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Resumo
Abstract
In Brazil, Primary Atention in Health is developed through the Health Family Strategy (HFS)
in which the focus of Health care must be the family understood in its social insertion in the
environment where it lives.This article intended to reflect about the Home Visit (HV) as a
privileged moment on health education in the search of integral care. We selected the
ethnografic report of a daily field referring to a research developed together with the teams
(groups) of a Health Family Unity, that puts into evidence important questions to the
organization of HFS in the perspective of integral care. We observed that HV can provoke
the share action team-family in a sense of searching for assistence actions in the perspective
of a shared and enlarged clinic. The HV has the potential of identify and make emerge
demand for health promotion, convoke for the enlargement of clinical action of the
professional in the health on the search for partnerships to intersectorial actions, what
demands to think and develop strategies to support the services and actions of these
professionals.
Metodologia
24 de agosto, 08:15h.
Sexta-feira. Ao chegar à Unidade encontro o médico se organizando para ir
fazer suas visitas domiciliares e eu sugiro acompanhá-lo. É o mesmo que participa
do grupo “Conviver para Melhor Viver”. Então, fomos aos domicílios, previamente
agendados pelas três ACS que nos acompanharam. Também nos acompanhou uma
residente de enfermagem. Iniciamos em uma residência de uma senhora de 84 anos
que tinha se submetido a uma mastectomia. Segundo seu relato, ela já havia sido
submetida a uma cirurgia conservadora na mesma mama, há uns onze anos. O
médico pede para ver os exames laboratoriais e ela não havia feito por dificuldades
em agendar no SUS e também na rede privada. A cuidadora relata que o funcionário
do laboratório teve receio em fazer o procedimento, alegando o estado febril da
paciente. No momento da visita ela apresentava pressão arterial alterada e o médico
perguntou se ela estava medicada e ela respondeu que não. Então, a ACS sugere que
ela faça o monitoramento da pressão no posto para fechar o diagnóstico e ser
medicada. O médico orienta sobre a necessidade de fazer os exames. Na mesma
visita, o médico atendeu às solicitações de alguns familiares acerca de fichas de
referências.
Visitamos outra usuária de 83 anos, lúcida, com problemas articulares crônicos
e diabetes. O médico, sempre iniciando sua abordagem perguntando o motivo da
solicitação da visita, verificou a pressão arterial e constatou alteração. Daí pediu
para ver a medicação prescrita. A usuária mostra o medicamento e se queixa de
alguns efeitos colaterais. Então a conversa é focada na alimentação e nos cuidados
que ela poderia ter para dirimir os desconfortos. A paciente, apesar de já ter
recebido diversas orientações acerca do consumo de açúcar, informa que nem
sempre consegue resistir. Pareceu ser uma pessoa esclarecida quanto aos seus
direitos perante o sistema de saúde público, ao se queixar da morosidade nos
agendamentos das fichas de referências. Ao sairmos da casa dela o médico me faz a
seguinte pergunta: você acha que o ACS tem a obrigação de gostar de todos os
pacientes que visita? A pergunta me pegou um pouco de surpresa porque eu havia
gostado bastante da postura das ACS na visita e então respondi: obrigação de gostar
nenhum profissional tem, mas, atender bem, sim. Ele concordou comigo e justificou
a pergunta dizendo que a ACS se queixava das visitas que realizava àquela senhora
porque ela tinha sempre uma insatisfação a relatar perante o acompanhamento da
equipe.
Visitamos um acamado diabético de 74 anos, vítima de Acidente Vascular
Cerebral (AVC). A esposa dele informa que, mesmo após o AVC, seu esposo se
locomovia, mesmo com dificuldade, e falava. No entanto, após a última internação,
decorrente de uma pneumonia, ele se encontrava em estado de total dependência
dela até para mudar de posição na cama. Ela reclamou do mau atendimento
recebido no hospital e afirmou que isso fez com que ela o trouxesse de volta para
casa, fato que gerou críticas dos familiares. Observei que o usuário apresentava
escaras profundas. A residente realizou a higienização e curativos, apesar de não
dispor do material mais indicado para o procedimento. O médico sugeriu a
aquisição de um colchão apropriado e o material para os curativos. Enquanto isso, a
ACS conversava com a esposa do paciente a respeito da saúde dela. A mesma havia
tido episódios de desmaios e responde que não tem mais tempo para se cuidar. A
ACS faz algumas orientações acerca do cuidado da mulher consigo própria para ter
condições de cuidar do esposo. O médico me chama a um canto da sala e sugere
que eu converse com a cuidadora para poder ajudá-lo na abordagem do problema
que estava identificando. Na conversa com ela fico sabendo que moram oito
pessoas na casa e sua filha de trinta anos tem deficiência mental. Deu para perceber
durante a conversa o alto nível de estresse da cuidadora, ocasionado pela situação
de adoecimento do esposo e pelo problema gerado no meio familiar. No momento
em que estávamos em sua casa, ela demonstrou, através de atitudes rudes com a
filha com deficiência, o quanto estava sofrida e afetada com aquela situação. Ao
sairmos dessa visita, o médico demonstrou sua preocupação com o estado de saúde
mental da mulher e se queixou da falta de apoio dos profissionais da saúde mental e
o quanto se sentia impotente diante de uma situação dessas.
Na residência seguinte, visitamos uma senhora de 72 anos, que apresenta
hipertensão e depressão. O médico pergunta se ela está fazendo as caminhadas que
ele recomendou e ela responde que não. Então eu pergunto se ela participa do grupo
“Conviver para Melhor Viver” e ela diz que já participou, mas não participa mais
porque tem que cuidar dos netos para os pais poderem trabalhar. O esposo dela
entra na conversa e diz que também não pode participar porque tem que levar os
netos para a escola e para as demais atividades.
Ao entrarmos na quinta residência, encontramos uma mulher acamada
parecendo ter mais de 70 anos e com diagnóstico de Alzheimer há dois anos. Uma
situação bastante delicada no que diz respeito aos cuidados. Ela apresentava escaras
extensas e profundas e um odor fétido. O médico perguntou se ela havia recebido a
visita da enfermeira. A cuidadora, que é uma ex-nora da paciente, responde que
não. Uma das ACS faz umas fotografias das escaras para ilustrar o pedido de
material especializado para esse tipo de curativo. O médico fala para a ACS
solicitar a visita do fisioterapeuta do NASF.
Após essas cinco visitas, eu me despeço da equipe e o médico diz que ainda
fará mais duas visitas. Apesar de fazer parte de uma equipe de saúde da família, eu
ainda não havia vivenciado o processo de trabalho do médico, haja vista a minha
equipe não ter este profissional. Essa vivência me aproximou mais ainda do
sofrimento das pessoas e me fez refletir sobre como é frustrante para um
profissional consciente de sua responsabilidade social encarar aquelas situações de
sofrimento. O sentimento de impotência mediante uma prática limitada pela
ausência de políticas públicas que apoiem o seu trabalho é muito grande. Saí
daquelas visitas com o coração apertado e a cabeça fervilhando. O médico percebeu
que eu tinha ficado bastante afetada pelas situações encontradas e falou que, apesar
dos anos de trabalho, ainda se sentia bastante incomodado com o que se deparava
nas visitas, apesar de fazer parte de seu cotidiano de trabalho. Falou do quanto era
estressante se deparar com aquelas situações e não poder fazer muita coisa. Aos
nossos olhos seriam atitudes paliativas.
Discussão
Conclusão
Referencias
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