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RECAPITULANDO...

“O LEITOR DE GRAMSCI”,
DE CARLOS NELSON COUTINHO
Esta antologia foi concebida com o objetivo de facilitar uma primeira aproximação deste leitor iniciante a obra de
Gramsci. Ela concentra uma série de escritos de Antonio Gramsci, filósofo marxista e um dos intelectuais do
pensamento social italiano. O livro é dividido em duas partes: na primeira, contém alguns dos textos considerados
mais significativos das principais etapas da evolução de Gramsci antes de sua prisão; na segunda, mais ampla,
reúne uma coleção de notas contidas dos famosos “cadernos do cárcere”.

“Contra o pessimismo da razão, o otimismo da prática.” – Antonio Gramsci

● QUEM É O AUTOR​.……………………………………………………………….…………….

Jornalista e filósofo, Antonio Gramsci nasceu na região periférica da Itália, colonizada pelo norte do país.
que deu valiosas contribuições e atualizações à teoria marxista (uma vez que podemos caracterizá-lo como
um autor que se coloca em uma posição de renovação e conservação em relação à Marx). Foi um escritor
notável e político atuante que passou mais de 10 anos por suas ideias contrárias ao regime fascista de
Mussolini.

Outra questão singular é o fato de que sua obra tem como tema a observação e estudo dos fenômenos
superestruturais, da política, da cultura, e do sistema de valores no contexto de uma ordem capitalista. Em
suma, pode-se dizer que ele contribui de maneira relevante na crítica ontológica de outras esferas do ser
social que não especificamente a esfera econômica. Gramsci desenvolveu esta área relativamente
negligenciada pela teoria marxista. Porém, não se pode esquecer que o conceito de hegemonia ideológica
gramsciana também abrange a esfera econômica.

A originalidade de Gramsci repousa, dentre outros aspectos, no fato de que ele foi o primeiro intelectual a
aplicar o conceito de hegemonia também à burguesia, ou seja, ​aos mecanismos de exercício da
hegemonia das classes dominantes​. Segundo Gramsci, as relações capitalistas de produção podem ser
mantidas sob condições democráticas e, consequentemente, ​a exploração pode ser mantida com o
consentimento dos explorados​. É partindo dessas afirmações que Gramsci desenvolve o conceito de
hegemonia, que emerge basicamente enquanto capacidade de entender os problemas reais do homem e de
não limitar-se a uma expectativa passiva das conseqüências decorrentes das leis gerais que governam o
capitalismo, sendo assim uma chave na leitura e na análise de processos históricos.

● CONTEXTO HISTÓRICO​………………………………………………………………….…….

Antonio Gramsci experimentou diretamente e sob um enorme custo pessoal o colapso da democracia e o
estabelecimento de um estado absoluto na Itália. Gramsci viveu no país num momento de muitas
dificuldades para aqueles que pretendiam que o socialismo vencesse. São os fascistas que chegam ao poder,
em 1922, com a nomeação de Mussolini para a chefia de gabinete. Em 1924, o filósofo é eleito deputado
pelo distrito de Vêneto. Mas, dois anos depois, mesmo tendo imunidade parlamentar, Gramsci e outros
deputados comunistas foram presos. Daí até a sua morte em 1937, Gramsci viveu no cárcere. Mas nem a
prisão, conseguiu deter o ímpeto revolucionário deste grande intelectual italiano. O promotor de um dos
processos instaurados contra Gramsci, Michele Isgro, reconhece a sua grande capacidade intelectual,
quando afirmou: “Devemos impedir esse cérebro funcionar durante vinte anos”. Mas, Gramsci, com todas
as dificuldades que enfrentou - inclusive tendo várias crises que abalaram profundamente sua saúde –
conseguiu escrever 21 cadernos, que foram denominados “Cadernos do Cárcere”.

Antonio Gramsci nos interpela ainda nos dias atuais pois é um autor que fala das margens, do meridional.
Nos seus escritos o italiano tem uma preocupação muito grande de buscar o elemento periférico e construir
uma localização política e social desse sujeito. E o sujeito periférico hoje se traduz na questão das
mulheres, dos negros, indígenas, das favelas socialmente e culturalmente falando. Então, apesar do tempo,
o pensamento de Gramsci manteve uma atualidade impressionante porque quando esses grupos subalternos
procuram uma identidade, uma construção de uma consciência coletiva, eles encontram em Gramsci
ferramentas muito úteis e poderosas para viabilizar isso.

● PROPOSTA FILOSÓFICA​……………………………………………………………….……….

No projeto filosófico de Gramsci o que está em pauta é a emancipação universal de toda a humanidade e,
portanto, a necessidade de nós construirmos, de preferência pelo ​consenso​, esta visão que pudesse
assegurar a todas as pessoas mais autonomia, realização e um maior índice de humanização.

A grande proposição de Gramsci era o que ele mesmo chamava de ​filosofia de práxis​, que buscava aplicar
o pensamento marxista na construção de uma nova sociedade europeia. Nessa busca, Gramsci tentou
expurgar do marxismo um certo mecanicismo e impregna-lo de mais humanismo. A visão da filosofia da
práxis de Gramsci é uma visão universalista, que transcende os limites de cada sociedade histórica
particular. Trata-se de uma proposta de construção de uma civilização cosmopolita, ou seja: as condições
de humanização precisam ser válidas para todos os homens independentemente de todas as suas diferenças
e particularidades. Nenhuma diferença deve justificar qualquer tipo de desigualdade.

● TESE CENTRAL​………………………………………………………………………………..….

Gramsci preocupou-se com a unificação da classe operária e também focou-se na questão da aliança
operário-camponesa, no problema da unificação das classes exploradas e oprimidas sob o capitalismo. Em
sua teoria, a separação entre “sociedade política” e “sociedade civil” é um procedimento metodológico que
permite localizar os níveis de relação de forças na sociedade.

Uma questão fundamental para Gramsci trata‑se de compreender as funções organizativas e conectivas que
os intelectuais desenvolvem, de forma peculiar e historicamente determinada, nos processos de produção
da hegemonia. A questão do intelectual é tratada por Gramsci no interior do conjunto das relações sociais
da sociedade de classes e se define pela conservação ou a construção de projetos hegemônicos.

A teoria da história que Gramsci desenvolveu nos ​Cadernos do Cárcere nada tinha de esquemática ou
linear, assim como sua concepção de classe social. A noção de subalterno pode parecer demasiadamente
elástica, mas é fato que a questão meridional italiana já ganhava uma nova complexidade, assim como a
própria noção do meridionalismo já se ampliava para a zona colonial do imperialismo. A questão da
unificação das classes subalternas italianas é uma questão nacional, mas, ao mesmo o tempo, é um tema de
unificação das classes subalternas de todo o mundo, uma questão de unificação do gênero humano.
Gramsci estuda os subalternos mediante três tipos de abordagem: o desenvolvimento de uma metodologia
de historiografia subalterna; a produção em si de uma história das classes subalternas; a elaboração de uma
estratégia política de transformação apoiada no desenvolvimento histórico e na existência dos subalternos.

O que Gramsci faz é, ao fim das contas, aprofundar e desenvolver a fórmula política da frente única e da
aliança operário-camponesa, com as quais trabalhava no momento da prisão. Somente uma coalizão do
conjunto das classes subalternas, orientadas pela classe operária e seus intelectuais orgânicos, poderia se
constituir em força antagônica e alternativa ao capitalismo. Assim, o conjunto das classes subalternas,
negando sua condição por meio de uma reforma moral e intelectual, com sua associação de vontades,
transformar-se-ia em uma nova sociedade civil (e em um novo Estado), materializando uma nova
hegemonia. Quando fala de nova sociedade civil e de novo Estado, Gramsci supõe o Estado operário, o
Estado socialista. Esse Estado é obra do conjunto dos grupos sociais que se emanciparam da subalternidade
e alcançaram o estatuto de construtores de uma nova civilização.

As principais ideias de Gramsci poderiam ser resumidas, portanto, em:

1)​ ​Teoria da hegemonia cultural.


Marx previa que as desvantagens econômicas e as desigualdades do sistema capitalista seriam, por si só, as
sementes da revolução comunista que incitariam o proletariado a tomar o poder da burguesia. Na realidade,
porém, a classe proletária não se rebeleva e cada vez mais o capitalismo se consolidava como o sistema
social dominante ao redor do mundo. Para explicar esse fenômeno, Gramsci desviou o focou dos aspectos
político-econômicos da estrutura capitalista e passou a estudar o impacto de uma dominação ideológica de
uma classe sobre a outra: a chamada hegemonia cultural. De acordo com Gramsci quase nunca é possível o
domínio bruto de uma classe sobre as demais a não ser nas ditaduras e regimes totalitários. Ao estudar os
mecanismos de construção dessa hegemonia, o filósofo chega a um conceito que é fundamental na sua
teoria política: o conceito de ​estado ampliado.​ Segundo ele, o Estado ia além das definições mecanicistas
do próprio marxismo: o Estado não é um puro instrumento de força a serviço da classe dominante, mas
uma força revestida de consenso (coerção acompanhada de hegemonia). Essas coerções ideológicas
chegariam ao ponto em que até mesmo o proletariado (principal elemento que compõem as classes
dominadas) agiria como defensor da ideologia hegemônica e do próprio sistema capitalista. Dessa forma, o
Estado hegemônico demonstra detenção de poder nas esferas política, econômica, social e cultural. Para
Gramsci, o aparelho de domínio que favorece a ideologia hegemônica engloba não só aparatos violentos e
de repressão, como a polícia e os órgãos militares, mas também instituições como as igrejas, as escolas, os
sindicatos e especialmente a comunicação social. Gramsci afirmava que a comunicação social teria um
papel de destaque nessa teoria já que os meios de comunicação seriam parte fundamental dos processos de
construção de significados culturais e informacionais da população. E os jornais, ao darem visibilidade
apenas a certas ideias e acontecimentos (sendo a maioria alinhada aos valores e ideologias
norte-americanos), estariam trabalhando a favor do processo de sustentação e amplificação da ideologia
dominante. Ainda que o poder desses grandes veículos de comunicação seja enorme e de alcance
fortíssimo, não se deve afirmar que os receptores de todas essas informações sejam totalmente passivos. Há
resistência às ideologias dominantes e se dá por meio de várias maneiras, como, por exemplo, a imprensa
alternativa.

2)​ ​Teoria do Estado Ampliado


Para Gramsci o Estado não é formado só pelo governo, ele é formado em duas instâncias: ​sociedade
política (governo: aparelho repressivo do Estado, coloca as leis em prática e exerce todo domínio sobre a
população) e ​sociedade civil (instituições: partidos políticos, mídia, religiões e sindicatos). A Teoria do
Estado Ampliado, portanto, é a junção da sociedade política e da sociedade civil pois, na perspectiva do
Gramsci, a sociedade civil também interfere na construção da sociedade política. Então o Estado não é só o
“Governo que manda”, mas o complexo jogo exercido pelas instituições sociais e os aparelhos repressivos
do Estado. Dentro do pensamento do filósofo, a sociedade civil precisa vencer a hegemonia do Estado, não
no campo da luta, como propunha Marx, mas sim no campo das ideias, dentro de suas instituições.

● CONCEITOS GERAIS​………………………………………….………...……………………….

➢ Hegemonia: ​a noção de hegemonia para Gramsci é a maneira como o poder é exercido. Ocorre
quando um grupo ou um conjunto de grupos da sociedade organizados em associações ou partidos
conseguem exercer influência o suficiente sobre outras pessoas a ponto de direcioná-las. A
natureza dessa influência, porém, não é nem um pouco física, mas sim de ordem moral e
intelectual. Também não é uma ação partidária, mas sim de classe. Segundo Gramsci, “toda relação
de hegemonia é necessariamente uma relação pedagógica”, isto é, de aprendizado, pois a conquista
da dominação é feita no sentido do consentimento e da busca do convencimento, não da
manipulação. Ou seja, é necessário primeiro conquistar as mentes, depois o poder.
➢ Sociedade civil: é o terreno da luta de ​hegemonias que compreende instituições de legitimação do
poder do Estado, como a Igreja, a escola, a família, os sindicatos e os meios de comunicação.
Gramsci vê nessas instituições a possibilidade do início das transformações, por intermédio do
surgimento de uma nova mentalidade ligada às classes dominadas.
➢ Domínio: é o que possibilita a relação de superioridade hegemônica de uma classe social
sobre o conjunto da sociedade. O domínio se caracteriza por dois elementos:
○ Força: há a tripartição da relação de força. Segundo Gramsci ela é exercida pelas
instituições ​políticas​ e jurídicas; pelo controle do aparato ​policial-militar;​ e pelo ​social​.
○ Consenso: diz respeito sobretudo à organização da cultura através da ​hegemonia​; consiste
em uma liderança ideológica conquistada entre a maioria da sociedade e é formada por um
conjunto de valores morais e regras de comportamento. Trata-se do consenso “espontâneo”
(obs. todo consenso possui algum nível de coerção) dado pelas grandes massas da
população à orientação impressa pelo grupo fundamental dominante à vida social. Um
consenso que nasce “historicamente” do prestígio (e, portanto, da confiança) obtida pelo
grupo dominante por causa de sua posição e de sua função no mundo da produção).
➢ Coerção: ​é um elemento constitutivo do ​consenso na medida em que qualquer ruptura deste traz à
tona os mecanismos de coerção – mecanismos estes que são intrínsecos a todas as esferas da vida
social e permanecem latentes enquanto o consenso se mostrar suficiente para manter a reprodução
das relações sociais. A coerção é o elemento latente, inerente ao consenso.
➢ Sujeito: no sentido gramatical da palavra, é o operador dos grupos.
○ Intelectual coletivo: ​instituições e organizações operadas por um conjunto de seres
humanos (​intelectuais orgânicos​), constituindo assim um posicionamento coletivo.
○ Intelectual orgânico: Gramsci os chama de “orgânicos” porque estão emersos do seio da
própria classe e atuam historicamente em razão dos interesses da classe da qual se
originaram. O italiano considera que a filosofia, a arte, a poesia, a linguagem, a política e
toda atividade produzida no âmbito da mente humana são, diferentemente do que muitos
pensam, práticas as quais qualquer um pode se dedicar (para ele, ​todos os homens são
filósofos p​ orque todos orientam suas vidas a partir de um ponto de vista, de uma ​visão de
mundo​). Afinal, todos nós pensamos e, portanto, somos capazes de desenvolver ideias. A
diferença é que algumas pessoas tem a função específica de trabalhar com ideias,
elaborando-as e produzindo-as. Esse ofício, porém, não está limitado apenas a professores,
escritores ou artistas, mas também envolve médicos, engenheiros ou qualquer outra
profissão em que a racionalização seja necessária. Essas pessoas são as responsáveis por
produzirem e disseminarem a informação e, consequentemente, têm impacto direto em
qualquer disputa por ​hegemonia cultural que esteja acontecendo dentro de uma sociedade.
Gramsci joga luz, portanto, sobre a importância dos “produtores de conteúdo” possuírem
consciência das mensagens que transmitem para o mundo. São elas, afinal, que permitem
as mudanças que desejamos que ocorram. Não há dicotomia entre o pensamento puramente
teórico (subjetivo) e a prática concreta (objetiva). Por isso ele fala em ​práxis,​ que é a
prática formada pelo conhecimento, pela reflexão. Ou seja: o intelectual não vem
necessariamente de fora da classe trabalhadora, é ​ele o pensador. Podem ser da ​classe
dirigente​ ou da ​classe subalterna​.
➢ Práxis:​ o filósofo designa a prática humana como ​práxis justamente por ser uma prática que é
pensada, que é refletida. Não é uma prática mecânica ou instintiva, mas é um agir que ocorre
exatamente em função de um significado, de um sentido que é teoricamente produzido pelo
exercício da nossa subjetividade.
➢ Linguagem é poder: s​e todos os homens são intelectuais, sua principal ferramenta é, portanto, a
língua. É com ela que ele é capaz de transmitir suas ideias e sentimentos para o mundo. A
linguagem não é só essencial para fazer-se entender perante o mundo como, mais importante ainda,
é fundamental para que tenhamos capacidade de nos entender. É por isso que, para Gramsci, um
léxico claro e preciso era uma das maiores armas na luta pela ​hegemonia cultural​. Linguista de
formação, o filósofo dedicou grande parte das páginas de seus Cadernos do Cárcere para produzir e
desenvolver um vocabulário certeiro das áreas da política, economia e filosofia. Uma das
preocupações de Gramsci é fazer com a que a linguagem filosófica, política, econômica, seja
traduzida para o meio comum e para os diversos ambientes sociais. Para ele, é preciso fazer uma
adaptação, fazer uma tradução para que as pessoas que não são especialistas possam se apropriar
dos conceitos e das perspectivas teóricas.
➢ Visões de mundo: orientam ética e politicamente a vida das pessoas. São operativas pois
organizam as relações; guiam as condutas; podem ser coniventes com a ​hegemonia das
classes dirigentes ou das classes populares. O ​consenso​ forma as visões de mundo.
○ Senso comum: não é coerente. Geralmente é desarticulado, episódico e contraditório. São
conceitos desagregados, vindos de fora e impregnados de equívocos decorrentes da religião
e do folclore. Para Gramsci, todo senso comum traz em seu seio um núcleo de ​bom senso
porque tudo aquilo que falamos ou praticamos no âmbito do senso comum é atravessado
por alguma significação mesmo que essa significação não seja explicitada conscientemente
pelo sujeito. Para o italiano a educação deve elevar as pessoas do senso comum para o ​bom
senso​.
○ Bom senso: é a capacidade de entendimento da realidade, do conhecimento dos requisitos
da ação de tal modo que o agir do homem tanto no âmbito individual quanto no coletivo
seja esclarecido pela consciência filosófica. A tarefa que cabe à educação, portanto, é
suscitar o bom senso, a consciência filosófica e, consequente, o exercício da reflexão
crítica.
➢ Ideologia: para Gramsci, quando uma ideologia é construída a partir do ​consenso e das posições,
sentimentos e interesses de todos os membros da sociedade, temos, segundo o filósofo, uma
ideologia orgânica (orgânicas porque tocam o senso prático comum e cotidiano e “organizam as
massas e criam o terreno sobre o qual os homens se movem, adquirem consciência de sua posição,
luta etc.”). Por outro lado, se a ideologia é construída de forma mais artificial, temos uma ​ideologia
arbitrária (isso acontece, por exemplo, quando um partido político com intenção de dominar uma
sociedade elabora um programa ideológico a partir de um conjunto de conceitos e valores e impõe
àquela sociedade).
➢ Contra-ideologia: Gramsci insiste que uma das tarefas da educação é fazer as pessoas
compartilharem a ​ideologia para assegurar a participação de todos os membros dessa sociedade na
formação social, mas, por outro lado, o sistema educacional também deve promover a crítica
desses valores e conceitos quando estes estiverem prejudicando a ação histórica dessa sociedade,
construindo assim a contra-ideologia.
➢ Supremacia: há em Gramsci um contraste entre dois tipos ideais de supremacia.
○ Dominação:​ é o exercício de poder sem uma permissão crítica do governado.
○ Hegemonia ética:​ uma liderança moral e intelectual sobre o governado .
➢ Bloco histórico: o que “lidera” em um período de ​hegemonia não é mais a “classe dominante” da
linguagem tradicional, mas um bloco histórico. Tal conceito teria um caráter revolucionário devido
à sua ênfase na unidade e na coerência das ordens político e social. Gramsci utiliza o conceito no
sentido conjuntural. Isto é: o bloco histórico tem para ele a noção de articulação entre infraestrutura
e ​superestrutura​. Nota-se assim, mais uma vez, que para Gramsci a sociedade se apresenta como
uma totalidade que deve ser abordada em todos os seus níveis. (Obs. Cumpre oportuno ressaltar
que um bloco histórico não pode existir sem uma classe social hegemônica. Ou seja, em uma
situação na qual uma classe hegemônica é a classe dominante em um determinado país ou
formação social, o Estado – entendido aqui em seu sentido “ampliado” – mantém a coesão e a
unidade dentro do bloco mediante a difusão de uma cultura comum. Por outro lado, um novo bloco
se forma quando uma ​classe subalterna estabelece sua ​hegemonia sobre os outros grupos
subordinados. Este processo requer um intensivo diálogo entre os líderes e os seguidores dentro de
uma classe que aspira a ​hegemonia​, o que remete ao papel dos intelectuais no raciocínio de
Gramsci.)
➢ Relações de força: ​De maneira geral, o conceito de ​bloco histórico diz respeito àquelas situações
nas quais há um alto grau de congruência política entre três tipos de relações de forças. A primeira
relação de força diz respeito ao nível estrutural ou material – por exemplo, o nível das forças de
produção​. A segunda relação de força é ​política e se encontra relacionada ao desenvolvimento das
classes e de seu nível de consciência política. Por fim, a terceira relação de força é ​militar​, dizendo
respeito tanto ao uso doméstico do poder militar quanto às forças militares geopolíticas que
configuram o desenvolvimento de uma sociedade particular.
➢ Revolução passiva: imposta do alto, descreve os processos a partir de cima, que neutralizam a
iniciativa das massas, mas têm conteúdo progressivo.
➢ Subalterno: os grupos subalternos são formados pelo conjunto das massas dominadas, mas sem
possuir agregação de classe. Eles não estão necessariamente unificados em classes sociais, pois,
para que isso ocorresse, deveriam possuir formações, agregados próprios que interviessem
politicamente na relação de forças sociais vigente em determinada formação social. Não há dúvida
de que a perspectiva universalizante de Gramsci sugere, mesmo para o capitalismo contemporâneo,
uma ampliação e diversificação do conceito de subalterno (o italiano parte do camponês meridional
como pressuposto, mas poderíamos ir adiante, no mundo colonial e pós colonial, citando o
migrante, o refugiado etc.). Afinal, subalterno, do ponto de vista etimológico, significa apenas o
outro inferior ou inferiorizado. A vida fragmentada das classes subalternas era vista por Gramsci
como uma característica da própria situação social em que se encontram esses agrupamentos,
submetidos à exploração e à opressão. Mas essa condição deve ser superada historicamente, pois à
medida que essas classes deixam de ser subalternas e passam a disputar a ​hegemonia​, ganham
organicidade e a perspectiva da totalidade. As classes subalternas eram um universo muito amplo e
complexo. Dar-se conta dessa realidade era imprescindível a fim de se realizar uma política
revolucionária capaz de unificar esses grupos e elevá-los culturalmente a um nível superior de
consciência crítica.
➢ Emancipação do subalterno: supõe que a unificação passe também pela ​emancipação cultural​,
pela percepção de que o econômico, o político e o filosófico são expressões de uma mesma
realidade em movimento. A emancipação do subalterno passa pela construção de um novo ​bloco
histórico e, como constitutivo desse processo, de uma reforma moral e intelectual (uma revolução
cultural gerada na auto-educação das massas). Eis a razão da grande importância do estudo do
folclore​, da ​religiosidade​, do ​senso comum​, das formas de organização das ​classes subalternas​. É o
socrático “conhece-te a ti mesmo” como condição da transformação. Um movimento de
emancipação só pode partir da autonomia das massas, da cisão com a classe dominante.
➢ Espírito popular criativo: ​são ​impulsos de rebeldia dos dominados. Na perspectiva de negação da
subalternidade, demanda necessariamente uma reforma moral e intelectual de largo alcance, no
sentido da recomposição de toda a vida material e cultural. Esse movimento histórico só se torna
possível desde que as classes subalternas gerem um grupo de ​intelectuais orgânicos​. Desse modo,
fica evidente que não se pode pensar a condição subalterna e a luta por sua ​emancipação dissociada
dos grupos ​intelectuais​.
➢ Folclore: ​forma como o pensador designa tradições que perderam o significado mas continuam se
perpetuando. Para Gramsci, o folclore é composto pela ​concepção de mundo e de vida das classes
subalternas, é a cultura popular. No folclore, aparecem espontaneamente momentos de autonomia e
de antagonismo dos grupos sociais ​subalternos​. Longe de ser um universo fixo e estéril, o folclore é
apresentado como um universo de representações ideológicas no qual a ​religião​, a moral, a ciência
e a filosofia se estratificam e se misturam, ganhando formas diversas e móveis de dominação e de
imposição da ​subalternidade​. Esse conjunto de manifestações “espontâneas” da filosofia – sistema
de crenças, opiniões, modos de ver e agir – se condensariam no folclore. Mas Gramsci não deixa de
notar a presença do “espírito popular criativo” (criações culturais espontâneas) que podem ser
elementos de negação da ​subalternidade​.
➢ Religião: a religião é outro elemento conectado com o ​folclore (e com o ​senso comum​),
particularmente por configurar uma moral. Gramsci também sugere que, frente à filosofia da
práxis​, toda a religião e toda a filosofia das classes dirigentes e de seus ​intelectuais podem ser
encaradas como folclore, como camadas culturais de um tempo que deverá ser passado.
➢ Meridionalismo: ​uma das matrizes da formação cultural de Gramsci é o meridionalismo, uma
concepção político-cultural difusa e multifacetada exatamente por perceber no campesinato
meridional um potencial voltado para a transformação social. No pós-guerra, por meio de jovens
intelectuais que travam contato com o mundo operário, começa a se formar um novo
meridionalismo, de caráter revolucionário, que indica no campesinato meridional uma força social
propulsora de mudanças indispensáveis. A questão meridional é então, de fato, uma questão
internacional. A reflexão de Gramsci, na mesma medida que particulariza/nacionaliza a questão
meridional italiana, a internacionaliza. A unificação das ​classes subalternas da Itália, contudo, deve
unificar a classe operária dentro de uma perspectiva política e cultural que reconheça a necessidade
da aliança com o campesinato, num contexto internacional de atualidade da revolução socialista.
➢ Organização da cultura: ​se dá na sociedade civil. É operada por ​intelectuais orgânicos e vai se
expressar nas ​visões de mundo​.
➢ Estrutura-superestrutura: ​caracterização do movimento histórico calcada, sobretudo, na ideia de
relações de força ou, em última análise, política. A relação estrutura-superestrutura evolui, na
análise dialética de Gramsci, para diferentes momentos de ​relação de forças​, num quadro de
desenvolvimento de determinada formação social. Porém, o filósofo sugeriu que não se falasse
mais em “estrutura” e “superestrutura”, mas apenas em “processo histórico”, do qual todos os
fatores fariam parte. A estrutura-superestrutura se converteria, então, na dialética entre forças
subjetivas e objetivas. Gramsci transforma, assim, a dicotomia “estrutura-superestrutura” em um
campo de relações de forças políticas.
➢ Guerra de posições: dois tipos de luta no campo das artes e das ciências políticas. O que
realmente conta em uma guerra de posições não são as “trincheiras da linha de frente” do
inimigo, mas “todo o sistema organizacional e industrial do território que se estende por trás
do exército em campo”, isto é: toda a estrutura da sociedade. É evidente que Gramsci prevê a
substituição da “guerra de posições" pela “guerra de manobras” na medida em que, de um
país ao outro, o Ocidente se torna cada vez mais um campo político moderno (aqui o
Ocidente deixa de ser uma identificação puramente geográfica e passa a representar um novo
terreno da política, criado por formas emergentes de estado e sociedade civil e relações novas
e mais complexas entre eles).
○ Guerra de posições: ​deve ser conduzida de forma demorada, envolvendo várias frentes de
luta; onde raramente se consegue abrir um único caminho que garanta a vitória definitiva
na guerra “num piscar de olhos”, de acordo com Gramsci.
Guerra de manobras: onde tudo se condensa em uma única frente e um único momento
de luta e há uma única ruptura estratégica nas “defesas do inimigo” que, uma vez
alcançada, possibilita as novas forças “invadir e obter uma vitória (estratégica) definitiva”.
● COM QUEM DIALOGA?​………………………………………………………………………....

➢ Karl Marx
Ao contrário da maioria dos teóricos que se dedicaram à interpretação e à continuidade do trabalho
intelectual do filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), que concentraram suas análises nas relações
entre política e economia, Gramsci deteve-se particularmente no papel da cultura e dos intelectuais
nos processos de transformação histórica. Suas idéias sobre educação surgem desse contexto.

➢ Mikhail Bahktin
As relações entre linguagem, ideologia e hegemonia de Gramsci e Bakhtin são bastante
semelhantes. Analisando os conceitos bakhtinianos de heteroglossia (a diversidade social de tipos
de linguagens) e dialogismo (o processo de interação entre textos, em que estes não são
considerados isoladamente, mas concatenados com outras proposições similares) e a definição
gramsciana de hegemonia (as relações de domínio de uma classe social sobre o conjunto da
sociedade), conclui-se que as visões de linguagem e subjetividade de ambos são convergentes e
que, a partir de uma discussão sobre os conceitos de poder, discurso e ideologia, consideram a
linguagem e o sujeito como processos capazes de refutar e criticar os poderes e discursos
prevalecentes.

➢ Stuart Hall

➢ Raymond Williams
Ampliou o campo de estudos sobre os grupos sociais subalternos.

➢ Muniz Sodré
Gramsci explicita que os intelectuais necessitam se libertar daquilo que chama de “erro do
intelectual” que consiste em crer “que se possa saber sem compreender e especialmente sem sentir
e estar apaixonado”. Isso vai ao encontro do pensamento de Sodré sobre a importância dos afetos e
sensibilidades dentro dos campos racionais.

➢ Outros autores
Paulo Freire.

● COM QUEM DIVERGE?​………………………………………………..………………….

Com o simplismo do reducionismo. Para Gramsci o erro do reducionismo é traduzir tendências e limites
imediatamente em termos de efeitos políticos e ideológicos absolutamente determinados; ou, então,
abstraí-los em termos de alguma “lei férrea da necessidade”. Eles traduz e determina apenas na medida em
que define o terreno sobre o qual as forças históricas se movem – define o horizonte de possibilidades. Mas
não pode, nem em primeira nem em última instância, determinar inteiramente o conteúdo das lutas políticas
e econômicas, muito menos fixar objetivamente ou garantir os resultados dessas lutas.

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