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INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR SANT’ANA

MAIKON DANTAS DA TRINDADE

ETERNIDADE E TEMPO EM SEUS ASPECTOS OBJETIVO E SUBJETIVO EM


CONFISSÕES DE SANTO AGOSTINHO

PONTA GROSSA

2017
2

INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR SANT’ANA

MAIKON DANTAS DA TRINDADE

ETERNIDADE E TEMPO EM SEUS ASPECTOS OBJETIVO E SUBJETIVO EM


CONFISSÕES DE SANTO AGOSTINHO

Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como


requisito à obtenção do título em Licenciatura em
Filosofia na Instituição de Ensino Superior
Sant’Ana.

Orientador: Prof. Esp. Reinaldo Milek Marques.

PONTA GROSSA

2017
3

Dedico esse trabalho ao meu Senhor Jesus


Cristo que me deu graça, saúde e condições
de chegar a esse momento, a minha esposa
que de maneira direta me subsidiou
financeiramente e emocionalmente para que
tal feito fosse possível, aos meus pais que me
deram a vida e foram os principais
incentivadores do meus estudos desde a
mais tenra infância, as minhas filhas que são
a razão das minhas lutas, por fim, dedico aos
meus irmãos pois a simples existência de
vocês me faz acreditar que sempre vale
apena ir mais longe.
4

RESUMO

Este trabalho apresenta os conceitos eternidade e tempo no capítulo XI da obra


confissões de Agostinho. O fundamento da pesquisa se constitui na metafisica
agostiniana. Antes de contemplar o tempo em seus aspetos objetivo e subjetivo,
buscamos a compreensão do que venha a ser a eternidade, uma vez que essa é
peculiar a Deus, por isso, incapaz de ser medida pela temporalidade. Pela via objetiva,
indica-se um tempo que existe pelas seguintes evidências: a sua criação com o
mundo, linearidade, e por preceder a consciência humana. Por outro lado, o tempo
subjetivo é a alma humana medindo o tempo no instante em que passa, distendendo-
se entre o passado e o futuro. Desta maneira, almejamos oferecer uma modesta
contribuição no sentido de destacar como, em Agostinho, a eternidade é o bem maior,
o bem desejado por todos que buscam a felicidade, pois nela não há a insegurança
da mudança. Não há nem mesmo o desejo que virá, pois tudo se encontra nela.

Palavras-chave: Eternidade, Tempo, Agostinho de Hipona, Deus.


5

ABSTRACT

This work presents the concepts of eternity and time in the chapter XIth of Augustine's
Confessions. The foundation of the research is constituted by the Augustinian
metaphysics. Before contemplate the time in its objective and subjective aspects, we
pursue the understanding of what eternity means. Since it is peculiar to God, eternity
cannot be measured by the temporality. By the objective way, it is indicated a time that
exists by the following evidences: its own creation with the world, linearity and by
preceding the human conscience. On the contrary, subjective time is the human soul
measuring time, in the moment it passes from the past to the future. In this way, we
aim to offer a modest contribution in order to highlight how, in Augustine, eternity is the
greatest good, the good desired by all who seek happiness, because in it there is not
the insecurity of change. There is not even the desire for that will come, because all is
in it.
Keywords: Eternity, Time, Augustine of Hippo, God.
6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................... 7

CAPÍTULO 1: TEMPO E ETERNIDADE................................................. 8


1.1 A Eternidade...................................................................................... 8
1.2 O Princípio......................................................................................... 9
1.3 O espaço e a matéria......................................................................... 11
1.4 O verbo.............................................................................................. 12
1.5 Vontade de Deus............................................................................... 13
1.6 Conceitos dessemelhantes................................................................ 14

CAPÍTULO 2: AS CONCEPÇÕES SOBRE TEMPO NA


PERSPECTIVA AGOSTINIANA.............................................................. 17
2.1 A simplicidade do tema...................................................................... 17
2.2 A importância da linguagem.............................................................. 17
2.3 Duas vias para entender o tempo...................................................... 18
2.4 Tempo Objetivo.................................................................................. 19
2.5 Tempo Presente................................................................................. 22
2.6 A tríplice forma do tempo presente.................................................... 23
2.7 O presente para o tempo objetivo...................................................... 24

CAPÍTULO 3: O TEMPO PSICOLÓGICO............................................... 26


3.1 Alma................................................................................................... 26
3.2 O tempo interior................................................................................. 27
3.3 Como medimos o tempo?................................................................... 28
3.4 Onde se mede o tempo?..................................................................... 29
3.5 Distensão........................................................................................... 30
3.6 A vida feliz e a temporalidade............................................................. 31

CONCLUSÃO.......................................................................................... 33
REFERÊNCIAS....................................................................................... 34
7

INTRODUÇÃO

O conceito tempo merece uma investigação conforme Agostinho pois apesar


de ser um tema comum em nosso cotidiano a partir do momento que precisamos
elaborar um discurso lógico sobre o que este conceito significa, então surge a
problemática.
Este trabalho procura investigar como foi que Agostinho problematizou o tema
e quais foram as respostas encontradas e se as mesmas trazem satisfação. O objeto
de nossa pesquisa será sondar a Eternidade por meio do método apofático, ou seja,
investigar a eternidade é examinar o tempo e perceber que tudo o que pode ser
negado no tempo é eterno.
O próximo passo será propor duas vias para a compreensão da
temporalidade, a primeira aponta para um tempo objetivo e a segunda aponta para
um tempo subjetivo as suas principais diferenças são: o tempo objetivo é um tempo
que existe fora da consciência por ter princípio, anteceder a consciência, ser criatural
e ainda ser visível pelo vínculo com o mundo e as coisas; já o tempo subjetivo é o
momento em que a consciência capta o tempo exterior e aplica significado ao mundo.
Pois, cabe ao homem significar esse mundo, visto que ele é a única consciência que
está acontecendo no mundo.
O tempo subjetivo existe pela razão de o tempo objetivo tender ao não ser,
logo, é impossível de ser medido. Cabe então à alma medir o instante indivisível que
se passa no presente e distendê-lo para o passado e o futuro. A alma é a única capaz
de distender o tempo, e assim, dar existência aos outros tempos que já não mais são
o passado e o futuro.
Veremos ainda, que para justificar o tempo objetivo nos em Rufino ( 2003),
porque este é o único autor que propõem e se inclina a escrever sobre o tema tempo
objetivo, enquanto os demais autores como Cardoso (2010), Correia (2006), Silva
(2009) e etc. se limitam a falar de um tempo possível apenas para a subjetividade.
Quanto ao tema, ele se justifica por si mesmo, afinal de contas no Brasil e no exterior
já foram escritas mais de cem teses voltadas para a temporalidade, com ênfase nas
Confissões de Santo Agostinho, a seguir veremos a disparidade entre Eternidade e
Tempo.
8

CAPÍTULO 1: TEMPO E ETERNIDADE

“Quem poderá deter a inteligência do homem para que


pare e veja como a eternidade imóvel, que não é futura
nem passada, determina o futuro e o passado?”
(Agostinho,1999, p.320)

1.1 A Eternidade

Apontamos para o ponto de partida de Agostinho, que está na premência de


exibir os conceitos Eternidade e Tempo que serão apurados a fundamentar a intenção
de suas confissões, legitimando que a razão humana deve ser iluminada. Dessa
forma, ela é capaz de ser a via para o conhecimento.
Ao iniciar sua confissão, Agostinho se questiona: “Deus vê no tempo? O que
acontece no tempo?” Nota-se, de imediato, a sugestão de que esses conceitos serão
os mais pertinentes do livro XI das confissões. Esgotar as possibilidades de até onde
é possível abordá-los será a meta de Agostinho em toda a sua obra.1
Agostinho realiza uma pausa, antes de propor uma série de questões, para
justificar a sua confissão. Afinal de contas, qual é a razão de tal investigação?
Agostinho vê a conveniência de esclarecer, que não há intenção de sua parte, em
acrescentar qualquer coisa à sapiência Divina. Ou melhor, precisamente não é viável
narrar em algum momento qualquer a vivência do mortal que seja inédita a Deus, logo
que ele tem como atributo a Onisciência.
Conforme definido por Ayoub e Novaes (2009, p. 27):

Como Deus é eterno Ele não pode ignorar aquilo que Agostinho quer
confessar, e se Ele já sabe aquilo que será confessado. Então qual a
necessidade de narrar temporalmente, para uma inteligência eterna,
atemporal?

A justificativa sobre o porquê narrar a Deus, o que ele já sabe, é a


desacompanhada e exclusiva aspiração de ascender ao amor de Deus.2

1
Segundo Ayoub e Novaes (2009, p. 26) “O tema do livro é enunciado na primeira frase: um estudo
dos conceitos de eternidade e tempo. Trata-se de interrogar os dois conceitos, segundo sua
contraposição e segundo a articulação possível entre eles. Agostinho examina um tema fundamental
na história da filosofia, levando em conta o que já fora feito por grandes filósofos como Platão,
Aristóteles e Plotino. Além disso, aprofunda a investigação e transforma os termos do problema, à luz
de novas exigências”.
2Agostinho (1999,p. 310): “Porque razão Vos narro, pois tantos acontecimentos? Não é certamente,

para que conheçais por mim, mas para excitar o meu afeto para convosco e o daqueles que leem estas
páginas afim de todos exclamarmos: Deus é grande e digno de todo o louvor. Já disse e torno a repetir:
Narro estas coisas pelo desejo de Vos amar.”
9

Portanto, referir-se a obrigação da Teoria da Iluminação3 é algo vital para a


razão humana, pois a mente humana procura atingir elucidações que se tornem
adequadas ao problema proposto. A partir dessa linha de raciocínio, faz-se necessário
reconhecer que a razão humana possui os seus limites. Como por exemplo, se no
Platonismo, a razão humana não conhecia limites para alcançar o conhecimento
enquanto Verdade em Agostinho, a razão não pode conhecer a totalidade, a não ser
que a mesma venha a ser iluminada por Deus.4

1.2 O Princípio

O planeamento de investigação de Agostinho parte do advento do Princípio,


para detectar que a eternidade não foi criada, e que o mesmo não acontece com o
Tempo, que também foi criado no Princípio. Diante disso, faz-se necessário percorrer
ao Princípio. Pois, nele se encontra a compreensão de como se deu o início ao que é
temporal, a inteligibilidade de que a eternidade antecede o princípio.
O ofício do artesão será sondado no intento de se aproximar da Ação Divina
na gênese da criação e salutar a relevância de investigação do trabalho do artífice,
pois este é o modelo humano de criador. Investigando o seu trabalho, é possível
compará-lo ao trabalho de Deus, percebendo as possíveis confluências e as possíveis
dissemelhanças.5
Agostinho sabe que a legitimidade aprimorada pelo artífice lhe foi conferida
por Deus. Uma nova interrogação é a matéria preexistente que o artesão tem em mãos
para poder manuseá-lo.
De acordo com Agostinho (1999, p. 315) “E essa forma, ele a impõe a uma
matéria que preexistia, apta para ser transformada, como a terra, a pedra, a madeira,
o ouro e tantas outras substancias. Mas de onde proviriam essas coisas se não as
tivesse criado?”

3 Teoria da Iluminação é a busca pela interiorização e a iluminação de Deus, segundo Agostinho essa
iluminação não é algo material, é algo que se atinge quando o homem tem o conhecimento da
verdade, podendo assim ter uma vida feliz.
4 Segundo Soares (2005, p. 36) “Agostinho, nos dois primeiros capítulos, pede iluminação a Deus para

que a parca ratio de que é dotado o homem possa encontrar uma resposta satisfatória, e perdão, se a
empreitada levá-lo a incorrer em alguma blasfêmia”.
5
Agostinho (199, p. 315). “Pois não procedeste como artesão, que forma um corpo de outro, conforme
a concepção de seu espírito, que tem poder de exteriorizar a forma que vê em si mesmo com o olhar
do espirito. De onde vem esse poder do espirito senão de ti que o criastes?”
10

Mais um impasse alusivo ao inventor é a sua própria vida tanto corpórea


quanto psíquica. Esta e aquela foram-lhe entregues como dádiva do Altíssimo.6
Percebendo que o Eterno se difere do artista destarte não teve na ocasião,
que criará o universo disponível para si a matéria, o espaço ou qualquer recurso
tangível, visível, sensível, etc. Por essa razão, a lógica agostiniana irrompe a seguinte
sentença: Deus criou o cosmo a partir de si mesmo.7
Considerando o método da Ação do Eterno no Princípio e o jeito que as coisas
foram criadas por ele. Agostinho faz questão de se conservar leal à tradição cristã
com relação à criação, e adiciona a Palavra Divina a observação filosófica ocidental,
como agente da criação, este fato até então era desconhecido, ignorado e misterioso
para os gregos.
De acordo com Soares (2005), a tese de Agostinho se tornou impressionante
e inovadora, ao afirmar, que o Céu e a Terra foram criados por Deus, por intermédio
de sua Palavra. Portanto, esta afirmação não se torna apenas uma teoria do Tempo,
mas traz algo inédito para a filosofia. Porque, enquanto o mundo grego entendia a
criação do universo a partir da crença de que a matéria era preexistente, a abordagem
de Agostinho, ignorando a tradição grega e a filosofia de Platão e Aristóteles, afirma
enfaticamente que o universo conhecido por Céus e Terra foram criados por
intermédio da Palavra.
Em sua facilidade de compreender a Bíblia, Agostinho filosofa se afastando
do pensamento clássico grego sobre a criação e apoia-se nas escrituras, para poder
fundamentar a sua crença no Deus criador.
Nesta perspectiva, respaldando-se no testemunho da própria criatura, como
havia feito São Paulo8. Agostinho afirma, que aquilo que é criado não pode se auto
conceber. Pela lógica, esta declaração torna impreterível ouvir a declaração da

6 De acordo com Agostinho (1999, p. 315). “Criastes o corpo do artista, a alma que governa seus
membros, a matéria que ele plasma, a inspiração que concebe e vê interiormente o que executará
exteriormente”.
7
Segundo Cardoso (2010, p. 83) “Deus, enquanto ser, é o fundamento de todas as coisas que é, por
conseguinte, o criador de tudo. O princípio de tudo é a criação. E tudo foi criado por um ser eterno, que
é o próprio Deus. Para Santo Agostinho todas as criaturas saíram do nada num só momento, algumas
já aparecem na sua forma perfeita, outras surgiram de formas incompletas, porém são dotadas de
virtudes intrínsecas evolutivas (rationes seminales). “Ainda mesmo o que não foi criado e todavia existe,
nada tem em si que antes não existisse”.
8
Romanos 1.19-20: "Porquanto o que se pode conhecer de Deus eles o lêem em si mesmos, pois Deus
lho revelou com evidência. Desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu
sempiterno poder e divindade, se tornam visíveis à inteligência, por suas obras; de modo que não se
podem escusar."
11

criação, uma vez, que Agostinho apresenta um testemunho convincente, de que a


criação não é a causa de si mesma. Mas, antes ela foi preconcebida por uma mente
inteligível.9
Essa reflexão torna evidente que o Eterno precede o início e não está
suscetível ao devir. Algo que não intercorre com o que foi concebido, devido a criação
só ter existência real, por participar da existência de Deus. Portanto, seguindo esta
linha de raciocínio, em nenhum ponto definido no tempo, a criatura será do mesmo
modo que Deus, que é ser eterno, perpétuo e imutável. 10

Após evidenciarmos que Agostinho parte do Princípio para tornar explicito que
as coisas criadas não podem ser equivalentes à mente eterna que a engendra,
prontamente a partir daqui, esta pesquisa tomará uma direção na busca por
compreender o Espaço e a Matéria.

1.3 O espaço e a matéria

Agostinho avança sem se deter em sua inspeção em direção à apuração dos


impasses da criação. A próxima demanda do pensador será legitimar a existência de
dois elementos: a espacialidade e a materialidade. Visto que o espaço e a matéria não
podem ser eternos. Por conseguinte, no instante da criação não havia espaço, nem
matéria em que Deus pudesse se apoiar para obrar o seu engenho. Em conformidade
com Agostinho, Deus não poderia tecer o cosmo dentro do próprio cosmo.
Em harmonia com Soares (2005, p. 37):

“Mas de que modo criastes o céu e a terra?”. Ora, o céu e a terra não
poderiam ser criados no céu, porque ainda não existia; nem na terra, porque
a terra também não existia; nem nas águas nem no ar, porque, porque estes
elementos pertencem à terra e ao céu; nem poderia o universo haver sido

9
Segundo Gilson (2007, p. 151): “Deus é a essentia cuja existência os outros seres atestam, a
imutabilidade que a mudança requer como causa. Ora como dizemos, mudar é ser e não ser, ou não é
ser totalmente o que se é. Como o que não é verdadeiramente poderia se dar o ser? E que mais, além
desse “que é verdadeiramente” poderia ser a causa disso? Por sua própria mutabilidade, as coisas não
cessam, pois, de proclamar: não nos fizemos a nós mesmas, foi Ele quem nos fez. Contudo, visto que
é de Deus que elas recebem tudo o que têm ser, não tem em si mesmas mais que a incapacidade
própria de existir, que é o não-ser; portanto, elas nada têm a ver com sua existência; em suma, foram
feitas por Deus a partir de nada, e isso o que se chama criar”.
10
De acordo com Agostinho (1999, p. 316): “Existem, pois, o céu e a terra. Em voz alta dizem-nos que
foram criados, porque estão sujeitos a mudanças e vicissitudes. Ainda mesmo o que não foi criado e
todavia existe nada tem em si que antes não existisse. Portanto sofreu mudança e passou por
vicissitudes. Proclamem todas essas coisas que não se fizeram a si próprias: “Existimos porque fomos
criados. Portanto, não existíamos antes de existir, para que nós pudéssemos criar”.
12

criado no universo, porque não havia ainda o espaço; o céu e a terra


tampouco poderiam ter sido criado de alguma matéria, uma vez que matéria
alguma havia. De modo que é forçoso concluir que o céu e a terra foram
criados pela palavra de Deus.

Ou seja, Deus gerou o mundo na Eternidade, além disso é viável especificar


que o espaço e a matéria são rudimentos alusivos ao mundo temporal e não tem
relação com a Eternidade.

1.4 O verbo

Seguidamente, a averiguação dos rudimentos, que não atingem à eternidade


se resumem ao espaço e à matéria. Pautando-se nesta afirmação, coadjuva um
inaudito objeto que é o Verbo Divino na especulação do tempo agostiniano. Diante
disso, fez-se através do Verbo, que também é intitulado Palavra, que seriam todas as
coisas criadas em harmonia com a tradição joanina. Este aspecto podemos
contemplar no evangelho de São João: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava
junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de Deus. Tudo foi
feito por ele, e sem ele nada foi feito” (BÍBLIA, João, 1, 1-3).
Apoiado na herança Joanina, Agostinho de modo preciso salienta que o
universo apareceu originado na intervenção Verbo. Sendo ele coeterno com Deus, é
o advento de toda a criação, que se manifesta como a Palavra inalterável. Por meio
da qual, Deus origina a existência que foi descrita sendo operado no livro do Gênesis.
Não é uma simplória palavra humana, é o Filho de Deus sempiterno simultaneamente
a Deus, que é a natureza Divina.11
Inferimos que a Palavra, de acordo com Agostinho, não é a linguagem
humana efêmera, momentânea e transitória. Contrariamente, a Palavra é a razão, é o
advento de tudo o que é composto, concebido e arquitetado.
Segundo Agostinho (198, p. 298):

11
Segundo Soares (2005, p. 37): “Entretanto, que tipo de palavra foi usada para criar o céu e a terra?
Não pode ter sido uma palavra que repercute e logo passa, pois, sendo Deus eterno, esse tipo de
palavra não poderia provir dele. Haveria, então, um outro tipo de palavra que, ao ser pronunciada, fosse
capaz de dar o ser à matéria com que Deus haveria de compor suas palavras? Ora, o verbo de Deus
é coeterno a Deus e, por isso, nele tudo o que é pronunciado é simultâneo e eterno, e imediatamente
se realizará. Assim, nesse verbo, não há diferença entre dizer e criar. É, pois, esse verbo o princípio
pelo qual o céu e a terra foram criados”.
13

Nunca se acaba o que estava sendo pronunciado nem se diz outra


coisa para dar lugar a que tudo se possa dizer, mas tudo se diz
simultânea e eternamente. Se assim não fosse já haveria tempo e
mudança, e não verdadeira eternidade e verdadeira imortalidade. [...]
Por isso, ao Verbo que é coeterno convosco, dizeis, ao mesmo tempo
e eternamente tudo o que dizeis.

À vista disso, Agostinho apercebe que o Verbo não pode ser assemelhado a
linguagem humana transitória que se move no tempo, preferivelmente a Palavra de
Deus não sofre mutação ao criar, pois enquanto a palavra humana é apenas sons
emitidos por cordas vocais, o Verbo é o Filho de Deus, precedente ao Tempo e Criador
do mesmo.

1.5 Vontade de Deus

Depois de propor copiosas reflexões convenientes e respondê-las com destreza


na lógica, Agostinho volta os seus esforços para pensar certas objeções, que
inflamava a muitas pessoas na época dos Pais da Igreja, tais como: Qual coisa
operava Deus antes de engendrar o céu e a terra? E se coisa nenhuma fazia, por que
não seguiu se abstendo de qualquer ação? E por fim, se em Deus surgiu uma ação
nova, uma vontade nova, um novo querer de outorgar o ser ao que ainda não tinha
criado. De que maneira falar de uma autêntica eternidade? Se em Deus irrompe uma
vontade, que não existia em um momento anterior.
Assistindo a inevitabilidade de esclarecer, torna-se fácil de entender o que é
a vontade de Deus. Por esta razão, também torna-se pertinente averiguar que a
mesma se difere da vontade humana. Pois, a vontade de Deus não é criatura. Nenhum
vivente existiria se antes não houvesse o querer do criador. Para Agostinho (1999), a
vontade de Deus faz parte de sua substância: “A vontade, portanto, pertence à própria
substância de Deus. E se, desde toda a eternidade, Deus quis a existência da criatura,
porque a criatura também não é eterna?” (AGOSTINHO,1999, p.319).
Em conformidade com a enunciação agostiniana, a origem do mundo jamais
deve ser requisitada mediante a vontade de Deus. Do contrário, o ingresso na direção
da apreensão do germe da formação do universo está no Verbo Divino. De acordo
com Cardoso (2010, p. 84)

Deus quis criar todas as coisas, mas não se deve buscar esta causa na
vontade de Deus, pois Ele é causa única das coisas, e sendo a causa de
tudo, não tem causa. Deste modo, toda criação surgiu da Palavra Criadora, o
14

Verbo. Esta, porém, narrada no livro do Gênesis6 não é uma simples palavra
sensível, é o Logos, o Filho de Deus, que é coeterno com Ele.

Por conseguinte, é óbvio o retoque agostiniano no que se refere à vontade


Deus, ela não pode ser efeito de causas antecedentes dantes é a causa predecessora
as outras causas em terminologia aristotélica ou tomista, ela é a causa causante das
demais causas.

1.6 Conceitos dessemelhantes

Depois de adiantar a análise relacionada à Vontade de Deus, a evolução


acontece a partir do momento, em que Agostinho passa a se basear na eternidade.
Para exibir, que em virtude dessa. Situar-se fora do tempo, torna-se inadmissível à
tentativa de conciliá-la ao tempo. Afinal de contas, em nada se aparentam, distinguir
um conceito do outro, tal aspecto que vem a ser considerado incumbência de
Agostinho a partir deste ponto. 12
Averiguar progressivamente a dissemelhança entre esses conceitos, compor-
se-á de substancial significância com destino ao melhoramento junto a perquirição
proposta.13
Que fique evidente acerca da impossibilidade da comparação entre Tempo e
Eternidade. A partir disso, Agostinho começa a buscar e a definir de forma clara que
a Eternidade não é a sucessão dos tempos, como muitos de seus contemporâneos
pensavam. Ao contrário, na eternidade nada é sucessivo. Tudo é presente, enquanto
que no tempo, nada pode ser de todo presente. Pois, o tempo é uma sequência
infindáveis de instantes.
Agostinho com destreza impecável persevera em estruturar o conceito de
Eternidade, garimpando de maneira serena, os impasses que a envolve. Em seguida,
se esforça por contraditar: o que fazia Deus antes de criar o céu e a terra?

12
De acordo com Ayoub e Novaes (2009, p. 27). “O vínculo entre os dois termos, eternidade “e” tempo,
é um problema por si mesmo. Com efeito, o exame dos dois conceitos deve mostrar, primeiro, que eles
são heterogêneos. A eternidade não será a infinidade dos tempos. Ao contrário, o que é eterno está
fora do tempo, é atemporal. E o tempo não é uma parcela da eternidade, ele é condição de
multiplicidade e dispersão, em contraste com a unidade do que é eterno. Por isso, a dificuldade já
começa com a ideia mesma de reunir conceitos díspares. Como veremos, a dificuldade terá de ser
examinada gradativamente”.
13
Consoante a Agostinho (1999, p. 319). “Quem poderá deter esse pensamento, quem o fixará por um
momento, para que tenha um rápido vislumbre do esplendor da eternidade imutável, e a compare com
os tempos impermanentes, para perceber que qualquer comparação é impossível?”
15

Ante a sua apologia quanto à doutrina da criação, a prévia é desnudar a


inexatidão daqueles que em sua fantasia transita na pretensão de argumentar
referindo-se ao que Deus fazia antes da criação. A imprecisão está no fato de que os
mesmos não são aptos para assimilar que o tempo é criação. E que antes de sua
origem, o mesmo não sucedia. Se não sucedia, de que modo atribuir uma ação a Deus
em relação àquilo que não existe? Prontamente, se infere que é inapropriado
interpelar acerca da ação Deus antes da criação, uma vez, que se não havia tempo,
como poderia haver o antes?
Conforme Soares (2005, p. 37):

a) Deus não fazia coisa alguma, haja vista que, antes da criação, criatura
nenhuma havia sido criada;
b) Como poderia haver o antes ou o depois quando não havia ainda a
criação? É que, sendo Deus eterno, não pode haver para Ele tempo passado
ou tempo futuro, mas unicamente um tempo eternamente presente. Sendo,
porém, anterior a todos os tempos, não é no tempo que Deus precede ao
tempo, pois é da natureza do tempo o decorrer, e o que decorre implica que
teve uma origem, um nascimento. Ora, Deus não teve uma origem; logo,
nenhum tempo é coeterno a Deus.

Agostinho, com predicamento, torna claro que a Eternidade em sua exposição


está fora do tempo e que ela não é uma sucessão de tempos. Preferivelmente, ela é
um presente, um hoje que não começa e nem se finda. Segundo Agostinho (1999, p.
321).
Não é no tempo que és anterior ao tempo: de outro modo não precederias à
todos os tempos. Precede porém a todo o passado na altura da sua
eternidade sempre presente; dominas todo o futuro por que está por vir e que,
quando chegar, já será passado. Contudo tu és sempre o mesmo, e teus anos
não passam jamais. Teus anos são como um só dia, e teu dia não é uma
repetição cotidiana, é um perpétuo hoje nem sede lugar ao amanhã e nem
sucede ao ontem. Teu hoje é a eternidade.

É de suma importância compreender que em Agostinho a Eternidade é


Imóvel, o futuro e o passado não pode alcançá-la por estar para além de ambos. A
Eternidade está incumbida de estabelecer o passado e o futuro.
Observa-se, que Agostinho usou o método da Teologia negativa ou apofática14
para discorrer no tocante à Eternidade. Posto que para aproximar-se do que venha a
ser a Eternidade, faz-se indispensável negar tudo o que se reporta ao Tempo, porque

14
Apofatismo deriva do verbo 'apofasko' = 'apofemi', que significa negar.
16

partindo do que não é o Tempo, podemos dispor de uma apreensão proximamente


referente à Eternidade.15

Ante a vossa ira, passaram todos os nossos dias. Nossos anos se dissiparam
como um sopro. Setenta anos é o total de nossa vida, os mais fortes chegam
aos oitenta. A maior parte deles, sofrimento e vaidade, porque o tempo passa
depressa e desaparecemos. Quem avalia a força de vossa cólera, e mede a
vossa ira com o temor que vos é devido? Ensinai-nos a bem contar os nossos
dias, para alcançarmos o saber do coração. (BÍBLIA, Salmos, 89, 9-12).

Em síntese, a Eternidade é peculiar a Deus, e em nenhum momento é capaz


de ser medida pela temporalidade. Diante do exposto, apontamos para a disparidade
entre a Eternidade incriada, e o Tempo que possui princípio, dissertamos do mesmo
modo pertinente a uma Eternidade imóvel, imaterial e a-espacial. Além do mais foi tido
em conta que o Tempo é criação e que antes desse tempo não faz sentido atribuir
vontade a essência divina que é eterna. Enquanto a Eternidade imóvel pertence a
Deus, o mundo criado e vinculado a ele o Tempo pertence ao homem.
Como último tópico a ser discutido neste capítulo, vale ressaltar que a
presente pesquisa irá progredir em direção ao Tempo, em seu aspecto criatural e
exterior à consciência do homem.

15
Em face das dificuldades, Agostinho adota uma estratégia tradicional: a primeira abordagem será
negativa, como já atesta a sucessão de negações dessa frase, bem como dessa e das líneas seguintes:
“Se não sei o que é eternidade, posso ao menos investigar o que ela não é. Não sei de que modo Deus
criou o mundo, mas posso dizer como não foi.” Trata-se da estratégia negativa ou apofática, que
marcará esta investigação, até a o capitulo 16. Agostinho examinará a eternidade excluindo coisas,
numa sucessão de negações. Consoante a Ayoub e Novaes (2009).
17

CAPÍTULO 2: AS CONCEPÇÕES SOBRE TEMPO NA PERSPECTIVA


AGOSTINIANA

“Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e


brevemente? Quem o poderá apreender, mesmo só
com o pensamento, para depois traduzir por palavra o
seu conceito?”
(AGOSTINHO, 1999, p. 322)

2.1 A simplicidade do tema

O egresso da análise agostiniana proposta para este capítulo encontra-se na


inspeção, de que o tempo é tido em nossas conversações cotidianas equivalendo a
uma simpleza, tal que não apreciamos sequer a viabilidade de uma verificação
filosófica. Para Correia, é precisamente esta simplicidade que propicia a problemática,
uma vez, que é a simplicidade que motiva os entraves ao redor do tempo.
Segundo Correia (2006, p. 12) a “aparente simplicidade do tema e o suposto
conhecimento que temos acerca do tempo acabam criando uma série de barreiras
que dificultam a sua compreensão”.
Não obstante, a indicação agostiniana de que o tempo nos é frequente e banal
em nosso cotidiano, Agostinho introduz a sua problemática assentindo com limpidez
que a apreensão que temos do tempo é intuitivo, a começar do momento que
precisamos estruturar em discurso lógico sobre o assunto: o que é o tempo? Então
inicia-se a problemática16.

2.2 A importância da linguagem

A linguagem é essencial em três ocasiões no capítulo XI da obra Confissões.


A primeira ocasião advém da indagação, que como já fora visto anteriormente,
Agostinho faz alusão a Deus. Questionando: que sentido há em narrar para Deus
qualquer vivencia do mortal? Sendo que para esse Deus onisciente não existe algo
de inédito ou desconhecido? Partindo desse pressuposto, Agostinho também discute:
“SENDO VOSSA a eternidade, ignorais, porventura, Senhor, o que eu Vos digo, ou

16“Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem poderá aprender, mesmo
só com o pensamento, para depois traduzir por palavras o seu conceito? E que assunto mais familiar
e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que
dizemos. Compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam. O que é, por conseguinte,
o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não
sei.” (AGOSTINHO, 1999, p. 322)
18

não vedes no tempo o que se passa no tempo? Por que razão Vos narro, pois, tantos
acontecimentos?” (AGOSTINHO, 1999, p. 310). A outra ocasião é direcionada para a
linguagem alusiva ao Verbo de Deus, que não pode referir-se à linguagem humana
transitória e criada. Pois, se é possível afirmar que a linguagem é criada, é necessário
ter em mente que nada que nenhum elemento que fora criado é e não deve ser
igualado ao Verbo criador de tudo que é gerado.

A inteligência comparou essas palavras, proferidas no tempo, com o vosso


Verbo, gerado no eterno silêncio, e disse: “Sim, a diferença é grande, muito
grande! Estas palavras estão muito abaixo de mim. Nem sequer existem,
porque fogem e passam”. Porém o Verbo de Deus permanece sobre mim
eternamente. (AGOSTINHO, 1999, p. 316).

A terceira ocasião irrompe na situação em que Agostinho infere a complicação


de evidenciar de forma lógica e discursiva o conceito tempo. Conforme o autor, este
conceito se torna clarificado no momento em que houver o conhecimento intuitivo.

Que é, pois, o tempo? Quem poderá explica-lo clara e brevemente? Que o


poderá aprender, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por
palavras o seu conceito?...[Se ninguém mo perguntar, eu sei; se quiser
explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei. (AGOSTINHO, 1999, p.322)

Levando-se em consideração o que foi observado, torna-se evidente que a


linguagem é objeto de investigação temporal, por ser uma ferramenta humana
aplicada no tempo, uma vez, que é por intermédio dela que elaboramos uma
compreensão racional sobre o que o tempo significa para nós. Pois, enquanto não
falamos apreendemos o tempo e o conhecemos através da intuição, porém, a medida
em que nos é exigido uma explicação, aí a linguagem se torna tanto objeto de
investigação crítica, quanto ponto de apoio para se aprofundar o conceito tempo.

2.3 Duas vias para entender o tempo

Neste tópico iremos situar as duas vias para a compreensão de tempo,


utilizando como respaldo teórico a dissertação de mestrado de José Renivaldo Rufino
intitulada “Passado, Presente e Futuro: O tempo da consciência e a consciência do
tempo no pensamento de santo Agostinho”.
Aqui é bastante pertinente frisarmos, que dos autores que serão citados ao
longo da nossa pesquisa, Rufino (2003) é único que propôs a compreensão do tempo
por meio duas vias. Este pesquisador, a partir daqui, será citado de forma continua e
19

exaustiva, por nos subsidiar a possibilidade de um outro ângulo dos demais que
aprofundaram o tema tempo em Agostinho.
A dessemelhança entre Rufino e os outros autores que reproduziram
reflexões de Agostinho está na sua peculiaridade de deduzir que Agostinho elabora a
respeito de um tempo externo à consciência, e não exclusivamente sobre um tempo
subjetivo17.
Rufino ocupa-se com as duas vias para a teoria de tempo em Agostinho a
primeira via se refere a uma consciência de um tempo objetivo, que também é para a
consciência humana a partir da construção racional.18 A segunda via é o tempo
subjetivo trabalhado por quase todos os pesquisadores que estudam Agostinho,
inclusive o nosso intuito é dedicar boa parte do próximo capítulo para falar do tempo
subjetivo.

2.4 Tempo Objetivo

Ainda que no primeiro capítulo fora exposto o conceito de princípio e


entreposto a esse conceito a concepção de tempo criado. Nesta ocasião iremos
retomar o assunto por outro enfoque. Enquanto que no capítulo um ponderamos a
indispensabilidade do tempo criado, para detectar a disparidade entre este e a
eternidade incriada. Presentemente o intento dar-se-á em direção oposta.

17Rufino (2003,p. 22) considera que: “A teoria do tempo elaborada por Agostinho, segundo entendemos
de acordo com o que será explorado no presente trabalho, privilegia dois momentos específicos, quais
sejam: primeiro, aquele que aponta para o tempo da consciência, para o tempo em seu aspecto interior,
isto é, o tempo como uma realidade existente apenas na consciência e para a consciência (tempo
subjetivo). De acordo com essa linha de raciocínio, o tempo não existe a não ser na consciência.
Realmente, se fosse possível adotar a postura de um observador externo à consciência, seria
improvável afirmar a tríplice divisão do tempo em passado, presente e futuro. Por outro lado, Agostinho
também conclui que o tempo independe da consciência, pois existe fora da consciência, como criatura
que é, sendo, inclusive, anterior e exterior à consciência e, portanto, anterior e exterior ao homem. O
que Agostinho quer dizer é que a existência do tempo independe da existência do homem: o tempo
existe antes de o homem existir (tempo objetivo). É nesse sentido que se sobressai a sua herança
platônica, pois o tempo, antes de existir como tempo no mundo, no seu sentido objetivo, existe como
idéia na mente divina.”
18 A despeito disso Rufino (2003, p. 32) afirma que: “Na nossa concepção, a tese de Agostinho em sua

teoria de tempo toma duas direções específicas, ambas formuladas em termos de uma construção
racional: uma, é a de que o tempo- em suas modalidades de passado, presente e futuro- existe apenas
na consciência e para a consciência (tempo subjetivo). A outra, é a de que há também uma consciência
do tempo, ou seja, o tempo visto a partir de uma construção racional, com uma concepção de
fundamentação epistemológica e com ênfase no tempo objetivo.”
20

A primeira indicação descreve um tempo exterior a subjetividade, e encontra-


se na sua afirmação de que o tempo foi concebido junto com o mundo, portanto, se
foi concebido teve iniciação.19
Na condição de o tempo haver princípio, é exequível alvejar o contrassenso
dos maniqueístas20, em pretender imputar mutação a vontade de Deus. Visto, que
eles não apercebem que o tempo é vicissitude, e se é vicissitude torna-se crucial
requerer do tempo o critério de obra concebida.
A fim de se conservar perdurável ao legado judaico-cristão de que o tempo
foi criado com o mundo, é imprescindível que Agostinho venha a afastar-se de duas
interpretações o qual era prevalecente até essa época. A predecessora era difundida
pela filosofia clássica grega que transmitia o discurso de um tempo cíclico e
interminável. A outra suposição era explicada pelos maniqueístas, o qual alegava que
o tempo não teve início21.
Diante disso, é viável assegurar que a concepção agostiniana afirma, que
não existia um tempo precedente da criação, e que o tempo e todas as coisas não
são perpétuas, mesmo sendo concebidas por um ser que é perpétuo. Pois, o momento
da criação, é o momento em que tudo e todas as coisas passam a existir.
Por efeito de especificar o princípio equivalendo a uma evidencia de que
Agostinho assentia a respeito da existência de um tempo exterior, continuaremos
acompanhando Rufino que assinala para a uma nova prova em relação a existência
de um tempo exterior que ele apresenta como sendo a mutação. A respeito disso
Rufino (2003, p. 51) argumenta:

Sobre tempo e mudança, Agostinho afirma que há uma relação tão intrínseca
que onde a tempo há, obrigatoriamente, mudança: “Sendo assim, haveria

19 Confissões (1999, p. 321) menciona que: “Sendo, pois Vos o obreiro de todos os tempos- se é que
existiu algum tempo antes da criação do céu e da terra-, por que razão se diz que Vós abstínheis de
toda a obra? Efetivamente fostes Vós que criastes esse mesmo tempo, nem ele podia decorrer antes
de o criardes! Porém, se antes da criação do céu e da terra não havia tempo, para que perguntar o que
fazia então? Não podia haver “então” onde não havia tempo. Não é no tempo que Vós precedeis o
tempo, pois de outro modo, não sereis anterior a todos os tempos.
20 “O Maniqueísmo é uma filosofia religiosa sincrética e dualística fundada e propagada por Manes ou

Maniqueu, filosofo cristão do século lll, que divide o mundo simplesmente entre Bom, Deus e Mau, ou
diabo.”
21 Rufino (2003, p. 180) nota que: “Agostinho não precisa o exato momento desse princípio do tempo,

mas deixa bem claro que o tempo tem um princípio, mesmo que tal afirmação exceda a capacidade de
compreensão da inteligência humana. Diferente da concepção maniqueia, que não trabalha essa
categoria do tempo em razão da crença de que todas as coisas são incriadas e eternas, e também da
concepção grega clássica, de um tempo cíclico e, por conseguinte, eterno, nosso filosofo adota o ponto
de vista oposto ou seja, aquele que defende o tempo linear, com um início preciso, exatamente por
conta da base criacionista da qual parte.”
21

tempo e mudança, e não haveria eternidade verdadeira nem verdadeira


imortalidade”. É como se o tempo sofresse mudança, envelhecesse ou, dito
de outra forma, é como se o tempo estivesse contido dentro de uma imensa
ampulheta, em que o futuro fosse sempre, diminuindo enquanto, por outro
lado, o passado fosse sempre aumentando”.

Prosseguindo com esse critério, ressaltamos que o tempo objetivo tem como
especificidade a linearidade. Da mesma forma pensa Agostinho, em harmonia com a
tradição judaico-cristã, ambos concordam com a existência de um tempo linear 22
Em virtude do que fora mencionado, certificamos que a mutação e a
linearidade do tempo são evidência de que existe um tempo exterior à consciência
que a antecede e caminha para um fim.
A evidencia imediata reforça a asserção de que Agostinho pensou em um
tempo exterior. A subjetividade, que de acordo com Rufino, acontece na proposta
Agostiniana de que o tempo é pregresso ao homem.
Rufino (2003, p. 67) também afirma que a “criação do homem, portanto, é feita
no tempo e não com o tempo, ou seja, é posterior a criação do tempo. Desta forma, o
tempo é anterior a consciência.”
A consciência humana é uma instancia imprescindível em direção a clareza
da veracidade do tempo objetivo, posto que ele não requer a existência da consciência
humana para existir pelo fato de a subsistir. Aqui apontamos para a única exceção
que é a consciência Divina, pois ela precede a qualquer origem, em razão de que
anterior a criação, cada criatura existia na mente de Deus, arquiteto do universo. Por
conta do exposto, infere-se que precisamente o tempo objetivo não é capaz de
antepassar a consciência de Deus23.
Cada vez mais Agostinho se vale da tradição judaico-cristã, no sentido de
legitimar a sua teoria, pois ele move-se em direção de indicar para a informação de
que o primeiro homem foi concebido no tempo, seguindo as escrituras que testam a

22 A despeito disso, Danilas (2009, p. 49) afirma que: “No outro extremo da linha do tempo com isso
entende-se que houve um começo e existiria também um fim, a literatura apocalíptica, aponta para o
juízo final, o fim dos tempos, quando todos defrontarão com o Criador. Este é o entendimento judaico-
cristão de um tempo linear, com começo e fim”.
23 Outro aspecto levantado por Rufino (2003, p. 67): “Para Agostinho, não é a consciência humana que

poe o tempo, mas o tempo tem existência própria a partir da criação divina e independe da consciência
humana. A única mente que o tempo se encontra presente antes de ser criado, e na forma de idéia, é
a mente de Deus: Na mente de Deus estão presentes as idéias de tempo, mundo e homem, antes que
sejam criados. Sendo assim, não é a mente humana poe o tempo, mas a divina”.
22

criação do homem formado no tempo pelas mãos do Unicriador, esse fato ocorreu no
sexto dia da criação24.
Adequadamente ao que esteve evidenciado até aqui, percebemos que Rufino
(2003) recomenda que é necessário voltar toda a atenção para as evidencias de como
Agostinho elaborou sua teoria de tempo, e como é possível apontar o tempo objetivo
em sua análise. Sintetizando as três evidencias e as pondo em ordem, colocamos
assim, a primeira evidencia de que é possível pensar no tempo objetivo. Isso é a
afirmativa de que o tempo foi criado juntamente com o mundo, a segunda evidencia a
existência de um tempo linear e a terceira expõe que o tempo precede o homem, pois
o homem foi criado no tempo.

2.5 Tempo Presente

Retomamos a nossa especulação, a partir desta acrescentamos o conceito de


Tempo Presente. A nossa pesquisa até esse momento segue se sustentando em
Rufino (2003), dado ao fato de que este mentor até então persiste sendo relevante
por nos subsidiar a alternativa de cogitar em um tempo exterior a consciência na
perspectiva de santo Agostinho. Aqui entrevemos a inevitabilidade de legitimar o
conceito de tempo presente.
O tempo presente requer ênfase e um tópico único, porquanto ele nos
assinala duas conexões pertinentes a nossa analise: destacamos as duas conexões.
A primeira nos remessa a visibilidade da eternidade, a conexão posterior nos consente
a explanar interrogações, que abrangem o tempo passado e o tempo futuro, pois
essas três classes presentes, passado e futuro não podem ser descompostas ou
fragmentadas, porque se isto vier a acontecer, elas se tornam incompreensível e
incomunicável25.

24Rufino (2003, p. 70) enfatiza que: “A conclusão sobre o assunto acima é apresentada por Agostinho
em pelo menos duas passagens. A primeira é aquela onde ele diz: “ como não me atrevo a afirmar que
tenha havido um tempo em que o Senhor Deus não tenha sido Senhor, assim devo dizer sem vacilar
que o homem não existiu antes do tempo e que o primeiro homem foi criado no tempo”. Na segunda
passagem, ele se expressa assim: “ O gênero humano origina-se de um só homem, o primeiro que
Deus criou, segundo o testemunho da Santa Escritura”.
25 Rufino (2003, p. 106) argumenta que: “A categoria do presente é importante, no pensamento de

Agostinho, porque além de dar essa abertura para uma visão da eternidade, ela equaciona em si
mesma as duas outras categorias, de passado e futuro, o que as torna inseparáveis e
interdependentes”.
23

2.6 A tríplice forma do tempo presente

Neste tópico o tempo será explorado e especulado sobre os encadeamentos e


confluências, que o mesmo contém com o tempo passado e o tempo futuro na
atualidade. Pois, é significativo expor ponto a ponto e clarificar como o tempo presente
se manifesta, e como Agostinho o assimila.
A questão basilar do tempo presente está na vinculação que este traz junto ao
tempo passado e o tempo futuro, esta junção é nomeada por Rufino (2003) como
“perfeita equação”26.
A dificuldade ao redor do tempo presente irrompe no ponto em que Agostinho
nos prescreve que o tempo presente inclina-se ao não ser. Isto é, pelo fato de o tempo
presente estar a todo o momento se deslocando, e pelo embaraço que dispomos ao
tentar medi-lo, uma vez, que ele em uma dinâmica ininterrupta passa por nós sem
deixar vestígio a pergunta que prevalece: Ele é? Como podemos falar sobre este
tempo presente que tende ao não ser27?
O que ocasiona o não ser do tempo é o fato de ele ser criatura assim como as
outras criadas, dado que todas as coisas criadas se sentem sujeitas a mutabilidade e
ao devir.
O tempo é acometido com a mesma mutação que experimenta as demais
criaturas. O tempo presente nesse sentido fica sujeito a vicissitude, porém, o que faz
o tempo presente distinto entre outros, é o fato de ele conter em si o instante
indivisível. Todavia, esse instante indivisível não é perdurável o bastante para que o
tempo presente subsista sem deixar de ser, pois o próprio instante está sujeito a
contingencia, logo, o presente deixa de ser a todo o instante dando lugar a um novo
presente28.

26 Ao referir-se a tal assunto Rufino (2003, p. 109) diz que: “É impossível, portanto separar as três
modalidades do tempo, pois estão imbricadas de tal modo que de uma delas depende todas as outras.
Extinguir uma, é o mesmo que extinguir todas. E essas três modalidades do tempo se mantem
equacionadas de forma muito tênue, uma vez que no pensamento de Agostinho até a existência da
categoria mais importante, que é o presente, e questionável e perfeitamente enigmática”.
27 Outro aspecto levantado por Rufino (2003, p. 109): “Em seu ininterrupto fluir, o presente não se deixa

captar jamais. O presente sempre nos escapa. O tempo presente é, e ao mesmo tempo não é. Como
o próprio tempo em sua natureza, o presente está mais próximo do não ser do que do ser e não há
uma coexistência dos seus momentos sucessivos. Parafraseando o que declara o filósofo sobre a
matéria informe, sobre o caos primigênio do princípio da criação, podemos dizer que o tempo presente
é um quase nada. O tempo presente é o único que é, mas à medida que é já não é mais ou, à medida
que é deixa de ser. É uma dinâmica ininterrupta de ser e não ser”.
28 Rufino (2003, p. 110) comenta que: “É o aspecto criatural do tempo, todavia que possibilita que o

presente se insira na discussão da temática como categoria fundamental. Como criatura que é, o tempo
24

A mutação é indispensável por duas finalidades: a primeira é que o tempo


presente sem a mutação não seria tempo, antes tornar-se ia eternidade. A segunda
razão é a que aponta para a presença do tempo futuro no presente 29.
Por observação dos aspectos analisados, o conceito de tempo presente é
relevante para a pesquisa, porque a mesma nos dá suporte, de tal forma, que
primeiramente nos permite diferenciar eternidade de tempo. Em seguida, nos torna
viável a passagem do tempo futuro para o tempo passado no ponto em que exista um
tempo presente objetivo.

2.7 O presente para o tempo objetivo

O presente oportuniza a possibilidade de articularmos sobre duas formas de


tempo30: o precedente é o tempo que é criatura, este tempo é objetivo e exterior a
consciência do homem e a outra formatação do tempo. Em seu aspecto real absorvido
pela alma é que percorreremos o tempo da alma ou psicológico. No próximo capitulo
nossa ênfase retoma o tempo enquanto criatura.
A novidade apresentada através de Agostinho refere-se ao tempo objetivo
em figura de criatura material, não sendo de substância espiritual ou racional antes
tendo o seu efeito e função no mundo a medida que dele coadjuva 31.
Melhorando a especulação outro fator inédito, é a questão do vínculo que há
no interior do tempo e do mundo, pois o mundo representa e simboliza todas as

sofre a mesma alteração e mudança que afeta as demais criaturas, o que está muito bem representado
nessa divisão do tempo em três modalidades distintas. Realmente, as três divisões do tempo sintetizam
de forma muito clara essa mutabilidade que caracteriza a criatura, de acordo com o pensamento de
Agostinho. A mudança que afeta as criaturas, também afeta o tempo em seu aspecto criatural,
sobretudo quando se olha para o tempo pelo prisma das citadas categorias. Pela “mutabilidade”, as
coisas “deixam de ser o que haviam sido e passam a ser o que não eram”. Por conta dessa mutabilidade
e contingencia é que o tempo existe apenas em um instante indivisível e assim mesmo propenso a
subdividir-se ad infinitum”.
29 Rufino (2003, p. 113) relata que: “Agostinho só vê uma saída: “Quanto ao presente, se fosse sempre

presente, e não passasse para o pretérito, já não seria tempo, mas eternidade”.
A adequação das três divisões do tempo umas às outras é também o que adequa o tempo ao próprio
tempo, afim de que ele seja de fato tempo e não eternidade, pois, como criação que é, o tempo está
sujeito às mesmas vicissitudes da criação como um todo. Por outro lado, o tempo presente possibilita
o que parece absurdo: tornar o futuro presente ou possibilitar que o futuro seja um existente presente”.
30 Rufino (2003, p. 131) reforça que: “Agostinho fornece toda a base para uma fundamentação do tempo

objetivo, na ênfase que dá ao presente. O primado do presente sublinha duas condições especificas
do tempo: o tempo criatural e o tempo real”.
31Rufino (2003, p. 132) nesta mesma linha de consideração: “O próprio Agostinho elabora suas

pesquisas teóricas intelectuais graças ao suporte que lhe é dado pelo tempo objetivo. O tempo criatural,
portanto, efetiva-se torna-se real no mundo e nas coisas que estão no mundo. Trata-se, por
conseguinte, de uma criatura material – mesmo diferenciada de outras criaturas materiais – e não de
uma criatura espiritual ou intelectual. Isso deve ser dito, pois para Agostinho as criaturas intelectuais
ou espirituais também são reais; só que uma realidade não material”.
25

criaturas, inclusive o tempo, pois o mundo é uma criatura temporal. Enquanto criatura
temporal, este representa o tempo, já na posição de espacial reflete o espaço e como
um elemento visível configura o físico32.
O vínculo é salutar para a concepção de Agostinho, nesse ponto inserimos um
novo elemento as coisas, pois para a concepção agostiniana, o vínculo entre o tempo
e as coisas é necessário. Porque, cabe as coisas tornarem o tempo visível, uma vez,
que este é invisível. Enquanto o tempo afeta as coisas, elas vão sendo transformadas
e modificadas por eles. Portanto, podemos aceitar nesse ponto como prova, a
veracidade de um tempo objetivo e perceber a sua existência33.
Dessa forma, o tempo presente é necessário, pois ele garante a objetividade
do tempo passado e futuro. Uma vez, que por eles não serem o passado que já se
foi, e o futuro porque ainda não veio, só são objetivos no momento em que podemos
afirmá-los, mesmo que este tempo presente seja fugitivo34.
Tendo em vista os aspectos observados, a objetividade do tempo presente
garante a passagem do tempo futuro para o passado. A objetividade do tempo é
verídica, pelo fato de ele ser criatura como as outras, também a objetividade do tempo
é necessária por possibilitar que por meio ao vínculo com o mundo, o tempo se torne
visível e material no momento em que vai afetando as coisas.

32 Rufino (2003, p. 135) destaca que: “Isso se mostra ainda mais pertinente na ideia de que ele tem do
princípio do tempo, onde ele define de forma explicita a interdependência aqui referida. Uma vez que,
para ele, “o mundo não foi feito no tempo, mas com o tempo” – ou seja, é único e simultâneo o princípio
da criação do e dos tempos -, há um vínculo inquebrantável do tempo com o mundo. E o mundo para
o nosso filosofo, nada mais é do que uma criatura temporal, visível, material, representativa de todas
as demais criaturas”.
33 Rufino (2003, p. 137) afirma que: “Para ele, o tempo é uma criatura, sim – o que possibilita seu estudo

por um viés objetivo-, mas o tempo é uma criatura diferente das demais criaturas. O tempo é uma
criatura invisível, mas não invisível como as criaturas espirituais, por exemplo. O que torna o tempo
“visível” são as coisas nele contidas e que são imprescindíveis para a existência do próprio tempo. É
como se as coisas contidas no tempo assegurassem sua existência e fornecessem uma espécie de
substancialidade ao tempo. Ainda mais quando o filósofo é claro ao estabelecer a dependência entre
eles: sem o tempo, as coisas não existiriam; mas, também, sem as coisas o tempo não existiria”.
34 Rufino (2003, p. 142) reforça que: “A construção intelectual de Agostinho se estende para além da

extremidade do tempo – seja ela linear ou circular – e abre um significativo leque de novas e
desafiadoras possibilidades. Possibilidades contempladas sempre a partir do exato momento do
presente, em que o tempo se descortina em suas realidades objetivas de passado e futuro. Um passado
que já não é e um futuro que ainda não é, amarrados pelo presente que está deixando de ser,
ininterruptamente”.
26

CAPÍTULO 3: O TEMPO PSICOLÓGICO

“Entoe vossos louvores aquele que compreende, e


quem não compreende enalteça-Vos também. Oh!
Quão sublime sois! Contudo, a vossa morada são os
humildes de coração! Levantais os que caíram, e não
caem aqueles de quem Vós sois a altura”!
(AGOSTINHO, 1999, p. 340)

3.1 Alma
A despeito de Santo Agostinho ter estado em um ciclo Teocêntrico, o núcleo
de sua filosofia tendeu ao homem na iminência de ser intitulada a filosofia do homem.
Não há dissenso entre os pesquisadores quanto a doutrina agostiniana ser uma das
mais preocupadas com o conceito homem que a do famoso Bispo de Hipona35.
Posto que, a filosofia agostiniana experimenta influência platônica na
iminência de ser classificada como o cristianismo platonizado. As diferenças entre as
filosofias e uma das basilares está na antropologia que ambas exprimem, pois
enquanto a filosofia platônica apresenta o homem como dualidade, a qual considera
a alma aprisionada ao corpo, Agostinho sai por outra vertente assegurando que a alma
está encarnada no corpo, reiterando que o homem é uma unidade de substancia36.
As convicções de Agostinho acompanham os filósofos clássicos, enquanto
condiz na dualidade do homem. Todavia, esse homem tem que ser aceito como um
ser uno, ainda que a alma constitua a sede do corpo, no sentido de ela ser a parte
racional do homem. Como outrora, é impensável preparar uma pesquisa na
antropologia agostiniana sem evidenciar que a alma de modo algum deve ser vista
como separada do corpo.
O ato de Deus ter criado o homem como unidade faz com que o corpo porte
relevância na fusão com a alma. Outra questão, Agostinho não desqualifica ou
adjetiva de forma negativa o corpo. Pelo contrário, acompanhando a tradição cristã o

35 Pirateli (2009, p. 1) argumenta que: “Assim como nos grandes filósofos clássicos, o desvendamento
do homem não poderia estar em segundo plano no pensamento de Santo Agostinho. Para tal, procurou
esquadrinhar e perscrutar a alma humana, o que faz com que sua filosofia seja filosofia do homem,
antropológica, na medida em que se lançou na busca do conceito de homem (Solil., l, 2, 7). Inclusive
ressaltou em suas Confissões ser o homem um “grande abismo” e um grande problema” a se
descobrir”.
36 Como faz notar Santos (2017, p. 1): “Platão separa a alma do corpo, como se o corpo fosse o cárcere

da alma. Ao contrário, influenciado pela filosofia neo platônica, Agostinho propõe uma nova formula de
conceber o homem, não separando corpo e alma, mas dizendo que alma não é prisioneira do corpo;
ela está encarnada nele, como um todo. Não se separam: é uma unidade substancial”.
27

corpo é tão primordial na mente de Deus que o seu próprio Filho, na ocasião que veio
ao mundo, coabitou nesse corpo37, ou seja, Deus quis ser homem e honrou o corpo
no momento em que nele habitou, e em seguida o glorificou38.
O homem, pela via agostiniana, veste-se de um corpo e de uma alma por
constituir-se de duas substancias: material e espiritual. Portanto, o homem está entre
dois mundos, o físico onde habita os animais e o espiritual onde habita Deus. Ele se
assemelha aos animais, à medida que, experiencia o mundo por intermédio dos
sentidos, e participa do mundo espiritual, à medida em que ele efetiva a razão por via
da iluminação.
No que se refere à alma ser a sede do corpo, destaca-se que tanto para
Agostinho quanto para filosofia clássica, a alma é imortal à medida que o corpo é finito
e transitório. Padece as mudanças impostas pelo tempo e também tende ao não ser.
O papel da alma é fazer o homem voltar-se para Deus por via da interioridade, ou
seja, fazendo uso da sua razão conforme a alma se volta para Deus ela se torna feliz39.

3.2 O tempo interior

O tempo interior dispõe de seus sinônimos como: tempo psicológico, tempo


subjetivo, tempo da consciência e entre outros. Esse tempo encontra-se na
consciência do homem, mesmo que copiosos pesquisadores da corrente agostiniana
assegurem que a sua proposta se limita ao tempo subjetivo, melhor dizendo, que não
existe tempo fora do homem. A nossa pesquisa foi cautelosa nesse aspecto à medida
em que se apoiou em Rufino (2003) foi viável indicar um tempo criatural existente fora
do homem e da consciência humana40.

37Filipenses 2:6-8 destaca que: “Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a
Deus”.
Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;
E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.
38 Santos (2017, p.1) aponta para a informação de que de acordo com Santo Agostinho, “quando Deus

criou o ser humano, o criou na plenitude do ser. Por isto, não se pode separar a matéria da forma, visto
que Deus criou a unidade do homem. Segundo o autor, o corpo se torna algo cheio de importância, por
causa da encarnação do Verbo: o próprio Filho de Deus vem habitar neste mundo, numa forma material.
Por isto, afirma que a matéria também tem sua importância e não se separa da alma”.
39 Santos (2017,p.1): “ Mesmo não admitindo a separação, Agostinho admite que a alma é dotada de

certa natureza especial, que eleva ao homem a Deus, ao contrário do corpo que é transitório e limitado,
estando sujeito às coisas deste mundo. A alma é capaz de fazer do homem participante de Deus,
elevando-o através daquilo que tem mais importante: sua racionalidade. Com isso, o homem é capaz
de ter uma vida feliz, contemplando, de fato, seu criador.
40Rufino (2003, p. 145) sustenta que: “A partir desse raciocínio, então, o tempo existe nessas

modalidades porque assim é construído racionalmente pelo homem e assim é também transmitido às
gerações futuras. Entretanto, somos, de opinião, conforme visto neste trabalho, que ele analisa o tempo
28

Enquanto apontamos para a evidência de um tempo como criatura de Deus,


sendo que ele se torna visível e é representado através do mundo, observaremos a
partir daqui, que pelo fato de o mundo ser do homem conforme a tradição judaico-
cristã, cabe à consciência humana aplicar significado a este, pois ela é a única
consciência que está acontecendo no mundo.

3.3 Como medimos o tempo?

O conceito medir é uma das noções que Agostinho dispõe, tanto para articular
pertinente a eternidade quanto para falar do tempo. Se a eternidade não pode ser
medida pelo tempo, como visto no primeiro capítulo, aqui veremos a progressão do
conceito medir, pois não sendo possível medir o tempo no tempo, Agostinho procura
um local específico onde se possa fazer tal medição.
Uma das formas na qual pretendeu-se medir o tempo, foi a proposta de o
tempo ser o movimento dos astros, erroneamente propõem esta teoria que se o tempo
é movimento, ele é capaz de ser medido41.
A concepção platônica42 de que o dia era conexo ao giro do sol de oriente a
oriente impactou o período em que viveu Santo Agostinho, pensava-se que os corpos
se moviam no tempo, possibilitando a crença de que seria possível medi-los enquanto
se movimentavam43.
O tempo presumido enquanto movimento exterior e espacial de um astro foi
refutado por Agostinho, afinal porque não seria o movimento de todos os astros, ou

por outro prisma: o tempo é criatura e, como criatura, é exterior à consciência, pois existe fora da
consciência, sendo por isso mesmo anterior ao homem, uma vez que dele independe. Dessa forma, a
aparente antinomia gerada por essas duas fórmulas, pode ser sintetizada a partir da própria frase de
Modin: para Agostinho, “o tempo não existe fora de n´s” e, da mesma forma, o tempo existe fora de nós
como ser criatural que é”.
41 Vás (2009, p. 29) destaca que: “Sem embargo, permanece sendo verdade que medimos, ou pelo

menos tentamos medir o tempo. A fim de resolver este dilema, se propôs identificar o tempo com o
movimento dos corpos. Desta feita, se o tempo é o movimento, e um movimento pode ser sempre
medido por outro, pode-se, enfim, medir o tempo pelo tempo também”.
42 Skwaura (2010, p. 162) enumera que: “Por um lado, respeita a opinião de Eratóstenes e de Platão

no Timeu, que afirmam como se o curso do Sol, da Lua e das estrelas fixas, fosse o tempo. Por outro
lado discorda: Não, não é”.
43 Piauí (sem data, p. 30) nota que: “Eis parte do Timeu de Platão, leitura obrigatória para todo aquele

que pretendia falar de Filosofia Natural mesmo na época de Newton. Seguindo o que diz o personagem
Timeu é com a criação do céu, pois, antes dele não havia nem dias, nem noites, nem meses e nem
anos, que a divindade teria feito surgir o tempo; segundo a narrativa, eles são as partes do tempo;
assim, é também para dar origem a ele que foram criados o Sol, a Lua e mais cinco planetas (ou
errantes), o que parece ser suficiente para definir e conservar seu aspecto quantitativo: os números do
tempo. Desta forma, o tempo nasceu com o céu, que foi, é e será perpetuamente na duração do tempo,
por isso deve ser considerado apenas como uma “imagem” (eikóna) o mais próximo possível da
realidade eterna da divindade”.
29

até mesmo o movimento da roda do oleiro44. A outra crítica de Agostinho consiste na


pergunta: tempo é movimento ou duração do movimento? Ainda, é possível que seja
duração e movimento ao mesmo tempo?45.
O epicentro da questão é movimento e a duração do movimento, não é o
tempo apenas como conteúdo de tempo. Portanto, quando medimos, não estamos
medindo o tempo, antes o que medíramos são artefatos que se manifestam no
tempo46.
Em virtude dos fatos mencionados, é pertinente externar a diferença entre
tempo, movimento de um corpo e duração desse movimento. Prontamente se conclui
que os artefatos do tempo não o definem, mas antes são definidos por ele.

3.4 Onde se mede o tempo?

Agostinho nos aponta alguns inconvenientes sobre o tempo, afinal não o


podemos medir, pois sempre nos escapa diante da aporia do não ser do tempo.
Considerando que não se pode limitá-lo ao passado, devido ao fato de o ter deixado
de ser, tão pouco ao futuro, pois ainda não veio a ser. O que nos sobra é o presente,
embora no presente o que há são partículas fugitivas da eternidade, é imutável a qual
nomeamos instante. O que resta a Agostinho em um primeiro momento é investigar o
presente47.
Ou seja, uma vez, que o tempo está presente, surge uma nova pergunta: onde
ele está presente48? Será necessário transportar outra vez o local de medição? Pois
o único local capaz de medir o tempo é a alma.

44 A despeito disso Rufino (2003, p. 115) afirma que: “O método empregado por Agostinho consiste em
identificar o tempo em um movimento exterior e espacial. Nesse sentido, o tempo seria identificado com
o movimento (motus), tanto do sol, da lua e dos astros, quanto a roda do oleiro e de todos os corpos”.
45 Por isso resolve detalhar ainda mais. Argumenta, agora, sobre o aceleramento ou retardamento do

movimento dos astros (mora). O raciocínio passa do movimento (motus) à durabilidade do movimento
(mora). O que constitui o dia é o movimento ou a duração do movimento? E o tempo, finalmente. É o
movimento (motus), a duração do movimento (mora), ou as duas conjuntamente?
46 O tempo pode até ser continente desses conteúdos, jamais os próprios conteúdos. Ele insiste messe

ponto, de forma enfática. Ainda mais quando trata especificamente da categoria presente. Para ele,
portanto não medimos o tempo, mas os subsídios dos fenômenos que se efetuam no tempo. Sendo
assim, o tempo nem se subordina ao movimento nem é redutível à quantidade.
47Silva (2009, p. 74) identifica que: “Dentro deste entrave Agostinho procura, como nos mostra Ricoeur,

estabelecer um local onde este tempo permaneça, não no sentido de se tornar fixo e, sim, o que o faz
capaz de ser passível de conhecimento pelo homem. Este tempo que se faz conhecer não é o tempo
medido pela física, pois nessa medição ele não existiria, pelo menos não dentro da possibilidade de
criar significados. Mas, para responder como esse tempo é medido, vemos que Santo Agostinho o
localiza no presente”.
48 Ayoub e Novaes (2009, p 40) mencionam que: “A pergunta “onde”? indica a investigação de uma

nova ontologia. Como situar um ser que não ocupa lugar no espaço? A procura do ser do tempo (e das
30

Em ti, ó meu espírito, meço os tempos! Não queiras atormentar-me,


pois assim é. Não te perturbes com os tumultos das tuas emoções. Em
ti, repito, meço os tempos. Meço a impressão que as coisas gravam
em ti à sua passagem, impressão que permanece, ainda depois de elas
terem passado. (AGOSTINHO, 1999, p. 336)

3.5 Distensão

O conceito empregado por Agostinho para referir-se à ação da alma enquanto


ela mede o tempo chama-se distensão, com base na gramática, distensão significa:
tensão em duas direções opostas. Nesse caso, distensão da alma para o futuro e para
o passado, em outras palavras, no momento em que o instante indivisível se
manifesta, a alma o capta e o distende para o passado e o futuro. Assim, possibilitando
a eles a existência em consequência de ambos estarem despojados da mesma.
Aqui é imperativo elencarmos duas faculdades da alma que viabiliza a
distensão do instante para o passado e o futuro, essas duas faculdades são nomeadas
de memória e expectação. A memória é uma busca interior que procura o que a
consciência faz pelo seu autoconhecimento. As memorias são de ordens que podem
ser classificadas como: sensível, intelectual e afetiva. Sua função é acessar aquilo
que não podemos captar por intermédio dos sentidos, por estar longe, ausente e
distante no passado49. Já a expectação é a projeção ou a antecipação do futuro, é o
momento em que a alma distende o instante e se projeta para o tempo que ainda não
é50.
Em vista dos argumentos apresentados, Agostinho deduz que o único tempo
habilitado a ser medido está no presente. Todavia, o presente não é estático, pois está
se deslocando para o passado, logo, o que resta é o instante indivisível que passa
pelo presente, enquanto vai passando é captado pela alma que o mede e o distende.
O passado a alma confere como dinâmica por meio da memória, e o futuro através da

condições de medida do tempo) vai exigir que o tempo tenha um ´lugar´ que não é espacial. Essa
investigação levará a uma concepção de interioridade que também não é espacial”.
49
Miranda (2015, p. 5) relata que: “A ideia cotidiana e mais ampla de memória que conhecemos por
nós como a propriedade de tornar o se foi em presente. Existem alguns tipos de lembranças no nosso
ser, e são apresentadas e caracterizadas pelo predomínio de algumas imagens: memória sensível,
memória intelectual e memória afetiva. A memória é uma evocação do passado. É forma que capacita
os humanos para retirar e guardar o tempo que se foi”.
50 Vaz (2009, p.31) nota que: “Com relação ao futuro, vale o mesmo tanto do que disse do presente.

Desta forma, o presente, conquanto seja um instante indivisível, quando reportado a alma, torna-se
abrangente, distende-se. Para que melhor o compreendamos assim, a saber, o presente, é preciso
entende-lo reportado à alma, como uma atenção que se desloca, simultaneamente, para o futuro
através da espera e para o passado mediante a lembrança”.
31

expectação. A alma é apta para captar esse instante indivisível e deslocá-lo, ou para
o passado ou para o futuro51.

3.6 A vida feliz e a temporalidade

A felicidade é uma das ideias que Agostinho conectou à temporalidade e por


essa circunstância não poderia ser retirada de nossa pesquisa. Diante deste contexto,
é possível afirmar que esse assunto é um dos temas mais pertinentes na antropologia
agostiniana, asseguramos que complementaremos o capítulo com o que há de
excelente na descoberta.
Na busca pela felicidade o homem transita a procura de algo que ele não
possui, Agostinho a chamava de tranquilidade. Tranquilidade é um estado de alma de
satisfação plena, onde não a falta ou desejo e inclusive é o lugar em que não existe o
medo52.
No tempo em que está no mundo, o homem vai sendo afetado pelos efeitos
do tempo exterior, o fato de o tempo não ser estático faz com que o homem junto com
as demais criaturas sofra a mutação. Porque, enquanto vive nada é durável, estático
ou tranquilo.
A antropologia agostiniana constata que homem não conquista a estabilidade
no tempo, longe disso, o homem no presente em que vive sempre está inquieto,
ansioso e inseguro53.
A mutação é indicada como a principal causa da infelicidade, pois ante a
aporia do não ser do presente, o homem se projeta ao futuro na expectativa de evitá-
lo ou conhecê-lo. O resultado é um estado de espirito de desejo ininterrupto, onde o
homem sempre está insatisfeito, descontente e nunca atinge a tranquilidade54.

51 Vaz (2009, p. 31) enfatiza que: “Tal é o presente na alma: como um lugar onde ocorre a passagem
daquilo que se espera para aquilo que já passou. Com efeito, é desde este ponto de vista, isto é, a
partir da análise da existência do tempo na alma, concebido como uma atenção no presente, uma
espera do futuro e a lembrança do passado, que ele adquire então uma extensão e pode enfim ser
medido”.
52 Souza (2006, p. 42) indica para a “tranquilidade é o estado desejado, sem temor e sem carência de

nenhuma espécie, portanto, nela também não há qualquer tipo de desejo. Assim, ela é buscada com
todo o afinco por que nela estão as bases da felicidade. Afinal quem teme, teme o porvir, quem deseja,
deseja o que ainda não possui, logo, também, deseja o porvir e a tranquilitate escapa a essa condição”.
53 Souza (2006, p. 43) reforça que essa “expectativa gerada pelo quadro altamente mutável no qual o

ser humano se encontra, destrói qualquer esperança de tranquilitate. Por isso Agostinho considera o
homem “ lançado neste mundo, como em mar tempestuoso, e por assim dizer, ao acaso e á aventura”.
O próprio passar do tempo é consolidador de mudanças que são temíveis”.
54 Souza (2006, p. 44) enfatiza que: “Portanto, é o fluir do tempo que retira o homem de sua quietude.

Pois, vivendo exclusivamente o presente, tenta, por meio da ansiedade, lançar-se ao futuro com o
32

Outra questão que faz com que o homem seja inquieto é a relação do não ser
do presente e o seu caminhar para o passado. Pois, enquanto o homem procura
manter aquilo que foi conquistado no passado, a consequência só pode ser um estado
de espírito temeroso, pelo mesmo se apegar as coisas que são perecíveis e sujeitas
a transformações causadas pela mutação do tempo exterior ao homem, que no tempo,
não encontra algo para se apoiar que seja permanente, durável e imperecível 55.
No entanto, o homem não está destinado à infelicidade por viver na
temporalidade. Agostinho aponta uma possibilidade de transcender a essa realidade,
que seria a solução de o homem se voltar para Deus o Bem maior adquirido, que não
pode ser afetado pela mutabilidade.

Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que
habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Vos! Disforme, lançava-me
sobre estas formosuras que criastes. Estáveis comigo, e eu não estava
convosco!
Retinha-me Longe de Vós aquilo que não existiria se não existisse em Vós.
Porém chamastes-me com uma voz tão forte que rompestes a minha surdez!
Brilhastes, cintilastes e logo afugentastes a minha cegueira! Exalastes
perfume: respirei-o, suspirando por Vós. Saboreei-Vos, e agora tenho fome e
sede de Vós. Tocastes-me e ardi no desejo da vossa paz”. (AGOSTINHO,
1999, p.285)

Por todos esses aspectos, a felicidade em Agostinho só permanece ao


homem, que se ausentando das coisas perecíveis e mutáveis, se volta para Deus que
é Eterno, Imutável e fonte de todos os bens. O livro de confissões chega ao ápice,
quando o próprio Agostinho confessa que passou a vida toda a procurar a felicidade
distante de Deus, e a encontrou no momento em que foi iluminado para compreender
que a felicidade, a qual ele procurava estava perto a todo tempo, porém ele não havia
percebido.

desejo de antecipá-lo, de conhece-lo ou simplesmente evitá-lo. A passagem do tempo é,


simultaneamente, gozar o que se passa e caminhar para aquilo que mais se teme. É preciso
interromper o inexorável curso do poderoso tempo para aliviar o temor e para aplacar a ansiedade do
sempre desejar. Só a eternidade pode deter essa incansável trajetória, fazendo desconhecer qualquer
bem, porque ela mesma é o maior bem”.
Soares e Pereira (2012, p. 11) argumentam que: “Ora, todos esses bens sujeitos à mudança podem vir
a ser perdidos. Por conseguinte, aquele que os ama e os possui não pode ser feliz de modo absoluto.
”15 Assim, a felicidade só pode ser encontrada no único bem permanente e eterno, o próprio Deus:
“[...] quem possui a Deus é feliz! ”16. Só Ele está livre das transformações, da mutabilidade, uma vez
que é eterno. Para Agostinho, Deus é aquele “cujo movimento não se pode dizer que foi, que já não é
ou será o que ainda não é”.
33

CONCLUSÃO

O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma compreensão de


como os conceitos de Eternidade e de Tempo vem sendo formulado pela corrente
Agostiniana, no tocante ao capítulo XI de as Confissões de Agostinho, conceitos que
se justificam a si mesmos, sendo um dos maiores temas da filosofia, por serem
abordados pelos maiores pensadores da história como Platão, Aristóteles, Kant etc.
De modo geral, os autores pesquisados apontam para uma Eternidade como
sendo peculiar a Deus, incapaz de ser medida pela temporalidade, não havendo
princípio e fim, imóvel, imaterial e aespacial. Por outro lado, apresentamos um tempo
visto por duas vias: o tempo objetivo e o tempo subjetivo. O tempo objetivo é
evidenciado através de sua criação com o mundo, da linearidade, e por preceder a
consciência humana. A outra via identificamos como um tempo subjetivo para a
consciência humana, pois o homem enquanto está encarnado no mundo, cabe a ele
significar esse mundo por meio da linguagem, pelo fato de homem ser uma unidade
de substancia. A parte espiritual é a única apta a medir o tempo e distendê-lo para o
passado e o futuro.
Comparando os três capítulos e analisando os seus principais conceitos,
identificamos que a eternidade é o bem maior, o bem desejado por todos que desejam
a felicidade, pois nela não há a insegurança da mudança. Não há nem mesmo o
desejo que virá, pois tudo é.
Dada a importância do tema, torna-se necessário o desenvolvimento de
novos projetos que contribuam para o avanço da filosofia, uma vez, que o tema não
foi esgotado nem mesmo pelas grandes mentes filosóficas, continua um tema aberto.
Sugere-se mediante a pesquisa feita, que os novos projetos venham a incluir as duas
vias para o tempo apontada por Rufino (2003), seja para refutá-la ou afirmá-la.
Por fim, o objetivo do trabalho foi alcançado ao analisar os conceitos
eternidade e tempo, vimos cada um separadamente, os comparamos e percebemos
as possíveis confluências e dissemelhanças.
34

REFERÊNCIAS

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