Vous êtes sur la page 1sur 9

Estresse Laboral: o desgaste

psíquico no trabalho e a
Síndrome de Burnout
Sonia Maria de Wallau 1

RESUMO INTRODUÇÃO
Este estudo tem como objetivo interligar con-
O impacto do estresse, tanto na vida
ceitos e reflexões sobre o Estresse Laboral, de minha
tese de doutorado em Psicologia Clínica e da Saúde: “O pessoal como no trabalho, constitui-se, atu-
Estresse Laboral nos profissionais da área da saúde”, almente, num dos desafios aos pesquisadores
com outras áreas de abrangência do trabalho, como as e estudiosos deste tema que direcionam seus
áreas organizacionais e institucionais; trata-se de um conhecimentos e intervenções aos efeitos dos
enfoque interdisciplinar, direcionado para o entendi- agentes estressores nos indivíduos: profissio-
mento do significado e importância do estresse e seus
efeitos psicofisiológicos no ser humano.
nais da área da saúde, empresas e instituições
Palavras chave: Estresse, trabalho, áreas or- inseridas no eixo das responsabilidades sociais
ganizacionais. e outras atividades laborais.

ABSTRACT O termo estresse já foi muito populariza-


This paper has as objective to establish con- do, mas cada vez mais investigamos, pesquisa-
nections about concepts and reflections on the Labor
Stress, from Postgraduate Thesis in Clinical and Health
mos, estudamos e refletimos sobre o complexo
Psychology: “The labor stress in the professional of the fenômeno de estresse, prevenção e estratégias
health area”, whit other areas of the world work – in de afrontamento (coping)2 mais eficientes. E
institutions and organizations – directing for the agre- sabemos que nenhum termo teve a “força” da
ement and importance of stress and is psychology and palavra estresse, usada muitas vezes de modo
physiology effects in the human being.
indevido na linguagem coloquial; estamos cien-
Key-words: Stress, work, organization areas.
tes, que o estado de estresse envolve situações
psicofisiológicas que transcendem a semântica
da palavra, pelas implicações que o mesmo
ocasiona no organismo do ser humano, nas suas
relações com o mundo externo e em seu funcio-
namento biopsicosocial. Portanto, trata-se de
um fenômeno complexo e sua contextualização
não é tão simples assim!

Sabemos de pesquisas nos Estados Uni-


dos, países da Europa e agora no Brasil, cujos
investigadores estão preocupados com as con-
seqüências do estresse na saúde física e mental
do indivíduo e com o conseqüente prejuízo para
a produtividade das empresas e instituições, e

1
Psicóloga, Doutoranda em Psicologia Clínica e da Saúde – Universidade de Santiago de Compostela/Espanha; Professora do Centro Universi-
tário Feevale. E-mail: wallausonia@uol.com.br.
2
Processos cognitivos e de conduta que se desenvolvem para manejar as demandas específicas externas e/ou internas que são avaliadas

Gestão e
como excedendo aos recursos do indivíduo (Lazzarus e Folkmann, 1986).
REVISTA DO ICSA

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas Desenvolvimento 67


que procuram encontrar o grau de tensão que que comenta a teoria de Selye, o qual, tendo
passa a ser problemático para os indivíduos; as em vista os primeiros e importantes passos
variáveis são inúmeras, surgindo como agentes para a aferição deste fenômeno, já pontuava
estressores as condições físicas de trabalho que a importância da relação mente-corpo, e co-
buscam na Ergonomia um importante referen- locava a atual psicossomática3 em evidência
cial, o estresse ligado às novas tecnologias e para o entendimento de várias doenças, tais
outras inúmeras causas. como neuroses, transtornos psicossomáticos,
como a hipertensão, por exemplo, ao que ele
É importante fazermos uma alusão ao denominava de “choques” emocionais e físicos,
significado da palavra STRESS: provém da Física fazendo alusão às “doenças da civilização”.
e significa tensão ou esforço, resultando em
deformidade. Em meados do século XX, Hans Também já considerava que, fisiologica-
Selye passou a utilizá-la em seus estudos sobre mente, o estresse é o resultado de uma reação
o fenômeno psicofisiológico, o qual indicava o do organismo em resposta a fatores externos
estado de um sujeito que resulta da interação invasivos e desagradáveis ao indivíduo. Como
do organismo com estímulos ou circunstâncias primeira resposta ou reação do organismo a
nocivas ambientais (ruídos, desastres da na- uma situação estressora (desastres, perdas,
tureza, catástrofes); atualmente uma gama desemprego, etc...), na Fase de Alarme, ocor-
de agentes estressores, que caminham lado a re a descarga da Adrenalina sobre o sistema
lado com os avanços da ciência e dos sistemas cardio-respiratório, acelerando os batimentos
político-econômicos, são causas dos transtornos cardíacos e ocorrendo uma diminuição do ta-
psíquicos que ocorrem no ser humano: depres- manho dos vasos periféricos, podendo haver
são, doenças psicossomáticas (hipertensão, úl- quadros hipertensivos agudos. E assim, várias
ceras, etc), além de conseqüências na atividade outras manifestações patológicas sucedem-se
laboral: desemprego, absenteísmo, conflitos em decorrência do estresse, em resposta às
nas relações interpessoais e outras variáveis situações ameaçadoras que surgem na fase de
comprovadas, através de pesquisas, podem alarme do SGA, ou seja, no momento em que
levar à Síndrome de Burnout, esta entendida o indivíduo necessita de recursos próprios para
como conseqüência do estresse laboral crônico. adaptar-se às situações, que dependerão de
suas respostas individuais. Por isso, sabe-se que
Permitimo-nos, neste momento, tecer cada indivíduo responde de modo diferente às
alguns comentários a respeito da história que situações de estresse e que quanto mais prolon-
o estresse, em sua trajetória, percorreu. gada e repetida a situação ansiogênica à qual
o indivíduo encontra-se exposto, maior a pro-
Selye (1950), o precursor dos estudos babilidade do mesmo desenvolver o estresse:
do estresse, a partir de um enfoque biológico, o mesmo surge então, como um tipo particular
afirma que o estresse é uma resposta psicofisio- de relação da pessoa com o meio. Precisa forçar
lógica do organismo a uma situação ou agente seus limites, as suas competências, funcionando
estressor. Em seu livro, The Physiology and num registro que não é comumente o seu.
Pathology of exposure to stress, define a longa
e continuada exposição ao estresse sistêmico, À medida que os estudos sobre estresse
a G – A – S (general-adaptacion-síndrome) como foram evoluindo, constatou-se que estar em
sendo reações sistemáticas do corpo a situações situação ou estado de estresse, ocasionalmen-
estressoras. te, não é considerado prejudicial ao organis-
mo, pois este tem recursos para adaptar-se
Nos Estados Unidos, as pesquisas estão a estas situações quando não prolongadas. A
cada vez mais avançadas e entre os países eu- permanência neste estado é que pode causar
ropeus, a Espanha encontra-se como um dos uma infinidade de complicações, instalando-se
centros importantes no estudo do estresse. o estresse crônico; entre estas complicações,
Entre estes estudiosos, temos Labrador (1993), o enfraquecimento do sistema de defesas do

Gestão e
3
Atualmente, Pierre Marty, da escola francesa, reafirma a unicidade corpo – psiquismo, à luz da Psicanálise.
REVISTA DO ICSA

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas Desenvolvimento 68


organismo, ou seja, enfermidades explicadas certos estressores, as estratégias individuais
pela imunologia. de afrontamento (o modo como cada indivíduo
enfrenta as situações de estresse) são ineficazes
A partir de Selye, vários estudos foram por si mesmas.
surgindo na literatura e empirismo de estudo
do estresse, aprimorando conceitos e evoluin- Peiró refere-se ao modelo de Fischer
do cada vez mais. Surgiram então os Modelos (1995), Modelo Cognitivo sobre estresse e
Teóricos. Entre eles Lazarus e Folkman que, na enfermidade, o qual pontua as conseqüências
década de 1984, criaram o Modelo Transacio- do estresse para a saúde, agrupadas em cate-
nal, explicando o estresse como um processo gorias: diversas enfermidades, alterações de
dinâmico, interativo e reativo entre o sujeito condutas, do bem estar e saúde mental, com
e o meio; segundo este modelo, cada indivíduo repercussões negativas no desempenho e ren-
possui estratégias próprias e particulares para dimento. Além disso, uma gama de disfunções
emitir uma resposta de estresse. fisiológicas que a literatura de estresse nos traz:
as condições de altas demandas laborais, por
Este modelo nos fala da importância da exemplo, estão associadas com freqüência a
variável Apoio Social, como sendo um mediador doenças coronarianas; neste modelo, deve-se
entre a saúde e a doença, reduzindo o impacto entender os processos psicológicos e biológicos
do estresse. A falta de apoio social aumenta a para compreender melhor as vias pelas quais
vulnerabilidade para a doença física ou mental; determinadas doenças afetam o ser humano,
este apoio pode reduzir o impacto negativo assim como determinadas enfermidades são
de situações de vida, pois ajuda o indivíduo causadas pelas estratégias de enfrentamento
a enfrentar o agente estressor, atenuando a do estresse.
resposta de estresse.
O autor evidencia o estresse laboral e a
E onde é encontrado este Apoio Social? saúde, afirmando que a exposição a estressores
de diferentes naturezas, entre eles os laborais,
Um dos seus principais pilares é a famí- está intimamente ligada com o deteriora-
lia, núcleo no qual o sujeito procura apoio nos mento da saúde. A aparição de determinadas
momentos difíceis da vida; assim, também, patologias é considerada a conseqüência mais
surge como importante a qualidade das relações importante da exposição prolongada a situações
humanas dentro do grupo social. estressantes, e a desadaptação que esta produz
no organismo.
Para Peiró (1995), as medidas de apoio
social mostram correlações significativas com o Vimos, portanto, diversas variáveis que
neuroticismo, auto-estima e ansiedade social, definem a instalação do estresse no indivíduo.
sendo que os estudos sobre o isolamento social
e a solidão têm mostrado que as características Especificamente quanto à problemática
de personalidade destas pessoas incidem sobre do estresse laboral, em nível organizacional,
a situação, através de seu comportamento, sabemos que qualquer mudança, qualquer
dificultando a criação de vínculos e relacio- intervenção pode incidir sobre o nível de
namentos interpessoais. Tratar-se-ia, então, estresse dos trabalhadores em relação à sua
de um baixo nível de competência relacional. melhoria; principalmente aquelas relacionadas
Aborda o apoio social como um fenômeno de às condições ambientais de trabalho, estudo de
tradição interpessoal que implica a expressão liderança, planos de carreira, melhor gestão de
de afeto positivo, nos valores e crenças como recursos humanos, novas tecnologias, estrutura
ajuda e assistência a estas pessoas. e clima organizacionais.

E ainda o autor, quando se refere às Existem inúmeros agentes estressores


estratégias de intervenção para a prevenção e identificados (principalmente na questão er-
manejo do estresse laboral, afirma que, ante gonômica do trabalho, esta entendida como

Gestão e
REVISTA DO ICSA

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas Desenvolvimento 69


adaptação homem-máquina), tanto na parte estressora; ou seja, quanto mais tempo um
física quanto nas relações de trabalho; sabe-se sujeito fica exposto a uma situação de estres-
da importância de intervir sobre eles. Faz-se se, maiores são as conseqüências; considerou
necessário, então, potencializar este tipo também os componentes fisiológicos, cognitivos
de estudo, a fim de fundamentar, de forma e motores e o aparecimento de transtornos
mais adequada, as intervenções neste âmbi- psicofisiológicos.
to, através do rigor científico e da evidência
empírica existente. Deverão haver mudanças Vimos aqui os modelos através dos quais
organizadas, cuja relação com o estresse dos os estudiosos, no entendimento do estresse,
trabalhadores só poderá ser investigada cien- aprofundam-se; entendemos, a partir deles,
tificamente. que ter muitos recursos é necessário, mas tam-
bém se deve ter habilidades para utilizá-los, de
Vários outros modelos abordam o estres- acordo com o contexto social em que vivemos.
se laboral:
Importante aspecto encontrado na lite-
- Ivancevich e Matteson (1980) revisam ratura e nos estudos do estresse é a questão da
o modelo psicossomático, o bioquímico, de personalidade do tipo A ou Padrão de conduta
adaptação ocupacional e socioambiental. Estes tipo A, que configura os indivíduos com um pa-
autores formulam uma seqüência explicativa drão de respostas às situações que se apresen-
da conexão entre trabalho e saúde dos profis- tam e que caracterizam as pessoas predispostas
sionais; a desenvolverem o estresse; surge como uma
variável importante a ser considerada.
- Kopelman e Connoly (1983) descrevem
as relações dos conflitos entre as relações e o São indivíduos com características de
trabalho; as fontes de relação entre as áreas de impaciência, velocidade excessiva em executar
conflito e a satisfação; entre satisfação laboral tarefas, urgência de tempo, esforço demasia-
e satisfação geral com a vida; do para o sucesso, alta competitividade com
os colegas, compromisso excessivo com seu
- Greenhaus e Bentell (1985) sugerem trabalho, desempenho de múltiplas tarefas,
que as pressões laborais podem intensificar os entre outras características. Se suas expecta-
conflitos entre trabalho e família; tivas são demasiado elevadas, e o trabalho não
traz o retorno esperado, surgem sentimentos
- Modelo dos resultados múltiplos de de cansaço e desilusão, ocorrendo distúrbios
Golembiewsky (1986) propõe que quando os fa- do sono, depressão, doenças psicossomáticas,
tores laborais (segurança no trabalho, prêmios, questionamentos sobre sua própria competên-
colegas de trabalho) são negativos, o estresse cia, perda da auto-estima e autoconfiança,
laboral poderá evoluir para a Síndrome de podendo desenvolver o Burnout, que constitui
Burnout. O modelo inclui efeitos de feedback, a fase posterior a um forte estresse, causado
que reforçam e ajudam a manter os efeitos por excesso de trabalho, expectativas profis-
principais dos postos de trabalho; sionais não correspondidas e sentimentos de
frustração.
- Modelo de investigação ergonômica de
Martin e Pareda (1998), importante para se Na leitura de Finato (2001), encontramos
entender os níveis de estresse que se instalam subsídios importantes quando a mesma lança
nas organizações, em função da inadequada seu interesse sobre o padrão de conduta tipo
relação homem-máquina; A, referindo-se ao mesmo como um complexo
binômio ação-emoção, a partir dos estudos de
- Modelo de Labrador (1992), o qual di- Friedman e Roseman na década de 1950. Os
recionou a duração do estresse à conexão entre mesmos definiram este tipo de comportamento
resposta de estresse, considerando fatores como inerentes àqueles indivíduos com traços
como a duração de exposição a uma situação de personalidade agressiva; também relata a

Gestão e
REVISTA DO ICSA

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas Desenvolvimento 70


existência de estudos por identificar outros psicológicas que estudam o estresse, tanto em
aspectos, como incapacidade de delegar aos relação às suas características, como as causas
outros tarefas e responsabilidades, controle e conseqüências. Seja qual for o viés teórico, o
rígido dos que os rodeiam, incapacidade de nosso objeto de estudo são os fenômenos psíqui-
tolerar angústias, racionalizando emoções; na cos e a saúde mental do ser humano, inserido
busca de êxito profissional ou social, lançam-se no contexto laboral e social de uma sociedade
na competitividade, além da necessidade de competitiva, que tem sua historicidade
perfeccionismo; surgem então patologias como marcada por mudanças, estas sempre se confi-
hipertensão, doenças coronarianas e outras gurando como ansiogênicas, pela necessidade
complicações. Trata-se de um importante en- de adaptação impostas ao homem.
foque referente ao papel das emoções na etio-
logia das doenças em pacientes coronarianos. Sabemos que, desde a Revolução In-
dustrial, no século XIX, desaparecia o artesão
Se falarmos em emoções, como uma das para dar lugar, segundo Dejours (1994), ao
variáveis importantes no desencadeamento de operário de massa, despossuído de seu aparelho
doenças orgânicas, nada mais se faz do que re- psíquico, dando lugar a um sujeito instrumen-
ferência à Psicossomática de Pierre Marty. Esta talizado, iniciando-se as questões referentes
escola francesa contemporânea, que enquadra às psicopatologias do trabalho; e no desenro-
a psicanálise para explicar seus pressupostos, lar dos avanços e descobertas científicas, foi
vai nos explicar os mecanismos de defesa usa- sendo cada vez mais solicitado a dar conta de
dos pelos indivíduos, aduzindo que uma das demandas que a sociedade industrializada, e
dificuldades do paciente coronariano é a difi- agora tecnológica, lhe impõe.
culdade de se permitir fantasiar; usualmente
ele projeta nos outros o que ele é ou gostaria E como fica a questão de sua subjeti-
de ser, dificultando assim as relações reais. vidade?

E na vertente da linha comportamen- A leitura dejouriana denuncia que a


ta-lista do estudo do estresse, encontramos a perda do significado do trabalho pode atingir
analogia que nos permite entender o sentido do a identidade social, destruir o prazer e o in-
termo Padrão de Conduta tipo A. Continua Fina- teresse, fazendo com que a vida laboral fique
to afirmando que os mecanismos excessivos de reduzida a execuções do que está prescrito; e
adaptações são os responsáveis pelas doenças o mundo afetivo passa a ser amputado da vida
de adaptação, tais como hipertensão, infarto, mental consciente.
fazendo com que o organismo seja lesado pelos
próprios mecanismos de defesa. E esta situação poderá encontrar-se
presente no momento em que o indivíduo e
No enfoque psicossocial, o estresse no as organizações não se preocuparem com os
trabalho é um fenômeno cada vez mais freqüen- agentes que causam o estresse, no sentido do
te e com conseqüências importantes em nível diagnóstico, prevenção e tratamento. Podemos
organizacional e intelectual; vivemos numa ter o deterioramento da qualidade de vida la-
sociedade capitalista e globalizada, e o contato boral numa organização, e os níveis elevados
com as novas tecnologias, entre outras variá- de estresse podem repercutir negativamente na
veis, torna o ser humano ansioso, vulnerável a preservação da saúde, quando agentes estresso-
estes novos desafios cognitivos que permeiam res (ergonômicos, de relações humanas, gestão
o mundo do trabalho. A Psicologia do Trabalho, organizacional) apresentam-se extremamente
em seus postulados teóricos, tem então, cada desafiadores, fazendo com que o indivíduo es-
vez mais, cuidados com a saúde psíquica do gote suas capacidades de enfrentá-los (coping),
ser humano inserido em sua atividade laboral. com grande prejuízo para a organização e para
o indivíduo.
Não se trata, entretanto, neste artigo,
de entrar na questão epistemológica das linhas Como já visto, os efeitos do estresse va-

Gestão e
REVISTA DO ICSA

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas Desenvolvimento 71


riam de acordo com as diferenças individuais, assim como sua prevalência é significativa nos
características de personalidade, padrões de serviços de pessoas que trabalham em contato
conduta e estilos cognitivos, e isso nos explica direto com seres humanos; parece tratar-se
as diferentes respostas para o mesmo tipo de de uma síndrome laboral que afeta emocional-
agente estressor, isto é, cada indivíduo vai mente os indivíduos, levando-os a uma perda
reagir ou desenvolver estresse frente à mesma de significados de seu trabalho, baixando sig-
situação (agente estressor), de modo diferente. nificativamente o rendimento e a atenção aos
E encontramos em Peiró (1995, p. 11) que é colegas de trabalho, afetando a qualidade das
necessário conhecer o mais precisamente pos- relações humanas.
sível as características relevantes do indivíduo
para poder prever as conseqüências possíveis de Este enfoque era inicialmente aplicado
determinados estressores do ambiente laboral. na área da saúde, porém, à medida que foram
Existem características individuais importantís- feitos estudos empíricos, foi-se percebendo
simas implicadas no processo do estresse, que que a síndrome abrange outras áreas que não
são agrupadas em três categorias: genéticas somente as que prestam serviços de cuidados
(física, constitucionais, sexuais e cognitivas), ou de ajuda. Hoje se sabe que, cada vez mais,
adquiridas (classe social, educação e idade), Burnout é investigado e constatado em empre-
de personalidade (tipo A, ansiedade, traço/ sas e instituições.
neuroticidade, lócus de controle, auto-ima-
gem, auto-estima, flexibilidade e estilo de Trata-se de uma resposta ao estresse crô-
afrontamento). nico, tendo como conseqüência o esgotamento
físico e psicológico, sentimentos de desper-
Também foram vistas as fases que, desde sonalização e frieza em relação aos demais e
Selye, caracterizam a instalação do estresse: um sentimento de inadequação às tarefas que
Fase de alarme, Fase de resistência e Fase de desenvolve, baixa auto-estima, insatisfação
esgotamento. E é nesta última fase que poderá com o trabalho, problemas de relacionamento
ocorrer o estresse crônico, com as implicações interpessoal, entre outras características.
psicofisiológicas, instalando-se a SÍNDROME DE
BURNOUT. É importante diferenciá-la de uma crise
do ciclo vital, pois tem sua maior incidência
E o que é o BURNOUT? nos profissionais jovens e influi diretamente nas
relações interpessoais da organização laboral;
Gonzáles (1995), em seus estudos sobre também é considerada como um desgaste entre
o Burnout, afirma que esta síndrome não está as necessidades do profissional e os interesses
incluída ainda nas Classificações Internacionais da empresa, em diversos âmbitos: saúde, or-
das Doenças devido à sua recenticidade, e a ganizacional, institucional e outras.
diferencia de outros transtornos, como sendo
um conjunto de sintomas vinculados aos pro- No ambiente de trabalho, comenta Yela
fissionais, em suas atividades laborais, atuando (1990), quando a organização não favorece o
sempre em contato direto com outras pessoas. necessário ajuste entre as necessidades dos
trabalhadores e os fins da instituição, estes
A mesma tece considerações sobre a podem perceber tal ambiente como ameaçador,
origem do termo Burnout, como a tendo em desencadeando os sinais precoces de Burnout,
1974, através de Freudenberger, nos Estados tais como desmotivação, falta de energia e
Unidos, e o contexto através do qual Maslach, entusiasmo; desinteresse pelos clientes, per-
em 1977, a definiu. cepção desses como frustrantes e crônicos; alto
absenteísmo e o desejo dos indivíduos deixarem
Considera que sua especificidade se a profissão por outra ocupação. Como conse-
encontra no fato de que, em se tratando de qüência desse quadro, produz-se uma redução
uma afetação emocional, seu desenvolvimen- na qualidade dos serviços prestados.
to e incidência se referem ao âmbito laboral,

Gestão e
REVISTA DO ICSA

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas Desenvolvimento 72


Temos então que o sofrimento mental, trauma narcisista, tendo como conseqüência
o estresse e as doenças psicossomáticas que a baixa auto-estima. Dentro de outra pers-
acometem profissionais advêm de uma lista pectiva, o autor coloca o fator psicossocial,
interminável de fatores que, na maioria das caracterizado pelo esgotamento emocional,
vezes, associados, desencadeiam reações de despersonalização e falta de realização no
saúde no trabalhador. A inadequação da perso- trabalho; ocorre um esgotamento da energia de
nalidade e expectativas frente ao trabalho que recursos emocionais próprios, um sentimento
realiza, aliado às pressões externas, ou seja, da de estar esgotado devido ao contato diário com
família, financeiras, questões de auto-estima, as pessoas com as quais trabalha. A desperso-
podem levar ao desenvolvimento de distúrbios nalização se caracteriza, segundo o autor, por
psíquicos. sentimentos negativos e de “frieza”, fazendo
com que haja uma rigidez afetiva, e a falta de
E vamos buscar em Freud (1930), em realização no trabalho faz com que ocorra uma
sua obra Leonardo da Vinci, uma lembrança da avaliação negativa e insatisfação laboral.
infância, a sua leitura sobre a representação
simbólica do trabalho e o seu significado para Vários modelos assinalam a Síndrome de
o ser humano: Burnout como um estado de esgotamento físi-
co, mental e emocional, resultante da tensão
(...) a atividade profissional constitui fonte de satisfação,
se for livremente escolhida, isto é, por meio da sublimação,
emocional derivada do estresse laboral crônico;
tornar possível o uso de inclinações existentes, de impulsos explicam, sim, a etiologia da síndrome como
instintivos (pulsionais) persistentes ou constitucionalmente trazendo conseqüências para o profissional e
formados. No entanto, como o caminho para a felicidade,
o trabalho não é altamente prezado pelos homens. Não para a organização em que trabalha.
se esforçam em relação a ele como o fazem em relação a
outras possibilidades de satisfação. A maioria das pessoas só
trabalha sob pressão da necessidade, e esta aversão humana
Os estudos empíricos chegaram a con-
ao trabalho suscita problemas sociais extremamente difíceis clusões semelhantes através de trabalhos,
(FREUD, 1930, p. 99).
métodos de aferição e avaliação, aplicação
de questionários e inventários para avaliar o
No mundo contemporâneo, várias ver- Burnout. Os estressores estariam combinados
tentes teóricas preocupam-se com a saúde e originados no contexto social, laboral e ca-
das instituições desde o início do século XX, racterísticas de personalidade de cada sujeito,
mostrando caminhos; novos desafios são en- estas tomadas como variáveis, tratando-se
contrados pela Psicologia e outras áreas de de um trabalho bastante complexo, pois se
estudo em que o ser humano está inserido, pode identificar determinadas características
como o diagnóstico da Síndrome de Burnout: de personalidade que tornam as pessoas mais
o esgotamento emocional, a perda da vontade vulneráveis ante os agentes estressores.
de trabalhar, a desilusão frente à tarefa laboral
que acomete muitos profissionais. As categorias estabelecidas por Peiró
fazem com que, de modo sistemático, possamos
Existem duas perspectivas no contexto acompanhar a instalação do estresse laboral
do Burnout: a Clínica, conforme os estudos de e a síndrome de quemarse; o mesmo nos traz
Peiró, a qual explica a Síndrome de Burnout que, como responsáveis por estes transtornos,
como uma experiência de esgotamento, decep- é preciso levar em conta o ambiente físico do
ção e perda de interesse pela atividade laboral, trabalho, as relações interpessoais, as quais
surgindo nos profissionais que trabalham em agregam um conjunto de expectativas que se
contato direto com pessoas diariamente. Nes- espera do profissional, os estressores relacio-
te aspecto pode aparecer fadiga emocional, nados com as novas tecnologias (as mesmas
sensação de inutilidade e impotência, falta de podem facilitar ou dificultar o desempenho das
entusiasmo pelo trabalho e a vida em geral, tarefas, pois provocam mudanças nas habilida-
baixa auto-estima. Neste enfoque, a “síndrome des, podendo afetar os sistemas cognitivos e
de quemarse por el trabajo” (Burnout) deve ser emocionais, dependendo de como o indivíduo
entendida como um estado resultante de um se ajusta ao sistema tecnológico) e às relações

Gestão e
REVISTA DO ICSA

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas Desenvolvimento 73


trabalho-família. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Importante salientar que Estresse Labo-
Os estudos de Tobal (1998) sobre a Sín- ral ou Ocupacional não é o mesmo que Síndro-
drome de Burnout, levam a um importante me de Burnout, conforme nossa leitura neste
paradigma em relação às instituições e aos pro- artigo. Encontramos quem desconsidere suas
fissionais que nelas atuam. Comenta a teoria de diferenças, mas não há na literatura de estresse
Taylor (Organização Científica do Trabalho) que, um consenso sobre a gênese das mesmas; o fato
em 1911, revolucionou o modo e a organização é que estas duas situações são ocasionadas a
do trabalho, e assim a Psicologia Aplicada ao partir de situações relacionadas ao trabalho.
Trabalho percebe conseqüências negativas no
âmbito das emoções, dos sentimentos e dos Burnout é o resultado de um prolongado
desejos, gerando estresse e evoluindo, agora, processo de tentativas de lidar com determina-
no mundo contemporâneo, para o Burnout. das condições de estresse. O estresse pode ser
visto como seu determinante, mas não coincide
Faz também uma interessante leitura com o mesmo; Burnout não é um evento, mas
sobre as demandas que ocorrem nas organiza- sim um processo e, apesar de compartilharem
ções, no sentido de que o estresse crônico se duas características – esgotamento emocional
estabelece quando as mesmas são elevadas, e escassa realização pessoal – diferem pelo
baseando-se no Modelo das demandas de Ka- fator despersonalização (uma desensibilização
rasek (1992): dirigida às pessoas com quem se trabalha,
(...) se consideran de manera conjunta las demandas
incluindo usuários, clientes e a própria organi-
laborales y la capacidad de decisión del sujeto el ámbito zação, característica do Burnout); o estresse
laboral, aumenta la posibilidad de explicar el estrés. Las ocupacional é um esgotamento diverso, que
combinaciones entre las demandas y la capacidad para
la toma de decisiones permiten entender las diferencias interfere na vida pessoal do indivíduo, além
individuales existentes tanto en las consecuencias físicas de seu trabalho.
como en las psicológicas del estrés (TOBAL, 1998, p. 116).

No Brasil, os estudos do Burnout ainda


Importante suas colocações a respeito encontram-se em fase incipiente comparados
das resistências que algumas empresas possuem aos grandes centros de estudo de estresse
em admitir e aceitar que possuem estresse e como os Estados Unidos e países da Europa;
que existem organizações “mais estressadas” necessitamos ampliar nossos estudos empí-
e “menos estressadas”, e esta variável causa ricos; trata-se de um dos grandes problemas
dificuldades na intervenção para a ajuda. biopsicossociais e conforme Carlotto (2001),
a Síndrome de Burnout tem gerado grande
A psicologia, então, neste âmbito,
interesse e preocupação, não só por parte
trabalha com a prevenção e com os efeitos
da comunidade científica internacional, mas
dos agentes estressores nos indivíduos e nas
também por entidades governamentais e em-
organizações.
presariais norte-americanas e européias, devido
à seriedade de suas conseqüências, tanto em
Pontuar aqui se faz necessário: estamos
nível individual como organizacional (absente-
muito longe de poder considerar que o estudo
ísmo e outras variáveis). Várias propostas têm
do estresse laboral esteja consolidado. Enten-
surgido já a partir de resultados obtidos aqui
demos que o “mundo” empresarial, através
no Brasil: abordagens individuais, mudanças na
da negação de transtorno de estresse em suas
organização do trabalho e revisão de valores e
organizações, está querendo dizer, na realida-
estratégias organizacionais.
de, que
(...) muchos colectivos non están dispostos a aceptar que Temos, então, que o resgate dos valores
tienen estrés; para muchos aceptarlo poderla ser conside- humanos no trabalho é fundamental. O signi-
rado como un signo de debilidad personal y en un mundo
altamente competitivo aceptar que se sufre de estrés puede
ficado e o reconhecimento do trabalho e suas
ser peligroso (TOBAL, 1998, p 127). formas de recompensa, o sentimento de escolha
sobre o mesmo, aliado ao senso de comunidade,

Gestão e
REVISTA DO ICSA

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas Desenvolvimento 74


justiça e futuro melhor, com mais qualidade e FREUD, Sigmund. O mal estar na civilização.
equilíbrio. In: Obras Psicológicas Completas. Rio de
Janeiro, v.21. Imago, 1974.
E ainda: o estresse laboral não se mani-
festará se houver uma preocupação com a hu- GONZALES, B. El síndrome de “Burnout”
manização e cuidados com a integridade física (quemado) o del cuidador descuidado. Ma-
e mental do ser humano, pois, do ponto de vista drid: Ayntamiento de Madrid, 1995.
psicológico, a motivação e a satisfação laboral
são elementos indispensáveis para a saúde men- LABRADOR, Francisco. y CRESPO, Maria.
tal do indivíduo inserido no mundo do trabalho. Estrés, transtornos psicofisiológicos. Madrid:
E, seguindo o pensamento de Dejours, podemos Eudema, 1993.
concluir que o verdadeiro sentido do trabalho
faz com que o homem encontre significado e MARTY, Pierre. A psicossomática do adulto.
razão para viver, quando se configura como ex- Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
periência saudável, necessário à sobrevivência
e permeado pela motivação, fazendo parte da PEIRÓ, José. Maria. y GIL-MONTE, P. Desgaste
construção de sua identidade; assim estará psíquico en el trabajo: el síndrome de que-
inserido num paradigma positivo, não gerando marse. Madrid: Síntesis, 1995.
estresse, mas proporcionando a satisfação psí-
quica do trabalhador em seu cotidiano laboral SELYE, Hans. The Physiology and Pathology
e de suas relações humanas. of exposure to stress. Canadá: Acta. Inc.
Medical Publishers, 1950.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS TOBAL, Miguel. El estrés laboral: bases
CARLOTTO, Maria S. Síndrome de Burnout:
teoricas y marco de intervención. Madrid:
um tipo de estresse ocupacional. Canoas:
Universidad Computelense de Madrid, 1998.
Ulbra, 2001.
YELA, José. Estrés, “Burnout” (desgaste
DEJOURS, Cristophe. A loucura do trabalho:
profisional) y estratégias de afrontamiento.
estudo da psicopatologia do trabalho. São
Madrid: Asoc. Esp. Neuropsiquiatria La Co-
Paulo: Atlas, 1994.
ruña, 1990.
FINATO, Maria Helena. Aspectos psicológi-
cos do paciente cirúrgico coronariano e o
papel das emoções na etiologia da doença.
São Paulo: Revista da Associação Brasileira de
Psicossomática, 2001.

Gestão e
REVISTA DO ICSA

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas Desenvolvimento 75

Vous aimerez peut-être aussi