Loup Sougez (1996), John Rewald (1991), Meyer Schapiro
(1997), dentre outros. Inicialmente faremos um apanhado sobre o Impressionismo,
mostrando sua origem e técnicas. Posteriormente falaremos brevemente sobre o
pintor citado, comentando um pouco sua vida, técnica e influência. Aí então
falaremos sucintamente da história da fotografia e sua aproximação com a arte até a
contemporaneidade.

Queremos evidenciar o embasamento teórico para análise de um fotolivro


(físico e digital) do autor que aqui escreve. É preciso antes demonstrar as
aproximações da fotografia, desenvolvida no século XIX, e o Impressionismo, do
mesmo século. Com o aparecimento da fotografia, muita coisa mudou nas relações
sociais, na comunicação e na arte. A fotografia era vista como um espelho do real
(DUBOIS, 1998), porém foi utilizada como fonte de inspiração para muitos pintores
impressionistas, que pegavam os resultados fotográficos ainda primitivos, para
estudar novas técnicas de movimento, por exemplo, Degas (FATH, 2012).

O Impressionismo foi muito importante naquela época por romper com o


convencional e os valores da Academia. Os pintores pintavam como viam e não o
que viam, relativizando as “verdades” do pensamento positivista vigente (RHADE;
CAUDURO, 2005). Era a visão particular do artista que estava em voga, não mais

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uma pintura clássica, acadêmica. Esta é uma das principais relações estabelecidas
aqui com a fotografia. Mesmo que se faça o mesmo ângulo, na mesma hora do dia,
torna-se impossível repetir uma fotografia de maneira idêntica. A imagem
reproduzida pela câmera é uma soma da realidade de quem a tirou e a técnica
utilizada. Toda fotografia tem um contexto e uma história, não só dela, mas do
fotógrafo.

1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo Geral

O objetivo proposto é demonstrar relações de influência entre duas formas


artísticas muito próximas e, ao mesmo tempo, muito distintas. Ambas foram
duramente criticadas à época por estabelecerem visões de mundo bastante
divergentes do que era senso comum, e se influenciaram mutuamente.
Demonstraremos técnicas da pintura Impressionista do século XIX na fotografia
contemporânea. Tais processos, antes apropriados da fotografia pelo movimento
Impressionista: como o esfumaçado devido à longa exposição, ângulos não
convencionais para a pintura e altos-contrastes em decorrência das primeiras
películas fotossensíveis, agora serão aqui utilizadas para a produção de fotografias
que tenham o Impressionismo como fonte e referência na criação contemporânea.
Tanto o Impressionismo como a fotografia se relacionam intimamente com a luz e as
cores, com as formas e os movimentos. A fotografia foi muito criticada por ser
mecânica, segundo Baudelaire (1859), era “[...]refúgio de todos os pintores
frustrados[...]” (BAUDELAIRE, 1859, apud SOUGEZ, 1996, p.220). E os
Impressionistas também foram muito criticados por seus quadros tidos como
inacabados, ainda como esboços, com pedaços brancos de tela aparentes.

Então, a fotografia, como forma expressiva de arte, desta maneira se


relaciona com a pintura Impressionista do séc. XIX, de acordo com Raposo
(1998/1999), conceitualmente sobre o Impressionismo: “Seu esquema de
composição é análogo ao clássico, mas elabora nova linguagem plástica para

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reproduzir o real.” (RAPOSO, 1998/1999 p.44) tendo o real outras dimensões, mais
íntimas, ligadas ao sentimento ou experiências.

1.1.2 Objetivos Específicos

Estudaremos o Impressionismo francês do século XIX para compreender


suas aproximações com a fotografia, técnicas e influências. Devido à proximidade no
tempo entre essas formas de expressão artística, muito da imagem fotográfica foi
utilizada nas pinturas Impressionistas.

Queremos compreender melhor essas relações para que possamos aplicar


tais conhecimentos em um fotolivro (físico e digital), das relações de influência entre
Impressionismo e fotografia. Nele buscaremos enfatizar a expressão corporal, a
textura, o movimento, e a composição, como se assemelham no Impressionismo.
Como tema, o fotolivro abordará o banho e a intimidade deste ato, por ora tão
corriqueiro e carregado de história.

Como diz Shapyro (1997), “No começo, a estética do impressionismo


compreende uma nova atitude[...]Essa nova perspectiva está subentendida no
nome...'impressão', a que os artistas, às vezes, se referiam como 'sensação'”
(SHAPIRO, 1997, p.57).

1.2 Justificativa

Impressionismo e fotografia, contemporâneos em seu surgimento, dialogaram


por muito tempo. O Impressionismo se apropriou dos borrões das longas exposições
para os movimentos em suas telas. Dos contrastes nas cores, dos grãos na textura.
E hoje, a fotografia contemporânea, mais firmada como linguagem artística, utiliza as
mesmas técnicas adaptadas para si, agora, como inspiração. Como Niepce (1816)
diz “[...]A possibilidade de pintar desta maneira parece-me praticamente
demonstrada[...]” (NIEPCE apud SOUGEZ, 1996, p.31) sobre as primeiras
heliografias.

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Na Antiguidade, o banho era algo comum, muitas vezes ritualístico, com fins
de purificação e origens religiosas. Os egípcios banhavam-se até 3 vezes por dia em
adoração a divindades. Os babilônios introduziram os banhos coletivos no ocidente,
na Grécia havia até natação, primordial na formação do cidadão, outro motivo para
imersão em água. Em Roma, os banhos tomaram outras proporções. Os balneários
eram como spas, tinham jardins, bibliotecas e até restaurantes. As termas eram
visitadas por todo tipo de gente, de aristocratas a mendigos, filósofos e boêmios,
imperadores e crianças. Os banhos públicos diários aconteciam em veneração à
deusa Minerva.

Isso mudou aos poucos, quando o cristianismo passou a ser mais popular.
(FEIJÓ, 2007) Ninguém mais se banhava ou ficava nu em público, a nova religião
pregava a castidade e condenava o corpo, “abominável vestimenta da alma” como
proferiu Gregório I, o Grande, papa entre 590 e 604. O banho agora passa a ser
luxúria. Durante séculos foi comum tomar um banho por ano, e só voltou a ser
rotineiro após a década de 1930. Embora, já no século XVIII, detivéssemos o
conhecimento de que as doenças eram preveníveis com o banho (FEIJÓ, 2007).

Por esse motivo, a aplicação das técnicas Impressionistas na fotografia


contemporânea retoma um diálogo entre linguagens, entre expressões e disciplinas.
São técnicas que se misturam num ciclo, utilizadas em momentos distintos no
tempo, com distintas expressões.

Como podemos perceber nas figuras abaixo, a fotografia muito influenciou o


Impressionismo, principalmente com seus novos ângulos. Queremos retomar essa
influência, agora para tornar a fotografia, para aproximá-la da estética da pintura.

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Figura 1: Gustave Caillebotte, O boulevard Figura 2: Edgar Degas, Miss La La no
visto de cima, 1888 circo Fernando, 1879

12
2 Fundamentação Teórica

2.1 Impressionismo

De acordo com Raposo (1998/1999), mimese foi um dos primeiros conceitos


de arte, criado pelos gregos. Sendo entendido tanto como uma função de ligação
entre o mundo sensível ao ideal-divino, como uma cópia semelhante ao real e
natural ou até como alegoria de exemplos morais. Sabemos não se tratar de apenas
uma imitação. Desta maneira, tal conceito se relaciona com a pintura Impressionista
do séc.XIX, ainda de acordo com Raposo (1998/1999) “Seu esquema de
composição é análogo ao clássico, mas elabora nova linguagem plástica para
reproduzir o real.” (RAPOSO, 1998/1999 p.44).

O termo Impressionista foi provavelmente cunhado por Louis Leroy, crítico de


arte, que, em 1874 (SCHAPIRO, 1997), quando da primeira exposição do grupo
formado inicialmente por Monet, Renoir, Sisley, Degas, Berthe Morisot, Pissarro, os
amigos deste último, Béliard e Guillaumin, e os amigos de Degas, Lepic, Lever e
Rouart (REWALD, 1991 p.228). A exposição aconteceu em 15 de abril de 1874 e, no
dia 25 de abril do mesmo ano, Louis Leroy escreve um artigo chamado “Exposição
dos Impressionistas”. “[...]Ah, la forme! Ah, les mâitres! Il n'en faut plus mon pauvre
vieux! Nous avons changé tout cela[...]” (LEROY apud, REWALD, 1991 p.233).

Leroy provavelmente fez um jogo de palavras com a expressão “peinture


d'impression”, que era para designar a pintura de paredes com uma mão lisa de
tinta. Também era chamada de “impression” a demão do fundo da tela. O que fez
sentido para o público que não estava acostumado a ver quadros executados quase
como um esboço. (SHAPIRO, 1997). Porém, como diz Shapyro (1997), “No começo,
a estética do impressionismo compreende uma nova atitude[...]Essa nova
perspectiva está subentendida no nome...'impressão', a que os artistas, às vezes, se
referiam como 'sensação'” (SHAPIRO, 1997, p.57). Como disse Gide: “É-me inútil
todo o conhecimento que uma sensação não precedeu” (SERULLAZ, 1965, apud
MILLIET, 1961, p.35).

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Essa “nova” técnica de pintura não é mais a coisa academicista que existia,
os novos artistas agora imprimem nas telas as sensações que têm. Não é mais a
maneira que vêem e sim como vêem as coisas sob a ação daquela luz. Agora há
mais cores puras e nuances, o contorno não é mais presente, é sugerido pela luz, a
mistura de cores é feita pelo olho de quem vê e não na paleta (SERULLAZ, 1965).

De acordo com Geffroy, o Impressionismo se aproximava de um fenômeno,


da demonstração das coisas no espaço e a síntese delas num momento. “[...]É claro
como o amor e o desejo[...]” (GEFFROY, apud FRANCASTEL, 1974, p37). A arte foi
tomada por novas bases sensíveis com o Impressionismo de 1875, que transformou-
lhe os valores de movimento, cor, forma (FRANCASTEL, 1974).

2.2 Degas

Edgar Degas nasceu em 1834 em uma família rica de descendentes de


banqueiros de Paris. Sua mãe era americana e grande apreciadora de música e
artes plásticas, assim como seu pai. Dessa forma Degas sempre teve apoio para se
dedicar à arte. Fez viagens a Roma, Nápoles e outros lugares e quando retornou a
Paris conheceu Manet, que se tornou um grande amigo (CAPA, 2009).

Degas era muito recluso e bastante estudioso. Cada tela, por mais simples
que parecesse, era fruto de muito tempo e croquís. Degas também utilizou
fotografias como estudo para algumas telas e se apropriava de técnicas da fotografia
para suas pinturas. Ângulos oblíquos, composição de forma improvisada, com
imagens fragmentadas. Segundo Argan (2004, p106 apud FABRIS, 2009, p.457).

[Degas] recorre sem preconceitos ao auxílio da fotografia, que revela


aspectos ou momentos do verdadeiro que escapam à vista; como a
fotografia, a pintura deve ver e tornar visíveis coisas que o olho não vê e,
principalmente, fornecer uma imagem instantânea onde a vista e a mente
ainda não conseguiram separar a coisa que se move do espaço onde se
move. (ARGAN, 2004, p. 106)

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Degas preferia trabalhar em seu ateliê, utilizava-se de luz artificial e temas de
seu tempo com personagens comuns, como nos exemplos da Figura 1 e 2. Aos
poucos foi perdendo a visão, o que o deixou mais difícil e isolado, morrendo em
1917 em Paris (CAPA, 2009).

Figura 3: Edgar Degas, Figura 4: Edgar Degas, Aprés le bain, c. 1896


fotografia gelatina de prata, 1896

2.3 História da Fotografia

Nicéphore Niepce é considerado o pai da fotografia, apesar de Daguerre ter


se condedido este título por algum tempo. É preciso destacar que a invenção foi
decorrente de várias tentativas diferentes nos âmbitos físico e químico. Niepce junta-
se a Daguerre em 1829, morrendo em 1833 (SOUGEZ, 1996).

Daguerre então desenvolveu um processo que denominou Daguerreótipo,


que gerava uma imagem positiva única e tinha o tempo de exposição reduzido a
alguns minutos. William Henry Fox Talbot foi o responsável por conceber o negativo
da fotografia, o que permitiu sua reprodução ilimitada (BAURET, 1992). Em fevereiro
de 1841 Talbot apresenta um pedido de patente para seu processo, o calótipo, que
permitia a multiplicação da imagem através de um negativo (SOUGEZ, 1996).

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Com os contínuos aperfeiçoamentos, reduziu-se o tempo de exposição para
apenas 30 segundos, dos longos 30 minutos de antes. Mudaram-se os papéis dos
positivos, agora albuminados, o que dava um brilho característico à fotografia. E com
o papel encerado, pode-se evidenciar os rumos que a fotografia tomava. Duzentas
chapas daguerrianas pesavam 100kg e eram muito caras, 200 folhas de papel
encerado tinham o volume de um livro (SOUGEZ, 1996).

Scott Archer propõe um processo utilizando colódio, uma solução que tem a
celulose nítrica como base. Era usado como cicatrizante. Ele reduzia o tempo de
exposição para quase que instantâneo, ia de 2 a 20 segundos. Um grande passo
para a época (SOUGEZ, 1996). Agora era possível retratar uma onda ainda
quebrando, congelar alguns movimentos antes impossíveis de serem reparados,
contemplados. A percepção da imagem começa a mudar.

Todo esse aperfeiçoamento da tecnologia e processos químicos da fotografia


foi bem rápido. Em 1888, já era lançada a primeira câmera pro público amador, a
Kodak 100 vistas. A um preço acessível, era vendida carregada e quando tinha
todas as vistas expostas, era devolvida à fábrica, que revelava o negativo, produzia
cópias das fotografias dele e recarregava a câmera antes de devolvê-la ao cliente
(BAURET, 1992).

A Kodak trouxe o amadorismo à fotografia e isso deixou muitos fotógrafos


profissionais irritados, que se queixavam disso atrapalhar negócios e queriam taxas
e preços diferenciados de produtos que fossem vendidos a amadores, para que isso
não fosse incentivado. Por outro lado, isso foi o que mudou bastante coisa na
fotografia. Os fotógrafos profissionais estavam acostumados à rotina dos retratos, já
os amadores eram mais livres para criar suas produções, agora a um clique de
distância (SOUGEZ, 1996).

2.4 Fotografia Artística e contemporânea

Logo à época começaram a surgir grupos que não estavam mais interessados

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em questões técnicas da fotografia, e sim em uma forma estética da imagem
fotográfica. Adeptos desse modo de pensar consideravam “o negativo como simples
paralelo a uma tela vazia, enquanto o trabalho que faziam no positivo era para ele a
autêntica actividade criadora” (TAUSK, apud SOUGEZ, 1996 p.).

A pintura influenciava a fotografia da época, que trazia dela as regras de


composição, a harmonia das linhas, planos e volumes. Surgiram “objetivas de
artistas”, lentes com aberrações cromáticas e imagens imprecisas. Processos de
carvão ou pigmentário davam variações nas tonalidades das imagens, quentes ou
não. A goma bicromatada permitia adicionar outros pigmentos com pincel e o
bromódio, que consiste em transformar a imagem obtida por sais de prata em uma
imagem de tinta a óleo. Vários processos se ramificaram e permitiram variações nas
criações e na estética fotográfica.

De acordo com Dubois (1998, p.26), a fotografia e seu referente se


relacionam de três maneiras: a fotografia como espelho do real – onde o que é
retratado é mimetizado pela fotografia, tendo em vista a grande semelhança entre o
referente e a foto; como transformação do real – percebeu-se que a fotografia é uma
“impressão”, um recorte do fotógrafo, possui códigos em si mesma capaz de mudar
o real, como a língua; e como traço de um real – onde a fotografia se torna índice. “o
referente adere” (BARTHES, apud DUBOIS, 1998, p. 27) e a foto tem um significado
único, atrelado ao referente, a um real.

Ainda de acordo com Dubois (1998), a arte Duchamp e a fotografia têm em


comum a impressão de uma presença, de algo que está ou esteve ali. Duchamp,
representante do dadaísmo, introduziu a ideia de objetos prontos como forma de
arte. Aqui há uma relação entre a arte contemporânea e a fotografia, onde Dubois
(1998) menciona ser como um traço de um real. O objeto representado ligado ao
seu referente como numa foto. “O ato (fotográfico ou pictural) tornou-se
absolutamente essencial; a obra é apenas um traço seu” (DUBOIS, 1998, p. 257).

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3 Metodologia

Inicialmente a problematização se deu tendo em vista a proximidade temporal


entre fotografia e Impressionismo. Além disso foi possível observar alguns aspectos
técnicos na pintura Impressionista constantes na fotografia, como o borrão nos
movimentos, por exemplo. Daí desenvolveu-se a ideia de um fotolivro como um
catálogo de um apanhado de fotografias autorais que representem esta técnica
observada entre fotografia e Impressionismo dentro de um tema. A saber: o banho.

Este trabalho foi realizado majoritariamente de maneira comparativa.


Utilizamos aspectos técnicos do Impressionismo como base para o efeito criado nas
fotos. As gotículas de água e o vapor, ou às vezes espuma, dão uma textura à
fotografia muito próxima àquela vista em quadros Impressionistas. Desse modo, ao
fotografar através do vidro molhado ou embaçado, conseguimos um aspecto
“Impressionista” nas fotografias, em conjunto com foco e profundidade de campo.
Para que a fotografia se aproximasse mais do resultado desejado, utilizamos o
programa de edição fotográfica Adobe Lightroom 5.6, fazendo alterações no
contraste, claridade e balanço de branco, principalmente. A câmera com a qual
fotografamos foi uma Nikon D7100, com uma lente AF-S Nikkor 18-55mm 1:3.5-5.6.

Por se tratar de um ambiente interno, a luz artificial foi mais utilizada. Não
houve muita alteração na luz com equipamentos de iluminação, em sua maioria as
fotos foram feitas com a iluminação original dos banheiros. Além da comparação
entre obras, fundamentou-se tal situação em um memorial teórico, realizado durante
toda a produção.

Na pré-produção foi feita uma pesquisa sobre Impressionismo, história da arte


e da fotografia. Acumulamos informações sobre esses assuntos e desenvolvemos
um método de fotografar que se aproximasse do resultado almejado sem muita
edição ou técnicas mais complexas. Tal método se deu ao acaso, ao percebemos a
textura da pintura Impressionista no vidro molhado e embaçado do banheiro.
Também obtivemos resultados satisfatórios com o espelho molhado.

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Durante a pesquisa demos mais enfoque a dois pintores, Monet e Degas,
porém, ao longo do estudo vimos que Degas se encaixava mais na proposta do
trabalho. Observamos algumas semelhanças com o tema, como o fato de Degas ter
sido fotógrafo e as pinturas que ele fez de mulheres tomando banho. (Figura 1 e 2
do capítulo

Também estudamos a fotografia contemporânea e a impressionista, onde


pesquisamos alguns fotógrafos e suas técnicas que os aproximem desse
movimento. Como exemplo temos Eva Polak, Paul Pacey e Ernst Haas.

Figura 5: Eva Polak, 2009. Figura 6: Paul Pacey, Gateway Fantasy.

Figura 7: Ernst Haas, Motion Runners, 1958

Porém, suas formas de fotografar envolvem muitas técnicas de manuseio da

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câmera e edição sem que o resultado seja muito satisfatório para o que
propusemos. Procurávamos registros mais crus, onde a textura fosse conseguida
diretamente na imagem fotografada e não houvesse a necessidade de uma
alteração mais intensa.

Organizamos pessoas que se voluntariaram para serem fotografadas. A ideia


era registrar esses sujeitos em sua intimidade no banho para que conseguíssemos a
textura necessária na imagem. A luz foi a que originalmente era usada no banheiro e
não houve muita intervenção por parte do fotógrafo.

Os encontros foram todos casuais, tentamos intervir o mínimo possível para


que as pessoas se sentissem mais confortáveis. Os banheiros foram os dos
voluntários. A edição foi feita, em sua maioria, com os próprios voluntários.
Experimentamos com imagens desfocadas, detalhes, balanços de branco diferentes,
para tentar representar variações da mesma técnica.

Na pós-produção fizemos um apanhado de todas as fotografias pré-


selecionadas para que passassem por mais um crivo onde estabeleceríamos as
fotos na ordem em que apareceriam no livro. Pela cor e o movimento serem bem
representativos para os Impressionistas, ordenamos as fotos de acordo com as
cores e movimentação representadas. Entre algumas fotos há páginas de respiro
totalmente em branco e algumas com texto. Foi a estética escolhida para que não
houvesse apenas fotografias o tempo todo.

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4 Considerações finais

Impressionismo e fotografia dialogam mais do que imaginávamos.


Inicialmente a ideia surgiu dessa proximidade temporal dos dois. Depois, no decorrer
da pesquisa, descobrimos muito mais relações de influência mútua dessas formas
artísticas. Quando Dubois (1999) diz das relações da fotografia e seu referente,
vemos essas mesmas situações em pinturas Impressionistas. São o espelho do real,
transformadores do real e transformadores de um real.

Os Impressionistas pintavam o que sentiam. Seus recortes da realidade, do


dia-a-dia. Recortes bem modernos, com ângulos oblíquos e a perspectiva de uma
câmera. Eram instantâneos um pouco menos velozes que as fotografias. Seus
princípios eram os mesmos: captar a luz, o movimento, a sensação. A proximidade
com a fotografia era tanta que Degas as utilizou como estudo para algumas telas. E
nós, utilizamos aquelas telas e o movimento Impressionista como inspiração para
este novo estudo.

Segundo Kafka diz em uma conversa com Gustav Janouch:

A fotografia concentra seu olhar sobre o superficial. Desse modo


obscurece a vida secreta que brilha através dos contornos das coisas num
jogo de luz e sombra. Não se pode captar isso, nem mesmo com o auxílio
das lentes mais poderosas. Devemos nos aproximar dessa vida interior pé
ante pé. (KAFKA, apud DUBOIS, 1993, p.44).

Descobrimos o quão próximo da pintura a fotografia pode estar e aprendemos


que as artes se misturam. Percebemos que a imagem fotográfica pode se
assemelhar a pintura sem utilizar muita edição ou técnicas de manuseio da máquina.
Conseguimos retomar o diálogo do século XIX na contemporaneidade e produzir
telas com a câmera.

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Referências

BAURET, Gabriel. A fotografia: histórias, estilos, tendências e aplicações. Lisboa:


Edições 70, 1992.

DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico e outros ensaios. 2ª edição. Campinas/SP.


Papirus, 1998.

FABRIS, Marcos. Edgar Degas e o ódio ao burguês. Baleia na rede. Vol. I n. 6. 449-
463. [online] Dez 2009. Disponível em:
http://200.145.171.5/revistas/index.php/baleianarede/article/view/1468/1293 . Acesso
em: 31 out. 2015.

FATH, Telma. A linguagem fotográfica e a pintura de artistas baianos no final do


século XIX início do século XX. In: Cultura Visual, n. 17, maio/2012, Salvador:
EDUFBA, p. 63-74. Disponível em:
https://www.repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/11568/1/AAAAA.pdf Acesso em: 10 nov.
2015

FEIJÓ, Bruno Vieira. As águas do tempo: a história do banho, 2007. Disponível em:
<http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/aguas-tempo-historia-banho-
435136.shtml>. Acesso em: 26 out 2015.

FRANCASTEL, E. O Impressionismo. Lisboa, Edições 70, 1974.

NOSSA, Capa. Edgar Degas: o fascínio pelo movimento. J. Bras. Patol. Med. Lab.
[online]. 2010, vol.46, n.5, pp. 1-1. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/jbpml/v46n5/en_01.pdf. Acesso em: 10 nov. 2015.

RAMOS, Matheus Mazini. Fotografia e arte: demarcando fronteiras. Contemporânea.


Vol. 7. n. 12. 129-142. [online] jan. 2009. Disponível em: http://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/contemporanea/article/view/359/310 . Acesso em: 5

22
nov. 2015

RAPOSO, Maria Tereza Rezende. O conceito de imitação na pintura renacentista e


impressionista. Μετανόια. [online]. n. 1. 43-50. 1998/1999. Disponível em:
http://www.ufsj.edu.br/portal2-
repositorio/File/lable/revistametanoia_material_revisto/revista01/texto04_arte_renasc
imento.pdf. Acesso em: 9 set. 2015.

REWALD, John. História do Impressionismo. São Paulo: Martins Fontes, 1991

SCHAPIRO, Meyer. Impressionismo. São Paulo. Cosac & Naify, 1997.

SOUGEZ, Marie-Loup. História da Fotografia. Lisboa: Dinalivro.1996.

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Apêndice

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