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RESUMO
ABSTRACT
This erticle is besed on tbe concept ofCommunity as a theoreticel landmark ofreference to the insertion
process in Commuriity Psychology.!t approaches tbe process in two mein dimensions: en epistemologica.l one,
in which the metter of community reality eprehension and the reletion between scientitic and popular knowledges
are discussed; and a methodologíca.l one, ín which both thernukidisciplineruy. which underlies tbe comprehension
and the process cfinsertion, and tbe eccess routes to community -lnstltutionsl and Minicipal- are studied. As a
conclusion, the srticle stetes thet the paramount purposes of the insertion process are to meke the community
psychologist significative to the community, surpessing, therefore, the simple representetion of roles, and to
ellow, during its course, the perception ofthe path to the Íntervention to be adopted for the development ofthe
community and of the community subjects.
o Trabalho, em suas reflexões iniciais, apresentado durante o 11Simpósio de Psicologia Comunitária, promovido e realizado pelo
Núcleo de Psicologia Comunitária - No/COM - UFC, de 07 a 11 de outubro de 1996, em Fortaleza, Ceará.
o. Graduado em psicologia pela UFC, colaborador do No/COM - UFC, membro do Instituto de Estudos, Pesquisas e Promoção do
Desenvolvimento Humano e Social - Instituto ParticipAção.
I Com efeito, a vida cotidiana apresenta-se como uma realidade interpretada pré-cien ca e quase-cientificamente pelos homens e
subjetivamente dotada de sentido e coerência. A objetivação ordenada dos objetos dos diversos e:nclaves desta realidade acontece
por meio da linguagem, no curso de interações e comunicações, que são con . - 'pria existência dos homens comuns.
A este respeito confira: BERGER E LUCKMANN A Construção Social da Realidade: Tr.ua.do de Sociologia do Conhecimento.
Petrópolis: Vozes, 1983.
2 "Todo exilado é confrontado com um dilema. Sua realidade imediata é U::lla f1ea3=:e e empréstimo e ele tem que se incorporar
a esta realidade sob pena de ficar historicamente esquizofrênico. de CCXlr]:xr.at à nova realidade até um limite que
não faça com que olvide definitivamente a sua realidade anteri rz!zes perde a identidade." (FREIRE et a/ii
VIVendo e aprendendo: experiências do Idac em educação hsãense. 1987, loa ed., p. 10.).
do caminho, o profissional não se permite um rnergu- parte do fracasso das ações sociais realizadas s
lho profundo na nova realidade, sobretudo nas suas instituições sociais seja pelo poder público. Oriemara-se
facetas estranhas ao seu mundo e, com isto, perrnane- apenas pelos dados da realidade objetiva, coníundmcc-
ce na superficialidade. Como muito bem observa RIOS a com a realidade concreta. Aqui, pelo contrári
(1987), a comunidade, enquanto objeto a ser conheci- ressa-nos uma aproximação profunda da realidade c:or.•..
do, possui infinitos aspectos que nenhuma pesquisa ereta da comunidade.
conseguirá jamais exaurir. Representa, sob esta ótica, É exatamente a teoria da Atividade (LEO
inesgotável fonte de investigação. O caminho da in- 1978) que interliga a cooperação e o diálogo,
serção deve buscar a tênue trilha entre as duas propos- a consciência, a transformação do mundo o
tas apresentadas acima: não deve mergulhar nos dera- do mundo subjetivo dando-se num único processo.
lhes infinitosda vida comunitária, esquecendo de ater-se convivência que acontece no processo de inserção
aos nexos fundamentais que lhe permitirão ter uma possível conhecer as principais atividades com
imagem ativa da sua área de trabalho nem evitar um rias, compreendidas em termos de ações instrurn
contato íntimo e profundo com tal realidade a ponto e processos comunicativos. Em cada atividade
de permanecer na superficialidade. Sem a imagem clara nitária entra em jogo uma configuração de forças
da comunidade em seu espírito, dificilmente nenhum ais e subjetivas, que se distribui em tarefas di . -
profissional realizará um trabalho profundo. (cada uma com sua complexidade e sua exigência
Este é o ângulo do profissional. Num outro ân- tecnológica), posições específicas de poder e relações
guio, o processo de inserção deve investigar como as particulares acontecendo entre os atores sociais, que
pessoas do lugar percebem sua realidade, isto é, como refletem o modo de vida mais geral da comunidade.
se dá a apreensão da realidade pelos próprios morado- Cada um desses aspectos colabora (ou dificulta) com
res.' Portanto, não se trata apenas de perceber as es- uma força própria para o processo de construção da
truturas e organizações sociais que constituem a co~ identidade comunitária e pessoal em determinado sen-
munidade, mas como as pessoas estão nela inseridas, tido. O contato com as pessoas, durante o processo de
como estão se construindo e em que direção esta cons- inserção, traz à tona também o sistema de representa-
trução aponta, se na direção da emergência do sujeito ções sociais", que, alimentado pelas relações face à
frente a uma realidade construída pelos homens ou da face da vida cotidiana, integra e ordena elementos ide-
submissão resignada a uma realidade compacta e imu- ológicos, cognitivos, valorativos, informativos e
tável, alheia à ação humana. Neste ponto podemos en- imagéticos numa visão de mundo total, coerente e co-
xertar reflexões advindas de duas importantes teorias do esa, orientadora de atitudes concretas frente aos diver ~
quadro conceptual da Psicologia Comunitária: a Teoria sos aspectos da vida interpessoal e social. BERGER e
da Atividade, com especial ênfase nos processos de LUCKMANN (1983) contribuem de forma crucial para
J Devemos notar que os dois ângulos aqui analisados dizem respeito a uma única questão filosófica, qual seja: como é possível
apreender o real 7 Porém, enveredar por este caminho foge dos objetivos aqui perseguidos.
4 Instituto de Ação Cultural (do qual participam Paulo Freire, Rosiska Darcy de Oliveira, Miguel Darcy de Oliveira, Claudius Ceccon)
é um centro de pesquisa e intervenção pedagógica criado em 1970 em Genebra, Suíça, por um grupo de brasileiros que os
caminhos do exílio levaram a se reencontrar. Cf.: FRElRE et a1ii5a1io e Identidade: A trsietáris: de dez anos do Idac IN: FRElRE et
alii Op. cito
5 Cf.: BOMFIM, Z. A. C. &- ALMEIDA, S. F. C. Representação Social: conceitueçêo, dimensões e fúnções. IN: Revista de Psicolo-
gia, 9 (I/2), 10 (I/2), jan/dez, 1991/2.
6 A adoção de determinados postulados epistemológicos, por um lado, apresenta implicações políticas, como o atestam as discussões
acerca do mito da neutralidade científica. Por outro lado, embora ainda inexploradas, comporta implicações a nível da subjetivida-
de do cientista. Com efeito, determinados paradigmas epistemológicos protegem o cientista de situações cuja complexidade exigi-
riam dele uma habilidade para lidar com conflitos de diversas naturezas e uma disponibilidade para correr riscos, pondo à prova
seus valores e pré-conceitos,
7 "O fúndamento dessa técnica [observação participante} reside num processo de 'scultureçio' do observador que consiste na
assimilação das categorias inconscientes que ordenam o universo cultural a ser investigado. Através- deste processo, o investigador
apreende uma 'totshdede integrada' de significados. "{DURHAM, E. R. Vrda e Obra de Malinowski IN: MALINOWSKI, Cole-
ção Os Pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1984, p. XII).
8 Na observação participante a ênfase assenta-se na observação, sendo a participação apenas condição necessária a que a mesma
ocorra. Na participação observante, tendência predominante na pesquisa antropológica de populações urbanas (sociedades con-
temporâneas), a ênfase recaí sobre participação e reveste-se de especial importância os aspectos subjetivos do pesquisador - a
experiência, os sentimentos, os conflitos íntimos, a identificação com a população estudada são amplamente descritos e analisados.
Confira: DURHAM, E. R. A pesquisa antropológica com populações urbanas: problemss e perspectivas lN: CARDOSO, R. C. L.
(Org.) A Aventura Antropológica: Teoria e Pesquisa - Rio de Janeiro: Paz e Terra, J 986.
9 Sobre Pesquisa Participante e Pesquisa-ação, cf.: BRANDÃO, C. R. Repensando a pesquisa participante - São Paulo: Brasiliense,
1984.
10 Com efeito, esta disciplina tem utilizado o relato de histórias de vida com o objetivo de reconstruir a história de instituições e
apresentar uma interpretação histórica alternativa a que é estabelecida oficialmente, de forma hegernônica. Dialogando com as
pessoas, sem categorias conceiniais prontas, os historiadores têm acesso a informações a que dificilmente teriam pela vias formais,
o que os leva a relativizar pressupostos conceituais e a fazer emergir outras dimensões dos fatos históricos. A este respeito confira:
DEBERT.G. G. Problemas relativos à utílízação da. história. de vídz e 'ria. onlll : CARDOSO, R. C. L (Org.) op. cíe.
11 MO pesquisador, embora perpétuo indiscreto, deve, no entan ,saber e seu inquérito tem de parar, onde a pergunta direta tem
de ser substituída por simples indução. Sobretudo, tem de SUl· a ta que não deve fazer.~ (RIOS, 1987, p. 85)
12 O enfoque dado aqui não deve obscurecer a impo • consulta às fOntesoficiaís de infOrmação acerca da Cornuni-
dade, tais como agência do IBGE, Prefeitura. cartórios, sa>::erdlc:= e registro da paróquia, coletorias, delegacias de polícia, agências
de bancos, centro de saúde ou unidade SAMária. e, postos agropecuários / EMATER, agente da estação de
ferro, companhia de transporte fluvial, rodcw·' • , e caminhões. Cf.: RIOS, José Arthur Educação dos Grupos
São Paulo: EPU, 1987.
IJ O leiror interessado em enriquecer esta discussão pode consultar NASC1UITI, Jacyara C. R. A /nstíl1Jição como via de acesso à
Comunidade lN: CAMPOS, R. H. de F. (Org.) Psicologia Social Comunitária: Da solidariedade à autonomia - Petrópolis:
Vozes, 1996.
11 Mesmo no caso de uma inserção direta na comunidade, tal inserção suporte da inserção inicial.
15 A socialização primária é o processo por meio do qual a criança se transforma te da sociedade. Com efeito,
a criança é socializada não só para um mundo específico, mas também para detJ=s-..a.:::a c.::Nii:::u.;Mide, que se harmonize com os
ideais e necessidades dessa sociedade. É neste processo que o mundo pode ser. e • apresentado como imutável, como
natural, como absoluto, como alheio à produção humana, o que se coni ~ e negadoras do valor e do
poder das pessoas, geradoras de caráter oprimido (GÓIS, 1995), aspeaos ituiçâodo sujeito sôcio-histôri-
co. Sobre socialização confira: BERGER, P. Como ser um membro , M. A. MARTINS, J. S.
ê-