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PONTA GROSSA
2017
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PONTA GROSSA
2017
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RESUMO
ABSTRACT
This work presents the concepts of eternity and time in the chapter XIth of Augustine's
Confessions. The foundation of the research is constituted by the Augustinian
metaphysics. Before contemplate the time in its objective and subjective aspects, we
pursue the understanding of what eternity means. Since it is peculiar to God, eternity
cannot be measured by the temporality. By the objective way, it is indicated a time that
exists by the following evidences: its own creation with the world, linearity and by
preceding the human conscience. On the contrary, subjective time is the human soul
measuring time, in the moment it passes from the past to the future. In this way, we
aim to offer a modest contribution in order to highlight how, in Augustine, eternity is the
greatest good, the good desired by all who seek happiness, because in it there is not
the insecurity of change. There is not even the desire for that will come, because all is
in it.
Keywords: Eternity, Time, Augustine of Hippo, God.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................... 7
CONCLUSÃO.......................................................................................... 33
REFERÊNCIAS....................................................................................... 34
7
INTRODUÇÃO
1.1 A Eternidade
Como Deus é eterno Ele não pode ignorar aquilo que Agostinho quer
confessar, e se Ele já sabe aquilo que será confessado. Então qual a
necessidade de narrar temporalmente, para uma inteligência eterna,
atemporal?
1
Segundo Ayoub e Novaes (2009, p. 26) “O tema do livro é enunciado na primeira frase: um estudo
dos conceitos de eternidade e tempo. Trata-se de interrogar os dois conceitos, segundo sua
contraposição e segundo a articulação possível entre eles. Agostinho examina um tema fundamental
na história da filosofia, levando em conta o que já fora feito por grandes filósofos como Platão,
Aristóteles e Plotino. Além disso, aprofunda a investigação e transforma os termos do problema, à luz
de novas exigências”.
2Agostinho (1999,p. 310): “Porque razão Vos narro, pois tantos acontecimentos? Não é certamente,
para que conheçais por mim, mas para excitar o meu afeto para convosco e o daqueles que leem estas
páginas afim de todos exclamarmos: Deus é grande e digno de todo o louvor. Já disse e torno a repetir:
Narro estas coisas pelo desejo de Vos amar.”
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1.2 O Princípio
3 Teoria da Iluminação é a busca pela interiorização e a iluminação de Deus, segundo Agostinho essa
iluminação não é algo material, é algo que se atinge quando o homem tem o conhecimento da
verdade, podendo assim ter uma vida feliz.
4 Segundo Soares (2005, p. 36) “Agostinho, nos dois primeiros capítulos, pede iluminação a Deus para
que a parca ratio de que é dotado o homem possa encontrar uma resposta satisfatória, e perdão, se a
empreitada levá-lo a incorrer em alguma blasfêmia”.
5
Agostinho (199, p. 315). “Pois não procedeste como artesão, que forma um corpo de outro, conforme
a concepção de seu espírito, que tem poder de exteriorizar a forma que vê em si mesmo com o olhar
do espirito. De onde vem esse poder do espirito senão de ti que o criastes?”
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6 De acordo com Agostinho (1999, p. 315). “Criastes o corpo do artista, a alma que governa seus
membros, a matéria que ele plasma, a inspiração que concebe e vê interiormente o que executará
exteriormente”.
7
Segundo Cardoso (2010, p. 83) “Deus, enquanto ser, é o fundamento de todas as coisas que é, por
conseguinte, o criador de tudo. O princípio de tudo é a criação. E tudo foi criado por um ser eterno, que
é o próprio Deus. Para Santo Agostinho todas as criaturas saíram do nada num só momento, algumas
já aparecem na sua forma perfeita, outras surgiram de formas incompletas, porém são dotadas de
virtudes intrínsecas evolutivas (rationes seminales). “Ainda mesmo o que não foi criado e todavia existe,
nada tem em si que antes não existisse”.
8
Romanos 1.19-20: "Porquanto o que se pode conhecer de Deus eles o lêem em si mesmos, pois Deus
lho revelou com evidência. Desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu
sempiterno poder e divindade, se tornam visíveis à inteligência, por suas obras; de modo que não se
podem escusar."
11
Após evidenciarmos que Agostinho parte do Princípio para tornar explicito que
as coisas criadas não podem ser equivalentes à mente eterna que a engendra,
prontamente a partir daqui, esta pesquisa tomará uma direção na busca por
compreender o Espaço e a Matéria.
“Mas de que modo criastes o céu e a terra?”. Ora, o céu e a terra não
poderiam ser criados no céu, porque ainda não existia; nem na terra, porque
a terra também não existia; nem nas águas nem no ar, porque, porque estes
elementos pertencem à terra e ao céu; nem poderia o universo haver sido
9
Segundo Gilson (2007, p. 151): “Deus é a essentia cuja existência os outros seres atestam, a
imutabilidade que a mudança requer como causa. Ora como dizemos, mudar é ser e não ser, ou não é
ser totalmente o que se é. Como o que não é verdadeiramente poderia se dar o ser? E que mais, além
desse “que é verdadeiramente” poderia ser a causa disso? Por sua própria mutabilidade, as coisas não
cessam, pois, de proclamar: não nos fizemos a nós mesmas, foi Ele quem nos fez. Contudo, visto que
é de Deus que elas recebem tudo o que têm ser, não tem em si mesmas mais que a incapacidade
própria de existir, que é o não-ser; portanto, elas nada têm a ver com sua existência; em suma, foram
feitas por Deus a partir de nada, e isso o que se chama criar”.
10
De acordo com Agostinho (1999, p. 316): “Existem, pois, o céu e a terra. Em voz alta dizem-nos que
foram criados, porque estão sujeitos a mudanças e vicissitudes. Ainda mesmo o que não foi criado e
todavia existe nada tem em si que antes não existisse. Portanto sofreu mudança e passou por
vicissitudes. Proclamem todas essas coisas que não se fizeram a si próprias: “Existimos porque fomos
criados. Portanto, não existíamos antes de existir, para que nós pudéssemos criar”.
12
1.4 O verbo
11
Segundo Soares (2005, p. 37): “Entretanto, que tipo de palavra foi usada para criar o céu e a terra?
Não pode ter sido uma palavra que repercute e logo passa, pois, sendo Deus eterno, esse tipo de
palavra não poderia provir dele. Haveria, então, um outro tipo de palavra que, ao ser pronunciada, fosse
capaz de dar o ser à matéria com que Deus haveria de compor suas palavras? Ora, o verbo de Deus
é coeterno a Deus e, por isso, nele tudo o que é pronunciado é simultâneo e eterno, e imediatamente
se realizará. Assim, nesse verbo, não há diferença entre dizer e criar. É, pois, esse verbo o princípio
pelo qual o céu e a terra foram criados”.
13
À vista disso, Agostinho apercebe que o Verbo não pode ser assemelhado a
linguagem humana transitória que se move no tempo, preferivelmente a Palavra de
Deus não sofre mutação ao criar, pois enquanto a palavra humana é apenas sons
emitidos por cordas vocais, o Verbo é o Filho de Deus, precedente ao Tempo e Criador
do mesmo.
Deus quis criar todas as coisas, mas não se deve buscar esta causa na
vontade de Deus, pois Ele é causa única das coisas, e sendo a causa de
tudo, não tem causa. Deste modo, toda criação surgiu da Palavra Criadora, o
14
Verbo. Esta, porém, narrada no livro do Gênesis6 não é uma simples palavra
sensível, é o Logos, o Filho de Deus, que é coeterno com Ele.
12
De acordo com Ayoub e Novaes (2009, p. 27). “O vínculo entre os dois termos, eternidade “e” tempo,
é um problema por si mesmo. Com efeito, o exame dos dois conceitos deve mostrar, primeiro, que eles
são heterogêneos. A eternidade não será a infinidade dos tempos. Ao contrário, o que é eterno está
fora do tempo, é atemporal. E o tempo não é uma parcela da eternidade, ele é condição de
multiplicidade e dispersão, em contraste com a unidade do que é eterno. Por isso, a dificuldade já
começa com a ideia mesma de reunir conceitos díspares. Como veremos, a dificuldade terá de ser
examinada gradativamente”.
13
Consoante a Agostinho (1999, p. 319). “Quem poderá deter esse pensamento, quem o fixará por um
momento, para que tenha um rápido vislumbre do esplendor da eternidade imutável, e a compare com
os tempos impermanentes, para perceber que qualquer comparação é impossível?”
15
a) Deus não fazia coisa alguma, haja vista que, antes da criação, criatura
nenhuma havia sido criada;
b) Como poderia haver o antes ou o depois quando não havia ainda a
criação? É que, sendo Deus eterno, não pode haver para Ele tempo passado
ou tempo futuro, mas unicamente um tempo eternamente presente. Sendo,
porém, anterior a todos os tempos, não é no tempo que Deus precede ao
tempo, pois é da natureza do tempo o decorrer, e o que decorre implica que
teve uma origem, um nascimento. Ora, Deus não teve uma origem; logo,
nenhum tempo é coeterno a Deus.
14
Apofatismo deriva do verbo 'apofasko' = 'apofemi', que significa negar.
16
Ante a vossa ira, passaram todos os nossos dias. Nossos anos se dissiparam
como um sopro. Setenta anos é o total de nossa vida, os mais fortes chegam
aos oitenta. A maior parte deles, sofrimento e vaidade, porque o tempo passa
depressa e desaparecemos. Quem avalia a força de vossa cólera, e mede a
vossa ira com o temor que vos é devido? Ensinai-nos a bem contar os nossos
dias, para alcançarmos o saber do coração. (BÍBLIA, Salmos, 89, 9-12).
15
Em face das dificuldades, Agostinho adota uma estratégia tradicional: a primeira abordagem será
negativa, como já atesta a sucessão de negações dessa frase, bem como dessa e das líneas seguintes:
“Se não sei o que é eternidade, posso ao menos investigar o que ela não é. Não sei de que modo Deus
criou o mundo, mas posso dizer como não foi.” Trata-se da estratégia negativa ou apofática, que
marcará esta investigação, até a o capitulo 16. Agostinho examinará a eternidade excluindo coisas,
numa sucessão de negações. Consoante a Ayoub e Novaes (2009).
17
16“Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem poderá aprender, mesmo
só com o pensamento, para depois traduzir por palavras o seu conceito? E que assunto mais familiar
e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que
dizemos. Compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam. O que é, por conseguinte,
o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não
sei.” (AGOSTINHO, 1999, p. 322)
18
não vedes no tempo o que se passa no tempo? Por que razão Vos narro, pois, tantos
acontecimentos?” (AGOSTINHO, 1999, p. 310). A outra ocasião é direcionada para a
linguagem alusiva ao Verbo de Deus, que não pode referir-se à linguagem humana
transitória e criada. Pois, se é possível afirmar que a linguagem é criada, é necessário
ter em mente que nada que nenhum elemento que fora criado é e não deve ser
igualado ao Verbo criador de tudo que é gerado.
exaustiva, por nos subsidiar a possibilidade de um outro ângulo dos demais que
aprofundaram o tema tempo em Agostinho.
A dessemelhança entre Rufino e os outros autores que reproduziram
reflexões de Agostinho está na sua peculiaridade de deduzir que Agostinho elabora a
respeito de um tempo externo à consciência, e não exclusivamente sobre um tempo
subjetivo17.
Rufino ocupa-se com as duas vias para a teoria de tempo em Agostinho a
primeira via se refere a uma consciência de um tempo objetivo, que também é para a
consciência humana a partir da construção racional.18 A segunda via é o tempo
subjetivo trabalhado por quase todos os pesquisadores que estudam Agostinho,
inclusive o nosso intuito é dedicar boa parte do próximo capítulo para falar do tempo
subjetivo.
17Rufino (2003,p. 22) considera que: “A teoria do tempo elaborada por Agostinho, segundo entendemos
de acordo com o que será explorado no presente trabalho, privilegia dois momentos específicos, quais
sejam: primeiro, aquele que aponta para o tempo da consciência, para o tempo em seu aspecto interior,
isto é, o tempo como uma realidade existente apenas na consciência e para a consciência (tempo
subjetivo). De acordo com essa linha de raciocínio, o tempo não existe a não ser na consciência.
Realmente, se fosse possível adotar a postura de um observador externo à consciência, seria
improvável afirmar a tríplice divisão do tempo em passado, presente e futuro. Por outro lado, Agostinho
também conclui que o tempo independe da consciência, pois existe fora da consciência, como criatura
que é, sendo, inclusive, anterior e exterior à consciência e, portanto, anterior e exterior ao homem. O
que Agostinho quer dizer é que a existência do tempo independe da existência do homem: o tempo
existe antes de o homem existir (tempo objetivo). É nesse sentido que se sobressai a sua herança
platônica, pois o tempo, antes de existir como tempo no mundo, no seu sentido objetivo, existe como
idéia na mente divina.”
18 A despeito disso Rufino (2003, p. 32) afirma que: “Na nossa concepção, a tese de Agostinho em sua
teoria de tempo toma duas direções específicas, ambas formuladas em termos de uma construção
racional: uma, é a de que o tempo- em suas modalidades de passado, presente e futuro- existe apenas
na consciência e para a consciência (tempo subjetivo). A outra, é a de que há também uma consciência
do tempo, ou seja, o tempo visto a partir de uma construção racional, com uma concepção de
fundamentação epistemológica e com ênfase no tempo objetivo.”
20
Sobre tempo e mudança, Agostinho afirma que há uma relação tão intrínseca
que onde a tempo há, obrigatoriamente, mudança: “Sendo assim, haveria
19 Confissões (1999, p. 321) menciona que: “Sendo, pois Vos o obreiro de todos os tempos- se é que
existiu algum tempo antes da criação do céu e da terra-, por que razão se diz que Vós abstínheis de
toda a obra? Efetivamente fostes Vós que criastes esse mesmo tempo, nem ele podia decorrer antes
de o criardes! Porém, se antes da criação do céu e da terra não havia tempo, para que perguntar o que
fazia então? Não podia haver “então” onde não havia tempo. Não é no tempo que Vós precedeis o
tempo, pois de outro modo, não sereis anterior a todos os tempos.
20 “O Maniqueísmo é uma filosofia religiosa sincrética e dualística fundada e propagada por Manes ou
Maniqueu, filosofo cristão do século lll, que divide o mundo simplesmente entre Bom, Deus e Mau, ou
diabo.”
21 Rufino (2003, p. 180) nota que: “Agostinho não precisa o exato momento desse princípio do tempo,
mas deixa bem claro que o tempo tem um princípio, mesmo que tal afirmação exceda a capacidade de
compreensão da inteligência humana. Diferente da concepção maniqueia, que não trabalha essa
categoria do tempo em razão da crença de que todas as coisas são incriadas e eternas, e também da
concepção grega clássica, de um tempo cíclico e, por conseguinte, eterno, nosso filosofo adota o ponto
de vista oposto ou seja, aquele que defende o tempo linear, com um início preciso, exatamente por
conta da base criacionista da qual parte.”
21
Prosseguindo com esse critério, ressaltamos que o tempo objetivo tem como
especificidade a linearidade. Da mesma forma pensa Agostinho, em harmonia com a
tradição judaico-cristã, ambos concordam com a existência de um tempo linear 22
Em virtude do que fora mencionado, certificamos que a mutação e a
linearidade do tempo são evidência de que existe um tempo exterior à consciência
que a antecede e caminha para um fim.
A evidencia imediata reforça a asserção de que Agostinho pensou em um
tempo exterior. A subjetividade, que de acordo com Rufino, acontece na proposta
Agostiniana de que o tempo é pregresso ao homem.
Rufino (2003, p. 67) também afirma que a “criação do homem, portanto, é feita
no tempo e não com o tempo, ou seja, é posterior a criação do tempo. Desta forma, o
tempo é anterior a consciência.”
A consciência humana é uma instancia imprescindível em direção a clareza
da veracidade do tempo objetivo, posto que ele não requer a existência da consciência
humana para existir pelo fato de a subsistir. Aqui apontamos para a única exceção
que é a consciência Divina, pois ela precede a qualquer origem, em razão de que
anterior a criação, cada criatura existia na mente de Deus, arquiteto do universo. Por
conta do exposto, infere-se que precisamente o tempo objetivo não é capaz de
antepassar a consciência de Deus23.
Cada vez mais Agostinho se vale da tradição judaico-cristã, no sentido de
legitimar a sua teoria, pois ele move-se em direção de indicar para a informação de
que o primeiro homem foi concebido no tempo, seguindo as escrituras que testam a
22 A despeito disso, Danilas (2009, p. 49) afirma que: “No outro extremo da linha do tempo com isso
entende-se que houve um começo e existiria também um fim, a literatura apocalíptica, aponta para o
juízo final, o fim dos tempos, quando todos defrontarão com o Criador. Este é o entendimento judaico-
cristão de um tempo linear, com começo e fim”.
23 Outro aspecto levantado por Rufino (2003, p. 67): “Para Agostinho, não é a consciência humana que
poe o tempo, mas o tempo tem existência própria a partir da criação divina e independe da consciência
humana. A única mente que o tempo se encontra presente antes de ser criado, e na forma de idéia, é
a mente de Deus: Na mente de Deus estão presentes as idéias de tempo, mundo e homem, antes que
sejam criados. Sendo assim, não é a mente humana poe o tempo, mas a divina”.
22
criação do homem formado no tempo pelas mãos do Unicriador, esse fato ocorreu no
sexto dia da criação24.
Adequadamente ao que esteve evidenciado até aqui, percebemos que Rufino
(2003) recomenda que é necessário voltar toda a atenção para as evidencias de como
Agostinho elaborou sua teoria de tempo, e como é possível apontar o tempo objetivo
em sua análise. Sintetizando as três evidencias e as pondo em ordem, colocamos
assim, a primeira evidencia de que é possível pensar no tempo objetivo. Isso é a
afirmativa de que o tempo foi criado juntamente com o mundo, a segunda evidencia a
existência de um tempo linear e a terceira expõe que o tempo precede o homem, pois
o homem foi criado no tempo.
24Rufino (2003, p. 70) enfatiza que: “A conclusão sobre o assunto acima é apresentada por Agostinho
em pelo menos duas passagens. A primeira é aquela onde ele diz: “ como não me atrevo a afirmar que
tenha havido um tempo em que o Senhor Deus não tenha sido Senhor, assim devo dizer sem vacilar
que o homem não existiu antes do tempo e que o primeiro homem foi criado no tempo”. Na segunda
passagem, ele se expressa assim: “ O gênero humano origina-se de um só homem, o primeiro que
Deus criou, segundo o testemunho da Santa Escritura”.
25 Rufino (2003, p. 106) argumenta que: “A categoria do presente é importante, no pensamento de
Agostinho, porque além de dar essa abertura para uma visão da eternidade, ela equaciona em si
mesma as duas outras categorias, de passado e futuro, o que as torna inseparáveis e
interdependentes”.
23
26 Ao referir-se a tal assunto Rufino (2003, p. 109) diz que: “É impossível, portanto separar as três
modalidades do tempo, pois estão imbricadas de tal modo que de uma delas depende todas as outras.
Extinguir uma, é o mesmo que extinguir todas. E essas três modalidades do tempo se mantem
equacionadas de forma muito tênue, uma vez que no pensamento de Agostinho até a existência da
categoria mais importante, que é o presente, e questionável e perfeitamente enigmática”.
27 Outro aspecto levantado por Rufino (2003, p. 109): “Em seu ininterrupto fluir, o presente não se deixa
captar jamais. O presente sempre nos escapa. O tempo presente é, e ao mesmo tempo não é. Como
o próprio tempo em sua natureza, o presente está mais próximo do não ser do que do ser e não há
uma coexistência dos seus momentos sucessivos. Parafraseando o que declara o filósofo sobre a
matéria informe, sobre o caos primigênio do princípio da criação, podemos dizer que o tempo presente
é um quase nada. O tempo presente é o único que é, mas à medida que é já não é mais ou, à medida
que é deixa de ser. É uma dinâmica ininterrupta de ser e não ser”.
28 Rufino (2003, p. 110) comenta que: “É o aspecto criatural do tempo, todavia que possibilita que o
presente se insira na discussão da temática como categoria fundamental. Como criatura que é, o tempo
24
sofre a mesma alteração e mudança que afeta as demais criaturas, o que está muito bem representado
nessa divisão do tempo em três modalidades distintas. Realmente, as três divisões do tempo sintetizam
de forma muito clara essa mutabilidade que caracteriza a criatura, de acordo com o pensamento de
Agostinho. A mudança que afeta as criaturas, também afeta o tempo em seu aspecto criatural,
sobretudo quando se olha para o tempo pelo prisma das citadas categorias. Pela “mutabilidade”, as
coisas “deixam de ser o que haviam sido e passam a ser o que não eram”. Por conta dessa mutabilidade
e contingencia é que o tempo existe apenas em um instante indivisível e assim mesmo propenso a
subdividir-se ad infinitum”.
29 Rufino (2003, p. 113) relata que: “Agostinho só vê uma saída: “Quanto ao presente, se fosse sempre
presente, e não passasse para o pretérito, já não seria tempo, mas eternidade”.
A adequação das três divisões do tempo umas às outras é também o que adequa o tempo ao próprio
tempo, afim de que ele seja de fato tempo e não eternidade, pois, como criação que é, o tempo está
sujeito às mesmas vicissitudes da criação como um todo. Por outro lado, o tempo presente possibilita
o que parece absurdo: tornar o futuro presente ou possibilitar que o futuro seja um existente presente”.
30 Rufino (2003, p. 131) reforça que: “Agostinho fornece toda a base para uma fundamentação do tempo
objetivo, na ênfase que dá ao presente. O primado do presente sublinha duas condições especificas
do tempo: o tempo criatural e o tempo real”.
31Rufino (2003, p. 132) nesta mesma linha de consideração: “O próprio Agostinho elabora suas
pesquisas teóricas intelectuais graças ao suporte que lhe é dado pelo tempo objetivo. O tempo criatural,
portanto, efetiva-se torna-se real no mundo e nas coisas que estão no mundo. Trata-se, por
conseguinte, de uma criatura material – mesmo diferenciada de outras criaturas materiais – e não de
uma criatura espiritual ou intelectual. Isso deve ser dito, pois para Agostinho as criaturas intelectuais
ou espirituais também são reais; só que uma realidade não material”.
25
criaturas, inclusive o tempo, pois o mundo é uma criatura temporal. Enquanto criatura
temporal, este representa o tempo, já na posição de espacial reflete o espaço e como
um elemento visível configura o físico32.
O vínculo é salutar para a concepção de Agostinho, nesse ponto inserimos um
novo elemento as coisas, pois para a concepção agostiniana, o vínculo entre o tempo
e as coisas é necessário. Porque, cabe as coisas tornarem o tempo visível, uma vez,
que este é invisível. Enquanto o tempo afeta as coisas, elas vão sendo transformadas
e modificadas por eles. Portanto, podemos aceitar nesse ponto como prova, a
veracidade de um tempo objetivo e perceber a sua existência33.
Dessa forma, o tempo presente é necessário, pois ele garante a objetividade
do tempo passado e futuro. Uma vez, que por eles não serem o passado que já se
foi, e o futuro porque ainda não veio, só são objetivos no momento em que podemos
afirmá-los, mesmo que este tempo presente seja fugitivo34.
Tendo em vista os aspectos observados, a objetividade do tempo presente
garante a passagem do tempo futuro para o passado. A objetividade do tempo é
verídica, pelo fato de ele ser criatura como as outras, também a objetividade do tempo
é necessária por possibilitar que por meio ao vínculo com o mundo, o tempo se torne
visível e material no momento em que vai afetando as coisas.
32 Rufino (2003, p. 135) destaca que: “Isso se mostra ainda mais pertinente na ideia de que ele tem do
princípio do tempo, onde ele define de forma explicita a interdependência aqui referida. Uma vez que,
para ele, “o mundo não foi feito no tempo, mas com o tempo” – ou seja, é único e simultâneo o princípio
da criação do e dos tempos -, há um vínculo inquebrantável do tempo com o mundo. E o mundo para
o nosso filosofo, nada mais é do que uma criatura temporal, visível, material, representativa de todas
as demais criaturas”.
33 Rufino (2003, p. 137) afirma que: “Para ele, o tempo é uma criatura, sim – o que possibilita seu estudo
por um viés objetivo-, mas o tempo é uma criatura diferente das demais criaturas. O tempo é uma
criatura invisível, mas não invisível como as criaturas espirituais, por exemplo. O que torna o tempo
“visível” são as coisas nele contidas e que são imprescindíveis para a existência do próprio tempo. É
como se as coisas contidas no tempo assegurassem sua existência e fornecessem uma espécie de
substancialidade ao tempo. Ainda mais quando o filósofo é claro ao estabelecer a dependência entre
eles: sem o tempo, as coisas não existiriam; mas, também, sem as coisas o tempo não existiria”.
34 Rufino (2003, p. 142) reforça que: “A construção intelectual de Agostinho se estende para além da
extremidade do tempo – seja ela linear ou circular – e abre um significativo leque de novas e
desafiadoras possibilidades. Possibilidades contempladas sempre a partir do exato momento do
presente, em que o tempo se descortina em suas realidades objetivas de passado e futuro. Um passado
que já não é e um futuro que ainda não é, amarrados pelo presente que está deixando de ser,
ininterruptamente”.
26
3.1 Alma
A despeito de Santo Agostinho ter estado em um ciclo Teocêntrico, o núcleo
de sua filosofia tendeu ao homem na iminência de ser intitulada a filosofia do homem.
Não há dissenso entre os pesquisadores quanto a doutrina agostiniana ser uma das
mais preocupadas com o conceito homem que a do famoso Bispo de Hipona35.
Posto que, a filosofia agostiniana experimenta influência platônica na
iminência de ser classificada como o cristianismo platonizado. As diferenças entre as
filosofias e uma das basilares está na antropologia que ambas exprimem, pois
enquanto a filosofia platônica apresenta o homem como dualidade, a qual considera
a alma aprisionada ao corpo, Agostinho sai por outra vertente assegurando que a alma
está encarnada no corpo, reiterando que o homem é uma unidade de substancia36.
As convicções de Agostinho acompanham os filósofos clássicos, enquanto
condiz na dualidade do homem. Todavia, esse homem tem que ser aceito como um
ser uno, ainda que a alma constitua a sede do corpo, no sentido de ela ser a parte
racional do homem. Como outrora, é impensável preparar uma pesquisa na
antropologia agostiniana sem evidenciar que a alma de modo algum deve ser vista
como separada do corpo.
O ato de Deus ter criado o homem como unidade faz com que o corpo porte
relevância na fusão com a alma. Outra questão, Agostinho não desqualifica ou
adjetiva de forma negativa o corpo. Pelo contrário, acompanhando a tradição cristã o
35 Pirateli (2009, p. 1) argumenta que: “Assim como nos grandes filósofos clássicos, o desvendamento
do homem não poderia estar em segundo plano no pensamento de Santo Agostinho. Para tal, procurou
esquadrinhar e perscrutar a alma humana, o que faz com que sua filosofia seja filosofia do homem,
antropológica, na medida em que se lançou na busca do conceito de homem (Solil., l, 2, 7). Inclusive
ressaltou em suas Confissões ser o homem um “grande abismo” e um grande problema” a se
descobrir”.
36 Como faz notar Santos (2017, p. 1): “Platão separa a alma do corpo, como se o corpo fosse o cárcere
da alma. Ao contrário, influenciado pela filosofia neo platônica, Agostinho propõe uma nova formula de
conceber o homem, não separando corpo e alma, mas dizendo que alma não é prisioneira do corpo;
ela está encarnada nele, como um todo. Não se separam: é uma unidade substancial”.
27
corpo é tão primordial na mente de Deus que o seu próprio Filho, na ocasião que veio
ao mundo, coabitou nesse corpo37, ou seja, Deus quis ser homem e honrou o corpo
no momento em que nele habitou, e em seguida o glorificou38.
O homem, pela via agostiniana, veste-se de um corpo e de uma alma por
constituir-se de duas substancias: material e espiritual. Portanto, o homem está entre
dois mundos, o físico onde habita os animais e o espiritual onde habita Deus. Ele se
assemelha aos animais, à medida que, experiencia o mundo por intermédio dos
sentidos, e participa do mundo espiritual, à medida em que ele efetiva a razão por via
da iluminação.
No que se refere à alma ser a sede do corpo, destaca-se que tanto para
Agostinho quanto para filosofia clássica, a alma é imortal à medida que o corpo é finito
e transitório. Padece as mudanças impostas pelo tempo e também tende ao não ser.
O papel da alma é fazer o homem voltar-se para Deus por via da interioridade, ou
seja, fazendo uso da sua razão conforme a alma se volta para Deus ela se torna feliz39.
37Filipenses 2:6-8 destaca que: “Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a
Deus”.
Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;
E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.
38 Santos (2017, p.1) aponta para a informação de que de acordo com Santo Agostinho, “quando Deus
criou o ser humano, o criou na plenitude do ser. Por isto, não se pode separar a matéria da forma, visto
que Deus criou a unidade do homem. Segundo o autor, o corpo se torna algo cheio de importância, por
causa da encarnação do Verbo: o próprio Filho de Deus vem habitar neste mundo, numa forma material.
Por isto, afirma que a matéria também tem sua importância e não se separa da alma”.
39 Santos (2017,p.1): “ Mesmo não admitindo a separação, Agostinho admite que a alma é dotada de
certa natureza especial, que eleva ao homem a Deus, ao contrário do corpo que é transitório e limitado,
estando sujeito às coisas deste mundo. A alma é capaz de fazer do homem participante de Deus,
elevando-o através daquilo que tem mais importante: sua racionalidade. Com isso, o homem é capaz
de ter uma vida feliz, contemplando, de fato, seu criador.
40Rufino (2003, p. 145) sustenta que: “A partir desse raciocínio, então, o tempo existe nessas
modalidades porque assim é construído racionalmente pelo homem e assim é também transmitido às
gerações futuras. Entretanto, somos, de opinião, conforme visto neste trabalho, que ele analisa o tempo
28
O conceito medir é uma das noções que Agostinho dispõe, tanto para articular
pertinente a eternidade quanto para falar do tempo. Se a eternidade não pode ser
medida pelo tempo, como visto no primeiro capítulo, aqui veremos a progressão do
conceito medir, pois não sendo possível medir o tempo no tempo, Agostinho procura
um local específico onde se possa fazer tal medição.
Uma das formas na qual pretendeu-se medir o tempo, foi a proposta de o
tempo ser o movimento dos astros, erroneamente propõem esta teoria que se o tempo
é movimento, ele é capaz de ser medido41.
A concepção platônica42 de que o dia era conexo ao giro do sol de oriente a
oriente impactou o período em que viveu Santo Agostinho, pensava-se que os corpos
se moviam no tempo, possibilitando a crença de que seria possível medi-los enquanto
se movimentavam43.
O tempo presumido enquanto movimento exterior e espacial de um astro foi
refutado por Agostinho, afinal porque não seria o movimento de todos os astros, ou
por outro prisma: o tempo é criatura e, como criatura, é exterior à consciência, pois existe fora da
consciência, sendo por isso mesmo anterior ao homem, uma vez que dele independe. Dessa forma, a
aparente antinomia gerada por essas duas fórmulas, pode ser sintetizada a partir da própria frase de
Modin: para Agostinho, “o tempo não existe fora de n´s” e, da mesma forma, o tempo existe fora de nós
como ser criatural que é”.
41 Vás (2009, p. 29) destaca que: “Sem embargo, permanece sendo verdade que medimos, ou pelo
menos tentamos medir o tempo. A fim de resolver este dilema, se propôs identificar o tempo com o
movimento dos corpos. Desta feita, se o tempo é o movimento, e um movimento pode ser sempre
medido por outro, pode-se, enfim, medir o tempo pelo tempo também”.
42 Skwaura (2010, p. 162) enumera que: “Por um lado, respeita a opinião de Eratóstenes e de Platão
no Timeu, que afirmam como se o curso do Sol, da Lua e das estrelas fixas, fosse o tempo. Por outro
lado discorda: Não, não é”.
43 Piauí (sem data, p. 30) nota que: “Eis parte do Timeu de Platão, leitura obrigatória para todo aquele
que pretendia falar de Filosofia Natural mesmo na época de Newton. Seguindo o que diz o personagem
Timeu é com a criação do céu, pois, antes dele não havia nem dias, nem noites, nem meses e nem
anos, que a divindade teria feito surgir o tempo; segundo a narrativa, eles são as partes do tempo;
assim, é também para dar origem a ele que foram criados o Sol, a Lua e mais cinco planetas (ou
errantes), o que parece ser suficiente para definir e conservar seu aspecto quantitativo: os números do
tempo. Desta forma, o tempo nasceu com o céu, que foi, é e será perpetuamente na duração do tempo,
por isso deve ser considerado apenas como uma “imagem” (eikóna) o mais próximo possível da
realidade eterna da divindade”.
29
44 A despeito disso Rufino (2003, p. 115) afirma que: “O método empregado por Agostinho consiste em
identificar o tempo em um movimento exterior e espacial. Nesse sentido, o tempo seria identificado com
o movimento (motus), tanto do sol, da lua e dos astros, quanto a roda do oleiro e de todos os corpos”.
45 Por isso resolve detalhar ainda mais. Argumenta, agora, sobre o aceleramento ou retardamento do
movimento dos astros (mora). O raciocínio passa do movimento (motus) à durabilidade do movimento
(mora). O que constitui o dia é o movimento ou a duração do movimento? E o tempo, finalmente. É o
movimento (motus), a duração do movimento (mora), ou as duas conjuntamente?
46 O tempo pode até ser continente desses conteúdos, jamais os próprios conteúdos. Ele insiste messe
ponto, de forma enfática. Ainda mais quando trata especificamente da categoria presente. Para ele,
portanto não medimos o tempo, mas os subsídios dos fenômenos que se efetuam no tempo. Sendo
assim, o tempo nem se subordina ao movimento nem é redutível à quantidade.
47Silva (2009, p. 74) identifica que: “Dentro deste entrave Agostinho procura, como nos mostra Ricoeur,
estabelecer um local onde este tempo permaneça, não no sentido de se tornar fixo e, sim, o que o faz
capaz de ser passível de conhecimento pelo homem. Este tempo que se faz conhecer não é o tempo
medido pela física, pois nessa medição ele não existiria, pelo menos não dentro da possibilidade de
criar significados. Mas, para responder como esse tempo é medido, vemos que Santo Agostinho o
localiza no presente”.
48 Ayoub e Novaes (2009, p 40) mencionam que: “A pergunta “onde”? indica a investigação de uma
nova ontologia. Como situar um ser que não ocupa lugar no espaço? A procura do ser do tempo (e das
30
3.5 Distensão
condições de medida do tempo) vai exigir que o tempo tenha um ´lugar´ que não é espacial. Essa
investigação levará a uma concepção de interioridade que também não é espacial”.
49
Miranda (2015, p. 5) relata que: “A ideia cotidiana e mais ampla de memória que conhecemos por
nós como a propriedade de tornar o se foi em presente. Existem alguns tipos de lembranças no nosso
ser, e são apresentadas e caracterizadas pelo predomínio de algumas imagens: memória sensível,
memória intelectual e memória afetiva. A memória é uma evocação do passado. É forma que capacita
os humanos para retirar e guardar o tempo que se foi”.
50 Vaz (2009, p.31) nota que: “Com relação ao futuro, vale o mesmo tanto do que disse do presente.
Desta forma, o presente, conquanto seja um instante indivisível, quando reportado a alma, torna-se
abrangente, distende-se. Para que melhor o compreendamos assim, a saber, o presente, é preciso
entende-lo reportado à alma, como uma atenção que se desloca, simultaneamente, para o futuro
através da espera e para o passado mediante a lembrança”.
31
expectação. A alma é apta para captar esse instante indivisível e deslocá-lo, ou para
o passado ou para o futuro51.
51 Vaz (2009, p. 31) enfatiza que: “Tal é o presente na alma: como um lugar onde ocorre a passagem
daquilo que se espera para aquilo que já passou. Com efeito, é desde este ponto de vista, isto é, a
partir da análise da existência do tempo na alma, concebido como uma atenção no presente, uma
espera do futuro e a lembrança do passado, que ele adquire então uma extensão e pode enfim ser
medido”.
52 Souza (2006, p. 42) indica para a “tranquilidade é o estado desejado, sem temor e sem carência de
nenhuma espécie, portanto, nela também não há qualquer tipo de desejo. Assim, ela é buscada com
todo o afinco por que nela estão as bases da felicidade. Afinal quem teme, teme o porvir, quem deseja,
deseja o que ainda não possui, logo, também, deseja o porvir e a tranquilitate escapa a essa condição”.
53 Souza (2006, p. 43) reforça que essa “expectativa gerada pelo quadro altamente mutável no qual o
ser humano se encontra, destrói qualquer esperança de tranquilitate. Por isso Agostinho considera o
homem “ lançado neste mundo, como em mar tempestuoso, e por assim dizer, ao acaso e á aventura”.
O próprio passar do tempo é consolidador de mudanças que são temíveis”.
54 Souza (2006, p. 44) enfatiza que: “Portanto, é o fluir do tempo que retira o homem de sua quietude.
Pois, vivendo exclusivamente o presente, tenta, por meio da ansiedade, lançar-se ao futuro com o
32
Outra questão que faz com que o homem seja inquieto é a relação do não ser
do presente e o seu caminhar para o passado. Pois, enquanto o homem procura
manter aquilo que foi conquistado no passado, a consequência só pode ser um estado
de espírito temeroso, pelo mesmo se apegar as coisas que são perecíveis e sujeitas
a transformações causadas pela mutação do tempo exterior ao homem, que no tempo,
não encontra algo para se apoiar que seja permanente, durável e imperecível 55.
No entanto, o homem não está destinado à infelicidade por viver na
temporalidade. Agostinho aponta uma possibilidade de transcender a essa realidade,
que seria a solução de o homem se voltar para Deus o Bem maior adquirido, que não
pode ser afetado pela mutabilidade.
Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que
habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Vos! Disforme, lançava-me
sobre estas formosuras que criastes. Estáveis comigo, e eu não estava
convosco!
Retinha-me Longe de Vós aquilo que não existiria se não existisse em Vós.
Porém chamastes-me com uma voz tão forte que rompestes a minha surdez!
Brilhastes, cintilastes e logo afugentastes a minha cegueira! Exalastes
perfume: respirei-o, suspirando por Vós. Saboreei-Vos, e agora tenho fome e
sede de Vós. Tocastes-me e ardi no desejo da vossa paz”. (AGOSTINHO,
1999, p.285)
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
EVANGELHO segundo São João. In: BÍBLIA Sagrada: Edição Pastoral Catequética.
Tradução de Monges de Maredusous (Bélgica). Revisão de Frei João José Pedreira
de Castro. O.F.M., e equipe auxiliadora da Editora. São Paulo: Ave-Maria, 2001.
cap.1, vers. 1-3.
MIRANDA, L.T. Uma reflexão sobre filosofia, tempo e memória em Santo Agostinho.
Revista Pandora. n. 63, fev. 2015. Disponível em:
<http://revistapandorabrasil.com/revista_pandora/memoria_63/leandro.pdf>. Acesso
em: 18 set. 2017.